Os riscos de utilizar produtos de beleza fora do prazo de validade

Quem nunca foi fazer uma limpa na gaveta de maquiagens e encontrou aquele produto que há tempos estava escondido no fundo da gaveta, jogado no esquecimento e que não se usava mais? E quando foi olhar a validade… surpresa! Estava vencido!

Infelizmente, acumular compras e esquecer de alguns itens é um acontecimento mais comum do que gostaríamos de admitir e, muitas vezes, o esquecimento dura um tempo tão longo que os produtos vencem sem que consigamos perceber e nem usufruir. Nessas horas, muita gente começa a cantar “tô invisível!”, e segue usando o que está fora da validade como se nada tivesse acontecido, mas os prejuízos causados por essa prática são bem mais graves do que se possa imaginar.

Nesse sentido, fica claro que a data que está no produto não é uma “tática” da indústria para fazer o cliente ter de de comprar mais ou outra vez, mas que esse prazo limite se trata de uma medida de precaução baseada no estudo do comportamento e reação dos componentes químicos dos artigos., De acordo a Drª. Amanda Vilela, médica dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), sofrem alterações severas com o tempo: “Os produtos de beleza têm muitos componentes e são estabilizados, muitas vezes, pelo Ph. Quando o prazo de validade acaba, ocorre uma desestruturação química desses produtos”.

Além disso, os riscos vão além de uma simples vermelhidão de momento ou incômodo de uma coceira, na verdade, isso pode ser apenas o indicativo de um problema maior. A Dra. Amanda esclarece que uma das principais intercorrências que pode ser desencadeada – para além desses sinais já citados – pode ser uma dermatite de contato, uma reação inflamatória na pele decorrente da exposição a um agente capaz de causar irritação ou alergia. Sendo assim, já dá para imaginar que, com o passar do tempo, a falta de atenção ou insistência em utilizar, pode causar prejuízos não apenas estéticos, mas à saúde também. 

A pele é um órgão muito sensível e a aplicação de qualquer componente químico nela deve ser muito bem ponderada. Porém, se o produto vencido já foi utilizado e o dano já aconteceu, entrar em desespero não é a melhor opção. A dermatologista alerta que, nesse tipo de situação, buscar a orientação profissional é imprescindível para que o caso seja analisado de forma individual, mas destaca alguns cuidados imediatos que podem ser tomados antes mesmo de passar pela consulta: “O ideal é sempre agendar uma consulta com o dermatologista para o tratamento individualizado. Mas, até isso acontecer, sugiro suspender imediatamente os produtos de beleza, borrifar uma água termal para acalmar a pele e usar um hidratante calmante, como o Cicaplast Baume, para a pele ser regenerada.” Então, nada de tentar outras mil misturas ou receitas milagrosas, o melhor a se fazer é deixar a cútis descansar. 

E, para evitar intercorrências, separamos três pontos para os quais devemos nos atentar ao utilizar nossos produtos de beleza: 

  • Textura: se a consistência do produto for, via de regra, homogênea e ele começou a empelotar, esse pode ser um sinal de que sua vida útil segura já acabou. 
  • Odor: mesmo que alguns itens já venham de fábrica com um cheiro não muito agradável, com o uso ao longo do tempo, conseguimos identificar quando esse odor muda. 
  • Cor: a cor é um dos principais fatores que indicam quando um produto começa a oxidar, por isso sempre observe atentamente se ela não está muito diferente antes de usar. 

Por fim, assim como nos preocupamos com a validade dos alimentos que ingerimos e com os efeitos que podem causar de dentro para fora, também é muito importante se atentar com o que faz o caminho inverso, ou seja, o que aplicamos de fora para dentro.

Tudo sobre a polêmica da base de 200 reais de Virgínia Fonseca

Não é nenhuma novidade que a internet democratizou o acesso à informação, ao entretenimento e à comunicação. Entretanto, para além disso, ela também abriu portas para que muitos anônimos ascendessem ao posto de subcelebridade, ganhassem uma certa fama e, dessa forma, assumindo o codinome de “influenciadores”, utilizassem sua imagem, sua voz e seu discurso para venderem histórias, produtos e, às vezes, a si mesmos. 

Em meio a tantas publicidades, pode surgir o pensamento: “Se vendo o dos outros, por que não vender o meu?” e, então, apostando na faceta de empreendedores, muitos passam a “desenvolver” seus próprios artigos, encontrando mais um ramo para monetizar. No entanto, há algumas situações em que parece que o influencer tem um lapso de memória e passa a desconhecer seu próprio habitat, pois, aparentemente, esquecem que a internet que deu a eles a notoriedade é a mesma que vai cobrar deles coerência e qualidade no resultado. 

De acordo com os especialistas em marketing, branding e posicionamento digital, ao lançar um produto no mercado, há uma série de fatores que guia a maneira como ele será divulgado e, resumindo muitos deles, chegamos ao quarteto fantástico: público-alvo, percepção de valor, preço e qualidade. “Público-alvo” é um termo bastante intuitivo e diz respeito a quem são as pessoas que a empresa deseja atingir, baseando-se na faixa etária, ocupação profissional e também no poder aquisitivo, ponto que está diretamente ligado à  “percepção de valor. Essa gira em torno do ideal que se constrói acerca da marca, com base no estilo de vida que ela busca representar desde sua propaganda, passando pelas cores, fontes e até linhas do design escolhidos para seus produtos; quanto mais luxuoso o imaginário, maior a percepção de valor. Isso, consequentemente, nos leva ao fator “preço”, que, obviamente, é diretamente influenciado pela valorização que uma empresa tem, ou ao menos deveria ser, já que não faz quase nenhum sentido cobrar um ticket alto de algo que sempre foi construído e voltado para quem pode pagar um ticket baixo/médio. Por fim, juntos, esse trio possui um peso direto no que o público vai esperar do quarto elemento: a qualidade. Não é dizendo que se um produto é barato, é aceitável que seja “ruim”, de forma alguma; dinheiro é dinheiro e só quem pagou sabe o quanto aquela quantia realmente lhe custou. Contudo, quando se trata de um artigo de preço elevado, logo se identifica a boa qualidade como uma de suas causas disso, porque se infere que esse valor representa o combo boa matéria-prima + processo produtivo seguro + uma mão de obra altamente qualificada.

Depois de ter toda a questão de marketing contextualizada, vem a pergunta: e quando não nos deparamos com essa coerência? Nada melhor que um hot topic para ilustrar!

Na última semana a internet ferveu: primeiro de curiosidade, depois de espanto e, por fim, de raiva! Mas, calma, que não foi uma revolta sem “base”… na verdade, tudo começou por causa de uma! A influenciadora digital Virgínia Fonseca anunciou, no último dia 4, o lançamento do mais novo produto de sua marca, We Pink: uma base que, de acordo com a propaganda, não se trata apenas de um cosmético, e sim de uma dermomake – conceito (questionado por alguns dermatologistas) utilizado para se referir a maquiagens que também tratam a pele. 

O furor de curiosidade foi causado principalmente por se tratar de Virgínia, que é, atualmente, um dos maiores nomes do mercado digital do país, com uma das taxas de conversão mais altas, de acordo com especialistas de marketing – ponto facilmente notado quando se olha para sua a marca, inicialmente voltada ao skincare, que, apesar de não estar no mercado há muito tempo, já apresenta um crescimento considerável. 

