Skin positivity: a aceitação da (im)perfeição

Depois de anos marcados por uma sucessão de padrões de beleza, parece que chegamos em um período marcado pela liberdade. Nos últimos três anos – como um reflexo dos tempos reclusos durante a pandemia, que nos forçaram a lidar com nós mesmos – a discussão sobre a auto aceitação no que diz respeito à aparência cresceu de uma maneira notável. E dentro deste tema, o movimento que incentiva a aceitação da pele como ela é, chamado de skin positivity – “pele positiva” – ganhou lugar de destaque, já que a cútis é o que mais nos guarda, ao mesmo tempo que é o ponto mais exposto de nós.

Basta pesquisar pela #skinpositivity nas redes sociais para se surpreender com a quantidade de conteúdo voltado à valorização das (antes consideradas) imperfeições da pele como um todo. Parece que as pessoas se cansaram das fotos cheias de retoques que desaparecem com os poros, eliminam as marcas de expressão e dos filtros que transformam as pessoas em versões impecáveis de si mesmas, ainda que irreais. Uma das bases do skin positivity é enxergar as marcas na pele como marcas da vida, representantes da história de cada um e traços da singularidade que nos torna únicos, nos levando a entender que demonizar o comum é só mais uma armadilha para que caiamos em um espiral de insegurança. 

As fotos das pessoas que abraçam essa causa mostram que acne, rosácea, dermatite, manchas e cicatrizes não são uma exclusividade nossa, mas sim, ocorrências que podem afetar qualquer pessoa, até mesmo aquelas que pensamos serem perfeitas (e que, na realidade, só sabem disfarçar bem). O que, para muitos, é considerado um problema ou uma vergonha, na verdade pode ser uma resposta e um sinal de nosso corpo de que algo dentro de nós não está bem (já que existem situações em que determinadas marcas são, de fato, problemas de saúde e precisam de tratamentos mais intensos e que tenham a intenção de erradicar o problema), materializando o dizer “quando a mente cala, o corpo fala” e, por isso, é importante entender que transformar esses sinais em mais um ponto de estresse, definitivamente não é a melhor opção.

Para a médica dermatologista, Dra. Thatiana Chaves, o movimento de aceitação que guia o skin positivity faz parte da nova maneira como as pessoa têm visto os padrões de beleza, “Na minha prática, eu observo pacientes com acne, rosácea e vitiligo [por exemplo], aceitando esse processo de uma forma mais consciente“, mas ressalta que até mesmo essa nova definição de beleza, quando desalinhada com a realidade, pode transformar o processo em uma experiência tóxica e, por isso, saúde mental e física devem caminhar juntas: “É preciso buscar saúde tanto fisicamente, quanto mentalmente, por isso, primeiro [a pessoa] deve se aceitar e reconhecer a sua própria beleza antes de assumir qualquer tratamento. Isso ´é muito importante.

Neste sentido, a profissional destaca que, quando isso acontece, em decorrência do assentimento da naturalidade e do respeito aos ciclos da pele, o processo, consequentemente, fica mais leve, pois os pacientes chegam ao consultório mais preparados: “As pessoas chegam no consultório mais conscientes do processo que envolve o tratamento e entendem que a pele é um órgão complexo, que não há como melhorar uma condição crônica de um dia para o outro e, por isso, acabam se adaptando melhor à terapêutica.” Todavia, é preciso saber que existem situações em que intervenções mais urgentes se fazem necessárias, e a Dra. Thatiana ressalta que, para ela, o limite se encontra quando as intercorrências vão além de questões meramente estéticas e podem impactar a saúde de forma direta: “Geralmente, uma pele saudável pressupõe certos cuidados. Se há tendência à acne, por exemplo, e ela surgir com cicatrizes que podem, no futuro, causar algum impacto no paciente, não se trata apenas de um caso de aceitação passiva, é preciso iniciar um tratamento, pois isso pode causar um dano em longo prazo.

No entanto, vale ressaltar que esse movimento de aceitação não é uma forma de oposição aos cuidados com a pele, muito pelo contrário: justamente por valorizá-la, a proteção e a rotina de skincare são incentivadas como forma de promover saúde da cútis, porém respeitando os momentos, as respostas e as reações naturais dela. Para o skin positivity, o autocuidado é um aliado do bem-estar e não um meio de se atingir a – inatingível – perfeição.

Por fim, é importante compreender que a pele é o maior órgão de nosso corpo e seu papel principal é nos proteger das agressões externas. Apesar de, por vezes, serem incômodas, as marcas que ficam nela não devem ser vistas como motivo de vergonha, mas de demonstração de que ela tem cumprido sua função.

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