[Crítica] Ocean Blvd: mais um álbum que seguiu a fórmula ‘Lana Del Rey’

Elizabeth Woolridge Grant. Este é o nome da mulher que em menos de uma semana atingiu, novamente, o topo das paradas de sucesso americanas e britânicas. Conhecida popularmente como Lana Del Rey, a cantora americana lançou nesta última sexta-feira (24) seu nono álbum de estúdio, Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd. 

Com 78 minutos e 16 faixas, Lana trouxe histórias de sua família, a ideia de vida após a morte e o paradoxo entre querer passar despercebida, mas também a necessidade de se sentir vista. Dessa vez, o tema “relações amorosas” não foi o foco principal de sua obra, uma mudança que foi bem recebida pelo público geral. De acordo com a Chart Data, seu novo disco teve a maior estreia de sua carreira no Spotify.

Capa do novo álbum de Lana Del Rey [Imagem: Reprodução/Pitchfork]

Começando com The Grants, uma canção melódica e até mesmo religiosa, que aborda questões sobre espiritualidade e questiona seus familiares, amigos e a si mesma sobre como será sua vida depois de sua morte. A mistura entre a voz suave da cantora e o coral foi excepcional. 

Em seguida Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, faixa que leva o mesmo nome do disco e foi lançada três meses atrás. É possível ver a Lana que conquistou milhões de fãs por seus questionamentos sobre o amor implorando para ser amada até que ela consiga se amar, além de trazer a melodia suave característica de suas obras.

A terceira canção é Sweet. Com uma harmonia entre voz, piano e violino, a cantora deixa claro ao seu futuro amor o tipo de mulher que ela é, como se comporta e suas expectativas com a relação. É um desabafo camuflado, mas muito bem construído. A&W é a próxima. Escrita na perspectiva de outra mulher e com 7 minutos de duração, Del Rey conseguiu transcender a inquietação trazida na letra para o ouvinte. É uma música que abre portas para interpretações e que foge um pouco da estética melancólica que os fãs estão acostumados. 

Judah Smith Interlude traz o diálogo de um homem confuso, que quer abandonar seus filhos e sua mulher e questiona Deus sobre o que está acontecendo em sua vida, pedindo para que Ele consiga fazê-lo amar sua realidade e sua família. É a dramaticidade que a cantora gosta de acrescentar a seus trabalhos. Contudo, é uma faixa que, provavelmente, será pulada pela maioria. 

Em parceria com o pianista Jon Batiste, Candy Necklace é uma música que traz a sensação de déjà vu, com uma melodia e letra que não surpreendem. É uma canção que poderia ser encaixada em qualquer um dos discos anteriores. A faixa seguinte, Jon Batiste Interlude, é um interlúdio de Joe esbanjando sua habilidade no piano. 

Kintsugi significa ‘’a arte de reparar cerâmicas quebradas’’ em japonês e é o nome da oitava faixa. Em entrevista para o canal da Rolling Stones, Lana detalhou ainda mais sobre a técnica, explicando que os reparos são feitos com ouro a fim de deixar a peça ainda mais bela. A artista considera que o mesmo aconteceu com ela após seu processo de cura.

É uma canção longa, mas com um significado muito bonito. A cantora relembra do falecimento de familiares e como ela lidou com o luto e se remendou. A simplicidade proposital no que tange ao arranjo instrumental contrasta com a letra densa, enriquecendo ainda mais a música. 

Fingertips ocupa a nona posição no disco e foi a primeira faixa a ser mencionada pela cantora em 2022, na edição de maio da W Magazine. Com pouquíssima instrumentalização e estrutura empobrecida, foi feita após a junção de uma série de áudios que Del Rey gravou em seu celular. A inquietação e a dúvida sobre maternidade são os temas principais. A cantora se questiona repetidamente sobre a possibilidade de fracassar como mãe. 

Paris, Texas possui a liricidade de Lana e samples de I Wanted to Leave de SYML. O contraste entre uma das capitais mais turísticas e mais adoradas do mundo e a simplicidade das cidades do interior dos Estados Unidos emana ao longo da canção, com Del Rey citando repetidamente sobre a necessidade de voltar para casa, mesmo podendo estar em qualquer outro país.

Lana Del Rey [Imagem: Reprodução/PitchFork]

Grandfather please stand on the shoulders of my father while he’s deep-sea fishing conta com a participação de RIOPY. É uma música boa, mas não se destaca, pode ser considerada mais do mesmo r. Continuamos com Let The Light In, que conta com a participação do padre John Misty. É uma canção sugestiva que retrata um affair entre um casal com a personagem feminina querendo ser mais do que uma simples amante. É uma melodia gostosa de se ouvir, além das vozes que contrastam bem.

Margaret é a décima terceira faixa e recebe o nome da esposa de Jack Antonoff, da banda Bleachers, que faz featuring na canção. É uma balada que seria uma ótima trilha sonora, mas não é nada excepcional. Algumas músicas do álbum se encaixam nessa característica, e Fishtail também é uma delas. A composição carrega a necessidade de Lana receber alguma demonstração de carinho de seu parceiro, algo que estava sendo inconsistente na relação.

Peppers é a penúltima faixa do álbum, contando com a presença do rapper canadense Tommy Genesis. O título faz referência à banda Red Hot Chili Peppers e é, basicamente, a repetição de um mesmo verso ao longo da canção inteira, acrescentando algumas outras frases ali e aqui. No entanto, é uma das poucas que fogem do ritmo tradicional e melancólico da cantora.

O disco se encerra com Taco Truck x VB, trazendo uma pegada mais positiva sobre a vida amorosa de Lana e dando a entender que ela está em um novo relacionamento. VB faz menção a Venice Bitch, uma das canções do álbum Norman Fucking Rockwell. Originalmente, a canção se chamaria ‘Bonita’, a fim de combinar com o trecho: ‘’É por isso que eles me chamam de Lanita, quando eu vou até o chão eu sou bonita’’. Independente do nome, é uma faixa envolvente e uma bela maneira de finalizar o álbum. 

Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd é, sem dúvida alguma, um álbum que divide opiniões. Para aqueles que gostam de Lana Del Rey devido à forma que ela escreve sobre o amor romântico, esse disco não possui tantas canções focadas nesse tema. Mas, mesmo assim, uma coisa é fato: independente do tema, as letras da cantora são uma forma de poesia que só ela consegue fazer. É singular. É uma de suas assinaturas. 

No entanto, aqueles que acompanham Del Rey já esperam isso dela, as letras bem construídas não são uma surpresa. Se a cantora buscava mais inovação com esse disco, teria que fazê-la na parte melódica, criando novos arranjos e saindo um pouco mais da sua zona de conforto. Bom, não foi isso que aconteceu. Apenas três músicas fogem do padrão ‘sad girl’. Para aqueles que gostam dessa fórmula que Lana domina há anos, é um bom álbum. Bem construído e bem pensado.

Por outro lado, para aqueles que não amam essa estética melancólica, o disco não se destaca, podendo ser facilmente confundido com qualquer outro trabalho da cantora. As melodias são repetitivas, e a liricidade, apesar de bem feita, não é o suficiente para prender o ouvinte e convencê-lo a ouvir o álbum mais uma vez.

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