Depois de romper com a imagem de boa garota em Bangerz, esbanjar psicodelia ao lado de Wayne Coyne em Dead Petz, retornar às suas origens do country em Younger Now e aprimorar uma postura de rockstar em Plastic Hearts, Miley Cyrus deu início a uma era de maior potência em sua carreira com o lançamento de Endless Summer Vacation na últimasexta-feira (10).
O oitavo álbum de estúdio da artista contém 13 músicas, que é dividido em duas partes – a primeira representa a manhã, com baladas mais sensíveis, e a segunda a noite, com canções que remetem a era disco oitentista e um grunge discreto dos anos 70. Além de conter a participação das cantoras Sia e Brandi Carlile, os principais produtores e compositores que fazem parte do projeto são Greg Kurstin, Kid Harpoon, Tyler Johnson, Mike Will Made-It e Michael Pollack.
Capa de Endless Summer Vacation [Imagem: Reprodução/Instagram]
O grande carro-chefe do disco, Flowers, é uma canção que sintetiza a narrativa contada por Miley em Endless Summer Vacation: a mensagem do amor-próprio. Os números da música falam por si só sobre seu potencial — são 289 milhões de visualizações no YouTube, 646 milhões de streams no Spotify e seis semanas no topo da Billboard Hot 100, parada de sucessos dos Estados Unidos, e da Billboard Global 200.
Em meio a esse sucesso, os fãs da cantora colocaram em debate algumas teorias da conspiração envolvendo o ex-marido de Cyrus, o ator Liam Hemsworth. A música foi lançada no dia 13 de janeiro, dia do aniversário de Hemsworth. Além disso, de acordo com alguns rumores, a casa utilizada no clipe foi o local onde o ator se encontrava com as amantes durante o casamento.
E, por fim, a canção faz uma inteligente resposta à atemporal When I Was Your Man, de Bruno Mars – que Liam teria dedicado à Miley durante a festa de noivado do casal. É inegável que Flowers foi uma ótima escolha para debutar a nova fase da artista.
Em seguida, Jadedé um pedido de desculpas mesmo após um manifesto sobre autossuficiência. Ela mostra o outro lado da moeda de alguém que, apesar de já ter superado o fracasso em um relacionamento, também assume sua parcela de culpa. “É uma pena do caramba que tenha acabado assim, lamento que você esteja cansado”.
Já Rose Colored Lenses, fala sobre uma manhã na cama ao lado da pessoa amada e perfeita por quem está apaixonado, ou, como ela diz, “perdido no país das maravilhas enxergando o mundo cor-de-rosa”. É uma balada sensual, mas também romântica, sendo uma das faixas que mostra a maturidade alcançada pela artista no novo trabalho.
Em parceria com a cantora Brandi Carlile, Thousand Miles resgata uma vertente da persona Miley Cyrus, especialmente no trabalho apresentado por ela há seis anos em Younger Now. A sensação de já ter escutado algo parecido da artista se confirma com a nota que a cantora deixou sobre a canção no Spotify.
A música foi escrita por Miley em 2016 ou 2017 – mesma época da sua fase country – quando soube que uma das suas melhores amigas perdeu uma irmã para o suicídio. “Eu não conseguia imaginar a vida sem a minha irmã [Noah Cyrus], então escrevi essa música para ela”. Cyrus também conta que, originalmente, a canção se chamaria Happy Girl, porque tomou uma forma que não era esperada.
[Imagens: Reprodução/Instagram]
Na sequência,You não foi uma surpresa para os ouvintes por já ter sido apresentada por Miley em seu show especial de Ano Novo para o canal de TV norte-americano NBC, no Réveillon de 2021 para 2022. Apesar de ter sido interpretada ao vivo algumas vezes, – inclusive, está presente no álbum Attention, uma coletânea que revisita todos os sucessos da cantora e foi gravado durante os shows da turnê de 2022, que passou pelo Brasil – You ainda não havia ganho uma versão de estúdio. Porém, agora conta com um vocal forte e elementos sonoros que fogem ao senso comum para uma música calma e romântica.
Handstand é a famosa faixa de interlude do álbum, ou seja, responsável por “fechar” o primeiro capítulo do disco e introduzir o segundo. Entretanto, a música não é nada rápida – diferente das interludes comuns. Já a sétima canção do disco, River, intitula também o segundo lead-single, e é justamente um ponto de partida para uma nova história a ser contada sobre a aura noturna e sensual que envolve as pistas de dança.
Acompanhada de um videoclipe em preto e branco, a música fala sobre “um amor que flui como um rio”. A estética de diva pop estampa uma artista adulta e pronta para ser referência. Ainda no clipe, Miley interage com modelos sem camisa, dança em meio ao vento e no final, fica completamente molhada – tudo isso apenas com um look preto básico, provando que menos é mais.
Em nota ao Spotify, a cantora contou que River surgiu em um momento difícil de sua vida, mas com uma história peculiar. “Estava passando por muitas questões emocionais e pessoais. Essa música evolui como um problema”, declarou a artista. A ocasião que inspirou o trabalho foi uma festa com amigos gays ao som de Diana Ross, Whitney Houston, Lindsay Lohan, Paris Hilton, Britney Spears e “todas as lendas”.
Violet Chemistry é a prova que Miley Cyrus voltou com tudo para o universo pop – seu último álbum tão pop havia sido Bangerz, em 2013, apesar da sonoridade completamente diferente. “Hoje a noite faremos apenas coisas erradas” é um dos versos da canção provocativa e com um refrão chiclete.
Direta ao ponto, Miley Cyrus traz uma parceria pouco comercial com Sia, que quase não canta em Muddy Feet. A música é, basicamente, um “chute na bunda” em um relacionamento que não faz mais sentido. Com palavrões e sentenças de peso, traz um pouco da energia rockstar da artista.
Wildcard, mostra o caminho para o final do trabalho, mas é uma daquelas faixas que quando começa parece inofensiva, e quando chega no refrão mostra um potencial que o ouvinte não esperava. Ao deixar o recado para a pessoa amada: “ei, sou imprevisível, não espere por muito”, a cantora entrega uma potência vocal e tanto.
[Imagens: Reprodução/YouTube]
A faixa Island não conversa tanto com a estética sonora que Endless Summer Vacation se propõe – especialmente por vir no segundo ato do álbum, que segundo a cantora, é a selvageria noturna. A canção se remete ao tropical, e surgiu a partir de uma reflexão pessoal da artista. “Ela estava contemplando a vida no paraíso que conseguiu criar para se sentir segura”.
Wonder Woman pode ser considerada a última faixa do disco, já que a 13ª é uma versão demo de Flowers no piano. WW não fecha o álbum com grande excitação como era de se esperar para a conclusão da parte PM, mas apesar disso, é uma música bonita que fala sobre a força feminina passada de geração para geração.
A canção é em homenagem à avó materna, Loretta Finley, que morreu em agosto de 2020, e a quem era bastante apegada. “Eu e Mami éramos muito próximas e ela dirigia o meu fã clube. Se você recebeu algum autógrafo entre 2008 e 2018, provavelmente era da minha avó”, revelou a artista ao Spotify. Em Wonder Woman, Miley descreve sua avó como uma mulher não só maravilhosa, mas forte e autossuficiente, algo que facilmente traça um paralelo com Flowers, que abre o disco.
Com o lançamento do álbum, Miley conseguiu a melhor pontuação no Metacritic– comparado a seus trabalhos anteriores – com uma nota 84. Além disso, alcançou o topo do iTunes em 14 minutos nos Estados Unidos, pegou #1 em 54 países na Apple Music e, ao redor do mundo, conseguiu a primeira posição em 70 países. Diversos veículos a aclamaram, como a BBC, que chama a cantora de “a maior pop star do século 21”, e a Clash Magazine, que afirma ser um lançamento onde Cyrus incorpora a si mesma, “este é um lançamento que visa a atemporalidade por si só”.
O disco veio acompanhado de um especial no Disney+. Em Miley Cyrus – Endless Summer Vacation (Backyard Sessions), a artista fala sobre o que motivou a composição das músicas e como elas representam quem ela é atualmente. Também conta com apresentações de algumas das canções e do hitThe Climb, em comemoração aos 14 anos de seu lançamento.
Endless Summer Vacation é a despedida perfeita para histórias conturbadas e uma mensagem de boas-vindas à novas oportunidades. O oitavo disco da estrela pop é, tanto uma declaração sobre seguir em frente, quanto uma fusão madura de toda a sua história musical. Há momentos de pop, de acordo com a moda do rádio, combinado com country, rock psicodélico e sintetizadores dos anos 1980.
A autossuficiência é um tema recorrente, mas Miley também mostra um lado íntimo em faixas que abordam dores e medos. A cantora, porém, não deixa sua faceta selvagem de lado, o que se torna um verdadeiro trabalho completo, principalmente por carregar a experiência de transitar por diferentes gêneros musicais e personas de forma camaleônica. “Endless Summer Vacation é uma mistura de tudo que já fiz, por isso chamo ele de sapato de Cinderela, porque ele tem o encaixe perfeito”, declara Miley ao Disney+.
Elvis foi lançado nos cinemas brasileiros há praticamente um mês prometendo contar a história de vida e carreira de um dos maiores ícones do rock. Abusando do exagero nas roupas, cenas e fotografia, a obra mostrou potencial para conquistar a audiência, não é atoa que estreou com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes.
Até agora, os comentaristas fizeram diversos elogios para a atuação do elenco, principalmente para a performance de Austin Butler como o protagonista titular, um exemplo disso é a crítica feita pelo The Wrap, ‘há energia e substância o suficiente […] e Butler se joga em uma performance selvagemente física, mas nunca cartunesca ou desrespeitosa’. Mas também não deixaram de comentar sobre a desequilibrada condução de direção e roteiro.
Apesar disso, quando se fala que o longa de Elvis Presley é um grande exagero, não necessariamente é um ponto negativo, já que tudo que se refere a ele sempre foi exagerado. Então, a produção de duas horas e quarenta minutos não poderia assumir um tom blaseé – um termo francês que classifica a atitude de uma pessoa cética ou indiferente – e isso inclusive, acaba sendo um dos maiores acertos do diretor Baz Luhrmann.
Elvis conta a história do astro desde a infância até a queda, passando é claro, pela ascensão, quando ele se torna um dos cantores mais famosos e bem pagos dos Estados Unidos. Nascido em Tupelo, Mississippi, em 1953, o menino tinha um irmão gêmeo, chamado Jesse, que morreu após o parto.
Mas as tragédias da família Presley não cessaram por aí: seu pai foi preso por estelionato, e por conta disso, Elvis e sua mãe foram despejadados de onde viviam, indo morar em um bairro de pessoas negras – vale lembrar que durante essa época, o racismo e a segregação racial eram muito fortes.
Após esses episódios, a vida do garoto segue, na maioria das vezes, rodeado por influências negras. Então, Elvis começa a cantar em uma banda e sua voz é reconhecida pelo Coronel Tom Parker – interpretado por Tom Hanks – um homem ganancioso que vivia de dar golpes nas pessoas. É inclusive sob o ponto de vista de Parker que a história é contada, com a primeira meia hora de tela focada totalmente no empresário, onde ele mesmo diz “sem mim, não haveria Elvis Presley”.
[Imagem: Reprodução/Warner Bros]
Querendo ou não, o Coronel é importante na trama, porque há quem associe a degradação do astro à tirania com que o então empresário comandava a carreira de Presley. Tom Parker era um produtor de parques de diversão e circos que passou a empresariar o astro logo no início de sua caminhada. Entretanto, o título não expressa sua verdadeira origem, já que ele não era coronel, nem se chamava assim e tinha um passado misterioso na Holanda.
Seu nome verdadeiro é Andreas Cornelis van Kuijk. Nascido na Holanda em 1909, e que aos 20 anos, imigrou ilegalmente para os Estados Unidos. A sua partida ocorreu no mesmo dia em que a sua suposta amante, Anna, foi espancada e morreu em decorrência dos ferimentos. Quando chegou ao país, assumiu a identidade Tom Parker e se alistou ao exército, onde serviu por dois anos, até 1933. Na época, ele foi afastado por indisciplina e teve uma crise nervosa, diagnosticado com depressão aguda psicogênica, estado de psicopatia constitucional e psicose. Tom também foi descrito pelos especialista como um homicida em potencial.
[Imagens: Reprodução/Getty Images]
Essa descrição é vista em certo momento da cinebiografia de Luhrmann. O diretor cita em entrevista durante o Festival de Cannes, a parte do filme em que o homem, vivido por Tom Hanks, está deitado em uma cama de hospital sob efeito de morfina se defendendo das acusações de ser uma má pessoa, que explorou Elvis Presley, impediu sua carreira internacional e acabou pressionando tanto o cantor, que ele se viciou em remédios e acabou morrendo prematuramente, aos 42 anos de idade. “Ele está dizendo que não é o vilão. Que só fez seu trabalho, que era fazer com que a carreira de Elvis fosse a mais lucrativa possível”, declarou.
“Parker diz que fez seu trabalho tão bem que nós amamos Elvis, e ele nos ama. Que o cantor só se sentia bem quando estava sendo amado pelos seus fãs e amando-os de volta”, incita Baz sugerindo que a culpa é voltada para os fãs do cantor. E que ‘graças’ a sua morte, seus discos bateram recordes de vendas, tornando-o memorável até os dias atuais.
O cineasta ainda comenta sobre trazer algo mais autoral em um momento onde os super-heróis dominam as salas de cinema, uma colocação não só muito inteligente do ponto de vista mercadológico, como também fiel ao tom mítico do longa. “Elvis é o super-herói original. Ele vem da sujeira e em alguns momentos ofuscantes, sobe tão alto, encontra sua kryptonita e cai”.
Fora a decisão de escolher o empresário para narrar a história, Elvis quase foi intitulado de O Rei e O Coronel, mas com o desgosto declarado de Presley desde sempre pelo apelido, a ideia não vingou. “Você tem algum amigo que conta histórias de maneira confiável?”, provocou Luhrmann. “Documentários são aparentemente a verdade e em geral trazem aquela narração típica. Mas daí a gente vê na internet como é fácil manipular as pessoas a acreditarem que algo é a verdade, quando não é. Eu acho que os dramas são mentiras contadas por alguém para chegar a uma verdade maior”, explicou.
Baz encerra a entrevista comparando a narrativa de Elvis com a de Amadeus, filme de Milos Forman de 1984 que ganhou oito Oscars, por também ser uma cinebiografia, mas sobre o compositor e músico Wolfgang Amadeus Mozart. “O filme é sobre inveja”, pontuou ele. Ele tem suas suspeitas de que Parker sentia-se de forma parecida. “Os dois tiveram infâncias muito complicadas, ambos tinham um buraco no peito e eram sonhadores. Parker queria ser grande. E Elvis, também”, finalizou.
Tom Hanks caracterizado de Coronel Parker [Imagem: Divulgação/Warner]
Agora falando do próprio Elvis, o ator Austin Butler merece todo o reconhecimento ao estrelar o papel do cantor, o mais engraçado é que no inicío do longa, há um grande mistério em revelar o rosto dele, que a princípio só aparece de costas ou de lado, porque por mais que todo mundo soubesse que era Butler em cena, ninguém havia visto nada além dos trailers.
Ele encarnou brilhantemente a personalidade do astro, obviamente abusando do exagero. Desde o jeito de dançar rebolando os quadris até o tom de voz, passando pela maneira de falar com a boca semi aberta olhando para baixo, tudo parece milimetricamente bem encaixado. “Ele era punk antes do punk existir. Ele estava rolando no palco, cuspindo. Temos que mostrar o que você não consegue ver nas filmagens de arquivo”, declara o ator em entrevista a revista Elle.
Além disso, muitos artistas talentosos foram cogitados para o papel titular, incluindo supostamente, Harry Styles e Miles Teller, mas quando Luhrmann se deparou com um vídeo de Butler “em uma bola de emoção, tocando e cantando ‘Unchained Melody’ em um roupão de banho em um piano”, ele sabia que tinha encontrado seu Elvis. “Daquele momento em diante, e a cada momento que o conheci durante o processo de audição, ele literalmente viveu a vida de Elvis”, afirmou o diretor na mesma conversa.
A caracterização é tão bem feita que, somado ao fato do efeito granulado de alguns trechos do filme para parecer uma filmagem antiga, pode fazer com que o espectador se confunda e não tenha certeza se está vendo Austin ou o verdadeiro Elvis. Isso fica mais evidente em uma cena quase no final do longa, quando mostra o cantor já deprimido, doente e com sobrepeso, sentado em frente ao piano em seu último show antes de morrer.
[Imagens: Reprodução/Warner]
Conhecido pelo seu rebolado único, Elvis foi perseguido pelos grupos conservadores da época que viam nesse estilo de dança luxúria e pecado. Nos jornais tradicionalistas, recebeu o apelido de ‘Elvis The Pelvis’ pelo modo de se apresentar nos palcos. Dito isso, Tom Parker tenta mudar a fim de não desagradar essa elite e continuar ganhando dinheiro. Mas, o que incomodava não era apenas o rebolado, o cabelo ‘de menina’ e a maquiagem nos olhos, e sim o fato dele cantar e dançar igual um homem negro.
O cantor viveu boa parte de sua vida rodeado de pessoas negras – chamadas na época de pessoas de cor – e isso é bem retratado no filme que mostra, inclusive, a relação de Elvis e B.B King – interpretado por Kelvin Harrison. Foi na igreja de negros que ele aprendeu a dançar e rebolar, o que mais tarde viria a se tornar sua marca registrada.
Ao misturar soul, gospel e folk, ele conquistou os Estados Unidos. Mas, em uma época em que o segregacionismo estava tão presente, onde haviam barreiras físicas separando negros e brancos, cantar como um negro era uma grande ofensa para a sociedade.
[Imagens: Reprodução/Warner]
Portanto, pode-se dizer que Elvis tinha o talento de um negro com a passabilidade de um branco, e isso lhe permitiu emergir e se tornar um astro, ainda que tivesse que ir contra a corrente. Ele também abusava dos movimentos de dança para chocar as garotas brancas que não tinham visto giros como aqueles porque elas não saíam para os juke joint – pequeno estabelecimento informal de música, dança, jogos e bebidas, operados sobretudo por afro-americanos – ou até mesmo as tendas gospel. “Ele era um gosto de fruta proibida”, diz Parker em uma das cenas enquanto observa uma garota desmoronar em gritos. “Ela poderia ter comido ele inteiro […] Foi a maior atração de carnaval que eu já vi”.
Um outro momento que reforça essa situação, ocorre quando Elvis comenta com B.B King que estão querendo lhe prender devido ao seu jeito de dançar. O amigo retruca dizendo que Elvis é branco e pode fazer o que quiser, enquanto ele, sendo negro, pode ser preso apenas por atravessar a rua. Em seguida, uma das melhores e mais inesquecíveis cenas musicais do filme acontece na música Trouble.
Registrado em gloriosa câmera lenta por Luhrmann e pela diretora de fotografia Mandy Walker, ele se atira na direção do público, o rosto a centímetros da plateia enquanto declama que “não aceita ordens de nenhum tipo de homem”. Desse modo, Elvis quer, acima de qualquer coisa, fazer com que os espectadores entendam a euforia que Elvis Presley provocava ao vivo, o coquetel irresistível de rebeldia, ritmo e carisma que mexia com uma parte visceral do público.
A obra desenvolve uma trama em torno de uma magia particular do seu biografado, ao ponto de ser uma parte mística inexplicável, que contém um apelo atemporal, mas que de certo modo também usufrui da apropriação cultural. Afinal, pode-se dizer que Presley era o artista certo, na hora certa e no lugar certo.
Há algo quase cômico na forma como Baz Luhrmann mostra a reação do público em algumas das primeiras apresentações de Elvis, mas o filme também reconhece os fatores históricos e artísticos dessa ascensão. De um jeito um pouco caótico, o script assinado pelo diretor ao lado de dois colaboradores de longa data, Craig Pearce e Sam Bromell, se desdobra relativamente bem para retratar as facetas mais complexas do artista durante as quatro décadas em que ele esteve presente.
A relação do astro com a música de sua época e a relativa injustiça de sua imortalização no panteão do rock n’ roll acima dos originadores das técnicas que ele usava, são parte tão integral da história da produção quanto a dimensão política e moral de sua subida à fama. Então, é possível ver Elvis como um ‘branqueamento’ do rock e Elvis como símbolo de transformação moral em momentos de virada importantes do século XX nos EUA.
Elvis não está realmente interessado em Elvis Presley, o homem, embora dê a ele a prerrogativa de qualidades tremendamente humanas dentro do contexto melodramático do filme. Seu luto pela mãe, a generosidade que pautava suas relações pessoais, a admiração genuína que ele sentia por artistas com a coragem de se expressar, a relação visceral com a música, datada de seus primeiros contatos com ela na infância. Tudo está aqui, reconhecido e estilizado no ritmo inconfundível de Luhrmann, mas essa fundação humana serve apenas para apoiar uma exploração que é muito mais sobre Elvis Presley, o mito, o ícone, o símbolo – e ainda bem que é.
É verdade, é claro, que Elvis foi um homem. Tantas biografias, no entanto, se perdem no caminho de tentar decifrar algo intrinsecamente indecifrável: as idas e vindas, os cantos mais escuros e complicados, as partes mais íntimas e privadas da vida de uma pessoa de verdade. O diretor, até por sua natureza como artista, foge dessa armadilha quando cria, ao invés disso, uma ode – poema lírico – audiovisual a Elvis, uma jornada biográfica contada em linguagem pop, e que fala sobre cultura pop, cuja relação com a realidade é meramente incidental, quando ela existe.
[Imagens: Reprodução/Warner]
Tudo isso é embrulhado em um pacote cintilante de espetáculo teatral, modelado tanto na decadência opulenta dos shows de magia e música de Las Vegas quanto na tragédia. O ponto é que Elvis, como de costume para as obras de Luhrmann, só funciona realmente se aceito dentro de sua própria lógica. O melhor jeito de aproveitá-lo é imaculado por preocupações morais sobre a integridade de cinebiografias, por regras arbitrárias de bom gosto estético e, principalmente, pelo apego insistente a uma ideia rígida de cinema e narrativa ‘de qualidade’. Sob os parâmetros de quem não se desprende de nada disso, alguns momentos do filme mal poderão ser considerados cinema, em sua abordagem distorcida e caótica da linguagem dessa mídia.
