[Crítica] Renaissance: os hinos de positividade iniciam uma nova era

O tão aguardado comeback da Beyoncé finalmente chegou! Renaissance, o sétimo álbum de estúdio da artista, foi lançado na última sexta-feira (29). O projeto, que é o primeiro ato de uma trilogia, vem sendo muito aguardado pelos fãs após um hiatus de 6 anos da cantora desde seu último disco solo, Lemonade.

Renaissance conta com 16 faixas e participações especiais de Beam, Grace Jones e Tems. Nas redes sociais, Beyoncé compartilhou o significado do projeto feito durante três anos na pandemia, onde a artista declarou na dedicatória do disco que foi uma época em que mais se achou criativa.

Criar este álbum me permitiu um lugar para sonhar e encontrar fuga durante um momento assustador para o mundo. Isso me permitiu sentir-me livre e aventureiro em uma época em que pouco mais estava se movendo. Minha intenção era criar um lugar seguro, um lugar sem julgamento”, contou a cantora.

O projeto tem doze produtores principais, A. G. Cook, Boi-1da, Guilty Beatz, Jahaan Sweet, Labrinth, The Neptunes, S1, Skrillex, Tate Kobang, The-Dream, Tricky Stewart e a própria Beyoncé. A masterização é feita por Colin Leonard e a mixagem assinada por Stuart White.

A primeira faixa do Renaissance é I’m That Girl, que usa o sample da música Still Pimpin de Tommy Wright III, Mac T-Dog e Princess Loko, lançada em 1994. A canção dançante inicia o álbum com uma mensagem bem simples do poder feminino. 

Nos versos, “It’s not the diamonds, It’s not the pearls, I’m that girl, It’s just that I’m that girl” (Não é os diamantes, não é as pérolas, eu sou aquela garota, é que eu sou aquela garota; em português) a artista exemplifica que não é necessário coisas de valor para lhe agregar poder.

Cozy é a segunda música do álbum e ela fala sobre estar confortável, sendo em ser quem você é, com seu próprio corpo e com sua cor. Com uma batida mais relaxada, a artista entrega novamente uma mensagem positiva para seus fãs. A canção usa como samples as faixas Get With U de Liddell Townsell e M.T.F. e Unique de Danube Dance e Kim Cooper.

Além disso, Cozy usa trechos do vídeo Bitch I’m Black da TS Madison, personalidade americana muito conhecida por ser a primeira mulher trans negra a produzir e apresentar um reality show.

Seguimos com Alien Superstar, uma faixa com batida eletrônica sensual e que se inicia com um sample da canção Moonraker do Foremost Poets, lançada em 1998. A música explora toda a sensualidade da artista e comunica com o público o poder de ser única ao som da faixa perfeita para se ouvir na pista de dança.

O destaque de Alien Superstar vai para a interpolação de I’m Too Sexy do grupo Right Said Fred no refrão da música, que destaca a genialidade da artista em usar uma canção muito conhecida de maneira tão revigorante. O sample de Unique de Danube Dance e Kim Cooper se repete e ao final da faixa é possível ouvir parte do discurso Black Theater da escritora e atriz Barbara Ann Teer.

Ensaio de divulgação do álbum Renaissance. [Imagem: Reprodução/Beyonce.com]

Cuff It é a quarta faixa, com sonoridade disco e synth funk (a mistura do uso de sintetizadores com a batida rítmica do funk), a música se desenvolve de maneira divertida e romântica. Essa é uma Beyoncé que só quer se divertir e não tem nada que irá prendê-la. A canção tem interpolação de Ooo La La La da Teena Marie e sample de Square Biz da mesma cantora.

A quinta música do álbum é Energy com participação de BEAM, cantor jamaicano e americano. A faixa com sonoridade dancehall e eletrônica, mistura as partes melódicas cantadas por Beyoncé e os versos de BEAM com o afrobeat. Na letra pode ser encontrar um incentivo para dançar e se divertir, mantendo sempre a energia alta.

Energy tem sample de Milkshake e Get Along With You da cantora Kelis e Explode de Big Freedia, que faz a transição com a próxima canção do disco. Seguimos com Break My Soul, lead single do álbum, que conta com o samples do hit dance dos anos 90, Show Me Love, da cantora Robin S. e novamente a canção Explode de Big Freedia, lançada em 2014. 

A música alcançou o 7° lugar na Billboard Hot 100 e permaneceu por 5 semanas no chart. Break My Soul que chegou para anunciar a volta da artista, agora na sonoridade dance-pop, se manteve na proposta de ser um hino de positividade em tempos confusos.

Capa alternativa do disco. [Imagem: Reprodução/Beyonce.com]

Church Girl é a sétima faixa do Renaissance, onde a artista explora nos versos da música sua religiosidade e suas raízes do sul dos Estados Unidos. Com batidas animadas do bounce é celebrado a liberdade em todos os seus sentidos. A canção usa os sample de Center of Thy Will das The Clark Sisters, Drag Rap dos The Showboys e interpolações de Where They At do DJ Jimi e Think (About It) da Lyn Collins.

Seguimos com Plastic Off The Sofa, a música mais lenta e R&B, mas sem abandonar o upbeat eletrônico. Nela, Beyoncé fala sobre amor e as qualidades de seu interesse romântico, podendo ser até uma faixa dedicada ao seu marido, Jay-Z. Pelo caráter mais intimista da música, os vocais da cantora se sobressaem e são o grande acerto de Plastic Off The Sofa.

