A depilação tornou-se parte da rotina diária de milhões de pessoas ao redor do mundo, representada pelo ato de tirar a barba, lâmina nas pernas até o processo de corpo todo feito com cera ou laser. É uma prática tão comum que muitas pessoas não fazem o questionamento: “Por que depilamos? Por que temos esse relacionamento estranho com os pelos?”
De onde surgiu a depilação?
Só de pensar que os humanos consideram regular remover e arrancar um cabelo que irá crescer em poucos dias é um tanto estranho. Aparentemente isso pode ter começado com os homens das cavernas, já que várias das pinturas rupestres apresentam um rosto sem a barba. Porém, essa questão foi solidificada com os egípcios 3000-332 A.C., os quais depilavam a cabeça, corpo e rosto – antigamente, a aparência de limpeza não era tão fácil de ser alcançada, e isso indicava poder e status; porém, muitos usavam perucas para proteção do sol e às vezes viam a barba como algo divino.
A prática evoluiu em outros lugares do mundo, Mesopotâmia, Escandinávia e os anciãos Gregos até chegar aos dias atuais. O ‘look’ sem pelos e sem cabelo ainda é visto como ‘clean’ e adequado para situações formais e importantes. Para as mulheres, a depilação é uma questão completamente diferente.
Em 1920, uma menina universitária estava depilando as pernas e se cortou. A história virou notícia nacional, já que prática não era comum.
Em 1950 a história já era outra, a maioria adquiriu o hábito da depilação. Como isso mudou? No começo do século XX as mulheres não ligavam para o pelo na axila e nas pernas (rosto e pescoço sim), somente atrizes costumavam se preocupar. A mudança veio com uma propaganda da Harper’s Bazaar que focou no pelo da axila, já que estavam representando roupas que expunham o braço todo. Logo as lâminas e os cremes depilatórios entraram em cena, porque para estar dentro dos padrões da época era necessário não possuir pelos embaixo dos braços.
Na década de 1950, o foco foi também para as pernas. A depilação do pelo da perna já havia sido mencionada, mas não se tornou a norma até os anos 50. As saias mais curtas já eram comuns e, por isso, o cabelo deveria ser removido. Nessa época, várias propagandas incentivaram a depilação nas pernas, delineando a ideia que pelos eram feios e “um problema”. Isso provavelmente afetou toda a história da depilação feminina, já que hoje em dia inúmeras mulheres depilam todas as semanas ou fazem procedimentos todos os meses.
A necessidade da depilação se consolidou com a popularização da cera (especialmente por causa do Brasil, o qual é famoso no mundo todo pela brazilian wax, que é a depilação do corpo todo), pornografia e a cultura pop. Então, não ser pelos virou a norma, apesar de não ser natural. O cabelo corporal começou a ser visto como ‘sujo’ e ‘não higiênico’. Até desenvolveram o laser.
Nos dias de hoje, não depilar parece ser algo revolucionário. Parece um ato de resistência. Só que na verdade, é apenas uma mulher existindo do jeito que é. Todas devem ter o direito de escolha sobre o que fazer com os pelos, mas não dá para negar que o condicionamento que a mídia proporciona influencia muito na “escolha” da depilação feminina. Espera-se que as pessoas consigam se desligar dessa ideia de obrigação com a devagar naturalização dos pelos (de novo) – e saber que ninguém precisa raspar as pernas todos os dias ou gastar quatro mil reais em sessões de laser para ser bonita e higiênica.