Acontece que, sob o olhar de quem reconhece entretenimento e arte pop como propósitos por si mesmos, ele é certamente um belo espetáculo. Talvez, o maior ponto que o filme tem em comum com o verdadeiro Elvis Presley é esse: no fim das contas, render-se aos prazeres que ele oferece é muito melhor do que tentar entendê-lo a partir de um molde no qual ele nunca teve vontade nenhuma de caber.
Algumas situações no filme que não acontecem na realidade
Assim como ocorreu com outras cinebiografias, especialmente de música, Elvis não é 100% preciso em seus relatos, e isso não é um problema, visto que algumas adaptações são necessárias para dar ritmo à trama. A equipe capitaneada pelo diretor Baz, retratou alguns fatos com certa fidelidade enquanto outras situações não aconteceram na vida real.
O próprio Elvis Presley interpretado por Austin Butler está um pouco diferente, como era de se esperar. O filme mostra que quase todas as influências musicais de Presley vieram da música negra. Alanna Nash, escritora de diversos livros sobre a vida e carreira do Rei do Rock, garante que não foi bem assim. Em entrevista à Variety, ela declara que: “Elvis também teve muitas influências brancas e disse, quando ainda estava na sétima série, que se apresentaria na Grand Ole Opry – famoso local de apresentações de country na cidade de Nashville. Lembre-se, ele entrou em um concurso na infância cantando ‘Old Shep’ – um clássico da música country”.
O filme também ignorou por completo as parceiras que Elvis teve no final de sua vida após terminar seu casamento com Priscilla Presley, além de ter mudado algumas coisas na sua relação com o coronel Tom Parker. E por falar no empresário de Elvis, ele também não passou ileso de situações que foram criadas para a obra.
O personagem de Tom Hanks tem um jeito mais exagerado e meloso, além de ser uma pessoa cheia de ideias que poderiam ter consequências desastrosas. Em uma cena da cinebiografia, Parker sugere a Presley dar uma maneirada no seu estilo para evitar críticas dos conservadores. Alanna revelou que o empresário, na realidade, pensava o contrário. “(Parker) gostava do fato que Elvis atraía muita gente para seus shows. Parker amava o fato de Elvis ser visto como um stripper masculino. Aquilo vendia muitos ingressos”. Ela também garantiu que o Coronel nunca chegou a ser ameaçado pelo governo por conta das apresentações de Elvis, algo que ocorre no longa.
[Imagem: Reprodução/Warner]
Além disso, Tom Hanks optou por dar um sotaque considerado ‘europeu’ – afinal, ele nasceu nos Países Baixos – ao seu personagem. Coisa que pouco lembrava o do Tom Parker de verdade, como é possível perceber em uma gravação de entrevista realizada na década de 80.
A obra também retrata que, após ouvir bons comentários sobre Elvis Presley, Tom foi até o programa de TV Hayride para conhecer o cantor, que começou a ganhar fama. Então, essa seria a primeira apresentação do Rei do Rock no lugar – e no mesmo dia, os dois se conheceram.
Na realidade, as coisas se desenrolaram de outro modo. O coronel não estava presente nesse evento. O astro de fato estava nervoso ao se apresentar, mas após uma pausa, se acalmou e conquistou o público. Apenas meses mais tarde que o empresário foi até o local para assistir a um show de Elvis, e eles se conheceram semanas depois, em um espetáculo do cantor na cidade de Memphis.
Em Elvis, é possível ver que Presley era próximo do lendário bluesman B.B. King. Uma das cenas do longa mostra o cantor após um ataque de fúria, ‘fugindo’ para uma casa de shows frequentada por King e outros artistas negros, como Sister Rosetta Tharpe e Little Richard. No entanto, na vida real, as coisas eram bem diferentes. Nash, agora para o jornal USA Today, afirmou: “Elvis e B.B. se conheciam, mas não eram amigos próximos. Eles provavelmente cruzaram caminhos pela primeira vez no estúdio Sun, mas foi algo breve”.
Além disso, uma das críticas mais fortes e repetidas em relação ao Elvis era como ele teria se apropriado de características da música negra em um ainda altamente segregado Estados Unidos. E com isso, o empresário junto a gravadora, venderam uma imagem pioneira do artista mesmo sabendo de todas as barreiras raciais, e só ofereceram uma versão mais ‘diluída’ do que muitos já conheciam através de nomes como Chuck Berry.
Em contrapartida, o próprio B.B King refutou qualquer percepção de Presley ao se tratar de uma pessoa preconceituosa. O fã-clube australiano de Elvis resgatou um artigo do San Antonio Examiner, onde contém uma entrevista do bluesman realizada em 2010 – 5 anos antes de sua morte. Nela, ele declara: “Nascemos pobres no Mississippi, passamos por infâncias desprivilegiadas. Aprendemos e conquistamos nosso caminho através da música. Veja bem, eu conversei com Elvis sobre música desde o início, e eu sei que uma das grandes coisas no seu coração era esta: a música é propriedade de todo o universo. Não é exclusividade do negro ou do branco ou de qualquer outra cor. É compartilhado em e por nossas almas”.
Em dezembro de 1968, o canal americano NBC exibiu um especial que marcou a primeira apresentação de Elvis Presley em sete anos. O material foi gravado, mas representou a volta do cantor aos palcos diante de um pequeno público. A atração ganhou o nome de ’68 Comeback Special’ – em tradução ‘O Especial de Retorno de 68’.
No filme, enquanto Presley gravava a apresentação, o senador Robert Kennedy foi assassinado, mas de acordo com Alanna, a gravação do especial e o assassinato do senador não aconteceram ao mesmo tempo. A escritora revelou que na realidade, apenas um dos ensaios ocorreu no dia em que Kennedy foi atingido pelos tiros que tiraram sua vida – 5 de junho de 1968. “Elvis chegou para iniciar as semanas de gravações em 3 de junho de 1968, e Kennedy levou os tiros em 5 de junho, morrendo no dia seguinte, 6 de junho”.
Além disso, o longa chega a retratar a gravação sendo interrompida pelo barulho dos tiros que mataram Kennedy. Na vida real, o hotel em que o assassinato ocorreu era distante do estúdio em que o especial era produzido. Mas, a produção ao menos acertou em retratar que Elvis ficou abalado pelas mortes de Kennedy e do ativista Martin Luther King, assassinado dois meses antes do político. A música If I Can Dream, composta por Walter Earl Brown especialmente para o programa de TV, foi inspirada por trechos do famoso discurso I Have a Dream, de King.
Em Elvis, há um momento em que ele se alista ao exército para evitar uma possível prisão devido a sua péssima influência para os conservadores e um incidente violento em um show.
Elvis, de fato, se alistou no exército americano e cumpriu serviço militar entre 1958 e 1960, mas não teve relação alguma com uma possível prisão. Nash lembrou que a presença do astro entre os militares teve outro intuito e foi arranjada pelo Coronel Parker. “(Parker) negociou com o intuito de ser uma jogada de relações públicas, para fazer dele (Elvis) um garoto americano”.
O artista também se aventurou no mundo dos cinemas e participou de vários filmes, apesar de nunca terem sido grandes sucessos nas telonas. Há uma cena do longa em que Tom garante que Elvis se tornou o ator mais bem pago de Hollywood, mas não foi bem assim. Ele recebia salários de respeito para gravar algumas produções, justamente por conta de sua fama. Em 1965, por exemplo, ganhou US$1 milhão para gravar Feriado no Harém.
No entanto, três anos antes, Marlon Brando recebeu US$250 mil a mais para gravar O Grande Motim, e em 1963, Elizabeth Taylor ganhou a mesma quantia de Elvis para estrelar o clássico Cleopatra.
Ao decorrer do filme, Elvis Presley demite o Coronel em meio a um show em Las Vegas. Esse episódio até aconteceu na vida real, mas de uma maneira diferente. No espetáculo, ocorrido em setembro de 1973, Elvis destilou sua fúria contra Barron Hilton – dono da rede de hotéis homônima e que também era o proprietário do local em que ele teve que se apresentar por muito tempo.
O astro ficou insatisfeito ao saber que Hilton havia demitido um empregado do hotel com o qual simpatizava. Por conta do incidente, Parker teve uma discussão acalorada com Presley. Foi neste momento que o cantor, de fato, demitiu seu empresário – que foi recontratado após mostrar uma conta do que o cantor estaria devendo a ele.
Além disso, na produção, é revelado que Tom combinou esta série de apresentações no hotel como forma de bancar suas dívidas – afinal, ele perdeu muito dinheiro com jogos de azar. Na vida real, ele realmente se endividou desta forma ao longo de sua vida, mas Alanna Nash garante que os shows que Elvis fazia no hotel não tinham ligação com os problemas financeiros do empresário.
Como a caracterização em Elvis foi essencial
Para o desenrolar de toda a história, é necessário que os personagens tenham uma boa construção de imagem através de figurinos que complementem o roteiro. Com Elvis não seria diferente, principalmente por conta da responsabilidade em dar vida a uma persona lembrada não apenas pelas roupas e maquiagem, mas por uma história complexa, que passa por uma relação polêmica, por vezes violenta, e assistida pelo mundo em uma época com outro olhar em relação às estruturas do patriarcado.
Atender às expectativas do público era um dos maiores desafios que Shane Thomas, chefe de cabelo e maquiagem do filme, enfrentaria. Não só ele, mas também a equipe de figurino, com Catherine Martin e a participação de ninguém mais, ninguém menos que, Miuccia Prada. A designer italiana foi responsável por boa parte dos looks dos protagonistas através de suas duas empresas de roupas, Prada e Miu Miu, onde pode fezer esboços e desenhos para Austin Butler, que interpreta Elvis e para Olivia DeJonge, que interpreta Priscilla Presley.
[Imagem: Reprodução/Prada]
Além disso, a colaboração entre Miuccia Prada, Baz Luhrmann Catherine Martin é renovada depois que os três já deram vida às roupas para dois outros filmes do diretor: os de O Grande Gatsby, em 2013 , e o que Leonardo DiCaprio usou em Romeu+Julieta, em 1996.
Martin, figurinista quatro vezes vencedora do Oscar e criadora de roupas para a maioria dos filmes de Luhrmann -ambos são casados desde 1997 e têm dois filhos – explicou que o centro da narrativa em Elvis é o amor lendário entre Elvis e Priscilla, destacando a beleza e o estilo icônico, justamente por ser um marco a cultura contemporânea. “Por isso, era importante para Baz e eu permanecermos fiéis ao seu verdadeiro legado, não simplesmente imitando as roupas da Sra. Presley, mas encontrando uma maneira moderna de conectar o público com seu estilo distinto e histórico”, afirma Catherine.
Priscilla é um dos pontos-chave da trama de Baz, afinal ela é um exemplo do que era a representação da estética e dos padrões de beleza norte-americanos em meados dos anos 60 e 70, abusando de cabelos volumosos, olhos bem marcados em delineados impecáveis, e até mesmo o formato das unhas. AFinal, nada é banal ou fútil quando se fala em narrativas cinematográficas.
Além disso, ela remonta a trajetória e as fontes de cultura negra das quais bebeu Elvis Presley. É por meio dela e do figurino que se marcam as passagens de tempo no longa. E, para o diretor, o visual dos personagens era tão importante quanto a história. “Baz tem muita certeza de como quer ver os personagens retratados. O meu trabalho era reproduzir sua visão junto de Catherine”, comenta Shane.
“Evitei replicar o visual dela. Priscilla é um pilar da cultura americana, então era muito mais sobre representá-la na frente das câmeras de forma respeitosa e homenagear seu status de ícone de beleza”, conta o beauty artist à Vogue Austrália. “Também precisei entender como trazer a beleza de Priscilla no rosto de outra pessoa; era sobre respeitá-la, mas também traduzi-la no rosto de Olivia DeJonge”.
[Imagem: Divulgação/Warner Pictures]
O início da história de Priscilla e Elvis é problemático, já que ela tinha apenas 14 anos quando eles se conheceram, e ele era 10 anos mais velho. A produção não retrata essa informação, mas, na ocasião, ela é representada como uma jovem esperta, porém sem grandes destaques em termos de elementos estéticos, sendo apenas uma garota comum.
Quando ela se casa com Elvis, em 1967, há um certo amadurecimento no estilo e o ícone começa a se consolidar. É como se ela tivesse, de fato, mergulhado na atmosfera que envolve uma estrela do rock. “Cilla usava uma maquiagem pesada. Eram três pares de cílios postiços em cima, além de cílios nas pálpebras inferiores e um super delineado”, comenta o expert, em entrevista ao POPSUGAR.
De acordo com o profissional, Olivia passava quase duas horas na cadeira de maquiagem todos os dias para chegar ao resultado visto nas telonas. E a parte mais complicada era acertar as sobrancelhas, já que, na vida real, Priscilla adorava mudá-las.
Além do olhar, não dá para falar da Presley sem lembrar do topete enorme, como aquele usado no casamento com o cantor. “Eu olhava para fotos e achava que aquilo era mentira”, entrega Shane. Para recriá-lo, ele lançou mão de duas até bater a altura. Em um segundo momento do filme, após a crise no casamento com Elvis seguida do divórcio, Olivia assume fios loiros, representados por quatro laces diferentes.
[Imagem: Divulgação/Warner Pictures]
Agora partindo para a estrela do rock and roll, além de bonito e talentoso, Elvis usava a estética de uma forma inteligente e consciente para se sobressair e construir uma imagem. A roupa passou a ser sua melhor aliada, compondo perfeitamente com seu cabelo e com os movimentos de seu corpo.
Para a obra, Austin Butler reviveu o cantor por meio do topete e da alfaiataria larga, que por muitas vezes não possui um gênero específico. O ‘estilo Presley’ inspirou muitos astros, como Bruno Mars, e grifes, como Versace e Cavalli.
A colaboração da Prada foi muito importante, principalmente nos ternos sob medida, em cores como marrom ou bordô, com lapelas largas e detalhes, como óculos escuros ou cintos coloridos. Já no caso da esposa, vestiu Miu Miu, com vestidos de chiffon, saias curtinhas, calças de campanha e paetês. Absolutamente tudo para ajudar a caracterizar os personagens sem cair no grotesco ou no disfarce.
[Imagens: Reprodução/Prada]
Para as peças, os criadores se inspiraram em momentos específicos vividos por Elvis e Priscilla, como um macacão de paetês que ela usou em um show em Las Vegas, ou um vestido de lã que ela usou com uma jaqueta em um especial da NBC dedicado a Elvis, uma peça que, por exemplo, foi literalmente recriada.
A caracterização de Butler acontece até mesmo nos mínimos detalhes. O ator, que é loiro, tingiu o cabelo para a produção, mas também abusou de próteses e perucas. Ou até mesmo na maquiagem com os olhos esfumados – usados pelo cantor na vida real – tudo para contar sua jornada, da ascensão à decadência.
A música como ferramenta principal da obra
Elvis Presley é um nome imediatamente associado ao rock and roll. Não é atoa que ele é conhecido como Rei do Rock, sendo um dos maiores pioneiros do gênero, um verdadeiro símbolo da cultura dos Estados Unidos e de tudo que a engloba.
Hoje em dia, quando se fala do rock, o termo soa quase que obsoleto em seu significado mais literal. Existem pessoas gente vão dizer que, atualmente, o rap é o rock. Para outros, o rock realmente só cabe quando há uma banda, com guitarra, baixo e bateria. Mas também, há quem diga que o gênero não está ligado à música e sim à atitude.
Entender isso é, sem dúvidas, um dos grandes méritos do filme Elvis e de sua excelente trilha sonora, que não foi feita apenas para respeitar o legado de Presley, mas entender que é preciso se conectar com passado, presente e futuro, para conversar com todos os públicos que irão assistir a obra. Essa compreensão permite não apenas que a trilha seja uma das mais interessantes do ano, como também faz com que ela cumpra um papel fundamental em ressignificar a carreira do Rei do Rock, mostrando como a sua influência foi muito além do formato tradicional.
Um dos maiores exemplos disso isso é Vegas, faixa assinada por Doja Cat que usa um sample de Hound Dog. Famosa na voz de Elvis, a canção aparece em sua versão cantada por Shonka Dukureh e mostra como é possível construir algo totalmente diferente a partir de um grande clássico do ritmo.
Mais do que isso, a presença desse sample é uma homenagem as verdadeiras origens do rock – algo que, em vida, Presley sempre pareceu entender e respeitar, como foi retratado no longa de Luhrmann. O mesmo é válido para outras canções que trazem trechos de clássicos, como a ótima The King and I, de Eminem e CeeLo Green, que utiliza de Jailhouse Rock.
Da mesma forma, a presença de uma versão espetacular de Stevie Nicks e Chris Isaak para Cotton Candy Land é o pedido certo para quem esperava versões mais próximas das originais, sem contar as próprias mixagens especiais feitas para o filme de clássicos como I’m Coming Home, Suspicious Minds, Polk Salad Annie e muitas outras.
Também existe a versão de Can’t Help Falling in Love, assinada por Kacey Musgraves, sendo um ótimo exemplo de como essa trilha foi capaz de ‘traduzir’ as canções tão antigas para um contexto atual. E o mesmo vale para If I Can Dream, regravada pela banda italiana Måneskin.
Até agora, é possível entender o passado e o presente, mas e o futuro? Quando se trata de Elvis Presley, o futuro está sempre no presente – afinal de contas, o pioneirismo e a quebra de barreiras são marcas registradas do Rei do Rock, como ficou claro para qualquer um que tenha assistido ao filme.
Mas falar de futuro nesse ponto, é se permitir ir um pouco além nas hipóteses. É acreditar que, graças a uma trilha sonora como essa, algum fã de Doja Cat, de Eminem ou de Diplo, possa mergulhar de cabeça na história do rock.
Ao fim do filme, duas coisas permaneceram na memória. A primeira é como a decadência de um astro é aplaudida de forma cruel pelos próprios fãs, desde que o show business tomou conta da maneira como o ser humano consome a arte. De Kurt Cobain e Amy Winehouse, chama a atenção como essa sanha por testemunhar o fracasso, de vangloriar-se por estar diante da fragilidade de uma pessoa que não aguenta mais o peso do próprio talento. Por isso, ao longo de anos, milhares de pessoas compareciam semanalmente a Las Vegas para assistir à mais uma apresentação do Rei do Rock, por mais que seu corpo e sua voz pedissem socorro.
A segunda, é a frustração do cantor pelas inúmeras maneiras como seu empresário freou o processo de internacionalização de sua turnê, que acabou virando uma residência. Algo que a produção dá conta de esmiuçar e esclarecer as motivações pelo lado de Parker. Um apátrida viciado em jogo que fez de Vegas a prisão do homem mais famoso do mundo. Um desgaste que fez com que, em uma das cenas finais, o rosto e a voz de Austin Butler, tão bem no papel de Elvis Presley, revelasse um milionário de quarenta anos que se sente incapaz de sonhar, podendo ser uma tragédia aos olhos de qualquer um, ou um espetáculo pelo olhar de Baz Luhrmann.
E apesar de tudo isso, Elvis Presley não morreu e nem nunca morrerá, uma vez que ele vive através de suas obras que marcaram o mundo, e principalmente a indústria musical.
Após uma espera de praticamente três anos desde o último lançamento, Stranger Things retornou com a quarta temporada no final de maio, levando todos os fãs de volta a Hawkins para contar mais uma história sombria dos irmãos Duffer.
O primeiro volume possui 7 episódios muito bem construídos do início ao fim, ainda mais pelo tempo: a maioria ultrapassa uma hora, o último chega a uma hora e quarenta minutos. No dia 01 de julho, os dois últimos episódios foram liberados, que somados entre si dão quatro horas de duração e encerram esse arco, que até agora pode ser considerado um dos melhores.
Relembre um pouco do que aconteceu nas temporadas anteriores
O início da série se passa em 1983, em Hawkins, Indiana. O jovem Will Byers (Noah Schnapp) desparece e seus amigos, Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) decidem procurá-lo com a sua família e a polícia da cidade. Com isso, eles se deparam com uma série de eventos sobrenaturais e é nesse momento que eles começam a entender um pouco sobre o Mundo Invertido.
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Nancy (Natalia Dyer), que é a irmã de Mike, Steve (Joe Keery), namorado de Nancy, e Jonathan (Charlie Heaton), irmão de Will, investigam por conta própria o que pode ter acontecido com o menino e Barb (Shannon Purser) – a melhor amiga de Nancy que é morta por um Demogorgon no início da história.
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Nesse meio-tempo, aparece Eleven (Millie Bobby Brown), uma garota que tem superpoderes e não sabe muito sobre seu passado ou conviver em sociedade. No final, eles salvam Will, graças a um sacrifício de El, mas os problemas e a ligação do menino com o Mundo Invertido estão longe de acabar.
[Imagem: Reprodução/Netflix]
A segunda temporada avança para 1984, onde todos tentam seguir em frente após tudo o que rolou no ano anterior. Porém, uma nova ameaça aparece direto do Mundo Invertido para ameaçar os protagonistas, e além desse novo inimigo, também há uma nova personagem Max (Sadie Sink), que chega na cidade junto com seu irmão problemático, Billy (Dacre Montgomery).
[Imagem: Reprodução/Netflix]
Enquanto isso, o detetive de Hawkins, Jim Hooper (David Harbour), decide criar Eleven, que sobreviveu aos acontecimentos do final da 1ª temporada, e é nesse ano que aborda mais sobre seu passado, sua mãe biológica, que ficou viva, mas teve sequelas após enfrentar uma terapia de eletrochoque, e a existência de uma irmã, a Eight/Kali (Linnea Berthelsen).
Eleven fica escondida na cabana de Hopper e só Mike sabe que ela está lá. Cansada dessa realidade, ela foge e, quando volta, aprende a verdade sobre sua história. Depois disso, seus amigos enfrentam um Demodog e Eleven entende que precisa fechar de vez o portal para o Mundo Invertido.
No final, ela consegue destruir o Monstro das Sombras, que está conectado a Will e ameaçando a todos, e fica com Mike no baile da escola. Só que há uma vítima no meio disso tudo: Bob (Sean Astin), o novo interesse amoroso de Joyce (Winona Ryder). Ainda nessa temporada, Nancy termina com Steve e fica com Jonathan.
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No terceiro ano da série, em 1985, o verão chega e um shopping novo na cidade de Hawkins também, deixando o amado grupo ainda mais sintonizado com sua juventude e com novos casais no ar. Aparecem cientistas russos como vilões tentando abrir um portão para o Mundo Invertido embaixo desse shopping, como revela Alexei (Alec Utgoff), um dos envolvidos nisso. Eleven descobre que o irmão de Max está possuído pelo Devorador de Mentes e, em uma futura batalha com o monstro, acaba sendo ferida e perdendo seus poderes.
