Uma febre dos anos 2000, as comédias românticas perderam muito destaque no cenário cinematográfico. Apesar de muitas questões envolvidas neste enlace, é bem verdade que os fãs do gênero – assim como eu – nunca se conformaram com o sumiço dos romances açucarados das telas do cinema.
Em pleno 2023, após tantas reviravoltas políticas e tecnológicas, se tornou imprescindível ter um feeling de como abordar um filme melodramático de forma certeira e que se comunique não só com os órfãos da comédia romântica, mas também com a atenta geração Z.
Rye Lane: Um Amor Inesperado, faz isso de forma criativa e refrescante. A estreia da diretora, Raine Allen-Miller, já é aclamada. Com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme sem dúvidas deixa um quentinho no coração.
O elenco do longa segue a mesma linha da narrativa, com direito a uma química impecável: Dom (David Jonsson) e Yas (Vivian Oparah) são um casal que nós torcemos por um final feliz. Com protagonistas negros, Rye Lane, redefine positivamente os panoramas do gênero, tão acostumado com atores brancos no papel principal. O roteiro traz aquele sentimento doce que só uma boa romcom pode causar e a escolha do casal de protagonistas contribui para isso.
UMA HISTÓRIA ENCANTADORA
A receitinha é a que já conhecemos: um “cara” introspectivo encontra uma menina meio doidinha que vai salvar a sua vida. Não há nada de novo sobre a fórmula, mas é gostoso assistir a trajetória contada através dos caminhos que eles passam: situado no sul de Londres, o Rye Lane Market é conhecido pela sua vivacidade no meio do cinza londrino.
Numa ode à “Antes do Amanhecer”, os diálogos inteligentes e divertidos nos contam a situação de Dom e Yas, dois jovens londrinos se recuperando de seus términos de namoro, e se conhecendo a partir de suas pequenas tragédias enquanto recuperam um pouco da fé no romance.
Quando se conhecem, um inconsolável Dom, chora dentro de uma cabine de banheiro público ao rever fotos e vídeos com a ex. Yas – que se encara no espelho e se autointitula uma idiota – percebe sua presença e seu choro alto e cômico. “Isso é um momento privado”, diz Dom enquanto Yas responde, “Bom, não tão privado assim”. Um meet cute divertido e na medida.
Os dois estão em uma exposição de arte de um amigo em comum e o estranhamento com a situação é constrangedor para ambos. O grande plot twist é que Yas reconhece Dom pelo seu calçado – um tênis rosa -, mas Dom não faz ideia que foi com Yas que trocou algumas palavras no banheiro.
A partir daí, a jornada é marcada pelo casal caminhando pelo bairro londrino onde tudo acontece e nada acontece, já que os dois estão muito ocupados se apaixonando um pelo outro. No clichê romântico há reencontros com os ex, conversas infindas sobre a vida, futuro e passado.
Yas tem o sonho de ser figurinista e é incentivada por Dom a perseguir sua vontade enquanto o rapaz está acomodado com sua vida na casa dos pais e é encorajado pela fashionista a ser mais independente. A via de mão dupla é um bonito acordo que os faz se conectar mesmo que mais tarde na história exista um ruído de comunicação entre eles, como todo bom filme de comédia romântica.

Foto por Chris Harris/ Cortesia de Searchlight Pictures.
Os recursos usados para contar a narrativa ajudam a dar o tom colorido e divertido: O jeito de filmar os atores em close-up e com um leve fisheye (lente que concede um formato arredondado a imagem), a iluminação neon e colorida na maior parte das cenas, o figurino atual e street dos personagens e a direção de arte impecável quanto a contar e diferenciar os lugares em que eles passaram sem perder a estética principal proposta: cor e intensidade.
A trilha sonora concede ritmo em certas falas dos personagens que conforme contam suas histórias, ganham um beat de fundo projetando o telespectador para uma música de rap improvisada.
Os flashbacks de situações vividas são um entretenimento à parte, e a cena em que Dom descobre a traição de sua ex com seu melhor amigo é hilária. Quanto à montagem, não há pressa para contar a história e não existe um delay ou tempo parado no filme.
Porém, em determinada cena – a que Yas vai à casa da ex-sogra buscar um item importante – a ordem com que ela aparece no filme pode soar como um tempo lento para quem assiste devido a velocidade com que as coisas acontecem. Ainda assim, Rye Lane se recupera rapidamente com a ida dos protagonistas ao karaokê, em um momento mais que fofo e importante para a trama.
A última cena mostra a reconciliação dos protagonistas com direito a um grande gesto e o primeiro beijo do casal! Tudo que a gente quer assistir em um final de filme.
Rye Lane é divertido, engraçado e se destaca pela maneira de contar a história. Uma comédia romântica atual e leve de assistir, então é possível que você se pegue entre risinhos bobos a cada momentinho de conexão entre os personagens. Vale a pena para aquele final de semana preguiçoso, com direito a muita pipoca e uma companhia gostosa ao lado.

Adorei o comentário, muito pertinente sua abordagem,continue assim,escreve muito bem!!!!
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