Existe uma ligação simbólica entre a cidade da luz e a indústria da moda, um pacto velado entre duas instituições para o benefício financeiro de ambas. Não só meramente simbólico mas historicamente, a história de amor entre as duas partes tem um começo claro na corte real francesa de Louis XIV. Os franceses sempre tiveram uma habilidade na indumentária aristocrática, mas nesse período específico foi quando a vestimenta saiu de apenas um status quo social para representar verdadeiro poder bruto.
Jogos de superioridade envolvendo produtos de luxo como jóias e vestidos como uma moeda de troca que mostrava sua posição social e financeira, foi quando entenderam principalmente que os costureiros sob-medida de Paris conseguiam ganhar muito mais do que outro com mesma habilidade artística, desde então os franceses não são só conhecidos unicamente pela arte indumentária ou tendências da época, foi um dos primeiros lugares que viu a possibilidade de lucro real como commodity.
É possível colocar que a moda prosperou tanto em Paris pois lá foi o primeiro lugar que viu a prática como uma indústria completa com um potencial de lucro enorme reinando nas casas de luxo. Desde Charles Frederick Worth criando a prática completa da alta-costura, que logo depois teve a criação de seu próprio sindicato a fim de fiscalizar a prática. Até o presente com o empresário Bernard Arnault tornando essas grandes casas de luxo em um dos maiores conglomerados modernos, sendo a LVMH a segunda empresa que mais transita dinheiro na Europa segundo o “The State of Fashion 2020: Coronavirus Update” realizado e apurado pelo site Business of Fashion.
Paris reina clamando ser o epicentro da moda: uma cidade de alta-costura e bom gosto, com a reputação histórica de suas marcas, em seu livro Capital da moda Valerie Steele qual ela explica o significado da cidade para os amantes de moda pelo globo “A história da moda de Paris se confunde inexplicavelmente em mito e lenda.”
Apesar da prática de grandes maisons de moda convidarem uma condição seleta de clientes para a apresentação de suas coleções, como Paul Poiret ou até o grande precursor de alta-costura Charles Worth, assim como Coco Chanel e Elsa Schiaparelli nos anos 30, até nas grandes visões das coleções o opulentas de Christian Dior.
Mas depois dos anos 60, com grandes designers como Yves Saint Laurent e Pierre Cardin abrindo suas versões de prêt-à-porter, a moda de luxo tinha que se estruturar como diferente das suas concorrentes em lojas de departamentos da época.
O primeiro grande evento da moda como um todo na indústria na cidade e oficialmente a primeira Semana de Moda de Paris, foi a infame Batalha de Versalhes que aconteceu em 1973 organizada pela Fédération Française de la Couture. O evento oficialmente era para arrecadar fundos para restaurar o Palácio de Versalhes, uma batalha dramática entre designers tradicionais franceses e os novos e modernos designers americanos, contou com designers como Yves Saint Laurent, Emanuel Ungaro, Christian Dior (então desenhado por Marc Bohan), Pierre Cardin e Hubert de Givenchy no lado francês, contra Anne Klein, Halston, Oscar de la Renta, Bill Blass e Stephen Burrows representando a América.
Hoje, a Paris Fashion Week segue com suas teatralidades dramáticas, e conta com os desfiles mais importantes da temporada — já que a maioria dos grandes conglomerados ainda estão situados em Paris, assim como a alta-costura. A cidade respira a moda durante essa semana com ruas engarrafadas, atrações turísticas sendo fechadas para desfiles e bolhas nos pés de correr e andar pela cidade, pelo menos é assim que reza a lenda.
Depois de um mês caótico e animado terminamos nossa jornada de cobertura das coleções na temporada de Primavera Verão 2022, no Instagram da Frenezi vocês ainda conseguem encontrar nossa cobertura por inteiro com resumos de todos os desfiles nos posts de overviews diários, até guias explicativos das coleções mais importantes de cada semana do Big Four — Nova Iorque, Londres, Milão e Paris — além dos textos em nosso site cobrindo a beleza e com resumos de cada dia específico.

Dia 1 – 24 de Setembro
Começamos o primeiro dia com a jovem e apocalíptica Marine Serre que conquistou celebridades por todo o globo com sua estampa de meia lua colorida. A designer optou novamente por um grande e bem produzido fashion film, em colaboração com seus aliados de longa data Sacha Barbin e Ryan Doubiago. Desde do advento da pandemia do Covid 19, Serre diminuiu um pouco a inspiração distópica tão característica de sua marca para um trabalho um pouco mais familiar e confortável.
Nesta coleção intitulada de Ostal 24, é possível observar um pouco dos dois mundos familiares de Serre, ainda com peças que serão sem dúvidas sucessos de vendas, afinal toda marca precisa pensar também no lado financeiro. O filme é perfeitamente desconfortável, constrói uma coleção da marca muito bem com a harmonia perfeita entre o trabalho conceitual e comercial da designer, com ares de filho pródigo do apocalipse que vai em raves dos anos 90.
