O consumismo e capitalismo andam de mãos dadas, e isso não é nenhuma novidade. Um sistema que é voltado para o dinheiro consequentemente irá promover um consumo desenfreado de produtos e mercadorias que, muitas vezes, as pessoas nem precisam. E em que ponto isso influencia a wellness culture, ou seja, a cultura do bem estar?
Com o aumento do uso de redes sociais no começo da década de 2010, o acesso à propaganda foi facilitado ainda mais. A indústria do autocuidado dividiu-se em várias partes, com foco em diferentes aspectos da vida das pessoas, por exemplo: sono, nutrição, mindfulness (atenção na ação momentânea), saúde, aparência e fitness. Na imagem abaixo, retirada do blog da empresa Mckinsey & Company, pode-se ver os países com maiores gastos em produtos e serviços que promovem o bem estar.

Não há nada de errado em querer promover o autocuidado e lançar produtos que possam auxiliar pessoas nesta jornada, porém há um limite em o que é realmente ajuda e o que é apenas a comercialização do lifestyle “good vibes”. Quantos chás detox alguém precisa? Até que ponto as vitaminas promovidas no instagram são realmente “milagrosas”? Quantos anti-aging creams funcionarão no futuro? São necessários todos os outfits de academia para conseguir um bom treino? O número de empresas, influencers e plataformas que promovem produtos e serviços que aparentemente resolveriam os problemas da população é alto, e não há sinal algum de queda.
Isso é bem exemplificado em uma recente trend chamada “be that girl”, popularizada nas redes tiktok, twitter e pinterest, onde pessoas postam fotos visualmente perfeitas do que seria uma vida equilibrada com o essencial do bem estar presente, o que levou a certas críticas por usuários – todas as imagens representavam um estilo de vida privilegiado, o que liga diretamente o autocuidado com capitalismo e a elite. Todas querem ser “aquela garota”. Apesar de não ser algo errado, pode passar uma ideia equivocada de que o que está na imagem é o único caminho para vida balanceada, voltando diretamente ao consumismo. Pessoas podem adquirir hábitos saudáveis que alcancem o bem estar e o equilíbrio de acordo com seu próprio padrão de vida.

Um ponto chave deste fenômeno são as famosas influencers do instagram, as quais recebem para fazer propaganda de um produto determinado por certa companhia – produto que muitas vezes nunca foi usado pela pessoa que está estimulando a compra. Até que ponto isso é ético? Motivar o consumismo desenfreado faz parte deste processo, mas não significa que está correto.
Outro dilema dessa situação é o quão enganador ele pode ser. Como as redes sociais ditam muitas regras sobre lifestyles e consumo, muitas pessoas se sentem mal ao perceberem que essa glamourização do bem estar é, frequentemente, inalcançável. A rotina e o bolso de grande parcela da população não condiz com este estilo de vida. Existe algum problema com quem tem recursos e gosta de investir e focar seu dinheiro nesta indústria? Não. Mas não é necessário, é completamente possível ter uma vida saudável, com o autocuidado e bem estar intactos sem consumir além da conta – e também é mais amigável ao meio ambiente.
É essencial ser a favor do bem estar, saúde, autocuidado e qualidade de vida. Isso melhora a vida de inúmeros indivíduos e deve ser estimulado – entretanto, desenhar a linha de separação entre boas intenções e capitalização em cima de pessoas vulneráveis é o divisor de águas para o funcionamento mais ético possível dessa indústria.
Um comentário em “Bem Estar e Consumo: Quando o Autocuidado vira um produto”