Gloria: romance, sexualidade e liberdade.

Como prometido em outubro de 2022, Sam Smith lançou seu quarto álbum de estúdio, Glória, na última sexta-feira (27). O cantor britânico deixou fãs e apreciadores ansiosos para o projeto completo depois do pequeno spoiler do que tinha por vir com o lançamento, em setembro de 2022, do sucesso Unholy, com parceria de Kim Petras. O hit alcançou o topo da Billboard Hot 100 e dominou trends nas redes sociais. 

 O álbum conta com 13 faixas e grandes parcerias como de Ed Sheeran, Jessie Reyez, Koffee e Calvin Harris, mas o que deixou a todos com uma pulga atrás da orelha foi a escolha do nome do álbum. Ao podcast Rule Breakers da BBC, Sam explica que Gloria foi o nome que deu a sua voz interior, uma voz lutadora que deve ser alimentada: “Existe uma voz lutadora em todos nós e você só precisa cuidar disso”. 

“Chamei meu álbum de ‘Glória’ porque chamei aquela voz dentro de mim de Glória. É como uma voz na minha cabeça que apenas diz: ‘Você consegue’.” Não só inspirador, o álbum também é um símbolo de empoderamento e representatividade, é sobre ter a liberdade para se encontrar dentro de si. 

Na mesma entrevista à BBC, Sam menciona sua trajetória na descoberta de sua identidade: “Acho que sempre fui não-binário, sempre fui queer. E eu sempre me senti assim”, explicou. “Muito, muito estressante e assustador, mas no minuto em que encontrei essas palavras e encontrei esta comunidade, minha paz interior se acalmou pela primeira vez em anos. Foi incrível”, finalizou o artista. 

A primeira faixa do álbum é exatamente sobre amor próprio e autodescoberta. Love Me More foi lançada a quase um ano atrás, em abril de 2022, já deixando um gostinho de quero mais para as próximas faixas. A música começa com um ar mais melancólico, mas não perde a essência dançante que Sam oferece nas suas músicas e traz uma batida contagiante que segue até o final da canção. O clipe foi lançado na mesma época e traz imagens de Sam se amando mais, literalmente!

A próxima faixa, No God fala sobre o próximo sempre querer estar certo, sobre querer provar algo. Não há uma história por trás da música, mas tem uma letra perfeita para quem quiser soltar alguma indireta: “Por que você tem que estar no controle? Quando você estiver errado, baby, deixe pra lá. Só porque é a sua opinião, não significa que está certo.” Com um som clean e leve aos ouvidos, a voz do Sam se mostra bem característica nessa faixa.

Hurting Interlude é um interlúdio – um intervalo entre as canções de um álbum, que pode ser feito através de um som ou voz. Nesse caso, Sam opta por uma voz que em 18 segundos diz: “Ter que mentir, eu sinto, é a parte mais triste e feia de ser homossexual. Quando você tem sua primeira experiência amorosa ruim, por exemplo, você não pode ir até seu irmão ou irmã e dizer: ‘Estou sofrendo’”.

A ordem das faixas foi muito bem planejada, já que o interlúdio precede Lose You, a canção que fala sobre perder o parceiro, talvez fruto de uma experiência amorosa ruim. A música não é melancólica apesar do que sua letra sugere, tem uma batida dançante, poderosa, que fala diretamente com quem quer que pretenda deixar o interlocutor da canção.

Logo em seguida, Perfect, um feat comJessie Reyez,apresenta uma vibe mais romântica. Essa música fala sobre conquista, parar com as noitadas para um provável romance ao lado de alguém: “Pode ser o tempo certo para você cara, sim. Tenho um sentimento de que pode ser você, deve ser você.” 

Finalmente chegou a hora do maior hit do álbum: Unholy. Com parceria de Kim Petras, o single viralizou no TikTok quase dois meses antes de seu lançamento. A estratégia de Sam Smith de soltar o refrão da música na plataforma para só depois lançar a música completa nos streamings teve um grande sucesso, que continua até hoje. Lançada em setembro de 2022, Unholy esbanja sexualidade e domínio. A letra fala sobre um homem “malvado” que passa suas noites no “The Body Shop”, – referência a um famoso clube de strip-tease de Los Angeles, que no clipe da música, com o mesmo nome, é localizado em Londres – sem que sua mulher descubra sobre suas ações “pecaminosas”. 

O mais interessante é que Unholy foi gravada na Jamaica e Sam explicou ao Entertainment Tonight que foi um dos momentos criativos mais gloriosos que já teve como artista: “Eu acho que sei o que quero falar agora, acho que sei quem sou um pouco mais e estou pronto para me divertir”.