Já no final da trama, Billy se sacrifica para proteger o grupo após El entrar em sua mente e o Hopper tenta destruir a máquina usada pelos russos para manter o portal para a outra realidade aberto mas é dado como morto. Eleven, então, vai morar com os Byers, que se mudam para a Califórnia.
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Agora, nessa quarta temporada, é possível ver o que aconteceu com cada personagem e todo o mistério por trás de uma nova ameaça do Mundo Invertido: o Vecna, que marca suas vítimas através de um vínculo psíquico e as mata das formas mais tenebrosas e brutais, para se alimentar.
ALERTA DE SPOILER
[GIF: Reprodução/Giphy]
Ao longo de toda essa trama, foi possível ver três núcleos separados: Eleven, Will, Jonathan e Mike estavam na Califórnia; Joyce, Murray e Hopper na Rússia e os demais em Hawkins. Essa dissonância do grupo afeta um pouco a fluidez dos episódios, porque para conciliar tantas linhas narrativas simultâneas, Stranger Things opera na constante quebra de ritmo, ou seja, desenvolve uma situação e, assim que ela estoura, muda de núcleo em uma tentativa de manter a tensão sempre alta.
Durante a primeira parte, parecia que essa divisão entre os personagens não funcionaria em sintonia para salvar Hawkins e o mundo de Vecna, deixando os papéis de cada personagem um tanto quanto confusa. No entanto, o segundo volume acaba mostrando como todos esses enredos funcionam bem para a primeira conclusão desta ameaça de fim do mundo.
[Imagens: Reprodução/Netflix]
A protagonista Eleven ou Jane, vive um difícil período de adaptação nesta season. Apesar de seus esforços, a jovem sofre para se encaixar na escola e é constantemente vista como “a esquisita” por seus colegas de escola. Para piorar, ela está sem os seus poderes, passa pelo luto da morte de Hopper e lida com as saudades dos amigos e do namorado Mike. Porém, após um início movimentado nos primeiros episódios, a jornada de Eleven se torna mais solitária, no entanto poderosa, no final. Millie Bobby Brown consegue sustentar um núcleo inteiro praticamente sozinha, ditando os pontos de virada e provando que nasceu para interpretar esse papel.
Outro grande destaque da temporada, se não for o maior, é Sadie Sink, que volta à pele de Max. É possível acompanhar um lado da jovem nunca visto antes, o que está marcado pelo trauma e culpa. Reclusa de todos, Max passa por uma interessante jornada de reconexão consigo mesma e com os amigos, enquanto carrega um dos principais e mais emocionantes acontecimentos do quarto ano da série.
Ela é capturada por Vecna mas escapa ao som de Running Up That Hill de Kate Bush, música favorita da personagem. A crença de que a canção seria capaz de salvar Max, foi baseada em uma conexão astuta feita por Robin Buckley e Nancy Wheeler depois que uma das primeiras vítimas de Henry, seu pai Victor Creel, parecia ter sido salvo por ouvir Dream A Little Dream Of Mede Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.
No entanto, como Vecna revelou na conclusão da primeira parte da quarta temporada de Stranger Things, a música não foi a razão pela qual seu pai, Victor, sobreviveu. Em vez disso, foi simplesmente porque que Henry ultrapassou os limites de seus poderes, o que o levou a entrar em coma antes que pudesse acabar com seu pai.
Isso não deve minimizar a importância da canção de Kate Bush para a sobrevivência de Max. Nancy descreve isso como “uma ponte de volta à realidade” e deve haver pouca dúvida de que ela estava certa. A música evoca memórias fortes que são boas e ruins, então faz sentido que ela pudesse abrir uma porta para fora da alienação opressiva de trauma, desespero e culpa em que Max se encontrava. Além disso, também faz sentido que se ela não tivesse memórias tão positivas e o amor de seus amigos para retornar, não haveria como escapar da maldição de Vecna.
É importante mencionar também Eddie e Argyle, os novos personagens incluídos nessa história. Ambos são completamente diferentes, um é viciado no jogo D&D e é metaleiro, e o outro um completo maconheiro entregador de pizza, mas os dois são um alívio cômico no meio de tantos acontecimentos.
[Imagens: Reprodução/Netflix]
Eduardo Franco, que interpreta o personagem Argyle, esteve presente no MTV Movie&TV Awards e declarou ser uma honra fazer parte de uma série de tanto sucesso. “Todo mundo do elenco, da produção foram maravilhosos e gentis comigo. Todos me receberam muito bem, é como se fosse uma família mesmo”,afirmou o ator.
Inclusive, mesmo Eddie sendo um novo rosto, ele protagoniza a melhor cena do segundo volume da série, onde sobe no topo do próprio trailer no Mundo Invertido com uma guitarra e um amplificador e toca Masters Of Puppets da banda de heavy metal Metallica para atrair os morcegos de Vecna.
O mais curioso dessa cena é que Tye Trujillo, filho do baixista da banda, Robert Trujillo, participou da quarta temporada gravando as faixas de guitarra utilizadas nessa versão. Além dele, o guitarrista do Metallica, Kirk Hammet, colaborou nas gravações.
Além da escolha da música refletir bem as características do personagem, que é fã de thrash metal. A letra de Master of Puppets combinou muito com Stranger Things. James Hetfield, líder da banda, fala da perda de controle e do uso de drogas na música, então os versos sombrios fazem jus a atmosfera ameaçadora do Mundo Invertido. “Master of Puppets lida com drogas. Como as coisas ficam de cabeça pra baixo, em vez de você assumir e fazer, as drogas controlam você” o vocalista afirmou sobre a faixa em entrevista à Thrasher Magazine.
Porém, infelizmente no final dessa trama o Eddie morre nos braços do Dustin, mas os fãs ainda não possuem 100% de certeza, talvez porque não querem acreditar ou porque não têm uma confirmação de fato. De qualquer maneira, isso é uma pena e que chega a ser revoltante, principalmente por ter sido um personagem inserido na penúltima temporada da série, onde foi muito bem desenvolvido e aceito por parte do público.
Uma das grandes surpresas do quarto ano da série, foi a junção de Nancy e Robin como uma dupla. As atrizes apresentam uma ótima sintonia e as personagens, surpreendentemente, se completam, rendendo cenas memoráveis. Já Steve e Dustin, voltam a chamar atenção por sua incrível e divertida dinâmica em conjunto.
[Imagens: Reprodução/Netflix]
Por outro lado, alguns personagens perdem completamente o destaque e ficam à deriva durante a narrativa. É o caso dos irmãos Byers, na qual é possível contar nos dedos quantas falas tiveram ao longo de todos os episódios. Mike e Lucas também não apresentam tanta relevância, mas ainda conseguem aparecer mais do que os primeiros.
O mais revoltante é que o Will saiu de personagem principal para um mero coadjuvante, e que o maior arco gira em torno do personagem ser gay e estar apaixonado por Mike. Já o Jonathan, foi reduzido a maconheiro e que até a trama entre ele e a Nancy que poderia ser explorada, foi deixada de stand by.
Apesar disso, Will protagoniza uma das cenas mais tocantes da quarta temporada. Sem qualquer ambição de grandiosidade, nem ameaça monstruosa pelo caminho, o adolescente demonstra toda sua coragem quando, de coração partido, aconselha Mike sobre seu relacionamento com a Eleven. E, como se suas lágrimas não fossem suficientes para dar conta da sua vulnerabilidade, os olhares furtivos de Jonathan pelo retrovisor denunciam o quanto dói no irmão mais novo estender a mão para seu melhor amigo dessa maneira.
[Imagens: Reprodução/Netflix]
Apesar disso, a direção consegue equilibrar melhor o tempo de tela dos núcleos, onde é possível identificar perfeitamente o motivo pelo qual eles estão separados, como é o caso de Joyce e a Rússia. A história flui em um bom ritmo e se mostra mais madura em relação às outras temporadas. Ao mesmo tempo, referências aos anos anteriores estão mais presentes, assim como pontos narrativos que se conectam com o início da série.
Como é o caso do grande vilão da temporada, Vecna. Ele vem do jogo de RPG Dungeons & Dragons, citado na série desde a primeira temporada. No game, ele é uma criatura que usa um tipo proibido de mágica para se tornar imortal, e é quase isso que Stranger Things mostra. Na série, o monstro se torna ainda mais forte a cada humano que mata. A escolha de suas vítimas, no entanto, não é aleatória. Vecna prefere possuir pessoas que passaram por algum evento traumático e estão vulneráveis emocionalmente, e as tortura com memórias dolorosas antes de acabar com suas vidas.
Voltando a D&D, no jogo Vecna nasceu humano séculos atrás, e sua mãe, Mazzell, foi executada por praticar feitiçaria. Então, em busca de vingança, Vecna se tornou um mestre das magias obscuras, chegando a um nível em que nenhum outro mortal havia alcançado. Em Stranger, os adolescentes começaram a comparar o monstro do Mundo Invertido com Vecna, devido aos seus poderes e pela aparência. Tão poderoso quanto o personagem do jogo, o Vecna de Hawkins é mais perigoso que o Demogorgon, mais complexo de se entender e mais difícil de ser combatido.
Não é só no RPG que Vecna tem um passado traumático com a família. Na série, se descobre que o monstro é Henry Creel, agora conhecido como Peter. O personagem, interpretado por Jamie Campbell, foi uma criança que demonstrava comportamentos estranhos. Com isso, sua mãe buscou ajuda profissional para tratar sua “natureza perturbada” e ele não gostou nada disso. Henry começou a usar seus poderes, primeiramente, para matar animais, até acabar matando a própria família. Victor Creel, o pai, foi o único sobrevivente para poder carregar a culpa pelos crimes.
[Imagens: Reprodução/Netflix]
Também é revelado a origem dos poderes de Eleven, mostrando que Henry, agora Peter, é o paciente 001 dos experimentos do laboratório de Hawkins. Levado à força para lá, Martin Brenner usou o sangue de Henry para criar outras crianças com os mesmos poderes. Para isso, no entanto, precisaria suprimir suas habilidades com a ajuda de um dispositivo implantado em seu pescoço.
Ao longo de todos esses anos, Peter esteve no laboratório de Hawkins auxiliando Brenner nos experimentos, quando descobriu que Eleven era tão poderosa quanto ele. Então, nos flashbacks de 1979 no episódio 7, O massacre no laboratório de Hawkins, os fãs podem ver que ela foi manipulada por Peter e acabou removendo o dispositivo que controlava seus poderes.
Então, Henry provoca um massacre no laboratório, matando as crianças e funcionários da instalação, mas é detido por Eleven, que acaba abrindo o portal para o Mundo Invertido e empurrando ele para lá. Ao cair, ele é queimado por um raio e se transforma em Vecna, o que é comprovado com a marca 001 no pulso.
É inegável como Jamie, que já tem grandes nomes no currículo, como Caius Vulturi em Crepúsculo, Jace em Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos e Gellert Grindelwald em Harry Potter, se sobressaiu fazendo o Vecna. Em entrevista a Vanity Fair, o ator declarou que não enxerga necessariamente o seu personagem como um vilão.
“Eu sou capaz de vê-lo como um vilão? Eu certamente sou capaz de vê-lo como um ponto de conflito”, afirmou. “Mas em termos de, tipo, ele é mau ou [é um] vilão? Quero dizer, eu o entendo e o amo. E eu me relaciono com ele. Fiquei com os olhos lacrimejados ao dizer isso – talvez eu devesse calar a boca! Tipo, eu o entendo, então sempre estarei do lado dele”. Ele ainda acrescenta que: “Acho que ainda há um nível de humanidade nele, mesmo onde ele está agora, mas acho que a humanidade dele estar onde está agora é um fato com o qual posso me relacionar. Tenho certeza que todos nós podemos.”
Com um aspecto bizarro, Vecna tem uma aparência tétrica, que até mesmo fez Millie Bobby Brown chorar quando viu o ator caracterizado. Em conversa com The Verve, Barrie Gower, designer de próteses e maquiador, revelou que o personagem foi feito à base de efeitos especiais e muito lubrificante.
“No dia [da filmagem] ele tem que estar superviscoso, então usamos produtos como lubrificante K-Y. Também usamos um produto chamado UltraWet, um gel transparente, que passamos em todo o corpo dele”, declarou ele. “É o tipo de coisa que, no set, se você colocava a mão no ombro dele, você se arrependia porque ficava todo melecado”, enfatizou Barrie.
O perfil oficial da Netflix compartilhou um vídeo que mostra a impressionante transformação de Jamie Campbell Bower no poderoso vilão da 4ª temporada de Stranger Things. O processo, que inclui a aplicação de diversas camadas de tecido e maquiagem no rosto e no corpo do ator, impressionou os internautas.
Além disso, a caracterização dos personagens carrega um estilo oitentista em seu auge, onde os penteados e figurinos tentam rejuvenescer o elenco, mas não é com todos que consegue. No entanto, tudo não se torna um mero detalhe assim que adentra a nostalgia da série. Os produtores da série reveleram algumas características sobre os looks, que vão desde tênis personalizados da Converse, até referências a nomes como o cantor britânico David Bowie e o filme Grease – Nos Tempos da Brilhantina.
Nessa temporada, Natalie Dyer fez uma permanente mas também usou uma peruca parcial para chegar ao visual de Nancy. Já Mike, deixou o cabelo crescer para ficar parecido com Eddie, em quem se inspira, mantendo um pouco mais comprido atrás e com camadas curtas.
Para os cenários da Califórnia nessa temporada, a figurinista Amy Parris usou diversas referências visuais, como a Thrasher Magazine, Skateboard Magazine, Surfer Magazine, além de anuários reais de escolas do ensino médio americano.
A equipe de figurino colaborou com a Quiksilver para criar o visual tipicamente californiano de Argyle: os tênis do personagem foram customizados pela Vans, e ele usa meias tie-dye igualmente customizadas. O figurino de Mike na Califórnia também foi feito pela Quiksilver, com o intuito de combinar com as roupas do personagem de Eduardo Franco.
O visual de Jonathan nessa season foi influenciado pelo Argyle e pelas atividades extracurriculares que eles fazem juntos. Consequentemente, ele está usando estampas mais psicodélicas. Já para o visual dos alunos do Colégio Hawkins, a Converse fez tênis personalizados em três cores para combinar com a paleta da escola.
No capítulo 4 dessa quarta temporada, a roupa da Robin parece que saiu do armário da Nancy e foi inspirada por catálogos antigos da coleção primavera-verão da Sears, Montgomery Ward e JCPenney em 1986.
Originalmente, os irmãos Duffer queriam que o cabelo do Eddie fosse parecido com o penteado clássico do David Bowie como Jareth em Labirinto – A Magia do Tempo, mas a equipe responsável pelos cabelos dos atores baseou o visual final em Ozzy Osbourne e outros integrantes de bandas famosas dos anos 1980.
E por fim, o penteado de Chrissy foi inspirado na personagem de Olivia Newton-John chamada Sandy em Grease – Nos Tempos da Brilhantina, no estilo líder de torcida americana, mas com franjas bem anos oitenta.
A fotografia de Stranger Things sempre foi bastante mutável e na quarta temporada isso não foi diferente. A depender do contexto de cada cena, a iluminação transita entre o claro e o escuro, também dando bastante destaque para a cor vermelha no mundo de Vecna. As transições do mundo real para o mundo invertido também acontecem e apresentam um bom jogo de câmeras.
Como foi dito anteriormente, a trama se divide entre núcleos diferentes, portanto, a cenografia é intercalada entre a Califórnia, Hawkins, a Rússia e o Mundo Invertido. São muitos os cenários que carregam a história neste ano, entre novos e já conhecidos, mas o destaque vai para a mansão que habita Vecna. O local é cheio de detalhes e uma importante peça para a narrativa, que inclusive por fora, lembra um pouco da casa do filme ACasa Monstro.
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A trilha sonora da série também é um grande marco e que trouxe boas posições nos charts. A música de Kate Bush, Running Up That Hill por exemplo, na época de lançamento alcançou a posição mais alta do Hot 100 da Billboard da carreira da cantora, com um 30º lugar. Mas a série da Netflix mostrou o poder de uma plataforma de streaming, levando a música à 1ª posição do ranking no Spotify. Agora, a canção do Metallica, Masters Of Puppets, é a próxima a atingir bons lugares nas paradas musicais.
Outra música dessa quarta temporada que caiu no gosto do público foi Pass the Dutchie, do grupo Musical Youth. A trilha de Argyle e Jonathan, alcançou o 9º lugar no ranking da Apple Music. Além disso, embala vários vídeos divertidos nas redes sociais.
Mas não são apenas esses três sucessos resgatados. A quarta temporada também trouxe o hit da banda The Beach Boys, California Dreamin e Detroit rock city, do KISS. Afinal, Stranger Things aposta na nostalgia para conquistar o público, inclusive aqueles que nem viveram nos anos 80, e essa fórmula se repete desde a primeira temporada.
Quais as pontas soltas?
Com os dois episódios finais da quarta temporada de Stranger Things, muita coisa foi respondida mas algumas situações ainda ficaram pendentes para o grande final da série. Como prometido pelos criadores, os irmãos Duffer, a temporada não terminou com tudo resolvido, muito pelo contrário. O maior desafio de todos foi anunciado, e a próxima temporada precisa dar um jeito para resolver tudo o que ficou para trás, mas já foi confirmado que a produção terá um salto temporal.
Max morre?
Depois de ter escapado da morte por muito pouco, Max encerra a temporada em uma cama de hospital em coma. Além disso, parece que ela não está dentro de sua mente, que Eleven encontrou vazia. Então, fica um questionamento de que talvez ela esteja presa dentro da mente do Vecna e se ela vai ficar sem enxergar ou andar.
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O que vai acontecer com Hawkins?
A season encerra com as quatro mortes causadas por Vecna abrindo portais que permitiram que o Mundo Invertido invadisse Hawkins. As partículas começaram a cair lentamente e a matar a vegetação que encontravam pelo caminho, então resta saber se os civis que sobreviveram continuarão por lá mesmo ou se a cidade abrigará apenas algumas pessoas, além dos protagonistas e possivelmente agentes do governo.
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Vecna vivo
Vecna apesar de ter ficado bem ferido com o ataque de Nancy, Robin e Steve, conseguiu fugir e, muito provavelmente, passará estes anos do salto temporal reunindo forças a fim de concretizar seu plano de uma vez por todas. A não ser que um novo personagem poderoso seja introduzido, Eleven é a única capaz de enfrentar Henry frente a frente.
[Vídeo: Reprodução/Twitter]
Nancy, Jonathan e Steve
A relação de Nancy e Jonathan sofreu bastante com a distância física e emocional entre os dois. A diferença de planos do casal pode acabar terminando com o relacionamento, enquanto Steve está pronto para levar uma vida de família com Nancy e seus seis futuros filhos.
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Will e a ligação com o Mundo Invertido
Os criadores da série já confirmaram à Colliderque Will terá um grande foco na última temporada da série, o que faz sentido já que no final do nono episódio, é possível ver o personagem se arrepiando devido a ligação com o Vecna. É importante lembrar que a conexão entre ele e o Devorador de Mentes foi estabelecida na 1ª temporada, antes de ser resgatado do Mundo Invertido. Alguns fãs já estão especulando que como tudo começou com ele, faz sentido toda essa história ser finalizada com ele também.
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Stranger Things continua encontrando mais força nos indivíduos e menos na jornada. A fórmula dos Irmãos Duffer funciona e entretém justamente porque eles amam seus personagens, fazem todo mundo amar seus personagens e gostam de permanecer o máximo possível em seus conflitos e emoções. Também ajuda bastante quando há consequências brutais, como no último episódio – e é de se esperar que os criadores tornem o impacto permanente.
A escala do seriado só tem aumentado, com a produção dando um show visual cada vez maior, seja esteticamente, seja cinematograficamente. Por mais desnecessariamente extenso que seja a finalização da quarta temporada, é impossível negar que foi o ano mais épico e macabro da série, mas, como sempre, mantendo o lado humano que torna a obra tão empática e divertida de acompanhar.
De uma série de mistério ao tom de terror, o seriado caminha para o seu desfecho carregando uma legião de fãs consigo. Dá para ter uma noção do que esperar do fatídico quinto ano, se considerar que apenas dois episódios foram tratados como um verdadeiro evento da cultura pop de 2022. É possível aguardar uma sequência com toda qualidade e potencial que trouxeram até aqui. Principalmente quando a promessa é grande demais para se esperar tanto.
No último domingo (27) foi ao ar o último episódio da segunda temporada de Euphoria, uma releitura da versão original israelense, que retrata jovens dos anos 1990. A série americana conta a história de um grupo de jovens que estudam no mesmo colégio, tendo como protagonista Rue, uma adolescente viciada em drogas desde a morte do pai.
A trama foca nos conflitos e traumas desse grupo de estudantes e mostra como cada um deles lida com seus problemas. Em sua jornada pela complicada fase da adolescência, os personagens cruzam com debates como identidade de gênero, sexo, consumo de drogas e autoaceitação. Desde 2019, a série faz sucesso e conta com 16 episódios ao todo e mais 2 especiais entre as duas seasons.
O destaque da obra é tanto que, se tornou a segunda série mais assistida da HBO, ficando atrás somente do clássico Game of Thrones. De acordo com a revistaVariety, o episódio final dessa temporada nova resultou em 6,6 milhões de espectadores na HBO e HBO Max na estreia. Até o momento, a média de audiência é de 16,3 milhões espectadores só nos Estados Unidos. Já na América Latina, se tornou a série mais assistida no HBO, o que provocou mais de 34 milhões de tweets em todo o mundo, de acordo com o Twitter.
Mas o que culminou para tanto sucesso?
ALERTA DE SPOILER
[GIF: Reprodução/Giphy]
Na primeira temporada, a série introduziu seu elenco principal e os desafios que cada um teria que enfrentar, sempre focando nos eventos em torno de Rue. Ainda assim, houve espaço para o desenvolvimento individual de personagens, como Kat Hernandez e Maddy Perez. O segundo ano da série dá mais atenção para a nova relação entre Cassie e Nate, a história de Fezco e Ash, e a recaída de Rue, que enfrenta ainda mais tumultos na vida e na relação com Jules.
Assim como a nova temporada aproveita para destacar outros personagens, ela também acrescenta novos rostos à trama, como o de Elliot. Apresentado como um companheiro para as horas de usar drogas, ele logo se torna um grande amigo de Rue. Como uma faca de dois gumes, ele colabora para que a personagem de Zendaya permaneça nas drogas nos primeiros episódios, e também é uma peça-chave para ela ficar limpa.
