Artistas contemporâneos mostram que o punk é uma tendência na indústria musical

A indústria musical tem revelado novos artistas dispostos a explorar o punk. Como exemplo disso, nos últimos anos, Machine Gun Kelly esteve em evidência por seus dois álbuns de pop punk, enquanto Olivia Rodrigo e Willow também emplacaram hits do gênero. Recentemente, Doja Cat, em entrevista à Variety, afirmou que deseja explorar o punk como uma alternativa sonora. Isso mostra uma possível tendência de artistas a migrarem para o gênero, mesmo não estando tradicionalmente posicionados nele desde o início. Mas por que faz sentido para eles explorar esse gênero em específico?

Para compreender esse cenário, é importante entender os diferentes significados dentro do punk. É um movimento cultural que abrange não só a música, mas também a moda, a arte e a literatura. Ele surgiu nos Estados Unidos e na Europa como uma alternativa à complexidade do hard rock e do rock progressivo. 

Esses gêneros possuem características musicais muito elaboradas, como utilização de técnicas apuradas e cuidadosamente aplicadas às músicas. O punk, por sua vez, apostava na simplicidade dos arranjos e na objetividade. Com isso, aliado a suas letras com caráter político e social, ele teve o seu início em 1970 já remando contra a maré.

Tendo Ramones, The Clash e Sex Pistols como algumas das bandas de vanguarda, o movimento passou a ser uma oportunidade de inclusão para jovens que se sentiam desconectados da sociedade. Dentre as principais características, a estética de rebeldia, as roupas rasgadas e os metais e tachas. Musicalmente, parte dessas bandas destacaram-se também pelos vocais que esbanjavam espontaneidade, e não necessariamente um primor técnico. Portanto, o foco era no movimento, na cultura e na mensagem das músicas.

Com o passar dos anos, surgiram diversos segmentos do punk. Dentre eles, o pop punk e o punk hardcore. O primeiro é o nicho de diversas bandas muito famosas, como blink-182, Green Day e Simple Plan. É algo que agrada mais o mainstream e faz sucesso considerável desde os anos 90. Suas letras contam com temas mais pessoais e amorosos. 

Enquanto isso, o segundo possui uma sonoridade mais forte e agressiva, contando com letras sobre questões políticas e um caráter evidente de enfrentamento à sociedade como um todo. Ao contrário do punk tradicional, o hardcore não deu tanta atenção ao visual, abandonando, por exemplo, os cabelos exóticos. O subgênero possui, dentre suas principais bandas no final dos anos 1970: Black Flags, Dead Kennedys e Bad Brains.

Hoje, existem motivos que fazem o punk ser possível de ser explorado por artistas distintos em momentos diferentes de suas carreiras. Para Machine Gun Kelly (MGK), por exemplo, foi uma boa opção afastar-se um pouco do rap e buscar outras oportunidades e públicos. Mas o que fez o artista escolher especificamente o pop punk foi que existia sentido em explorar a estética de um subgênero mais leve, de músicas sobre assuntos pessoais e com letras pegajosas. Essas características combinavam com os seus trabalhos anteriores, e ele pôde se aproveitar disso escolhendo um gênero que traz a leveza do mainstream sem deixar de lado a rebeldia do punk.

Clipe de Bloody Valentine, um dos principais hits de MGK

No caso de MGK, a escolha foi um sucesso — e ele até chegou a reconhecer isso em uma entrevista à Billboard. Prova disso é que, mesmo após o anúncio do artista de que iria voltar para a sua era de rap, ele continua esbanjando participações em festivais de rock e de metal, que são gêneros com uma cultura mais alinhada à do punk que à do mainstream.

Seguindo a mesma linha, a cantora Willow também experimentou o pop punk em algumas de suas canções, como transparent soul e a própria emo girl, com MGK. Os vocais poderosos da cantora adaptam-se de forma que faz ser nítida a tendência da nova geração da música de abraçar o pop punk como um gênero relevante para diversificar o seu cardápio de estilos musicais.

Clipe de transparent soul, de WILLOW

Outra artista que evidenciou a escolha pelo pop punk como opção foi Olivia Rodrigo, que trouxe em seu álbum Sour duas canções com a sonoridade pop punk bem marcadas: brutal e good 4 u. No entanto, essa linha do punk que os artistas têm seguido traz menos ruptura com relação ao pop e é uma forma de explorar novos caminhos sem sair completamente do mainstream.

O que Doja Cat indicou ter desejo de fazer é explorar um subgênero do punk que possui uma divergência maior do pop, que é o punk hardcore. Esse seria um movimento diferente do que tem sido observado na indústria musical.

Doja Cat estampando a capa da revista Variety. [Imagem: Divulgação/Twitter]

Os últimos anos da carreira de Doja contaram também com posicionamentos contra a indústria musical no geral. Ela chegou a afirmar que não gosta de se sentir pressionada a fazer as coisas de uma forma que ela não gosta de fazer, como participar de ensaios fotográficos com frequência e atividades comerciais do tipo. O posicionamento pessoal da cantora sem pensar no que a indústria irá achar é interessante do ponto de vista do anti-establishment — que é uma forte característica do punk hardcore. Um bom exemplo disso é a atitude dela de raspar o cabelo e as sobrancelhas por uma vontade própria, já que não gostava de ter cabelos.

Esses fatores aproximam a estética de Doja Cat do punk hardcore, que possui esse caráter de enfrentamento e de posicionamento forte. A cantora — também na entrevista à Billboard — demonstrou, inclusive, ser admiradora de IDLES, uma famosa banda de punk.

Clipe de MOTHER, da banda IDLES

A escolha pelo punk ou por algum dos seus subgêneros tem sido feita por diversos artistas do pop e do rap mainstream. Em cada caso, há um sentido para que essa opção seja plausível. Com motivos para o hardcore ser uma possível opção, resta esperar para ver como uma estrela de pop e rap internacional, como Doja Cat, sairá no punk hardcore, que ainda não foi explorado com tanto afinco por algum artista recente.

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