A marca ainda consegue surpreendentemente criar peças originais que revitalizam o look familiar que dá nome a sua marca a cada temporada. Sem comentar seus esforços de utilizar a maior quantidade de material reciclado possível: 45% eram materiais regenerados e 45% reciclados para esta coleção de Primavera Verão, a maior porcentagem já usada pela designer.
Terminando o primeiro dia com Kenneth Ize, uma dos times das marcas jovens e independentes que conseguiram sobreviver a Pandemia do Covid 19, Ize conseguiu não só isso como prosperou em um momento crítico na moda mundial. É um dos designers para olhar com atenção nas próximas temporadas — não apenas pelo fato dele ter a benção da supermodelo Naomi Campbell ou ter colaborado com a marca autoral de Karl Lagerfeld, mas da precisão de seu trabalho e seu olhar crítico para materiais de qualidade.
Vimos também, como uma projeção da pandemia no mercado, que cada vez mais compradores de luxo preferem um material verdadeiramente de qualidade — como o de Ize, que construiu uma fábrica na Nigéria onde as peças são tradicionalmente feitas de linho produzido à mão tomando 80% de todos os tecidos da coleção, os toques finais do tecido são produzidos na Itália. Isso é um luxo velado produzido com propriedade e precisão local, uma virtude que coloca o designer em outro patamar entre seus contemporâneos.

Dia 2 – 25 de Setembro
Começamos o dia com uma das marcas mais importantes da história, com sua diretora criativa que faz sucesso nas vendas mas não tanto nas críticas. A mulher da Christian Dior pensada por Maria Grazia Chiuiri é versátil, com roupas descomplicadas para o dia-a-dia feminino moderno e, segundo muitos clientes, é uma das poucas grandes marcas que também se preocupa com o conforto dentro de suas roupas – esses são alguns fatores do sucesso de vendas que a diretora trouxe para a marca desde sua entrada.
Ao mesmo tempo, os designs de Chiuri são descritos como não originais, sem muita mudança aparente entre coleções. Desta vez, ela olha para um passado rico da trajetória da marca e traz de volta os anos de 1960 às passarelas da Dior, com olhar para o legado do diretor criativo na época, Marc Bohan. Com uma atmosfera inspirada em jogos de tabuleiro, a marca apresentou uma coleção que revisita sua própria história buscando por elementos lançados na época por Bohan como silhuetas retas e tons fortes e vibrantes.
A inspiração da coleção é muito bem pensada, afinal a década de 60 é marcada como um dos maiores avanços no guarda-roupa feminino e uma década decisiva para a marca historicamente. Não foi nada fácil para Marc Bohan homenagear o falecido Christian Dior que era justamente o epicentro da moda de cinquenta com suas crinolinas, corpetes e com as novas formas de vestimenta mais utilitárias da década, mas prosperou na Dior durante o tempo.
É possível ver uma linha clara entre o trabalho de Bohan e Chiuri em alguns looks que, principalmente, fazem menção a alfaiataria da época — mas a execução da coleção em geral é fraca mesmo com um conteúdo de moda tão grande por trás. As segundas peles aterrorizantes por baixo de quase todos os looks também não ajudaram na boa execução da coleção.
Passamos logo depois para uma das coleções que expressam todas as grandes tendências que são possíveis de observar no mundo pós-pandemia: as transparências, recortes bem posicionados e cores vibrantes. A marca Ottolinger sob a direção criativa de Christa Bösch e Cosima Gadient, com características jovens que conta com alças assimétricas e modelos quase nuas são traduzidos para a geração Z com excelência. Apesar de uma coleção ligada ao corpo e sua forma, ao contrário de outros que tomaram a mesma inspiração durante essa temporada, Ottolinger se preocupa em deixar claro que existem mais de um tipo de corpo e que todos merecem ser sensuais e aproveitarem ao máximo as festas depois do tempo caótico.
Thebe Magugu faz uma homenagem emocional a mulheres que inspiraram sua trajetória criativa, como sua avó e sua mãe. O otimismo é uma das maiores características da indústria da moda no movimento pós-pandemia e Magugu prova exatamente isso com uma coleção divertida, alfaiataria feminina, silhuetas elegantes e volumes esculpidos na vestimenta e no corpo.
A atmosfera do desfile deu lugar á uma instalação onde é possível encontrar referências da homenagem a famílias do designer, como vestidos usados por sua tia e cartas de sua mãe que dão um sentimentalismo e uma sensibilidade para a coleção emocionantes. Ver um designer honrar suas raízes e homenagear algo tão pessoal e sentimental é sempre um momento único.