A segunda fase, o espanto, custou duzentos reais: o preço cobrado pelo produto. O público, em sua (esmagadora) maioria, ficou surpreso com o alto valor de uma “make de primeira viagem” de uma marca que, apesar de ser voltada para o ramo da beleza, nunca havia investido no nicho específico de maquiagem antes. 

Já a raiva –  sentimento que se mantém até o momento – foi resultado do fator crucial que, de acordo com grande parte das pessoas que se dispuseram a testar, o produto deixou de entregar: a qualidade. A cada três resenhas feitas por maquiadores profissionais, três reprovaram o produto, e a cada três resenhas feitas por consumidores “leigos”, o mesmo aconteceu também. Entre críticas à cobertura e vídeos da base “se desfazendo” nos famosos testes de água e transferência, mesmo gastando muito tempo rolando o feed e lendo comentários, é difícil encontrar elogios.

Toda essa sequência de acontecimentos, quando analisada mais a fundo, dá margem a uma série de considerações que vão muito além do tópico “maquiagem”. A metáfora da curiosidade, espanto e raiva, servem de trampolim para questionamentos sobre se, de fato, os influenciadores estão investidos em suas empresas e também sobre o quanto eles levam seu público em consideração. Tomando por exemplo o caso da Virgínia e toda a contextualização feita no início desse texto, diversas problemáticas podem ser apresentadas: 

1 – Falta de relação com público-alvo: 

Virgínia tem milhões de seguidores, mas não seguidores que ganham milhões. As pessoas que acompanham a influenciadora são, em sua maioria, jovens e adolescentes dependentes dos pais, de classe média/baixa e que a conheceram e se identificaram não por conta de nenhuma ligação com o universo da beleza, maquiagem e afins, mas por conta da espetacularização bem-humorada e à lá reality de seu cotidiano que, apesar de ainda muito diferente e distante da realidade de muitos de seus seguidores, era revestido por uma simplicidade de comunicação e uma ausência de “montação”. A fidelização por meio do carisma abriu caminho para a criação de um negócio que, apesar de bem-sucedido, gera uma dúvida: foi feito pensando em beneficiar o público ou em se beneficiar do público?

2 – Ruído de percepção de valor: 

Como já foi dito, apesar da rotina distinta da maioria do público, a simplicidade é o que fazia esse mesmo grupo se aproximar. Ao analisarmos toda a carreira de Virgínia, percebemos que o que a diferencia de muitos outros grandes influenciadores é justamente a ausência de “montação”: os “bons-dias” tão famosos com a filha no colo, uma dancinha e a xícara de café na mão, e a rotina que ela sempre mostrou não era a de manhãs, tardes e noites com maquiadores e hair stylists à disposição. Ela pode ter acesso ao luxo, mas não construiu seu imaginário e nem o de sua empresa em torno disso. Se observarmos a estética da We Pink, percebemos esse mesmo padrão: as cores são femininas, acessíveis e divertidas; a fonte possui linhas arredondadas e sem serifa, o que comunica muita modernidade… tudo muito diferente do universo de luxo que é sempre tão mais neutro e tem parte de seu status enraizada no zelo pelo tradicional. 

3 – Divulgação como dermomake, mas que não é tão dermo assim: 

Outro ponto de controvérsias foi a respeito da grande divulgação da base como sendo uma dermomake, termo utilizado para se referir a produtos cosméticos que, além da estética, também prometem tratar a pele. O impasse, nesse caso, se deu pelo fato de muitos profissionais da área da beleza e saúde dermatológica argumentarem que os efeitos de tratamento de produtos como esse são mínimos e, por conta disso, as expectativas criadas em torno deles acabam sendo exageradas e facilmente frustradas. Isso fez com que se levantasse um questionamento sobre a real capacidade do produto entregar o que promete.

4 – Polêmica envolvendo um suposto desmerecimento do mercado nacional:

Ainda envolvendo a divulgação, uma fala da influenciadora e empresária fez a lista de críticas se prolongar. De acordo com Virgínia, sua base seria como as “gringas”, já que não há nenhuma maquiagem com esse nível de qualidade no mercado nacional. Isso foi interpretado pelas pessoas como sendo um desmerecimento para com as marcas produzidas no Brasil e uma falta de respeito com as figuras desse meio. A fala da influencer se mostrou controversa por, mesmo que acidentalmente, reforçar um estereótipo que há muito tempo a produção nacional luta para se livrar: o que de que apenas o estrangeiro é bom e só o de fora tem qualidade, como se ainda fossemos um país com capacidade insuficiente.  

5 – Promoção controversa uma semana depois do lançamento:

O último grande causador de revolta nas redes sociais foi o fato de que Virgínia, uma semana após o lançamento da base, fez uma promoção de seus produtos: ao comprar um perfume, o cliente ganhava outros cinco produtos de sua marca, incluindo… a base. Para muitos internautas isso foi um desrespeito a quem adquiriu a make logo que foi lançada e pagou um valor não tão simbólico por ela.

Por fim, esse cenário de reclamações, críticas e cobranças por parte dos consumidores serve como um grande demonstrativo de que o empreendedorismo não se importa se uma pessoa já tem fama, seus altos e baixos podem afetar todo mundo, seja famoso ou anônimo, iniciante ou já consolidado. Estar preparado para a inconstância é uma exigência básica para quem quer assumir o posto de empreendedor, já que a própria palavra, em sua origem (ligada à palavra “entrepreneur”), significa “aquele que assume riscos e começa algo novo”. No entanto, é preciso estar ciente de que esses riscos não são sempre confortáveis e até mesmo o novo precisa ser encarado com resiliência, revisão e cuidado. O público, mais do que nunca, tem se tornado cada vez mais consciente de sua força, de seu poder e de seu valor, e se aproveita disso para constantemente cobrar uma boa postura daqueles que lhes oferecem produtos, serviços e buscam um lugar no mercado. 

Cuidados BBB: como manter a saúde da pele e dos fios em períodos longos longe de casa

Rotina: hábito de fazer algo sempre do mesmo modo, mecanicamente; rotineiramente. Uma palavra curta, mas com um significado que tem um alcance extenso no nosso cotidiano. Quando paramos para pensar, temos rotina para quase tudo: no trabalho; nos estudos e; sem dúvidas, também temos uma rotina de cuidados pessoais. Quem é que não tem um produto queridinho que faz maravilhas pela pele, ou um item favorito para tratar dos fios? Até mesmo para isso temos hábitos mantidos cotidianamente – quase automáticos.

Porém, o que fazer quando essa rotina é interrompida? Já pensou se, por um período longo, de até três meses, você tiver de ficar longe de casa, sem poder reabastecer seu estoque de produtos favoritos de cuidados pessoais e ainda ter de utilizar marcas que talvez nunca tenha usado, ou até mesmo tentou, mas não funcionaram para você? Pois é, parece um cenário desconfortável, no entanto, é exatamente o que acontece com os confinados do BBB! 

Fora de casa, fora de suas rotinas e inseridos em um universo completamente novo (e exposto), eles têm de se readaptar a uma vida paralela à que levavam e isso inclui se readaptar a novos produtos também – o que pode não ter um resultado lá muito positivo. Isto foi muito evidente na edição de 2022, quando lembramos das fotos que constantemente saíam a respeito do quão danificado o cabelo da influenciadora e empresária, Jade Picon, parecia ficar ao longo do reality – com internautas brincando que os fios danificados da sister eram consequência da falta dos produtos caros que ela estava acostumada. 