[Imagem: Reprodução/HBO Max]
Além de Elliot, a temporada também apresenta Laurie, a grande fornecedora de drogas da cidade. Com um temperamento diferente do esperado para uma traficante, ela mostra que é capaz de qualquer coisa para não ser passada para trás. Apesar de não ter protagonizado nenhum grande momento no segundo ano, talvez deva bagunçar a vida de Rue no futuro. Do contrário, a personagem terá sido desperdiçada como uma falsa promessa de potencial vilã.
[Imagem: Reprodução/HBO Max]
A grande produção conta com atuações impecáveis de Zendaya e Sydney Sweeney, que ao interpretarem personagens complexas, conseguem entregar uma grande variedade de emoções que convencem o espectador. O trabalho delas ganha mais destaque nas cenas em que ambas as personagens se encontram no fundo do poço, como quando Rue derruba uma porta aos chutes ou quando Cassie cria um ritual de beleza insano para chamar a atenção de Nate no colégio.
Outros grandes destaques dessa temporada nova foram os personagens Fezco e Cal Jacobs. A história de Fez foi muito bem explorada, mostrando até mesmo a infância do rapaz, e principalmente a trama de sua avó, que sempre apareceu em uma maca, mas que antigamente era uma excelente traficante, e foi com ela que aprendeu tudo o que sabe. Já o pai de Nate Jacobs, é mais desenvolvido a partir do momento em que a série volta no passado e mostra sua sexualidade, ou seja, tudo o que aconteceu até chegar no contexto atual de um adulto problemático.
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E provavelmente, um dos maiores feitos dessa temporada foi protagonizado por Fezco, que briga com Nate Jacobs. A cena ocorre logo no início da trama, na festa de ano novo, onde Nate é espancado até ficar inconsciente por Fez, como vingança por ter a polícia invadindo sua casa e forçá-lo a jogar todas as suas drogas no vaso sanitário.
Em entrevista ao The Tonight Show com Jimmy Fallon, Jacob Elordi declara que “Eu acho que eu como Jacob, eu adoraria bater nele. Eu adoraria dar a ele um grampo nas orelhas. Mas como Nate, eu me sinto muito mal por ele. Eu tive que levar uma surra. Foi uma droga”.
Já Angus Cloud, em entrevista ao NME, deixou claro como se impressionou com como a cena era extensa, pois Fez passou cerca de 30 segundos agredindo o personagem de Elordi após acertá-lo na cabeça com uma garrafa de vidro. Depois, o ator afirmou: “Acho que Nate ganhou o que merecia, era o que precisava acontecer”.
Sobre o dia de filmagens da cena especificamente, Cloud relembrou como tomou boa parte do dia e foi muito exaustivo. “Foi bem intenso, mas um bom dia. É difícil, definitivamente, mas a energia está presente na sala, então você se aproveita disso, sabe?”, declara o ator.
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Uma personagem que merece menção é Lexi, devido a peça Our Life, que antes foi nomeada Oklahoma. O espetáculo é totalmente inspirado na vida dos personagens, é a visão de Lexi Howard retratada totalmente sem filtro.
Desde a primeira temporada, ela era uma das personagens mais subestimadas, beirando a irrelevância para alguns espectadores. Contudo, o segundo ano do show mostrou que Lexi tem muito potencial, e ficou claro como ela é uma pessoa que sempre esteve a margem dos outros, como Cassie. Mas agora, se mostrou no centro do placo, e a peça era a única coisa que sentia estar em seu controle e que dava propósito para sua vida.
Apesar de icônica, o show é irreal para os parâmetros de uma escola de Ensino Médio, que nunca teria condições financeiras de arcar com uma produção daquele tipo. Eram vários detalhes e partes móveis que faziam parte de um cenário rotativo que agiam como uma extensão do corredor da escola, digna de um espetáculo da Broadway.
Mas apesar disso, conseguiu proporcionar muitos momentos incríveis, como a comparação de Lexi com a puberdade de Cassie, já que o monólogo revelou muito sobre a relação que ela tem com a irmã. Mesmo que com idades muito próximas, Cassie cresceu muito mais rápido do que Lexi, e ela acabou tendo um senso de autoconfiança distorcido por causa disso.
O ponto alto, sem dúvidas, foi a performance de Ethan como Nate ao som de Holding Out for a Hero. Lexi simplesmente mostrou para toda a escola a visão que ela possuía de Nate. Na plateia, é possível ver ele angustiado e cerrando os punhos, travando internamente uma batalha contra sua frustração sexual e sua masculinidade tóxica, ao ponto de quando Cassie tenta acalmá-lo, ele explode saindo do teatro dizendo que o relacionamento deles acabou.
Em entrevista ao Entertainment Weekly, Maude Apatow revelou que a inspiração para a peça está nos anos de ensino médio da própria atriz, quando viveu uma situação similar. “Faria sentido para Lexi ser uma criança do teatro. Eu era na vida real, e a peça é levemente baseada no meu último ano do ensino médio. Tivemos uma apresentação dirigida e produzida por alunos. Eu era a produtora e era como um tirano. Então, sim, é baseado em evento real”.
Além disso, o nome do penúltimo episódio da segunda temporada, The Theatre and It’s Double, é o nome original do livro O Teatro e seu Duplo do dramaturgo Antonin Artaud, então essa referência acaba fazendo sentido sabendo do que se trata a peça.
Por fim, Rue finalmente consegue passar um tempo longe das drogas após se aproximar do limite sob os efeitos delas e da abstinência. Nesse momento, Zendaya mostra mais uma vez o poder de sua atuação ao revelar a gritante diferença entre os estados da personagem. Para muitos fãs, ver a redenção de Rue após acompanhar sua dor por duas temporadas é um dos principais marcos do season finale, enquanto para a história, pode significar novas possibilidades no futuro.
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Ainda que o segundo ano da série tenha uma grande lista de acertos e episódios individualmente incríveis, há um certo desnível no roteiro em comparação com a primeira temporada. Ao focar em novas histórias, Euphoria deixou importantes fatos de lado, como o aborto feito por Cassie e a tortura que a personagem de Alexa Demie, Maddy Perez, sofreu no segundo ano, o que foi completamente ignorada nos episódios seguintes. E algumas outras pontas soltas que ficam são:
Ashtray morreu mesmo?
Todo mundo sabe que, nas telas, uma morte só é definitiva quando o corpo é mostrado. Isso não aconteceu com Ash após ser supostamente baleado por um oficiail da S.W.A.T, então talvez ainda exista uma chance do personagem estar vivo.
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#Fexi vai acontecer?
A segunda temporada entregou um casal que nenhum fã da série sabia que precisava: Lexi e Fezco. Apesar de nem terem engatado em um romance, já foi suficiente para todo mundo torcer pelo casal. Contudo, o episódio chegou ao fim antes mesmo de Lexi saber porque o traficante não compareceu a peça.
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Rue e a traficante Laurie
Uma trama que ficou muito mal resolvida foi o envolvimento de Rue com a traficante Laurie. A protagonista nunca vendeu as drogas que pegou, pois consumiu parte delas e o restante sua mãe jogou fora. Ela até levou alguns itens roubados para pagar a dívida, mas sabemos que não está quitada.
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O sumiço de McKay, figuração de Kat e polêmicas no set de Euphoria
Algumas histórias se perderam no desenrolar dessa temporada, como McKay, que construiu um relacionamento com Cassie durante a primeira season. O sexto episódio mostra uma cena no dormitório da faculdade, em que o casal transa mas um grupo de rapazes mascarados e seminus invade o quarto.
Aos gritos de McKay, os colegas arrancam o atleta da cama e o jogam no chão, se atirando sobre ele. A cena não mostra muito além e é muito rápida. Cassie, que troca mensagens com a irmã após a agressão, dá algumas pistas sobre o que pode ter acontecido de verdade, mas nem ela sabe ao certo. No banheiro, McKay parece muito abalado, mas faz questão de continuar a transa, transferindo para Cassie a agressividade que sofreu momentos antes.
A dúvida que fica é se ele realmente sofreu abuso sexual, mas conforme a história segue, isso não é respondido e na segunda temporada, o personagem só aparece no primeiro episódio, depois é cortado do enredo. Em entrevista ao The Daily Beast, o ator Algee Smith declarou “Eu realmente não tenho certeza, para ser honesto. Acho que esta é uma pergunta que deve ser feita ao nosso criador sobre como ele enxerga o rumo da história”.
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Além disso, Kat foi outra personagem que foi apagada nessa segunda temporada, que embora seja coadjuvante na história de Rue, tinha bastante destaque e um arco de autodescobrimento bem construído. No último episódio, por exemplo, alguns fãs compararam a duração da música de Elliot com toda a participação da personagem na temporada.
Este não parecia ser o destino da personagem quando a temporada começou. Era muito claro que o relacionamento com Ethan, apesar de doce e confortável, deixava a desejar quando o assunto era sexo. Mesmo ela tentando não pensar a respeito, seu inconsciente o manifestava.
A jovem teve pelo menos um sonho intenso, no qual transava com um Dothraki, uma figura que não poderia ser mais oposta ao seu namorado. Ela aos poucos se dava conta, como Maddy mesmo disseque “existe uma diferença entre o que você acha que deveria querer e o que você realmente quer” e essa realização ameaçava a estabilidade que queria atingir.
Simultaneamente, ela vivia debates internos turbulentos sobre seu corpo e a pressão das redes sociais de ter que se achar bonita o tempo todo. Porque ainda que Kat tenha se tornado um símbolo de autoaceitação e body positivity, como toda mulher ela tem inseguranças, ainda mais considerando o excesso de posts de modelos, atrizes e influencers, todas magras e dentro do padrão, que ela consumia.
Por mais interessantes e relacionáveis que essas discussões pudessem ser, elas começaram a se desenrolar fora da vista do público, transbordando, no máximo, em diálogos pontuais, aqui e ali. Quer dizer, o dilema sobre sua autoimagem ficou pelo caminho, mas ela terminou com Ethan, ainda que de um modo desastrado e pouco característico. Eventualmente, a maior função da Kat passou a ser como um ombro amigo para Maddy quando o triângulo amoroso com Nate e Cassie se revelou.
Em entrevista aoThe Cut, Barbie Ferreira afirmou que “a jornada de Kat nessa temporada é mais interna e um pouco misteriosa para o público. Ela está secretamente passando por crises existenciais. Ela perde um pouco o controle, como todo mundo nesta temporada“, como se dissesse que essa saída da personagem dos holofotes foi algo intencional. Contudo, não é essa a sensação que ficou ao assistir à segunda temporada. Parece que houve uma mudança inesperada no meio do caminho, praticamente um improviso que resultou no abandono do seu arco.
Rumores do The Daily Beast dizem que Ferreira se desentendeu com o criador, roteirista e diretor da série, Sam Levinson, sobre os rumos da sua personagem, o que teria culminado em duas ocasiões que a atriz abandonou o set e no corte de uma cena de sexo. Embora essas alegações possam fazer sentido diante da mudança abrupta na jornada da personagem e encaixem com a ausência de Ferreira na première de lançamento, elas estão longe de serem confirmadas.
[Imagem: Reprodução/HBO Max]
Principalmente devido aos relatos divulgados pelo The Daily Beast, em que vários membros da equipe e figurantes afirmaram terem vivido rotinas de trabalho extremamente intensas, sem conseguirem se alimentar direito e ir ao banheiro quando precisavam. “Parecia tóxico para mim porque acho que ninguém estava realmente feliz por estar lá”, declarou um figurante que não teve a identidade revelada.
Outros profissionais declararam que a diária da filmagem poderia durar até 18 horas, às vezes começando no pôr do sol e terminando no amanhecer do dia. Embora o SAG-AFTRA – sindicato de atores de Hollywood – exija que o elenco nas produções seja alimentado a cada seis horas, alguns integrantes afirmaram que ficaram com fome enquanto esperavam no set. Um figurante alegou que ele e seus colegas de trabalho não eram tratados como pessoas.
“Eu entendo que estou fazendo um trabalho de figuração, não sou a pessoa mais importante lá, sei onde estou no totem. Mas chegou a um ponto em que eu estava tipo, ainda sou uma pessoa, ainda sou humana. Por favor, deixe-me ir ao banheiro, não me diga que não posso ir por 30 minutos ou me diga que não posso comer um lanche quando você não vai me alimentar e são 4 da manhã. Nós não existíamos como pessoas.”, detalhou acrescentando que vários figurantes teriam passado mal ao mesmo tempo devido aos problemas de produção da série.
A HBO afirmou que a produção de Euphoria seguiu todas as diretrizes de trabalho estabelecidas pelo SAG-AFTRA. Em resposta reproduzida na Variety, a emissora afirmou: “O bem-estar de nosso elenco e equipe são sempre as prioridades de nossas produções. Euphoria seguiu todas as diretrizes de segurança dos sindicatos. Não é incomum que séries dramáticas tenham filmagens complexas, e os protocolos de prevenção da covid-19 adicionaram uma camada a mais nisso. Sempre mantemos uma linha de comunicação aberta com os sindicatos, incluindo o SAG-AFTRA. Não houve nenhuma reclamação formal realizada contra esta produção em específico”.
Além disso, a atriz Minka Kelly, que interpreta a Samantha na segunda temporada, afirmou a Vanity Fair que o diretor Levinson escreveu uma cena de nudez logo no primeiro dia de gravação. No entanto, Sam aceitou bem sua negativa ao pedido: “Ele achou que seria mais interessante se o meu vestido caísse no chão, era meu primeiro dia na série e eu simplesmente não me senti confortável em ficar nua ali. Eu disse que adoraria gravar, mas que poderia ficar com o meu vestido. Ele concordou e nem hesitou”.
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Ao The Cut, Sydney Sweeney também revelou uma situação semelhante quando pediu ao showrunner para cortar sequências em que aparecia com os seios à mostra. “Há momentos em que Cassie deveria estar sem camisa mas eu dizia a Sam que não era necessário naquele momento, e ele concordava. Nunca senti que ele me forçou ou estava apenas tentando colocar uma cena de nudez em uma série da HBO. Quando eu não queria fazer isso, ele não me obrigou”.
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A produção artística por trás da história
Apesar de todas as polêmicas, é inegável que a produção da obra entrega um excelente resultado da história com toda uma construção através da imagem, figurino e trilha sonora. Por exemplo, a fotografia trouxe contrastes e referências que somaram muito ao contexto, não somente esteticamente, mas também na narrativa.
Se na primeira temporada trouxe tons escuros de azul e roxo, agora a tela ganha tons de amarelo e laranja. O primeiro ano da série foi gravado no digital, já a segunda foi concebida em filme Kodak Ektachrome. A ideia é causar uma sensação de que os espectadores estavam às cinco horas da manhã, já que logo no primeiro episódio teve uma festa que pareceu ser às duas da madrugada.
E isso traz a reflexão de como uma tecnologia teoricamente em desuso, como esse tipo de filme, pode ter uma qualidade superior ao que é apresentado pelo digital.
Já um figurino é capaz de contar a história de um personagem ou de toda a série, transmitindo traços de personalidade, o período da história em que se passa, região, status, e muitas outras variáveis que podem ser comunicadas através da moda.
Um belo exemplo de storytelling em Euphoria, ocorre com as personagens Cassie e Lexi Howard. A figurinista responsável, Heidi Bivens, escolheu as marcas Prada e Miu Miu para contar a história das duas irmãs. No primeiro episódio, Cassie aparece usando uma sandália de couro branca da Prada. Já Lexi, ao decorrer dos episódios, usa diversas peças da Miu Miu.
Para muitos, Miu Miu é considerada a “irmã mais nova da Prada“, que mesmo sendo do mesmo grupo de donos, ambas possuem uma narrativa diferente. Prada foi criada em 1913 e suas peças representam o glamour e luxo. Já a Miu Miu, fundada em 1993, conversa com mulheres mais jovens, de modo que seja mais casual e divertido. E no contexto das duas irmãs na série, isso fica bem representado.
E seguindo uma tradição já imposta por Euphoria, em que a maquiagem e o arranjo de figurino são fundamentais, a continuidade das histórias das personagens foi ampliada na maneira em que se vestiam. Por exemplo, Jules permitindo-se construir sua própria identidade com as roupas que lhe agradassem os olhos e não que lhe atraíssem olhares ou até mesmo a Cassie, explorando roupas que agradece aos olhares do Nate.
Além disso, é possível ver diversas outras tendências de moda e beleza ao longo da obra, como as luvas usadas por Maddy, Jules e Kat; as diferentes golas exibidas por Lexi; todo o elenco fazendo uso de cores mais claras; o vestido de tule da Kat; o famoso conjuntinho da Cassie e da Maddy; o vestido preto icônico do designer mexicano Aidan Euan usado por Maddy; as famosas unhas de gel também utilizadas por Maddy; e os coques no cabelo por Jules;
E por fim, a trilha sonora, novamente sob responsabilidade de Labrinth, contou com as participações de Tove Lo, Noah Cyrus e Lana Del Rey. Também têm Zendaya cantando, compondo e produzindo junto de Labrinth, I’m Tired, que encerra a 2ª temporada. A colaboração dos artistas também foi em Elliot’s Song, música performada por Dominic Fike, durante uma conversa de Ellitot com Rue – a apresentação não agradou muito a audiência, visto que a música foi apresentada integralmente no episódio, ocupando mais de três minutos de cena.
Portanto, o diretor sabe filmar e faz um uso de uma câmera que a todo momento se movimenta, colocando o espectador como participante de diversos momentos da história. Os planos sequência usados, como o da cena de abertura, são primorosos e muito bem gravados e inseridos. Levinson faz uso dessas habilidades por saber fazer e saber inserir elas no contexto que deseja apresentar. Nada é colocado na produção de modo gratuito, tudo possui um propósito.
E mesmo abordando temas mais pesados, a primeira temporada tinha seus momentos de ternura. Já nesse segundo ano, eles são quase que inexistentes por apresentar uma narrativa sobre amadurecimento através da dor. É algo sombrio, cruel e bastante real.
Sam Levinson foi capaz de reafirmar o poder da série diante de seu público e mostra que a trama ainda tem muito a explorar. Atraído por atuações espetaculares, o espectador fica mais uma vez preso à tela esperando o próximo passo de seus personagens e desenrolar da história. Com novas possibilidades para os próximos anos, Euphoria encerra a segunda temporada reiniciando sua trama e prometendo um futuro esperançoso para seus velhos e novos personagens.
A música no cinema, ou a presença do som, faz parte desde os primeiros filmes mudos oriundos da difusão do cinematógrafo pelos irmãos Lumiére em 1895. Nesse período do cinema mudo, de 1895 a 1929, a ausência das vozes dos atores fez com que a música fosse primordial para acompanhar as histórias, ambientar a intensidade das cenas, mas principalmente prender a atenção dos espectadores. Durante muito tempo, as canções eram tocadas fora da tela, com um pianista ou algum tipo de orquestração.
Com a evolução dos equipamentos de captura e edição de som, a junção de cada expressão visual – imagens – com os ruídos – som e/ou música – se apresentou desde sempre como vital para o cinema. Cada vez mais, ao longo da história do cinema, a música ou a trilha sonora criou uma simbiose com os filmes que os tornaram muito mais palatáveis e atraentes, o que tornou o ato de ir ao cinema uma ocasião de grande entretenimento. A música e a história de um filme são inseparáveis.
Além de moldar a narrativa de um filme e despertar a atenção do espectador, a música ou a trilha sonora, é uma poderosa ferramenta sensitiva e tem o papel de gerar ambientes emocionantes em diversos níveis, que podem ser confortáveis ou desconfortáveis, alegres ou tristes. Quando uma trilha sonora consegue fazer um espectador lembrar de qual filme pertence, ela alcançou a sua plenitude.
Um exemplo disso é uma simples cena de diálogo em um carro, que pode causar as mais variadas emoções em quem assiste. Quando uma música de tensão é colocada, uma sensação de que algo está prestes a acontecer vem à tona. Se é tocada uma música mais suave e delicada, sugere um envolvimento romântico entre os personagens. Já um instrumental épico, pode remeter a uma grande aventura. Um ruído perturbador promete um perigo eminente ou uma música melancólica insiste em encher os olhos de lágrimas.
As trilhas sonoras abrangem uma enorme variedade de estilos musicais, dependendo da natureza e gênero dos filmes que acompanham. A maioria das partituras são obras orquestrais, geralmente no estilo clássico, mas muitas também são influenciadas pelo jazz, rock, pop, blues, new age e música ambiente. Com o aparecimento da tecnologia digital, as partituras também incluíram elementos eletrônicos e software de composição musical.
Um compositor responsável pela trilha sonora de um filme, geralmente entra no processo criativo no final das filmagens, ou seja, mais ou menos na mesma época em que o filme está sendo editado, embora em algumas ocasiões ele esteja disponível durante toda a filmagem, especialmente quando os diretores gostam de iniciar suas produções com base no fundo musical e atores que precisam desenvolver suas atuações já cientes do impacto dramático ou emocional da música original. Em decorrência disso, abaixo estão alguns dos maiores compositores do cinema:
Hans Zimmer
Hans Florian Zimmer é um compositor e produtor musical alemão. Todas as suas obras se destacam por integrar sons de música eletrônica com arranjos orquestrais tradicionais. Desde a década de 1980, Zimmer compôs músicas para filmes famosos que incluem O Rei Leão – inclusive ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original em 1995 -, Gladiador, Sherlock Holmes, a franquia Piratas do Caribe, Dunkirk, Blade Runner 2049 e o filme mais recente Duna. Além disso, ele é o chefe da divisão de música para filmes nos estúdios DreamWorks.
[Imagem: Reprodução/Google]
John Williams
John Towner Williams é um compositor, maestro e pianista americano. Em uma carreira que já dura sete décadas, ele compôs algumas das trilhas sonoras de filmes mais populares, reconhecidos e aclamados pelo público da história do cinema como a saga Star Wars, eternizando a marcha imperial, também participou dos filmes do Indiana Jones, Superman e ET-O Extra Terrestre. Suas composições são consideradas o ápice da música cinematográfica e recebeu diversos prêmios.
[Imagem: Divulgação/LucasFilm]
Bernard Herrmann
Bernard Herrmann foi um compositor e maestro americano. Ele é amplamente considerado como um dos maiores compositores de filmes. Vencedor do Oscar, Herrmann é conhecido principalmente por suas colaborações com o diretor Alfred Hitchcock em filmes como Psicose, Intriga Internacional, O Homem Que Sabia Demais e Um Corpo que Cai. Colaborou também com o diretor Orson Welles no clássico Cidadão Kane.