Terminamos o segundo dia em uma localização simbólica de Paris: a Torre Eiffel. A Saint Laurent volta para sua atmosfera clássica com uma iluminação digna de um verdadeiro show — e a chuva descendo calmamente durante o desfile provam como Anthony Vaccarello ainda consegue entregar um grande momento para a marca. Escolher voltar para o ponto turístico é muito mais que uma decisão meramente simbólica, ela representa um novo rumo para a Saint Laurent.
O diretor criativo finalmente encontrou seu passo entre a harmonia ideal da estética característica criada por Heidi Slimane na marca anos antes e os ricos arquivos do trabalho de Yves Saint Laurent, toma como inspiração principalmente o desfile Outono/Inverno 2001 Couture.
Se desprender um pouco da estética criada por Slimane e criar seu próprio mundo em homenagem a uma história tão rica de um dos maiores criativos da indústria se mostrou uma ótima estratégia, alcançada com blazers de alfaiataria precisa e luvas de cores vibrantes, ele apresenta uma coleção polida, sensual e com uma costura rígida e precisa.

Dia 3 – 26 de Setembro.
Começando o dia com uma releitura do passado, Nicolas Di Felice mantém a herança da Courrèges viva com seus cortes retos em linha-A que remetem aos tempos de glória da marca nos anos de 1960. Assim como na última temporada, o designer revisita elementos do passado com a integração de itens e releituras atuais. É possível descrever o trabalho de André Courrèges entre o filho perfeito de Mary Quant e Paco Rabanne, o precursor da moda futurista da época, mas ainda com elementos claramente ligados à moda de rua e aos movimentos sociais que aconteciam.
Em uma coleção trabalhada em couro — e em sua maior parte coberta de tons neutros —, Di Felice entrega itens bem estruturados e similares a peças tanto de coleções atuais como arquivos da marca. A marca também pode se tornar uma das principais do atual fascínio entre as décadas de 1960 e 1970 que está presente na indústria contemporânea, e de quebra manter a importante herança da marca, revigorando seu logo.
Em uma das poucas estreias da temporada, Charles De Vilmorin faz seu primeiro desfile presencia para a marca Rochas como seu diretor criativo atual. Ele é um jovem designer recém graduado da Escola do Sindicato da Alta-Costura Parisiense e sua coleção de graduação fez tamanho sucesso durante o verão passado que ele foi um dos membros convidados para a semana de alta-costura em janeiro e julho de 2021.
As características claras do trabalho De Vilmorin são barulhentas, ousadas e chamativas, trabalha com silhuetas volumosas que são elevadas ao extremo com a escolha de estampas e tecidos igualmente dramáticos e bem parecidos com sua primeira coleção na alta-costura. A estreia foi no mínimo memorável com designs que tendem até para um gótico romântico e uma abordagem jovial e chamativa. Um nome e proposta que prometem grandiosidade para o diretor criativo.
Acne Studios é uma marca que ganhou notoriedade pelo streetwear e apreço do público jovem, era de se esperar que o diretor criativo Jonny Johansson apresentasse uma coleção recheada de tendências e referências modernas e realmente, foi o que aconteceu. A coleção é o sonho da geração Z na passarela com calças de cintura baixa de couro, sapatos plataformas, corsets e blusas fluídas com transparência direto dos anos 1970 até peças de crochê e detalhes bordados, a coleção de Primavera/Verão é pelos jovens.
Com leves elementos e inspirações na moda dos anos 2000, Johansson apresenta a nova visão do sensual e faz a própria interpretação do papel que a moda tem hoje para as novas gerações.
Patou apresenta uma coleção repleta de alfaiataria moderna que grita o estilo parisiense de um jeitinho especial. Guillaume Henry — diretor criativo da marca — cria uma fantasia acerca da mulher independente. Com elementos extremamente femininos, desde golas até rendas e laços, Patou apresenta a visão da mulher romântica moderna que ama golas exageradas e mangas bufantes. O drama está presente nas silhuetas — como nas coleções passada s—, mas desta vez de forma mais controlada e acompanhada de logos.
O desfile final do terceiro dia foi emocionante, a coleção marca o aniversário de 10 anos do diretor criativo da Balmain na marca. Olivier Rousteing reviveu a marca, trouxe seus maiores sucessos de vendas e campanhas publicitárias memoráveis com seu time de celebridades. A coleção toda teve 116 looks entre womenswear e menswear. Na primeira parte da coleção é possível olhar uma homenagem clara à trajetória criativa de Rousteing, com cortes assimétricos e sensuais, silhuetas oversized, acessórios pesados e jogos de texturas entre tecidos que mantêm as vestimentas interessantes.
Na segunda parte o estilista resolveu apresentar 16 looks que são recriações de coleções passados, as peças foram desfiladas por algumas das musas do designer como Naomi Campbell, Mila Jovovich, Carla Bruni e Imaan Hammam, foi nessa parte da coleção que é lembrado o incrível artesão que Olivier Rousteing é, consegue juntar bordados e estampas maximalistas com uma precisão perfeita e sempre pensando na qualidade e amor pelo seu trabalho.

