Com o aumento de ataques neonazistas em escolas em um curto prazo — sendo o último, na quarta-feira (05), em Blumenau (SC) — levantamentos apontam medidas e estratégias de veiculação de informações na mídia, a fim de evitar outros atentados. O Jeduca, uma associação educativa para jornalistas, divulgou um artigo chamado “Pontos de atenção e recomendações na cobertura de ataques a escolas”.
O material também complementa um miniguia, divulgado após os ataques em Suzano, em 2019. Além do artigo, é possível acompanhar um webinário chamado: “A cobertura jornalística de ataques a escolas”, com as pesquisadoras Catarina de Almeida Santos (UnB – Universidade de Brasília) e Telma Vinha (Unicamp – Universidade Estadual de Campinas).
Um relatório sobre o tema, produzido por um grupo multidisciplinar de pesquisadores e entregue ao governo de transição no final do ano passado, computou 16 ataques a escolas efetivados entre 2002 e 2022. O documento também mostra que 34 ataques foram evitados entre 2012 e 2022 – deste total, 22 foram no ano passado, como aponta Marta Avancini, para o Jeduca.
O Ministro da Justiça, Flávio Dino, diz que há indícios de atuação interestadual de grupos extremistas de direita no país.
“Assinei agora determinação à Polícia Federal para que instaure Inquérito Policial sobre organismos nazistas e/ou neonazistas no Brasil, já que há indícios de atuação interestadual. Há possível configuração de crimes previstos na Lei 7.716/89”, escreveu o ministro em uma rede social.
Segundo o Opera Mundi, a Polícia Civil do estado de Santa Catarina havia descoberto uma filial no Brasil de uma organização internacional de supremacia branca.
As investigações, que resultaram na prisão de dez suspeitos, concluíram que o grupo planejava criar uma célula radical de supremacia branca no Brasil. A Polícia catarinense disse ter encontrado mensagens criminosas nos telefones dos investigados, incluindo uma que afirmava que “pretos têm que morrer todos os dias”.
Policiais envolvidos na ação disseram se tratar de uma “organização skinhead neonazista transnacional”, e que foram encontradas com os suspeitos roupas que os identificam como um grupo neonazista. Os integrantes do grupo recrutavam jovens por meio de contatos via internet para participarem de outras células neonazistas.
Um levantamento realizado pela da ONG Anti-Defamation League (ADL) em 2022 concluiu que o Brasil é o país onde mais cresce o número de grupos de extrema direita, especialmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Segundo o estudo, monitorado pela doutora em antropologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) Adriana Dias, a maioria desses grupos (137) está em São Paulo, sendo que a maior parte está concentrada na capital, com 51 células.
Por dentro das organizações
“Nós não daremos solução real ao problema se não enfrentarmos o discurso misógino da extrema direita”, diz a jornalista Luka Franca, nas redes sociais, sobre o ocorrido.
A doutoranda em Ciências Políticas pela USP, Antônia Campos discorre sobre uma outra perspectiva: “O masculinismo sustenta o capital nos momentos em que os modos de vida que operam sua reprodução entram em crise. A escola é um espaço onde tudo isso explode porque ela é uma instituição central tanto para reprodução de classe quanto desses modos de vida. E como instituição central da reprodução, ela é um local de trabalho feminizado”.
Antônia acredita que a extrema direita ataca a escola justamente por ela ser um lugar tanto de trabalho feminizado quanto de questionamento dos jovens sobre os modos de vida da nossa sociedade. “A escola é uma panela de pressão da crise que vivemos”, ela completa.
Considera-se que homens são mais suscetíveis a serem atraídos pelo fascismo e como vetores de violência, atacam mulheres, crianças e pessoas negras.
Comunicação e mídia: na mira da contribuição dos ataques
O Chief Information Officer, Marco Gomes, acha necessário monitorar e investigar as comunidades na internet. “É nestes grupos e fóruns que eles aprendem, se encorajam, se radicalizam, planejam, avisam e celebram.”
Usar análise de dados para encontrar na Surface Web, os influencers que usam os mesmos símbolos. Monitorando as comunidades é possível agir nos ataques ANTES deles acontecerem (e de preferência agir antes até os integrantes serem radicalizados).
Um monitoramento do Núcleo Jornalismo encontrou centenas de posts na última semana no Twitter que explicitamente exaltam massacres escolares e glorificam seus executores.
“Após Elon Musk ter assumido o controle da empresa e demitido cerca de 75% de seus funcionários, eliminando grande parte de sua equipe de moderação, esse tipo de conteúdo extremista de apologia a crimes contra crianças e funcionários de escolas tem circulado livremente na rede social.
A Política sobre Mídia Sensível da rede, atualizada pela última vez em jan.2023, proíbe a produção e circulação de conteúdo com imagens reais de violência”, explica a reportagem de Sofia Schurig e Sérgio Spagnuolo.
Além do Twitter, Discord e outros fóruns online também são alvo dos integrantes dessas células. Segundo Jacob Davey, pesquisador sobre ferramentas tecnológicas e grupos neonazistas, em artigo de :
“Descobrimos que o Discord age principalmente como um centro de socialização e construção de comunidade de extrema-direita. Nossa análise sugere que o Discord fornece um espaço seguro para os usuários compartilharem material ideológico e explorarem movimentos extremistas.”
A jornalista Milly Lacombe, diz que a decisão de não divulgar o rosto do assassino para não promovê-lo é boa. Mas a questão sobre a imprensa acaba contribuindo para a violência social vai muito além dela.
“É preciso ligar o fio entre não noticiar ou normalizar o tanque na escola pública e o monstro da machadinha na creche. O fio entre ignorar a comunicação violenta de Bolsonaro e o aumento dos crimes de ódio. O fio entre a formação da ideia de que nossos problemas são basicamente a corrupção e a invisibilidade de séculos de violências cometidas contra minorias políticas.”
Ela explica que a mídia, em geral, é responsável nesse assunto. “São programas que adotam um tom de profunda indignação e revolta em relação ao que mostram na tela enquanto as imagens das mais brutais violências são emendadas umas nas outras atrás do jornalista revoltado. Não tem ideologia envolvida, dirão alguns. É a vida como ela é.
Não, não é. Tem ideologia porque – primeiro – tudo tem e – segundo – a violência é vendida como aquela praticada por corpos periféricos e quase sempre negros. Só diz que não tem ideologia aquele que sabe que sua ideologia é considerada universal e, por isso, invisível.”
“Comunicar todos os dias. Todo santo dia. Não é certo que nos des-impliquemos de tudo o que estamos vivendo, incluindo os horrores mais indizíveis. Como sociedade, precisamos nos implicar. E, enquanto jornalistas, seria necessário que nós fizéssemos essas perguntas: como o meu trabalho colabora para a construção de uma sociedade violenta e o que posso fazer para mudar isso?” Lacombe finaliza em sua coluna no UOL.
O jornalista Gabriel Fusari acha essencial a regulamentação, principalmente das redes sociais. “Vocês ficam de ‘mimimi’ falando sobre regulamentação de redes sociais reproduzindo discurso de ‘liberdade de expressão’ que vocês sequer estudaram sobre, e agora ficam chocados com o aumento de massacres organizados pela internet ou de grupos neonazistas se organizando.”
Como conter o crescimento dessas células
Segundo a advogada criminal e mestre em Direito Penal, Juliana França David, é preciso que os órgãos investigativos estejam devidamente treinados e capacitados para lidar com o problema, na complexidade em que ele se apresenta.
“Estes núcleos extremistas, atualmente, organizam-se virtualmente de modo que torna a localização e investigação dos usuários extremamente difícil, e a recuperação de dados submetidos à “queima de arquivo” mais complicada ainda.
Segundo a pesquisadora Telma Vinha[17], esse não será o último atentado dessa espécie no Brasil, e sem sombra de dúvida a pesquisadora está certa nessa conclusão. Essas comunidades, nesta pararrealidade, seguem existindo mais fortes do que nunca, e para além do trabalho repressivo clássico, é preciso que tenhamos uma atuação especializada em cibercrimes e organizações extremistas. questionamento que fica é: como esses fóruns online e esses grupos de ódio ainda conseguem operar para disseminar mensagens de misoginia e incentivar a violência contra as mulheres, negros, e pessoas LGBTQIA+?”.
O presidente Lula interrompeu sua folga na Bahia e sobrevoou as áreas afetadas;: ao visitar São Sebastião, anunciou ajuda;
Maior temporal da história deixou 40 mortos (39 em São Sebastião e 1um em Ubatuba);
Foi decretado estado de calamidade em 6 cidades e luto oficial de 3 dias. “Trechos da Rio-Santos podem não existir mais”, disse governador de SP;
Equipes seguem as buscas em São Sebastião;
Em todo estado são 1.730 desalojados e 766 desabrigados; ainda há previsão de chuva para a região.
Fonte: g1
O solo liquefado, que o deixou ainda mais saturado, trazendo muita lama, é apenas parte da destruição causada por 600mm de chuva que caiu entre sexta e sábado (18 e 19) no Litoral Norte de São Paulo. Pessoas desabrigadas, deslizamentos de encostas, rodovias bloqueadas e trechos de asfaltos que foram arrastados pela chuva, quedas de árvores, pessoas soterradas e desaparecidas, casas completamente destruídas, este é o cenário após a tempestade que arrasou o litoral paulista.
Em Ubatuba, uma criança de 7 anos morreu em um deslizamento. Em Caraguatatuba, a cidade se encontra alagada, sem luz e sem água. Na cidade de Ilhabela, água e transporte público foram interrompidos. A cidade mais atingida foi São Sebastião, onde ocorreuram a maioria das mortes e dos desaparecimentos. Em Juquehy, 2 pessoas ainda estão desaparecidas, além das ocorrências dee desabamentos e deslizamentos na cidade. Em Camburi, 1 pessoa está desaparecida e veículos foram submersos pela enxurrada., Em Boiçucanga, 1 pessoa também está desaparecida e a cidade está sem luz após os alagamentos. Em Toque-Toque Pequeno, carros foram destruídos e a cidade foi devastada pela força das águas. Em Topolândia, duas casas desabaram e outras estão em risco de desabamento. Em Bertioga, Santos, São Vicente e Itanhaém, a situação é de alagamentos, queda de luz, um naufrágio de uma escuna, e até a Rio-Santos chegou a ser interditada.
A alta da maré tem dificultado o acesso às áreas próximas à praias e, com isso, tem atrapalhado o resgate de pessoas desabrigadas. Barcos e lanchas têm sido utilizados nos trabalhos de busca, a fim de resistir à correnteza e à alta da maré. Até agora, crianças foram resgatadas por voluntários com a ajuda do Exército, uma corrente humana feita por voluntários para resgatar um bebê na lama e uma mulher em trabalho de parto conseguiu dar à luz em segurança. São muitos os relatos emocionantes de pessoas que perderam tudo, procuram por familiares e tiveram perdas na família. Turistas que se reuniam para o Carnaval nessas regiões relataram momentos de medo durante as inundações de pousadas e hotéis que estão hospedados.
Um repórter da Globo chorou ao vivo, ao anunciar que um litro de água estaria sendo vendido por 93 reais. A busca por mantimentos também tem gerado grandes filas nos estabelecimentos. Gerentes de supermercados avisam que alguns itens básicos já estão em falta. Mas com as mobilizações de voluntários, ao longo da semana, comida e água têm sido distribuídas de graça para quem deixou a própria casa só com a roupa do corpo. O PROCON tem fiscalizado os abusos de preços pelos comerciantes. Remédios e produtos de higiene, também são alguns dos exemplos de produtos que estão com preços superfaturados.
Quem tenta voltar para casa de ônibus, também pode ter que pagar mais. Por causa do bloqueio na rodovia Mogi-Bertioga, o trajeto entre Bertioga e Mogi das Cruzes ficou 100 quilômetros maior e o preço da passagem mais que dobrou.
O Instituto Verdescola, na Vila do Sahy, tem recebido as famílias resgatadas. Até agora, mais de 81 pessoas estão abrigadas na unidade escolar. Além disso, corpos também estão sendo reconhecidos e um hospital de campanha foi montado na organização. A situação é de calamidade pública.