[Imagem: Reprodução/Pinterest]
Alfred Newman
Alfred E. Newman foi um compositor, arranjador e maestro americano de música para o cinema. Ele também conduziu muitas adaptações cinematográficas de musicais da Broadway, o que o fez trabalhar com grandes nomes como Al Johnson, Gershwin e Chaplin. Além disso, foi um dos primeiros músicos a compor e conduzir canções originais durante a Era de Ouro dos filmes de Hollywood.
A clássica abertura Twentieth Century-Fox Fanfare também foi uma composição de Alfred, que por muito tempo foi o chefe do departamento de música da Fox.
Nino Rota
Giovanni Rota Rinaldi, mais conhecido como Nino Rota, foi um compositor e maestro italiano que ficou muito conhecido por suas trilhas sonoras para filmes de Federico Fellini e Luchino Visconti. Ele também compôs a música para os dois primeiros filmes da trilogia de O Poderoso Chefão de Francis Ford Coppola, ganhando o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original por O Poderoso Chefão II (1974), também faz parte da trilha sonora em Romeu e Julieta e A Doce Vida. Além de partituras, ele compôs dez óperas, cinco balés e dezenas de outras obras orquestrais, corais e músicas de câmara.
[Imagem: Reprodução/Google]
Danny Elfman
Daniel Robert Elfman é um cantor e compositor estadunidense de origem alemã, um dos maiores músicos da história dos Estados Unidos. Ele foi vocalista e líder do grupo pop new wave Oingo Boingo que vendeu milhões no mundo inteiro nos anos 80 e 90, e além disso, foi responsável por diversas trilhas musicais do cinema em Hollywood, como Vingadores: A Era de Ultron, abertura de Os Simpsons, A Noiva Cadáver e O Grinch do Jim Carrey.
[Imagem: Reprodução/Pinterest]
Howard Shore
Howard Leslie Shore é um compositor canadense. Ele já compôs trilhas para mais de 40 filmes, com seu trabalho mais notável sendo a trilogia O Senhor dos Anéis, que deram a ele três Oscars. Além disso, fez parte de Spotlight, a saga Crepúsculo e Gangues de Nova York.
[Imagem: Reprodução/Variety]
Phil Collins
Philip David Charles Collins é um baterista, cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor musical e ator britânico. Foi baterista e vocalista da banda Genesis, mas também atingiu grande êxito em carreira solo. Também atuou em alguns filmes e programas de televisão. Collins é responsável pelas trilhas sonoras de filmes como os clássicos da Disney, Tarzan e Irmão Urso, mas também em Vidas em Jogo, Paixões Violentas e O Sol da Meia-Noite.
[Imagem: Reprodução/GHZ]
Labrinth
É de se esperar que com o passar dos anos surjam novos grandes compositores e Timothy Lee McKenzie, mais conhecido pelo seu nome artístico Labrinth, faz parte dessa fase. Ele é um cantor-compositor e produtor musical inglês que inicialmente foi cotado para trabalhar como produtor, mas Simon Cowell – produtor das bandas One Direction e Fifth Harmony – o contratou para gravar suas próprias músicas como artista solo, e foram lançadas pelo selo Syco Music.
Os seus trabalhos mais recentes estão na atual série Euphoria, que se tornou um sucesso mundial, não só pela história desenvolvida por Sam Levinson, mas pelas canções desenvolvidas pelo artista.
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No final da primeira temporada, Zendaya encena um verdadeiro espetáculo ao som de All For Us, quando Rue possui uma recaída. Essa grande representação musical do vício rendeu a Labrinth um Emmy de Melhor Música Original e Letra e já acumula mais de 25 milhões de visualizações no YouTube desde a estreia em agosto de 2019 – mas não é a única faixa do programa que explodiu nas mídias sociais.
Quando a primeira season da série estreou na HBO, era apenas uma questão de tempo até que inspirasse várias tendências nas redes sociais, com a estética brilhante do programa, temas adolescentes e roupas glamourosas arrancadas das prateleiras da Urban Outfitters marcando cada caixa na lista de verificação da Geração Z.
Still Don’t Know My Name tornou-se a primeira grande tendência do TikTok do drama, com adolescentes vestindo looks e maquiagens no estilo Euphoria enquanto luzes multicoloridas piscavam atrás deles. Na segunda temporada não seria diferente, o hino da festa When I RIP e a faixa Nate Growing Up, que enfatiza temas de masculinidade tóxica em torno do personagem Nate Jacobs, foram alguns dos grandes sucesso.
O artista inclusive fez uma participação especial no quarto episódio da segunda temporada, onde ele aparece em uma cena de alucinação da Rue e performou as canções I’m Tired e Believe Me.
Gloria Groove lançou LADY LESTE na última quinta-feira (10), o seu segundo álbum de estúdio após diversos singles e dois EPs de sucesso.
O disco conta com 13 faixas que expressam toda a versatilidade e feminilidade da cantora.“É uma carta de amor para as mulheres da minha vida, que me criaram, que possibilitaram que eu fosse essa pessoa de hoje. Sem a energia feminina na minha vida e sem a arte, não teria conseguido expressar metade dos meus sentimentos”, afirma Gloria na coletiva de imprensa para o lançamento do álbum.
Produzido por Ruxell e Pablo Bispo, com mixagem e masterização de Tap Sounds e participações especiais de MC Hariel, MC Tchelinho, Sorriso Maroto, Marina Sena, Tasha&Tracie e Priscilla Alcantara. A obra passeia por diferentes gêneros musicais, como funk, pop, pagode, trap, hip hop, reggaeton e rasteirinha.
Além das canções, a artista lança, em parceria com o Spotify, a produção em formato de Álbum Clips, funcionalidade que busca trazer uma experiência visual, interativa e mais profunda para os usuários do streaming. Para cinco das treze músicas que compõe o álbum, a plataforma e a cantora criaram clipes de 30 segundos exclusivos. O recurso ainda está em testes, mas LADY LESTE é o primeiro trabalho brasileiro a contar com essa função.
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SFM dá o start na obra servindo como uma ‘música-chave’ para tudo o que ainda está por vir. Em parceria com MC Hariel, conhecido por Maçã Verde e Set dos Casados, a faixa é uma mistura de rap e funk com uma introdução ao som de rock.
Em seguida, BONEKINHA foi o primeiro single do álbum e traz funk no início, rap e trap no meio e a guitarra no fim. Além disso, conta com participação de Mirella, irmã da rapper Drik Barbosa, cantando um trecho. De acordo com Groove: “Bonekinha é onde toda essa brincadeira começou! Experimentei a estética de Lady Leste a partir dela e tornei Bonekinha como meu norte”, e ainda acrescenta que é o maior hino do disco e que nos shows é um fênomeno.
VERMELHO apresenta um funk bem raiz para celebrar o legado de Daniel Pedreira Senna Pellegrine, mais conhecido como MC Daleste, cantor de funk paulista muito reconhecido que aos 20 anos de idade morreu a tiros. Esse último single possui sample de Quem É e Mina de Vermelho do funkeiro. “Ele marcou a vida de muitas pessoas da minha idade nas festas e nos bailes. Antes de mim, ele foi um dos artistas que colocou a zona leste no mapa, por isso a escolhi para puxar a chegada do álbum.”, declara a artista.
FOGO NO BARRACO é um samba pop com uma letra mais sensual e conta com a presença de MC Tchelinho. Já em TUA INDECISÃO, o típico pagode romântico que, desde os anos 2000, ganhou o Brasil. A faixa tem o toque do Sorriso Maroto, grupo carioca liderado pelo vocalista Bruno Cardoso.
APENAS UM NENÉM, a sexta música do álbum traz um arrocha cheio de dengo em parceria com a musa do pop nacional da vez, Marina Sena, conhecida pelo sucesso Por Supuesto.
Para dar uma quebrada no disco, o reggaeton JOGO PERIGOSO explicita a veia pop que pulsa em todo o trabalho e é uma das faixas mais antigas de LADY LESTE, escrita na época do EP ALEGORIA (2019). “Conseguimos expandir o ritmo para o Brasil e o mundo com o reino da nossa musa Anitta. É uma das faixas solo do álbum, estaria no álbum da diva pop que eu escutaria”, complementa Groove.
GRETA apresenta o lado mais hip hop do álbum, onde Gloria Groove assume mais uma personagem: “Em ALEGORIA, criei a Mary Jane e outras duas personagens em SEDANAPO. Repito esse comportamento em LEILÃO. É como os filmes do Eddie Murphy ou os clipes da P!nk, em que eles interpretam todo mundo. Se Mary Jane é meu alter-ego fofinho, amoroso e até meio trouxa, Greta vem para ser o meu outro extremo, quando estou muito brava e nervosa. Acho que eu a escondo dentro de mim, jamais seria a Greta para fora. Greta porque é Treta que se escreve com G!”.
Em seguida, o trap PISANDO FOFO em parceria com as irmãs Tasha e Tracie Okereke, é um recado para os invejosos através de uma mistura de rap com elementos do hip hop. Já em LEILÃO, terceiro single do disco que foi lançado em novembro de 2021, fala sobre o valor volátil da arte no mercado comum da vida humana.
LSD aborda a temática de como o sucesso e a notoriedade afetam a saúde mental dos artistas, e por conta disso, fazem sacrifícios e encontram vícios pelo caminho. Além disso, a faixa traz uma densidade que cumpre o papel de abrir a parte final do álbum, puxando um pouco mais para o rock e R&B.
O segundo single do disco, A QUEDA é o auge do pop rock em que fala sobre o ódio coletivo que é o grande medo da sociedade, e apresenta uma estética mais de terror. A artista declara que essa faixa é um divisor de águas em sua carreira: “A Queda é a grande ironia da minha vida, porque depois dela as coisas só têm decolado! Talvez porque eu fui muito mais humano do que podia imaginar falando sobre isso, e me divertindo. Acho que isso cativou as pessoas!”.
Para encerrar o álbum, SOBREVIVI é uma mistura de rock com gospel em parceria com Priscilla Alcantara, que traz uma mensagem apontando para o futuro com esperança, amor e paz.
Gloria Groove apresentou um trabalho musical e visual que consolida a ascensão da artista no universo pop nacional, e se bobear internacional. A verdade é que, a única parte ruim de LADY LESTE é quando o álbum acaba!
O disco conta com 12 faixas que falam sobre a fragilidade do homem negro se permitir amar e ser amado. Baco expõe dores, memórias e amores na luta contra o racismo estruturado na sociedade brasileira e contra as heranças culturais de um mundo machista.
Produzido por Marcelo de Lamare, a obra apresenta beats criados por Dactes, JLZ e Nansy Silvvz em torno dos gêneros R&B, soul e blues, que são muito utilizados na música negra norte-americana. Além disso, é possível perceber uma sonoridade bem próxima a de grandes artistas como o The Weeknd, mas com um belo toque de música brasileira, usando samples de Gal Costa e Vinícius de Moraes. Também possui uma influência das raízes africanas, principalmente religiosas, que o cantor carrega até em seu nome artístico.
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Sinto Tanta Raiva… dá o start no álbum com trechos instrumentais evocativos do jazz e fala sobre as nuances de como receber e dar afeto sendo um homem preto, especialmente nessa faixa introdutória, em que afirma: ‘Eu sinto tanta raiva que amar parece errado’. A solidão do homem negro, muitas vezes é menos discutida – inclusive foi tema do filme ganhador do Oscar, Moonlight (2016) – e que enfrenta o adicional da cultura da masculinidade tóxica, que ensina os homens a não expressarem seus sentimentos.
Em Dois Amores, Baco explora um espaço mais religioso com a Umbanda, onde utiliza um ponto de Pomba-Gira para complementar sua canção, e faz uma interpolação – uso de uma melodia já existente com uma nova letra – de Streets da Doja Cat. Para quem acompanha o rapper por conta do hit Te Amo Desgraça(2017), o álbum QVVJFA fornece uma munição romântica e até mesmo sexual bem similar nas faixas Ciganae 20 ligações. Além disso, em Mulheres Grandes, o artista traz uma visão mais sacana de si cantando que ‘mulheres grandes demais, com desejos gigantes, não servem para ser amantes’.
Samba in Paris, feat com a Gloria Groove, é a música mais ouvida do álbum até agora no YouTube, com mais de 530 mil visualizações, e esse destaque se deve a essa belíssima R&B envolvente com uma rima impecável da Gloria, fazendo com que seja o ápice do amor. E a sétima canção, Sei Partir, possui outra parceria, mas com Muse Maya, e mais uma interpolação, mas dessa vez do próprio Baco, com a música Kanye West da Bahia, uma parceria com Bibi Caetano e Deekapz.
Em Autoestima, Baco foge da dor enquanto procura o amor próprio que afirma ter sido roubado, e que demorou 25 anos para se achar bonito. Essa canção reflete o estereótipo de que o homem negro só é bonito quando possui um corpo definido, e isso possui uma relação direta com a mudança de visual recente do cantor.
A música de Baco Exu do Blues levanta questões relevantes que vêm sendo mais discutidas nos últimos anos. Os corpos negros sempre foram animalizados e objetificados, justamente porque a sociedade tardou a agregar valor a eles. As mulheres, por muitas vezes, eram vistas apenas como bons corpos para a reprodução e que não têm necessidade de afeto. Já os homens, eram aqueles bem-dotados. Ambos, hipersexualizados.
Dessa forma, apesar das mudanças em que a sociedade passou ultimamente com estudos e movimentos antirracistas, ainda prevalece um pensamento associado à valorização da comunidade negra que está atrelado às características físicas. Muitas pessoas ainda acreditam que para serem aceitos e considerados bonitos e desejáveis, é necessário ter um corpo dentro dos padrões estéticos e o mais próximo da branquitude, como pele mais clara, traços mais ‘delicados’ e cabelos com uma textura mais lisa.
A gordofobia dentro da comunidade negra se mostra como um problema ainda mais grave do que entre indivíduos brancos, já que os negros devem lidar também com o racismo. Com o lançamento do disco QVVJFA? e a repercussão das fotos de Baco, que mostra o cantor mais magro e musculoso, muitas pessoas começaram a ressaltar a beleza dele, o que já rendeu diversas críticas por parte de alguns internautas.
PS: eles dizem que gordofobia não existe, assim como também não há hipersexualização de corpos pretos quando padrões. Eles dizem.
Lágrimas verte o medo de amar entre os ecos da voz de Gal Costa, sampleada de Lágrimas Negras (Jorge Mautner e Nelson Jacobina, 1974), e uma interpolação de outro clássico brasileiro, Malandragem da eterna Cássia Eller. O clímax do disco é na décima música, Inimigos, com um rap mais sombrio e agressivo, que relembra as obras anteriores do artista. Em seguida, o tema da falta de amor reverbera em Imortais e Fatais 2 – sequência da música original apresentada no álbum Esú – entre sample de versos do afro-samba Tempo De Amor na voz de Vinicius de Moraes (feat Baden Powell, 1966).
No arremate do álbum, o rap 4 da Manhã em Salvador jorra em rimas ágeis o ódio entranhado na jornada de Baco Exu do Blues em busca do amor, incluindo o amor-próprio. O disco ainda traz trechos de Batatinha e Originais do Samba, áudios de personalidades da música da Bahia como Ravi Lobo do Rap Nova Era, JF e Polêmico da Banda O Metrô e o ator Leandro Ramos.
Por fim, o artista usa de combustível a raiva, o romance e o sexo para a construção desse disco que conta a sua história e de todos os negros, com uma pauta de falta do afeto ou do amor, de si e do outro. Em entrevista ao JC, Diogo Moncorvo – nome de batismo – declara: ‘Quem representou o amor por muito tempo, quem fez ele ser válido ao longo da história, foram as pessoas brancas. Parece que esse amor que criaram não foi feito para negros, e isso é um pouco assustador’.
Baco Exu do Blues desenvolveu uma arte tão profunda, ao ponto de qualquer ouvinte se emocionar e se questionar: Quantas Vezes Você Já Foi Amado?
A tradição de comemorar o Natal com canções e músicas em coral se popularizou rapidamente, e se, a princípio as músicas da época possuíam melodias e ritmos musicais muito simples, ao longo do tempo, começaram a se tornar mais complexas e a utilizar mais instrumentos.
As músicas natalinas surgiram na Igreja a fim de celebrar o Nascimento de Jesus Cristo e reforçar os valores cristãos. Assim, os padres ensinavam canções e as crianças cantavam em coro em casas e igrejas. O registro mais antigo de uma música de Natal é da canção“Iesus refulsit omnium“, ou seja, “Jesus, luz de todas as nações”, do século IV, atribuída ao Santo Hilário de Poitiers, um dos doutores da Igreja.
Provavelmente a mais conhecida de todas as músicas natalinas tenha sido “Noite Feliz”, originalmente em alemão chamada de “Stille Nacht”. Escrita na Áustria em 1818 pelo padre Joseph Mohr, em parceria com Franz Gruber para ser tocada na Missa do Galo da paróquia de São Nicolau. A música ficou conhecida mundialmente e já possui mais de 300 traduções diferentes, sendo considerada patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco em 2011.
No Brasil, não existe uma tradição muito grande na produção de músicas natalinas, mas ainda assim, cantores como Simone, Aline Barros e Roupa Nova, por exemplo, já dedicaram algumas faixas ao feriado. Já em um cenário internacional, é bastante comum o lançamento de canções natalinas por artistas de todos os gêneros, do pop, blues, rock e do jazz. Entre as músicas de Natal internacionais mais famosas, as canções mais icônicas são de artistas, como Frank Sinatra, John Lennon, Ray Charles e muitos outros.
A Sociedade Americana de Compositores, Autores e Editores (ASCAP) divulgou na semana do dia 10, uma lista que elenca os maiores sucessos de Natal lançados desde 2001 – ou seja, do século XXI até agora. A lista leva em conta apenas composições em que pelo menos um dos autores é membro da ASCAP, mas oferece um bom panorama do cenário natalino dos últimos anos. Segundo a Variety, o ranking foi montado “com base na análise do desempenho nos streamings e rádios de músicas registradas a partir de 2001”.
A instituição, como já é tradição, também liberou um ranking geral, sem corte temporal, das canções natalinas mais populares do ano. Em 2021, o grande hit até o momento é o clássico de 1948Sleigh Ride, originalmente lançado pelo grupo The Ronettes, e regravado por nomes como Miley Cyrus, Meghan Trainor, Carpenters e Mariah Carey. Completam o pódio Let It Snow, Let It Snow, Let It Snow, de 1945, e A Holly Jolly Christmas, de 1962.
Em geral, as músicas natalinas falam sobre fraternidade, amor e paz, e muitas delas são reconhecidas no mundo todo, tornando-se uma linguagem universal da época. Além disso, os lançamentos de álbuns de Natal podem ditar o passo da indústria fonográfica mundial atualmente, mas querendo ou não, foram os grandes clássicos que pavimentaram o caminho do sucesso para além do Jingle Bells.
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A terceira obra solo do Tom Holland no papel do herói conseguiu estrear no Rotten Tomatoes – site de críticas especializado – com a altíssima avaliação de 100%. Apesar de não ter classificações perfeitas, vale lembrar que os últimos filmes de Hollandcomo o super-herói também conseguiram uma excelente avaliação no site: De Volta Ao Lar(2017) tem 92% de aprovação enquanto Longe De Casa (2019) acumula 90%.
O filme inicia um importante capítulo na vida de Peter Parker, já que os acontecimentos das produções anteriores e a sua identidade revelada, o herói precisa lidar com as questões que a vida fora do anonimato trazem. Após tudo estar indo de mal a pior, Parker procura o Doutor Estranho para ajudá-lo a colocar sua vida nos eixos. No entanto, os dois heróis acabam piorando a situação e abrindo uma brecha no Multiverso, o que consequentemente, traz visitantes inesperados ao seu mundo, e com isso, Peter terá que ajeitar toda a bagunça que arrumou.
Como tudo começou nas HQs
O Homem-Aranha é um dos heróis mais populares de todo o mundo, ficando sempre em evidência: suas histórias estão entre as de maior sucessos e já ganhou uma quantidade de filmes que poucos super-heróis podem igualar. Nos quadrinhos, sua casa original, o amigo da vizinhança também sempre foi uma prosperidade e sua trajetória nesta mídia serve de parâmetro para toda a indústria dos comics.
Em 1962, Stan Lee concebeu um novo protagonista diferente dos demais: humanizado, uma pessoa normal, com problemas comuns como falta de dinheiro, problemas familiares, só que em meio a tudo isso, com superpoderes para combater o crime. O ideal era que não fosse um cara popular, sendo perseguido no colégio, sem sorte com as mulheres, não fosse extremamente bonito e nem musculoso. Por fim, o fato de ser um adolescente também era um novidade, afinal, os heróis eram sem exceção pessoas adultas. Os adolescentes eram apenas sidekicks ou “parceiros mirins”, como aqueles da concorrente DC Comics (Robin, Kid Flash, Moça-Maravilha). Depois, foi decidido que o personagem devia se chamar Spider-Man e tivesse os poderes relativos a uma aranha: escalar paredes, levantar dezenas de vezes o próprio peso e ter uma grande agilidade.
Mas desde o início, Aranha enfrentou problemas para ser lançado. O dono da Marvel, Martin Goldman, não gostou da nova ideia, já que as aranhas são animais que as pessoas costumam não gostar e isso poderia influenciar o gosto delas pelo personagem. Porém, Stan Lee conseguiu uma chance, afinal tinha emplacado várias revistas de boa vendagem, e com isso, poderia lançar essa nova criação na revista Amazing Fantasy, que estava com a data de cancelamento marcada devido as baixas vendas.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
Para desenhar e desenvolver o seu novo personagem, Lee contatou o companheiro Jack Kriby, também criador de de Quarteto Fantástico, Thor e Hulk. Kirby começou a desenhar a história, um conto previsto para ter apenas oito páginas, mas Stan Lee não gostou dos desenhos, visto que o herói estava musculoso demais e a história escrita pelo desenhista fugia do propósito original. Alguns dizem que tratava-se de uma ficção científica nos moldes do Lanterna Verde da DC. Por sua vez, Kirby se baseou em outros dois personagens que havia criado anos antes, chamados The Silver Spider e The Fly, de onde retirou características como os poderes relacionados a insetos e até a história de um órfão criado por um casal de tios idosos. E por conta disso, o trabalho foi repassado para o desenhista Steve Ditko.
