A semana de moda de Milão é uma das quatro grandes semanas de moda internacionais, mas também é reconhecida por ser uma das mais internacionais entre suas colegas — uma reverência à qualidade do trabalho manual e artesanal de fazer roupas. Apenas perde para sua outra concorrente europeia (a PFW) quando o assunto é opulência e glamour. Milão é uma das cidades que não só respira cultura mas também a moda — que é um dos núcleos que fazem a cidade se mover.
Para a volta dos desfiles presenciais não era esperado nada menos que um grande evento, com desfiles e momentos memoráveis — porém lembrando que ainda não estamos ”de volta ao normal“: para entrar nos desfiles presenciais é necessário o comprovante de vacinação completa e o uso de máscaras é obrigatório.
Mesmo assim, com a ansiedade de ver os desfiles ao vivo novamente, o momento parece único. No último ano houve um grande movimento de democratização da moda, editores e convidados especiais ainda recebiam alguns presentes exclusivos como amostras de tecidos ou uma caixa inteira para explicar o conceito da coleção — sim, Loewe, isso é sobre você — porém praticamente o conteúdo que essas pessoas tão importantes viam era o mesmo que os pequenos amantes de moda que acompanhavam de casa.
Muitos se apaixonaram ainda mais pela indústria dos sonhos, mas fica o pensamento de como isso vai se desenrolar nas próximas temporadas. As grandes marcas realmente vão esquecer do enorme público digital e deixá-los sem fotos até que um certo app consiga colocá-las, horas depois da apresentação? A prática de manter a moda como uma atividade velada a que poucos têm acesso ainda é uma estratégia (notavelmente utilizada por Daniel Lee na Bottega Veneta), mas isso tem algum lugar claro no mundo globalizado de hoje?

Dia 1 – 22 De Setembro
Começamos o primeiro dia da Semana de Moda de Milão com o primeiro desfile presencial de Kim Jones. Desde sua estreia na Fendi em janeiro de 2021, existia um problema claro na visão da marca pelo diretor criativo: apesar de apresentar roupas femininas agradáveis ao olhar, o acabamento e qualidade de seu trabalho não traduzia o verdadeiro histórico da marca, com silhuetas interessantes mas que ao sair do papel pareciam tão rígidas quanto blocos de mármore italiano — já que a Fendi é uma casa tradicionalmente romana.
A inspiração e homenagem ao trabalho do famoso ilustrador dos anos 60, Antonio Lopez, não foi uma decisão meramente simbólica da história do artista com a marca, e sim um movimento calculado que trouxe um novo espectro do trabalho de Kim Jones para a coleção.
Ele precisava de leveza, suavidade e diversão em suas roupas, e quem é melhor para isso que um artista com o trabalho ligado diretamente a formas repensadas e cores vibrantes? É uma colaboração de referências. Muito depois de seu falecimento, o trabalho de Lopez ainda tem o poder de inspirar e fazer mudanças estéticas no trabalho de um grande designer.
A jornalista Cathy Horyn fala com Jones para seu artigo sobre a coleção. O designer admite que ainda está se adaptando ao trabalho que não é mais sobre ele e sim sobre uma marca com uma enorme história por trás, e cita como o trabalho que admira de Antonio Lopez o ajudou a encontrar a harmonia necessária para execução da coleção.
É possível dividir em três partes a coleção da Fendi: a primeira sendo de momentos monocromáticos em branco, com uma ótima alfaiataria (que é uma das melhores qualidades confortáveis do trabalho de Jones) é uma mistura de cores naturais como marrons e estampas em peles, em que já conseguimos detectar o trabalho de Antonio Lopez; então chegando aos alegres e vibrantes vestidos fluidos que parecem algo diretamente do armário da Bianca Jagger nos anos de 1970, com estampas diretamente do arquivo do artista na época; a última parte é completa por looks que possuem uma renda preta com o próprio padrão do tecido sendo uma obra do artista, semelhantes a beijos de batom vermelho no papel.