As vítimas fatais do desastre, apuradas também pelo g1 — já que o Estado não providenciou a relação dos nomes das vítimas, são, Adrian José da Conceição Costa, de 11 anos, que morreu junto com os pais. Ana Vitória Cordeiro, de 7 anos, que foi ao litoral para conhecer a praia pela primeira vez, e morreu com a irmã de 16. Ângela Benício, que morreu com a filha, de 28 anos, e a neta, de 8 anos. Ariosvaldo Paes Landim, que foi soterrado com parentes, que ainda estão desaparecidos. Cristiano Olivares, de 9 anos, que faleceu com o pai, num desabamento. Dandara Vida Cazé, de 10 anos, que estava passando o final de semana com a família, morreu junto ao primo, Eduardo Lionel, de 11 anos. Donaria Santos, que passava o Carnaval com o marido Robério Lima Saldanha, e a cunhada, Rosângela Saldanha da Silva, todos morreram. Ednaldo Santos da Silva, que curtia o final de semana com a namorada e a enteada, também morreu.. Eliton Prado da Silva, de 32 anos, que passava o final de semana com amigos. Ellyza Nayanne Celestino de Lima, de 9 anos, faleceu depois da devastação da Vila do Sahy. Fabiane Freitas de Sá, funcionária pública da Prefeitura de São Sebastião, faleceu após uma árvore de grande porte atingi-la. Felipe Rocha, de 9 anos, morreu junto com a irmã Joina, os pais, e outro irmão, que continuam desaparecidos. Além de muitos outros nomes, que estão na triste lista de 49 falecidos.
Na noite da última terça (21), começaram os primeiros velórios das vítimas. Depois, todos os corpos foram levados ao cemitério municipal, onde foram sepultados. O governador de São Paulo afirma, que o número de vítimas pode aumentar bem mais.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), visitou um dos centros de acolhimento montados pela Prefeitura de Guarujá. O local recebe e dá suporte a 190 pessoas desalojadas. Ela garantiu todos os recursos necessários às vítimas:. “Não podemos deixar que pessoas e famílias fiquem em situação de risco. Agora temos que acomodar essas pessoas e, junto com a Caixa, ver o levantamento de verbas, agilizar e proteger da melhor forma cada um deles”, declarou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nas redes sociais que a Receita Federal vai enviar mercadorias que foram apreendidas para as vítimas das enchentes: “Determinei que a Receita Federal identifique mercadorias apreendidas, que possam ser enviadas às vítimas das chuvas no Litoral Paulista. São mais de R$: 11 milhões em roupas, calçados, itens de cama, mesa e banho, higiene pessoal, material de limpeza e utensílios de cozinha.”
O Governador de SP, Tarcísio de Freitas, em coletiva, definiu a cena como assustadora, referindo-se à situação após as chuvas. Ele ainda diz que trechos da Rio-Santos podem não existir mais: “’a gente não sabe o que sobrou da rodovia”. E expõe: “A gente contabilizou mais de 10 pontos de bloqueio, alguns de grande extensão, em alguns pontos a gente não sabe exatamente o que sobrou da rodovia, porque é um volume de terra tão grande que se deslocou em uma extensão tão grande que a gente até levanta a hipótese de a rodovia ter sido arrastada junto, de a rodovia não existir mais”.
Lula e Tarcísio falam em união e trabalho compartilhado para recuperar o litoral paulista. Equipes já estão lançando cabos de fibra óptica para restabelecer internet e comunicação nas áreas atingidas por chuvas, disse ele à GloboNews. Segundo ele, também estão tentando retomar a energia elétrica nas áreas afetadas.
O Bolsa Família será antecipado para atingidos por chuvas no litoral de SP, disse o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias. O pagamento será unificado para o dia 30 de março e vale para todas as famílias dos municípios atingidos e com decreto de emergência e calamidade. A Caixa também vai liberar o saque calamidade do FGTS em municípios do litoral de SP atingidos pelas chuvas. O valor para retirada é de até R$: 6.220,00.
Segundo a BBC, a catástrofe atual ocorreu 56 anos após a maior tragédia ligada às chuvas na história de São Paulo, acontecida em 18 de março de 1967 no município de Caraguatatuba, quando as águas causaram o desmoronamento de encostas e centenas de casas foram soterradas.
Segundo a contagem feita na época, 487 pessoas morreram, mas estima-se que o número de óbitos tenha sido muito maior, já que muitos desaparecidos nunca foram encontrados.
A jornalista Adriana Carranca desabafou em sua página no Twitter. “Fiz há 20 anos reportagem sobre a exploração imobiliária predatória no litoral norte de SP que destruíra a vegetação costeira e empurrava caiçaras e trabalhadores migrantes morro acima, condenando-os a viver em habitações precárias. É onde estava a maioria dos mortos das chuvas.”
Fiscais da prefeitura de São Sebastião flagraram as novas construções — que são proibidas na área desde 2009. Em 2020, o Ministério Público Estadual já havia identificado o risco de deslizamentos de terra na comunidade. Em março de 2021, então, o Ministério Público entrou com uma ação civil pública para exigir a intervenção no local – –o que inclui ligação oficial de água, luz, urbanização e liberação das áreas de risco. Na época, já eram 650 imóveis na comunidade e ao menos 596 famílias.
Segundo a moradora de São Sebastião, advogada da ONG Instituto Verdescola, localizada na Barra do Sahy, “a “tragédia poderia ser evitada”. Em entrevista para o UOL, Fernanda disse: “Ver cenas como essas é algo muito triste, saber que existem pessoas soterradas e não poder fazer nada. A gente avisou tanto os órgãos responsáveis que ali era uma área de risco e nada foi feito. Foram muitos anos de omissão.”
O diretor do órgão nacional de monitoramento, o CEMADEN, disse que o Governo de SP e a Prefeitura de São Sebastião foram avisados do risco de desastre 2 dias antes. Moradores relatam, porém, que não foram alertados sobre o perigo de deslizamento. O Ministro da Integração e o governador de São Paulo reconhecem falhas no sistema; apenas a prefeitura ainda não se manifestou.
Para o colunista do UOL, Leonardo Sakamoto, a tragédia no litoral é fruto da desigualdade social com a mudança do clima. “Esse processo decorre da especulação imobiliária, que garante as melhores e mais seguras áreas do litoral a quem tem dinheiro, fazendo com que moradores tradicionais e trabalhadores migrantes se virem em outros locais. Processo que conta com o apoio do poder público. Em São Sebastião, por exemplo, há ocupações ilegais em áreas de risco que foram regularizadas sem a realização de mudanças estruturais. Isso gera voto, mas pode tirar vidas.
Tragédias causadas por fatores imprevisíveis chocam, mas deixam um gosto menos amargo do que aquelas que poderiam ser evitadas ou mitigadas pela ação do poder público municipal, estadual e federal. Afinal de contas, todo mundo sabe que o combo ‘chuva, especulação imobiliária e falta de políticas públicas’ vai matar anualmente. Menos as autoridades”, disse ele em sua coluna.
O jornal Esquerda Diário pontuou em sua reportagem: “Esse é mais um triste capítulo da barbárie capitalista que assola nossas cidades litorâneas. É preciso atacar os problemas desde a raiz, acabando com a especulação imobiliária e operando uma reforma urbana radical que garanta moradias com segurança para a população e saneamento básico para todos. Daí a importância de se ter independência política dos governos de plantão, que estão profundamente comprometidos com os interesses das grandes construtoras e dos tubarões do mercado imobiliário”.
Em recente reportagem de sua coluna no Metrópoles, o jornalista Rodrigo Rangel, em parceria com a jornalista Sarah Teófilo, apresenta sua série de denúncias envolvendo Michele Bolsonaro e aliados, chamada “Segredos do Alvorada”. A página inicial é tomada por uma imagem em preto e branco do Palácio do Alvorada – fazendo jus ao nome, que vai se dissipando no espelho d’água à medida que rolamos a tela. Logo abaixo, um resumo feito em caixa alta na longa reportagem, aponta as principais denúncias feitas pelo jornalista.
AS PROVAS QUE LIGAM MICHELLE BOLSONARO AO CAIXA 2 DA PRESIDÊNCIA
Cerca de 2 semanas atrás, Rodrigo Rangel também revelou um esquema de caixa 2 no antigo governo, que envolve a participação de Michelle Bolsonaro. “O personagem em questão é o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, o ‘coronel Cid’, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro até os derradeiros dias do governo que acabou em 31 de dezembro.
O militar compartilhava da intimidade do então presidente. Além de acompanhá-lo em tempo quase integral, dentro e fora dos palácios, Cid era o guardião do telefone celular de Bolsonaro. Atendia ligações e respondia mensagens em nome dele. Também cuidava de tarefas comezinhas do dia a dia da família. Pagar as contas era uma delas – e esse é um dos pontos mais sensíveis do caso.
Entre os achados dos policiais escalados para trabalhar com Alexandre de Moraes estão pagamentos, com dinheiro do tal caixa informal gerenciado pelo tenente-coronel, de faturas de um cartão de crédito emitido em nome de uma amiga do peito de Michelle Bolsonaro que era usado para custear despesas da ex-primeira-dama”, aponta o jornalista.
A quebra do sigilo permitiu que a investigação, sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, revelasse ainda mais do que fora divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, no ano passado. Mensagens de texto, imagens e áudios encontrados no celular do oficial do Exército levaram os investigadores a suspeitar das transações financeiras realizadas por ele. Muitas destas transações envolveram dinheiro em espécie, na boca do caixa de um banco localizado no Palácio do Planalto.
“As primeiras análises do material já apontavam que Cid centralizava recursos que eram sacados de cartões corporativos do governo ao mesmo tempo que tinha a incumbência de cuidar do pagamento, também com dinheiro vivo, de diversas despesas do clã presidencial, incluindo contas pessoais de familiares da então primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Para além do montante sacado a partir de cartões corporativos que eram usados pelo próprio staff da Presidência, apareceram indícios de que valores provenientes de saques feitos por outros militares ligados a Cid e lotados em quartéis – sim, quartéis – de fora de Brasília eram repassados ao tenente-coronel. Os detalhes dessas transações ainda estão sendo mantidos sob absoluto sigilo, trafegando entre o gabinete de Moraes e o restrito núcleo de policiais federais que o auxilia nas apurações”, aponta o colunista do Metrópoles.
Entre os pagamentos, destacavam-se faturas de um cartão de crédito adicional emitido por uma funcionária do Senado Federal de nome Rosimary Cardoso Cordeiro. Lotada no gabinete do senador Roberto Rocha, do PTB do Maranhão, Rosimary é amiga íntima de Michelle Bolsonaro desde os tempos em que as duas trabalhavam na Câmara assessorando deputados.
Rosi, como os mais próximos a chamam, é apontada como a pessoa que aproximou Jair Bolsonaro e Michelle quando o ex-presidente ainda era um deputado do baixo clero que nem sonhava um dia chegar ao Palácio do Planalto. Moradora de Riacho Fundo, cidade-satélite de Brasília distante pouco mais de 20 quilômetros do centro do Plano Piloto, até hoje ela mantém laços estreitos com o casal.
Na última reportagem da coluna, Rodrigo reúne relatos de quem viveu o cotidiano do Palácio nos últimos anos, documentos e outros registros inéditos, como gravações e mensagens de WhatsApp, que revelam segredos do período em que a residência oficial foi ocupada pelos Bolsonaro e escancaram a diferença abissal entre o discurso público do ex-casal presidencial e o comportamento adotado longe dos holofotes, por detrás das vidraças do Alvorada. Ele ainda reitera que ao longo das últimas semanas entrevistou vários funcionários do Palácio, incluindo militares. “Alguns aceitaram gravar depoimentos, desde que não tivessem suas identidades reveladas. Outros concordaram apenas em contar o que viram, sem registro em vídeo”, destaca.
AS CONFUSÕES QUE FIZERAM FILHOS DE BOLSONARO SEREM EXPULSOS DO PALÁCIO
Em sequência, os trechos revelam ser ainda mais chocantes do que o esperado. Começando por histórias como as do pastor evangélico amigo de Michelle presenteado com o cargo de administrador do palácio que esculhambava os subordinados e ameaçava até suspender o lanche de quem ousasse questioná-lo — tudo, segundo ele próprio disse em uma reunião gravada às escondidas, com aval da então primeira-dama.
Mas o principal destaque é que, Michelle, com alguma frequência, protagonizava brigas colossais com Carlos e Jair Renan, os filhos 02 e 04 de Jair Bolsonaro. Numa dessas confusões, na frente dos empregados, o 04 precisou ser contido pelo pescoço por um segurança. Bolsonaro, em um dia de fúria, arrombou a adega do palácio – sim, o então presidente da República pôs abaixo, com o pé, a porta do cômodo onde fica guardado o estoque de vinhos da residência oficial.