É claro que não devemos deixar de aproveitar oportunidades por medo das mudanças e suas consequências, e é impossível prever de maneira certeira como o corpo vai reagir a elas, mas para tentar minimizar ao máximo os impactos causados pela quebra da rotina, existem alguns cuidados básicos que podem ser tomados – e mantidos – quando isso acontece… cuidados BBB! 

1 – Mantenha o simples no skincare

[Imagem: Reprodução/Gshow]

Sabemos que existe uma personalização muito grande na rotina, até porque cada pele é única e necessita de um tratamento individualizado, no entanto, quando não temos tanto acesso aos nossos cuidados personalizados, é fundamental não abrirmos mão do básico! Em relação à pele, isso se refere à limpeza, hidratação e proteção; um sabonete ou gel de limpeza para retirar as impurezas acumuladas ao longo do dia; um hidratante suave para repor a água da pele e reequilibrar a barreira cutânea; e um protetor solar para prevenir e evitar danos causados pela radiação UV. Isso vai auxiliar na manutenção de uma pele saudável

2 – Hidratar os fios é essencial

[Imagem: Reprodução/TV Globo]

No que diz respeito aos cabelos, o que não pode ser deixado de lado é a hidratação! Com a alteração do cotidiano, principalmente se ela criar um clima de “férias”, pode ser que não tenhamos acesso a uma rotina completa de cronograma capilar ou todos os produtos que nos socorrem dias de bad hair, porém ao manter a hidratação em dia, garantimos a reposição de água e nutrientes dos fios, deixando-os mais fortes e resistentes. Dessa forma, os danos são minimizados e a saúde do cabelo é preservada. 

3 – Não descuide da alimentação

[Imagem: Reprodução/Gshow]

O verdadeiro cuidado começa de dentro para fora, então, não tem como fugir: temos que ficar atentos quanto à alimentação! Os nutrientes que vão fortalecer nosso organismo e, consequentemente, nossa pele, nossa cabelo e até nossas unhas, vêm diretamente daquilo que usamos como combustível para nosso corpo. Por isso, manter uma alimentação limpa, evitando exagerar no açúcar e em alimentos ultraprocessados e inflamatórios, é muito importante para manter um físico saudável e equilibrado. Ah, e não podemos nos esquecer da ingestão de água, que é responsável por ajudar na eliminação de toxinas, hidratação e no transporte do nutrientes até as células. A recomendação dos nutricionistas é de 35ml para cada quilo de massa corporal! 

4 – Aproveite o período de mudança

[Imagem: Reprodução/Gshow]

Por último, mas – definitivamente – não menos importante, aproveite a rotina diferente! Mesmo que as mudanças possam ser recheadas de incertezas e imprevisibilidades, tentar ver as coisas pelo lado positivo e curtir os momentos de transformação ajudam a deixar a mente mais leve e menos sobrecarregada, o que se reflete em nosso exterior.

Uma reviravolta na rotina pode até nos afastar dos nossos hábitos confortáveis e trazer consigo novas possibilidades, mas, não se esqueça: quando o assunto é saúde da pele, dos fios e do corpo, testar receitas milagrosas e inusitadas em períodos longe de casa não é a melhor opção. Se estamos afastados de nossos “produtos da certeza”, o segredo é nos apegar ao básico e não abrir mão!

Imagem de mil palavras: como os personagens falam antes de abrir a boca

Você aperta o play, a história começa e, nos primeiros 15 minutos, já é possível identificar o mocinho, o vilão, sentir empatia ou aversão por algum personagem. E é exatamente isso que a produção quer que aconteça. Antes mesmo de a história se desenrolar por completo, ela já quer prender o telespectador por um único ponto que, segundo pesquisas, é responsável por  90% das informações transmitidas ao cérebro: o visual. 

Feche os olhos e imagine: cores suaves – candy colors, mais especificamente -, cabelos soltos e esvoaçantes, make leve, sapatos sem salto, roupas soltas e com muita cara de conforto… aposto uma caixa inteira de produtos da Rare Beauty que você idealizou uma pessoa inocente, boa, de alma leve e sorriso fácil. Agora, feche novamente e faça o caminho inverso: pense em cores vibrantes e profundas, olhares marcados, cabelos milimetricamente controlados, roupas justas e com caimento pesado… a aposta segue a mesma se você idealizou alguém de personalidade forte, quase inacessível, que causa um certo receio só de pensar em se aproximar. Esse é o poder da caracterização, e é ele um dos artifícios mais poderosos na construção de um personagem que cativa. 

Um exemplo nítido desse feito é a transformação instantânea de Anna Delvey na série “Inventando Anna” (que foi um verdadeiro fenômeno quando foi lançada no início do ano). Ao ouvir que sua aparência, antes composta por ondulados cabelos loiros, maquiagem romântica e um estilo mais girlie, não condizia com a de uma mulher de negócios, séria e competente que gostaria de se transparecer ser para conquistar aliados e financiadores, Anna prontamente tratou de escurecer os fios, adotar óculos quadrados e de armação escura (contrariando seu contraste pessoal e gerando peso visual), apostar em peças de corte mais reto, tecidos mais firmes e uma postura mais formal. A forma como ela passou a ser percebida mudou instantaneamente, e isso aconteceu logo na primeira cena em que ela aparece com o novo visual, antes mesmo que o primeiro diálogo dela nessa nova fase fosse construído. 

A aparência, goste ou não, é sim um meio de exercer uma chamada “comunicação silenciosa” e, assim como ela é capaz de externar a personalidade de “pessoas reais” no dia a dia, na criação de um enredo artístico também. Fato é que, a maior intenção dos autores é criar uma conexão com o público, seja por meio do incômodo, da identificação, da polêmica ou da aversão, o que importa é fazer com que o que é fictício não seja esquecido no que é real, e a beleza tem um papel fundamental nisso. Pode parecer ousadia, mas vale dizer que uma boa parte das pessoas que consomem o conteúdo cinematográfico conseguem se lembrar de algum personagem – que para eles foi – marcante quando vê uma determinada peça em uma loja, num corte de cabelo de alguém passando pela rua ou num estilo de maquiagem que está mais em alta – já que a mídia tem, inegavelmente, esse famoso e ao mesmo tempo assustador, poder de influenciar o desejo das massas. O conjunto xadrez de Cher em As Patricinhas de Beverly Hills, o cinto dourado e a capinha de soco inglês da delegada Helô em Salve Jorge, o pretinho básico junto de um colar extravagante de Holly em Breakfast at Tiffany’s… Se notarem, cada um desses elementos se comunica muito estrategicamente à personalidade dos personagens que os tornaram famosos: o xadrez é uma estampa clássica e que, em algumas variações, é ligada à monarquia – como o xadrez Príncipe de Gales – e Cher era uma verdadeira princesinha no clássico dos anos 1990; o cinto dourado traz um toque de glamour e a capinha de soco inglês transmite uma mensagem de força, garra e defesa – e Helô era uma delegada implacável, mas, ao mesmo tempo, muito vaidosa; já o vestido preto acrescido de luvas e um colar de peso comunicam uma classe singular – e Holly era uma personagem que mostrava que a elegância também podia ser simples.