Fomos do branco que é representativamente a junção de todas as cores com uma apresentação do bom trabalho de Jones em produzir alfaiataria, para uma ótimo momento colorido e vibrante com vestidos fluidos e divertidos, alguns momentos em cetim e peles que são texturas famosas dentro da Fendi, terminando a coleção com preto que é justamente a ausência de cor mas em harmonia com looks de renda delicada. Em geral, é a melhor coleção que foi vista de Kim Jones em sua trajetória para a Fendi até hoje, com momentos que fazem jus a história e trajetória da marca, uma inspiração forte e emocionante de arte dentro da moda e uma mudança bem-vinda nas silhuetas e modelagens de seus designs.
Ainda com inspirações fortes da década de 60, Vivetta Ponti entrega uma incrível apresentação de patinadores de gelo vestindo as peças para uma produção dentro do esporte, uma demonstração de energia, suavidade e movimento da vestimenta que Ponti pretendia transpassar.
Com uma enorme inspiração do filme Barbarella (1968), um ícone da onda futurista na moda da época com Jane Fonda como protagonista e Paco Rabanne fazendo parte da produção de figurino, o filme é um clássico dos amantes de moda. Apesar da referência clara à moda de 1960, Ponti teve um espaço para uma versão mais experimental, futurista e sensual do que a que Barbarella representa. Um espaço que não foi tão bem executado durante a pesquisa de referência…
A coleção de Primavera/Verão 2022 de Alberta Ferretti deixa claro um jogo entre ambiguidades que podem trabalhar juntas em uma coleção. É uma temporada definitivamente feminina, com uma sensualidade que se aproxima muito mais do imaginário feminino de sexy — ela explicou na apresentação que percebeu uma grande ansiedade de voltar a se vestir para sair novamente.
As roupas variam entre modelos mais casuais e boêmios com texturas, macramê e crochê em tons terrosos e neutros como duas chaves principais desta parte da coleção. Depois, passamos por vestidos em tons de joias vibrantes, com bordados em pedrarias e técnicas diferentes para a marca. Uma característica mantida por toda a coleção que trouxe a harmonia entre esses dois estilos foi que todas as escolhas de modelagens e tecidos são leves e fluídos, perfeitos para o verão europeu.
Segundo as entrevistas de Alessandro Dell’Acqua sobre sua coleção na diretoria criativa da NO.21, o designer deixa claro que tem uma paixão ardente por positividade corporal e que sempre acreditou no poder da expressiva e sensualidade na quase nudez — mas ainda sem glamourizar ou ostentar o corpo em si. Ele disse no backstage para a jornalista Tiziana Cardini: “Não gosto do que é abertamente provocativo”.
Realmente, Dell’Acqua apresentou uma coleção com muita alusão a pele à mostra, desde os tons utilizados nas roupas até a forma que foram desenhadas (alguns looks com adoção de tecidos quase transparentes e com recortes marcantes).
É indiscutivelmente complicado falar de uma coleção ligada à positividade de corpos sem diversidade dos mesmos. Apesar de Dell’Acqua ter feito um bom trabalho nessa versão de sensualidade despretensiosa, essa falta de diversidade em conjunto ao culto ao corpo deixa um amargor na boca. Os designs mais simples que fecham a coleção são os melhores executados, e as vestimentas mais trabalhadas ficam perdidas no meio da coleção.
A nova coleção de Jil Sander assinada pelos diretores criativos Lucie e Luke Meier é um desenvolvimento aberto da história e trajetória da marca em uma nova direção.
Uma reorganização do próprio conceito minimalista, com decisões expressivas durante a coleção — como cores mais vibrantes, adoção pelo estilo oversized como referência de silhueta, crochês e até algumas estampas florais mais fluídas entre os designs. Em geral, pode ser denominada como um grande sinônimo de classe, elegância e talvez o mais importante: inovação dentro da estética minimalista.