Jair Bolsonaro recebia um visitante no Alvorada quando teve a ideia de presenteá-lo com uma garrafa de vinho. Os dois foram, então, até a adega, instalada em um dos cômodos do subsolo do palácio, perto da cozinha.
Ao chegar lá, o então presidente encontrou a porta trancada e pediu aos empregados de plantão que lhe trouxessem a chave. Foi avisado de que havia uma ordem expressa de Michelle para que a adega não fosse aberta para absolutamente ninguém – nem mesmo para ele.
Entre os funcionários, o motivo da ordem era sabido, embora não fosse pronunciado com todas as letras em razão da sensibilidade do assunto: Michelle estava enfurecida porque Jair Renan, filho 04 de Bolsonaro, andava visitando o Alvorada fora de hora – longe dos olhos dela, mas com o aval do pai – e levando consigo garrafas de bebidas.
Para frear a farra do garoto, seu desafeto, a saída foi mandar trancar a adega e baixar a determinação, que passou a ser cumprida a ferro e fogo.
Os funcionários tinham mais medo da primeira-dama do que do próprio Bolsonaro. Muitas vezes, dentro do palácio, aquele personagem autoritário e machista que era conhecido à larga pelos brasileiros assumia outra versão, a de um marido obediente e resignado. Era quase sempre assim. Mas havia exceções, e o capitão mandão e abrutalhado voltava à cena.
Até chegar na adega, Bolsonaro não sabia da ordem de Michelle. Descobriu quando passou pelo constrangimento de, na frente do convidado, ouvir dos funcionários que a porta simplesmente não poderia ser aberta. Enfurecido, diante da visita e dos serviçais, arrombou a adega e pegou a garrafa de vinho que queria dar de presente. Não sem antes se queixar da situação. A porta passou dias quebrada.
A relação de Michelle Bolsonaro com os filhos dos casamentos anteriores de Jair Bolsonaro nunca foi das melhores. As rusgas eram comuns. Flávio e Eduardo Bolsonaro, o 01 e o 03, ainda se esforçavam para manter alguma proximidade. Com Carlos Bolsonaro e Jair Renan, o 02 e o 04, porém, era uma guerra quase permanente. No período em que Bolsonaro e Michelle ocuparam o Alvorada, o palácio foi palco de várias brigas estrepitosas da dupla com a então primeira-dama. Uma delas se deu na semana do debate presidencial em que Bolsonaro e Lula se enfrentaram pela última vez antes do segundo turno da eleição.
Os funcionários contam que Carlos chegou ao palácio acompanhado dos seguranças de sua escolta e foi impedido de entrar. Ordens de Michelle. Seguiu-se um barulhento bate-boca entre ele e o administrador da residência, o pastor Francisco Castelo Branco, encarregado pela então primeira-dama de fazer valer a proibição. Carluxo ainda
tentou insistir, mas não houve jeito. Chorando e gritando pelo estacionamento do palácio, ele foi obrigado a ir embora.
EX-PRIMEIRA-DAMA É SUSPEITA DE SE BENEFICIAR DE “RACHADINHA”
Já nos estertores do governo, funcionários da confiança de Bolsonaro e de Michelle levaram embora caixas e mais caixas de picanha, camarão e bacalhau comprados com dinheiro público que estavam armazenadas na câmara frigorífica anexa à cozinha. Ainda nos últimos dias de 2022, moedas jogadas por turistas no espelho d’água que enfeita a entrada do Alvorada foram “pescadas” e carregadas pelo “síndico” do palácio, também com autorização de Michelle – supostamente para serem doadas a uma igreja.
Com regularidade, várias vezes por mês, a equipe encarregada de auxiliar Michelle recebia a incumbência de passar no Planalto para pegar os recursos, em espécie, na sala do tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Cid, o agora notório ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Cid, que após a reportagem publicada aqui no último dia 20 tornou-se o pivô da queda do comandante do Exército, é investigado, entre outras coisas, pela suspeita de gerenciar o caixa 2 palaciano com verbas que tinham como origem, inclusive, saques feitos na boca do caixa com cartões corporativos do governo.
Mensagens obtidas com exclusividade pela coluna de Rodrigo, mostram que bastava um pedido de Michelle para que Cid autorizasse os assessores da primeira-dama a retirarem o dinheiro, no Planalto, com algum dos militares que integravam seu time na ajuda de ordens do então presidente da República. Também era ele quem providenciava depósitos, igualmente em dinheiro vivo, na conta pessoal da mulher de Jair Bolsonaro.
Há evidências, ainda, de que Michelle, primeira-dama do Brasil até 31 de dezembro passado, recebia com regularidade, no Alvorada, envelopes de dinheiro enviados por Rosimary Cardoso Cordeiro, amiga íntima que no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro viu seu salário de assessora no gabinete de um senador governista ser quase triplicado.
Os indícios, que poderão ser esquadrinhados minuciosamente na investigação em curso no STF, apontam para mais uma “rachadinha” no ex-clã presidencial. Áudios e outros registros aos quais a coluna teve acesso comprovam que assessores de Michelle no Palácio da Alvorada tinham por tarefa pegar com Rosi – seja no prédio dela, no Riacho Fundo, região administrativa do DF, seja em um ponto de encontro entre o Planalto e o Congresso Nacional — os envelopes recheados de notas de reais.
FUNCIONÁRIOS DENUNCIAM ASSÉDIO E PERSEGUIÇÃO COM AVAL DOS BOLSONARO
Descrita como uma pessoa temperamental, de humores que mudavam de supetão, Michelle costumava destratar a equipe de funcionários escalada para auxiliá-la. Algumas assessoras chegaram a pedir para deixar o trabalho, queixando-se da maneira como eram tratadas. Pelo menos uma delas cogitou processar a então primeira-dama por assédio. Acabou desistindo do plano por entender que não teria força para levar adiante uma querela judicial contra alguém que, àquela altura, estava no topo do poder. Outra assessora foi embora sem ouvir nem sequer um obrigado.
O relacionamento difícil de Michelle com o staff que a atendia mais proximamente se refletia nas demais relações de trabalho dentro do palácio, inclusive naquelas que envolviam pessoas simples, como jardineiros e funcionários da limpeza. O Alvorada está num terreno que equivale a 50 campos de futebol, à beira do Lago Paranoá. De área construída, o edifício inaugurado em 1958 tem 7 mil metros quadrados, distribuídos em três pavimentos. Para funcionar, a megaestrutura palaciana conta com uma tropa de empregados, civis e militares. São cerca de duas centenas de pessoas, que cuidam do atendimento mais direto aos inquilinos de momento – há maître, garçons, cozinheiros, camareiros, motoristas – e dos serviços de manutenção predial e dos jardins.
Em fevereiro de 2021, a tarefa de comandar a máquina do Alvorada foi confiada por Michelle ao pastor Francisco de Assis Castelo Branco (foto acima), próximo da família desde os tempos em que ela e Bolsonaro moravam no Rio. Francisco, ou Chico, como era chamado na intimidade do clã, é marido de Elizângela Castelo Branco, intérprete de Libras que, de tão íntima da ex-primeira-dama, chegou a acompanhá-la na viagem de fim de ano à Flórida. Ainda no Rio, Michelle, Elizângela e Francisco integravam um núcleo da Igreja Batista Atitude voltado à comunidade surda.
No ano passado, o pastor convocou uma reunião com os empregados da empreiteira contratada pelo governo para cuidar da jardinagem do Alvorada. O motivo: ele queria chamar a atenção de funcionários que haviam se queixado porque estavam sendo obrigados a limpar um banheiro de serviço – como eram contratados para cuidar do jardim, alguns alegavam que estavam em desvio de função. Sobrou para todos. Em 25 minutos de monólogo, Francisco desfilou a arrogância que lhe rendeu o apelido indesejado. “Quem não pode limpar o banheiro não pode nem cagar. Caga no mato, então, caga em casa. Entendeu? Usa aquela bolsa. Porque é sacanagem isso”, estrilou. Ele ameaçou cortar o lanche que era oferecido diariamente ao grupo. O pastor ainda explicou, do seu modo, sem papas na língua, por que empregados da Novacap, a companhia urbanizadora de Brasília, haviam sido cortados do Alvorada: além de “velhos”, disse, eram “preguiçosos”. O tom de
ameaça era explícito (ouça a seguir os principais trechos da reunião). O áudio pode ser escutado aqui, no canal do Metrópoles no Youtube.
A decisão de proibir os funcionários de escalão mais baixo de entrar na área do palácio portando telefones celulares gerou situações desagradáveis. Uma senhora passou o dia sem saber que um parente havia morrido, relata um ex-empregado. Ela só recebeu a notícia no fim do expediente porque o administrador não havia sequer deixado um telefone por meio do qual os funcionários poderiam ser acionados por familiares em caso de emergência. “Ele destratava os empregados, especialmente os mais humildes”, diz um militar que lidava com frequência com o pastor.
A coluna de Rodrigo Rangel ainda revela que o pastor Francisco também é personagem de dois episódios ocorridos no Alvorada já nos derradeiros dias do governo Bolsonaro e que, até agora, eram conhecidos apenas por quem vive os bastidores do palácio.
Na primeira visita que fez à residência após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a atual primeira-dama do país, Janja da Silva, e os seus auxiliares disseram que não teriam interesse nos mantimentos perecíveis – comprados com dinheiro público – que os Bolsonaro deixariam na despensa. Janja, então, autorizou os funcionários a dividirem o farnel entre si. Ocorre que foram poucos, ou pouquíssimos, os que se beneficiaram.
Funcionários relatam que os itens de maior valor, como carnes nobres – peças de picanha e filé mignon, por exemplo – e fardos de camarão e bacalhau, simplesmente desapareceram. Testemunhas dizem que um grupo restrito de funcionários ligados à administração fez a limpa na despensa, sem compartilhar com os demais.
O MISTERIOSO SUMIÇO DAS PICANHAS E DAS “MOEDAS DA SORTE” DA RESIDÊNCIA OFICIAL
Numa adaptação para os trópicos de um costume típico de atrações como a Fontana di Trevi, em Roma, turistas que visitam o Alvorada jogam moedas no espelho d’água que decora a frente do palácio presidencial. É um gesto que, diz a crença popular, traz sorte. Pouco antes de os Bolsonaro deixarem o palácio, funcionários receberam uma ordem para esvaziar o fosso e juntar as milhares de moedas acumuladas ali. Pastor Francisco – de novo ele – foi quem tomou a frente. Disse que o pedido havia sido feito por Michelle Bolsonaro. As carpas foram presenteadas pelo imperador japonês Hirohito ao ex-presidente Fernando Collor e achava que elas davam sorte. A morte delas poderia trazer mau agouro.
A “pescaria” rendeu um balde cheio – não se sabe exatamente quanto havia. Funcionários dizem que Francisco levou as moedas embora, dizendo que as doaria para uma igreja. “Se ele doou ou não, não sei, mas ele falou que era a mando da Michelle”, relata um empregado do palácio. O pastor Francisco, a despeito da amizade íntima com o
casal Bolsonaro, até se movimentou para ficar no Alvorada de Lula. Não conseguiu. Foi exonerado no último dia 5 de janeiro.
O Metrópoles tentou contato com Jair e Michelle Bolsonaro, além do ex-administrador do Palácio, Francisco Castelo Branco, e não obteve respostas em relação às denúncias. “A interlocutores o tenente-coronel Mauro Cid negou que houvesse qualquer irregularidade no manejo do dinheiro. Rosimary Cordeiro, a amiga de Michelle empregada no Senado, negou que enviasse envelopes com dinheiro para a então primeira-dama e que encontrasse funcionários do palácio para entregar as ‘encomendas’.”
Em resposta, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou no último sábado (4) que vai entrar com representações no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Federal (PF) pedindo a investigação de Michelle Bolsonaro, após as denúncias da coluna. Até o final desta reportagem, não houveram atualizações no caso.
Para ler a reportagem completa feita pelo Metrópoles, acesse o link.
Na segunda-feira (16) da semana passada, uma força tarefa foi montada pelo Ministério da Saúde com o objetivo de realizar um diagnóstico sobre a saúde dos indígenas Yanomami e traçar ações futuras para manter a saúde e segurança deles. Após verificarem a absurda situação de desnutrição, o Ministério da Saúde declarou neste sábado (21) estado de emergência na saúde indígena do território.
Nos últimos dias, mais de mil indígenas foram resgatados em estado grave. Em fotos que circulam pelas redes sociais, indígenas em situações de extrema vulnerabilidade, sendo a maioria dos registros de idosos e crianças.
