Penso no Big Brother como uma grande vitrine: de comportamentos, atitudes, novas ideias e tendências. Sejam as tendências que vêm para ficar ou apenas as que refletem pontos que precisamos urgentemente mudar. O fato é que o programa sempre teve audiência recorde e expõe para milhões de brasileiros o que está “em alta”. O que, na sua primeira década, era um espaço de entretenimento e visibilidade, se transformou nos últimos anos, com os investimentos milionários e a constante participação de outras redes sociais nos resultados e acontecimentos do programa.
Se analisarmos apenas as últimas edições da versão brasileira, por exemplo, já vemos um aumento significativo em participações de marcas. Segundo a Época Negócios, em 2023,o programa fechou contrato com 34 empresas diferentes, sendo que, em 2022, esse número era de 11 patrocinadores e, em 2021, foram 8. Segundo a Rede Globo, a divisão das marcas é feita por cotas e a maior delas é de R$ 105 milhões cada (em que participam empresas como a Seara). O motivo para tamanho interesse, como já dito acima, é a audiência gerada pelo programa: em 2022 mais de 153 milhões de pessoas viram os conteúdos do BBB nas plataformas da Globo.
Ok, mas o que isso tem a ver com moda afinal? Retorno a minha primeira analogia: o BBB é uma verdadeira vitrine (e nem estou falando só da Casa de Vidro). Quando as pessoas assistem, elas veem muito mais do que as provas e confusões entre os grupos. Elas também se interessam pelo modo como os participantes se vestem e o que de novo – ou não – tem ali. E isso acontece desde muito antes do Instagram ou TikTok entregarem conteúdos a cada segundo.
Durante a edição BBB 03, eu tinha 4 anos de idade, portanto, não estava muito antenada nas tendências de moda do país (e nem no programa!). Mas se você era adolescente ou acompanhava o reality na época, tenho certeza que se lembra dos famosos brincos de pena usados pela Sabrina Sato na edição. Na minha opinião, foi a primeira tendência lançada e desejada que saiu diretamente do Big Brother Brasil. Hoje em dia, é mais comum encontrarmos outras versões do acessório, como as menores e de metal.

Já na edição BBB 07, foi a primeira vez em que fui influenciada diretamente por um item desejo. Eu não assistia ao programa e nem tinha acesso à internet, mas me lembro perfeitamente de ver meninas adolescentes usando flores de crochê no cabelo. Implorei para a minha mãe me dar algumas coloridas, sem nem saber de onde aquela vontade vinha. Eu achava lindo? Combinava com minhas roupas? Não sei. Sei que era o que eu queria porque, afinal, todas as meninas mais velhas tinham. Hoje sei que posso agradecer à participante da edição, Iris Stefanelli, que transformou o acessório em verdadeira febre.

Eu poderia dar vários exemplos direto do túnel do tempo, como as headbands usadas pela Maria Melilo, no BBB 11, mas seguindo para a pandemia em 2020 vimos como as edições verdadeiramente se transformaram depois de um acontecimento com nome e sobrenome: Manu Gavassi. Gostem ou não, o fato é que Manu revolucionou o programa ao deixar vídeos no Instagram prontos do lado de fora da casa, para cada possível situação que enfrentasse lá dentro. O modo como ela conversou com o público, mesmo isolada por 3 meses, ditou como seriam as edições desde então, com números girando em torno de seguidores e engajamento nas redes sociais. Ela também lançou várias tendências de moda – e já vou explorar isso melhor – , mas essa relação entre consumo direto aqui fora ao que é mostrado no reality verdadeiramente mudou após a pandemia e explosão do TikTok, com coleções lançadas praticamente instantaneamente e lojas reproduzindo o que o público gostava de ver, de maneira cada vez mais acessível.
Tenho certeza que todo mundo lembra do meme da Manu com a sandália tratorada que parecia ser do tamanho dela. Menos de 1 mês depois e todos os principais nomes de marcas de calçados nacionais como Melissa, Anacapri e Arezzo tinham as suas próprias versões do sapato que dividiu opiniões. Mas penso que é exatamente esse o ponto: não é todo mundo que vai gostar e usar, mas era a peça mais comentada – literalmente – do país. Todo mundo sabia o que era uma sandália tratorada, depois disso, não apenas os mais ligados à moda. Na mesma edição, tivemos Bianca (a Boca Rosa) com os buckets hats. Ela afirmou, depois de ser eliminada, que todos os seus looks, incluindo cabelo e maquiagem, já tinham sido decorados para o confinamento, fato que fez com que sua marca vendesse 3 vezes mais, enquanto ela estava no programa.

O fenômeno do BBB 21 não foi diferente: Juliette lançou moda ao usar camisa por baixo de cropped, tiaras acolchoadas e os brincos que imitavam piercings, os ear hooks. As vitrines das principais lojas do país eram tomadas por manequins “à la Juliette” e com outras tendências da edição, como os lenços na cabeça. Para comprovar que o sucesso do programa em si não interfere 100% no que o público deseja comprar, a edição de 2022 é um perfeito exemplo. Com um elenco considerado fraco e chato, uma participante lançava praticamente uma tendência nova por semana – e sem ser a queridinha do público. Jade Picon abusou das estampas psicodélicas, transparências, corsets em formato de coração, delineados diferentes e crochê. Ela usava uma peça na segunda-feira e, já na sexta da mesma semana, todas as lojas já vendiam as peças (que esgotavam em dias).

Quando penso na edição atual, confesso que ainda não me vem nenhum nome ou momento específico até então à cabeça. Ok que estamos na primeira metade do programa, mas para mim, uma das únicas que tem mostrado peças que têm chamado mais atenção é a atriz Bruna Griphao. Parece até que eu estou olhando diretamente para os anos 2000, com as inúmeras peças de cintura baixa, mix de cintos e, a (aparentemente) marca registrada da participante na edição, os corsets. Talvez ainda seja cedo para categoricamente afirmar que não teremos tendências de moda dessa vez, principalmente por se tratar de um assunto tão dinâmico. Entretanto, nesse quase primeiro mês, os looks definitivamente não chamaram tanta atenção e nem levantaram tanto burburinho nas redes sociais.

Com a possibilidade (cada vez mais real) de peças serem produzidas e divulgadas em pouquíssimo tempo, as tendências passaram a ser mais acessíveis e imediatas. Penso que isso abre espaço para outras discussões muito relevantes, como o impacto ambiental de marcas que lançam uma coleção por dia e até o questionamento de o quanto essas tendências imediatistas realmente duram e representam o que os consumidores querem. Será que elas aguentam mais de uma estação em alta? Será que representam o que realmente vem pra ficar? Como isto não é um livro, minhas reflexões deste texto param por aqui, na certeza de que muito mais pode ser dito. A moda e a maneira como a vivemos em nosso dia a dia mostra como é uma área interdisciplinar, viva e real. Como ela acontece todos os dias e é moldada e influenciada pelo que está realmente acontecendo onde estamos – principalmente quando isso tudo é documentado no horário nobre para milhões de pessoas.