Da tatuagem de Anitta a dinheiro desviado: Entenda a ‘CPI do Sertanejo’

Nas últimas semanas a chamada ‘CPI do Sertanejo’ virou alvo do ministério público ao investigar o superfaturamento dos shows de sertanejos, como Gusttavo Lima. 

Em resumo, esta investigação se baseia em apurar um suposto envolvimento de cantores do gênero no desvio de verbas públicas para pagar cachês milionários. Porém, a forma pela qual tudo isso começou é um tanto curiosa.

O pontapé inicial foi quando Zé Neto, da dupla Zé Neto e Cristiano, criticou a Lei Rouanet – uma lei de incentivo fiscal à cultura – utilizando a Anitta e sua tatuagem íntima como exemplo. 

“Nós somos artistas que não dependemos da Lei Rouanet, nosso cachê quem paga é o povo”, disse o cantor. “A gente não precisa fazer tatuagem no ‘toba’ para mostrar se a gente tá bem ou não”, disse o cantor durante um show em Mato Grosso do Sul.

Este evento, que no caso, foi realizado com uma verba de R$400 mil, advinda dos cofres públicos. O comentário do cantor fez com que a imprensa local começasse a apurar o cachê dos sertanejos universitários e a partir deste ponto que muitas acusações passaram a vir à tona.

[Imagem: Reprodução/EM OFF]

A investigação saiu do estado de Mato Grosso do Sul e se tornou um mote maior quando envolveu o nome de Gusttavo Lima – um dos nomes mais influentes do sertanejo universitário. 

O cantor teria recebido da prefeitura de Teolândia, interior da Bahia, um valor correspondente a R$704 mil. A polêmica surgiu quando foi descoberto que a cidade negou auxílio para socorrer afetados por uma forte enchente que assolou a cidade e deixou milhares de desabrigados, e foi investida no show do artista, com a justificativa de que era o sonho da prefeita da cidade conhecê-lo.

Esse escândalo abriu margem para novas descobertas. Após a crítica à Lei Rouanet, foi descoberto que existem sertanejos que recebem quase quatro vezes mais do que é estabelecido – como o caso de Gusttavo Lima.

Além do ‘Embaixador’, Figueirópolis D’Oeste, distante 319 quilômetros de Cuiabá, também se tornou um dos alvos. Os shows das duplas Thaeme & Thiago e Jads & Jadson foram cancelados após descobrir que eles receberam um desvio de verba pública estimado em cerca de  R$182 mil e R$193 mil para pagar seus cachês.

Além dos estados citados, outros entraram na lista de investigações, sendo eles:  Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Bahia, Roraima e Rio Grande do Norte. As somas dos cachês totais beira – em média, os R$6 milhões.

Recentemente, um outro escândalo envolvendo Gusttavo Lima surgiu – desta vez no Rio de Janeiro. O artista se apresentaria em Magé e receberia cerca de R$1 milhão – quase 450% do que  valor recebido por Belo e Falcão, que também estavam na line-up no evento.

Na última segunda-feira de maio, no dia 30, o artista realizou uma live em seu Instagram para rebater estas acusações polêmicas.

Na ocasião, falou sobre polêmicas envolvendo os shows citados, e outros casos em cidades de estados como Minas Gerais, todos eles que estariam supostamente sendo financiados por dinheiro público, que na realidade, deveria ser direcionado para população.

Gusttavo destacou que “não é porque são apresentações feitas pela prefeitura que ele deixará de cobrar seu valor típico”, alegando ainda que “esta seria sua forma de sustento”.

“Eu vivo disso, eu me alimento através disso, eu coloco comida na mesa dos meus colaboradores, da minha família através do meu trabalho – independente se seja show público ou show privado. O meu valor é um e ele não vai mudar, entende?”, questionou durante a live.

Ainda destacou que não considera que tenha se beneficiado de dinheiro público e que se dispõe a prestar eventuais pendências à justiça caso seja necessário.