Dia 4 – 27 De Setembro
Começamos o dia com um dos desfiles que se destaca na multidão, durante essa temporada vimos inúmeras referências ao otimismo pós-pandemia, alguns desses feitos com uma mentalidade bem desligada da atualidade onde muitas pessoas ainda não se recuperaram do ocorrido para pensar em sair e se divertir.
Rick Owens fala exatamente sobre isto em sua nova coleção de Primavera Verão 2022: passamos por algo traumático juntos, algo que deveria ter ensinado diversas lições a sociedade moderna. “Esse desfile deveria ser sobre humildade e uma lição aprendida ou carpe diem?”, questionou o designer em seu primeiro desfile presencial após meses apresentando coleções em seu próprio quintal. Owens sempre dá uma lição no quesito de sensibilidade com eventos atuais, e ainda leva grandes características de sua marca para a coleção com um toque gótico, beleza andrógina, peças que repensam o que é a sensualidade hoje e até uma mistura de tecidos e silhuetas que conseguem transpassar uma ambiguidade de fluidez e rigidez ao mesmo tempo. O trabalho de Rick Owens questiona, e principalmente nos faz questionar.
Falar sobre o que significa sensualidade hoje não é um assunto novo, durante esse ano vimos tendências que estudavam e se despedem da Male Gaze e começavam a se vestir para expressão pessoal e diversão criativa, não exatamente para agradar o olhar masculino. Dá pra sentir esse espírito nas coleções da Coperni, com comprimentos mini, transparência, calcinha de strass e decotes profundos Arnaud Vaillant e Sébastien Meyer definitivamente mostram toda a ousadia da mulher Coperni.
Entre os blazers quase nus e a atmosfera do desfile ser construída entre 70,000 caules de hemp, qual é uma iniciativa sustentável para tecidos que os designers estão envolvidos. A coleção tem um ar futurista característico da marca, tanto que foi nomeada como Spring Summer 2033 é uma utopia festeira e sensual para fugir da realidade que vivemos, assim como toda coleção da marca.
Gabriela Hearst tem pouco tempo como diretora criativa da Chloé mas já deixa sua visão para a marca bem clara: é uma versão mais feminina e romântica da sua marca autoral, ainda com apreço pelos mesmos valores como alfaiataria bem feita e produção de qualidade, mas ainda é possível sentir um sabor Boho característico da história da Chloé com o uso de franjas, miçangas e macramê. A coleção de Hearst investe em cores sóbrias e foco nos detalhes para uma conjunção elegante sem perder a jovialidade. Comprimentos longos marcam as peças, seja em vestidos que vestem das praias às festas, saias ou maxi casacos. É a Afrodite de sua Atena — até mesmo as coleções passadas de Outono/Inverno foram intituladas assim.
Raf Simons tem uma queda por referências não tradicionalmente belas, inspirado pelos movimentos gótico e do rock, a marca autoral do designer trouxe novamente as mãos de esqueletos ao lado das roupas, estampas gráficas que parecem merchandise de bandas de rock e uma paleta de cores escuras. As silhuetas amplas revisitam uma atitude de roupas unissex que vemos pontualmente em trabalhos do designer, e com uma inspiração em movimentos que não ligam para as regras tradicionais de gênero ou vestimenta.
Terminando o dia no museu do Louvre com Isabel Marant, que assim como muitos outros designers se inspiraram durante essa temporada, a designer resgata novamente o boho chic em busca de inspiração. O resultado são peças com silhuetas e estruturas modernas, aliadas às cores, estampas e acessórios que remetem ao estilo hippie sem perder a classe.

Dia 5 – 28 de Setembro
Começamos um dia ensolarado com Loewe de Jonathan Anderson trazendo uma luz necessária para a temporada de Primavera Verão, o designer se inspira em se divertir com a moda novamente e apresenta desta vez uma coleção fora da caixa com silhuetas, tecidos e texturas diferentes do que já apresentadas anteriormente.
O poder financeiro tem sido uma das grandes discussões entre as grandes marcas modernas (infelizmente ainda não é possível pagar as contas com uma coleção meramente conceitual), Anderson consegue executar uma harmonia perfeita entre o experimental e o utilitário. Na coleção o designer apresenta sua visão para uma nova Loewe divertida e alegre, com um discurso experimental desde looks com placas de peito de plástico à la Barbarella, vestidos de paetês e saias com volumes estruturais.
Falando de formas experimentais e cores vibrantes, quase impossível de não lembrar de Issey Miyake que apresenta uma coleção cheia de formas experimentais, em tecidos e texturas variadas brincando com as formas e variantes dos corpos diferentes que apresenta, em conjunto com toques de cores vibrantes quase neon em sua coleção que aparecem principalmente para enfatizar seus detalhes inusitados na vestimenta.