No entanto, esse feito não é tão simples. Como na “vida real” o processo de conhecimento e desenvolvimento do próprio estilo, a curadoria de preferências e a definição dos elementos que vão conseguir transformar a imagem de uma pessoa na extensão da personalidade dela, da mesma maneira ocorre na criação da aparência de um personagem, e quem fica a cargo de fazer com que isso aconteça da melhor forma possível são os profissionais desse ramo da beleza artística: os figurinistas, maquiadores e cabeleireiros que ficam encarregados de exercer uma dupla transformação: despir o ator de si mesmo e vesti-lo de um novo alguém. Nesse sentido, a figurinista Flávia Botelho (no instagram como @a_figurinista) traz mais profundidade sobre as atribuições de um figurinista (que, já adiantando, faz muito mais do que escolher as roupas). “Em uma produção artística, a figurinista deve ter todo o roteiro, entender o perfil psicológico de cada personagem para criar, junto com a direção, o conceito do figurino.” De acordo com a profissional, cores, formas e elementos são avaliados e indicados para ajudar a reforçar a dramaturgia tanto de cada personagem, quanto do conjunto do elenco, “[…] a figurinista precisa entender de composição de cores, de como essas cores ficam na luz do palco ou nas câmeras, quais tecidos e aviamentos devem ser usados, como e quando usar efeitos de tingimentos ou envelhecimento para trazer vida ao figurino, por exemplo.”

Flávia Botelho, figurinista [Imagem: Reprodução/Instagram]

Para chegar a essas definições, o ponto de partida é o diálogo: o primeiro passo para uma produção de sucesso começa no alinhamento das ideias com a equipe: “O primeiro passo é a leitura do roteiro e, em seguida, a conversa com o diretor, porque quando a gente lê o roteiro, já visualiza essa composição.” E o registro dessas ideias são, geralmente feitos por meio de croquis – um processo que pode ser diferente de acordo com o perfil de cada profissional, “Tem gente que faz primeiro uma pesquisa de referências de imagens, para depois ir refinando, até chegar no que melhor representa cada personagem. Varia, mas o principal é começar a dar forma, estabelecer cores junto com a direção de arte […] É um trabalho em conjunto!”

Porém, como se trata da criação de uma personalidade, a complexidade é inegável. Segundo Flávia, o maior desafio na construção dessa forma de comunicação é pensar com a cabeça do expectador, de alguém que não sabe nada daquela obra. “Achar quais elementos são essenciais e quais são dispensáveis; limpar toda distração, deixar de ado as questões de moda ou gosto pessoal e colocar o foco na construção do personagem, em representar quem ele é.”

E, como pessoas que são, os personagens também estão sujeitos a mudanças: de vida, de realidade e, em alguns casos, até de personalidade (tragam à memória a Clara – de Bianca Bin – em “O outro lado do paraíso”, que depois de passar por traumas profundos, ressurgiu completamente diferente, por dentro e por fora). Assim como na vida real, a aparência também reflete a essência e, ao passo em que o comportamento muda, a imagem se altera junto. Entretanto, para que a narrativa não seja prejudicada por uma mudança drástica, inesperada ou aleatória, que pode quebrar a conexão já existente com o público e despersonalizar a personagem, é de fundamental importância não deixar de manter o contato com as ideias do diretor para o enredo da trama. “Primeiro há que se entender que um filme, série, peça de teatro, antes de existir para o público, existe em um roteiro e, na maioria das vezes, essas mudanças já são previstas.” Assim, é possível planejar com antecedência como realizar essa transição sem romper com a narrativa, “Quando a construção de um figurino começa pelo perfil psicológico, ou seja, pela humanização – tornar o personagem uma pessoa – a gente também passa a entender, na trama, como essa pessoa reage, os sentimentos dela e como ela se vestiria em diversas situações, […] se fosse pobre, se fosse rica, se fosse para a guerra, para um jantar romântico, para uma entrevista de emprego, enfim. Por isso tudo começa no roteiro e na conversa com a direção!”

De fato, enquanto expectadores e ainda ignorantes em relação ao conteúdo que está por vir, qualquer influência visual conta para criar uma atmosfera, uma linha de raciocínio que instiga nossa imaginação em relação ao que pode acontecer. Que atire a primeira pedra – ou cancele a assinatura na plataforma de streaming – quem nunca julgou um personagem na primeira cena em que ele apareceu, antes mesmo do coitado dizer qualquer coisa – como não interpretar Anna Delvey como uma herdeira multimilionária em Inventando Anna, ou Vivian como uma pessoa rebelde em Uma Linda Mulher? É por isso que o trabalho dos bastidores não pode ser ignorado; o figurino aguça a curiosidade e torna a encenação ainda mais convidativa aos olhos e é por meio da criação dessa imagem de mil palavras que os personagens falam antes mesmo de abrir a boca.

Com a conexão criada 

Do sim ao altar: o cronograma de beleza para noivas

Para algumas noivas, um dos dias mais mágicos da vida delas é o dia do “sim”, porém, quando dizem sim ao pedido de casamento, também estão aceitando os desafios que cercam a preparação para que esse grande dia seja perfeito. Foi-se o tempo em que as preocupações dos noivos se restringiam à decoração, buffet e escolha dos trajes adequados. Agora, principalmente no que diz respeito às noivas de plantão, mais um item entrou no checklist de tarefas a serem realizadas até o dia da cerimônia: o cronograma de procedimentos de beleza. 

Com o avanço da tecnologia nesta indústria, os novos tratamentos com diferentes objetivos e downtimes (tempo de “descanso” necessário para que a região tratada se recupere e atinja o resultado final) têm se popularizado rapidamente devido à versatilidade que oferecem: há tratamentos mais profundos que podem precisar de semanas de recuperação para que se chegue ao resultado final, enquanto existem outros mais superficiais que não possuem downtime e a paciente já pode voltar às atividades cotidianas logo após a realização dos procedimentos. 

Imagem: Reprodução/Organize Casamento

No entanto, quando se tem um planejamento por trás, é possível obter o melhor dos dois mundos: combinar tratamentos – tanto pelos efeitos a longo prazo, fruto dos protocolos que tratam a qualidade da pele de maneira mais profunda, quanto por aqueles que podem ser realizados aos “45 do segundo tempo” e trazem resultados sutis, mas notáveis – e obter resultados progressivos, ou seja, que melhoram com o tempo. Esse é o caso das noivas que cada vez mais têm buscado montar um verdadeiro cronograma de beleza a ser seguido desde o dia do “sim” até chegar ao altar. 

Emanuela, que casou-se recentemente, desde o início dos planejamentos, incluiu em seu “projeto noiva” cuidados específicos com a aparência, “Quando disse ‘sim’ ao meu noivo, também disse sim ao dia dos meus sonhos e por isso fiz questão de chegar nele na minha melhor versão!”. Segundo ela, a preparação começou com um ano de antecedência, logo que noivou, e a escolha dos procedimentos foi um conjunto de desejos dela e recomendações de profissionais.

“Aproveitei a ocasião do casamento para tirar do papel algumas vontades que já tinha, como preencher as olheiras que já me incomodavam há um tempo, com ácido hialurônico (uns três meses antes) e aplicar a toxina botulínica de forma preventiva e para levantar o olhar (mais ou menos dois meses antes da cerimônia). Porém, quando procurei minha dermatologista para realizar esses procedimentos, ela me recomendou alguns outros tratamentos para melhorar o aspecto da pele, como limpezas mais frequentes (realizei uma por mês) e lasers para tratar manchas e textura. Montamos um verdadeiro cronograma que incluiu desde tratamentos no consultório até cuidados em casa.” Emanuela ressaltou ainda que a preparação e o cuidado prévio para com a imagem foram fundamentais para que ela se sentisse mais confiante no dia da cerimônia, “Me senti preparada, mais bonita de verdade, porque tudo o que me incomodava antes já não estava mais lá, eu já tinha tratado!”

