Uma das maiores popstars da geração, Selena Gomez, sofre com Lúpus, uma doença autoimune que causa enfraquecimento das articulações, entre outros efeitos no corpo. Pensando nisso, a cantora trabalhou para que as embalagens de produtos de sua marca Rare Beauty, sejam anatômicas e não demandem força, para a fácil utilização por pessoas com a mesma condição médica.
No Brasil, o maquiador e comunicador Tassio Santos criou em 2020 o podcast Sentidos da Beleza, com objetivo de ensinar maquiagem e levar mais autonomia para pessoas cegas ou com baixa visão. Dois importantes passos no mercado da beleza e avanços na visibilidade para a causa. Ainda assim, muito trabalho deve ser feito para termos uma indústria de faro inclusiva.
Relatório de 2020 do World Health Organization (WHO) mostra que no mundo existem cerca de 1 bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência, já o IBGE aponta que 17,3 milhões estão no Brasil – o que representa cerca de 8,4% da população. E é lógico que, como qualquer um, essas pessoas têm interesse em maquiagem, skincare, cabelos, e querem se sentir bonitas e cuidadas. Mas então, por que é tão difícil vê-las representadas como parte desse universo? E mais do que isso, onde estão os produtos que abraçam esse público?
A experiência de compra na beleza
A P&G pensou em deficinetes visuais e incluiu descrição em braile em embalagens da Herbal Essences, que, por enquanto, estão disponíveis nos EUA e Canadá, mas a ideia a longo prazo é incentivar a fabricação e expandir a venda. LOccitane e Bioderma são outras marcas que utilizam a linguagem. Já a Too Faced, segundo pesquisa da Vogue Business, é bastante popular dentro deste público graças a facil identificação de alguns de seus best sellers pelos cheiros marcantes.

Vale destacar, porém, que os exemplos citados são minoria no mercado e PCDs ainda enfrentam muitos desafios de compra
Mackenzie Strong, nadadora universitária norte-americana, relatou a Allure seus maiores desafios enquanto legalmente cega (definição para pessoas que possuem 0,05 de visão no melhor olho, mesmo com correção). Para a jovem, é mais fácil fazer compras online, já que em sites ela pode aumentar o tamanho do texto, usar o zoom e pesquisar mais fotos e descrições. Em lojas físicas, os letreiros não costumam ser grandes o suficiente e as informações disponíveis são poucas, além de serem escritas em letras pequenas, o que impossibilita a leitura.
Temos, porém, um destaque positivo Made in Brazil. Da embalagem de produtos, ao site e redes sociais, a Natura carrega diversidade e equidade como dois de seus carros chefes.
Mais avanços no mercado
Um importante ponto para acessibilidade é lembrar que existem diversas deficiências e necessidades de inclusão. Pessoas são diferentes e as diferenças devem ser vistas e respeitadas.
A Kohl Kreatives, criada pela blogueira de viagem Emma Muldoon, portadora de distrofia muscular cintura, doença que causa enfraquecimento dos músculos, é um belo exemplo. A marca comercializa pincéis feitos com cerdas pensadas para peles mais sensíveis, além de ter um kit com cabos que flexionam para frente e para trás, o que facilita a rotina de pessoas com desafios de mobilidade. Os produtos também tem descrição para deficientes visuais
Já a atriz Salma Blair, portadora de esclerose múltipla, foi anunciada diretora criativa da Guide Beauty, criada pela maquiadora Terri Bryant em 2020, após diagnóstico de Parkinson. Guide conta com um extenso portfólio, as embalagens são de fácil abertura e manuseio, e o design deixa as mãos mais firmes e seguras, um facilitador para quem tem tremores e fraqueza no membro. Para a Vogue US, Blair relatou a satisfação pessoal em ter uma linha enxerga e respeita sua condição: “Quando conheci a Terri, eu tinha realmente parado de me olhar no espelho. Cortei o cabelo curto porque nem sempre conseguia levantar a mão acima da cabeça, pintei de loiro para ajudar a esconder minhas manchas de alopecia, e quando não conseguia aplicar delineador de manhã, me martirizava e meu dia estava arruinado, então eu meio que parei de dar espaço para a beleza. Mas quando comecei a usar Guide e maquiagem novamente, realmente me despertou.”
Os exemplos acima mostram também como é importante ter PCDs em cargos de liderança e criação dentro das companhias. E que, apenas das importantes mudanças listadas, ainda é necessário evoluir mais. Mackenzie pontua: “Eu amo a maquiagem e a confiança que ela me dá. Espero que, com o tempo, nós, como comunidade da beleza, consigamos achar mais maneiras da maquiagem seja mais inclusiva para pessoas com deficiências porque nós todos deveríamos poder nos sentir bonitos”