Marcações de estações no Cinema e TV

As estações do ano acontecem ao longo do período de um ano e cada uma possui diversas características distintas. Todavia, percebe-se que nos filmes e séries não podiam ser diferentes, uma vez que também passam por essas marcações, apresentando mudanças na paleta de cores em cada cena, também com a mudança de humor dos personagens e do mesmo modo que os figurinos sofrem transições para cada época do ano. As fases do ano fazem uma grande diferença nas telas do cinema e na TV, pois correspondem situações apresentadas pela produção e também despertam certas impressões nos espectadores.

Para acrescentar as estações do ano nas cenas das produções, é necessário que, segundo a matéria Manual do Cinéfilo, o diretor geral, primeiramente, precisa criar um clima dramático para uma determinada cena.  Ele explica detalhadamente os caminhos que cada departamento do filme deve seguir, como sons, arte, fotografia e especialmente cenografia, onde informa a estação que se passa no perfil daquele cenário. Em seguida, o diretor de fotografia possui a responsabilidade de juntar todos os elementos do planejamento de filmagem, roteiro e principalmente o cenário, e construir as imagens em movimento. Portanto, ele tem seu poder de influência no olhar óptico do espectador.

As cinco produções abaixo utilizam-se das estações do ano em seus arcos dramáticos, possuem alguns significados dependendo do sentimento e da situação dramática nas cenas e apresenta cada detalhe que muitas vezes passa batido no espectador.

500 Dias Com Ela (2009)

[Imagem: Reprodução/ Searchlight Pictures] 

Em 500 Dias Com Ela, Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt) está em uma reunião com seu chefe, Vance (Clark Gregg), quando ele conhece sua nova assistente, Summer Finn (Zooey Deschanel). Tom logo fica apaixonado pela moça, mas não é correspondido. Logo, propõe ficarem 500 dias juntos para tentarem compreender o que há de errado.

A produção de 2009 é aquela comédia romântica alternativa, pois o casal principal não fica junto no final e mostra o oposto do que estamos acostumados. Além disso, o filme revela o amor muito perto da realidade, e também momentos altos e baixos e o desenvolvimento de cada personagem. Essas situações são mostradas de acordo com as mudanças de estações.

Summer não possui o mesmo sentimento que Tom sente pela jovem, então, quando chega o outono, os dois se separam e o protagonista começa a ter sua fase de luto após o término, questionando-se e passando por períodos de negação, raiva, depressão e aceitação. Ao final do filme, com a época das folhas alaranjadas caindo das árvores, o personagem de Joseph Gordon-Levitt conhece uma jovem chamada Autumn (outono em português) e começa uma nova história de amor.

Percebe-se que a protagonista chamada Summer é comparada com o verão de alguns países que possuem o clima frio na maior parte do ano e poucos dias ensolarados, assim como ocorre no relacionamento dos dois personagens principais. O casal começa a se dar bem nos dias mais quentes, que dura 500 dias, logo, Tom aproveita cada segundo com a jovem durante pouco tempo. Além disso, a moça também alinha-se aos elementos da época mais quente, como seu figurino mais leves e tons amarelados. 

Cruel Summer (2021)

[Imagem: Divulgação/ Freeform]

O seriado da Amazon Prime Video, Cruel Summer, possui diversas reviravoltas que chocam bastante o espectador em cada episódio até o final da temporada. A produção se passa em três anos, 1993, 1994 e 1995 e acompanha a vida da adolescente popular Kate Wallis (Olivia Holt) e da garota excluída da escola Jeanette Turner (Chiara Aurelia). Tudo vira de cabeça para baixo quando Kate é sequestrada e vive em cativeiro por 1 ano, após seu resgate, Jeanette é acusada pelo desaparecimento da jovem e sua vida muda tragicamente. Segredos obscuros são revelados e começam a chocar a população da pequena cidade no Texas.

A produção consegue usar muito bem a paleta de cores, logo, os tons quentes, frios e sombrios marcam respectivamente os anos de 1993, 1994 e 1995. A mudança está totalmente presente na narrativa de cada ano e as estações não são deixadas de lado na trama.

Em 1993, as cenas se passam na primavera e verão e seus tons são bastantes quentes, o que faz identificar que o cenário é calmo, leve e descontraído. Kate vive sua vida incrível, sendo popular na escola, com o namorado sempre presente e acompanhada de suas melhores amigas. Jeanette também possui uma vida feliz, com a família reunida e curtindo vários momentos junto com seus amigos.