Fausto Puglisi apostou — mais uma vez — na sensualidade e no mundo exótico em sua coleção de Primavera/Verão 2022. Suas novas criações contam com peças portando estampas de animais (onças, tigres e zebras) e cores que remetem ao mundo selvagem. Ítens em cores vívidas, luminosas, com brilho e silhuetas bem marcadas também marcam presença — dão um toque de exuberância à sensualidade que está sempre presente na história e no imaginário da Cavalli.
É uma coleção que olha claramente para o período de ouro da marca nos anos 2000. Com silhuetas familiares de recortes na barriga e costas, com bordados, strass e suas formas provocantes. A Cavalli de Puglisi parece pronta para reviver grandes momentos sensuais da casa.

DIA 2 – 23 de Setembro
Começamos o segundo dia com uma coleção concisa e confortável da Max Mara, uma visão contemporânea da consumidora da casa. Aos passos que voltamos lentamente ao “novo normal”, marcas se posicionam ou para a opulente faceta de anseio festeiro; ou como o diretor criativo Ian Griffiths da Max Mara estabeleceu, “uma ligação a uma nova forma de vestuário de trabalho”.
Com elementos da alfaiataria clássica e precisa que a marca é reconhecida mas com silhuetas retas que se preocupam com o conforto e uma paleta de tons neutros, relembra uma sofisticada musa da marca que ainda gosta de se sentir confortável e jovial.
Veronica Etro trás sua visão de Primavera/Verão farta em estampas, cores e peças de crochê. Em um cenário hippie, as roupas trazem elementos que remetem ao movimento do início dos anos de 1970, mas claro, com toques e releituras modernas. A diretora criativa conta para o jornalista Luke Leitch que encontrou um período de felicidade e reencontro espiritual através das práticas de yoga e meditação durante a quarentena que também encontra com o movimento hippie da década de setenta.
Como esperado de Etro, os adornos e styling da coleção são, como um todo, o perfeito balanço entre uma estética despojada e a marca de alta moda com clientes boêmios que ainda precisam do meio termo entre o frugal e o sofisticado.
A coleção da Emporio Armani marca o aniversário de 40 anos da casa. Em um desfile que junta a moda feminina e masculina, Giorgio Armani apresentou um trabalho extremamente familiar: looks de alfaiataria clássica em cores neutras e silhuetas sóbrias, com uma junção de uma estética Italiana estilosa mas datado como antiga, looks que podem ser facilmente encontrados em suas coleções mais velhas no Armani Silos. Em 122 looks, a casa mantém a tradição de apresentar mais do mesmo com inúmeras referências a criações anteriores do designer.
Partindo para uma coleção que se destaca como diferente de todas as outras do dia, Blumarine de Nicola Brognano segue com suas referências e inspirações dos anos 2000 e transforma a sua musa em algo ainda mais sensual, com modelos com glitter pelos corpos, transparências e tops de borboletas.
É fácil se apaixonar pela utopia Blumarine dos anos 2000 – o brilho e sua atmosfera rosa-Barbie transportam a maioria da geração Z à uma época feliz, sem preocupações (e comparando com o mundo sociopolítico, atual às vezes roupas podem ser o escapismo que precisamos).
Porém, o conceito dessa estética específica parece estar cada vez mais perdendo força nas mídias sociais – onde a tendência teve seu renascimento. Fica a pergunta: quantas vezes o mesmo conceito e modelagens conseguem ser reciclados por Brognano? Uma luz no final do túnel é que, com uma leve reorganização, é possível produzir a estética de maneiras e com referências diferentes.
Na MM6 Maison Margiela o clima foi de celebração às pequenas coisas: André Breton, Leonora Carrington e Claude Cahun buscaram transmitir a essência de peças simples mas com grande importância, como um aperitivo dividido entre amigos em um bar. A comemoração vem para o retorno da vida gastronômica em Milão, a possibilidade de visitar bares e restaurantes depois de tanto tempo em pandemia. Uma clara referência a filmes de terror também, com balão na mão e roupa xadrez – quase uma reimaginação do personagem Pennywise, do clássico de terror ‘It’ de Stephen King.
