Natural do Espírito Santo, a estilista Mayari Jubini de 26 anos vem conquistando o Brasil — e o mundo — ao vestir grandes nomes da música brasileira: entre seus clientes estão Anitta, Luiza Sonza e Pabllo Vittar.
Ainda em seu estado natal graduou-se em moda, apesar da falta de apoio (tanto financeiro quanto social) enquanto mulher periférica. Pouco tempo depois conquistou a pós-graduação em Negócios e Marketing de Moda na famosa Faculdade Santa Marcelina, e é só então que nasce sua marca, Artemisi Gallery, criada como um trabalho de conclusão de curso.
Queridinha das principais estrelas do país, Mayari vem acumulando seguidores e fãs em suas redes sociais por sua técnica de criação fora da curva. Apesar da pouca idade, ela se mostra o necessário para o mercado da moda atual: uma lufada de ar fresco, fiel a suas origens e princípios mesmo após todas as adversidades pelas quais passou. Conversamos com a designer para entender um pouco melhor sobre seu “DNA”.

A estilista
Nascida em Cariacica, município localizado no Espírito Santo, a trajetória de Jubini na moda começa muito antes de suas formações acadêmicas: desde criança já demonstrava uma curiosidade e forte veia artística, com inclinações para artes plásticas, literatura e filmes.
A designer conta em entrevista para a Frenezi que sempre teve um lado criativo, “Desde muito nova tive um contato com a arte que não veio da minha família ou de alguém que me apresentou”, a mãe de Mayari era dona de casa e seu pai cortador. Ela conta que acabou conhecendo a literatura e foi tocada pela mesma. Isso a motivou a buscar mais e a aproximou de outras áreas como o cinema, todos que serviram de inspiração para o seu trabalho.
Ainda na adolescência, Mayari trabalhou em uma loja de roupas e lá criou peças para o catálogo — esse seria apenas o início de uma brilhante carreira no ramo. Após se formar, com melhores oportunidades e crescimento profissional em mente, Jubini mudou-se para São Paulo e iniciou uma pós em negócios da moda na Faculdade Santa Marcelina.
E não foi sem desafios: não conhecia ninguém, não tinha emprego garantido e nem investimento, apenas a vontade e certeza de que algum dia alcançaria seu sonho. “O mercado da moda ainda é muito elitista e senti isso claramente no início. Tem muito preconceito, a moda ainda é segregadora e quem tem voz dentro dela é quem tem recursos financeiros”, conta sobre sua chegada na cidade. Pouco tempo após sua mudança conseguiu o primeiro emprego na capital paulista: uma vaga no renomado ateliê Paulo Dolce.
“Se você estiver vestindo Prada, grandes marcas caras, com certeza terá um tratamento diferente. Eu percebi isso e […] não queria passar por um papel e fingir ser outra pessoa: queria conseguir a voz sendo quem eu sou e falando da minha história, assim como consegui. […] Tem uma coisa que te faz ter credibilidade independentemente do lugar de onde você veio: os resultados.”
A marca
O DNA de Mayari é moderno, cosmopolita e acima de tudo, livre. Sua marca não segue caminhos pré-estabelecidos por antecedentes da indústria, deixando livre o espaço para que a imaginação da artista possa correr. Visão, sensibilidade, estética punk, elementos 3D, vinil e recortes se misturam para criar peças dificilmente imagináveis e pouco convencionais, mas que surpreendem pela excelência na técnica.
Nascida como um projeto de TCC, Mayari se refere com amor ao processo de abertura da Artemisi em 2019 como a melhor coisa que já fez. A necessidade de fazer todo o trabalho sozinha pelo alto custo para criar uma marca e pouquíssimos recursos a disposição foi a maior das dificuldades. . A designer explica que o processo exigiu meses de reclusão, foco e dedicação total: “Já tinha esse plano fazia tempo, mas na hora de colocar em ação foram meses sem sair socialmente, só trabalhando, sem gastar dinheiro pois tinha que juntar e não podia usar com nada. Eu tinha que saber desenvolver tudo, estava criando ela [marca] sozinha.”, ela conta que precisava saber fazer tudo por conta própria, não só do lado criativo como também do administrativo, “Precisei entender a questão financeira, tive que estudar muito”.
A marca tem ganhado força após vestir personalidades que se interessam por seu diferencial, sendo as peças utilizadas principalmente em trabalhos conceituais como clipes ou ensaios fotográficos.
Como contou em entrevista, o crescimento meteórico de seus modelos foi inesperado e aconteceu de forma rápida quando um stylist encontrou o portfólio da grife. “Foi maravilhoso ver o reconhecimento vindo das equipes de grandes artistas. O retorno do público também foi incrível, por ele vi que a marca foi ficando mais consolidada a cada novo trabalho.”. Falando também sobre seu processo criativo, ela conta que é um movimento constante de refletir sobre elementos que estão em sua vida.

Todas as peças são pensadas e desenhadas unicamente por Jubini, e depois são produzidas por uma equipe no ateliê da Artemisi. É nesse momento que Mayari traduz suas visões de mundo e inspirações (que segundo ela mesma não vem da moda geralmente, mas sim da arte, cinema e literatura) em criações jovens, ousadas, que desafiam a questionar a tradicional forma de se fazer moda.
“Gosto muito do que está à frente do seu tempo, mas sem essa ideia batida de futurismo na moda. Penso em como criar algo avançado. Sensibilizar nosso olhar em diversos ramos da arte faz com que consigamos ir além”.