A temporada de primavera-verão de 2022 trouxe para suas coleções apresentadas a tendência da transparência do corpo à mostra, que se mostra recorrente principalmente no busto, colocando seios à mostra ou evidenciados pela estrutura da roupa. Porém, não só a exposição literal dos seios femininos estavam presentes, mas também a exaltação dos mesmos em formato surrealistas. A Schiaparelli de Daniel Roseberry trouxe os mamilos grandes, dourados e triangulares, tal como a jaqueta jeans de Júlia Fox que é a parte central do look. Não só eles, mas também Simone Rocha, Loewe, Lanvin, Prada e Saint Laurent adotaram a tendência.
A exaltação aos seios não aconteceu agora, ela vem de mais de uma década sendo apresentada em temporadas de desfiles. Jean Paul Galtier com seus seios surrealistas apontados para o futuro é a marca registrada de sua moda. E na música também, com Katy Perry com seus peito-bala no clipe California Gurls. A transparência sempre esteve presente. Nos anos 90 ela era infiltrada de forma que os looks evidenciaram a pele, mas com roupa íntima por baixo ou até mesmo a inserção de uma terceira peça para que nem tudo ficasse tão aparente.



Desde o início do Instagram e das redes sociais, os seios à mostra eram bloqueados pelas plataformas, então as peças eram vistas apenas em desfiles e aparições de eventos, como no full look de cristais transparente de Rihanna em 2014. A transparência aparece em 90 com looks ajustados nas cinturas que realçam a beleza do corpo feminino eram os grandes momentos – geraram diversos comentários tanto pela graciosidade quanto pela repercussão conservadora e moral da época.


Alexander McQueen, considerado uma enfant terrible de sua época, sempre trouxe essas ‘grandes’ problematizações do período para seus shows. Ele não se importava sobre as opiniões a seu respeito e também sobre seus designs. Abusava e ousava da nudez feminina. As inovações de sua geração são tendências e referências aos dias de hoje.



O legado surreal de Jean Paul Gaultier começou na temporada de outono-inverno de 1984. Uma silhueta única com veludo laranja e rosa, no vestido Bombshell Breasts. Adiante, atraiu com seu visual grandes nomes como Madonna com seu corset usado na tour Blond Ambition de 1990. Contudo, eles têm origem de uma memória afetiva do designer, os espartilhos de sua avó, e que foram primeiramente desenvolvidos para Nana, seu urso de pelúcia.
Em 1992, Gaultier organizou um evento de solidariedade de Moda para a AmfAR (Fundação Americana para a Investigação da luta contra o HIV) no Shrine Auditorium de Los Angeles. O evento contou com uma série de celebridades presentes. Porém. Foi Madonna que marcou a noite para que se tornasse memorável por décadas. A cantora tirou a jaqueta quadrada para mostrar um saia de cintura alta e os seios nus emoldurados por um sutiã.
Portanto, eles não só atraíram como também inspiraram. Elsa Schiaparelli usava de suas referências e isso vem até os dias de hoje. Daniel Roseberry, atual diretor da marca, insere em todas as suas coleções algum design que cubra de forma artística ou que represente os seios femininos. Na alta-costura de 2021, os seios eram cobertos por um colar dourado em forma de brânquias que faziam parte de um vestido longo preto. Já na última temporada de alta costura 2022, Roseberry assemelhou-os ao de Gaultier com peitos pontiagudos feitos com uma mistura de resina e vinil que vinha do corset e eram circulados com arcos dourados. Os seios de Gaultier são arquivados e guardados numa casa tradicional, mas que são inspirações de designs únicos e consequentemente, com o passar do tempo, são vistos sendo imortalizados.


Contudo, de um período para cá, essa tendência repercutiu para além das passarelas. Glenn Martens em suas últimas coleções para a Y/Projects desenvolveu looks que apresentam seios desenhados. Desde então, celebridades – como Anitta, Bruna Marquezine – aderiram a esse trend. Também podemos notar a influência de Gaultier e seus peitos em forma de cone com as passarelas recentes de Daniel Roseberry para a Schiaparelli, com uma das fortes inspirações do designer sendo antigos estilistas que o ajudaram a nutrir seu amor por moda e desenhar.



A Loewe, dirigida por JW Anderson, na última coleção de outono-inverno 2022, enviou como parte dos convites para seu desfile um ‘lenço’ de látex quadrado, que foi usado por alguns jornalistas como cachecol no momento da apresentação. Mesmo que a casa espanhola seja tradicional com seus fundamentos como uma casa baseada em couro, dessa vez, além dele, utilizou do plástico líquido para desenvolver as peças de blusas firmes nos corpos que eram transparentes.



Já Isabel Marant na sua coleção de outono-inverno 2022, aderiu à transparência com uma peça manga longa e gola alta feita de rede repleta de cristais, assim como no desfile da Ludovic de Saint Sernin. Os cristais e brilhos têm feito presença há algumas temporadas. Unir ambas tendências fez com que os telespectadores do desfile vibrassem com o looks que contemplava uma calça cargo que quase passou despercebida fazendo dupla com a blusa de cristais.
Pela história, vemos que essa exaltação pela transparência e a exposição dos seios vem de décadas. Esse impulso e ânsia sempre foram requisitados e abordados por designers e mulheres de todas as épocas. Ambos, têm a ver com o encantamento ao corpo feminino. Percorre muito além disso. Representa a autoestima, alívio, conforto e contentamento com o próprio corpo. Vislumbrar pessoas com estaturas reais, compreendendo e aderindo a tendência é o que incentiva as mulheres a se aceitarem genuinamente.

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