Os indígenas estão sendo resgatados e levados ao posto de Surucucu, uma unidade considerada de referência na região, também de estrutura precária. Os quadros gravíssimos são encaminhados para Boa Vista.
“É uma operação que envolve uma complexidade muito grande, uma estrutura, uma logística e nós precisamos cobrir todo o território, principalmente aquelas comunidades que estão muitas vezes refém das ações dos garimpeiros”, diz o secretário, definindo o cenário como de guerra.
Em 2022, 99 crianças, entre um e 4 anos morreram, sendo a maioria por desnutrição, pneumonia e diarreia. Além disso, foram registrados 11.530 casos de malária no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami. O destaque foi para os casos na faixa etária de maiores de 50 anos, seguida pela dos 18 a 49 anos, e a dos cinco aos 11 anos de idade, como aponta o Ministério dos Povos Indígenas.
A Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara ainda afirmou que pelo menos 570 crianças morreram de desnutrição nos últimos quatro anos.
Ricardo Stuckert/ Presidência da República/ Divulgação
No último sábado (21), o presidente Lula esteve presente em Roraima e discutiu sobre a crise humanitária no território, que possui 370 aldeias e 10 milhões de hectares, além de cerca de 28 mil indígenas isolados em áreas de difícil acesso — quase todas atingidas pelo garimpo. Ele também decretou a criação de um comitê para discutir medidas que devem ser tomadas. As ações do comitê durarão 90 dias e há chances de prorrogação do prazo.
O GARIMPO NA REGIÃO
O território Yanomami é localizado entre os estados de Roraima e Amazonas e tem sido alvo principal do garimpo, que trouxe conflitos e consequências severas para os indígenas da região.
Garimpo é o nome que se dá à exploração, mineração ou extração, manual ou mecanizada, de substâncias minerais. Na região Norte do Brasil, a prática é comum e acontece de forma ilegal, dentro de territórios indígenas.
O mercúrio, usado para a extração do ouro, possui o poder de poluir rios, contaminar peixes e foi responsável por impactar a principal fonte de água e alimento dos indígenas.
“O garimpo é parte constituinte do processo de colonização do Brasil e da Amazônia também”, pontua a pesquisadora France Rodrigues, professora da UFRR.
A garimpagem do ouro, do diamante, da borracha e todo o processo de exploração desses recursos naturais, tem uma carga transformadora da natureza. “Existem trabalhos que provam que o mercúrio derramado afeta diretamente o solo, os rios, e causa danos aos seres humanos, aos peixes, à vida marinha. Esse cenário também é extremamente danoso quando a gente pensa nos animais, na vegetação”.
“O mercúrio também pode causar cânceres e doenças irreversíveis ao ser humano. Aqui ou em qualquer lugar que você tenha garimpagem, você vai encontrar esses impactos direto na natureza e consequentemente na vida das pessoas que estão próximas”, continua ela, para o Brasil de Fato.
“A presença dos garimpeiros espalha malárias, Covid e outras doenças”, explica a ativista da Survival International, Priscilla Oliveira.
Acampamento de garimpeiros Créditos: Bruno Kelly/Relatório Yanomami Sob Ataque
A Hutukara estima que atualmente mais de 20 mil invasores estejam no território revirando o fundo dos rios e florestas em busca de ouro. Esse levantamento feito era tratado como “exagerado” pelo governo Bolsonaro, como afirmou o então vice-presidente, Hamilton Mourão.
SITUAÇÃO DURANTE O GOVERNO BOLSONARO
Numa carta enviada ao presidente Lula em dezembro de 2022, mulheres yanomami contam que, quando buscam ajuda médica nos postos de saúde, recebem como resposta lamentos sobre a falta de remédios que nunca chegavam, mesmo com a insistência junto às autoridades.
“Essa malária é muito forte e não tem medicamentos para tratá-la. O governo de Bolsonaro acabou com o estoque de cloroquina do Brasil e agora nós sofremos pela sua má gestão. Não queremos ficar chorando porque as pessoas morrem, não queremos ficar chorando até a madrugada. Já temos muitas cinzas mortuárias”, relata o documento redigido por elas.
Além de atos violentos, como o de um posto de saúde incendiado por garimpeiros, estupros de mulheres e meninas yanomamis eram constantes. “Garimpeiros assediam as meninas e outros querem pagar serviços maritais. Eles querem fazer assim, mas nós mulheres não queremos que nossas filhas e netas sejam entregues e abusadas por essas pessoas. Os garimpeiros aliciam os jovens e suas esposas. Esses jovens são atraídos e ficam dependentes dos poucos alimentos industrializados que recebem como pagamento.”
Em 2021, o G1 e o Fantástico registraram um editorial com cenas inéditas e exclusivas de crianças extremamente magras, com quadros aparentes de desnutrição e de verminose, além de dezenas de indígenas doentes com sintomas de malária nas três comunidades visitadas: Xaruna, Heweteu I e II.
Ainda de acordo com o portal, em novembro de 2022, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) deflagraram a operação Yoasi, contra a fraude na compra de remédios destinados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y), em Boa Vista.
O esquema criminoso deixou pelo menos 10 mil crianças indígenas sem medicamentos, de acordo com as investigações. Elas também indicam que dois coordenadores de suas respectivas gestões firmaram o contrato com uma empresa para o fornecimento de 90 tipos de medicamentos. Entretanto, a companhia entregou menos de 30% do previsto.
Todos os fatos que levaram à crise humanitária foram denunciados há anos por lideranças indígenas, mas ignoradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Em recente pronunciamento no Telegram, Jair negou descaso de seu governo com os povos indígenas e destacou tal acusação como “uma farsa da esquerda”.
Entretanto, durante a pandemia de Covid-19, o ex-presidente acatou um pedido da ex-ministra Damares Alves, que solicitava o veto de medidas protetivas para os indígenas como o fornecimento de itens como água potável; materiais de limpeza, higiene e desinfecção; leitos de UTI; ventiladores pulmonares; e materiais informativos sobre a covid-19. O veto de Bolsonaro, no entanto, foi derrubado pelo Congresso Nacional.
A justificativa de Damares para o pedido era de que os povos não haviam sido “diretamente consultados pelo Congresso Nacional.”
Uma pesquisa divulgada pela Folha de S. Paulo em junho de 2022, mostrou que 43% dos brasileiros pensam que o governo Bolsonaro mais estimulou o desmatamento na região e a ação de caçadores e pescadores ilegais do que combateu as ilegalidades.
A DESNUTRIÇÃO É UM PROBLEMA ESTRUTURAL: SAIBA COMO AJUDAR
A antropóloga e sanitarista Fabiane Vinente faz um alerta: ela aponta que a desnutrição dos indígenas é um problema crônico de vários povos, não apenas dos Yanomami, portanto é uma questão estrutural. A desnutrição está relacionada a processos de desestruturação do modo de vida daquele povo, da forma como eles habitam o mundo.
“A invasão dos territórios por garimpos, madeireiros e outros (inclusive missões religiosas) alteram a forma de gestão territorial desses povos. Vi gente que passou a ser proibida de circular em determinados pontos do seu território para evitar os garimpeiros.
As alterações territoriais dos garimpos também envolvem perda de contingente de caça e pesca, além do risco de violência sexual contra meninas e mulheres. Alcoolização também entra nesse pacote.
Não é só a questão nutricional. As taxas de suicídio entre os indígenas são imensamente maiores que entre os não indígenas: (15,2 óbitos/100 mil habitantes), quando comparados com brancos (5,9/100 mil habitantes) e negros (4,7/100 mil habitantes).
Não apenas em saúde, mas em saúde indígena, que é algo específico. Por exemplo: o acompanhamento de grávidas, puérperas e crianças de 0 a 5 anos só é possível com insumos, equipes de saúde bem treinadas, com deslocamento e presença constante nos territórios.
Não é só empurrar comida, entendem? E que comida, né? Os Yanomami são um povo de contato relativamente recente. Possuem uma forma de ver o mundo muito própria. A pandemia deixou cicatrizes fortes por lá.
É preciso política pública, é preciso ação do Estado. Campanha de “cestas” vai render lindas fotos, mas pode ser só mais uma forma de tumultuar. E não, não vai resolver. Então eu acho que não é por aí.
Querem ajudar os Yanomami?
Colaborem com as organizações do movimento indígena que vêem denunciando esses problemas há anos: hutukara.org A Hutukara é de Roraima, gestada por Yanomami e têm campanhas abertas.
A Secoya, embora seja coordenada por não indígenas, têm um trabalho de mais de 30 anos com os Yanomami do Marauiá e Demini.
O CIR (Conselho Indígena de Roraima) é uma das primeiras organizações indígenas do Brasil cir.org.br/site/ Apoiem! Eles também representam os Yanomami de Roraima. E pressionem. Não deixem isso cair no esquecimento.
É como eu sempre digo: perguntem aos indígenas. Sempre perguntem aos indígenas como podem ajudar. Não caiam no conto do “branco bonzinho” que sabem o que é melhor para eles, eles já estão cansados disso.
No território Yanomami as aldeias podem ter dias de distância de uma para outra. A única forma de comunicação externa em alguns lugares é a radiofonia, que pode ser a diferença entre a vida e a morte em uma comunidade. Ajudem aí a ampliar a rede: hutukara.org/index.php/proj…
E SE as organizações indígenas acharem por bem distribuir comida, ok. Mas ELES SABEM que comida e onde distribuir. Então apoiem eles, gente. Muito mais garantido fortalecer o movimento indígena, que luta pela soberania dos territórios, do que ONGs externas (com todo respeito)”, finaliza ela, no Twitter.
Para acrescentar, um mutirão organizado pela CUFA e a FNA arrecada alimentos e doações para os indígenas Yanomami. Também estão sendo aceitas doações de todos os tipos de produtos de higiene, além de dinheiro. Existem cerca de 3 pontos para a arrecadação das doações: Parque Santo Antônio, na Zona Sul de São Paulo; e Paraisópolis e Heliópolis, também na Zona Sul da capital. A chave PIX para ajuda monetária é doacoes@cufa.org.br. Você também pode doar por meio do site ParaQuemDoar.
Neste final de semana, cerca de 4 mil pessoas chegaram em Brasília, para protestar contra a eleição do atual presidente Lula. Em um momento inicial, o ato golpista, que se iniciou pacífico, foi escoltado pela Polícia Militar até a Esplanada dos Ministérios. Após tentarem furar o bloqueio, a PM, com poucas equipes na Esplanada, tentou conter os golpistas, que estavam com pedaços de pau e pedra, apenas com o uso de spray de pimenta e bombas de efeito moral. Alguns policiais foram agredidos e até mesmo um cavalo da equipe da polícia teve de ser socorrido. Com o caos instaurado, os golpistas se direcionaram para os prédios dos três poderes e começaram os atos terroristas. Os golpistas depredaram o patrimônio público, quebraram móveis, vidraças e destruíram documentos e obras de arte.
Imagem: [Reprodução Twitter | @do_prisco]
Por volta das 15h da tarde, terroristas subiram na parte de cima do Congresso para alcançar a área interna da Câmara e Senado. Cadeiras foram jogadas para fora, o chão foi inundado por mangueiras de incêndio, salas de gabinetes destruídas e terroristas de extrema-direita flagrados evacuando. Os prédios já foram esvaziados, porém muitos golpistas ainda se reunem na parte exterior e estão sendo lentamente dispersados pela Tropa de Choque.
A Polícia Militar do DF foi alvo de críticas por não ter evitado os ataques. O jornal Brasil de Fato apontou motivos de que Ibaneis Rocha, governador do DF, possui responsabilidade nos atos golpistas. Um deles, é que durante o governo Bolsonaro, Ibaneis escalou um ministro da Justiça como secretário de segurança do DF, Anderson Torres, que foi autorizado a viajar à Orlando de férias, onde também está Bolsonaro. Além de que, a polícia escoltou os terroristas durante todo o trajeto — falta de resistência, que foi extremamente criticada por toda a imprensa.
O G1 mostrou com exclusividade um grupo de dez policiais militares do DF que foi filmado conversando com bolsonaristas e registrando imagens da invasão ao Congresso Nacional. Agora há pouco, Torres foi exonerado por Ibaneis, e fez um pedido de desculpas público, diretamente para os Três Poderes. A AGU reinvindicou prisão em flagrante de todos os envolvidos e de Anderson Torres, além de comunicar às plataformas, para que todo e qualquer conteúdo que incita atos golpistas, seja removido. O congresso americano questiona a permanência de Bolsonaro no país. Até a imprensa mundial se manifestou sobre o ato golpista.