Em 1994, dentro de um ano, tudo começa a mudar após Kate ser sequestrada e mantida em cativeiro durante muitos meses em um porão de uma mansão na pequena cidade em que vive no Texas. A vida de Jeanette muda após o desaparecimento da personagem de Olivia Holt e acaba assumindo o posto de mais popular da escola, esquece de seus antigos amigos e família e se junta com novas amizades e inicia um novo relacionamento com um dos caras mais populares. O outono é uma estação marcada com tons frios, assim como as cenas intrigantes e dramáticas, além disso, com a aparição de Kate, Jeanette é acusada do incidente e sua vida sai totalmente do controle.

Por fim, 1995 é um ano macabro para a vida das duas protagonistas. Jeanette passa por uma mudança de personalidade e Kate se torna uma pessoa muito fria e acusa a jovem por ser cúmplice de seu sequestro em rede nacional. Além disso, a população acompanha esse caso dia e noite. Com várias reviravoltas e cenas de tirar o fôlego, a intriga entre essas personagens é bastante exposta durante a investigação nesta parte da série. Logo, o inverno é muito presente, com tempos fechados e dias chuvosos, assim como a paleta de cores bastante sombria com cores azuladas, acinzentadas e escuras.

Em conclusão, as paletas de cores são bem essenciais para a trama da série e as estações do ano possuem  uma grande importância durante cada um desses anos, 1993, 1994 e 1995. Essa caracterização das cores e épocas apresentadas no seriado direciona o espectador em que período está assistindo e sem se perder na história.

La La Land – Cantando Estações (2016)

[Imagem: Divulgação/ Lionsgate Films]

Assim como está intitulado no Brasil, La La Land – Cantando Estações retrata a história a partir das quatro estações do ano. Lançado em 2016 e estrelado por Emma Stone e Ryan Gosling, o filme também apresenta uma comédia romântica alternativa, onde o casal não termina junto, assim como em 500 Dias Com Ela, mas com uma homenagem aos musicais clássicos. A produção acompanha a vida de Mia e Sebastian que se conhecem e se apaixonam perdidamente. O casal tenta realizar seus sonhos na cidade de Los Angeles – Mia quer ser atriz e Sebastian quer abrir um clube de Jazz -, ao mesmo tempo em que também lutam para o relacionamento amoroso continuar firme.

A produção começa no inverno, mas a música Another Day of Sun é apresentada nessa época natalina e percebe-se que Mia e Sebastian não se dão muito bem no meio do trânsito em Hollywood, então os dois são bastante frios um com o outro.

Em seguida, o espectador passa a acompanhar os dias mais coloridos, a primavera, com uma festa na piscina, com músicas animadas e muita dança. Além disso, os personagens de Stone e Gosling começam a se conhecer melhor e uma das cenas mais marcantes do filme é a performance da canção A Lovely Night com um fim de tarde belíssimo e com um tom escuro. No verão não é diferente, eles passam por ótimos momentos juntos, com várias saídas para alguns lugares românticos e conversas descontraídas. 

Com a chegada do outono, tudo começa a mudar no relacionamento entre Mia e Sebastian, o rapaz começa a fazer diversas turnês e Mia passa a se dedicar aos seus próprios sonhos, ambos se distanciam e, logo, passam a se desentender e iniciam as brigas. A cena em que ocorre a discussão no meio do jantar é tensa e sintetiza esse momento do filme. Aliás, as cores vermelho, azul e verde estão presentes nessa fase difícil para o casal.

Portanto, a situação muda no inverno novamente, as cores presentes são rosa, roxo, azul escuro e claro. Os protagonistas seguem seus caminhos diferentes  seguindo as carreiras que sempre sonharam, essa fase da produção apresenta uma espécie de escolha, pois decidiram seguir seus sonhos que os levaram a caminhos bem diferentes. 

As estações do ano são bem trabalhadas na narrativa e nas músicas. O longa apresenta muitas cenas vivas e figurinos bastante chamativos e coloridos durante todo o filme, independente da época que estiver presente. No entanto, os protagonistas passam por transições de acordo com a mudança do clima e com a paleta de cores.

Harry e Sally – Feito Um Para o Outro (1989)

[Imagem: Reprodução/ Columbia Pictures]

Lançado em 1989, o longa apresenta uma jornada de amor e amizade entre Harry (Billy Crystal) e Sally (Meg Ryan) durante uma viagem até Nova York. Eles se tornam amigos, porém, aos poucos, percebem, com certo temor, que estão apaixonados um pelo outro. Dirigido por Rob Reiner, a produção apresenta uma comédia romântica, mas de uma forma diferente, Harry e Sally não é como 500 Dias Com Ela e nem La La Land – Cantando Estações em que o casal não fica junto no final. No entanto, o espectador é surpreendido com a história no decorrer da relação dos personagens.