Falando em celebrações em uma das inclinações da moda pós-pandemia, a GCDS traz a sensualidade e irreverência para a passarela. Com sapatos super plataformas, peças em crochê e tricô, e inspiração na praia e no mar, muitos dos elementos do desfile são os já conhecidos da temporada, mas com toques de ousadia e sensualidade. De bolsas com designs super futuristas até bucket hats de crochê, a coleção reafirma o presente e o que o futuro pode ser. Tudo isso, claro, sem perder a aura sexy da marca.

DIA 3 – 24 de Setembro
Walter Chiapponi parece ter encontrado uma visão clara para sua Tod’s. Fazendo menção a trajetória da marca como uma grande potência em couro e alfaiataria, ele mistura os dois para uma coleção bem trabalhada. Uma temporada mais ligada ao comercial e ser atraente para o consumidor fiel a qualidade da marca, e ao mesmo tempo em trazer novos clientes que querem diferentes silhuetas e texturas.
O designer também tirou uma grande inspiração da moda na década de 1960, principalmente do movimento Mod’s, silhuetas retas, vestidos minis são exatamente a mistura entre o sportswear e sofisticação com uma inspiração clara do filme O Vale das Bonecas de 1967, ele admite que tudo na marca é ligado diretamente ao sportswear mas em conjunto com uma decoração técnica que trás outro espectro da vestimenta.
O desfile da Missoni de Primavera/Verão marca a primeira coleção do novo diretor criativo – Alberto Caliri – ele apresentou uma sensualidade entre características claras da marca, como suas estampas de chevron em tricô, saídas quase de praia e muito glitter entre as tramas de tecido.
É uma coleção segura e apropriada, principalmente que remete aquele otimismo pós-pandêmico com ansiedade de voltar a grandes festas, a coleção é uma homenagem à vida noturna com um toque de adoração e apreciação pela marca.
Uma coisa é clara sobre as coleções da Sunnei – Simone Rizzo e Loris Messina gostam de um grande gesto – a coleção teve a atmosfera de uma enorme armazém, os dois brincam com diferentes formas de apresentação de uma coleção, foram conhecidos pelas modelos CGI e outros tipos de realidades virtuais para seus shows digitais.
Em sua apresentação física não passa muito longe, um show de luzes e sons e os convidados de pé, a coleção apresentou composições, texturas e brincadeiras com volumes e proporções diferentes que parece ser uma das maiores características da marca.
Eles trouxeram uma nova ornamentação dentro do minimalismo contemporâneo da Sunnei fez a diferença na coleção com franjas e bordados, que deram um movimento necessário a modelagens quase estáticas e duras. Um dos exemplos de como um bom adorno e styling podem mudar o sentimento da coleção.
Entramos em mais um capítulo entre a história colaboração entre Miuccia Prada e Raf Simons, a coleção teve uma dupla apresentação em Milão e Shanghai. A ideia de apresentação vem em conjunto com o otimismo pós-pandêmico que tanto é visível nessa temporada por inteiro, aqui os dois designers se juntam para explorar todas as possibilidades possíveis que o novo mundo aguarda – novos talentos, ideias, valores – é uma experiência global, assim como nosso mundo ficará cada vez mais globalizado através do tempo.
Entre as roupas polidas e bem ajustadas, uma das características mais intrigantes da colaboração é como conseguimos ver momentos importantes da trajetória criativa de ambos designer em um mesmo look, referências claras do trabalho de Miuccia Prada nos anos 90 – principalmente da coleção “Ugly chic” de Spring Summer 1996 em conjunto a jaquetas gastas de motocicleta que lembram uma grande coleção de Raf Simons de Fall 2001 a “Riot Riot Riot”.
Ainda é Prada, tudo isso é unido em um equilíbrio clássico entre roupas sofisticadas e femininas, com uma sensualidade velada não abertamente exposta, Miuccia escreveu nas notas do desfile: “Nós pensamos em palavras como elegante – mas isso parece tão antiquado. Na verdade, trata-se de uma linguagem de sedução que sempre leva de volta ao corpo. Usando essas ideias, essas referências a peças históricas, a coleção é uma investigação do que elas significam hoje.”