Nesse sentido, a Dra. Liliany Lóss Folate, médica dermatologista, diretora da clínica Dermacorpo,  afirma que se preparar com antecedência, porém com calma e responsabilidade, é de extrema importância: “O grande dia da noiva é uma ocasião de muitas emoções e ansiedade! Eu recomendo não acrescentar mais emoção, na ânsia pelo resultado dos procedimentos estéticos. Sempre oriento a realizar os procedimentos de forma programada e antecipada.” Além disso, a dermatologista acrescenta que seis meses de antecedência é o período que considera ideal para dar início aos cuidados de forma mais intensa e que os protocolos a serem adotados são escolhidos após a realização de uma avaliação individual, que é uma etapa fundamental para identificar as necessidades de cada noiva e direcionar o tratamento.

No entanto, existe uma característica que a Dra. Liliany considera indispensável em qualquer cronograma: a busca por uma pele visivelmente bem zelada, “Estar com a pele bem cuidada, com viço e brilho, faz toda diferença na maquiagem! O Botox também é indispensável!” e para exemplificar uma forma de chegar a esse resultado, ela nos direcionou na montagem de um cronograma de beleza para incentivar as noivas de plantão. Vamos conferir?  

Cronograma de beleza do “sim” ao altar:

  • 6 meses antes: Os bioestimuladores de colágeno – substâncias aplicadas na face para estimular a produção de novas fibras de colágeno, auxiliando na melhora do aspecto do rosto, minimizando os sinais do tempo, atenuando a flacidez e proporcionando uma pele mais uniforme + Ultraformer 3 – um aparelho de última geração que combina a utilização dos ultrassons micro e macrofocado para tratar a flacidez da pele. Essa tecnologia atua através de estímulos para intensificar a produção natural de colágeno no organismo e promover a quebra das células de gordura. 
Imagem: Reprodução/Mealth Clinic
  • 3 meses antes: Preenchedores + Laser.
  • 1 mês antes: Botox e, se necessário, alguma nova etapa com preenchedores.
Imagem: Shutterstock
  • 15 dias antes: Finalizar com Laser para melhorar textura de pele!

Depois de descobrir a importância de um planejamento prévio e com um cronograma em mãos para se inspirar, parece que o caminho para chegar ainda mais bela ao altar ficou mais descomplicado, não é? Porém, não se esqueça: cada planejamento é único e a opção por realizá-lo também. O cronograma de beleza não deve ser visto como uma regra e nem como uma obrigação, mas, sim, como um escape relaxante e um momento de autocuidado para as noivas em meio a um período que é cercado por um turbilhão de emoções. 

Artificialmente natural

Quando o assunto é maquiagem, é quase impossível evitar a viagem nostálgica que leva as pessoas de volta às tendências do passado. Seja o visual pin-up dos anos 1950, marcado pelo delineado “gatinho” e batom vermelho, ou talvez as sobrancelhas finas, sombras cintilantes e lábios glossy dos anos 2000 (que, inclusive, é a nova febre, que surge em uma estética denominada de Y2k); uma rápida olhada para trás nos permite ver o quanto as ideias de “belo” mudaram com o passar do tempo.

Imagem: Reprodução Pinterest

Nesse sentido, ao observar a transição de ideais da última década (2010 – 2020) encontra-se uma mudança curiosa e quase extrema. Durante o início da década de 2010, o côncavo marcado, o blush bem rosado e o famoso batom snob (aquele rosa quase branco), eram o verdadeiro sucesso; pouco depois, por volta de 2014, surgiu a técnica cut-crease, que por meio de uma mistura de cores, criava uma produção carregada e marcante. Já em 2016, uma nova estética se tornou o desejo da vez e se estendeu até o fim da década: o famoso visual “Kardashian”. Nele, a festa de cores foi substituída por tons neutros e a marcação que antes acontecia nos olhos, foi transferida para a pele (que passou a ser carregada por meio do uso de base, corretivo, pó, contorno, blush e iluminador) e para os lábios, que passaram a ser contornados para criar uma verdadeira ilusão de ótica e simular um aumento de volume.

Imagem: Reprodução Pinterest

No entanto, com a virada da década parece que também houve uma virada no padrão: surgiu a “make beauty” (maquiagem embelezadora, em tradução do inglês), que tem por base o contrário de tudo o que foi visto até então. Ela usa sim elementos artificiais, mas tudo com o intuito de criar imagens naturais. De acordo com Sabrina Ataide, maquiadora e especialista em maquiagem beauty, o conceito dessa nova “linha” é definido como sendo um conjunto de técnicas e estilo de maquiagem que evidenciam a beleza natural, respeitando os traços e a individualidade de cada um, “É embelezar sem transformar!”.

A expert ainda aponta que as demandas por esse tipo específico de produção mais leve e natural se deu de forma mais intensa nos últimos anos como reflexo dos tempos de pandemia “Acredito que a maquiagem é arte, e todo movimento artístico acompanha o comportamento social e de consumo. Nesses últimos anos, como reflexos de tempos de Covid-19, as pessoas têm se preocupado cada vez mais com sua saúde e bem-estar, o que as levou a se atentar mais às compras de beleza”. Dessa forma, em um cenário anteriormente dominado por grandes mudanças e um contexto em que quem conseguisse transformar mais era considerado o mais competente, Sabrina ressalta que essa mudança de preferências pode ter se dado pelos novos hábitos adquiridos. De acordo com ela, o uso de máscaras, por exemplo, contribuiu com o destaque dado aos olhos com o uso de técnicas como delineado “gatinho, holográfico e smokey eyes coloridos; além disso, a pele fresh se tornou preferência, justamente por ser mais leve e natural, o que vai totalmente “contra” o estilo Kardashian de maquiagem, que usava – e muito – de técnicas de contorno facial.

Se tratando dos motivos que podem ter levado o público à busca pela “leveza”, é inevitável pensar nisso como uma das repercussões das circunstâncias criadas pela pandemia. Os dias incertos serviram, para muitos, como um momento de reflexão e de (re)conexão consigo mesmos e com suas formas, belezas e traços naturais. As pessoas aprenderam a se enxergar novamente como são, sem o peso de se sentirem pressionadas a alterar quem são para se exporem ao mundo, e passaram a admirar isso também.

Assumir a desnecessidade de transformação funcionou como um escape, uma forma de liberdade em um período de restrições. Mesmo que a maquiagem embelezadora continue sendo um jeito de manipular a aparência, isso acontece de maneira mínima, justamente com a intenção que o próprio nome já carrega: apenas ressaltar o que já é belo. Para a maquiadora Sabrina, o porquê da afeição atual por esse tipo de visual se baseia no desejo de ter uma imagem saudável e que expresse a valorização do autocuidado: “O visual ‘limpo’ corresponde ao movimento de conscientização de autocuidado pós-pandemia, ou seja, as tendências de maquiagem se direcionaram a presentar um ‘ar saudável’ e bem cuidado. Então, hoje em dia, ter uma pele viçosa e com acabamentos mais naturais, que conferem um ar de saúde e elegância, transmite a mensagem de ‘estou em dia com meu autocuidado’”.