“Eu nunca me beneficiei de dinheiro público ou empréstimo de tal coisa ou algo do tipo. A minha vida foi sempre trabalhar. […] Então assim, eu não compactuo com dinheiro público. Tudo que eu tenho foi ralado com muito suor, foi trabalho pra caramba, sabe? A minha vida é cantar. Se eu tenho uma casa boa pra morar, vocês podem ter certeza que saiu da minha garganta”, ressaltou.

Em meio a lágrimas, o cantor disse que considerou desistir de toda sua carreira após as acusações.

Porém, um fato curioso chamou atenção. O estopim deste problema toda, Zé Neto, apareceu durante a transmissão e realizou certos comentários que chamaram atenção.

[Imagem: Reprodução/Instagram]

O sertanejo invadiu os comentários da live e afirmou que Gusttavo Lima deveria ficar tranquilo e “jogar a responsabilidade para ele” – uma vez que ele foi um dos grandes causadores deste problema. 

“Cara, quem tem que dar satisfação sou eu. Irmão, estou atravessando uma fase ruim, sou seu irmão. Não precisa se explicar de nada. Joga para mim, irmão. Não tem nada a ver com você“, disse.

Acontece que o motivo da crítica de Zé Neto a Lei Rounaet e tudo isso foi ocasionado pelo fato do cantor ser assumidamente de direita – falando em posição política. Sua questão, desde o princípio, era “dar a entender” que seus colegas de profissão, assim como ele, não precisavam de nenhuma ajuda do governo para manter seus shows e fazer sucesso. Porém, o que realmente se mostrou foi o oposto. A ajuda do governo sempre existiu, porém neste escândalo, de forma ilegal e corrupta.

Um show de Gusttavo Lima em dezembro, que aconteceria na cidade de São Luiz, em Roraima, também foi cancelado. De acordo com a Billboard, o contrato de Lima beirava 77% do orçamento anual da cidade que era destinado à compra de merendas escolares. 

Porém, um dos nomes causadores disso tudo até a última semana ainda não havia se manifestado: Anitta.

Uma simples tatuagem escancarou todo um esquema de corrupção no meio do sertanejo universitário.

Em entrevista ao Fantástico, jornal que é transmitido aos domingos na TV Globo, a cantora se manifestou em entrevista sobre tudo o que estava acontecendo. A cantora justificou que não entendeu porque sua tatuagem gerou tanta polêmica. Para ela, era somente um momento em que estava se divertindo com seus amigos e não imaginava toda esta repercussão.

Para a surpresa de Zé Neto, Anitta afirmou que nunca fez uso da Lei Rouanet.

“Meu irmão é que cuida para mim das coisas. Eu liguei para o meu irmão e para o meu outro sócio Daniel e falei: ‘Gente, eu já usei essa lei, porque eu nem lembro’. Ele falou: ‘Não'”, conta Anitta.

A artista ainda revelou que já havia recebido propostas parecidas, mas que nunca aceitou e nem queria se envolver com esquemas assim. 

“A gente que é da música sempre soube que isso existia. Já recebi propostas, eu e o meu irmão. ‘Você cobra tanto, aí eu vou pega um pedaço’. Eu sempre falei, não, Renan, o meu cachê é meu cachê. Na época era 100 e poucos, mas aí ele vai dar mais um pouco, se você declarar que recebeu não sei quanto. E eu: querido, meu cachê é esse. Quer assim? Não quer assim? Como a gente começou a nossa empresa do nada a gente está sempre contratando auditoria, porque a gente está sempre com medo de fazer algo por falta de conhecimento”, contou Anitta em entrevista.

Com tudo isso, em alguns estados do país, a justiça já determinou um cachê fixo que pode ser pago com verba pública para shows e eventos. A Câmara dos Deputados, por sua vez, aprovou que fará uma audiência pública para a investigação do caso.

O comunicado foi divulgado na última quarta-feira (8) por um requerimento do deputado Alexandre Padilha (PT-SP). A ideia principal do parlamentar é dar atenção a casos que envolvem contratações de sertanejos por prefeituras. 

Um comentário em “Da tatuagem de Anitta a dinheiro desviado: Entenda a ‘CPI do Sertanejo’

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s