Já se perguntaram como os atores se preparam e estudam para entrarem em cena?
No mundo das artes cênicas, existe uma infinidade de estudos, técnicas e métodos de atuação que um ator pode e deve considerar ao entrar na sua personagem.
Durante o processo de estudo do roteiro, o elenco passa por vários exercícios como controle vocal, linguagem corporal, estudo e processo de criação da personagem. Esses métodos são algumas ferramentas que ajudam os atores nessa empreitada, dando vida à essa história, que estão prestes a contar.
TÉCNICA 1: MÉTODO DE STANISLAVSKI OU ATUAÇÃO CLÁSSICA
Uma das mais importantes técnicas de atuação que existem e a que foi precursora de muitas, consequentemente, é a Técnica de Stanislavski. Seu criador é o escritor e dramaturgo Constantin Stanislavski, nascido em Moscou. Intitulada de Método Stanislavski ou Atuação Clássica, ela consiste em estudar diversas capacidades humanas e treiná-las com a finalidade de as transformar em ferramentas no momento da performance do ator.
Essas habilidades incluem: concentração, voz, memória emocional, análise textual e observação. Tal método trabalha com os sentimentos e experiências pessoais do ator que possam se comunicar com a história da personagem. Stanislavski inspirou diversos outros métodos de interpretação.

TÉCNICA 2: MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO PARA ATORES OU O MÉTODO
Em paralelo a técnica de Constantin Stanislavski, outro método que ficou conhecido mundialmente foi o de Lee Strasberg. Chamado de Método de Interpretação para Atores ou O Método, foi desenvolvida pelo dramaturgo ucraniano, Lee Strasberg.
A técnica consiste na ação do ator de desenvolver em si mesmo os pensamentos e sentimentos de seu personagem, com o objetivo de tornar sua interpretação o mais parecida possível com a realidade.
Este ator deve ativar suas próprias memórias afetivas e sentimentais para facilitar na hora de trazer à tona as emoções do roteiro. Esse método é atingido com a ajuda de exercícios mentais e físicos com o auxílio de um preparador de elenco.
Os estudos sobre O Método se tornaram amplamente difundidos nas artes cênicas desde o alto escalão hollywoodiano até os iniciantes de carreira. Atores como Jake Gyllenhaal – foi um adepto das técnicas de Strasberg durante o filme O Abutre (2014, dir. Dan Gilroy); Shia Labeouf em seu longa-metragem Fury (2014, dir. David Ayer); e Joaquin Phoenix, no decorrer das filmagens do filme O Mestre (2012, dir. Paul Thomas Anderson). Estes são alguns dos famosos que se utilizam dessa técnica durante suas gravações.

TÉCNICA 3: TÉCNICA DE STELLA ADLER
Houveram também talentosas artistas mulheres que se arriscaram em estudar a fundo os pilares da performance cênica, e assim traçarem seus próprios caminhos nos estudos da interpretação. Uma delas foi Stella Adler, atriz e diretora nova-iorquina, criadora do método conhecido como a Técnica Stella Adler, que se refere ao uso do poder de influência da imaginação do próprio ator durante a cena.
Segundo Adler, é necessário que o ator ou atriz use de sua imaginação ativa para adaptar a realidade da obra que está sendo trabalhada, de forma criativa. Com o intuito de chegar nesse resultado, o intérprete deve focar na criação do passado de seu personagem, como também na criação do local em que a cena acontece.
A atriz sofreu influências tanto de Stanislavski, quanto de Strasberg. Apesar de ter sido discípula de Stanislavski e ser conhecedora do Method Acting, Adler afirmava que ter como foco principal – durante a performance – o acesso às memórias reais do ator, não era uma caminho saudável.
TÉCNICA 4: TÉCNICA DE IMPROVISAÇÃO
Mais uma grande estudiosa das teses de Stanislavski, foi a atriz Viola Spolin, autora de diversos livros sobre a Técnica de Improvisação. Spolin defendia que os jogos teatrais ensinados aos atores em fase de formação podem ajudá-los em cena, ao trabalhar com a espontaneidade e com suas capacidades intuitivas e não ficar preso somente ao roteiro, é necessário dar voz à criatividade do ator.
O trabalho em grupo do elenco e desapego ao roteiro são noções básicas de todo ator que queira trabalhar com a liberdade dada a ele pelo diretor, segundo a atriz.
A ferramenta da improvisação já foi e ainda é incentivada por muitos diretores, com o intuito de extrair do intérprete a maior naturalidade possível. No longa-metragem Laranja Mecânica (1971, dir. Stanley Kubrick), o ator britânico Malcolm McDowell seguiu sua intuição em uma das cenas mais tensas e cruciais do enredo.
Seu personagem Alex, líder uma gangue de delinquentes, durante um de seus assaltos resolve molestar a dona da casa em que o crime está acontecendo. Para “suavizar”a intensa cena, McDowell começa a cantarolar o clássico de Gene Kelly, Singing In The Rain. Kubrick se encantou com a improvisação de McDowell e deixou a cena nos cortes finais do filme, mesmo sendo resultado de uma ação não roteirizada.