Esta temporada marca muitos aniversários especiais, entre eles o aniversário de 40 anos da marca autoral de Yohji Yamamoto, designer reconhecido internacionalmente como um dos precursores do anti-fashion e do minimalismo japonês de qualidade, pela sobriedade em roupas que valorizam a qualidade dos tecidos e a precisão entre a construção da vestimenta são características claras de seu trabalho.
A coleção foi toda monocromática em preto, o que deixa claro que a atenção deve ser voltada para a construção de suas silhuetas, com os últimos looks exuberantes com a creolina à mostra, consegue-se observar o vestido por dentro e fora. É uma coleção que homenageia seu passado entendendo e honrando sua trajetória e repensando-a de uma forma interessante.
Entre um dos desfiles mais esperados dessa temporada, temos Pierpaolo Piccioli em sua diretoria criativa na Valentino que conquistou os corações dos amantes de moda por suas coleções opulentas e glamourosas de alta-costura. Durante a pandemia do COVID 19, o designer viu que não era o momento certo para coleções como símbolo de riquezas como eram anteriormente e mudou sua visão criativa para se encaixar em um novo contexto social que vivemos hoje – ainda com menção honrosa de características clássicas típicas da marca mas com um tom um pouco mais prático.
Suas criações não tem uma grande linha de storytelling clássica dentro de uma coleção, mas o designer tem uma grande sensibilidade em entender o estado do mundo atual e que talvez aquelas coleções não sejam mais o adequado para o momento.
Em sua conta pessoal do Instagram ele conta como olhou para os arquivos da marca e seu passado como uma forma de força interna a fim de entender a trajetória como um todo. O primeiro vestido da coleção é uma cópia e homenagem a um vestido feito por Valentino para Marissa Berenson em 1968. O resto da coleção segue entre a linha nostálgica de antigos modelos da marca e características claras do trabalho de Piccioli atualmente na marca — uma ótima representação de respeito pela história até juntando-a com o contexto moderno.

Dia 6 – 29 De Setembro
Quem mais conseguiria um hangar de um aeroporto perto de Paris fechado para a apresentação de um desfile se não a Hermès? A diretora criativa da marca, Nadège Vanhee-Cybulsk, faz uma homenagem à história ligada a uma tradição no esportivo de luxo e repensa sua mulher moderna, ela vê a moda ideal para sua cliente hoje não sendo subversiva do conforto.
É tudo sobre poder se movimentar livremente mas ainda fazendo esforço para estar elegante. A harmonia entre o conforto, a sensualidade feminina e a praticidade de uma forma muito sofisticada, com uma paleta em tons refinados terrosos entre laranjas, amarelos fechados e caramelos estão trabalhados em altíssima qualidade em couro — marca registrada da marca.
Alexandre Vauthier apresenta uma coleção com peças em que definitivamente é possível observar a qualidade de seu ateliê, meticulosamente e precisamente esculpidas, como um dos seus sucesso de vendas: o blazer ampulheta.
A alfaiataria sofisticada e suas linhas fortes marcantes eram nítidas durante toda a coleção, o próprio designer declarou que sua coleção de Primavera/Verão foi “intensa em termos de trabalho, mas sincera e para frente criativamente falando”. Também reconhecido por seu vestuário noturno, looks de festas não foram deixados de lado, com bordados brilhantes bem posicionados.
E provavelmente uma das apresentações mais importantes da temporada: Balenciaga sob a direção criativa de Demna Gvasalia — que desde sua coleção de alta-costura mostra um trabalho genuíno entre a história da casa e a essência criativa do próprio designer.
Já é uma das características claras de Gvasalia romper barreiras entre o digital e o real, como sua coleção de Outono/Inverno 2021 em que fez uma espécie de realidade digital entre clonagem de modelos.
Nesta temporada, o designer optou por fazer uma sátira divertida em colaboração com um amado desenho norte-americano Os Simpsons com um episódio especial do desenho animado como um desfile da Balenciaga, com direito a Anna Wintour na primeira fila foi uma diversão cômica necessária o episódio foi exibido logo antes do desfile.
Os convidados se instalaram dentro do Le Théâtre du Châtelet enquanto assistiam as modelos, que desfilavam os looks oversized da coleção, no tapete vermelho. E após as modelos se juntarem aos convidados na plateia, já não se sabia quem era quem, mas agora já não importava por que o show iria começar.
Depois de um ano traumático e com a indústria da moda tendo que se reinventar para adentrar as temporadas digitais, muito se especulou sobre como seriam as apresentações pós-pandemia, e muitas marcas decidiram lidar com a situação como “business as usual” — com desfiles presenciais quase sem conteúdos digitais —, mas não a Balenciaga que trouxe uma experiência imersiva entre o digital e o real.
