O que faz um filme bom? O diretor, o roteirista, o elenco? Ou o telespectador?
Durante a história do cinema, vários filmes foram elevados ao status de obra-prima (como por exemplo, O Poderoso Chefão) e outros… Nem tanto. Sabe-se que filmes são produções feitas por pessoas, mas quem são essas e como trabalham juntas é o que pode fazer um filme ser indicado ao Oscar ou ao Framboesa de Ouro.
Como explicado no Manual do Cinéfilo, cada departamento é de extrema importância para o sucesso do longa. Mas e quando mesmo com grandes nomes, o filme desaponta? Quais são os pontos que precisam ser acertados para criar uma boa experiência para quem assiste? A Frenezi não traz, dessa vez, a lista das melhores produções já feitas; essa é a lista de decepções.
É comum dizer que a beleza está nos olhos de quem vê, mas nesses casos, foi difícil manter os olhos abertos. Roteiro péssimo, más atuações, efeitos especiais mal feitos e enredo ruim no geral: todos os porquês para NÃO assistir os filmes a seguir.
Cinderella (2021)

O filme de estreia da cantora Camila Cabello foi lançado no dia 3 deste mês no Amazon Prime Video. Dizer que o filme é ruim seria um eufemismo.
O enredo segue a história clássica da Cinderela: uma moça que perdeu o pai e é mantida como empregada pela madrasta e meias-irmãs, até ir ao baile com ajuda da fada-madrinha e depois casar-se com o príncipe. Com tantas recriações da mesma história, o que fez Cinderella (2021) ser tão decepcionante?
Apesar do elenco ter grandes nomes como Pierce Brosnan (Mamma Mia), Idina Menzel (Encantada) e Minnie Driver (Gênio Indomável), não foi suficiente para deixar o filme agradável. Com atuações rasas dos atores principais (Camila Cabello e Nicholas Galitzine) e um roteiro pobre, Cinderella deixou muito a desejar.
Um dos piores aspectos com certeza foram as músicas. Não foi o melhor momento para Cabello, que é cantora. Além das canções originais mal escritas, os covers de músicas famosas como Somebody to Love da banda Queen, Material Girl da Madonna e Am I Wrong de Nico & Vinz fizeram 1h53min de filme parecer uma eternidade. Toda a seleção musical do filme não faz sentido e parece bagunçado.
E sobre a bagunça: o figurino. Não é possível entender nem em que século a história deveria acontecer. Muitas vezes é optado pelos produtores manter uma certa liberdade no figurino quando o filme é fantasia, e isso pode ser muito bem feito, como em Cinderela (2015), mas não dessa vez. Mesmo tentando relevar os figurinos sem sentido dos figurantes, os looks apresentados por Cabello são extremamente decepcionantes.

Na parte mais esperada do filme, a transformação, Cinderella ganha um terno azul – uma tentativa fracassada de parecer progressista – e, só então, o vestido do baile. O vestido é tão feio que ela deveria ter ido de terno. A fada-madrinha interpretada por Billy Porter (provavelmente a única coisa boa nesse filme) com certeza estava melhor vestida do que a personagem principal.
Para finalizar: não foi nada mais do que um esforço em vão de alavancar a carreira de Cabello, que talvez, por enquanto, deva se ater a apenas cantar. Com um roteiro que tenta o tempo todo forçar um tipo de ideia do que seria feminismo, o longa permanece superficial e falha em inovar de forma bem sucedida.
Um Dia de Chuva em Nova York (2019)

Um típico filme de Woody Allen que, sem surpresa, desaponta.
Na receita cansada de Allen, Um Dia de Chuva em Nova York apresenta mais do mesmo: um grupo de pessoas complicadas em alguma cidade famosa do mundo, dessa vez Nova York. Apesar de um bom elenco, que conta com Timothée Chalamet no papel principal, Selena Gomez, Elle Fanning e Jude Law, o filme é extremamente entediante.
Gatsby (interpretado por Chalamet) é um jovem pretensioso que leva sua namorada, a jornalista Ashleigh (Elle Fanning) para um fim de semana em Nova York. A relação é sem química, visto que os dois mal se veem durante os dias. Gatsby reencontra Chan (Selena Gomez), irmã de sua ex-namorada e Ashleigh passa seu tempo com o diretor Rolland Pollard (Liev Schreiber), nome que, estranhamente, lembra muito outro certo diretor com alegações pesadas de assédio sexual…
Um dos maiores erros do filme deve ser a falta de empatia que o espectador cria por Gatsby, que só reclama sobre tudo e passa um ar antipático. Os diálogos sem sentido e uma narrativa sem fundamentos são aspectos que nem as boas atuações de Chalamet, Gomez e Fanning conseguem salvar. Ashleigh e Chaz são uma das poucas partes aproveitáveis do filme, mas o mérito é todo das atrizes, não do roteiro.
Além disso, o final também decepciona e não traz muita resolução para os personagens. Um Dia de Chuva em Nova York é mais um trabalho clássico de Woody Allen: pretensioso e entediante. O atrativo do filme (o elenco) é sabotado pelo diretor e simplesmente não vale 1h32min.
The Neon Demon (2016)

