Embora seja a maior premiação do mundo da música, o Grammy Awards carrega consigo uma série de problemas que não parecem ter solução, mas que caminham juntos todos os anos, tais como corrupção, falta de diversidade e transparência.
Em 2018, a premiação mudou sua forma de agir, após ser acusada, tanto por pessoas de dentro da indústria quanto de fora, por não saber lidar com diversidade e manter estereótipos machistas e racistas, uma vez que grande parte dos indicados e ganhadores eram, em sua maioria homens, e majoritariamente brancos.
Neste mesmo ano, portanto, o Grammy ampliou o número de indicações por categoria. Se antes eram somente cinco nomes, passaram a ser oito. Tudo isso após críticas relacionadas à falta de mulheres e minorias entre os nomes indicados.
Segundo a Academia de Artes e Ciências de Gravação, instituição que organiza a celebração do mundo da música, dos 853 indicados nas 83 categorias, apenas 198 são mulheres.
Em 2021, para tentar aumentar a presença de mulheres na premiação, a Academia promoveu um estudo, junto a outras instituições americanas, que frisavam a necessidade de incluir mais a figura feminina no meio. Assim, em algumas categorias, a presença da mulher passou a se destacar um pouco mais, sendo o maior exemplo, a categoria de “Melhor Performance de Rock”, que foi disputada somente por cantoras e por uma banda liderada por uma mulher.
Porém , uma das indicadas não se calou. Fiona Apple realizou fortes críticas ao Grammy. A artista relembrou o caso da canção Praying, da Kesha. Nesta faixa em questão, a diva pop relatou supostas experiências de abuso que vivenciou com o produtor Dr. Luke, que por coincidência do destino, havia sido indicado a premiação usando um pseudônimo, no caso, o nome de Tyson Trax.
Em uma entrevista ao The Guardian, grande jornal inglês, Fiona relembrou o caso e destacou o quão forte é a questão do machismo quando se trata do evento. “Eles colocaram (Kesha) lá em cima cantando ‘Praying’ e agora vão: ‘Oh, é o Tyson Trax!’”, disse.

A cantora relembrou também o caso de Dugan, ex-presidente da academia, demitida em março de 2020, ao apontar episódios de assédio sexual e outros crimes cometidos por integrantes da Academia.
Caso Dugan
Deborah Dugan foi desligada do seu cargo de presidente do Grammy e demitida da Academia de Gravação, de forma oficial, em março de 2020. Ela estava desde janeiro afastada por uma acusação de “má conduta”.
“Como vocês sabem, Deborah Dugan está em licença administrativa remunerada desde 16 de janeiro de 2020. Estamos escrevendo para informar que, na manhã de hoje, o conselho administrativo votou pela demissão de Dugan do posto de Presidente / CEO da Academia de Gravação Colocamos toda nossa confiança nela e acreditamos que ela poderia, efetivamente, liderar a organização. Infelizmente, isso não aconteceu”, informou o comunicado divulgado na época.