Até o momento, o governo do DF afirma que cerca de 400 pessoas foram presas em flagrante, por depredação do patrimônio público.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que todas as pessoas serão encontradas e punidas. “Vamos descobrir quem são os financiadores”, comentou. “Se houve omissão de alguém do governo federal que facilitou isso, também será punido.” Lula disse que houve “incompetência, má-fé ou maldade” das forças de segurança do Distrito Federal.
O presidente decretou intervenção federal na segurança do Distrito Federal e nomeou Ricardo Garcia Cappelli como responsável pela segurança pública na capital. Cappelli é secretário-executivo do Ministério da Justiça, braço direito do ministro Flávio Dino.
Segundo o G1, a intervenção está prevista para durar até o dia 31 de janeiro. Com ela, os órgãos de segurança pública do Distrito Federal ficam sob responsabilidade de Cappelli, com subordinação a Lula. “O objetivo da intervenção é pôr termo a grave comprometimento da ordem pública no Estado no Distrito Federal, marcada por atos de violência e invasão a prédios públicos”, diz o decreto.
Dentre inúmeros políticos, grandes personalidades e especialistas, a antropóloga Lilia Schwarz comentou sobre a tentativa de golpe: “O silêncio de Bolsonaro é muito eloquente. O silêncio do procurador geral da república, Augusto Aras, também é revelador. Ele que passou 4 anos passando pano por sobre os atos bárbaros de Jair Bolsonaro.”
O diretor de redação da Revista Piauí, André Petry, também disse em nota: “É fato que boa parte deles passou dois meses penando sob sol e chuva em defesa de um golpe na frente do quartel- general do Exército, em Brasília. Mas sempre foram tratados com aquele carinho desabrido pelos militares e pelas demais forças de segurança. Nunca se viu um aparato de segurança tão gentil, tão respeitoso. Os golpistas eram gente amiga, aliados do peito. Por isso, puderam se organizar com tranquilidade, escolher a data adequada para agir e transformar Brasília num vexame internacional.”
Foi concluído o anúncio dos nomes que irão compor os 37 ministérios do novo governo. Na última quinta-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também anunciou nomes como Simone Tebet e Marina Silva. Segundo o G1, o presidente eleito anunciou que o deputado José Guimarães (PT-CE) será líder do governo na Câmara, que o senador Jaques Wagner (PT-BA) será o líder do governo no Senado e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) será líder do governo no Congresso.
Confira os nomes anunciados para cada ministério da gestão Lula:
Fazenda: Fernando Haddad (PT)
Imagem: [Reprodução UOL]
Haddad é professor de ciência política da Universidade de São Paulo (USP), é bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia, pela mesma instituição. Foi Subsecretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de São Paulo, integrou, ainda, o Ministério do Planejamento no Governo Lula, sendo nomeado como ministro da Educação em julho de 2005 até 2012.
Em 2012, foi eleito prefeito do município de São Paulo, além de ter sido candidato à presidência em 2018, perdendo para Jair Bolsonaro. Sua recente candidatura foi em 2022, para o governo de São Paulo, perdendo para Tarcísio de Freitas, no segundo turno.
Justiça: Flávio Dino (PSB)
Imagem: [Reprodução oGlobo]
Dino formou-se em Direito pela UFMA em 1991 e também possui mestrado na mesma área. Foi juiz, mas deixou o cargo assim que se candidatou para deputado federal no Maranhão (2007-2011). Foi diretor da Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), cargo que ocupou de junho de 2011 até março de 2014.
Em 2014, Flávio Dino se elegeu pela primeira vez para o governo do estado, e se reelegeu em 2018, no primeiro turno.
Defesa: José Múcio Monteiro (PTB)
Imagem: [Reprodução Twitter]
Formado em Engenharia Civil pela Universidade de Pernambuco (UPE), José Mucio Monteiro foi ministro e presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), além de ter experiência no cargo de ministro das Relações Internacionais. Natural de Recife, no Pernambuco, foi deputado federal por cinco mandatos, além de secretário de Transportes e Planejamento de Rio Formoso e na capital.
Relações Exteriores: Mauro Vieira
Imagem: [Reprodução O Antagonista]
Embaixador do Brasil na Croácia desde 2018, Vieira já ocupou o mesmo cargo entre 2015 e 2016 durante o governo Dilma Rousseff, mas foi exonerado após o impeachment da ex-presidente. Além disso, ele já esteve à frente alguns dos principais postos no exterior, como a embaixada na Argentina, em Washington e a representação do Brasil nas Nações Unidas, em Nova York. Diplomata de carreira, formado pelo Instituto Rio Branco, também estudou no Colégio Salesiano Santa Rosa, em Niterói, e é bacharel em direito pela Universidade Federal Fluminense.
Casa Civil: Rui Costa (PT)
Imagem: [Reprodução Partido dos Trabalhadores (PT)]
Rui Costa é natural de Salvador, na Bahia. Graduou-se em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foi diretor do Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia, entre os anos de 1984 e 2000, e diretor da Confederação Nacional dos Químicos, entre 1992 e 1998. Seu primeiro mandato político foi como vereador em 2004, se tornando deputado federal em 2006 e secretário de Relações Institucionais da Bahia em 2007. Além disso, Rui Costa foi governador da Bahia por dois mandatos.
Relações Institucionais: Alexandre Padilha (PT)
Imagem: [Reprodução O Antagonista]
Formado em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi coordenador geral da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina em 1990, coordenador do Diretório Central de Estudantes da Unicamp e membro do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) de São Paulo entre 1991 e 1993.
Já foi diretor de Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). No ano seguinte, foi conduzido para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, onde permaneceu até 2010. Nas eleições de 2014, foi candidato a governador do estado de São Paulo, tendo sido derrotado e chegando em terceiro lugar. Foi secretário municipal da saúde de São Paulo, em 2018, concorreu nas eleições ao cargo de deputado federal e foi eleito.
Secretaria-Geral: Márcio Macêdo (PT)
Imagem: [Reprodução Partido dos Trabalhadores (PT]
Márcio Costa Macêdo nasceu no município de Esplanada, na Bahia, Ingressou na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 1989, onde concluiu sua graduação em Ciências Biológicas e depois o mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), ocupou o cargo de presidente dos Diretórios Municipal de Aracaju e Estadual de Sergipe do partido.
Foi ainda secretário municipal de Participação popular de Aracaju e superintendente do Ibama em Sergipe. Entre 2007 e 2010, foi secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do estado de Sergipe, na gestão do então governador Marcelo Déda. Foi eleito deputado federal em 2010 e assumiu o cargo de tesoureiro do PT em 2015.
Advocacia-Geral da União: Jorge Messias
Imagem: [Reprodução Veja]
Jorge Messias, atualmente procurador da Fazenda Nacional, também foi subchefe para Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência, entre outras posições jurídicas. Foi subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, de 2015 a 2016; secretario de regulação da educação superior no Ministério da Educação, entre 2012 e 2014; e consultor jurídico nos Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, em 2011 e 2012.
Saúde: Nísia Trindade
Imagem: [Arquivo Fiocruz]
Nísia Trindade Lima é a primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde. integrou o Grupo Técnico da Saúde no governo de transição. Graduada em Ciências Sociais e com doutorado em Sociologia, Nísia Trindade Lima tem sua obra intelectual como referência na área de pensamento social brasileiro, história das ciências e saúde pública. É pesquisadora da Fiocruz desde 1987 e ocupou os cargos de diretora da Casa de Oswaldo Cruz (1998-2005), unidade da Fiocruz, e vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz (2011-2016).
Como presidente da Fundação, Nísia liderou as ações da Fiocruz no enfrentamento da pandemia, como a criação de um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos; o aumento da capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens; promoção de iniciativas junto a populações vulneráveis; criação do Observatório Covid-19 e da Rede Fiocruz de Vigilância Genômica; e inauguração do Biobanco Covid-19 (BC19-Fiocruz). Em sua gestão, a Fiocruz tornou-se referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas para o diagnóstico de Covid-19.
No campo das vacinas contra a Covid-19, Nísia coordenou o acordo da Fiocruz de encomenda tecnológica. Com a conclusão da transferência de tecnologia da AstraZeneca, a Fiocruz tornou-se a primeira instituição do Brasil a produzir uma vacina contra a Covid-19 de forma 100% nacional. A Fundação já forneceu ao Ministério da Saúde mais de 200 milhões de doses de vacinas contra Covid-19 e foi selecionada pela Opas/OMS como centro regional de vacinas de mRNA, ainda em desenvolvimento.
Educação: Camilo Santana (PT)
Imagem: [Reprodução G1]
Camilo Santana Formou-se em Agronomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e como mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela mesma instituição. Durante a graduação, exerceu a função de diretor do Diretório Central dos Estudantes da UFC.
Foi candidato a prefeito de Barbalha em 2000 e 2004, mas não obteve sucesso em nenhuma das disputas. Foi professor e coordenador da FATEC Cariri e ocupou, como servidor público federal por concurso, a superintendência adjunta do IBAMA no Ceará em 2003 e 2004. Também foi Secretário do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará no governo de Cid Gomes, de 2007 a 2010. Camilo também foi eleito governador do Ceará em 26 de outubro de 2014.
Gestão: Esther Duek
Imagem: [Arquivo UFRJ]
Duek é economista, professora da UFRJ e trabalhou no Ministério do Planejamento no governo Dilma. Por conta das poucas informações presentes sobre a carreira profissional e acadêmica dela, não pode-se reunir muitas descrições.
Portos e Aeroportos: Márcio França (PSB)
Imagem: [Arquivo Partido Socialista Brasileiro (PSB)]
Advogado, Márcio França foi vereador, duas vezes eleito prefeito de São Vicente (SP), deputado federal e vice-governador do Estado, na gestão de Geraldo Alckmin, em 2014.
Estudou direito na Universidade Católica de Santos e presidiu o diretório acadêmico da instituição. Trabalhou como oficial de justiça do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo entre 1983 e 1992. Em 1989, assumiu o cargo de vereador de São Vicente, cidade da qual foi eleito prefeito em 1996 e reeleito em 2000, com 93% dos votos válidos. Em 2006, elegeu-se deputado federal, reelegendo-se em 2010. Em 2011, foi nomeado secretário de Esporte, Lazer e Turismo do Estado de São Paulo, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
Ciência e Tecnologia: Luciana Santos (PCdoB)
Imagem: [Reprodução Partido Comunista do Brasil (PCdoB)]
Luciana é vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do partido. Ela será a primeira mulher e a primeira pessoa negra a ocupar a posição de forma efetiva. A engenheira foi eleita deputada federal por dois mandatos, e ocupou o cargo entre 2011 e 2019. Integrou comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, de Desenvolvimento Urbano e de Cultura. Na área da pasta que estará à frente, também foi secretária estadual em Pernambuco no governo de Eduardo Campos (PSB) de 2009 a 2010.
Em 2000, ela foi eleita prefeita de Olinda (PE), onde permaneceu por dois mandatos. Nas eleições de 2016, ela disputou novamente a prefeitura, mas terminou em quarto lugar.
Mulheres: Cida Gonçalves (PT)
Imagem: [Arquivo Partido dos Trabalhadores (PT)]
Moradora de Campo Grande, Aparecida Gonçalves já foi secretária nacional do enfrentamento à violência contra mulher nos governos de Lula e Dilma.
Cida trabalha como consultora em políticas públicas para o enfrentamento da violência doméstica e dá workshops a prefeituras e governos estaduais para atuação na área. Com atuação na militância dos diretos das mulheres, Cida coordenou o processo de articulação e fundação da Central dos Movimentos Populares no Brasil. Nos grupos de base, a militante sempre fez parte dos cargos de direção estadual em Mato Grosso do Sul.
Aparecida Gonçalves chegou a se candidatar pelo Partido dos Trabalhadores (PT) à deputada constituinte, em 1986, sendo a única mulher a disputar esse espaço. Nos anos de 1988 e 2000, também foi candidata pelo PT à vereadora no Mato Grosso do Sul.
Desenvolvimento Social: Wellington Dias (PT)
Imagem: [Reprodução Veja]
Wellington Dias é graduado em letras portuguesas da Universidade Federal do Piauí (1982) e especializado em políticas públicas e governo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Dias iniciou na militância política ainda jovem, atuando no movimento estudantil da universidade, envolvendo-se com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e também no movimento sindical. Em 1985, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e participou como integrante da Central Única dos Trabalhadores, tornando-se presidente da APCEF (Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal) entre os anos de 1986 e 1989 e presidente do Sindicato dos Bancários do Estado do Piauí entre 1989 e 1992. Também entre os anos de 1987 e 1988, Dias presidiu o conselho deliberativo da Fenae Corretora de Seguros e, entre 1988 e 1989, foi secretário do conselho fiscal da instituição.