Em geral, mais uma boa coleção de ambos e ver e acompanhar a parceria dos dois têm sido uma experiência única de entendimento e concordância entre dois grandes designers contemporâneos.

DIA 4 – 25 de Setembro
Massimo Giorgetti presta homenagem à cidade de Milão em sua coleção de Primavera/Verão, não é a primeira vez que é possível tirar inspiração da cidade nas coleções da marca. Mas nessa é um pouco mais específica ele olha para o espectro da metrópole italiana na década de 1980, um tempo energizado por criatividade e possibilidade de renovação nas comunidades culturais e artísticas.
É uma versão bem editada da MSGM com peças animadas, cores vibrantes de verão e entrando também a previsão do sexy e da pele à mostra que foi vista durante toda a temporada.
Alicia Keys abriu o show virtual da Moncler. Mostrando a criatividade de não um, mas onze estilistas parceiros da marca como JW Anderson e Veronica Leoni. O show é transicional entre New York, Seoul, Tokyo e Shanghai. Com displays imaginativos e interagem com formas de arte diferentes – dança, filme, música, moda – muitos com oportunidade interativa.
Desde a saída do diretor criativo Paul Andrew em Janeiro deste ano, a Salvatore Ferragamo se encontrou em uma mudança de cadeiras durante esse meio tempo. A transição do novo CEO da marca Marco Gobbetti é esperada para começar durante esse mês, e o designer Guillaume Meilland, que tem sido o designer de Menswear da marca e se aventurou na temporada principal.
É difícil comparar com o último desfile de Andrew, com referências da história da marca como a plataforma arco-íris produzida para Judy Garland com uma apresentação digna de um filme Sci-Fi. Mas deu um ar de juventude necessário para a marca, a estreia de Meilland foi exatamente ao contrário, olha para uma tradição sofisticada e antiquada de pensar da marca com silhuetas quadradas, esportivas e cores neutras.
Essa coleção foi um pouco mais emocional para a Giorgio Armani, foi o aniversário de 40 anos da marca e voltamos às suas origens em um desfile intimista com trilha sonora marítima vimos o azzurro (azul-claro) da marca e modelos sorrindo como se estivessem na praia. De uma progressão de peças brancas e marinhas à acinzentadas, azuladas e cada vez mais leves.
E vestidos de festas em tule e cristais azuis, rosas e roxos pastéis quase etéreos, com uma execução digna da celebração da marca, com silhuetas extremamente familiares, de coletes com saias de tule, até blazers com lenços nos pescoços tudo gritava Giorgio Armani no coração de seu trabalho.
Apesar de existirem tendências que já são possíveis de compreender desta temporada como a sensualidade, o culto ao corpo e o anseio pela abertura da vida novamente, uma também é bem clara: muitas marcas tiraram um período introspectivo para olharem suas trajetórias e histórias e referenciarem isso de alguma forma em suas coleções.
Bem, aconteceu exatamente ao contrário na Philosophy di Lorenzo Serafini: em uma completa reviravolta da sua coleção de Outono/Inverno de 2021 (que tinha como centro o estilo preppy em uma homenagem a alunos escolares que perderam parte de sua experiência acadêmica), sua Primavera/Verão decide olhar para uma linha quase de lingeries. O designer explicou nas notas do desfile que era sobre o poder do movimento, querer mostrar mais pele e um renascimento da vida. É meio difícil se concentrar nisso quando estamos olhando para designs que são uma mistura entre toureiros espanhóis, o grunge de Los Angeles e florais diretamente saídos da Urban Outfitters.
Foi uma coleção confusa, muito menos refinada e sofisticada dentro do tema de escolha do que sua predecessora. Marcas estão focando em referenciar a própria história como um toque poderoso de reafirmar sua identidade visual. O que leva as perguntas: quem é a mulher Philosophy? Ela mudará com a marca a cada temporada?
