Governo Lula: Entenda a relação com as forças armadas

Desde que foi anunciado o resultado das eleições presidenciais de 2022, que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva contra o então presidente Jair Bolsonaro, levantam-se expectativas sobre em que termos se daria a relação do novo chefe do executivo com as forças armadas. De um lado, os apoiadores de Lula mais à esquerda esperavam que o presidente adotasse uma postura incisiva em relação à participação de militares no poder, relembrando a simpatia de muitos integrantes das forças armadas com Jair Bolsonaro.

Do outro, se viam quarteis ocupados por civis pedindo por intervenção militar. Nos grupos de WhatsApp, pipocavam mensagens de tom quase apocalíptico sobre os riscos que o Brasil estaria correndo diante de um novo governo do PT.

No meio deste tabuleiro, um presidente recém eleito movimenta as peças para conciliar setores antagônicos de seu governo.

O recado foi dado no dia 9 de Dezembro de 2022, quando Lula anunciou os primeiros nomes que viriam a compor a Esplanada dos Ministérios. A pasta da defesa ficou com José Múcio Monteiro, político experiente que já trabalhou com Lula e possui bom trânsito entre bolsonaristas. O anúncio chamou atenção por colocar a liderança da Defesa nas mãos de um civil, diferente do que foi feito por seus antecessores Michel Temer e Jair Bolsonaro. O recado de Lula, como já se esperava, foi o da conciliação. Buscou-se apaziguar os ânimos e as desconfianças de militares, ao se escolher um nome bem relacionado entre eles.

Múcio, porém, desagradou apoiadores do presidente e analistas políticos ao afirmar que os acampamentos organizados frente aos quarteis pedindo intervenção militar seriam uma “manifestação democrática”. O ano virou e especialistas já alertavam sobre a possibilidade de as manifestações escalarem para uma ação violenta aos moldes da invasão ao Capitólio em 2021, nos Estados Unidos.

Não causou surpresa, portanto, quando na tarde de 8 de Janeiro, os noticiários começaram a transmitir cenas de cidadãos comuns trajados de verde e amarelo invadindo o Congresso Nacional. Porém, diferente do que ocorreu nos Estados Unidos, por aqui não houve nenhuma repressão aos terroristas por parte do Exército ou da Polícia Militar. As imagens apuradas apontam que há um alto grau de conivência entre as Forças Armadas e os movimentos golpistas.

Desde então, o presidente subiu o tom e iniciou um processo de “desbolsonarização” da máquina estatal, atingindo cargos de alta e baixa patente. Temendo novos casos de insubordinação, Lula deve escolher a dedo aqueles que deverão compor os cargos comissionados de seu governo. Em declaração feita no dia 23 de Janeiro, o presidente disse não sentir confiança na sua equipe de segurança

“Agora, por exemplo, eu não tenho ajudante de ordens. Meus ajudantes de ordens são meus companheiros que trabalharam comigo antes. Por que eu não tenho? Eu pego o jornal está o motorista do Heleno dizendo que vai me matar e que eu não vou subir a rampa. O outro diz que vai me dar um tiro na cabeça e que eu não vou subir a rampa. Como é que eu vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro? Então eu coloquei como meus ajudantes de ordem os companheiros que trabalham comigo desde 2010, todos militares.”…

Na última segunda-feira (30/01), Lula concluiu o processo de substituição do quadro de funcionários do Gabinete de Segurança Institucional, nomeando 121 militares após ter dispensado mais de 70 militares nas últimas semanas. O presidente também transferiu a Agência Brasileira de Inteligência para a alçada da Casa Civil. Esse movimento faz parte de uma estratégia para trazer nomes de confiança para o entorno do presidente e, assim, se blindar do golpismo. Esses esforços também incluem a nomeação de mais civis para cargos comissionados, ao contrário do que fez Bolsonaro.

Um relatório feito pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) apontou que a participação de militares em cargos de natureza civil aumentou em cerca de 70% no governo Bolsonaro em relação ao governo Temer. Muitos desses cargos foram ocupados de maneira irregular e a maioria das irregularidades se refere a militares que ocupam cargos civis sem autorização para tal.

Essa situação, somada aos ataques de 8 de Janeiro, indica que os próximos anos serão um período de desmilitarização da máquina estatal. Lula deve fazer o cálculo correto para manter uma boa relação com o setor e, ao mesmo tempo, impedir novos episódios de insubordinação. No Brasil, onde historicamente há um alto nível de participação de militares na política, essa não será uma tarefa simples.

Fontes: G1 e BBC

Escrito por: Rubia Alpino

Créditos imagem destacada: Reuters

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