Porém, a história não foi bem assim. Ao que tudo indica, a demissão de Dugan se deu após ela expor episódios de assédio sexual e corrupção. A ex-diretora afirmou ter sido assediada por Joel Katz, membro do conselho legal do Grammy, e foi afastada depois de informar a situação ao RH e ameaçar um processo. Dugan também deixou nas entrelinhas que ela não teria sido a única incomodada com toda essa situação. Outros membros e integrantes também teriam passado por algo semelhante, mas não se aprofundou.
Corrupção no Grammy?
Dugan não citou só a situação relacionada a assédio, mas também falou sobre escândalos de corrupção em que o Grammy estaria envolvido. E essa não foi a única vez que o assunto veio à tona.
Deborah revelou existir um esquema relacionado a um conflito de interesses e compra de votos na maior premiação musical do mundo. Basicamente, esse sistema consistia em espécies de comitê que decidiam, após receber uma quantia em dinheiro, quem seria indicado para as categorias e quem ficaria de fora. As escolhas, por sua vez, eram feitas por representantes dos artistas. Dugan citou um caso em 2019, quando um artista que não estava indicado, inicialmente, recebeu um prêmio que estava sendo visto como favorito para Ed Sheeran e Ariana Grande.
Porém, ela não foi a única. Um dos escândalos recentes mais citados diz respeito a The Weeknd, que em 2021 acusou a academia de corrupção e foi, inclusive, apoiado por Drake. O cantor não havia sido nomeado em nenhuma categoria.
After Hours venceu as principais premiações de música de 2020, como no VMA, e Blinding Light ficou no TOP 10 Global por meses, porém, nada foi indicado no Grammy. “O Grammy continua corrupto. Você (a academia) deve transparência a mim, aos meus fãs e a indústrias”, desabafou o músico no Twitter.
Zayn Malik também já detonou a premiação pelo mesmo motivo. De acordo com o ex-integrante da One Direction, o cantor ironizou a forma pela qual alguns artistas conseguem acessar as categorias, através de subornos.

Também em 2021, não foi indicado para nada e manifestou sua revolta nas suas redes sociais, assim como The Weeknd. “F*da-se os grammys e todos associados. A menos que você aperte as mãos e envie presentes, não há considerações de nomeação. Ano que vem eu te mando uma cesta de confeitos.”, desabafou.

Racismo e a branquitude nas premiações
Como se não bastassem os escândalos de corrupção e assédio, a pauta racial é sempre alvo de discussão quando se trata da premiação.
Em 2021, mesmo ano do manifesto de The Weeknd, somente artistas brancos foram indicados para “Melhor álbum de Pop”, o que gerou revolta com os grandes fãs do universo musical. Porém, essa pauta é bem antiga.
Uma das maiores discussões envolve Jimi Hendrix, falecido em 1970. Um dos maiores nomes da música, Hendrix nunca ganhou sequer uma gramofone, mesmo com a sua performance revolucionária no Woodstock.
Snoop Dogg, um dos ídolos do hip-hop, já foi indicado 18 vezes. Em 2016, revelou que não submeteria mais seus trabalhos ao Grammy, acusando a academia de racista, realizando inclusive uma proposta de “incluir uma premiação só para negros”, uma vez que sempre personagens brancos venciam.
Nicki Minaj também nunca ganhou nada. Em 2021, embarcando nas discussões envoltas, se manifestou a respeito.
“Nunca se esqueça que o Grammy não me deu o troféu de Artista Revelação quando eu tinha sete músicas simultaneamente nas paradas da Billboard e a maior semana de lançamento que qualquer outra mulher rapper na última década — o que inspirou uma geração. Eles deram o prêmio para o homem branco, Bon Iver”, escreveu no Twitter.

É impossível não citar, mesmo em meio a tantos casos, Kanye West. Quando o rapper ganhou o prêmio pela primeira vez, em 2005, ele ressaltou que teria atitudes polêmicas caso não fosse o vencedor, o que acendeu uma chama para a existências de possíveis polêmicas por debaixo dos panos.
Porém, uma das cenas mais memoráveis foi quando tomou o gramofone das mãos de Taylor Swift e alegou que deveria ter sido entregue para Beyoncé, que inclusive contatou Taylor após o ocorrido e pediu desculpas.
É fato que, após o tanto de polêmica levantada nos últimos anos, o Grammy busque limpar sua imagem e se manter com uma pose de uma “premiação inclusiva”. Algumas mudanças, com certeza, são esperadas. Mas é fato o quão é impossível reverter esse fantasma problemático que paira toda a premiação, e apresenta esses pontos negativos e polêmicos desde as suas raízes.
Óptimo post!
Desde o que aconteceu com o The Weeeknd em 2020, tenho acompanhado o lado sombrio do Grammy Awards.
Veja também o site: revistadestemidos.com
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