A nona canção é Virgo’s Groove, um clássico disco com letra mais romântica  dedicada ao amor da vida da artista. Com vocais e melismas arrepiantes, por mais de seis minutos podemos ouvir Beyoncé brincar com sua técnica vocal em uma faixa mais tranquila e pop.

Move é a próxima canção com a participação de Grace Jones e Tems. A faixa tem influência do afrobeat e bounce e explora os dois significados do termo “move”, em inglês, que pode significar o ato de se mexer e dançar, ou de sair da frente e abrir espaço para alguém mais importante. 

Seguimos com Heated, uma música mais R&B que conta uma menção e homenagem a uma das pessoas que inspiraram o Renaissance, Uncle Johnny. Ele, que era sobrinho da mãe de Beyoncé, teve participação na criação da artista e no início da sua carreira ajudava a criar designs e vestidos para serem usados por ela.

Em 2019 no GLAAD Awards, a cantora também dedicou o prêmio ao tio que morreu por complicações do HIV nos anos 90. No encarte do disco, Beyoncé agradece e explica a importância de Johnny. “Ele foi minha ‘madrinha’ e a primeira pessoa a me expor a muita música e cultura que servem de inspiração para este álbum.”, declara a artista.

Foto que aparece no encarte do álbum com agradecimentos ao Uncle Johnny.  [Imagem: Reprodução/Beyonce.com]

A décima segunda canção é Thique, uma faixa mais pop e trap, mas sem perder a sonoridade eletrônica. Nos versos se encontram rimas sobre dinheiro e sensualidade, com a exaltação do corpo da artista.

O álbum segue com All Up In Your Mind, uma das músicas mais diferentes do projeto e que coloca a cantora no universo ainda não explorado por ela, o hyperpop. Com letra bem pop falando sobre amor, o destaque vai para os vocais e performance de Beyoncé que combinam muito com o gênero.

America Has a Problem mistura a sonoridade de sintetizadores com o rap e usa o sample de America Has a Problem (Cocaine) de Kilo Ali, lançada em 1990. A faixa, apesar do nome, não tem nenhuma crítica política e deixa espaço para a cantora rimar de maneira divertida e interessante.

A penúltima canção é Pure/Honey, a faixa que é dividida em duas fases e gêneros. Na primeira parte, Pure, a artista apresenta rimas rápidas acompanhadas de uma batida perfeita para as boates. Já na parte Honey, Beyoncé se envolve completamente no soul e funk seguidos de vocais de outro mundo. A música tem os samples de Cunty da Kevin Aviance, Miss Honey de Moi Renee e Feels Like de MikeQ e Kevin JZ Prodigy.

O álbum termina com Summer Renaissance, a faixa que tem no refrão uma interpolação de I Feel Love de Donna Summer, um clássico do disco dos anos 70. A música encerra o álbum mais experimental da carreira da artista como o fim de um sonho. Levando os ouvintes a outras camadas da voz de Beyoncé em um ritmo que ninguém esperava vê-la dominando.

[Imagem: Reprodução/Beyonce.com]

Horas após o lançamento, Renaissance alcançou o topo do Apple Music em mais de 100 países, se tornando o primeiro disco feminino a conseguir o feito em 2022. No Spotify, o projeto teve a maior estreia de um álbum de uma artista feminina na plataforma este ano, com mais de 43 milhões streams

De acordo com o Hits Daily Double, o álbum tem previsão de vender entre 275 e 315 mil unidades, colocando o Renaissance em primeiro lugar nas paradas musicais americanas. Se conseguir chegar ao topo, Beyoncé se tornará a primeira artista feminina a colocar um disco nessa posição em 2022.

No metacritic, o projeto está com nota 93, acumulando 15 avaliações positivas e superando a avaliação de seu álbum anterior, Lemonade, que tem a nota 92. Na review da revista Rolling Stones, a artista foi aclamada por sua habilidade de dar aos ouvintes novos hinos pop e as faixas lentas e sensuais que todos amam e esperam nos projetos da cantora. 

A faixa Virgo’s Groove ganhou o selo de ‘Melhor Nova Música’ do site Pitchfork, destacando a música disco-funk como uma das melhores na carreira da Beyoncé. Na crítica de Renaissance, o álbum conquistou a nota 9 e a atribuição de ‘Best New Music’, dando ênfase no disco como uma rica celebração da música das boates e seu espírito emancipatório.

Em geral, o novo álbum se reinventa do que esperávamos no futuro da discografia da cantora. Após Lemonade, um dos projetos mais pessoais da artista, Renaissance reúne diversão, leveza e sensualidade nas faixas. Beyoncé aposta em um novo gênero musical e o mistura com outros ritmos, tornando o disco uma extensão de sua personalidade.

O uso correto de samples também merece destaque, pois demonstra a habilidade da cantora em transformar as interpolações e trechos de outras músicas em algo tão original e criativo quando aparece em Renaissance. Quem imaginou que após a faixa Way 2 Sexy de Drake e Young Thug o refrão da música I’m Too Sexy poderia soar de fato sensual e não cafona com em Certified Lover Boy? Só com os vocais de Beyoncé mesmo.

E falando em voz, a produção vocal do álbum está entre um dos melhores da artista, levando o ritmo eletrônico do house e disco a outros níveis. As faixas são conectadas não só pela sonoridade coesa do projeto, mas também em belas transições que o colocam na estética de um DJ unindo músicas para uma pista de dança.

Renaissance se estabelece como o início de uma trilogia animada e empolgante. É impossível ouvir o projeto e não se sentir contaminado ao dançar e melhorar o humor de quem está ouvindo. Assim, o álbum mais experimental de Beyoncé cumpre a promessa de nos levar a um lugar de exploração e liberdade.

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