O outono é apresentado no cenário da produção com as tardes mais curtas, o frio que indica o início do inverno e os dias mais amenos na cidade de Nova York. Percebe-se que o clima é um grande destaque no fundo, como acontece na cena do parque, as árvores alaranjadas são significativas para a fotografia do filme. 

A cidade de Nova York é mostrada, portanto, como uns dos cenários mais lindos no filme, independente da estação do ano apresentada. Então, o outono no fundo do enquadramento é relevante na produção, mas não afeta a relação dos dois personagens.

Gilmore Girls: Um Ano para Recordar (2016)

[Imagem: Divulgação/ Netflix]

Gilmore Girls foi um sucesso nos anos 2000, estrelada por Lauren Graham e Alexis Bledel, a história acompanha a rotina e a relação de mãe e filha, Lorelai e Rory Gilmore, na pequena cidade de Stars Hollow.  Em 2016, após 9 anos do fim do seriado, estreou o revival intitulado Gilmore Girls: Um Ano Para Recordar na Netflix e os criadores Amy-Sherman e Daniel Palladino fizeram um acordo para trazer a série de volta com quatro episódios novos de 90 minutos cada. Logo, a narrativa retrata cada uma das estações do ano e os títulos são apresentados em cada episódio: Winter, Spring, Summer e Fall. 

O inverno é o começo do revival e o retorno de Lorelai e Rory. Com um clima natalino, cores frias, como azul, turquesa, branco e cinza são  predominantes nas cenas e nos figurinos, que remetem sentimentos de calma  e tranquilidade, logo, essas duas características se integram nesse primeiro episódio. Além disso, a decoração com piscas-piscas, árvores de natal enfeitadas e muita neve estão presentes no cenário em Stars Hollow. Portanto, a homenagem a um personagem, Richard Gilmore, e também para o ator Edward Herrmann, que morreu em 2014, é bastante significativo no decorrer da minissérie.

Depois do inverno, chega a primavera, os tons quentes são marcantes e as estampas floridas nos figurinos são o grande destaque. Essa estação pode recordar alegria e bom humor, mas nem tudo são flores para os personagens do seriado, pois, comparado à época do frio, apresenta mais melancolismo. Nesse episódio, a vida pode levar para alguns caminhos diferentes que não queremos, mas que precisamos mesmo assim enfrentá-los. Percebe-se que a mãe de Lorelai, Emily Gilmore, estava com os nervos à flor da pele devido ao falecimento do marido e, na terapia, ela e sua filha ficaram muito quietas na consulta com a psicóloga. Outrossim, Rory passa por pesadelos no seu relacionamento e na questão de escrever seu livro. 

O verão inicia com tons vibrantes, quentes e bastante solar, com cenário nos tons pink, rosa claro, azul, amarelo e verde, cores que demonstram intensas emoções, muita diversão e movimento. Bem como a primeira cena que mostra Rory e Lorelai na piscina municipal de Stars Hollow em um dia ensolarado. Todavia, assim como aconteceu na primavera, a nova estação traz novas inseguranças para a família Gilmore e, portanto, o final  do episódio faz uma preparação com a chegada do outono, que é impactante para os fãs e espectadores.

Por conseguinte, o revival foi finalizado no outono e, com tons quentes e as folhas alaranjadas nas árvores presentes no cenário, essa estação do 4° episódio acompanha emocionalmente o amadurecimento das mulheres Gilmore. Lorelai estava preparada para realizar uma caminhada na trilha, porém precisava, primeiramente, lidar com seus próprios problemas e é uma cena muito memorável. Além disso, Rory começa relembrar momentos que passou com seus avôs e consegue escrever seu livro. 

Portanto, apesar das estações primavera e verão transmitirem relativamente épocas agradáveis, alegres e coloridas, o seriado  apresenta o oposto, mostra a lado confuso e indefinido na vida das mulheres Gilmore, não somente nos dias ensolarados e florescidos, mas também nos períodos de inverno e outono.

Em conclusão, finalizando as análises sobre as estações presentes em cada produção, nota-se que esses climas possuem  um diferencial para cada cenário apresentado e como são retratadas e interferem bastante na trama em filmes e séries. Assim como a mudança de humor dos personagens, do figurino e das paletas de cores de acordo com a época. Para o espectador pode passar batido, mas sem essas 4 épocas do ano, seria vago para o clima dramático.

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