O quinto álbum de estúdio de Sabrina Carpenter, emails i can’t send, foi lançado na última sexta-feira, 15 de julho. Sob domínio da gravadora Island Records, produção de Leroy Clampitt, Jason Evigan, Jorgen Odegard, John Ryan, Ryan Marrone e Julian Bunetta. Já como compositores, participaram Julia Michaels, JP Saxe, Steph Jones, Amy Allen e a própria Sabrina descritos nas faixas. O álbum surpreende com composições honestas e pode ser representado por três pilares: storytelling, imersão e vulnerabilidade.
Com a imagem totalmente desvinculada da Disney, coloca um ponto final nas polêmicas em que foi envolvida no ano passado. Carpenter transita entre diversos gêneros musicais com o passar das músicas e se dá bem com todos. Arriscando com transições engraçadas e pessoais, consegue criar um enredo e conta o seu lado da história.


A primeira faixa, emails i can’t send, carrega o nome do álbum e é um verdadeiro soco no estômago. Com instrumental mínimo, poder vocal e rimas impecáveis, a apelidada pelos fãs de intro na época do pré-álbum, emociona e choca por revelar que a insegurança de Sabrina com relacionamentos é vinda da traição de seu pai. Cada palavra toca profundamente e a música prende a atenção por ser contada praticamente de maneira cronológica, como uma história.
Vicious foi lançada menos de um mês antes do álbum e foi responsável por aumentar as expectativas de todos. Vindo de uma sequência de singles não tão bem aceitos, essa canção é forte e debochada, tendo seu momento de explosão na ponte, onde é dito “Você não sente remorso, você não sente os efeitos, porque você não acha que me machucou se me deseja o melhor, eu deveria ter percebido antes que eu seria apenas a próxima a tomar suas músicas de amor como promessa”. Doeu por aí?
Tirando o ouvinte da transe causada pelas faixas anteriores, Read your Mind começa com vocais angelicais e tranquilos, mas essa calmaria passa poucos segundos depois, quando a melodia muda totalmente para algo mais agitado e dançante. A música retrata um amor confuso onde um dos lados quer continuar solteiro, mas não consegue resistir a paixão – embora não assuma, fazendo idas e vindas dolorosas e egoístas na vida da outra parte envolvida. Novamente é uma grande aposta no storytelling, contando a situação praticamente como uma fofoca para a melhor amiga.
Passando para Tornado Warnings, o quesito de conversação no início da música lembra muito o single skinny dipping, também presente no álbum. A faixa representa a fase de negação em um relacionamento mal sucedido, Sabrina contou em entrevista que possui as notificações do telefone ativadas para alertas de tornado, e que a composição se trata de uma história real envolta por uma metáfora, onde ela estava com alguém que não deveria estar em um parque e logo começou a chover, mas decidiu ignorar todos os alertas de perigo e mentiu para seu psicólogo sobre esse encontro, para não zangá-lo.
Se as outras faixas se tratavam de um desabafo, because i liked a boy é um grito alto e claro. Retornando às origens do ódio que recebeu no passado, a artista diz que não esperava que um amor tão inocente e intenso te traria tantas ameaças de morte e ofensas pesadas, como “destruidora de lares” e “vagabunda”. A grande revelação da música é a afirmação de que quando o caos começou, o casal já havia terminado o relacionamento. Com uma melodia voltada para o R&B e a estética circense presente no clipe, essa canção se torna facilmente uma das queridinhas do álbum.
Already Over, que já havia uma prévia postada nas redes sociais da cantora, é uma faixa leve e divertida, com uma pegada mais country. Ela volta para o assunto do caos mesmo sem estarem mais juntos, e com tudo vindo à tona, é ainda mais difícil colocar um ponto final em um assunto que está constantemente aparecendo em sua frente, causando algumas recaídas entre os dois.