Foi eleito vereador de Teresina. Em 1994, optou por renunciar ao mandato municipal para concorrer a um cargo na Assembleia Legislativa do Piauí, conseguindo eleger-se deputado estadual e tornando-se o primeiro presidente da Comissão de Direitos Humanos no legislativo do estado. Na mesma época, também foi presidente regional do PT entre 1995 e 1997, e chegou a se candidatar ao cargo de vice-prefeito do município Teresina na chapa de Nazareno Fonteles, mas não conseguiu chegar ao segundo turno. Nas eleições estaduais de 1998, foi eleito deputado federal pelo PT sendo o primeiro parlamentar do estado eleito pelo partido. Também foi governador do estado por três mandatos.
Cultura: Margareth Menezes
Imagem: [Reprodução GNT]
Margareth nasceu em 1962, em Salvador (BA). Iniciou a carreira como artista em 1980, no teatro. Lançou o seu primeiro álbum em 1988 e atualmente soma 14 discos lançados. Já recebeu várias indicações ao Grammy e conquistou dois troféus Caymmi e quatro troféus Dodô e Osmar. Em 2004, fundou a Associação Fábrica Cultural, destinada a combater o trabalho infantil, exploração sexual e violações de direitos. Um pouco depois, sem interromper a carreira artística, ela lançou o Movimento Afropop Brasileiro, um bloco sem cordas para festejo da cultura negra no Brasil.
Um movimento cultural que reúne exposições fotográficas e artísticas, manifestações, apresentações de bandas, grupos e cantores independentes, e tem a participação de jovens de organizações não-governamentais de Salvador. Além disso, o projeto une ritmos de raízes afro-brasileiras com a sonoridade mundial, como o rock, reggae, o funk, entre outros.
Através de um convênio de parceria firmado com a Secretaria Municipal da Educação e Cultura, da Prefeitura de Salvador, iniciou o “Programa Circulando Arte”, além de outros projetos no campo da arte, educação e cultura. A organização não governamental, atua desde 2008, na Ribeira – bairro onde Margareth Menezes nasceu – e outros bairros da Península de Itapagipe, oferecendo cursos profissionalizantes para jovens e oficinas de arte-educação para crianças. Em 14 de julho de 2010, a organização, que desenvolveu o projeto “Na Trilha da Cidadania”, formou 500 jovens, através de um cerimônia que contou com a presença de Menezes. O projeto formou alunos nas áreas de produção musical, comunicação, estamparia. criação em costura e designer gráfico.
A cantora participou do projeto “Lê Pra Mim?”, que ocorreu em 12 de outubro de 2010, no Centro Cultural Correios, do Pelourinho. A cantora leu um livro infantil para cinquenta crianças assistidas por instituições filantrópicas. Margareth também dirige o Mercado Iaô, uma agência de produção cultural na Bahia, e é embaixadora da IOV-UNESCO, grupo que busca fomentar e preservar a produção cultural. Neste ano, foi eleita pela lista Most Influential People of African Descent como uma das pessoas negras mais influentes do mundo.
Trabalho: Luiz Marinho (PT)
Imagem: [Reprodução Globo]
Em 1984 foi eleito tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Nas gestões seguintes assumiu os cargos de secretário-geral e vice-presidente. Em 1996, foi eleito presidente do sindicato, cargo para o qual foi reeleito mais duas vezes (1999-2002 e 2002-2003).
Em 2002 foi candidato a vice-governador do Estado de São Paulo, na chapa encabeçada por José Genoino, do Partido dos Trabalhadores. Em março de 2018 foi confirmado como candidato do PT ao Governo do Estado de SP, mas foi derrotado derrotado, ficando em quarto lugar.
Em 7 de junho de 2003 foi eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), quinta maior central sindical do mundo, durante o 8o Congresso Nacional da CUT, com 74% dos votos dos delegados presentes.
Em 12 de julho de 2005 assumiu o Ministério do Trabalho no lugar do seu companheiro de partido, Ricardo Berzoini, e comandou uma negociação histórica com representantes de todas as centrais sindicais para definir o valor do salário mínimo a partir de abril de 2006.
Em 29 de março de 2007 assumiu o Ministério da Previdência Social, e em 26 de outubro de 2008 foi eleito prefeito de São Bernardo do Campo para o mandato de 2009 a 2012.
Igualdade Racial: Anielle Franco
Imagem: [Arquivo pessoal]
Nascida na comunidade carioca da Maré, ela é graduada e mestra em inglês e jornalismo. Mestranda em Relações Étnico-Raciais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ativista feminista e antirracista, ela cofundou o Instituto Marielle Franco após o homicídio da irmã, então vereadora no Rio de Janeiro, em 2018. Hoje, ela é diretora do Instituto. Além de preservar a trajetória da irmã e atuar para que as investigações tenham um desfecho com responsabilizações, a organização desenvolve ações sociais com foco em mulheres negras e jovens periféricos.
Nessa linha, em 2020, o Instituto lançou a plataforma Plataforma Antirracista nas Eleições, para apoio a candidaturas negras nas eleições municipais; em 2021, deu início ao projeto Escola Marielles, para formação política de meninas e mulheres negras, periféricas e LGBTQIA+.
Direitos Humanos: Silvio Almeida
Imagem: [Reprodução Twitter]
Silvio Almeida é advogado e professor na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e na Universidade Presbiteriana Mackenzie. É participante ativo do debate racial e das políticas em favor da diversidade no Brasil.
É o atual presidente do Instituto Luiz Gama, uma associação civil sem fins lucrativos composta por juristas, acadêmicos e militantes dos movimentos sociais com atuação “na defesa das causas populares, com ênfase nas questões sobre os negros, as minorias e os direitos humanos”. É graduado em filosofia pela USP (Universidade de São Paulo) e pós-doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito da USP. Foi professor visitante da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e é pesquisador da Universidade Duke (EUA). Almeida é autor da obra “Racismo Estrutural” e contribuiu para o livro “Marxismo e questão racial: Dossiê Margem Esquerda”, da editora Boitempo. Desde 2020, é colunista do jornal Folha de São Paulo.
Indústria e Comércio: Geraldo Alckmin (PSB)
Imagem: [Reprodução Instagram]
Lula voltará a ter seu vice na equipe ministerial. Ele chegou a convidar o empresário Josué Gomes, filho de José Alencar, para o cargo, porém ele declinou. A escolha final foi Alckmin, ex-governador de São Paulo, principal polo da economia brasileira e experiente administrador público.
Controladoria-Geral da União: Vinícius Marques de Carvalho
Imagem: [Reprodução JOTA]
Vinicius Marques de Carvalho é advogado há 25 anos, formado pela Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em direito comercial também pela USP e em direito público comparado pela Universidade Paris I (Pantheon-Sorbonne).
Integrou o governo federal de 2005 a 2016. Neste período, foi chefe de gabinete do Secretário Especial de Direitos Humanos, de 2007 a 2008, conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), de 2008 a 2011, secretário de Direito Econômico, de 2011 a 2012, e presidente do Cade, de 2012 a 2016.
Foi chefe de gabinete da Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Governo Federal (2007 a 2008), participando da elaboração de políticas públicas associadas à agenda de direitos humanos e direitos de minoria. Sua experiência inclui ainda ter atuação como assessor legislativo no Senado Federal, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e na Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano da cidade de São Paulo. É professor de direito comercial da USP e foi professor visitante na Universidade Paris 1 Pantheón-Sorbonne e na Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Fundou seu escritório de advocacia especializado em defesa da Concorrência e também proteção de dados pessoais, o VMCA.
Planejamento: Simone Tebet (MDB)
Imagem: [Reprodução G1]
Tebet é advogada e professora. Nascida em Três Lagoas (MS), formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e obteve o título de mestrado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Elegeu-se deputada estadual pelo seu estado em 2022 e, dois anos depois, tornou-se a primeira mulher eleita prefeita de Três Lagoas, cargo para o qual foi reconduzida no pleito seguinte. Foi eleita vice-governadora do Mato Grosso do Sul em 2011 e senadora em 2015.
No Legislativo federal, angariou reconhecimento nacional através de sua participação na CPI da Pandemia. Ela foi uma das responsáveis por fazer com que o deputado Luís Miranda (Republicanos-DF) citasse o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), quando os senadores investigavam o escândalo da Covaxin. Terceira colocada no pleito presidencial, Simone Tebet teve a preferência de 4.915.423 eleitores, o que correspondeu a 4,16% dos votos válidos. No segundo turno, decidiu apoiar Lula e se tornou um símbolo da frente ampla que congregou críticos ao PT para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro.
Meio Ambiente: Marina Silva (Rede)
Imagem: [Reprodução Twitter]
Nascida em um seringal no Acre, Marina Silva foi alfabetizada na adolescência e se graduou-se em História na Universidade Federal do Acre. Ao lado do seringueiro, ambientalista e sindicalista Chico Mendes, liderou o movimento sindical no estado e filiou-se ao PT — após uma passagem pelo Partido Revolucionário Comunista. Em 1988, elegeu-se vereadora da capital Rio Branco; em 1990, a deputada estadual. Conquistou uma vaga no Senado em 1994 e foi reeleita em 2002, ano em que foi escolhida por Lula para o Ministério do Meio Ambiente.
Especialistas atribuem à sua gestão no Ministério do Meio Ambiente a queda expressiva do desmatamento na Amazônia, fruto do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCdam), lançado em 2004. Depois de deixar o governo e retornar ao Senado, Marina Silva se candidatou à Presidência da República pelo PV em 2010 e ficou em terceiro lugar, com 19% dos votos válidos.
Em 2014, Marina se lançou a vice-presidente na chapa do então governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Com a morte de Campos em um acidente aéreo naquele ano, ela se tornou a candidata do partido e chegou a liderar as intenções de voto. Em 2022, finalmente optou por lançar sua candidatura para deputada federal para ajudar a Rede a superar a cláusula de barreira. Foi eleita com 237.526 votos.
Esportes: Ana Moser
Imagem: [Reprodução Instituto Esporte&Educação]
Ana Moser integrou o time que levou a primeira medalha olímpica no vôlei feminino, em 1996, nos Jogos de Atlanta, nos Estados Unidos, quando o Brasil levou bronze. Cinco anos depois, ela fundou o Instituto Esporte e Educação, uma organizacão não-governamental que busca difundir o esporte e que já atendeu mais de 6 milhões de crianças no país. Ela dirige a ONG até hoje.
O Instituto Esporte & Educação usa a prática esportiva como ferramenta para ensino sobre diversidade, inclusão e coletividade, com o objetivo de formar crianças e adolescentes periféricos para terem autonomia. O projeto também treina profissionais de educação física a transmitir essas habilidades. O órgão nasceu do projeto Ana Moser Sports, que visava a formação de atletas baseado no ensino de vôlei em escolas públicas e privadas.
A ex-atleta de 54 anos é conhecida pela sua trajetória de engajamento fora das quadras, marcada pelo desenvolvimento de projetos educacionais. Desde então, Ana Moser, que não é filiada a nenhum partido político, teve o seu nome especulado para chefiar a pasta.
Integração e Desenvolvimento Regional: Waldez Góes (PDT)
Imagem: [Reprodução G1]
Antônio Waldez Góes da Silva nasceu no município Gurupá, no estado do Pará, em 1961. O governador é um técnico agrícola e formado em Políticas Públicas pela Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Góes se filiou ao PDT em 1989. Um ano depois se elegeu deputado estadual e foi reeleito quatro anos depois. Em 2002, se elegeu pela primeira vez ao governo do Amapá e foi reeleito em 2006. Ele deixou o cargo em 2010 para concorrer a uma vaga no Senado, mas perdeu a disputa para Gilvam Borges (MDB) e Randolfe Rodrigues (Rede). Em 2014, o político foi eleito pela terceira vez para o governo estadual e foi reeleito para um quarto mandato em 2018. Aliado do senador Davi Alcolumbre (União Brasil), o parlamentar articulou dentro do partido para que o governador fosse o indicado da sigla para o ministério. Ele deverá deixar o PDT em breve e migrar para o União Brasil.