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Entretanto, ainda nos encontramos em um mundo extremamente globalizado, que cria tendências que se espalham tão rapidamente quanto um piscar de olhos, por isso não se pode descartar a possibilidade de que a busca por transformação retorne. Basta uma ligeira olhada para o crescimento da estética Y2K para sentir que há novos desejos à vista. Nessa lógica, Sabrina destaca que acredita que tudo é possível: “Quando eu penso em comportamento social, moda e estilo, acho que tudo é possível. Os comportamentos sociais são sempre cíclicos, então acredito que possam voltar sim, porém, de uma forma repaginada, até porque o marco deixado pela pandemia é irreversível.

Para mais, ela afirma que a nova tendência à naturalidade levou as pessoas a se interessarem pela composição e nocividade de alguns ingredientes utilizados na indústria de beleza, no entanto, se as marcas se mantiverem transparentes em relação à produção, uma nova mudança não seria um grande problema e finaliza: “Confesso que até gosto da ideia de mudar e inovar, afinal de contas, maquiagem é arte e expressão do indivíduo; não dá pra colocar em uma caixinha”.

Por fim, até mesmo a beleza e as maneiras de implementá-la representam momentos e movimentos da história, sendo a crescente valorização da make beauty um deles, pois como já foi mencionado, esse novo conceito tem relação com a busca por uma aparência naturalmente saudável que surgiu como reflexo da pandemia enfrentada recentemente. Dessa forma, seja mais intensamente, com a intenção de criar uma máscara e transformar o exterior, seja para apenas ressaltar a beleza inata de cada um, o uso de elementos artificiais, como a maquiagem, não deixa de ser uma ferramenta útil para traduzir o espírito do tempo vivido, sendo o atual o da exaltação do – artificialmente – natural.

O autocuidado em diferentes culturas

Os ideais de beleza ao redor do globo podem mudar, mas além de “o que” é considerado belo, a forma de atingir esse ideal também pode variar. Sejam os produtos utilizados, a ordem de aplicação deles ou a maneira de conduzir os rituais de skincare, quando o assunto diz respeito aos hábitos de beleza adotados em diferentes culturas, uma coisa é unânime: a diferença.

É claro que os hábitos têm a intenção de desenvolver ou preservar características que se encaixem nos padrões de beleza de cada sociedade, mas existem alguns que ultrapassam as barreiras culturais e se tornam verdadeiros fenômenos reproduzidos em todo o mundo. Podemos citar o caso da rotina de skincare de alguns países do continente asiático, como da Coreia do Sul e do Japão, chamadas de K-beauty (de “korean beauty”) e J-beauty (“japanese beauty”), respectivamente. O ideal desses países envolve peles quase imaculadas e muito bem cuidadas, que remetem à inocência e à elegância prezadas nessas regiões, por isso, os cuidados adotados por lá se tornaram uma febre internacional. 

No continente asiático, como já citado, a K-beauty faz referência à rotina de skincare adotada na Coreia do Sul. A mais famosa rotina que rodeou o mundo é composta por uma série de etapas que giram em torno de 10 passos. Começando pela dupla limpeza (que envolve a remoção das impurezas acumuladas ao longo do dia com óleo e com uma espuma de limpeza, respectivamente), passando pela técnica de camadas, chamada de layering, em que ocorre a aplicação de uma série de produtos como uma loção (que equivale ao que conhecemos como tônico), uma essência (um concentrado de ativos que trata a pele de acordo com a necessidade, seja ela hidratação, nutrição, clareamento, etc.) e, por fim, uma emulsão, que tem a função de hidratar e é tido como um “creme finalizador”. E ainda é importante mencionar que as áreas mais sensíveis, como a região dos olhos, recebem um cuidado especial, a fim de evitar olheiras, “bolsas” e rugas. Todas essas etapas contribuem para uma pele sempre impecável, iluminada e com aparência saudável.

Já na Europa, os cuidados existem, porém de forma mais simplificada e prática. A intenção da mulher europeia não é aparentar ser mais jovem do que é, mas sim ser a melhor versão de como se está. Uma pele sem manchas, bem hidratada e cuidada é mais do que bem-vinda, mas não sem expressões. Em entrevista concedida à Harper’s Bazaar e publicada no site da revista, a médica dermatologista Cinthia Sarkis, que viveu na Espanha por mais de uma década, afirmou que esse resultado de beleza europeia é atingido por meio de uma rotina baseada na filosofia já conhecida do “menos é mais”: “algumas visitas ao médico, uso adequado de fotoprotetor, tratamentos feitos esporadicamente em consultório e uso comedido dos cosméticos adequados”. Simples assim. Além disso, como já mencionado na matéria sobre os padrões de beleza em cada cultura, a beleza europeia tem por base a discrição, a valorização da casualidade, por isso é compreensível que os hábitos de beleza adotados por lá sigam a mesma linha.

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Quando as rotinas americanas são colocadas em questão, a influência estrangeira é notável nos hábitos relacionados à beauté. Ao mesmo tempo em que há uma grande disponibilidade de produtos para que se construa uma rotina tão complexa quanto a asiática, é possível observar também a preferência por produtos que reúnam vários ativos que proporcionem diversos cuidados de uma vez só, o que remete à praticidade adotada na Europa, fato que pode estar relacionado à vida acelerada, ao famoso “american way of life”. No entanto, um ponto que se destaca na rotina de cuidados vista nos países do continente americano é a alta taxa de adesão por procedimentos mais profundos e invasivos. Peelings, lasers, preenchimentos, aplicação de toxina botulínica, são constantes quando são feitos questionamentos no sentido de “como manter a beleza”.

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Enfim, da mesma forma como os ideais de beleza sofrem influência da cultura a que remetem, os hábitos adotados para chegar nesses ideais também são transmitidos por meio de crenças, costumes e perpetuados com base na confiança que se tem nos resultados. Uma boa rotina de cuidados vai muito além da escolha de produtos, ela também envolve e reproduz traços e heranças culturais.

Beleza cultural: a influência das características culturais nos ideais de beleza pelo mundo

Quando pensamos em cultura, as primeiras características que vêm à mente são idiomas falados, costumes de etiqueta, crenças, sistema educacional e marcos históricos. Porém, outro importante ponto que também se destaca na diferenciação entre culturas é a beleza, ou melhor, o que esse termo representa. Formatos de corpo, comprimento dos cabelos, estilo de maquiagem e até mesmo o sorriso, podem ser considerados características culturais de um grupo social e exercem influência direta nos ideais que definem o que é belo nas distintas culturas ao redor do globo. 

O gestor educacional Júlio César de Lima, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo responsável pela página Sociologia Cotidiana, pontua que cada sociedade possui sua cultura que vai se modificando ao longo do tempo a partir de contato com outras, em um processo ininterrupto. “No passado, o contato entre diferentes culturas era físico, através de imigrações, invasões, por exemplo. […] Atualmente, as chamadas mídias sociais vem acelerando ainda mais a difusão cultural.” Com base nesse raciocínio, ele dispõe que cada grupo cultural, cada povo e sociedade possui seu ideal de beleza, moda e costumes, no entanto, eles são fluidos e modificam-se muito rapidamente “Se o ideal de beleza é o estilo, padrão ou modelo socialmente definido como belo, ele existe em toda e qualquer sociedade, mas a questão é que ele é marcado pela fluidez.”.

Ademais, a busca pelo encaixe perfeito nos padrões de uma sociedade também podem ser resultantes da vontade de gerar um sentimento de pertencimento a um grupo específico, funcionando como uma forma de validação de valor social. Nesse sentido, Júlio César menciona: “O homem é um animal gregário, só existe porque vive em grupo. Com a chamada sociedade de consumo, a necessidade de se viver em grupo divide espaço com a necessidade de se sentir parte desse grupo. […] Fazer parte dele requer sim ser validado em alguns quesitos estabelecidos.”