A coleção em si foi composta por modelagens claras da identidade visual atual da marca, principalmente com referência a coleção de alta-costura com vestidos com cintura marcadas em tecidos bordado e, assim como Yohji Yamamoto, Gvasalia preferiu por apresentar looks majoritariamente monocromáticos, principalmente em preto, o que ajuda a perceber detalhes suntuosos da construção e qualidade dos mesmos. Foi um bom respiro de novidade cômica em meio a uma semana de moda tão tradicional como Paris.

Dia 7 – 30 de Setembro
Bruno Sialelli sempre deixou claro quem era a sua musa moderna para sua visão criativa sobre a marca francesa Lanvin: uma pessoa festeira e glamourosa. Deixou essa identidade visual da marca clara com sua criatividade em campanhas e apresentações digitais, do fashion film da coleção de Outono/Inverno ter sido ao som de Rich Girl de Gwen Stefani em uma festa privada em um opulento hotel parisiense e também uma campanha publicitária com o rosto que é a carteirinha oficial das garotas ricas e festeiras desde 2000, Paris Hilton.
O designer afirmou sobre a nova clientela da marca: “A maioria dos clientes que estão nos procurando procuram por produtos glamourosos e fabulosos. Procuram por uma versão mais elevada e confiantes deles mesmos”. Partindo dessa, ele cria uma coleção exatamente para esses clientes com enfeites dourados, tecidos e caimento que lembram um robe e vestidos de cocktail, noite e festa. Além de trazer silhuetas que abusam dos trench coats e tinhas linhas mais nítidas e pesadas – vide o look final desfilado por Naomi Campbell: movimento, alfaiataria, brilho e muito tecido.
Em sua primeira coleção para a Givenchy no ano passado, Matthew Williams deixou a indústria ansiosa para o que mais ele poderia fazer, mas a linha de alfaiataria limpa e sensual com alguns elementos fortes de seu streetwear futurista em alguns acessórios foi deixada de lado.
Nessa coleção ele apresenta um trabalho sem nenhum apreço pela qualidade da história do ateliê da marca. Pontua na apresentação do desfile que gostaria de destacar a elegância Givenchy de uma forma jovial e atraente para compradores da geração Z, mas infelizmente não consegue traduzir o conceito criado por ele mesmo. Com um problema desde a escolha dos tecidos até silhuetas confusas e repetidas, tudo tem um ar que poderia ter saído de um desfile em 2011 — não num bom sentido de nostalgia.
Terminando um dia de altos e baixos com Ludovic De Saint Sernin, durante essa temporada inteira ouvimos os discursos de otimismo pós-pandemia e sensualidade pronta para as novas festas, Saint Sernin é o próprio rei dessa estética. A marca sempre foi extremamente ligada a seus brilhos em vestidos de proporções mínimas porém, em uma temporada que podemos observar isto como uma das maiores tendências atuais a vir, era quase necessário ver a coleção do designer.
E ele deixa isso claro em todos os looks. Não importa se são masculinos ou femininos, estão irreverentemente sexys e chamativos, como um look inteiro de strass num vestido mini com recortes por ele todo deixa claro como o dia para quem a coleção foi pensada. Como Blumarine, é bem difícil criticar a utopia criativa de Saint Sernin porque queremos essa ousadia e diversão com brilhos depois de quase dois anos de isolamento — fantasia até meio necessária em períodos caóticos.
Mas o culto ao corpo da marca é meio preocupante, não é apenas um sexy indiferente, é uma atitude quase ligada ao pornografico, bem parecido com o que Tom Ford fazia em seu tempo para a Gucci. Conseguimos hoje ter a mesma atitude ousada sem nenhuma diversidade de corpos?

Dia 8 – 1 De Outubro
Começamos o dia com uma volta de aquecer o coração, Stella McCartney retorna às passarelas e coloca em prática uma ideia de transição. A estilista é notavelmente conhecida por suas criações que abordam a sustentabilidade e a fusão entre a moda de luxo e a saúde do planeta para os próximos anos, tem também uma das maiores pesquisas de couro e outros materiais veganos sem o uso de plástico e toxinas.
Sua marca está diretamente ligada a questionamentos sobre o futuro, essa coleção marca o retorno de uma identidade mais sensual da mulher de McCartney com recortes bem posicionados em silhuetas bodycon, em conjunto a uma atmosfera esportiva e de conforto dá a ideia de ambiguidade e transição da coleção em conjunto com peças festivas de bordados.
Um outro ponto marcante foi a quantidade de peças feitas a partir de materiais ecológicos: quase 63% — como poliéster e elastano reciclados, náilon regenerado, viscose e um corante inovador feito a partir de elementos reciclados.