Agricultura: Carlos Fávaro (PSD)
Imagem: [Reprodução Extra]
Carlos Henrique Baqueta Fávaro, 53 anos, nasceu em 19 de outubro de 1969 no município Bela Vista do Paraíso (PR). Atualmente o parlamentar cursa Tecnologia em Gestão Pública no Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN). Em 2010, o agropecuarista tornou-se vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil). No período de 2012 a 2014, foi presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Ainda em 2014, Fávaro, então filiado ao Partido Progressista (PP) foi eleito vice-governador do estado do Mato Grosso (MT). Dois anos mais tarde, foi nomeado secretário de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso, cargo no qual permaneceu até 2017. Fávaro tomou posse como senador interino até a eleição suplementar do Senado convocada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) em 2020, na qual se elegeu. O mandato vai até 2027.
Povos Indígenas: Sônia Guajajara (PSOL)
Imagem: [Reprodução PSOL]
Sônia Guajajara nasceu na terra indígena de Araribóia, no estado do Maranhão, e faz parte do povo Guajajara/Tentehar. Por sua luta pelo reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, em maio deste ano foi eleita pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
Filha de pais analfabetos, aos 15 anos de idade Sônia recebeu ajuda da Fundação Nacional do Índio (Funai) para poder cursar o ensino médio em Minas Gerais. A ativista é formada em Letras e Enfermagem pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e pós-graduada em Educação Especial. Guajajara ainda desempenha o papel de Coordenadora Executiva da APIB, finalizando o seu segundo mandato (2017/2022) e compõe o Conselho da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais do Brasil, iniciativa que integra um programa das Nações Unidas.
Em 2018, Guajajara foi a primeira indígena a compor uma chapa presidencial no Brasil. A ativista foi candidata à vice-presidente do país pelo PSOL, ao lado do agora também deputado federal eleito Guilherme Boulos. Nas eleições de outubro de 2022, a líder indígena teve mais de 150 mil votos válidos e foi eleita deputada federal por São Paulo. Em novembro, Guajajara esteve presente na COP-27 (Conferência do Clima da ONU), no Egito, ao lado de Marina Silva e Izabella Teixeira — representantes de organizações ambientalistas — e outras lideranças indígenas, e cobrou a criação do Ministério dos Povos Originários e maior participação dos indígenas no governo.
Secretaria de Comunicação Social: Paulo Pimenta (PT)
Imagem: [Reprodução Twitter]
Paulo Pimenta é jornalista de formação. Ele graduou-se pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde iniciou sua trajetória política. Lá, ele assumiu a presidência do DCE e foi vice-presidente da União Estadual de Estudantes.
Em 1988, foi eleito vereador em Santa Maria, tendo sido reconduzido em 1992. Chegou à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em 1998 e, quatro anos depois, à Câmara dos Deputados. Foi reeleito em 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022, com o maior número de votos para um candidato do PT no estado desde 2010.
Previdência Social: Carlos Lupi, presidente do PDT
Imagem: [Arquivo PDT]
Natural de Campinas (SP), Lupi nasceu em 1957 e se mudou ainda jovem para o Rio de Janeiro, onde fundou primeiro grêmio estudantil de seu colégio e entrou para a militância política. Filiou-se ao então Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) enquanto ainda era aluno do curso de administração da Faculdade de Formação Profissional Integrada. Após uma disputa política entre os herdeiros do trabalhismo brasileiro e do varguismo, o partido mudou de nome e segue com ele até hoje, PDT. Lupi foi um dos fundadores da Juventude Socialista da legenda. Em 1990, elegeu-se deputado federal, cargo do qual se licenciou para assumir a chefia da Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro. No partido, atuou como vice-líder na Câmara, secretário da Executiva Regional e tesoureiro da Executiva Nacional. Carlos Roberto Lupi já foi ministro de Lula. Em seu segundo mandato presidencial, o político assumiu o Ministério do Trabalho e Emprego, cargo que exerceu até 2011, durante o mandato de Dilma Rousseff (PT). Atualmente, é o vice-presidente da Internacional Socialista, fórum mundial de diálogo entre partidos de esquerda.
Pesca: André de Paula (PSD)
Imagem: [Arquivo Câmara dos Deputados]
André de Paula é deputado federal pelo estado de Pernambuco e está atualmente em seu sexto mandato. No partido, ele exerce a função de presidente regional pelo estado em que foi eleito, e é o 2° vice-presidente da Câmara dos Deputados. Além de sua carreira política, André possui formação em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco.
O deputado ingressou na vida política na juventude, enquanto ainda era estudante. Seu primeiro partido foi o Partido Democrático Social (PDS). No antigo Democratas (DEM), ele conquistou o seu primeiro cargo eletivo, como vereador. Em 1991, tornou-se deputado estadual. O advogado chegou à Câmara dos Deputados em 1999, quando elegeu-se pela primeira vez. Em sua carreira, de Paula exerceu o cargo de secretário de Produção Rural e Reforma Agrária pelo estado, entre 1999 e 2002. Entre 2015 e 2016, o deputado licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria das Cidades do estado de Pernambuco. No Congresso Nacional, o deputado votou a favor do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), André votou a favor da Reforma Trabalhista, da PEC do Teto dos Gastos Públicos e também foi um dos parlamentares a votar a favor da abertura de investigação contra Temer.
Gabinete de Segurança Institucional: general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias
Imagem: [Reprodução Instagram]
Marco Edson Gonçalves Dias é natural de Americana (SP).Ele entrou para o Exército em 1969, por meio da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais em 1986 e a Escola de Comando e Estado Maior do Exército em 1994.
Chegou a ocupar o cargo de Comandante da Sexta Região Militar e a comandar o 19° Batalhão de Infantaria Motorizado. Foi alçado ao cargo de general e, atualmente, está na reserva (como os militares chamam a sua aposentadoria). Dentro do governo, já foi Secretário de Segurança da Presidência da República do governo Lula e chefe da Coordenadoria de Segurança Institucional da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Cidades: Jader Filho (MDB)
Imagem: [Reprodução Instagram]
Filho do senador Jader Barbalho e irmão do governador reeleito do Pará, Helder Barbalho, ambos do MDB, ele preside o diretório estadual da legenda desde setembro de 2021 e atua no setor de comunicações.
Jader Filho é de uma família com longa tradição no estado. Assim como o pai e o irmão, seu avô, Laércio Barbalho, foi uma figura de expressão. Ele foi deputado estadual em várias legislaturas e idealizou o projeto do Diário do Pará, que hoje Jader dirige. O jornal pertence ao Grupo Rede Brasil Amazônia (RBA), que também possui emissoras de rádio e televisão em seu guarda-chuva. O controle acionário do conglomerado está com a família Barbalho.
A indicação de Jader Filho é uma vitória do irmão e governador Helder Barbalho, um dos principais cabos eleitorais de Lula nas eleições deste ano, e da bancada de seu partido na Câmara federal.
Turismo: Daniela do Waguinho (União Brasil)
Imagem: [Arquivo pessoal]
A futura ministra é pedagoga, já foi professora do ensino fundamental e trabalhou na Secretaria Municipal de Educação do Rio. Possui pós-graduação em Psicomotricidade pela Universidade Cândido Mendes. Ela também passou pela Secretaria de Assistência Social e Cidadania, também do Rio, e na Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania de Belford Roxo.
Como deputada, tomou posse pela primeira vez em 2019 pelo MDB e foi reeleita com a maior votação do Rio pelo União Brasil. Atualmente ingressa na Comissão de Educação, Comissão de Seguridade Social e Família e na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.
Minas e Energia: Alexandre Silveira (PSD)
Imagem: [Arquivo pessoal]
Alexandre Silveira de Oliveira nasceu em Belo Horizonte (MG) em 15 de julho de 1970 e é o segundo dos cinco filhos de Adilson de Oliveira e de Maria da Conceição Aparecida Silveira. Técnico em contabilidade e advogado, também exerceu as funções de delegado da Polícia Civil e comerciante. Começou sua carreira política em 2002 ao concorrer, pelo Partido Liberal (PL), a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo estado de Minas Gerais. Naquele pleito acabou se elegendo apenas como suplente. Em 2003, Silveira foi convidado pelo então vice-presidente José Alencar a ocupar o cargo de coordenador-geral de Infraestrutura Terrestre do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
No ano seguinte foi nomeado por Lula a diretor-geral do DNIT, onde permaneceu até 2006. Chefiou obras como: o Anel Rodoviário de Ipatinga e projetos de modernização de trechos da BR, dentre eles o da BR-381 entre Belo Horizonte e Ipatinga e da BR-262 no acesso a São Domingos do Prata.
Em 2006, já filiado ao antigo Partido Popular Socialista (PPS), Alexandre Silveira se elegeu deputado federal por Minas Gerais e nas eleições de 2010 foi reeleito. Em 2011, Silveira e outros políticos fundaram o Partido Social Democrático (PSD). Ele foi presidente da sigla no estado mineiro de 2014 a 2015. Nas eleições de 2014, o parlamentar foi convidado a ser o primeiro suplente no Senado, do ex-governador Antonio Anastasia, que foi eleito como senador por Minas Gerais. Como Anastasia renunciou ao cargo de senador para tomar posse como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Silveira foi empossado no Senado em fevereiro de 2022. No pleito de outubro, o futuro ministro de Minas e Energia concorreu a um novo mandato ao Senado de Minas pelo PSD, com apoio à campanha do presidente eleito Lula, mas não foi conseguiu se eleger.
Transportes: Renan Filho (MDB)
Imagem: [Reprodução G1]
José Renan Vasconcelos Calheiros Filho, conhecido como Renan Filho, nasceu em Murici (AL) no dia 8 de outubro de 1979. Ele é o filho mais velho de Maria Verônica Rodrigues Calheiros e do senador Renan Calheiros, um dos principais políticos do MDB.
Renan Filho se formou em 2003, no curso de Ciências Econômicas, pela Universidade de Brasília (UnB). Em 2013 concluiu um curso de extensão em Políticas Públicas na Universidade de Harvard, em Cambridge, nos Estados Unidos. Como governador de Alagoas, Renan Filho colocou o estado no topo do ranking das melhores rodovias públicas do país. De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mais de 70% das rodovias alagoanas são consideradas boas ou ótimas. O fato foi levado em consideração para que Renan Filho fosse o escolhido para a pasta dos Transportes.
A sua trajetória política começou em 2004. Com 25 anos de idade ele foi eleito prefeito do município de Murici (AL), cargo para o qual foi reeleito em 2008. Em 2010, deixou a Prefeitura para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, pelo MDB, para a qual foi eleito. Quatro anos depois, em 2014, lançou a sua campanha para governador de Alagoas, e foi eleito como o mais jovem governador do estado. Em 2018, foi reeleito. Na campanha de 2022, Renan Filho se lançou ao Senado pelo estado de Alagoas e também acabou se reelegendo.
Comunicações: Juscelino Filho (União Brasil)
Imagem: [Reprodução Poder360]
José Juscelino dos Santos Rezende Filho nasceu em 1984 no município de São Luís (MA). Formou-se médico pelo Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma) e é vice-líder de seu partido na Câmara dos Deputados. Atualmente, está em seu segundo mandato e foi reeleito para o terceiro nas eleições de outubro. O parlamentar é filho de José Juscelino dos Santos Rezende, ex-prefeito de Vitorino Freire (MA).
Na Câmara dos Deputados, trabalhou pela aprovação da PEC da Transição, mas em 2016, votou a favor do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). “Deus nos abençoe! Vamos aprovar o impeachment!,” disse em abril daquele ano.
Desenvolvimento Agrário: Paulo Teixeira (PT)
Imagem: [Reprodução Correio do Povo]
Teixeira nasceu em maio de 1961 em Águas da Prata, no interior de São Paulo, e mudou-se para a capital paulista na década de 1970. Ele cursou Direito na Universidade de São Paulo e obteve o título de mestre em Direito Constitucional pela mesma instituição.
Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores ainda jovem, em 1980. Antes de se tornar parlamentar, presidiu o diretório zonal no bairro de São Miguel Paulista, na Zona Leste da capital, tornando-se depois subprefeito no governo de Luiza Erundina. Também foi monitor da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) e chefe de gabinete do prefeito do município de Franco da Rocha (SP).
Elegeu-se deputado estadual por São Paulo na eleição de 1994 e foi reeleito no pleito seguinte. Depois, em 2001, foi nomeado secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, cargo que exerceu até 2004, durante o mandato de Marta Suplicy na prefeitura da capital paulista. Naquele ano, foi eleito vereador do município de São Paulo.
