Entenda como a volta das tendências do início do século XXI influenciam no comportamento de jovens adultos
Minissaia, calça cargo, óculos coloridos e calça de cintura baixa estão ganhando cada vez mais espaço nas vitrines e no Instagram de influencers. Todas essas tendências, marcaram um período único na moda, os anos 2000.
As it girls da época eram a combinação entre o guarda-roupa dos sonhos e o “corpo perfeito”. Paris Hilton, Britney Spears, Christina Aguilera, Jennifer Lopez e outras celebridades emplacaram essas tendências em tapetes vermelhos. E, depois disso, não demorou muito para que a indústria cinematográfica e musical espalhasse a ideia pelo globo.
Dessa vez, disfarçada com o nome de YK2 – uma abreviação de year 2000 ou, em português, ano 2000 – , a moda do início do segundo milênio retornou. As peças em tamanho mini mostram mais o corpo, revivendo as tendências, mas trazendo outras narrativas. Para a moda, mesmo 22 anos depois, corpos são apenas acessórios.
2022 não é 2002
Se em 2000 o corpo magro era considerado um padrão a ser alcançado, em 2022 ele emite um sinal de alerta. A volta da magreza extrema como aesthetic é preocupante, pois incentiva movimentos pró-bulimia e anorexia, principalmente em adolescentes e jovens adultos.
Segundo a psicóloga Valéria Lemos Palazzo, fundadora do GATDA – Grupo de apoio dos distúrbios alimentares-, a bulimia e a anorexia estão mais presentes em jovens. A última atinge em sua maioria adolescentes de 12 a 16 anos, podendo cronificar e estender-se para a vida adulta.
A hipervalorização de um corpo irreal pode ser um gatilho para pessoas portadoras desses transtornos alimentares, afirmou a psicóloga. “A sociedade é incentivadora, mas não a causadora dessas doenças. Para desenvolver um transtorno alimentar, você precisa ter uma predisposição genética hereditária, mas é um meio que colabora, uma espécie de gatilho para quem já tem predisposição a desenvolver o transtorno.”
Body Shame vs Body Positive
No início do novo milênio, roupas pensadas para corpos gordos eram praticamente inexistentes. Ter o que estava ‘na moda’ era um desafio para pessoas que usavam tamanhos além do padrão. Lembra daquela história que cropped é só pra quem tem barriga chapada? Era exatamente essa ideia.
Esse tipo de pensamento incentiva o que chamamos de body shame. O ato de criticar o corpo do outro, por um olhar, fala, ou ação fazendo com que ele sinta-se desconfortável. Em tempos de redes sociais, essas ofensas vêm de todos os lugares. E, muitas vezes são feitas por pessoas que não mensuram o impacto das palavras.
Na contramão desse pensamento, surgiu o body positive. Movimento que busca realçar as diferenças, quebrando os padrões estéticos impostos. O que não vale só para o corpo, mas também para o cabelo, nariz, formato da boca e muito mais.
Moda é para todos
Mais do que fazer coleções especiais em números maiores, as marcas devem disponibilizar diversos tamanhos da mesma peça. Assim, cada pessoa terá a possibilidade de escolher o que quer vestir. Sem ditar qual tendência pode ou não ser usada no PP e no XG.
Democratizar preços e tamanhos é a solução para uma moda mais inclusiva, segundo Mariana Albino, estudante de publicidade e propaganda que trabalha no braço de consultoria da WGSN – empresa que faz a previsão de tendência de consumo.
Durante a pandemia, a estudante criou sua própria marca de roupas. E fazia questão de disponibilizar diversos tamanhos para a mesma peça. “ Minha tia sempre dividiu muito comigo, essa dificuldade que ela tinha de achar roupas bonitas e que cabiam nela. Então, para mim, sempre foi muito importante englobar o máximo de pessoas possível”, diz.
Quando questionada sobre a possível exclusão que a volta das tendências dos anos 2000 causaria em pessoas de corpos curvilíneos e gordos, Mariana respondeu:
“Não podemos deixar a moda caminhar da forma que caminhou até agora. Precisamos reivindicá-la. Se a cintura baixa voltar, vai voltar do nosso jeito, com todos os tipos de corpos e vai continuar sendo linda.”
Mariana acrescenta que ainda está descobrindo o seu estilo pessoal. E que, para ela, seguir todas as tendências não faz sentido, pois a velocidade que algo ‘entra e sai de moda’ é muito rápida. A estudante ainda pontua: “Ela (a moda) me permite ser quem eu quiser, permite mostrar minha personalidade para as pessoas, mas também é o meu grito de liberdade”, finaliza.
O que podemos esperar do futuro?
A moda é cíclica, tendências vão e vêm, porém os corpos continuam sendo os mesmos. Por isso, marcas que já entenderam essa dinâmica estão lucrando e ganhando mais visibilidade.Um exemplo é a marca de lingerie, Savage X Fenty, da cantora Rihanna.
Além de investir em corpos plurais,- em gêneros, tamanhos e raças- a marca mantém a imagem sexy e confiante desejada pelas mulheres na hora de comprar uma lingerie, independente do tamanho da peça.
Porém, iniciativas como a da Savage X Fenty ainda são raras. Enquanto a moda inclusiva não for amplamente produzida pelas grandes marcas, a esperança de um futuro democrático, em valores e tamanhos, fica para trás.
Acho muito pertinente a abordagem do assunto, principalmente em um mundo onde as redes sociais e tendências de consumo, permeiam o modo com que nos comportamos. Que seja motivo de reflexão não só para a indústria, porém para todos nós. Excelente matéria, pauta e escrita impecável e cirúrgica!
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Muito complicado mais uma vez ver que corpos estão se tornando apenas objetos e a moda tem fugido novamente da humanidade, espero que com as inclusões sociais esses padrões mudem e as pessoas passem a ser mais saudáveis e se preocupem mais com quem são e não com o que querem representar diante da sociedade… assunto muito importante e matéria muito bem desenvolvida, incrível!!
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Infelizmente existem muitas marcas que ainda precisam ser mais inclusivas, espero que esse futuro não esteja tão distante
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ótima matéria, muito bem desenvolvida com ótimos pontos, discussões e boas informações!
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