A responsabilidade da indústria musical na pandemia

Desde o início da pandemia, com o enfrentamento de uma nova realidade que trouxe dor e melancolia, as pessoas buscaram maneiras de entretenimento que as mantivessem em casa. Muitos artistas da indústria musical, por exemplo, reforçaram a necessidade do distanciamento social, além do respeito às medidas de proteção estipuladas pelos principais órgãos de saúde, como a OMS, e desenvolveram distintos modos de levar a música ao seu público.

As premiações e os espetáculos tomaram formas inusitadas para que a arte chegasse à audiência e não que a audiência fosse até o consumo da arte. Para isso, surgiu a necessidade de tempo e paciência para ponderar as distintas faces que fossem verdadeiramente sustentáveis numa situação tão delicada.

Um modo que se popularizou foi a das lives no Youtube. Uma das primeiras foi a da rainha da sofrencia, Marília Mendonça, em abril de 2020. A “Live Local Marília Mendonça” bateu — e sustenta até hoje — o recorde de live com maior audiência simultânea com o número expressivo de 3,31 milhões de espectadores. Marília foi seguida pelas estrelas do sertanejo, a dupla Jorge e Mateus, que conquistou 3,2 milhões de usuários de olho na apresentação, e muitos outros artistas como Gusttavo Lima, Nando Reis, Anavitória e Sandy & Junior.

No Brasil, as conexões da música com seu público foram de imenso incentivo à estadia dentro dos lares. As lives, em muito, tiveram responsabilidade por oferecer a sensação de que ainda se podia ter alguma distração em meio à morbidez trazida pela pandemia ao considerar todas as perdas — e potenciais perdas — enfrentadas com a propagação do vírus.

A cultura possui um papel inegável na sociedade; ela tem um enorme domínio de influência naqueles que alcança. O papel das lives no início do cenário pandêmico pôde reforçar esse fato ao delinear que não era preciso sair para chegar ao lazer, algo que acabou por render uma resposta positiva nos meses iniciais do período.

As premiações também tiveram seu momento de pausa para refletir sobre como tornar o espetáculo coletivo em celebração à música em algo que ainda envolvesse o público e os premiados sem pôr ninguém em risco. O MTV Video Music Awards de 2020, por exemplo, ocorreu sem plateia e com apresentações de alguns dos artistas que usavam máscaras, como Ariana Grande e Lady Gaga em sua performance do hit Rain On Me — juntamente ao medley de outras canções do álbum Chromatica (2020). Todos eles faziam distanciamento social como nas medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde.

A edição do Grammy de 2020 ocorreu no mesmo mês da declaração de estado de pandemia. Porém, o do ano seguinte foi adiado para que as medidas fossem melhor seguidas. As apresentações não contaram com plateia e os artistas indicados ficaram de máscara durante grande parte da cerimônia, além do endossamento constante pelos apresentadores da importância de seguir as estipulações da OMS.

A indústria musical e seu alcance assombroso tinham responsabilidade por como se comunicariam com seus consumidores acerca da situação. Uma palavra ou ato teriam a capacidade de fazer com que fossem reproduzidas por todo o mundo. Assim, a obrigação era — e ainda é — ter comprometimento com a segurança dos consumidores. Apesar de muitos dos membros dessa elite não terem sido adeptos a tal percepção de que suas cargas como figuras de representação cultural seriam refletidas nas ações da audiência, grandes nomes estavam alinhados à ciência.

As turnês foram canceladas a fim de não promover aglomerações, o incentivo à imunização ganhou potência e o uso de máscaras foi reforçado, tal qual o distanciamento social. Figuras públicas e os que estão por detrás das celebridades têm um papel indispensável na sociedade.

Olivia Rodrigo em discurso na Casa Branca [Imagem: Susan Walsh/Associated Press]

Olivia Rodrigo, a garota do momento na indústria musical, foi convidada por Joe Biden,  presidente dos Estados Unidos, para ajudar a promover o entendimento de que todos precisam se vacinar em nome da saúde coletiva. Essa é uma comunicação que dialoga, principalmente, com o público jovem.

No Brasil, a campanha foi orgânica: os tesouros nacionais usaram as redes para falar dos benefícios de se vacinar e no valor do SUS (Sistema Universal de Saúde).

Não apenas relacionada ao entretenimento e à indispensabilidade de um escape na realidade abrupta enfrentada atualmente, a indústria também comporta responsabilidade ao usar seu poder de influência para levar à compreensão geral de que seguir à ciência é a forma principal das coisas melhorarem. Vacina, distanciamento, máscaras de proteção e evitar aglomerações: essas são as formas de seguir a vida em segurança depois de tudo. Além disso, o exemplo que os artistas dão através de suas redes sociais, com seus milhões de seguidores de diversas idades, corrobora para que o exemplo seja seguido em nome da admiração e honra.

A  cultura deve ter compromisso em preservar a memória daqueles que se foram, fazer o possível para aproveitar como as coisas serão depois desse período e buscar respeitar a ciência e o público; o coletivo e o futuro livre desse momento tão devastador.

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