Em sua apresentação da coleção de Primavera/Verão 2022, Francesco Risso deu um verdadeiro espetáculo: nos dias que antecipavam a coleção da Marni, o designer organizou mais de 400 provas de roupas. Não recebemos uma coleção de 400 peças, mas sim uma prova que voltar para a prática dos desfiles presenciais é um privilégio que deve ser aproveitado ao máximo – todos os convidados vestiram roupas feitas pela Marni.
Além disso, foi o primeiro designer da temporada a falar sobre as injustiças sociopolíticas que tanto foram conversadas nos protestos do Black Lives Matter em maio de 2020. A indústria da moda disse querer mudar e virar uma aliada ativa do movimento, mas é a primeira vez que falamos disso no mês da moda – na penúltima semana.
Risso teve um time incrível de apoiadores para ajudá-lo com o conceito e execução de toda a coleção: “Dev Hynes foi o responsável pela música, o poeta Mykki Blanco fez uma performance de palavra falada, e a cantora Zsela foi acompanhada por um coro celestial. Nas notas do programa, Babak Radboy, que é conhecido por seu trabalho com Telfar Clemens, compartilhou a direção criativa. O elenco tinha a diversidade racial, a inclusão corporal e a fluidez de gênero que se tornaram a norma na Nova York de Telfar. “Finalmente, Milan acordou”, disse um colega no caminho para a porta.”. São roupas utilitárias, versáteis e esteticamente alinhadas com a marca que carregam um significado simbólico.

DIA 5 – 25 de Setembro
Começamos o último dia com uma apresentação digital em meio a um armazém abandonado e pichado, com Dean e Dan Caten como anfitriões da nova era grunge chic da Dsquared2 que eles apresentaram em sua coleção de Primavera/Verão 2022.
A atmosfera ajudou a dar o tom principal da coleção, sendo citada pelos designers como sua versão de grunge vindo diretamente de Milão. Estéticas opostas se atraindo pela construção dos looks em si, desde jeans desbotados e peças que parecem quase inacabadas até momentos claros de noites opulentes são ambiguidades apresentadas durante toda a temporada da marca.
Segundo o relatório de vendas da LVMH do primeiro semestre de 2021, parece que a Emilio Pucci conquistou os corações das gerações mais novas… Com suas estampas psicodélicas e vibrantes em seda pura até seus looks minimalistas e sensuais como apresentado nesta última coleção pela nova diretora criativa Camille Miceli, a marca entende a demanda de uma aproximação dos designs com uma estética mais da vida noturna jovem, harmonizando o ideal moderno com a história e características claras de cada.
Mas a cereja de toda a semana foi o evento que prosseguiu com o encerramento, um dos segredos mais bem guardados de Milão que começou a virar um rumor no meio do evento: a colaboração de designers entre Versace e Fendi. Donatella Versace, como diretora criativa da marca, pegou a tarefa de reinterpretar elementos da Fendi; e Kim Jones, o diretor criativo, da Fendi assumiu o trabalho de dar sua reinterpretação a Versace.
Um evento recheado de celebridades (nos assentos e na passarela), Fendace realmente fechou Milão com chave de ouro com uma verdadeira mistura de logos. Porém, essa não é a primeira vez que vemos a colaboração de dois grandes designers de marcas diferentes juntos: tivemos no meio do ano a “Gucci Area” caracterizada por um hacking da Balenciaga de Demna Gvasalia.
Em Gucci, conseguimos ver uma harmonia na história e logos das duas casas. Foi uma experiência para trazer um público adorador da logomania? Sim, mas foi possível ver claramente o que era referência à Gucci e o que era Balenciaga. O que não aconteceu em Fendace, qual parecia apenas que o brasão da Fendi havia sido adicionado a alguns designs da Versace. Os acessórios, que são o maior caminho de consumo de luxo, foram muito melhor pensados.
Na pós-modernidade, com tantos meios de comunicação e tanta informação sendo bombardeada a cada minuto, não é muito longe se fazer o questionamento do porquê essas colaborações aconteceram; se estamos todos virando reféns de momentos virais e qual a verdadeira consequência disso refletida na qualidade do trabalho.

Vim pelo i hate fashion people
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