Há 4 meses, as tropas americanas começaram a deixar o Afeganistão e, desde então o grupo Talibã ganhou força. Oficialmente reconhecido como um grupo terrorista pela União Europeia, Rússia, Canadá, Cazaquistão e Emirados Arábes Unidos, o Talibã ocupou o palácio presidencial, neste domingo (15), horas depois do presidente, Ashraf Ghani, deixar o país.
Milhares de afegãos correram para o aeroporto de Cabul para fugir do país, temendo pelo próprio futuro. O medo despertado na população, principalmente nas mulheres, diz respeito à interpretação radical e estrita da lei islâmica que o Talibã impõe, limitando diversos direitos das mulheres.
A linha do tempo
Os Estados Unidos e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) travaram uma imensa batalha política, social, econômica e tecnológica, que teve início no final da década de 1940, chamada Guerra Fria (1947-1991), a qual gerou intensos combates em várias partes do mundo.
Em 1979, se iniciou, entre os grupos extremistas e o governo, a Primeira Guerra do Afeganistão (1979-1989). Basicamente uma disputa entre os aliados ao marxismo-leninismo e os conservadores religiosos. A URSS decidiu apoiar os primeiros, pois os mesmos estavam dentro da sua área de influência e então, invadiu o Afeganistão. Os EUA decidiram também tomar partido na guerra e começaram a auxiliar a oposição com apoio militar e econômico, como forma de deter o comunismo naquela região.
Em 1988, Mikhail Gorbachev, político russo, deu ordens para os soldados abandonarem o território, após a morte de 15 mil pessoas. Em 1994, o grupo Talibã se formou a partir de seminários religiosos e fundamentalistas. Foi então que, em 1996 ele assumiu o poder do país e passa a impor leis islâmicas estritas.
Os anos seguintes foram marcados por guerras civis e intervenções internacionais, mas foi por consequência do atendado das torres gêmeas, no dia 11 de setembro de 2001, que se iniciou a Segunda Guerra do Afeganistão (2001-2021). Osama Bin Laden, identificado como responsável, era chefe do grupo extremista Al-Qaeda, o qual matinha alianças com o Talibã.
Além dos Estados Unidos, a França, Alemanha e o Reino Unido entraram em guerra em apoio aos americanos. Então, juntos, eles conseguiram estabelecer, em Cabul, um governo apoiado pelo Ocidente. Porém, o grupo Talibã continuou com os ataques, atendados e expandiu sua influência política.
A guerra, que provocou 238 mil mortes, durou até o mês de julho de 2021, quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu retirar as tropas militares com o argumento de que “não havia nada mais a fazer”.
As Mulheres no Afeganistão
Antes da Guerra do Afeganistão em 1979 e a entrada do regime Talibã, o cenário no país parecia europeu. Cenas com mulheres de minissaia, crianças a dançar no recreio e balões coloridos nas ruas eram comuns, como mostram as fotografias de Bill Podlich, um professor catedrático norte-americano que em 1967 viajou para o Afeganistão a serviço da UNESCO durante dois anos.

Com a tomada do grupo entre 1996 e 2001, a educação das meninas e o trabalho feminino, foram proibidos no país. Para sair de casa ou viajar, elas precisavam ser acompanhadas por algum parente do sexo masculino, além de serem obrigadas a usar burcas em público. Mesmo após a retirada do grupo depois deste período, flagelações e execuções (incluindo penas como apedrejamento por adultério) continuam sendo práticas comuns em praças e estádios da capital.
O retorno do Talibã atualmente faz ressurgir, além deste fato, o aumento de imigrações para várias partes do mundo – sendo 80% mulheres e crianças. Apesar dos sinais da opressão já presente na sociedade afegã, há relatos de mulheres que pretendem resistir: a jovem Khurram, representante da juventude afegã na ONU, afirma que o mundo e os líderes afegãos abandonaram o país da maneira mais cruel que eles poderiam imaginar.
Já no primeiro dia de ocupação, existem relatos de agressão às mulheres, apagamento de suas imagens em espaços públicos, ameaça de casamentos arranjados, sequestros, além das horrendas imagens de cidadãos desesperados e caindo do avião da força aérea americana em decolagem.
Parafraseando Sabrina Fernandes, se a sua análise não é movida por solidariedade, ela sai e chega ao lugar errado. É inegável que as mulheres do Afeganistão precisam de ajuda internacional, assim como todos os cidadãos do país.
Não existe um movimento feminista justo quando e as mulheres oprimidas não recebem a devida atenção e apenas o padrão branco capitalista é priorizado. Cidadãs afegãs são vítimas de todas as atrocidades possíveis desde a tomada do país pelos Estados Unidos, que financiaram grupos extremistas como o Talibã. É necessário pensar coletivamente em políticas que possam ajudar essas mulheres, pois como dizia Audre Lorde, “não seremos livres enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das nossas”.
Formas de Ajudar
De acordo com Bushra Ebadi, em uma thread no Twitter:
● Se você não é expert na história do Afeganistão, e não consegue entender o conflito político, não compartilhe as suas opiniões ideológicas sem base.
● É importante ampliar vozes, trabalhos, e iniciativas de ativistas, líderes, jornalistas, artistas e pesquisadores no Afeganistão.
● Descubra se o seu governo está deportando afegãos de volta para o Afeganistão.
● Muitos governantes vêm deportando imigrantes, mas apenas a pouco tempo, vem parado.
● Evite narrativas simplistas que maquiam a situação como se fosse uma disputa entre tribos e facções.
● Cobre esforços dos EUA e seus aliados, para que eles possam ajudar os cidadãos afegãos e suas famílias.
● Buscar profissionais da área da saúde mental para atuar no recebimento desses imigrantes também é essencial.
● Contribua financeiramente os fundos de ativistas pelo mundo inteiro.
Mais informações e links para doações, acesse a thread no Twitter da @bushra_ebadi.
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