A pornografia é um dos estímulos mais popularmente conhecidos. De acordo com o material produzido pelo Quantas Pesquisas e Estudos de Mercado a pedido do canal a cabo Sexy Hot, em 2018, vinte e dois milhões de brasileiros assumem consumir pornografia, sendo 76% homens e 24% mulheres. No primeiro semestre de 2020, após o início da pandemia, a Netskope, empresa americana de software que fornece uma plataforma de segurança de computador, revelou que o consumo de pornografia aumentou em 600% com o isolamento social.
A maneira como a sociedade enxerga a masturbação, principalmente a feminina, tem mudado ao longo dos anos, o que é um bom sinal se levarmos em consideração a prática saudável, responsável por diversos benefícios físicos e psicológicos. No entanto, quando falamos sobre estímulos para a masturbação, a pornografia é a vencedora apesar da existência de outros.
De acordo com a psicóloga e sexóloga, Carolina Femenias, entre os mecanismos disponíveis atualmente, a pornografia, talvez, seja o menos saudável. Isso porque estudos apontam diversos riscos decorrente do consumo, além de diversas queixas identificadas em sua clínica, como a idealizações de relações sexuais – que provavelmente não serão alcançadas em um contexto real; dependência exclusiva desse recurso para obter prazer; prejuízos sociais e de rotina em áreas importantes da vida devido ao tempo gasto no consumo de pornografia; menor percepção das necessidades e do prazer da parceira (o), entre outros. “Alguns recursos exploram mais a criatividade e até mesmo a percepção de gostos ou desgostos, visto que a pessoa pode ter maior liberdade para incluir ou adaptar o estímulo, diferentemente do pornô, que é apresentado “pronto””, afirma a sexóloga.
Outro grande problema, dificilmente percebido pela sociedade é o vínculo entre a pornografia e a violência, geralmente contra mulheres. Além de inúmeros relatos de atrizes e atores pornôs fora das câmeras sobre abusos sexuais sofridos durante as gravações, a tendência é sempre colocar a mulher na posição de um objeto usado apenas para o prazer do homem. A página Recuse a clicar, disponível em diversas redes sociais é uma tentativa de combate a pornografia, a exploração sexual e ao abuso infantil. Com mais de 69 mil seguidores no instagram, a conta produz diversos conteúdos relevantes sobre o tema e, inclusive, histórias anônimas de seguidores. Em um dos relatos publicados em janeiro de 2021, uma mulher que trabalha com depilação e clareamento, afirma com convicção que a cultura da pornografia está fazendo com que meninas, cada vez mais, odeiem seu pelos e suas vulvas. Homens também a procuram querendo saber da possibilidade de deixar os testículos e virilha mais brancos.
A idealização dos corpos, principalmente femininos, também é um dos perigos da pornografia. Mulheres e homens se recusam a se olharem no espelho ou não conseguem ter uma vida sexual sadia por acreditarem que o corpo ideal é o exposto nos vídeos, ou seja, um corpo praticamente inexistente. Essa pressão estética traz consigo diversos distúrbios mentais- como a ansiedade e a depressão- e sintomas físicos, como a aderência a dietas restritivas, as quais, muitas vezes, culminam em transtornos alimentares.A pornografia, por mais que popularizada carrega diversos problemas para vida de mulheres e homens. Combater o seu consumo frenético é necessário para o desenvolvimento de uma sociedade sadia. No entanto, nos últimos anos, com a evolução dos estudos feministas, uma nova proposta surgiu: o pornô feminista. Com o objetivo de uma alternativa ao pornô tradicional que visa entreter majoritariamente o público masculino, o pornô feminista tem o objetivo de tornar a mulher protagonista. Desde toda a equipe por trás das câmeras ser composta por mulheres, o novo projeto busca uma variedade de corpos no elenco para fugir dos esteriótipos do pornô convencional, além de inúmeras outras propostas. Portanto, deixo meu questionamento, será mesmo possível a existência de um pornô feminista saudável?