Os fãs disputam quem criou o uniforme do Homem-Aranha, Kirby desenhou o traje com uma malha tradicional de super-herói, inclusive com botas de bucaneiro – uma de suas marcas – e capa, além de usar uma pistola. Ditko criou a roupa bem expressiva do personagem, mas a dúvida permanece, já que a capa da primeira revista com a aparição do Homem-Aranha foi feita por Jack Kirby, com o herói segurando um bandido nos braços enquanto se balança em sua teia. Além disso, nas poucas vezes em que desenhou o aracnídeo, ele fazia o uniforme com algumas distinções: no traço original de Ditko as teias desenhadas no peito deixavam um quadrado em aberto dentro do qual se localizava o símbolo da aranha negra, enquanto na versão de Kirby a aranha está por cima das teias como se desenha até hoje, os olhos da máscara do herói também eram ligeiramente diferentes.
Criação de John KirbyCriação de Steve Ditko[Imagens: Reprodução/Marvel Comics]
Na primeira história do Aranha, em Amazing Fantasy 15, o jovem estudante colegial Peter Parker é mostrado como um órfão, criado pelos amorosos tios Ben e May Parker, enquanto é um aluno brilhante, mas escorraçado pelos colegas populares, e é picado por uma aranha que, acidentalmente, foi bombardeada por radioatividade, durante uma exposição de ciências. Com o passar do tempo, o jovem desenvolve as habilidades de uma aranha verdadeira: super força, dá enormes saltos e pode escalar as paredes, além de ter um sexto sentido que alerta dos perigos.
[Imagens: Reprodução/Marvel Comics]
Empolgado com as novas habilidades, cria a identidade de Homem-Aranha para ganhar partidas de luta livre e passa a se apresentar em programas de TV como uma sensação. O sucesso é imediato. Porém, ele deixa escapar da emissora um ladrão que assaltou uma pessoa, por dizer que o problema não era dele.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
Pouco depois, seu tio Ben Parker, que o criou como se fosse um filho, é assassinado em um assalto comum. Um vingativo Peter parte vestido de Homem-Aranha em busca do assassino apenas para descobrir que é o mesmo ladrão que ele havia deixado fugir. Mas por um momento, se lembra da frase dita pelo tio: “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Então, passa a se dedicar ao combate ao crime, enquanto cuida de manter sua identidade secreta, para poupar a Tia May, que é toda a família que resta. Além disso, ela é doente do coração e qualquer choque pode ser fatal. A história curta de oito páginas em que isso ocorre tornou-se um grande sucesso.
Devido ao triunfo da HQ, foi desenvolvida uma revista própria para o super-herói, mas na época a Marvel era uma editora pequena e sem distribuidora, e portanto tinha um limite de alguns títulos mensais que podiam ser lançados. Por isso, a revista The Incredible Hulk– que não vinha vendendo tão bem – foi cancelada em seu sexto número para dar lugar à casa do escalador de paredes. Com isso, The Amazing Spider-Man 01, chegou às bancas com data de capa de março de 1963, sete meses após sua estreia.
Mas não foi concebida uma capa para o novo quadrinho, e colocaram o Quarteto Fantástico fazendo uma participação especial, para que os leitores deles se interessassem também pela história e as vendas aumentassem. Na época, o Quarteto era o maior sucesso da editora. Assim como em Amazing Fantasy, a capa de Amazing Spider-Man também foi de Jack Kirby e não de Ditko, porque ele era o principal capista da Marvel.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
A primeira fase do Homem-Aranha foi dedicada a criar seu universo ficcional e um dos períodos mais profícuos do personagem, cheio de momentos clássicos. A influência desse trabalho em outros artistas – contemporâneos e futuros – também foi enorme. A dupla Stan Lee e Steve Ditko escreveram as primeiras 38 edições da revista Amazing Spider-Man, publicadas entre março de 1963 e maio de 1966, mais duas edições anuais, em 1965 e 1966.
Boa parte dessas histórias apresentaram as primeiras aparições dos grandes vilões do Homem-Aranha: Camaleão, Consertador, Abutre, Dr. Octopus, Lagarto, Electro, inclusive em uma aventura que traz de brinde um confronto entre o Aranha e o Tocha Humana. Além disso, Mysterio, Duende Verde, Kraven e Homem-Areia, também foram desenvolvidos, sem contar os confrontos com vilões da Marvel que já existiam, como Dr. Destino, inimigo do Quarteto Fantástico; Cabeça de Ovo, inimigo do Homem-Formiga e o Circo do Crime, uma aventura conjunta com o recém-criado Demolidor. Tudo isso somente nas 18 primeiras edições de Amazing. Depois, outros vilões clássicos continuariam a surgir, como Escorpião, Magma, Smithy e os Esmaga-Aranha.
[Imagens: Reprodução/Marvel Comics]
Outros personagens incluídos nessa época foram: o eterno antagonista J. Jonah Jameson, editor-chefe do Clarim Diário, que destila veneno contra o Aranha em seus editoriais desde Amazing 01; Betty Brant, a primeira namorada de Peter Parker, mais velha, era a secretária de J.J.J (ASM 04).; Flash Thompson, o galã do colégio Middletown Hugh School onde Peter estuda e é o cara que inferniza a sua vida, ao mesmo tempo em que é o maior fã do herói aracnídeo (AF 15); e Lizz Allen, a musa do colegial, namorada de Thompson e que depois se interessaria por Parker (AF 15).
As primeiras histórias justificavam o fato de Peter manter sua identidade secreta por dois motivos: os editorais explosivos de Jameson, que faziam o Homem-Aranha ser tratado como um criminoso; e o fato de sua Tia May sofrer de uma doença cardíaca séria (revelada já em ASM 01) e que poderia morrer com o choque da descoberta. Ao mesmo tempo, a pensão deixada por Ben não é o suficiente para mantê-los, o que é agravado pelo caro tratamento e remédios de May. Então, Peter precisa desesperadamente de um trabalho de meio-período que não o atrapalhe na escola. Com isso, possui a brilhante ideia de fotografar a si mesmo, o herói, quando vê um anúncio no Clarim Diário oferecendo dinheiro por imagens exclusivas da “ameaça mascarada”, como mostra em Amazing 04.
É importante lembrar da edição Amazing Spider-Man 39, que chegou às bancas em agosto de 1966 e trouxe um grande estardalhaço por dois motivos: em primeiro lugar, uma icônica capa em que o Duende Verde aparece em seu jato carregando um Peter Parker amarrado, com as roupas civis rasgadas revelando seu uniforme, em segundo, pela mudança do desenhista da revista e o crédito ocupado por John Romita, uma futura lenda, mas no momento, um mero desconhecido.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
A fase de John Romita mudou bastante coisa dentro do universo do aracnídeo, principalmente por ser considerado o “rei das revistas de romance” dos anos 1950 e passou dez anos desenhando homens garbosos, mulheres bonitas e sabia como ninguém desenvolver uma novela amorosa, algo do qual Peter Parker se beneficiaria bastante. Alguns críticos irão dizer que Romita embelezou Parker e isso é verdade. O Peter de Romita também é um pouco mais autoconfiante, sendo um desenvolvimento da trama de seu ingresso na Universidade.
Além disso, a vida do personagem também ganhou ares mais adultos – incluindo sair de casa – o que também era condizente com a idade de um jovem universitário. A novela em torno do triângulo amoroso Peter-Betty-Liz foi sucesso entre os leitores, Lee e Romita decidiram reciclar a ideia, mas agora, com Peter-Gwen-MJ. Apesar disso, as referências ao sexo propriamente dito permaneceram muito subliminares, simplesmente porque o Comic Code Authority (CCA, o órgão de autocensura que regulava os quadrinhos dos EUA) não permitia.
Outro aspecto interessante é que Romita – longe da inflamação direitista de Ditko – teve mais preocupação em contextualizar Peter e seu universo às turbulências dos anos 1960. Assim, não apenas a UES aparece mais, como também questões sobre a política, guerra, os direitos civis, protestos, o rock e o vestuário. O desenhista estava o tempo todo pesquisando em revistas de modo o outfit de seus personagens, o que dava ares mais joviais e informais de um modo que Ditko ou mesmo Kirby não podiam. Isso incluiu criar um núcleo afroamericano para a revista na figura do editor de cidades do Clarim, Joe “Robbie” Robertson – muito mais humano e bondoso do que o irascível J.J. Jameson, e seu filho Randy, que é um dos colegas de Peter na UES.
A partir de ASM 73, a arte principal de Homem-Aranha passou por um período para o veterano Jim Mooney, artista da Era de Ouro que fez trabalhos marcantes nas histórias do Batman e da Supergirl na DC Comics, mas tinha trabalhado também na Timely-Atlas. A arte clássica e bonita de Mooney casou muito bem com o estilo de Romita com o Aranha e ele teria um longo futuro no personagem. Romita fazia a arte final, ou seja, cobria o lápis com tinta nanquim. A dupla ficou até a edição 82, quando a posição de artista backup de Romita passou a John Buscema, artista que emergia como um dos principais da Marvel pós-1968, e então, o responsável pela revista dos Vingadores. Buscema, Mooney e Don Heck trabalharam também nesse esquema até a edição 88.
Em 1967, Gil Kane passou a fazer parte da equipe de Homem-Aranha, que trabalhou ao lado de Romita até a edição 95, e em seguida, assumiu a arte principal “solo” de Amazing por 10 edições seguidas até o número 105, já em 1971. A escolha de Kane se deu provavelmente pela habilidade do artista em criar cenas de ação dinâmicas e constantemente usava enquadramentos de cima para baixo ou de baixo para cima, o que casava muito bem com a agilidade e as acrobacias dos poderes do Aranha.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
Ao longo do avanço da década de 1960, as tramas de Lee e Romita foram ficando cada vez mais adultas, cada vez mais sérias. Na passagem de 1970 para 1971, temáticas mais duras e realistas começaram a aparecer em todas as edições: morte, corrupção, drogas. Embora Peter Parker continuasse lidando com um mundo fantástico, ele era cada vez mais preenchido por elementos da vida real. E um ponto de virada nesse sentido ocorre com Amazing Spider-Man 90, de novembro de 1970, com a morte do capitão Stacy, pai de Gwen. Personagens já haviam morrido na revista, mas Stacy era um membro forte do elenco coadjuvante do herói e pai de sua namorada. Um homem bondoso e justo com um potencial grande de ser um aliado do escalador de paredes.
Quando a HQ chegou a sua centésima edição, outro desenhista precisou assumir, Roy Thomas, e por ser fã de histórias de terror, criou um arco de histórias bizarras, publicado entre 101 a 105, na qual Peter Parker termina dotando de mais quatro braços, ficando como um aracnídeo com oito patas e que luta contra o vampiro-humano Morbius.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
A última edição regular do Homem-Aranha escrita por Stan Lee foi Amazing Spider-Man 110, de julho de 1972. infelizmente, uma aventura para lá de ordinária, que serve apenas para mostrar Peter Parker continuando a ter ciúmes de Gwen e Flash e o surgimento do inacreditável Gibão. A partir disso, os roteiros passaram às mãos de Gerry Conway, um jovem de 19 anos.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
Essa nova fase, traz um clímax dos anos 1970, a crise na virada para os 1980. A Marvel decidiu ampliar o universo do amigo da vizinhança. Stan Lee providenciou para que o Homem-Aranha se tornasse o primeiro personagem da Marvel a possuir duas revistas mensais, além da já existente, surgiu Marvel Team-Up, que reuniu o Aranha com os outros heróis da franquia, como os Vingadores e X-man.
Marvel Team-Up era uma pegada diferente do que os leitores estavam acostumados em Amazing Spider-Man. A revista era pautada em uma fórmula que exigia sempre um novo parceiro de aventuras a cada edição e ainda desenvolver uma ameaça condizente. Por isso, eram aventuras mais soltas, menos amarradas à cronologia e que muito raramente traziam os usuais coadjuvantes da vida pessoal de Peter Parker. Ainda que alguns escritores, como Gerry Conway – e futuramente outros como Chris Claremont e Bill Mantlo – investiram em algum senso mínimo de continuidade. Mas de algum modo, era praticamente possível ler MTU sem os conhecimentos dos eventos de Amazing Spider-Man.
[Imagens: Reprodução/Marvel Comics]
As equipes de criadores também eram sazonais, sendo cada arco de histórias – geralmente duas ou três edições – entregues a artistas diferentes, primeiramente “consagrados”, mas depois, passou a servir como um laboratório para novos artistas trabalharem com o aracnídeo ou com outros personagens. Por conta disso, desenhistas como Ross Andru fizeram parte da empresa.
Team-Up terminou servindo como um tipo de vitrine para personagens mais obscuros e um veículo para lançar visibilidade sobre novos personagens, revistas etc. Por isso, Morbius apareceu para ganhar aventuras próprias na linha de revistas adultas em preto e branco da Marvel e dava-se satisfação sobre os X-Men, que tiveram sua revista cancelada em 1970, ao mesmo tempo em que anunciavam uma trama para o Fera, que ganharia aventuras solo em Amazing Adventures. Após três edições menos apelativas com Visão, Coisa e Thor; o número 08trazia a Gata – que estreara há pouco tempo e mais tarde assumiria o nome de Felina – passando em uma aventura contra Kang, o Conquistador, nas edições seguintes ao lado de Homem de Ferro e o Tocha Humana novamente; e assim, sucessivamente.
Enquanto MTU iniciava sua longa carreira de publicação, Amazing Spider-Man entrava em uma fase totalmente nova mas ainda mantendo enredos já criados anteriormente e dicionando novas tramas, como as mortes de Gwen Stacy e Norman Osborn, o novo vilão Chacal, entre outros acontecimentos.
Além disso, também teve a criação das revistas Giant-Size, que eram publicações maiores, com mais páginas e formato maior (magazine) destinadas, como antes, a grandes histórias. Elas não seriam anuais, mas quadrimestrais. A primeira edição trouxe uma batalha do Homem-Aranha contra o Drácula, a estrela da revista The Tomb of Dracula, publicada em magazine e um grande sucesso entre o público adulto. A trama foi escrita por Len Wein (que cuidava de MTU) e desenhada por Ross Andru, com capa de John Romita. Já a segunda, trouxe um team-up com Shang-Chi, o Mestre do Kung Fu.
[Imagens: Reprodução/Marvel Comics]
Alguns anos depois, o que pode ser considerada a terceira fase das HQs do Homem-Aranha, traz o casamento do personagem, a época de maior sucesso comercial, uma grave crise criativa em meados dos anos 1990, um período de reinvenção, de polêmicas decisões editoriais e um novo começo.
O casamento do Homem-Aranha foi um evento bombástico em 1987 e foi o principal fruto da tal reformulação editorial. Curiosamente, o evento teve sua origem em uma disputa entre as revistas regulares do personagem e uma nova série de tiras de jornal escritas pelo próprio Stan Lee, o criador do Homem-Aranha. Nos jornais, Lee planejou uma história em que Peter Parker iria se casar com Mary Jane e, ao saber disso, o Editor-Chefe Jim Shooter decidiu que tal fato não podia ocorrer primeiro nos jornais e só depois nas revistas do cânone oficial.
Então, às pressas, foi produzida uma história que mostrasse o enlace matrimonial do casal, após as consequências do arco de Michelinie e Romita Jr. Assim, Peter e MJ se casaram nas escadarias da biblioteca nacional, com Harry Osborn e Flash Thompson como padrinhos em Amazing Spider-Man Annual 21, de 1987, escrita por Jim Shooter e David Michelinie e desenhada por Paul Ryan.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
Enquanto ocorria o casamento, para não criar choques cronológicos, a Marvel ocupou todas as três revistas do Homem-Aranha com a publicação de um arco de histórias chamado SimetriaTemível, escrito por J.M. DeMatteis e desenhado por Mike Zeck, alternando-se entre Web of Spider-Man 31 e 32, Peter Parker: The Spectacular Spider-Man 131 e 132e Amazing Spider-Man 293e 294.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
A revista Peter Parker perdeu o “nome real” do personagem e passou a se chamar oficialmente apenas The Spectacular Spider-Man. Peter David escreveu um arco em quatro partes que trouxe o retorno e a morte do Devorador de Pecados, o vilão que criou.
A história de conteúdo excelente foi o marco de dois eventos: por um lado marcou o retorno do desenhista Sal Buscema às revistas do Homem-Aranha. Seu traço expressivo de linhas retas e quadradas voltou a abrilhantar o universo do cabeça de teia. Por outro, foi a despedida de Peter David. O editor Jim Owsley conseguiu com que David fosse demitido sob a alegação de que seu trabalho estava “abaixo do padrão” do Homem-Aranha, e é no mínimo curioso que Spectacular era, naquela altura, a melhor revista do personagem.
Há anos, quando ainda escrevia Web of Spider-Man, David Michelinie planejava criar um novo vilão baseado no uniforme negro e no alienígena simbionte. Agora no comando de Amazing Spider-Man, o escritor decidiu por em prática suas ideias. O arco em que desenvolveu isso, entre os números 298e 300, de 1988, também trouxeram um novo desenhista: Todd McFarlane.
[Imagens: Reprodução/Marvel Comics]
Michelinie e McFarlane criaram uma história em que um repórter do Globo Diário encontrava o uniforme simbionte (que todos pensavam ter sido destruído) e se tornava um monstro chamado Venom. O alienígena queria se vingar de Peter Parker por tê-lo abandonado e Eddie Brock também nutria ódio pelo Homem-Aranha. Seu motivo era uma “história retroativa” que Michelinie criou dentro do famoso arco A Morte de Jean DeWolff, de Peter David: em sua investigação, Brock pensava ter descoberto a identidade secreta do Devorador de Pecados, mas quando o Homem-Aranha prendeu Stanley Carter arruinou a carreira do jornalista.
No plano editorial, a Marvel passava por transformações. Após 10 anos de uma gestão muito polêmica, o Editor-Chefe Jim Shooter foi afastado do cargo e substituído por Tom DeFalco. Este continuou escrevendo as histórias do Thor (e eventualmente dos Vingadores) e deu bastante atenção ao Homem-Aranha. Além disso, a gestão de DeFalco impôs um ritmo de muita interligação entre as revistas e não raro eventos de que uma se transferiam para outra, como no caso dos três títulos do Homem-Aranha (Amazing, Spectacular e Web). Iniciava-se a Era dos Crossovers, o que inicialmente deu certo e aumentou bastante as vendas.
Conforme a trama foi ganhando novos desdobramentos, participações especiais e algumas revistas diferentes, por fim, só sobrou Amazing Spider-Man, que se tornou o único título a trazer o Homem-Aranha dentro de sua continuidade regular e passou a ser uma revista com três edições mensais.
Quanto ao conteúdo, muito embora os leitores – especialmente os mais antigos – tenham reclamado das mudanças e da maneira como foram realizadas, todos concordam que a qualidade da revista melhorou muito, com histórias mais concisas, autocentradas e resgatando o velho humor do personagem, tão caro à fase de Stan Lee no passado. Novos inimigos, novos coadjuvantes e novas situações – como Osborn no poder – também foram campo fértil para boas histórias.
Em janeiro de 2011, a partir da edição 648, a revista passou a ser publicada duas vezes ao mês, mantendo Dan Slott como o escritor fixo. O autor veio fazendo vários arcos, como Big Times, desenhado pelo mexicano Humberto Ramos, que apresenta um novo Duende Macabro na figura de Phil Urich, sobrinho de Ben Urich, que passa a agir como mercenário para o Rei do Crime. Nesse conto, o Homem-Aranha usa vários uniformes diferentes, de cores reluzentes.
Vale lembrar que no começo dos anos 2000 a Marvel percebeu que era necessário criar um novo selo de histórias onde os seus heróis mais clássicos pudessem ganhar novas versões, para se adequar a uma nova geração de fãs que estava encantada com os filmes que eram lançados na época. Foi assim que surgiu Ultimate Homem-Aranha, o quadrinho que deu o pontapé inicial em todo o Universo Ultimate.
[Imagem: Reprodução/Marvel Comics]
Nela é possível ver um Peter Parker muito mais “pé-no-chão” e atualizado para o novo século, com vilões peculiares e um elenco coadjuvante que saiu diretamente das HQs clássicas, mas todos repaginados. O melhor de tudo é que, ao menos no início, o Universo Ultimate tinha a proposta de trazer consequências reais em suas histórias, o que faz com que a história do Peter desse universo tenha um início, meio e fim. E por falar no fim, a Morte de Peter Parker está entre os arcos mais bonitos, honrosos e inteligentes dos quadrinhos da Marvel – sem contar que deu início ao legado icônico de outro herói.
Miles Morales, criado como o substituto de Parker, ele tem uma ligação direta com a morte do herói e começou a desenvolver seus próprios poderes, enquanto aprendeu que qualquer um poderia ser o Homem-Aranha, desde que mantivesse a luta de Peter contra o mal e, acima de tudo, fosse uma inspiração para milhares de pessoas.
[Imagens: Reprodução/Marvel]
E ainda que tenha sido visto com maus olhos pelos fãs da época, Miles logo se tornou uma das figuras mais incríveis e espetaculares já criadas pela Marvel – tanto é que ganhou sua própria adaptação para os cinemas em Homem-Aranha no Aranhaverso. Ele se tornou não apenas um herói marcante, mas um símbolo para milhões de fãs, além de ter dado o pontapé para a criação do aranhaverso com a criação de dezenas de versões do herói.
Essa fase inicial durou pouco tempo, mas é bem interessante para conhecermos um herói diferente e original, que ainda assim segue à risca o legado de Peter Parker. Criado por Brian Michael Bendis (que também havia criado o Ultimate “original”) e Sara Pichelli, esse novo super-herói trouxe muitas coisas positivas para o Universo Marvel e conquistando os fãs que querem ter uma nova perspectiva sobre um dos personagens mais clássicos de todos os tempos.
Principais Easter Eggs e acontecimentos
ALERTA DE SPOILER
[GIF: Reprodução/Giphy]
Sem Volta Para Casa possui vários easter eggs, que são uma marca registrada das obras da Marvel Studios. O filme começa em Nova York logo depois dos eventos de Longe de Casa – quando a vida de Peter Parker é virada de ponta-cabeça com a revelação de sua identidade secreta para o mundo. E já no começo, temos um easter quando ele e MJ estão fugindo da multidão na Times Square.
É possível ver um grande outdoor com um anúncio de Rogers: The Musical – a peça da Broadway que conta um pouco da vida do Capitão América e sua relação com os Vingadores. Recentemente, passou um pouco do musical no primeiro episódio de Gavião Arqueiro.