Mesmo em países multiculturais, como o Brasil, sabemos que existem algumas características que são intrínsecas à construção social do que é belo. Porém, de um ponto de vista mais “macro”, podemos notar que determinados padrões são vistos de forma mais ampla nos diferentes continentes. 

Em se tratando das Américas, no Norte, como nos Estados Unidos, observamos que bustos volumosos, pele, cabelos e olhos claros são as características mais apreciadas nas mulheres, enquanto dos homens é esperado um físico atlético e uma barba bem cuidada, em um visual conhecido como “lumbersexual”. Já na região Central e Sul, peles bronzeadas, cabelos longos e corpo curvilíneo, o famoso “corpo violão”, formam o ideal estético feminino, ao passo que o masculino é composto pela pele também “beijada pelo sol”, cabelos escuros e um porte malhado, em uma mistura de casualidade elegante com um toque sensual. 

Nas terras europeias, continente em que a população tende a ser mais reservada e discreta no que tange ao comportamento, observamos que corpos esguios e um visual casual são as características gerais dos padrões de beleza que, todavia, podem sofrer pequenas alterações de país para país. Se estivermos falando sobre a França, pele bem cuidada, físico magro, cabelo levemente bagunçado e maquiagem leve são o combo apreciado – também compartilhado pela Inglaterra, com a diferença de que esta opta por um visual mais aristocrático e sério, menos despretensioso que o francês. Em se tratando da Itália, os padrões ficam levemente mais extravagantes, o corpo segue magro, mas o busto aumenta de tamanho, as pernas ficam mais torneadas, os cabelos ganham mechas e um comprimento maior; enquanto a Espanha preza por ares mais sexy, de pele morena, olhos e cabelos castanhos, corpos curvilíneos e bem torneados, enquanto, em contraponto, a beleza nórdica preza por peles alvas, cabelos bem claros e uma imagem quase etérea.   

O continente africano também conta com variações no ideal que o compõem, se observadas suas diferentes partes. Em se tratando da região sul, que sofreu grande influência da cultura europeia por conta da colonização, observamos um apreço por traços delicados, poucas curvas e um físico esguio, levemente malhado. O que vai de encontro ao observado em partes da África Ocidental, em localidades como a Mauritânia, em que os corpos volumosos são almejados por serem a representação de prosperidade financeira e disponibilidade de recursos. 

No continente asiático, onde a praticidade, discrição e agilidade são pontos fortes de sua cultura, o que é visto como belo possui traços finos, uma pele bem cuidada e clara, a união de características que, juntas, consigam formar uma imagem de inocência e leveza que são associadas à elegância. 

Porém, mesmo sendo tão discutidos e abordados com mais intensidade nos tempos atuais, o estabelecimento de ideais de beleza têm um histórico longo e notável. Os primeiros registros de uma espécie de padrão no tocante ao belo foram observados na Pré-História, quando o uso de garras e dentes de animais como adornos representava o poder masculino e a obesidade feminina era vista como sinônimo de prosperidade em recursos e símbolo de fertilidade. Posteriormente, na Grécia Antiga, onde muito se valorizava a questão da harmonia e equilíbrio, os corpos compostos por quadris largos e seios volumosos – que eram associados à fertilidade – além de um pele clara, uma aparência etérea e que transmitisse a ideia de saúde acabaram por ser interpretados como o ideal; enquanto no Egito Antigo (em que a aparência física era de grande importância), corpos esguios, pele bronzeada e ausência de pelos representavam a imagem almejada. Sob esse panorama, observa-se que mesmo com a passagem do tempo e a alteração de muitos pontos tidos como representantes do bela por motivos diversos, como os de cunho religioso e cultural, o que perdura até os dias de hoje é a constante mutação do que é compreendido como parâmetro. Dessa forma, com o entendimento de que as raízes dos padrões de beleza são profundas, ainda que disformes, o questionamento é: será possível vislumbrar uma sociedade livre desses ideais? Júlio César de Lima pontua que acredita ser improvável que isso aconteça. “Acredito ser improvável a existência de uma sociedade livre das amarras dos padrões de beleza e então, a discussão que cabe pode tomar outro rumo, como por exemplo, no campo da ética, que pode lançar reflexões sobre consequências para a saúde física, mental e até social dos excessos causados pela busca irrefletida por estar bonito, com o corpo ideal, com o cabelo da mocinha da novela […] Em resumo, continuaremos tentando estar belos, mas provados por questões sobre como estar belo de maneira mais racional.”

Por fim, em uma comparação meramente singela, podemos analisá-los como uma faca de dois gumes que corta um mesmo entendimento em duas questões, pois, o questionamento de um padrão pode representar o entendimento de que há outro “melhor” para ser colocado em seu lugar. Mesmo sendo rechaçados por muitas pessoas e transformados em pauta de discussões acaloradas ou, em outros casos, tendo sua existência negada dada a diversidade de ideais presentes nos diferentes continentes, os padrões de beleza reverberam para além do campo da estética, porque, como foi exposto, por meio deles conseguimos diferenciar momentos históricos, grupos sociais e até mesmo entendimentos culturais. Conseguimos, então, observar que a pluralidade da cultura faz com que o belo não seja uma afirmação, mas, sim, um eterno questionamento. 

O prazo de validade da beleza: por que as pessoas estão com medo de envelhecer?

Nas décadas de 1990 e 2000 muitos filmes de dramas adolescentes, apresentavam ao menos uma cena que retratava algum jovem desejando ser, ou ao menos aparentar ser, mais velho por algum motivo. Quem não se lembra do clássico De Repente 30 com Jennifer Garner e Mark Ruffalo? 

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Fosse pela autoridade, respeito, sabedoria e reverência que era concedida aos mais velhos ou simplesmente pelo fato de que “ser adulto” era associado à possibilidade de possuir mais liberdades, envelhecer era como se fosse um troféu. Um selo de experiência e competência. No entanto, o que se tem observado nos últimos anos, é uma tendência contrária, pautada no intuito de voltar no tempo com a aparência. É como se envelhecer tivesse deixado de ser o curso natural da vida e se transformado em uma doença a ser combatida. A comunidade passou a ser movida pelo desejo de ser como Benjamin Button.

Em um contexto marcado pela volatilidade, transformação constante e que preza muito a flexibilidade e a capacidade de adaptação, tudo o que é considerado antigo é associado a desatualização e, consequentemente, preterido e ignorado. A tendência pela exaltação da juventude pode ter como um de seus pilares o fato de que esta parcela da sociedade é, aparentemente, a detentora do conhecimento necessário para se compreender o mundo atual. No passado, envelhecer era o desejo, porque significava passar a saber e entender o que os mais novos não sabiam, porém, nos dias de hoje, qual seria o motivo de desejar isso sendo que são os mais jovens os conhecedores do funcionamento das tecnologias que imperam no mundo globalizado contemporâneo?

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Nesse sentido, o desejo por se manter jovem passou a nortear não apenas os comportamentos das pessoas (que tendem a ficar ligeiramente mais infantilizados com a intenção de parecer cool e descolado), mas a guiar suas escolhas em relação à sua estética também. A aparência é considerada a maior responsável por “denunciar” os anos de vivência e é o primeiro alvo de ataques quando se tenta desmoralizar e desconsiderar alguém com base na idade (prática denominada etarismo); por essa razão, à beleza passa-se a atribuir uma espécie de prazo de validade que faz com que as pessoas pensem que não serão mais aceitas, nem belas no mundo atual a partir do momento que atingirem uma idade mais “avançada”.

