Desde a estreia do programa TVZ com a apresentação de Pedro Sampaio, o artista começou a sofrer críticas por suas performances com o uso da ferramenta de Auto-Tune que deixam sua voz mais robotizada. Em entrevista para a revista Rolling Stones, Pedro se abriu sobre como enxerga o uso do efeito.
“Muita gente ainda demoniza o auto-tune, mas são pessoas que não entendem do que estão falando, porque ele é usado mundialmente e eu uso de forma escancarada desde o início da minha carreira, faz parte da estética da minha voz“, afirma o DJ e produtor.
O Auto-Tune nada mais é do que um plug-in comumente usado por produtores dentro do estúdio, criado em 1997, a ferramenta inicialmente tinha o propósito de corrigir a afinação de cantores e instrumentos musicais. Mas não demorou muito para que outros propósitos para o recurso surgissem, quando a ferramenta é usada de forma exagerada ela gera um efeito robótico na voz parecido com o uso de sintetizadores.
Um ano após o lançamento do auto-tune, a cantora americana Cher lançou uma das primeiras músicas comerciais em que é possível identificar o efeito mais robotizado. A faixa Believe foi pioneira em usar a ferramenta de maneira criativa e a distorção de voz que foi imitada por outros artistas ficou conhecida como o “Efeito Cher”.
O single da cantora americana atingiu o topo das paradas americanas e se tornou uma das canções mais vendidas fisicamente de todos os tempos, com mais de 11 milhões de cópias. Além disso, a técnica usada na faixa mudou a história da música pop e os gêneros do rap e trap.
Nos anos 2000, diversos artistas da cena hip-hop aderiram ao uso do auto-tune, o destaque entre eles foi o rapper norte-americano T-Pain. Com o lançamento de seu álbum de estreia, Rappa Ternt Sanga, em 2005, o artista ficou conhecido pelo seu uso da ferramenta e criou sua própria estética vocal única no cenário do rap.
Devido ao T-Pain, o auto-tune caiu nas graças de grandes artistas, como Snoop Dogg, Lil Wayne e Kanye West, que até dedicou o álbum 808s and Heartbreak para explorar o efeito. No pop, a cantora Britney Spears também usou a ferramenta para modular sua voz em seu álbum Blackout e a banda Black Eyed Peas investiu pesado no auto-tune na canção Boom Boom Pow para atingir uma sonoridade futurista.
Mas se engana quem pensa que o auto-tune foi bem recebido por todos os artistas e a maioria do público. Em 2009, o rapper Jay-Z lançou a faixa D.O.A (Death of Auto-Tune) criticando exatamente o uso exagerado da ferramenta e a popularização da técnica no hip-hop. No trecho “Get back to rap, you T-Pain’n too much” (Volte para o rap, vocês estão como o T-Pain demais; em português), o rapper chega a citar o artista que iniciou o movimento e critica quem usava o auto-tune de forma não criativa.
Além disso, muitas críticas se somam ao fato de que quem usa a ferramenta não sabe cantar. Por ser uma ferramenta de afinação, em teoria, qualquer pessoa poderia gravar uma canção e soar com vocais perfeitos. Nessa época, surge ainda mais uma valorização por cantores que não usavam a ferramenta e eram publicamente contra o auto-tune.
Christina Aguilera foi uma dessas pessoas e chegou a passear pelas ruas de Los Angeles com uma blusa escrito “Auto Tune is for pussies” (Auto Tune é para covardes, em português). Anos depois, em entrevista para a rádio SiriusXM, a cantora admitiu que a ferramenta poderia ser usada de forma criativa, tendo inclusive experimentado com o auto-tune em seu álbum futurista, Bionic.

De maneira geral, o uso do auto-tune se consolidou uma prática geral na música quando se fala de afinação. A maioria das músicas mainstreams passam pelo plug-in, o que constrói na indústria da música pop a meta de vocais perfeitos e a minimização de qualquer erro natural.
Até porque é importante lembrar que em faixas gravadas, bem antes da criação do Auto-Tune, já existiam técnicas que mudavam e melhoravam sutilmente a voz dos artistas.The Beatles duplicavam seus vocais nas músicas para deixar a voz mais encorpada nas canções, John Lennon mudava seu timbre de voz natural ao diminuir a velocidade das gravações e reproduzi-las por um amplificador específico e Elvis Presley usava o eco e delay ao seu favor nas músicas.
Os tais vocais “naturais” são dificilmente encontrados e não são sinônimo de sucesso. O uso do auto-tune não invalida talento de nenhum artista e há quem diga que com a menor preocupação de atingir notas extremamente perfeitas, sobra mais tempo para se dedicar a outros elementos da música ou na entrega de uma performance.
O que foi uma tentativa de T-Pain para soar diferente de outros rappers anos atrás, se tornou atualmente uma das técnicas mais usadas no trap, subgênero musical do hip-hop e rap. Os artistas que fazem parte do gênero, usam o auto-tune para criar melodias e unir as rimas com partes mais cantadas.

Quavo, Future, Migos e Young Thug são alguns dos rappers que montaram suas estéticas vocais usando os efeitos da ferramenta. Os vocais do Travis Scott conhecidos por soarem bem robóticos ou como de algo de outro mundo unem o auto-tune com outras técnicas de delay, phasing e outros plug-ins que modulam a voz. Esses efeitos formam o estilo único do artista e caracterizam o gênero musical em que atuam.
É inegável afirmar que o Auto-Tune mudou o jeito de fazer música desde sua criação e popularização. Poucas invenções na indústria fonográfica foram tão icônicas e discutidas pelos artistas e público depois de tantos anos. Seja pelas críticas do caráter artificial trazidos pela afinação perfeita ou pelo seu uso exagerado na modulação vocal, a ferramenta encontrou novas maneiras de ser usada e ainda tem fãs no mundo dos cantores.
Se o auto-tune cair em desuso na próxima década, o que parece bem improvável, com toda certeza vai ter marcado uma geração de músicas nos anos 2000 e no hip-hop, assim como os teclados sintetizadores são lembrados nas canções dos anos 80 e até imitados atualmente.