Relacionamentos online: a nova forma de amar.

“Estamos vivendo no mundo pós-moderno onde os relacionamentos amorosos estão sofrendo uma transição e tornando-se mais frouxos, livres e transitórios, onde as pessoas estão buscando uma necessidade cada vez maior de satisfação pessoal.”

— Bauman (em Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos, 2004, p. 190)

Tinder. Badoo. Parperfeito. Grindr. Zoe. Her. Scruff. Esses são alguns dos inúmeros apps de relacionamento que existem pela internet. Com a sua crescente popularização, um novo hábito foi criado: o de se relacionar virtualmente. Não é novidade para ninguém que chegamos à pós-modernidade e, como consequência, a acessibilidade das novas tecnologias da informação e comunicação sofrem algum tipo de modificação. Devido a essas inclusões, o que não faltam são os aplicativos para se relacionar (Instagram e Twitter também entram nesta lista). 

O amor que bem conhecemos hoje com o poder de escolha surgiu em meados do século XX, já que antes disso o casamento era tratado como um acordo – uma aliança – no qual as mulheres eram vistas como seres intocáveis; os pais escolhiam seus pretendentes e algumas uniões eram apenas um “contrato” para formar um bom laço entre as famílias. Com o passar dos anos, o namoro foi se tornando um pouco mais “livre”, e a chegada da pílula anticoncepcional ao Brasil na década de 60 trouxe uma enorme mudança nas relações sexuais e amorosas. Em contrapartida, após alguns anos, com o surgimento da AIDS, os jovens começaram a repensar e aderiram ao uso da camisinha. Após esse contexto, já na década de 90 para o início dos anos 2000 (1997/98), o primeiro site (reconhecido) de relacionamento surgiu – o SixDegrees – onde era possível criar perfis e lista de amigos. 

Foi com o uso crescente dos celulares que os namoros passaram a ter um estilo muito diferente, assim como o papel da mulher nas relações e a desconstrução do tabu sexual.

Querendo ou não, a pandemia tornou a população ainda mais familiarizada quando o assunto era encontros online. Apesar da distância e da falta de contato físico, ninguém deixou de se relacionar amorosamente. Um exemplo disso foi o aumento de usuários e conversas à procura de um match no Tinder — segundo o próprio chefe do aplicativo —  durante este período. Assim, não apenas em conversas, a tecnologia mudou como se consome, pensa, produz e se vê o sexo. Em outras palavras, o que se executava no mundo real passou a ser produzido remotamente. Isso explica também o aumento de pesquisas em sites pornográficos durante a quarentena.

Seguindo essa ideia de mudança da realidade, temos impacto até mesmo no campo da Inteligência Artificial (IA). Há pouco tempo foi criada uma IA de avatares chamada Snack. O avatar ficará encarregado de avaliar e conversar com outros usuários para que posteriormente encaminhe o perfil da outra pessoa para que tenham uma conversa real. Bizarro, né? Mas, por outro lado, é aceitável evitar conversas chatas que chegam a lugar nenhum pelo chat. Afinal, a proposta é justamente essa. 

Não há dúvidas que daqui um tempo isso evolua ainda mais.

A questão é: Relacionamentos virtuais são mais vantajosos?

“Para os atuais corações solitários, as discotecas e bares para solteiros são uma recordação distante. Eles não adquiriram (e não temem não ter adquirido) o suficiente em termos de ferramentas de sociabilidade que fazer amigos em tais lugares exigiria. Além disso, o namoro pela internet tem vantagens que os encontros pessoais não têm: nestes últimos, o gelo, uma vez quebrado, pode permanecer quebrado ou derreter-se de uma vez por todas, mas no namoro pela internet é muito diferente”, complementa Bauman em seu livro citando Louise France (2004, p 190)

A verdade é que além da internet as pessoas interpretam o amor de uma outra forma: muitos possuem medos e bloqueios de estabelecer vínculos mais profundos e compromissos com o outro. É o que de fato faz refletir sobre interesses e individualismo. A rede tem como principal atividade conectar e desconectar (online e offline); basta um clique e fica mais fácil ainda adicionarmos alguém como amigo, mesmo que não troquem uma palavra. A facilidade de cortar relações também entra na lista, apenas um “block” pode resolver todos os problemas. E lógico, o medo de entrar em “problemas de relacionamento” como na vida real, lidar com pessoas diferentes e interesses diferentes está fora de cogitação. Para isso, as redes sociais podem ser vistas como um catálogo de compras, algo completamente descartável se não alcançar suas expectativas. Há, sim, quem deixou as redes para se relacionar pessoalmente. Mas quem disse que alguns não voltam ao mercado?

Bauman pode estar certo quando diz que os amores estão mais frágeis e que aqueles que não estão satisfeitos buscam novas experiências. O futuro, apesar de estar aí, ainda é incerto. O contato é essencial, mas, para algumas pessoas, ficar na zona de conforto e ter conexões online – sem sofrimento e sem problemas – é o melhor caminho a se seguir.  

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