De acordo com a psicóloga Natália Tozo, as pessoas têm sentido tanto receio em envelhecer, porque a sociedade não valoriza o processo de envelhecimento, veem os idosos como pessoas que não são mais produtivas e não valorizam sua história e seus saber. “Com a tecnologia veio o acesso rápido ao consumismo e a ideia de padrão de beleza. A indústria veio com muitas novidades e promessas de uma imagem de que ficar mais jovem traz mais aceitação. […] Claro que se cuidar é importante e faz bem para o ser humano, mais nada em excesso é saudável nem para a mente, nem para o físico.”, ressalta a profissional.

Sendo assim, inicia-se uma busca intensa por maneiras que mantenham a imagem livre de rugas, linhas de expressão ou qualquer tipo de marca que possa “entregar a idade”. O investimento cada vez mais intenso na busca pelo corpo perfeito e a vontade de se inserir em um dos muitos padrões sociais, comportamentos esses que representam a manifestação do angústia em envelhecer: “o medo também vem acompanhado de sintomas de ansiedade com alteração do humor, intercalando dias mais eufóricos com dias mais deprimidos, excesso de cobrança pessoal, tensão e uma sensação de que ‘se eu não der conta, sou um fracasso”.

Seguindo esse ritmo, procedimentos invasivos e não invasivos, suplementos e até mesmo medicações para impedir que o corpo externe os sinais começam a ser frequentes nos planejamentos das pessoas. No entanto, é importante entender quais são, de fato, esses sinais e como tratá-los corretamente e dentro do necessário. A médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dra. Amanda Vilela destaca que os primeiros sinais que indicam a chegada da idade se manifestam a partir dos 30 anos, quando a produção de colágeno começa a diminuir: “A partir dos 30 anos, diminuímos nossa produção intrínseca de colágeno e iniciamos o processo de degradação dos fibroblastos. […] Começamos a observar uma diminuição leve da espessura da pele, e as marcas de expressão também já se iniciam.”.

Todavia, o processo de envelhecimento, apesar de natural, pode ser feito com mais qualidade que, a dermatologista explica ser envelhecer com as suas características, mantendo os seus padrões e de uma forma natural, “É as pessoas te observarem e falarem: “Você está tão bem, igual a quando te conheci! O tempo só te faz bem!”. Dessa forma, alguns cuidados podem ser tomados para que o avanço da idade torne-se mais leve: “Primeiramente, ter um dermatologista de confiança, um especialista com olhos treinados, técnica e know-how para saber o que indicar é fundamental. Deve-se investir em procedimentos que estimulem colágeno como Ultraformer3, Bioestimuladores, fios de PDO e pontos de preenchimento com ácido hialurônico e a toxina botulínica!”, recomenda Dra. Amanda Vilela.

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É válido destacar que, apesar de existirem meios que permitam que o envelhecimento ocorra com mais qualidade e menos impacto, ele ainda assim é um acontecimento orgânico, inato, por isso, todo receio exagerado em relação a ele precisa ser questionada e observada com atenção. De acordo com a psicóloga Natalia, o tratamento dessas questões deve vir, especialmente, por meio da sociedade, que precisa mudar a mentalidade de que a felicidade é um sentimento próprio da juventude: “envelhecer é um processo natural e precisa começar a ser aceito e respeitado, principalmente por quem está nessa fase. A aceitação e o compromisso começam com o sujeito e o olhar dele para consigo mesmo, para que ele não deixe que o olhar do outro o defina […] Sua saúde mental precisa estar em equilíbrio com seu corpo”.

Por fim, é importante ressaltar que valorizar os mais velhos não significa desmerecer o conhecimento da juventude dos dias de hoje, apenas não deixar que as inseguranças fundamentadas em padrões distorcidos impeçam a sociedade de apreciar o avanço da idade e todas as experiências e aprendizados que cada etapa pode trazer. A beleza não possui um prazo de validade, mas sim estágios de maturidade que são resultado da constante transformação natural.

London Fashion Week: beauty eclética e experimental

A semana de moda de Londres, que teve início na sexta-feira (18 de fevereiro) e fim na terça (22), apresentou ao público as novas apostas e interpretações de diversos designers para a temporada de Outono/Inverno de 2022. Conhecida como a mais experimental das semanas de moda e favorita dos novos estilistas como porta de entrada para a apresentação de suas coleções, a mais recente LFW provou que todo o caráter eclético atribuído a ela vale não somente para as peças desfiladas, mas para as belezas que as complementam também.

Se tratando das makeups exibidas, observamos marcas insistentes da estética limpa e leve que tem imperado nas últimas temporadas na beleza de desfiles como Halpern e Erdem, que optaram por uma imagem limpa, básica, prezando pela naturalidade, sem contornos forçados ou iluminadores exagerados; parece que até o blush tão associado à famosa “carinha de saúde” foi deixado de lado, demonstrando de certa forma, uma mensagem de valorização de uma beleza voltada à praticidade.

No entanto, alguns traços de criatividade e disrupção puderam ser observados por meio de makes que trouxeram cor, luz, brilho e força em pontos estratégicos como forma de criar uma beleza sinestésica e envolvente, que representasse a forma como cada marca deseja se comunicar com o futuro. Matty Bovan nos apresentou olhares fortes, sublinhados por traços marcantes e pesados – trazendo uma vaga lembrança das marcações nos olhos feitas por guerreiros em filmes de ação – demonstrando uma visão focada, firme e determinada do por vir. Já em Simone Rocha, o mesmo olhar forte veio em forma de luz; em uma estética inegavelmente Euphoria like, os delineados que envolveram os olhos por completo eram feitos à base de muito brilho e pedrarias, demonstrando claramente uma visão de dias vindouros ricos, promissores e radiantes – uma verdadeira visão de milhões.

Já quando o assunto são os hairstyles, acende-se o alerta para os adereços capilares e penteados que nos levam a revisitar as épocas passadas, como os altíssimos “rabos-de-cavalo”, em uma vibe anos 80, vistos na passarela de Molly Goddard, ou os lenços brilhosos que cobriam toda a cabeça desfilados pela grife Erdem nos remetendo à estética hippie dos anos 70 – porém, dessa vez, confeccionados em muito brilho e paetês, o que pode ser interpretado como uma forma de ter pensamentos brilhantes em relação ao que nos aguarda – e até mesmo criando uma sutil lembrança dos casquetes da década de 1920, que foi marcada por uma imensa disrupção com padrões anteriormente vistos, o que também pode ser entendido como uma forma de romper com o cinzento e enlutado passado recente. Além disso, adereços, antes tão “desprezados” e vistos como comuns, receberam um novo status de “peças desejo”, como as – polêmicas – balaclavas que marcaram presença na passarela de Simone Rocha. Além disso, o famoso wet hair voltou a dar as caras como aposta de Nensi Dojaka, trazendo um ar de frescor para contrastar com as coleções voltadas para as estações mais frias.

Por fim, a semana de moda londrina seguiu mantendo sua característica de ser um ambiente experimental para o mundo da moda e da beleza, apresentando aos críticos, consumidores e todos os outros espectadores novas formas de revisitar o passado, associá-lo a tendências presentes, sem deixar de expressar desejos para o futuro.