Passando para uma dos designers mais aclamados da semana de moda de Paris hoje: Daniel Roseberry na Schiaparelli, isso deve-se ao fato de como o designer consegue homenagear a fundadora excêntrica da casa juntando moda e arte surrealista em roupas intrinsecamente bem produzidas e acessórios mais que atraentes para novos consumidores.
Detalhes definitivamente não são um problema para a Schiaparelli de Roseberry, Nesta temporada exalta a forma humana na apresentação de sua nova coleção e mantém a ousadia, luxo e surrealismo da fundadora da casa, Elsa Schiaparelli.
Com um toque mais pessoal, Roseberry reúne peças de joalheria e acessórios, como óculos e bolsas, totalmente imagináveis, estampando as partes do corpo — orelhas, lábios, olhos, nariz, etc —, ainda com referências a Salvador Dalí com o bolero inflável de couro preto que relembra o artista, e referencia também uma das criações da marca: o vestido ‘esqueleto’. Além de um designer que foi uma das suas grandes inspirações artísticas para sua trajetória na moda, Jean Paul Gaultier com o couro e as sedas dispostas em redemoinhos formando pétalas de uma flor, além da aparição dos jeans com bordados suntuosos em dourado.
A visão da Schiaparelli de Roseberry é clara e concisa, é possível vê-la de longe mas seu verdadeiro trunfo é conseguir conciliar diferentes áreas cruciais em uma coleção como a história rica da casa, a sua própria trajetória e uma harmonia ideal entre o conceito exuberante e peças individuais e acessórios individuais que conseguem ser traduzidos para o lucro financeiro, coisa que a Schiaparelli estava necessitada antes da entrada do designer.
Para o desfile da temporada, Giambattista revelou uma coleção imensamente floral e com um mix de cores — em tons de vermelho, sorbet, etc — seguido de estampas. Com a busca de seguir fielmente a proposta para a coleção de Primavera/Verão 2022, Valli destacou-se pela presença de peças em conjuntos que referenciam o verão europeu — principalmente o italiano e o francês em questão — e vestidinhos mais justos, que casam perfeitamente com a temporada. Um outro ponto marcante foi a aparição de lábios coloridos — em diversos tons distintos de gloss —, além de acessórios que remetem à época do verão.
Em sua coleção Co-Ed, John Galliano enfatizou, mais uma vez, o quão inspirado ele é nos ”sonhos do futuro que os jovens estão tendo, e tornando-os realidade’’ — a principal temática da coleção.
O trabalho experimental de Galliano para a Margiela flui em uma coleção inventiva com texturas românticas e utilitárias, silhuetas novas, casacos gigantes e arrebatadores, além da ilustre presença de botas de pesca que vão até a coxa e que geralmente são uma grande sensação nas lojas da maison, e a própria tabi boots.
Tudo sem deixar o toque misterioso, sensível e erótico que são características fundamentais de Galliano, mas que casam muito bem com a assinatura da Margiela, com características semidestruídas e reconfiguradas em suas peças.

Dia 9 – 2 De Outubro
E finalmente, o último nascer do sol acontece em Paris. O primeiro desfile que é de uma casa reconhecida por ser francesa, famosa por ser quase obrigatória para as elegantes e despretensiosas parisienses. Ela mesma: a Chanel.
Para a Primavera/Verão 2022, Virginie Viard decide atender às preces dos amantes de moda e apreciadores da casa e trazer um pedacinho das passarelas cheias de atitude e confiança dos anos de 1990 de volta. A designer é notavelmente muito ligada a seu mentor, sempre referenciando-o quando consegue. Decidir homenagear uma era especial na história da Chanel, uma das épocas de ouro de Karl Lagerfeld recheada de modelos andando na passarela com charme e sensualidade, Viard apresenta uma coleção nostálgica, jovem e ousada ao mesmo tempo.
Com peças que remetem aos tempos de glória da marca, como swimwear cheios de acessórios, blazer estruturados de tweed, silhuetas mais justas ao corpo em conjunto com brilhos e bordados pontuados mas não em excesso — uma elegância típica da Chanel em conjunto com acessórios que tem potencial de serem os mais vendidos da temporada.
Para fechar com chave de ouro, os fotógrafos foram posicionados no final da passarela, modelos puderam mostrar seu carisma com poses, sorrisos e desfiles diferentes, tudo para acentuar as roupas divertidas e vibrantes que parecem encaminhar Viard para um novo caminho, talvez, para melhor.
Se em Prada é possível observar uma elegância jovial e o sexy repensado de uma forma única e feminina por Raf Simons e Miuccia Prada, em sua irmã mais nova, Miu Miu — que tem apenas Miuccia como diretora criativa —, sempre há uma diversão jovial e até ousada dos designs.