Mais um filme de Elle Fanning, infelizmente. Apesar de ser uma grande atriz e demonstrar isso no longa, a experiência de assistir ao filme é totalmente de virar o estômago.
O terror é dirigido por Nicolas Winding Refn e conta com nomes como Fanning, Abbey Lee Kershaw (Mad Max 2015), Jenna Malone (Jogos Vorazes) e Keanu Reeves (Matrix). A história fala sobre Jesse, que se muda para Los Angeles aos dezesseis anos a fim de se tornar modelo. Lá, ela lida com os desafios e tentações da indústria, assim como a inveja das outras modelos.
Pensando assim, o filme não parece ser tão pesado. Mas é, e muito. The Neon Demon não é necessariamente ruim, pois cumpre seu papel de chocar o espectador, somado à linda fotografia e atuações incríveis. Mas não é para qualquer um e deveria ter uma classificação indicativa de dezoito anos, tendo em vista que apresenta várias cenas extremamente gráficas, como canibalismo e necrofilia.
É difícil assistir Jesse passar por tantos abusos e ver os outros personagens cometerem crimes tão nojentos. A cena com Keanu Reeves é totalmente assustadora e dá vontade de – fisicamente – vomitar. O pior talvez seja a última meia-hora, quando o dedo já está no botão de desligar do controle-remoto mas o enredo obriga a assistir até o final para ver até onde o horror continua. Spoiler: vai até o último minuto.
The Neon Demon acerta o que queria acertar, mas vale a pena 1h58min de trauma? A resposta é não.
Gatinhas & Gatões (1984)

Um dos clássicos das comédias românticas adolescentes, Gatinhas & Gatões é um dos filmes mais amados da década de 1980.
Com a rainha do gênero, Molly Ringwald (de Clube dos Cinco e A Garota Rosa Shocking), o filme deve ser um dos mais decepcionantes do diretor John Hughes (Curtindo a Vida Adoidado). Apesar de ter a receita para o sucesso com o combo Ringwald + Hughes, Gatinhas & Gatões não traz nada de novo.
Como todo filme adolescente dos anos oitenta, não dá para esperar grandes roteiros ou fotografia. Mas o que mais decepciona no filme são, é claro, as piadas machistas e estereótipos super manjados. Se não prestar muita atenção pode-se até aproveitar o longa, mas há momentos tão ultrapassados que hoje em dia são difíceis de superar.
Na pior cena do filme, Jake Ryan (Michael Schoeffling) diz para Ted (Anthony Michael Hall), que sua namorada está desmaiada de bêbada e que ele “poderia violá-la de dez formas diferentes, se quisesse”, Ted responde com “o que você está esperando?”. Depois, Jake deixa Ted levar ela para casa e diz para ele se divertir.
Na época do #MeToo Movement, Molly Ringwald disse em artigo para o The New Yorker: “Se as atitudes em relação à subjugação feminina são sistêmicas, e eu acredito que são, é lógico que a arte que consumimos e aprovamos desempenha um papel no reforço dessas mesmas atitudes”, quando falando da cena mencionada acima.
Se até Ringwald concorda que o filme é ultrapassado e não reflete os dias de hoje, talvez seja preferível escolher assistir Clube dos Cinco da próxima vez.
Ligeiramente Grávidos (2007)