TÉCNICA 5: TÉCNICA GROTOWSKI
Além dos métodos americanos, outro método muito importante na preparação de um elenco foi o método implantado pelo diretor e teórico polonês das artes cênicas, Jerzy Grotowski.
Muito impulsionado pelas teorias de Stanislavski e Brecht, ator e teórico teatral alemão, Grotowski acreditava que o ator deveria usar de suas experiências pessoais para a construção dos sentimentos do personagem, mas ele afirmava que é de responsabilidade do próprio ator cuidar da sua saúde mental.
Mas o que ele quer dizer com isso? Pode soar óbvio ou até mesmo duro essa fala de Grotowski, porém é muito mais fácil de entender seu ponto de vista quando vemos atores como Heath Ledger, durante o filme O Cavaleiro das Trevas (2008, dir. Christopher Nolan). No longa-metragem, onde ele interpretou o lendário Coringa, Ledger afirmou ter tomado medicamentos para dormir durante as gravações do filme por conta da carga emocional intensa que o personagem exigia dele.

Ao traçar este paralelo, conseguimos entender o que Grotowski quis dizer, o ator deve acreditar nas palavras de seu papel mas deve-se permanecer ciente de sua própria realidade e identidade.
Segundo o alemão, isso pode ser atingido por meio de uma leitura de roteiro acompanhada de uma intensa preparação psicofísica, trazendo sempre o ator a sua realidade e não havendo uma identificação psicologicamente íntima com o papel.
TÉCNICA 6: TÉCNICA DE PETER BROOK
Outro grande dramaturgo que decidiu colocar sua criatividade e seu conhecimento à prova na formulação de mais uma técnica cênica foi o diretor de elenco londrino, Peter Brook. Ele parte do pressuposto que a platéia deve simpatizar com as emoções das personagens, do contrário, o ator falhou durante sua interpretação.
É necessário que haja uma ligação direta entre os atores e seu público, essa ligação deve acontecer por meio do ato de provocar uma intensa reação emocional dos espectadores. Brook afirma que para conseguir esse efeito era preciso deixar o público desconfortável, contorcendo-se de dentro para fora. Ir além do roteiro, e expressar as emoções de forma física era a receita para firmar essa comunicação entre o artista e sua platéia.
TÉCNICA 7: EXERCÍCIO DA REPETIÇÃO
Sob influência do mestre ucraniano Lee Strasberg , o ator nova-iorquino Sanford ‘Sandy’ Meisner ficou conhecido por criar uma técnica, resultante dos seus estudos sobre o método de Strasberg, chamada de Exercício da Repetição. Ela diz respeito à concentração que o ator deve ter, este não pode focar somente no que está fazendo mas deve prestar atenção no outro, naquele instante, como se mais nada importasse no momento da ação, no palco.
Com o intuito de melhorar a compreensão de seus alunos acerca do seu método, Sandy desenvolveu um exercício de preparação para atores chamado de Exercício de Repetição, onde os atores em cena devem sentar-se frente a frente com o outro e repetir a mesma frase com diferentes intenções.
A cada repetição a entonação, a linguagem corporal e as feições mudam, trazendo à tona a espontaneidade na relação entre os atores.

As possibilidades e artimanhas usadas durante a construção de um personagem são infinitas, e um ator acompanhado de um diretor de elenco experiente sabe usar essas ferramentas para trazer verdade durante sua performance.
É necessário frisar que muitos desses métodos surgiram do teatro e sofreram muitas adaptações ao longo dos anos para poderem ser usados na frente das câmeras. Além disso, cada artista durante sua carreira e seu processo de experimentações desenvolve sua própria maneira de praticar os métodos de atuação, que hoje são ensinados aos jovens atores como dogmas das artes cênicas.