[Imagens: Reprodução/Marvel]
Quando a identidade de Peter é exposta, ele logo começa a ser caçado e as consequências disso levam à chegada do Departamento de Controle de Danos, um órgão governamental que começa a investigar e interrogar não apenas Peter, mas também seus amigos e sua Tia May.
Para quem não se lembra, o Controle de Danos é uma peça fundamental na franquia do Homem-Aranha no MCU, já que eles apareceram desde o primeiro filme da saga, De Volta ao Lar, para limpar os estragos feitos pelos Vingadores durante a Batalha de Nova York.
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Quando as coisas se tornam insustentáveis na casa de Parker, por conta da perseguição dos paparazzi e do público, ele acaba se mudando para um apartamento de Happy Hogan, junto de May. O local é mais seguro e equipado com várias coisas criadas por Tony Stark.
Entre elas, DUM-E, o “robô burro” que Tony criou em seus filmes e que o auxiliava a construir alguns protótipos de armas e armaduras. Ele aparece bem pouco e está ali mais como um easter-egg para os fãs do Homem de Ferro.
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Quando o feitiço do Doutor Estranho dá errado, ele não só não apaga as lembranças sobre a identidade secreta do Homem-Aranha, como também traz outras pessoas de outros universos que sabem que Parker é o herói. E entre os vilões, temos: Duende Verde vivido por Willem Dafoe, o vilão de Homem-Aranha, 2002; Doutor Octopus vivido por Alfred Molina, o vilão de Homem-Aranha 2, 2004; Homem-Areia vivido por Thomas Haden Church, o vilão de Homem-Aranha 3, 2007; O Lagarto vivido por Rhys Ifans, o vilão de O Espetacular Homem-Aranha, 2012; E o Electro vivido por Jamie Foxx, o vilão de O Espetacular Homem-Aranha 2, 2014. Então não aparece o Sexteto Sinistro, como muitos acreditavam, já que o filme só apresenta apenas cinco vilões.
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O filme acaba trazendo alguns novos visuais para os vilões clássicos. O exemplo perfeito disso é o Electro, que consegue “controlar” melhor sua energia e acaba voltando à forma humana, ainda que bem diferente do que antes – e em dado momento, alguns raios formam seu traje clássico das HQs. Outro que também passa por uma mudança de visual é o Duende Verde, que abandona a armadura de Homem-Aranha e passa a usar um visual mais “civil”. Porém, com tons de verde e roxo, em referência às cores do traje clássico do vilão nos quadrinhos.
O momento mais dramático e emocional do longa acontece quando May Parker morre devido à explosão de uma bomba do Duende. Só que antes de falecer, ela diz a icônica frase: “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”.
Essa frase é muito mais fiel ao discurso original de Tio Ben na HQ de Lee e Ditko (“with great power there must also come great responsibility“), além de sedimentar de vez May como o “Tio Ben” dessa franquia, dando o mote para uma verdadeira origem desse Peter Parker.
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Enquanto MJ e Ned Leeds procuram pelo Homem-Aranha, os dois acabam se deparando com uma versão bem diferente do herói. Como todos já esperavam, se trata do Peter Parker vivido por Andrew Garfield, que protagonizou a franquia O Espetacular Homem-Aranha. Inclusive, ele chega a contar um pouco de como foi sua vida após a morte de Gwen Stacy, e como ele se tornou mais violento e vingativo.
E depois de trazerem de volta o Peter do Andrew, MJ e Ned também se deparam com outra versão do Aranha – dessa vez, o Peter Parker vivido por Tobey Maguire, que conhecemos da trilogia original de filmes de Sam Raimi. Ele já está bem mais velho e mais experiente e, de acordo com o que diz, ele e Mary Jane Watson conseguiram “fazer funcionar” todo o seu relacionamento, mesmo com todas as atribulações apresentadas nos filmes originais.
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Por outro lado, a dinâmica dos três Homens-Aranha é bem divertida e até rende momentos espetaculares. Um deles acontece quando Ned chama “Peter Parker” e os três respondem sem saber de qual se trata, ainda que o menino faça o melhor para se explicar. Nessa cena, alguns fãs percebem que há momentos em que os Aranhas se olham e apontam um para o outro. Seja isso intencional ou não, parece muito com o clássico meme que já circula na internet há anos do desenho do Homem-Aranha, que mostra dois amigos da vizinhança se encarando.
[Imagem: Reprodução/Marvel]
Por ser um filme ambientado no Universo Cinematográfico da Marvel, as citações e easter-eggs aos Vingadores não podiam faltar. Em uma cena, Peter do Tom conta para Andrew e Tobey que ele já fez parte dos Vingadores – o problema é que nenhum deles sabe o que isso significa. Ele tenta se explicar dizendo que são os “Heróis Mais Poderosos…”, mas não consegue completar a frase. Provavelmente ele queria dizer “Os Heróis Mais Poderosos da Terra“, o nome que sempre é usado nas HQs e animações para se referir à equipe.
Além disso, Tobey proporciona uma cena engraçada durante a preparação para a batalha final, onde ele fala que sente dor nas costas. Esse é um breve aceno a um problema real que quase tirou o ator da sequência de Homem-Aranha. Na época, Jake Gyllenhaal chegou a ser cotado para substituir o ator na sequência.
Ao descobrir que o Homem-Aranha de Maguire solta teias orgânicas, os outros dois Peters questionam os limites deste poder. A versão de Garfield pergunta se seu irmão interdimensional nunca teve problemas de falta de teia. Maguire responde que sim, lembrando do arco de Homem-Aranha 2 em que seus problemas psicológicos afetaram seu corpo, transformando-o temporariamente em uma pessoa “normal”.
Outra teoria que já estava começando a ganhar força desde que o segundo trailer foi lançado é que Peter do Andrew salvaria MJ da queda que é provocada por um colapso na estrutura da Estátua da Liberdade. E é exatamente isso o que acontece. A cena serve quase como uma redenção psicológica para ele, por conta da morte de Gwen. Tanto que, quando eles pousam, MJ percebe que Peter está quase chorando, tendo flashbacks da morte de sua namorada.
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O fim do filme também traz uma nova mudança de ares para o Aranha. Pela primeira vez em anos, ele recomeça sua carreira e não terá mais um traje tecnológico criado por Tony Stark para auxiliá-lo. Por isso, podemos ver que ele mesmo cria um novo uniforme.
O traje é visto bem brevemente no take final do filme e parece bem fiel à sua versão clássica dos quadrinhos. Contudo, existem alguns detalhes mais “brilhantes”, como as partes azuis – e isso até lembra um pouco a roupa que ele criou na época que estava à frente de sua própria empresa, nas HQs.
[Imagem: Reprodução/Marvel]
O futuro de Peter Parker e do MCU
Ao longo dos meses que antecederam o lançamento de Homem-Aranha, muito se perguntava sobre como os eventos do longa iriam impactar o futuro do Universo Cinematográfico da Marvel. Todos imaginavam que a história iria mexer com o multiverso e trazer personagens de outras realidades, mas a grande questão eram as consequências que viriam em seguida.
Agora que o filme finalmente chegou aos cinemas, as respostas sobre o futuro do MCU começam a se desenhar. Embora a sua conclusão deixe tudo em aberto para o que está por vir tanto para o super-herói quanto para o restante dos heróis à sua volta, alguns pontos importantes apresentados indicam algumas reviravoltas importantes que devemos ver nos próximos lançamentos da Marvel.
A principal questão deixada no final do filme é que o feitiço usado pelo Doutor Estranho para resolver a invasão de vilões de outras realidades não fez as pessoas esquecerem que Peter Parker era o Homem-Aranha, mas apagou completamente a existência do garoto da mente de todo o mundo. Assim, com um estalar de dedos, o rapaz passou a ser um indigente, sem lenço, sem documento e sem que ninguém tivesse a menor ideia de quem ele é. Isso fica bem claro tanto na cena com MJ quanto em seu diálogo com Happy. Para eles, Parker é um desconhecido, um aleatório qualquer.
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Ao mesmo tempo, é importante destacar que o Homem-Aranha ainda é um herói que o público conhece. Logo após a batalha final, J. J. Jameson reaparece atacando novamente o super-herói em seu programa, mas sem comentar nada sobre sua identidade. É como se a pessoa jurídica do herói ainda fosse lembrada por todos, mas a pessoa física foi completamente esquecida. Em linhas gerais, é uma versão muito mais radical do feitiço que Peter tinha pedido ao Mago.
Esse final um tanto quanto melancólico é definidor para o futuro do personagem e do MCU. Por um lado, coloca Peter Parker na estaca zero de sua história como todos conhecem nos quadrinhos: sozinho, pobre e tendo que recomeçar sua vida – a heróica e a pessoal. É como se tivessem apertado um reset ou um reboot. E isso pode ser explorado de duas formas: a primeira é se destacando de vez do MCU e seguindo apenas dentro do universo Sony. A história toda caminha nesse sentido e dá a entender que a ideia é, a partir de agora, deixá-lo menos atrelado à Marvel. Sem uniforme tecnológico e sem conexão com os Vingadores, ele passa a ser autossuficiente de um modo que até então não tinha sido visto. Só que Peter ainda existe dentro daquela realidade, mesmo que ninguém se lembre dele, ainda está no mundo que sofreu com o ataque de Thanos e que idolatra o Capitão América e o Homem de Ferro.
[GIF: Reprodução/KinoCheck]
Assim, se o acordo entre as empresas continuar e o personagem permanecer no universo, será possível ver um novo tipo de jornada para esse Peter mais experiente e ciente das responsabilidades que acompanham a vida de herói. Além disso, em um primeiro momento, a ideia de que todo o mundo esqueceu quem é o Homem-Aranha soa como uma grande revolução dentro da história Marvel, mas isso deve trazer poucas consequências reais para os próximos filmes. O amigo da vizinhança sempre atuou mais como um coadjuvante dos Vingadores e a sua identidade estava muito mais ligada à amizade que ele tinha com Tony Stark, do que algo fundamental para o restante do universo, o que faz com que esse reset acabe não atrapalhando em muita coisa.
E como todo filme da Marvel que se preze, o longa contém cenas pós-créditos que falam sobre o que está por vir. A primeira foca no Venom de Tom Hardy, que muito se especulou sobre sua presença no novo filme da franquia, após a cena pós-crédito de Tempo de Carnificina. Nela, o anti-herói é transportado para uma outra realidade, aparecendo em um quarto de hotel, onde vê o noticiário expondo a identidade do Homem-Aranha, que aconteceu em Longe de Casa e na abertura dessa terceira obra.
[Imagem: Divulgação/Marvel]
Em Sem Volta Para Casa, o personagem Eddie Brock nunca saiu de seu resort no México. Pelo contrário, ele está se atualizando sobre tudo o que aconteceu no Universo Cinematográfico com a ajuda de um bartender. Ele mal consegue acreditar que esse mundo tem um homem com armadura de lata, Homem de Ferro, e um monstro verde chamado Hulk. O trabalhador ainda conta para o portador de Venom como Thanos causou o blip com “algumas pedras mágicas”.
Quando Brock decide que precisa ir para Nova York conversar com o Homem-Aranha, a magia final de Doutor Estranho faz efeito e ele é transportado de volta para sua realidade – para o desespero do bartender, pois ele sumiu sem pagar a conta. Porém, por trás de uma cena engraçada, é possível ver um pedaço de simbionte se movendo no balcão do bar, indicando que uma versão de Venom pode aparecer no MCU.
A segunda cena pós-crédito é um teaser do próximo lançamento da franquia, Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura. Nele, são repetidas as frases de Strange em Sem Volta para Casa, sobre como sabemos pouco do conceito de Multiverso, onde as linhas de espaço e tempo são instáveis. Paralelamente, Mordo também diz como as ações irresponsáveis com magia não serão esquecidas.
O momento mais aguardado é o encontro de Wanda Maximoff com Doutor Estranho. Ela diz que esperava por ele e confessa que machucou pessoas, mas o feiticeiro não está lá para falar dos acontecimentos de WandaVision, mas sim pedir sua ajuda. Depois, Wanda aparece com o clássico uniforme de Feiticeira Escarlate.
[Imagem: Reprodução/Legião dos Heróis]
Outros trechos mostram as presenças de Wong e a novata America Chavez, além de um inimigo clássico de Strange: Shuma Gorath. Mais uma cena de luta contra Mordo aparece, onde ele afirma que o maior perigo do universo é o próprio personagem. No fim, Doutor Estranho acaba encontrando uma versão alternativa de si mesmo, o Doutor Estranho Supremo – visto nos episódios de What If…?. No desenho da Marvel, uma versão do herói utilizou magia de maneira irresponsável para salvar a vida de Christine, voltando no tempo diversas vezes e quebrando as regras, e como resultado, destruindo seu universo.
Além disso, esse terceiro filme de Homem-Aranha confirma a volta do Demolidor. Matt Murdock aparece como o advogado de Peter no começo do filme e que ele já tem todas as habilidades do Homem Sem Medo, uma vez que conseguiu segurar um tijolo jogado contra Parker com extrema facilidade. Embora ainda seja interpretado por Charlie Cox, não quer dizer que o Demolidor de Sem Volta Para Casa é o mesmo do universo da Netflix.
[Imagem: Reprodução/Netflix]
Havia uma teoria que dizia que o mesmo feitiço que levou os vilões e os demais Homens-Aranhas para o MCU também iria levar os heróis da Netflix. Contudo, é explicado que somente aqueles que conhecem a identidade secreta de Parker é que foram puxados pela magia, o que deixaria Murdock de fora. Além disso, ele está totalmente integrado com aquela realidade, seguindo sua vida de advogado e sem estranhar ter parado em uma Nova York que não é a sua. Isso significa que ele sempre existiu naquele mundo, só que nunca tinha sido visto até então.
Essa leitura faz ainda mais sentido com o quinto episódio de Gavião Arqueiro, que revelou que o Rei do Crime também segue em atividade no MCU, comandando o submundo da cidade como sempre visto nos quadrinhos. Caso ele tivesse vindo de uma realidade diferente – ‘netflixverso’ – jamais seria esse líder que Clint Barton tanto fala.
[Imagem: Reprodução/Netflix]
Essa conclusão abre duas frentes que devem ser consideradas para o futuro. A primeira é que nem Murdock e nem Wilson Fisk desaparecem com o feitiço final de Strange, ou seja, eles continuam existindo dentro do universo Marvel e prontos para serem usados em histórias futuras. Tanto que a aposta é que o Rei do Crime esteja em Eco e o Demolidor em She-Hulk.
Outro ponto, é a inclusão dos demais personagens do ‘netflixverso’ a partir do momento que é dito que esse Murdock existe, implica em imaginar variantes do Justiceiro, Jessica Jones, Luke Cage e até do Punho de Ferro – que aparece em Shang-Chi – em que a franquia pode trazê-los de volta a qualquer momento. E quando se fala de outra realidade, é possível mudar o ator e dizer que a mesma origem das séries seguem válidas e que apenas uma ou outra coisa mudou.
A verdade é que, assim como o futuro de Peter Parker, os próximos passos da Marvel diante das revelações feitas em Sem Volta para Casa são desconhecidos, mas cheios de possibilidades, e somente os próximos lançamentos devem explicar o que vem por aí.
Incrível mundo Marvel
A estreia de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa realizou o encontro de três gerações do herói, o que ocasiona um debate de “quem seria o melhor?”. Essa não é uma pergunta fácil e já foi alvo de muita discórdia entre o público nerd, uma vez que não há consenso em relação ao tema. Quem defende Tobey Maguire é acusado de ser saudosista e que, por isso, ignora as várias mudanças feitas na época. Já os fãs de Tom Holland têm que ouvir que essa versão sem tio Ben tem vários problemas no conceito do que é o herói, enquanto o pobre do Andrew Garfield acaba ofuscado pelos péssimos roteiros de seus filmes.
E ao mesmo tempo em que todas essas críticas são reais, não há como ignorar os acertos que cada uma das encarnações do Homem-Aranha teve. Seja em termos de personalidade, uniforme ou mesmo o arco do herói como um todo, cada uma das três versões do escalador de paredes entregou uma faceta diferente do personagem que agradou mais ou menos determinado tipo de fã.
Isso porque, na verdade, não existe uma versão definitiva do Homem-Aranha nem nos quadrinhos, muito menos no cinema. Como ele é um personagem, tudo vai depender de como o roteiro vai trabalhá-lo, como o artista vai imaginar seu visual ou mesmo seu estado de espírito quando acompanhou aquela história. Por isso, é virtualmente impossível cravar que esse ou aquele é a melhor encarnação do herói e ponto final.
Antes de existir um Homem-Aranha, é preciso que exista um Peter Parker e isso é fundamental para a construção da persona do herói, e nesse ponto, já há uma grande divisão de opinião entre os fãs, muito por causa de uma questão geracional. Tobey Maguire encarna uma versão bem tradicional do personagem, enquanto as duas encarnações mais modernas atualizam bastante o conceito. Assim, dependendo do tipo de leitor, isso vai impacta diretamente o tipo de Parker que espera ver no cinema.
[Imagem: Reprodução/Sony Pictures]
Dessa forma, nem vale a pena entrar no mérito se o herói precisa ser o nerd estereotipado ou uma versão mais descolada. O que realmente importa na questão do melhor Peter Parker se resume a frase icônica, e nesse sentido, a versão de Tobey Maguire ainda é a que se sai melhor nesse quesito. Isso porque deixa sempre claro o peso que é ser o amigão da vizinhança, de modo que vestir aquele uniforme é quase um sacrifício que ele faz em prol desse bem maior.
Mais do que saber dos riscos que a atividade heróica pode trazer para a vida de quem ama, ele não se importa com as consequências que isso traz para a sua própria vida. Ele se prejudica em relacionamento, no trabalho e com a família porque sabe que precisa fazer algo pela cidade, que somente o Homem-Aranha é capaz de fazer. É um samaritano puro.
E as versões de Andrew Garfield e Tom Holland pecam em alguns pontos cruciais nesse sentido. Os problemas enfrentados pelo Peter Parker do MCU, por exemplo, foram causados pelo próprio personagem, seja tentando impressionar Tony Stark para entrar nos Vingadores ou entregando a tecnologia Stark para o Mysterio. Isso sem falar que ele literalmente diz pra Nick Fury que ele preferia não salvar o mundo porque estava de férias e estava focado em dar uns beijos na MJ.
Já o Parker de Garfield tenta modernizar de forma errada o jeito do personagem. Nada contra ele ser mais descolado e com essa pegada dos gibis Ultimate, mas a ideia da responsabilidade que vem com os poderes vai embora quando ele se torna o bully e usa suas habilidades para sacanear quem zombava dele no passado. Nesse ponto, Tobey Maguire realmente sai ganhando.
Quando Peter veste o uniforme, a coisa muda de figura. Não que ele deixe a responsabilidade de lado, mas é porque há outros fatores que devem ser levados em conta na persona do herói. Exemplo disso é que o Homem-Aranha precisa ser muito bem-humorado, nunca calando a boca e sempre fazendo piadinha e tirando sarro dos vilões enquanto se pendura de um canto para o outro.
[Imagem: Reprodução/Sony Pictures]
Isso é importante porque representa uma característica que é pouco explorada nos roteiros, mas que volta e meia é citada nos quadrinhos e que deixa o herói muito mais humano. Segundo o próprio Aranha, a língua solta durante a ação é uma forma de controlar o nervosismo. Ele sabe que enfrentar um homem vestido de rinoceronte ou um maluco voando com fantasia de Halloween e soltando bombas pra todos os lados não é tarefa fácil, então falar e tirar sarro é a sua forma de quebrar a tensão e assumir as rédeas da situação.
E, nesse ponto, Tobey Maguire fica devendo. Ele é bem mais quieto e carrega demais o peso dramático da responsabilidade ou mesmo de estar enfrentando o pai de seu melhor amigo, o que faz com que sobre pouco espaço para esse Homem-Aranha linguarudo que brinca com o oponente. Os filmes até ensaiam algumas tiradinhas aqui e ali, mas nada muito significativo.
Por outro lado, Garfield e Holland fazem isso muito bem, de modo que é quase um empate técnico entre os dois. Só que, como o objetivo não é ficar em cima do muro, a versão do MCU é quem leva o ponto justamente pelos roteiros saberem usar muito bem o universo já construído dos filmes para fazer com que essas piadas e sacadinhas ganhem conotações e camadas muito mais divertidas. A participação do Homem-Aranha de Holland na batalha do aeroporto em Capitão América: Guerra Civil é impagável até hoje, com ele tendo um treco diante de cada oponente, elogiando seus adversários e irritando todo mundo com seu jeito tagarela.
[Imagem: Reprodução/Marvel Studios]
Se tem uma coisa que o leitor de quadrinhos adora é discutir uniforme. Há um quê de estilista em todo fã, que sempre vai dar pitaco se o visual do seu herói favorito está de acordo e, no caso do cinema, se ele funciona em cena ao mesmo tempo em que respeita suas origens nos gibis. E, com o Homem-Aranha, isso é ainda mais presente.
Ao longo de seus oito filmes, o amigo da vizinhança já mexeu no guarda-roupa diversas vezes, mas nenhum dos trajes usados supera o que Andrew Garfield vestiu em O Espetacular Homem-Aranha 2. Enquanto o uniforme que o ator colocou em seu primeiro longa era uma atrocidade, a segunda versão voltou para os designs clássicos das HQs de um jeito incrível. Embora a textura ainda seja estranha, o traje lembra muito o que Steve Ditko apresentou no design original do personagem, com pitadas de outros artistas com passagens icônicas pelo Homem-Aranha, como John Romita Sr., John Byrne e Todd McFarlane. É impossível não se sentir diante de um gibi ao ver o Aranha com aqueles olhões brancos e o traje vermelho e azul.
[Imagem: Reprodução/Sony Pictures]
Tom Holland também merece destaque aqui com duas versões em específico. O uniforme de sua estreia no MCU, com o vermelho e azul clássico e os olhos mecânicos são bem charmosos, assim como o uniforme rubro-negro de Longe de Casa, que lembra muito o design que ele tem nos quadrinhos quando era desenhado por John Romita Jr. Só que o fato de o traje depender tanto de tecnologia tira muito da graça daquilo que faz o Homem-Aranha tão divertido: as suas habilidades. Já no caso de Tobey Maguire, o traje clássico funciona muito bem e tem conexões bem diretas com as versões dos quadrinhos. O problema é que aquele excesso de relevo nas teias mais atrapalha do que ajuda nesse sentido.
