Kim Kardashian foi capa da Vogue Americana pela segunda vez. Divulgada oficialmente nesta quarta-feira (08), a edição do mês de março da revista conta com Kim vestindo looks da Loewe assinados pelo diretor-criativo Jonathan Anderson; da Balmain por Olivier Rousteing; e, principalmente, da Balenciaga por direção de Demna Gvasalia. Mas não é somente na assinatura dos looks que o nome de Gvasalia aparece: para a matéria principal da edição, que conta com um perfil de Kim, o designer é um dos entrevistados — ao lado de Kourtney Kardashian, irmã de Kim, e Alison Statter, amiga de infância da empresária.

Quem vem acompanhando os últimos passos da celebridade, sabe que é vestida de Balenciaga que ela tem feito todas as suas aparições públicas: desde o icônico e polêmico look do último MET Gala até a sua participação no programa Saturday Night Live.
A parceria bem sucedida entre Kim e a marca — ou melhor: entre Kim e o diretor criativo da casa, Demna Gvasalia — foi legitimada recentemente, quando a estrela foi fotografada para a última campanha da label. Em 24h após o lançamento, as pesquisas por “Balenciaga” aumentaram globalmente em 54% segundo a plataforma Lyst.

O sucesso da união poderia até então ser justificável apenas pela proporção da visibilidade de Kim, se não fosse pelas recentes declarações de Demna para a mencionada matéria da Vogue: “Eu e Kim falamos a mesma linguagem fashion.” disse Demna. “Eu acho que por muitos e muitos anos não existiu ninguém que redefiniu os padrões de beleza feminina assim como a Kim fez. Ela fez algo que é bastante similar ao que Marilyn Monroe fez anos atrás. Ela redefiniu o nosso entendimento sobre o que é belo”.
As declarações do estilista, se pensadas a fundo, revelam algo poderoso: é possível observar um dos “casamentos” entre marca e celebridade mais genuínos da história. Por que? Pelo simples fato de que Kim Kardashian é a persona que Demna Gvasalia vem criando há tempos na Balenciaga — ela não somente é uma das celebridades que mais representam o zeitgeist, como também, segundo o próprio estilista, redefiniu o conceito de “beleza” nos últimos tempos.
Questionar o belo é talvez a essência do trabalho do designer para a Balenciaga. Basta pensar no polêmico modelo de tênis ‘Triple S’ e na parceria da marca com a Crocs, que resultou em modelos da sandália com plataformas grotescamente gigantes em cores tão grotescas quanto. Com estes designs, que surpreendentemente caíram nos gostos de uma legião de fãs ao redor do mundo, Gvasalia parece literalmente rir da cara da crítica e escancarar que o feio pode ser na verdade cool e bonito — e de quebra ainda custar uma fortuna.

Imagem: [Reprodução/O Globo]
Talvez Kim compartilhe hoje do mesmo sentimento do designer ao ver mulheres ao redor do mundo tentando copiar seu corpo: anos atrás, antes da fama e quando era apenas assistente de Paris Hilton, a empresária era feita de chacota pela mídia por conta do tamanho de sua bunda em um momento no qual a estética heroin chic — que Paris representava tão bem — era aclamada e vista como bela pela indústria da moda e pelo mundo. Hoje, ironicamente, são as fotos do corpo de Kim que mulheres levam como referência à cirurgiões plásticos.
Mas o que Kim representa é algo ainda maior: ela é o agora. Teve sua fama atingida através da completa exposição da sua vida, do seu casamento e da sua família, quando participar de um reality show ainda não era um desejo tão popular assim. Seu rosto, milimetricamente esculpido, é resultado de anos vividos na frente das câmeras — ela já era obcecada pela perfeição da própria imagem antes mesmo da era dos filtros e do Instagram modificar completamente a autopercepção. Guy Debord, autor de ‘A Sociedade do Espetáculo’, certamente adoraria conhecê-la.

Imagem: [Reprodução/Vogue US]
E se Kim representa o agora como ninguém, não é de se surpreender que Demna tenha se associado à ela. Fim do mundo, pandemia, video games, Metaverso e noticiários: estes são alguns dos temas e cenários escolhidos pelo estilista para inspirar suas coleções. O designer é, indiscutivelmente, um cara do agora.
Uma de suas últimas coleções, a de Resort 2022, foi intitulada ‘Balenciaga Clones’ e contou com a incorporação de uma tecnologia de vídeo que alterava o rosto das modelos para o de uma mesma pessoa: Eliza Douglas, sua amiga pessoal que desfila para a marca desde que Gvasalia assumiu a direção criativa da maison. “O que é real e o que é falso?” — era a pergunta que o designer pretendia despertar em nós.
Ironicamente, nesta segunda-feira (06), Kanye West, ex-marido de Kim, foi flagrado por Paparazzis deixando um restaurante ao lado de uma mulher que, à primeira vista, parecia sua ex-esposa. Com silhueta ampulheta, botas e bolsas Balenciaga e longo cabelo preto, a modelo Chaney Jones é o clone perfeito de Kim Kardashian.

Imagem: [Reprodução/TMZ e Instagram de Jones]
Muito boa matéria capturando o Zeitgest no mundo da moda.
CurtirCurtir