Do diretor de famosas comédias besteirol, Judd Apatow, (O Virgem de 40 Anos), não acerta a mão desta vez.
Em Ligeiramente Grávidos, Katherine Heigl (queridinha das romcom) é Alison, uma jornalista que se vê em apuros quando engravida depois de uma ficada de uma noite só com o fracassado Ben, interpretado por Seth Rogen. Além dos dois, Leslie Mann (esposa de Apatow) e Paul Rudd estão no elenco. E nenhum desses nomes consegue salvar o filme.
Talvez a culpa seja inteiramente de Seth Rogen, que por algum motivo, em todos esses anos de carreira, não consegue sair do mesmo typecasting e estraga quase todos os filmes em que atua. Ou talvez a culpa seja do roteiro péssimo que não engaja quem assiste e faz um filme que já é longo (2h13min), parecer mais longo ainda.
Não é esperado uma grande obra-prima cinematográfica de uma comédia, mas essa nem engraçada é. O filme cria um sentimento de agonia e dó em relação à Alison, pois Ben não é nem um pouco capaz de criar um filho. O relacionamento é totalmente forçado e os dois não têm nada em comum, logo não é possível torcer pelo casal.
O humor “de maconheiro” que sempre acompanha Rogen onde quer que ele vá, simplesmente não funciona e é extremamente irritante ao decorrer do filme. Ligeiramente Grávidos é mais um para a lista de filmes que não deveriam ter sido feitos.
Cats (2019)

Não tem como fazer uma lista de filmes ruins e não incluir Cats.
É na verdade, impressionante, que um filme com atores de tanto renome como Judi Dench (007), Idris Elba (Thor: Ragnarok), Ian McKellen (O Senhor dos Anéis), e cantores incríveis como Taylor Swift e Jennifer Hudson, seja tão ruim. Talvez Cats seja o pior filme desta lista.
É quase impossível assistir do começo ao fim. E é difícil apontar qual departamento mais errou, porque nesse caso podem ter sido todos. Os produtores falharam em entender que um musical quando adaptado para as telas, deve ter um ritmo diferente. As músicas e os diálogos não são bons e não conseguem segurar o enredo.
Porém, o que definitivamente marca Cats como um dos piores filmes desse século são os efeitos especiais. A ideia de transformar os atores em gatos – literalmente -, não funcionou nem um pouco. É mais um dos obstáculos da passagem Broadway-Hollywood que Tom Hooper (diretor) não superou.
Assistir aos atores mexendo as orelhas e enrolando o rabo não é algo que alguém queira ver e é praticamente humilhante. Esse filme deveria ser passado em câmaras de tortura.
Thor (2011)

O filme marca a estreia de Chris Hemsworth como Thor no Universo Cinematográfico Marvel e até hoje é considerado o pior dos 23 filmes.
Thor (2011) introduziu um novo herói na época em que a Marvel Studios ainda estava construindo o seu império. Apesar de ser compreensível que os produtores estavam testando o terreno em termos de público e aceitação, o filme desaponta.
Mesmo contando com um elenco bom e efeitos especiais interessantes para retratar a terra fantasiosa de Asgard, esses aspectos não foram suficientes. O problema é quando Thor chega à Terra e começa um relacionamento com Jane (Natalie Portman). O casal não faz muito sentido no enredo e o humor é um tanto forçado.
Com o nível de produção dos filmes da Marvel, a história não agrada e é uma experiência entediante. Thor é totalmente esquecível – uma pena, considerando que o personagem é um dos mais engraçados e aprofundados da UCM.
Let Them All Talk (2020)

Este é mais um dos casos de um grande elenco que não conseguiu carregar o filme.
Lançado diretamente no streaming HBO Max em dezembro do ano passado, Let Them All Talk conta a história de três senhoras amigas de longa data que viajam juntas em um navio depois de anos sem se verem. O elenco tem nomes de peso como Meryl Streep, Dianne Wiest, Candice Bergen e Gemma Chan.
Não há dúvidas que as atuações são de qualidade, mas o roteiro teve um direcionamento curioso. O diretor Steven Soderbergh (Erin Brockovich 2000) deixou campo livre para que as atrizes improvisassem. Escolha muito interessante, mas que simplesmente não funcionou muito bem.
A trama escorre muito lentamente e fica difícil entender sobre o que se trata. O roteiro (ou a falta dele) deixa confusa a intenção do diretor e os diálogos quase embalam o sono.
Apesar dos personagens bem definidos e uma premissa interessante, Let Them All Talk transmite a mesma sensação que os filmes de Woody Allen (o que não é uma boa coisa).
Esses são alguns exemplos de quando as engrenagens delicadas de um filme não funcionam tão bem quanto deveriam.
Porém, é importante lembrar que em Hollywood nem sempre má qualidade significa más cifras, e alguns dos filmes acima fizeram relativo ou muito sucesso de bilheteria, o que evidencia que muitas vezes outros mecanismos fazem um filme se destacar: um casting poderoso, o pertencimento a uma franquia ou um diretor de renome encabeçando o projeto. Atrativos que podem fazer com que, muitas vezes, um filme não tão bem produzido; com um roteiro não muito bom; ou medonhos efeitos especiais lotem as salas de cinema, não fazendo jus a sua verdadeira qualidade.