Para analisar a jornada de cada personagem nos cinemas, não se trata apenas de dizer qual versão do herói teve os melhores filmes, mas qual a combinação de Peter Parker, Homem-Aranha e traje funciona com a história que é apresentada em tela. Isso é importante porque cada encarnação do herói tem os seus méritos, assim como os seus próprios problemas. No caso de Andrew Garfield, por exemplo, não há como ignorar que ele funciona muito bem como o herói e que ver a sua relação com Gwen Stacy é uma das coisas mais gostosas de toda a série. Isso sem falar que ele sente na pele o sacrifício que é ser o Homem-Aranha.
[Imagem: Reprodução/Sony Pictures]
No entanto, ele sofre muito com um roteiro bastante questionável e cheio de decisões erradas, como os pais espiões e aquele Duende Verde lamentável. Isso sem falar que o segundo longa, A Ameaça de Electro, parte para um caricato que é totalmente anacrônico. Ele tenta ser cartunesco na construção do vilão, mas esse estilo já não funcionava mais em 2014 e tudo só ficou ruim. Já o queridinho do momento, Tom Holland, segue muito bem a cartilha do herói e traz uma encarnação muito divertida e que remete muito ao espírito descompromissado dos quadrinhos. O único porém é que, na tentativa de desassociar-se de seus antecessores, ele se esquece daquilo que norteia a sua vida heróica: a ideia de que grandes poderes trazem grandes responsabilidades.
Por mais repetitivo que isso soe, essa ideia é crucial para o personagem e motiva todas as suas decisões a partir do momento que ele assume a identidade de Homem-Aranha. Assim, termos um Parker que está mais preocupado em curtir as férias com a namorada do que ajudar os outros é algo que assusta os fãs mais puristas, assim como o fato de que esse Peter está sempre buscando algum tipo de figura paterna para se espelhar, sendo que o seu modelo moral sempre deveria ter sido o tio Ben. É por essa razão que, apesar de todos os pontos e com muitos asteriscos, a versão do Homem-Aranha de Tobey Maguire, para muitos é a que melhor funciona até hoje. Ele é o que mais se encaixa dentro da essência do herói nos quadrinhos e que melhor respeita a mitologia do personagem.
Porém, Sem Volta Para Casa é um grande lembrete das consequências que os heróis tem ao sair do anonimato. Desde o início do MCU, sempre foi passada aquela visão colorida da vida de ser um herói por dentro dos Vingadores, a qual, todos os idolatravam e queriam ser como eles. Nesse sentido, o longa traz esse lado e mostra que ser um herói público não é, exatamente, um jardim de flores. Ter a sua identidade revelada trouxe muitos mais impactos negativos para a vida de Peter do que ele poderia prever. Desse modo, o que mais pesa para o super-herói é ver como a vida das pessoas que ele ama simplesmente é devastada pelo peso que a sua convivência traz.
Ao decorrer do filme, podemos ver a questão “o que é ser um herói?” ser colocada em pauta. Em Homem-Aranha 3, esse conceito vai muito além de salvar vidas, sendo muito bem trabalhado dentro da exibição, o que leva Parker ao extremo diante de grandes sacrifícios e perdas. Nas duas entradas anteriores do Tom Holland, é possível ver que por mais que ele enfrentasse dificuldades, nada o colocou suficientemente à prova de se autoquestionar dos seus princípios de ser um herói. Os acontecimentos dessa obra não facilitam para o querido amigo da vizinhança, o que o deixa à mostra de tudo o que acredita, exibindo a verdadeira essência do que é ser o Homem-Aranha, e faz jus a famosa frase pertencente a franquia.
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Nos primeiros filmes solos estreando Holland, é possível ver que mesmo que haja questões pessoais, não foram feitas da mesma forma como nesse novo longa. A nova parcela trouxe um lado sentimental e emocional que, por mais que os espectadores se contenham, é possível sentir a dor pelo outro lado da tela ao analisar as principais questões em jogo. Sendo assim, pode-se descrever os dois primeiros filmes como um caminho que mostra onde Peter acertou e olhar as suas melhores qualidades. Entretanto, já em Sem Volta Para Casa, se observa o pontapé definitivo para o desenvolvimento e ancoragem de quem realmente é o Peter Parker sob a pior circunstância possível.
O desenvolvimento do filme começa pelo grande encaixe ao dar espaço suficiente de tela para os outros personagens que deram vida a histórias anteriores. Embora, ao mesmo tempo, deixando Parker à mostra para triunfar o seu protagonismo e explorar diversos detalhes, os quais, se pode esperar. Em prol a remixagem perfeita que foi o equilíbrio estabelecido durante os minutos, a obra foi uma ótima ocasião para explorar lugares nunca avistados antes e os dá a oportunidade de tomarem o seu próprio espaço conforme a trama se desenrola.
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O mais novo roteiro funciona como uma incrível coreografia: tudo acontece no seu tempo e em seu momento exato. Mesmo que tenha uma ótima quantidade de eventos acontecendo, sem um espaço entre eles, a trama acaba fluindo de forma natural e espetacular, logo, se assimilando muito a experiência do que foi Vingadores: Ultimato.
Além disso, se pode encarar a produção e tudo o que foi levantado anteriormente como uma “conclusão”, pelo menos temporária, a qual não há espaço para criar, apenas o tempo certo para concluir. E como sempre, não pode ficar de fora o bom e velho humor que só a Marvel tem para ser o quebra galho de toda a tensão das cenas. Dessa maneira, há uma formação de um filme um tanto interessante, envolvente e divertido, o qual, os fãs não percebem o tempo passar e acaba chegando ao final com aquela sensação de não querer sair mais da sala do cinema.
Com uma história envolvente e brilhante de ser ver, só resta dizer que Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é tudo aquilo que todos estavam esperando e um pouco mais, a nível de produção e enredo. Com cenas muito bem desenvolvidas em quesito de ação, um roteiro muito bem escrito, momentos surpreendentes, além de um toque de humor, a fórmula mágica do que é ser um filme que deixa todos sem palavras, de um modo bom.
Ressoando cenas duras de serem vistas, esse filme traz a melancolia e emoção em um conjunto que, de algum jeito, fazem sentido juntos. Com isso, é um grande longa que pode ser visto como uma carta aberta a próximas produções da franquia, seja para explorar ainda a sua história restante ou para deixar um legado e tanto ao mundo, e assim, finalizar o que fora começado a partir de uma reflexão de um novo recomeço. E com isso, a grande questão que fica é: algum dia teremos outro filme a nível de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa?
Do pop ao country, Miley Cyrus pode ser considerada uma das maiores e melhores vozes da atualidade na indústria. Consolidou sua carreira quando ainda era apenas uma adolescente, perdura no auge de seus 29 anos e faz sucesso entre millennials – geração y – e os novos jovens.
Recentemente, a RevistaForbes concedeu a cantora o destaque de pessoas com menos de trinta anos que revolucionam os negócios e transformam o mundo. De acordo com a Billboard, Cyrus foi anteriormente selecionada para fazer parte dessa listagem em 2014, mas foi convidada a retornar devido a uma série de realizações, que incluem: ter seis álbuns na parada dos cinco primeiros na Billboard 200 ao longo dos anos . A Happy Hippie Foundation da cantora, que apoia pessoas LGBTQIA+ e jovens em situação de risco, também foi levada em consideração em sua inclusão, assim como seus investimentos na FanMade e na empresa de produtos femininos Hers.
Ela é uma superestrela global graças à sua passagem como agente dupla na Disney, Hannah Montana, ao passar espetacularmente por algumas das fases mais emocionantes do pop sem seguir uma ‘receita de bolo’. A eliminação do passado, o momento da maioridade (Can’t Be Tamed de 2010); a era controversa do sexo-positivo e do apelo aos tablóides (Bangerz de 2013); a fase de trip-out psicodélica (experimento Her Dead Petz de 2015); o flerte enraizado e autêntico entre cantores e compositores (Younger Nowde 2017) – no tempo que alguns artistas levam para lançar alguns singles e por fim a era mais rock n‘ roll da artista (Plastic Hearts de 2020).
Princesa da Disney
Miley representou uma das personagens mais icônicas na história da emissora Disney, Hannah Montana. Em 2006, quando tinha apenas 14 anos, a sitcom foi ao ar, durou quatro temporadas e mostrou a fama e estrelato de uma artista pop que vivia em meio de um grande dilema entre ser Miley Stewart, ao viver sua tranquila vida ao lado da família e amigos; e de ser Hannah Montana, o fenômeno mundial da música.
As músicas sempre mostraram uma evolução muito evidente. Life’s What You Make It é uma canção animada sobre não abaixar a cabeça, não se frustrar e seguir em diante com um sorriso no rosto. A autoajuda era um tema frequente, encontrado em canções como Make Some Noise ou até mesmo o primeiro single, Nobody’s Perfect. Já no segundo disco, que nos apresentaria Miley, o grande destaque fica para I Miss You, dedicada a seu falecido avô.
Em seguida, lançou o segundo álbum, Breakout (2008), que também ficou no topo das paradas, mas acabou que se tornou um período silencioso e sem lançamentos inéditos para a cantora. No ano seguinte, 2009, a Disney exibiu o filme da Hannah Montana, que serviu como uma espécie de ponte entre a segunda e a terceira temporada do seriado, e o lançamento da trilha sonora coincidiu com o lançamento do EP The Time Of Our Lives, que possui grandes sucessos comoParty In The U.S.A. e When I Look At You.
A terceira temporada de Hannah Montana ganhou uma trilha sonora, e fez com que, apenas em 2009, Miley tivesse 3 álbuns lançados. Por mais que ela cantasse sobre a “vida dupla” vivida na ficção, era nítido que essa vida existia na realidade. Provavelmente a temporada mais triste da sitcom, onde os assuntos mais sérios eram retratados nas músicas, como em Mixed Up e Don’t Wanna Be Torn. Mesmo que o seriado continuasse um sucesso extremo, as vendas caíram para 1,2 milhões ao redor do mundo.
A partir disso, a fórmula da série começou a se perder e a artista também não parecia mais tão satisfeita com o posto de atriz, em decorrência disso, Hannah Montana foi renovada para uma última temporada, com uma nova casa, uma nova peruca e, principalmente, uma nova sonoridade. Nos álbuns anteriores, o pop e o rock eram os gêneros dominantes, mas nesse final da fase com um clima de despedida, entregou canções com influências eletrônicas e R&B, como I’ll Always Remember You e Ordinary Girl.
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Hannah Montana completou 15 anos de estreia em março de 2021 e através das redes sociais, Miley Cyrus prestou uma homenagem sobre a importância da personagem em sua vida. No texto, a artista também relembra a perda de seu avô, que faleceu um mês antes da estreia, agradece seus companheiros de elenco, Emily Osment, Mitchel Musso e Jason Earles, ao dizer que os colegas de elenco viraram uma verdadeira família, que ela via com mais frequência do que sua própria família, e no final fala que a Hannah estará sempre em seu coração.
O perfil da Hannah Montana respondeu a carta da Miley Cyrus, que até então não havia conta da personagem no Twitter, mas ganhou um perfil oficial e verificado, que já foi desativado nos últimos dias. Sua primeira postagem foi um retweet na carta da cantora, que diz: “Muito bom ouvir de você, Miley. Só se passou uma década”, em alusão ao fim do seriado há 10 anos.
Miley mostra toda a importância do alter ego em sua vida: “Teve momentos em minha vida em que você carregou minha identidade em suas luvas do que eu conseguia segurar com minhas mãos quebradas” – escreveu a artista na carta para Hannah, que de acordo com ela se manteve firme ao seu lado durante todos esses anos e que nunca sairá dela, e finalizou com a frase de uma das músicas da série: “Você estará comigo a onde eu estiver!”.
Além disso, a cantora também fez uma festa de comemoração toda temática da Hannah. “Festa de Hannahversário”, escreveu Miley nas redes sociais, que usou um look personalizado inspirado na personagem e com decoração caprichada, com direito a máscaras e até um enorme bolo em formato de guitarra rosa.
[Imagens: Divulgação/Vijat Mohindra]
A emancipação da cantora
Com a finalização de Hannah Montana, Cyrus lançou em 2010 o álbum de estúdio Can’t Be Tamed, e oficializou a separação da Disney. O trabalho foi diferente dos discos anteriores, que sempre se moldaram ao conservadorismo da companhia, mas na época, Miley estava mais madura e adulta. Além disso, o primeiro single – que leva o nome do álbum – explicita como a artista quer ser livre e fazer o que realmente gosta.
O vídeo apresenta uma Miley enjaulada em exibição de um museu de arte, soa como uma mistura entre I’m a Slave 4 U da Britney Spears e Paparazzi da Lady Gaga, o que exala um resultado surpreendente e talvez um pouco chocante. A cantora parece quebrar um tabu, mas sem a coragem de suas próprias convicções.
O álbum se encontra em um tipo de limbo, aonde ela quer se dissociar da Hannah Montana, mas não parece ter uma direção. Com isso, a artista experimenta diferentes identidades, como na faixa de abertura Liberty Walk, aposta em um estilo antigo da Gaga, ou nos hinos de amor como Forgiveness and Love e My Heart Beats for Love. A Billboard declarou que ela fracassou como qualquer outra canção de adolescente cujo alcance artístico excede o seu domínio.
Apesar das críticas negativas e do desempenho mais baixo nos charts, o disco foi uma das estratégias mais inteligentes da carreira da cantora. Se ela conquistou espaço entre as grandes pop stars adultas, é porque um dia fez a transição necessária para que isso pudesse acontecer.
Bangerz e a verdadeira Miley
Diferente de Can’t Be Tamed, a era Bangerz mostra uma Miley mais decidida! Três anos atrás no álbum anterior, ela queria que soubessem que se libertava de sua imagem anterior, mas ainda não tinha um plano de backup verdadeiro. Agora, a artista estava igualmente rebelde mas no controle de sua música e imagem ao representar-se de modo único.
O primeiro single do álbum foi We Can’t Stop e era de se esperar que fosse uma música mais dançante e festiva, mas foi inesperado, com uma grande influência dos nomes com quem dividiu o estúdio, apostou em um mid-tempo bem diferente de tudo que já havia lançado e foi fortemente para o lado mais urbano. Não poderia ter sido mais inteligente, a música funcionou como um perfeito chiclete e foi o primeiro smash hit da cantora.
Miley soube manter o buzz ao seu favor. Wrecking Ball foi definida como o segundo single do disco e se não bastasse ser uma das melhores baladas lançadas na época, além de contar com um refrão mais que potente, ganhou um clipe dirigido pelo polêmico Terry Richardson. Afinal, é difícil esquecer a imagem da artista nua em uma bola de destruição.
Assim que o videoclipe foi lançado, choveram artigos com títulos do tipo“Miley Cyrus aparece nua e lambendo marreta em seu novo clipe“ e isso, por sua vez, despertou o falso conservadorismo de muita gente que achou a situação a coisa mais vulgar do mundo. Talvez, só não mais vulgar que a performance feita por ela semanas antes, no palco do VMA, aonde cantou com o Robin Thicke e dominou o palco com todas as suas ‘maluquices’ e muita sensualidade, de um jeito bem Miley, ao dançar, rebolar, que fez da MTV a sua zona pessoal.
[Imagens: Reprodução/MTV]
Desde a primeira faixa, Adore You, Cyrus detalha como andava sua vida no relacionamento com Liam Hemsworth, demonstra amor puro, que começa a passar por festas, curtições e diversões. As primeiras dúvidas e dores chegam no segundo single, traições e mágoas fazem o sofrimento se tornar insuportável, e em FU e Drive, trazem o final do namoro. Maybe You’re Right chega a aceitação e em Someone Else, a artista mostra o que todas as vertentes do relacionamento fizeram com ela.
Bangerz é uma verdadeira bagunça, e mesmo que em uma primeira olhada Miley possa não parecer, ela possui um dos timbres mais belos da música pop, com uma técnica vocal que a deixa superior a muitos artistas com mais extensão e uma criatividade musical, artística e midiática que a deixam sempre um passo a frente dos concorrentes.
Era Malibu
Foram 4 anos de diferença entre o Bangerz e o Younger Now – sem contar com um álbum nesse meio tempo, Miley Cyrus & Her Dead Petz – e não podíamos esperar que a Miley continuasse a mesma. O álbum de 2017 surpreendeu todos, não pelos mesmos motivos de Can’t Be Tamed e Bangerz, mas pela volta da cantora para uma era mais clean.
Younger Now ficou marcada por alguns acontecimentos em sua vida pessoal: a volta do relacionamento com Liam, sua decisão de parar de fumar maconha e o retorno para a música country. No primeiro single, Malibu, ela corre pelo campo e pela praia, segura balões coloridos e rola no chão abraçada com cachorrinhos.
Essa fase traz um ritmo folk e vibrante, muito mais próximo do country de suas raízes em Nashville do que do pop frenético das obras anteriores. Além disso, o visual da cantora é etéreo e ao mesmo tempo despojado, com pouca ou nenhuma maquiagem e raízes do cabelo bastante aparentes.
Diante toda confusão causada na época, Miley disse à revista Harper’s Bazaar: “Eu só quero que as pessoas vejam que essa sou eu agora. Não estou dizendo que não vinha sendo eu mesma. É só que eu tenho sido muitas pessoas, porque eu mudo muito. Ouço muitos comentários do tipo ‘queremos a Miley de volta’, mas você não pode me dizer quem é essa. Eu estou bem aqui”.
Entretanto, talvez a Cyrus de 2020 não concordaria tanto com a de 2017, já que a cantora afirmou que esse período de Younger Now é o único momento na carreira dela que não faz sentido: “Quando eu olho pela minha carreira, há um período de dois anos que realmente não faz sentido. Você provavelmente deve saber que isso aconteceu na era ‘Younger Now’, de ‘Malibu’. Eu acho que isso aconteceu, e acontece com muita gente, porque às vezes a gente se perde em outra pessoa”.
Um legado para a vida toda
Com o lançamento de Midnight Sky, o primeiro single do álbum Plastic Hearts, em agosto de 2020, o público foi capaz de enxergar a Miley com outros olhos. Obviamente mais adulta, com seus 27 anos, mas de uma forma mais madura e bem diferente do que ela apresentou no Bangerz em 2013, que fez o mundo parar de vê-la como uma estrela teen pela primeira vez.
Muitas piadas foram feitas nos últimos anos sobre ela ter ‘diversas personalidades’ em seus álbuns, ao explorar, por exemplo, o country no Younger Now, e um experimental que nem todo mundo entendeu direito no Miley Cyrus & Her Dead Petz. Mas a mistura do disco retrô com o vocal mais rock de Midnight Sky criou a expectativa de que teríamos uma verdadeira estrela do rock.
Ao longo dos últimos quase 15 anos, a cantora sempre fez questão de expressar seu amor pelo gênero: em todas as suas turnês colocava pelo menos um cover de grandes clássicos comoI Love Rock ‘n’ Roll, de Joan Jett, Cherry Bombdo The Runaways e até Landslide, do Fleetwood Mac, além de ter em seu álbum Can’t Be Tamed uma versão de Every Rose Has Its Thorn, do Poison. O novo álbum também possui dois covers que seguem o mesmo estilo,Heart of Glass, do Blondie, eZombie, do The Cranberries.
Na abertura com WTF Do I Know, a guitarra proeminente no refrão e na ponte dão o tom – apesar de não definir o som – do que podemos esperar das próximas faixas. Enquanto as já conhecidas Midnight Sky e Prisoner, com Dua Lipa, trazem uma sonoridade um pouco mais disco e de sintetizadores oitentistas, faixas como Angels Like You e Never Be Me mostram não só um lado diferente musicalmente, mais lentas e focadas nos vocais, mas letras vulneráveis sobre sua dificuldade em ser uma pessoa confiável e leal em seus relacionamentos.
Além de Dua, Miley traz outras três participações mais do que especiais no álbum: Joan Jett em Bad Karma e Billy Idol em Night Crawling, dessa vez explorou os elementos de um bom rock clássico, nostálgico, mas inédito na medida certa, e Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, em um remix de Midnight Sky com Edge of Seventeen.
Mas se engana quem acha que nessa obra recente, ela deixou suas outras facetas de lado. High, por exemplo, explora suas raízes country e lembra um pouco de seu trabalho no Younger Now, enquanto a produção mais diferente de Golden G String poderia ter saído direto do controverso Dead Petz.
[Imagem: Reprodução/Instagram]
Nas letras, Cyrus explora principalmente sua liberdade e fala sobre querer estar com uma pessoa por vontade e não por necessidade. Um tema interessante quando lembramos que em 2019 ela terminou seu relacionamento vai e volta de quase 10 anos com Liam Hemsworth apenas alguns meses depois de se casarem.
E se a Miley adolescente de G.N.O. cantava “vou dançar com outras pessoas e não quero pensar em você”, a artista 13 anos mais velha mostra que sua essência não mudou tanto quanto as pessoas imaginam, já que em Gimme What I Want canta: “Me dê o que eu quero ou eu darei para mim mesma”.
Por mais que Plastic Hearts surpreenda com a versatilidade das 12 faixas, é um álbum que não deveria existir. Em novembro de 2018, a casa de LA que Cyrus compartilhava com Liam foi destruída por um incêndio. Seis meses depois, em maio de 2019, a artista lançou um EP, She Is Coming, considerado o primeiro de uma série de EP de três partes. No final do ano, no entanto, ela e Hemsworth se divorciaram e as canções restantes foram consideradas perdidas no incêndio ou sucateadas, o assunto não era mais relevante.
“Bem quando eu pensei que o corpo do trabalho estava concluído, estava TODO apagado”, Miley publicou no Instagram quando anunciou Plastic Hearts: “A natureza fez o que agora vejo como um favor e destruiu o que eu não pude deixar para mim. Perdi minha casa em um incêndio, mas me vi nas cinzas”.
Miley Cyrus tem gerido a carreira de modo a sempre se recriar e faz com que sua marca pessoal e plataforma cresçam continuamente. De princesa da Disney e estrela adolescente à desconstrução e exploração de novas identidades, ela realizou mais transformações do que a maioria dos donos de negócios ousam fazer. É claro que nada é garantido e que experimentar é tomar riscos, e ela é tão conhecida pelas falhas quanto pelos acertos.
Ela é lembrada por contestar regras, ajudar pessoas em situação de rua, apoiar a comunidade LGBTQIA+ e levantar questões de gênero, mesmo quando as pessoas não entendem isso. Cyrus criou um espaço para a sua música e deixa uma mensagem para a indústria de que pode fazer qualquer coisa, se redescobrir, seja como pessoa, trabalhadora, ou em qualquer relacionamento. Miley, mais do que nunca, vive isso ao máximo, e por isso é uma grande estrela ainda em ascensão.