Em Unholy, Sam e Kim parecem estar em um mundo mágico de atitudes profanas, de liberdade e sexualidade, além da clara representatividade que apresentam na música. A canção é o maior sucesso global lançado por artistas transgênero e não-binário. “Sempre houve artistas trans incríveis e talentosas, mas sem o devido reconhecimento.”, disse Petras à Billboard

Depois do single, a sétima faixa do álbum é How To Cry, também mais inclinada a uma vibe melancólica, a qual Sam sabe bem como fazer. A música fala algo sobre mentiras, não mostrar sentimentos e a dor que isso causa aos outros. “Porque ninguém te ensinou como chorar, mas alguém te ensinou como mentir”.

Six Shots, a oitava faixa do disco, tem uma melodia sexy, o que combina muito com a letra da canção, que mistura bebida com prazer. Com direito a comparações, o artista diz ser como um Whiskey, o que atinge fortemente mas tem um gosto doce, por isso se torna difícil de ser amado: “Não tem como me amar, não tem como. Você diz que precisa de mim, mas não me conhece. Sou do tipo escuro (Whiskey), para sempre sozinho”

A próxima faixa com parceria de Koffee e Jessie Reyez, Gimme, apresentou um grande potencial para se tornar um hit desde o dia de seu lançamento nas plataformas, 11 de janeiro. A música é sensual, contém uma batida impactante e sexy e esbanja euforia com a voz de Jessie Reyez, mais nasal, que combina muito com o estilo da canção, assim como a da cantora jamaicana Koffe, que leva um sotaque característico aos versos da música. 

O clipe de Gimme foi lançado no dia 13 de janeiro e também entrega muita sexualidade de Sam, Jessie e Koffee. Se passa em uma balada e todos exercem livremente seu desejo de ser quem são, com muito beijo, bebida e dança. “Você tem o que eu quero e é melhor você me dar, me dar. Eu mexo com o seu corpo, então mexa o seu corpo junto ao meu”.

Depois de Gimme, Sam escolhe mais um interlúdio para separar as canções que estão por vir. Dessa vez, Dorothy´s Interlude tem 8 segundos e a voz no áudio é de Judy Garland, a atriz que interpretou Dorothy em O Mágico de Oz (1939) e se tornou um dos primeiros ícones gay da história. O áudio diz: “Como é para uma propagação central. Além do arco-íris. Acredite no poder gay” e faz várias referências aos “amigos de Dorothy”, como a comunidade gay era chamada na década de 50 e 60 em Londres, onde viviam sob ameaça e violência e acabaram encontrando nas representações de Judy um lugar de acolhimento.

Mais um feat com Jessie Reyes e dessa vez também com Calvin Harris, I´m Not Here To Make Friends fala sobre amar. A melodia se parece com uma balada electropop, bem animada ao estilo Calvin Harris e o refrão é contagiante, faz o ouvinte querer dançar e cantar com Sam. O clipe foi lançado recentemente, no dia 27 de janeiro, e combina muito com a canção. Dirigido por Tanu Muino, ele entrega cores vibrantes e muita festa. Smith aparece vivendo plenamente e livre, com looks icônicos, como plumas, penas e diamantes, além da já esperada sensualidade que se tornou uma marca registrada do álbum.  

A décima segunda faixa leva o nome do álbum, Gloria, que tem apenas 1 minuto e 50 segundos, se parece mais como uma canção sacra, um coro, e fala sobre ser quem é, sobre brilhar como um diamante e cantar um hino a ‘Gloria’. 

Finalizando o álbum, o grande e mais esperado feat aconteceu: Sam Smith se juntou com o também britânico Ed Sheeran para uma parceria poderosa em Who We Love. A letra é bonita e romântica, fala sobre amar quem se ama, sobre não poder escolher o amor, pois seu coração sabe mais do que você mesmo. A voz de Sam combinou perfeitamente com a de Ed, trazendo uma sensação de calmaria e romance a melodia da música. 

Sam coleciona em sua carreira mais de 35 milhões de vendas de álbuns, 260 milhões de vendas de singles e 45 bilhões de streams. Desde sua estreia no dia 27, Gloria liderou os charts, estreando como número 1 do Top Albums Debut Global, se tornando um dos maiores sucessos do artista nas paradas.

Gloria se tornou um marco na carreira de Sam. Sendo seu quarto álbum de estúdio, é onde ele se redescobre e se livra das amarras de uma sociedade preconceituosa e sufocante, mas que também há uma revelação criativa e pessoal sobre sua vida e sua carreira. Ao contrário do que parece ser em algumas canções, o álbum não é melancólico e nem feito para quem teve o coração partido, mas é uma marca de expressividade e foi a forma que o artista encontrou para mostrar sua construção identitária interior e exterior. 

O álbum é um misto de paixão, sexo, autoconhecimento e confiança, sendo o mais criativo e expressivo na carreira do britânico. Misturando temas improváveis como sexualidade e religião, o álbum conseguiu transbordar a sensação de libertação, tanto de seu corpo como o de sua alma, e finalmente liberou sua “Gloria”!

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