O racismo cada vez mais violento e explícito no Brasil

Na última segunda-feira (24), o Brasil se deparou com mais uma situação de violência explícita. Moïse Mugenyi Kabagambe, um jovem congolês de 24 anos, foi brutalmente espancado até a morte após cobrar ao seu patrão o pagamento por duas diárias atrasadas. Moïse trabalhava em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, área fortemente dominada por narcomilícias.

O jovem Moïse Kabagambe, de 24 anos. | Imagem: [Instagram]

A vítima apanhou por 15 minutos por 5 homens que, segundo testemunhas, usaram pedaços de madeira e um taco de beisebol. O corpo foi encontrado em uma escada, próxima ao quiosque, amarrado e já sem vida. Segundo o laudo do IML, Moïse sofreu hemorragia e contusão pulmonar, traumatismo torácico, além de broncoaspiração no sangue. Os familiares só foram avisados da morte da vítima no dia seguinte. A DHC do Rio de Janeiro já investiga o crime.

Após assistir ao vídeo das câmeras de segurança, Yannick, primo de Moïse, afirmou que os agressores foram embora e apenas o gerente do quiosque (que também participou da tortura) permaneceu no local. “Ele [Moïse] ficou deitado no chão, como se nada estivesse acontecendo. Trabalhando, atendendo cliente. E o corpo lá”, completou. “Uma pessoa de outro país que veio ao seu país (Brasil) para ser acolhido. E vocês vão matá-lo porque ele pediu o salário dele? Porquê ele disse: ‘Estão me devendo’?”, questionou Chadrac Kembilu, outro primo de Moïse, em entrevista para o G1.

 A vítima deixou sua terra natal em direção ao Brasil em 2011, fugindo, com a família, da guerra e da fome. Apesar do país ser um receptor dos refugiados, com a obrigação de acolher e proteger vidas, o racismo e a xenofobia contra os imigrantes é constante.

Uma matéria da BBC Brasil afirma que, de acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), os congoleses são o segundo maior grupo a ter a solicitação de refúgio acolhida pelo governo brasileiro depois da Síria, com 953 pedidos reconhecidos entre 2007 e 2017, o equivalente a 13% dos refúgios acatados no período.

A noção de que o Brasil é um país hospitaleiro, onde todos os estrangeiros e imigrantes são bem-vindos, não passa de um “mito”, diz o pesquisador Gustavo Barreto, para o Brasil de Fato, após analisar mais de 11 mil edições de jornais e revistas entre 1808 e 2015.

Em entrevista à jornalistas em Madri, no ano de 2018, Angela Davis já previa o esperado: O racismo estava voltando a ser violento e explícito. Na época, o Brasil e os EUA estavam interligados pelo regime nacionalista supremacista — que continua até hoje em uma cultura de ódio e frequente extermínio da população negra.

Segundo Willians de Jesus Santos, mestre em Sociologia pela Unicamp e pesquisador da Fapesp, toda essa violência presente nos atuais processos de deslocamento para o país tem uma base política, cultural e racista histórica. A estética da modernidade foi até a década de 1930, o modelo político que pautou as imigrações. 

Contudo, o tipo de suspeito padrão no caso dos imigrantes e refugiados é perceptível nos estereótipos presentes nas narrativas cotidianas de brasileiros e da grande mídia: torna-se a principal vítima dos espancamentos; das tentativas de homicídio; do abuso de autoridade ou omissão institucional; e das estratégias para exclusão social segundo a lógica do inimigo interno e externo, que traduzem a existência de problemas sociais que não são resolvidos.

A barbárie da última segunda, que tirou a vida de Moïse, gerou repercussão nas redes sociais. Lideranças do movimento negro cobram por justiça e a punição dos envolvidos. Apesar do envolvimento dos agressores com o tráfico e a milícia, conforme afirmações de denúncias, ativistas ainda possuem esperança de que esses grupos sejam punidos.

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