Quebrando a agitação da faixa anterior, how many things possui mais de quatro minutos e retrata o fim do amor de uma das partes: “Eu imagino quantas coisas você pensa antes de pensar em mim, eu imagino quantas coisas você quer fazer e eu estou impedindo”. É a fase do fim do relacionamento onde tudo ainda é muito recente e tudo lembra a pessoa, mas não sente que o outro está na mesma situação. Com um instrumental mínimo servindo apenas de acompanhamento, a música é muito relacionável, servindo para relacionamentos amorosos, familiares ou em amizades que não correspondem mais ao mesmo carinho.
bet u wanna é a herdeira de Sue me e Looking at Me. Com um tom mais debochado, vingativo, sexy e coberto de autoestima, a música trata do momento de respeito a si própria e seu valor após o fim de um ciclo, descritos através de frases provocativas. Carpenter ironiza a situação e aposta que a pessoa a quer de volta, mas agora já é tarde demais. Simplesmente a faixa que os fãs esperam todo álbum, para recuperar sua força e autoestima, e também porque fica bem nos “stories de biscoito”.
Nonsense possui uma raiz semelhante a de algumas faixas do álbum positions de Ariana Grande. A canção mantém a energia provocativa e irônica, onde está vivendo novas experiências e volta para a fase leve, perdendo a noção quando está ao lado de outra pessoa. O verso “Eu acho que tenho um ex, mas esqueci dele”, junto ao significado de bet u wanna, confirmam que estamos na parte da história onde já deu o que tinha que dar e está superado.
Fast times e skinny dipping dão procedência ao álbum e são os dois singles anteriores da era. Bem diferentes entre si, ambas das músicas representam elementos presentes no restante das faixas, o tom de storytelling presente na composição e clipes, sempre instigando o ouvinte a escutar a música até o final para saber o desfecho da história.
Chegando a penúltima faixa, Bad for Business traz uma ambiguidade na interpretação: A insegurança de um novo relacionamento atrapalhar sua carreira e imagem como o anterior ou essa paixão literalmente atrapalha os negócios, pois não a deixa dormir de noite e é sua grande fonte de inspiração, fazendo com que ela não consiga pensar em mais nada. A música tem uma melodia leve e um pouco mais lenta, a composição é apaixonada e traz a calmaria de um amor – por enquanto – tranquilo.
Encerrando o álbum com chave de ouro, decode é vulnerável e honesta, uma das mais pedidas pelos fãs – por conta de uma prévia anteriormente postada por Sabrina – vai além do esperado. A letra assume cruamente que não aguenta mais pensar e repensar sobre o relacionamento, sobre o que pode ou não ter acontecido, por isso simplesmente desiste e afirma que não há mais o que falar sobre o assunto, não há mais nada para decodificar, todos as partes deram seu lado da história e o assunto está encerrado entre eles.

O poder narrativo de Sabrina Carpenter é surpreendente, a cada faixa é possível desvendar seus sentimentos e simpatizar com eles. Todos sabem a maldade presente na internet e como ela pode afetar a vida das pessoas, como todo esse ódio e repressão toma conta de alguém, a ponto que ela não tenha como falar por si mesma. Portanto, emails i can’t send é a resposta de uma sobrevivente deste ódio, que ficou calada por muito tempo e ainda continua guardando algumas informações, mas prefere que elas continuem em segredo.
Este disco simboliza a maneira como a artista materializa sua arte, tratando suas músicas como um desabafo vulnerável, o sentimento de ser chamada de “destruidora de lares” enquanto estava vivendo o inferno dentro de sua casa com seus pais.
É gratificante escutar uma sequência tão real e bem produzida, cada faixa se destaca singularmente e mantém a coesão dentro de um conjunto. Os e-mails não enviados por Sabrina Carpenter vieram à tona e merecem o reconhecimento máximo, não somente por sua coragem de falar, mas pela qualidade imposta no álbum, a história contada em etapas, arriscando diversos gêneros e abordagens. Mesmo em meio a uma realidade de uma gravadora negligente e descuidada, o álbum se mantém desde seu lançamento em primeiro lugar no Apple Music Brasil, e é de se esperar que esses números continuem crescendo.