A indústria da moda é a que mais recebe denúncias por recrutar pessoas em situação insalubre e por utilizar mão de obra análoga à escravidão ou informalidade na legislação. Segundo dados sistematizados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), mais de 1 milhão de mulheres trabalhadoras no setor têxtil do Brasil são informais.
A cadeia de produção das peças de roupas é complexa e longa, passa por etapas intensas desde o plantio de insumo, tratamento dos fios, tecelagem, tinturaria até a confecção. Em busca de minimizar os custos da mão de obra, grande parte das empresas terceirizam a sua produção e as terceirizadas também “quarteirizam” o trabalho.
A superexploração do setor têxtil é recorrente desde o século passado no Brasil, mas, em São Paulo, o crime está fortemente vinculado a questão da imigração: 93,1% das mulheres resgatadas entre 2003 e 2018 eram imigrantes.
Na grande maioria dos casos isso se dá na atividade da costura, fundamental para a indústria da moda e tradicionalmente conhecida como feminina, porém é uma das etapas menos valorizadas por fazer uso extensivo de mão de obra. Por conta dessa desvalorização, a costura é considerada uma das grandes portas de entrada da mulher pouco qualificada para o mercado de trabalho. Não é mera coincidência que grande parte dos trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão inseridos na indústria da moda seja feminina, imigrante e indígena.
Elaine Paixão, nascida em Belém do Pará e morando em São Paulo há 16 anos, conta que começou a ter interesse pela costura ao fazer roupas para as duas filhas, descosturando as peças e aprendendo a fazer os moldes por conta própria. Seu primeiro trabalho como costureira foi a venda de panos, mas hoje em dia, já conta com um ateliê próprio.

Sua jornada em São Paulo no ramo da costura foi grande e ainda continua, porém, de acordo com Elaine, é uma história de superação. Em um de seus primeiros trabalhos, ganhava de R$ 30 a R$ 40 reais por dia, só que a pressão para trabalhar é a que mais pesava. No seu primeiro dia, a dona do local se colocou em frente a máquina de costura para observá-la trabalhando. Mesmo com 1h de almoço, Elaine não costumava ficar fora, pois tinha medo de não receber seu pagamento no fim do dia.
“Eu precisava trabalhar porque a minha filha era muito pequena e eu sou sozinha, não tenho marido, se eu não trabalho, eu não tenho dinheiro.”, conta.
No trabalho atual, Elaine ganha por peça, mas afirma que a pressão continua sendo muito grande. Com uma alta demanda e um curto prazo de tempo para entrega, teve que trabalhar em finais de semana, madrugadas e, algumas vezes, tendo que ir dormir apenas no período da manhã.
Ela já recebeu propostas para trabalhar em lojas grandes de departamento, mas não aceitou pelo salário baixo. Alguns lugares chegavam a oferecer como pagamento 25 centavos por peça.
“Tem lojas grandes que, por exemplo, vendem uma calça por 300 reais, mas a costureira ganha R$4 pela peça.”
Mas, o que Elaine mais sente falta mesmo, é a valorização do trabalho da costureira. A solução que ela encontrou foi investir em seu próprio ateliê porque percebeu que as marcas valorizam mais quando a costura não é realizada em casa e sim, em um micro comércio.
Em uma pesquisa feita através de um questionário, foi relatado que 46,2% das pessoas antes de comprar uma peça de roupa, não questionam quem costurou e em quais condições. E, mesmo que soubessem que a roupa foi confeccionada com mão de obra em condições análogas à escravidão, 19,2% das pessoas compraria a peça, se a quisessem muito.
A falta de uma fiscalização rigorosa é o que acarreta nos inúmeros casos de exploração na indústria da moda em São Paulo. Mas também é imprescindível destacar que, além de ser responsabilidade social das marcas garantirem condições justas às costureiras, é papel do consumidor cobrar atitudes das empresas. Afinal, são as mudanças no comportamento dos consumidores que traçam o caminho à construção de uma moda e sociedade mais justa e sustentável.