Antidemocracia em fracasso
Por conta do 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, manifestações contra e a favor do presidente Bolsonaro foram realizadas em todo o país. As de maior destaque foram nas cidades de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Este tema ganhou repercussão nas últimas semanas, devido à tensão política no país, provocada por ameaças de intervenção militar pelo presidente e seus apoiadores.
No Rio de Janeiro, manifestantes protestaram a favor da liberdade e contra o passaporte da vacina, que valerá a partir do dia 15. O ato foi em Copacabana, com direito à música e discursos anti-democráticos. Cartazes também pediam por uma nova constituição, a criminalização do comunismo, o fim do pedágio e do IPVA para motociclistas.
Em Brasília, todos os militares se reuniram para garantir a segurança da cidade. Os manifestantes chegaram na parte da noite do dia anterior (6), no palácio do Itamaraty e invadiram o bloqueio, para ocupar a Esplanada dos Ministérios. Apesar do acesso de veículos estar interrompido, carros e caminhões também se transferiram para o local. Vídeos divulgados pela imprensa e que circulam nas redes sociais, mostram que a retirada das grades de contenção e barricadas não parece ter encontrado forte resistência por parte dos policiais. Na parte da manhã (7), houve discurso de Bolsonaro, que apostou em um tom messiânico nas palavras, com direito a chegada na Esplanada em um Rolls-Royce, dirigido pelo ex-piloto da Fórmula 1, Nelson Piquet.

Na capital paulista, a Polícia Militar estimou que cerca de 125 mil pessoas foram às ruas por conta do Dia da Independência e também demonstrar apoio ao atual governo. Houve na parte da tarde um discurso do presidente, que insistiu em pautar ações anti-democráticas e atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Trajados com as cores da bandeira e com cartazes contra a imprensa, o STF, e a esquerda, a maioria dos manifestantes não fizeram uso de máscara. Duas pessoas foram presas por furto de celular, e uma foi ferida por um drone.
Em Belo Horizonte, a concentração no Mineirão reuniu apoiadores do presidente usando camisas com os dizeres “Meu partido é o Brasil”, “sorria, não se mate” e “a vontade do povo é soberana”. Também exibiram cartazes evidenciando “STF com juízes de carreira”. A jornalista Malu Gaspar, do O Globo, informou que as manifestações impediram que chegassem cerca de 280 mil doses de vacina na capital, por temerem “represálias”. Cerca de 2,6 milhões de doses estão aguardando liberação para estados do país todo.
Na Bahia, manifestantes se reuniram no Farol da Barra, em Salvador, e pediram reformulação do Supremo, uso da força e voto auditável. O calor da manhã fez com que duas mulheres passassem mal, e foram atendidas pelo Corpo de Bombeiros. Os manifestantes caminharam até o Morro do Cristo, onde encerraram o evento.
Em Santa Catarina, a chuva não impediu que os manifestantes caminhassem. Quatro rodovias foram bloqueadas, inclusive importantes acessos em diferentes cidades do estado. Manifestantes também pediram por ações anti-democráticas.
Em Goiás, manifestantes usaram máscara e diziam que Bolsonaro era a esperança do Brasil. O evento acabou às 13:30 da tarde.
Apesar dos discursos e cartazes que feriam a Constituição Brasileira, e poucas ocorrências nas manifestações, autoridades garantem que os protestos pelo país foram pacíficos. Embora o público atraído seja de apenas 6% do esperado.
O Grito dos Excluídos pelo país
Em todo o país, também foram organizadas manifestações contra o governo Bolsonaro. O “Grito dos Excluídos” é um ato que denuncia as condições brasileiras há quase 30 anos. Os protestos pelo “Fora, Bolsonaro” são convocados pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro, composta pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, além de partidos políticos, centrais sindicais e movimentos populares.

Ações de solidariedade e criatividade foram o marco nas manifestações democráticas. No vale do Anhangabaú, a CUT-SP e organizações parceiras promoveram uma ação contra a fome, com doação de alimentos orgânicos para a população. Grandes personalidades políticas, como Fernando Haddad, garantiram presença na passeata.
No Rio Grande do Sul, o mau tempo fez com que as manifestações fossem canceladas em algumas cidades, como em Jaraguá do Sul, que mensagens críticas ao presidente foram espalhadas pelo centro. Já em Florianópolis, manifestantes passaram pelo centro e se concentraram num terminal da cidade. O movimento estudantil e o MST marcaram presença no ato.
Em Belo Horizonte, Porto Velho e no Ceará, as manifestações foram em defesa da vida, da democracia e pelo direito à comida, educação e saúde.

Em Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, houve feijoada e atividades culturais. As manifestações tiveram apoio de organizações, como o MST e centrais sindicais.
Em Niterói, houve roda de conversa e distribuição de cestas de alimentos agroecológicos.
Já na capital carioca, cartazes e bandeiras diziam “Fora Bolsonaro” e defendiam a cultura, educação e saúde. Pelo percurso, diversos vendedores divulgavam produtos irônicos contra o governo. Pano de chão, camisa do presidente Lula, e outros artigos contrários a Bolsonaro, são destaques nas manifestações.
Um dos importantes artistas em destaque é Roosivelt Pinheiro, amazonense, radicado no Rio de Janeiro. É interessado em refletir o contexto político e social desde 2016 estrategicamente. Cria gravuras em serigrafia com textos e imagens de políticos corruptos envolvidos no Golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff, e as imprime em panos de chão. Atuando diretamente nos espaços urbanos em ações diretas, vende esses panos de chão nas feiras livres e manifestações de rua a R$ 10,00 a unidade. Roosivelt conta que o trabalho iniciou em 2016 com o “Temer Golpista”.
“A idéia é trabalhar com o conceito de #artedoméstica, que me permite entrar no espaço doméstico, lugar de muita violência. Faço panos de prato, de chão, camisetas e ecobags. As mensagens são de conscientização contra a violência, apesar de o pano de chão ser um tanto violento.
A ideia é conscientização de liberdade, como a estampa de um pano de prato na que é com os desenhos da minha filha e o Artigo 5 da Constituição. Pretendo também trabalhar com a Lei Maria da Penha e o Estatuto da Criança e do Adolescente, dentre outras.”
Ele também conta que as vendas, como a do pano do Temer tiveram bastante saída, assim como o do “Bolsonazi”, que iniciou em 2017.
“Agora com toda essas desgovernanças acrescentei o texto Genocida e as vendas aumentaram um pouco.”
Mesmo após um Dia da Independência intenso, o Pós-7 de Setembro foi marcado pela permanência de centenas de bolsonaristas que ameaçaram o bloqueio da Polícia Militar e ir até o prédio do STF. Com a chegada de um grupo de militares, a situação foi controlada.
Durante o 7 de Setembro, diversas personalidades se posicionaram sobre o assunto. Apesar do fracasso, os atos do 7 de Setembro foram uma forma de circular ideologias fascistas livremente. Contudo, histórias como a de Roosivelt, devem ser somadas às dos brasileiros que foram à luta pela dignidade do país. Inclusive àqueles que participaram do panelaço contra o Governo, que ocorreu na noite de terça-feira (7) pelo país. Doando, criando, gritando.
São formas de luta e retratos de resistência contra ataques à integridade brasileira, do qual insistem em dizer que é sobre liberdade de expressão. A liberdade e democracia que é estampada, e esconde a realidade de um país em pedaços, só é recuperada com a real consciência social-política de um povo. E essas histórias serão parte da recuperação da nossa bandeira.