A “irmã mais nova” da Prada, que desde o seu princípio foi baseada nas garotas da escola que Miuccia Prada sonhava em ser, agora tomou sua forma final e madura em uma coleção que junta o preppy com o sexy. Miuccia Prada é reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho com dicotomias criativas — uma das características únicas e reconhecíveis de seu trabalho — e nesta coleção não é diferente. Se na anterior ela juntou uma montanha de neve e botas de pelos com vestidos slip com strass, nessa ela faz um workwear reconhecível mas cortado no meio sem acabamento parecendo rasgado de propósito e tudo toma uma proporção mínima.
É interessante ver também como sua colaboração tão densa e sincera com Raf Simons tem influenciado o trabalho de ambos. Nesta coleção tem algumas camisas e momentos um pouco menos ousados da coleção que remetem bastante ao trabalho de Simons na Lanvin.
Ainda é uma coleção extremamente fiel às características claras da Miu Miu, com bordados em vestidos justos, jaquetas e acessórios que são exatamente tudo aquilo que sua cliente é: jovem, preppy, chique, divertida e ousada. Uma direção que repensa sobre os desejos de uma nova geração do que é ser sexy e como se vestir na nova década.
Lacoste mais uma vez une o estilo preppy com o atlético, com uma pitada de streetwear nas veias. A coleção de Primavera/Verão é uma constante na marca. Carrega um pouco dos elementos de streetwear que com os anos acabaram se misturando com a visão clássica da Lacoste sem deixar de lado a estética do típico “country club”, um pouco da história clássica da marca direcionada para um público novo.
Louise Trotter se preocupa em mesclar a herança da casa com o contemporâneo em busca de uma coleção que remete ao movimento e a necessidade de ir e vir em um mundo que fica cada vez mais rápido.
Como previamente estabelecido, a temporada de Primavera/Verão 2022 marca diferentes datas importantes em várias marcas, em uma delas a joia da coroa do grande conglomerado de luxo LVMH, recebe um aniversário que foi comemorado a sua altura.
No ano que o fundador da maison, Louis Vuitton completaria 200 anos, o diretor criativo Nicholas Ghesquière toma como grande inspiração elementos da moda na época, as peças são uma junção do trabalho prévio do designer na marca e esses elementos, vestidos com bainhas de creolina e movimento fluidos são uma das ambiguidades bagunçadas que são impossíveis de ignorar na coleção.
Mas o verdadeiro momento que é lembrado do desfile é que ele foi brevemente interrompido por ativistas que traziam faixas com os escritos “Overconsumption = Extinction”, os ativistas foram retirados da passarela rapidamente mas não é uma escolha meramente simbólica fazer isso no desfile da Louis Vuitton, uma das marcas mais lucrativas e que leva o nome das primeiras siglas do maior conglomerado de luxo moderno — a LVMH.
Terminamos a temporada com um dos momentos mais sentimentais, um incrível fechamento para o mês da moda e mostra uma colaboração de toda indústria por alguém especial, essas que são bem difíceis de acontecer por questões financeiras e contratuais mas quando acontecem são um momento único a ser lembrado.
A coleção da AZ Factory foi um tributo ao fundador e diretor criativo Alber Elbaz, que faleceu em abril deste ano. Para o desfile, 45 designers se uniram para criar peças únicas em homenagem à carreira e trajetória criativa do designer, referenciando desde de seu estilo pessoal até algumas referências dos seus 14 anos na Lanvin.
Por que a indústria toda parou para homenagear Alber Elbaz? Algumas pessoas nos tocam, mesmo que elas não tenham a intenção inicial disso, Elbaz era um espírito alegre que se alimentava da sua paixão sincera por seu trabalho, a moda é a indústria dos sonhos e ele sempre nos lembrava que para ele tudo isso ainda era um sonho realizado, se referenciando a própria indústria da moda como sua família disfuncional que mesmo com problemas se amava e se acolhia.
Essa paixão e amor honesto pelo o que fazia tocou inúmeras pessoas diferentes do ramo, que se juntaram para homenageá-lo como o criativo brilhante que era. Uma infelicidade que apenas foi visto uma coleção da sua marca autoral, a AZ Factory tinha acabado de ser lançada, mesmo nessa coleção ficou clara a diversão que teve ao desenhar para sua própria marca.
Com um final extremamente sentimental é onde finalmente terminamos o mês da moda, com altos e baixos e marcado pela volta dos desfiles presenciais, ele deixa um gosto amargo na boca.
Tanto se foi falado sobre a democratização da moda durante a pandemia e como a criatividade de se reinventar deu um propósito diferente para as tradicionais fashion weeks, e trouxe até a tona pequenos designer que entregaram isso com excelência no digital. Ao voltar para o presencial, parece que as rachaduras na indústria não foram o bastante para perceberem o senso de mudança que afeta inúmeras camadas sociais pós-pandemia, o lado da moda de sempre voltar como business as usual não é mais realista no presente como tentam parecer.

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