Sentou pela primeira vez em uma cadeira da Câmara dos Deputados em 2007 e de lá não havia saído até hoje. Como deputado federal, foi um dos autores dos projetos que deram origem às leis como a do Vale-Gás e a de apoio a artistas e trabalhadores da cultura (Lei Aldir Blanc). Também compôs diversas comissões, entre as quais a de Comunicação e Informática. Reeleito em outubro para cumprir seu quinto mandato consecutivo, Teixeira é reconhecido pelo bom trânsito na área jurídica.
FONTE: G1, Jota, Fiocruz, Poder360, CNN Brasil, VEJA, Valor, Extra.
“A gente vê hoje em dia as coisas que acontecem, tanto de abordagem como de morte, e eu sempre fico muito mal e acabo imaginando: se com o filho dos outros já me dói tanto, como seria se isso acontecesse com um filho meu?”, diz a designer de moda, Lorena Vitória, após ver os seus namorados, todos negros, serem abordados de forma violenta pela Polícia Militar. A entrevista foi dada para a Folha de S. Paulo.
O caso de Lorena não é isolado. Cada vez mais, as escolhas e necessidades das mulheres negras têm sido pautadas pela violência racial e, na maioria das vezes, abrem mão de um sonho por falta de opção e assistência do Estado. De acordo com o Atlas da Violência 2021, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), desde a década de 80 o aumento de homicídios foi mais acentuado entre a população negra, especialmente os mais jovens.
O medo de ser mãe se torna ainda maior se o filho for homem. Um levantamento realizado pelo FBSP com microdados do Anuário de Segurança Pública mostra que os negros são 78,7% do total de mortes violentas intencionais entre homens. Isso significa que um homem negro tem 3,7 vezes mais chance de morrer do que um não negro.
O estudo “A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil”, publicada nos Cadernos de Saúde Pública em 2017, mostra que as mulheres pretas são mais propensas do que as brancas a terem um pré-natal inadequado, ausência de acompanhantes no parto e menos anestesia local quando praticada a episiotomia, que consiste num corte na região da vagina para facilitar a saída do bebê.
“Imagine a dor de uma mãe que precisa dar como conselhos de sobrevivência ao filho que tanto ama, frases como: ‘não corra pela rua, não faça gestos bruscos, não ande de boné, corte esse cabelo’, entre outros comportamentos que seriam normais para qualquer cidadão, mas que para negros se tornam motivos da desconfiança da sociedade, gerando violência e até a morte”, diz o colunista do UOL, André Santana, em matéria assinada por ele.
Mesmo com todos esses cuidados, a educadora e ativista norte-americana Mamie Till, enfrentou a dor de perder o seu único filho, Emmett Till, em um crime bárbaro nos anos 50, durante as férias na casa do tio e primos, em Mississipi. O garoto negro de 14 anos, sofreu acusações de que havia assobiado para uma mulher branca, chamada Carolyn Bryant. Emmett foi sequestrado e assassinado brutalmente pelo marido e cunhado da mulher. A dor de ver o corpo de seu filho irreconhecível, despertou a vontade de Mamie em deixar que todos observassem o que dois homens brancos fizeram com ele. O velório de Emmett teve o caixão aberto e despertou a visita de mais de 10 mil pessoas.
Apesar dos cuidados constantes das famílias negras, novos sentidos de urgência surgem com o maior conhecimento sobre a perigosa engrenagem que move e sedimenta o racismo estrutural. […] A maternidade ainda é concebida pela sociedade como ferramenta válida para o acirramento da opressão
e da violência contra mulheres, a partir da constatação sobre a existência do que Biroli (2014) chama de “treinamento social para o cuidado com os outros”, sejam estes os mais velhos ou os filhos. (Barbosa, 2017, p. 116).
Souza e Gallo (2002), a partir da obra de Foucault, também afirmam que […] o racismo é o mecanismo pelo qual o Estado justifica seu direito de matar, numa sociedade biopolítica, fundada na afirmação da vida. E o que é mais interessante: o direito de matar é justificado como uma afirmação da própria vida, uma vez que a eliminação do diferente, do menos dotado, do menos capaz, implica a purificação da raça, o melhoramento da população como um todo. A cada um que morre, o conjunto resultante é melhor que o anterior.
O racismo é motor de sofrimento psíquico, afirma Marizete Gouveia, doutora em psicologia pela Universidade de Brasília e autora da tese “Onde se esconde o racismo na psicologia clínica?”. Segundo a especialista, o sofrimento causado pelo preconceito racial faz com que mulheres negras criem mecanismos de proteção à saúde mental. Não ter filhos é um deles, uma vez que não precisariam se preocupar com as violências que viriam a sofrer. Pode ser uma medida de autoproteção, no sentido de não ter que se preocupar com a criança, mas vai além disso. É também não trazer uma criança para esse mundo violento. Eu vou me poupar de não ter essa preocupação, mas também é um alívio não vivenciar essa criança sendo exposta a esse mundo.”
De acordo com a pesquisa “Justiça dos Homens” à “Justiça Divina”: Experiências públicas de familiares vítimas em Campos de Goytacazes coordenada por Jussara Freire, as mães entrevistadas tinham medo de algo de ruim acontecer com seus filhos e esse sentimento era recorrente, pois elas acreditavam “que a maldade dos ‘outros’ havia crescido nos últimos anos”. Apesar de não explicitarem inicial e nitidamente o motivo de seus medos, ao longo da entrevista, explicavam que era justamente pelo fato de temerem o que poderia acontecer com seus filhos negros. Estar fora de casa, para elas, é visto como uma exposição ao risco de ser vítima de violência e, portanto, de perigo. Neste sentido, as mães desdobravam uma série de cuidados constantes para a segurança e preservação da vida dos filhos.
A maternidade no contexto das mulheres negras, é um elemento que se relaciona à resistência, quando associada com a luta do gestar e do maternar desejado e/ou autorizado. Ela assim, configura-se como um elemento do (re) existir, significada como uma reivindicação histórica. Neste contexto, ressalta-se também que o racismo e sexismo atuam historicamente na perpetuação de uma representação da negra que serve e cuida dos outros, isto é, vistas como corpos sem mentes. Para ela, “(…) os corpos femininos negros são postos numa categoria, em termos culturais, tida como bastante distante da vida mental” (hooks, 1995, p. 469).
E esses aspectos também abrangem os filhos, como a demarcação da infância construída historicamente, que são as concepções de “criminalização”, “delinquência”, “problema social”, sendo que essa definição se refere, em especial, às crianças pobres e negras. Esta visão surgiu no Brasil, tendo como referência o modelo francês, fazendo com que as crianças fossem recolhidas da sociedade, mascarando assim a Questão Social e a existência da pobreza (BENEVIDES, et al, 2014).
Um exemplo disso, foram os casos no Parque da Vila Sésamo, onde o personagem abraça crianças brancas e não as negras; e de Titi e Bless, filhos de Gio Ewbank e Bruno Gagliasso, que junto com crianças angolanas em um hotel, foram xingados de “pretos imundos”.
Vale-se questionar além dos fatores exemplificados que, o Estado vem colaborando para um plano de eliminação do povo negro, desde a violência policial à evolução biológica. Enquanto políticas cabíveis não forem executadas, mais mulheres terão medo da próxima geração, abrirão mão de seus sonhos, perderão seus filhos para cruel mortandade que assola as periferias e serão estatísticas num extermínio cuidadosamente planejado. O higienismo e branqueamento racial não são parte do passado, eles estão sendo executados aqui e agora.
REFERÊNCIAS
“MATERNIDADE NEGRA E A VALORAÇÃO DA VIDA DE JOVENS NEGROS
FRENTE AO HORIZONTE DE VIOLÊNCIA” por Carolina Nascimento de Melo; NA ENCRUZILHADA DA MATERNIDADE NEGRA por Jade Alcântara Lôbo e Izabela Fernandes de Souza; RACISMO E A IDENTIDADE DAS CRIANÇAS NEGRAS: UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO SOBRE AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS EM CONTEXTO ESCOLARES por Cássio Manuel Baêta Mendes e Gisely Pereira Botega; CUIDADO, MATERNIDADE E RACISMO: REFLEXÕES ENTRE PSICOLOGIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL por Thais Gomes de Oliveira, Bruna Moraes Battistelli e Lílian Rodrigues da Cruz.
Na última semana, o mundo assistiu as imagens do atentado contra a vice-presidente argentina, Cristina Kirchner. As cenas mostravam um homem se aproximando da vice com uma arma apontada diretamente para seu rosto. Ele tentou atirar duas vezes, mas a arma falhou. Ao fugir, foi pego por apoiadores de Cristina que estavam em frente à sua casa protestando contra o pedido de prisão feito pelo Ministério Público argentino, acusando-a de desviar dinheiro público. A namorada do atirador também foi presa, por suspeita de envolvimento no atentado.
A imprensa argentina não demorou para divulgar o nome do responsável pelo atentado: Fernando André Sabag Montiel, de 35 anos. Cidadão brasileiro, filho de pai chileno e mãe argentina, Fernando mora na Argentina desde 1993. Na primeira imagem do atirador divulgada pela imprensa, um detalhe chamou a atenção: uma tatuagem no cotovelo de um sol negro, símbolo nazista conhecido mundialmente por ter sido usado pelo Batalhão Azov, agrupamento neonazista da Ucrânia. Grupos neonazistas de caráter contracultura como o Misatropic Division já utilizavam o símbolo há anos em diversos países europeus.
Segundo a Revista Fórum, a jornalista Letícia Oliveira, que pesquisa justamente o crescimento de grupos de extrema direita no Brasil, encontrou os perfis de Sabag Montiel nas redes sociais. No Facebook e Instagram as contas não mostraram qualquer interesse na política brasileira, mas as suas fotos e curtidas revelaram que ele se alinha ideologicamente com o que pesquisadores da extrema-direita conhecem como “hitlerismo esotérico”. Tatuagens, símbolos e referências que ligam o autor do atentado frustrado a grupos neonazistas ativos no país vizinho, foram encontrados nas redes sociais pela jornalista.
Tudo indica que Fernando está ligado a uma linha do hitlerismo esotérico criada pelo esotérico e escritor argentino Luis Felipe Cires Moyano Roca.
Letícia explicou que esse tipo de hitlerismo ocultista não está atrelado ao nazismo histórico (que envolve a ascensão e a duração regime nazista e fascista), mas que foi resgatado por neonazistas do pós-guerra uma vez que, ao mesmo tempo que funciona como resgate de um suposto “passado idílico”, também se apropria e dialoga com interesses típicos da cultura Pop com o intuito de se propagar entre fãs. Basta olhar para o quanto esses temas vêm sendo explorados nos últimos anos, sobretudo em séries de grandes plataformas ou em pequenos canais do Youtube: fantasmas, alienígenas e portais interdimensionais.
É comum o uso da simbologia por grupos neonazistas que se aproximam de visões místicas e esotéricas inspiradas na mitologia hindu – sobretudo nas histórias que tratam das origens da suposta “raça ariana”. Há uma aproximação com o famoso Tradicionalismo de Julius Evola que serviu de base filosófica para o nazifascismo no século XX e hoje alenta pensadores como o russo Aleksander Dugin e o ex-trumpista Steve Bannon, além, é claro, de apresentar semelhanças e aproximações com o falecido brasileiro Olavo de Carvalho.
Nazismo crescente
Na América Latina, criaram-se condições políticas favoráveis para o surgimento de movimentos fascistas no período compreendido entre as duas Guerras Mundiais na maioria dos países. Conforme Hélgio Trindade, a principal questão não diz respeito à existência da presença fascista na América Latina, mas sim à extensão de suas manifestações. Em outras palavras, o problema seria distinguir as imitações, dos movimentos autênticos.
Resultado de uma longa história de atuação da extrema-direita, a Argentina é atualmente o país latino-americano com a maior quantidade de sites neofascistas na internet. Com o crescimento desses grupos nos países vizinhos, o Brasil não fica para trás. Um mapa elaborado pela antropóloga Adriana Dias apontou que as células de grupos neonazistas cresceram 270,6% no Brasil entre janeiro de 2019 e maio de 2021, e se espalharam por todas as regiões do país, impulsionadas pelos discursos de ódio e extremistas contra as minorias representativas, amparados pela falta de punição.
A pesquisadora afirma que, no ano de 2022 existem 530 núcleos extremistas no país, que reúnem até 10 mil pessoas. Para especialistas e estudiosos que se dedicam a investigar o discurso de ódio no Brasil, a falta de leis claras contra práticas abomináveis, como a apologia ao nazismo e outras intolerâncias, é o principal obstáculo para que estes crimes deixem de acontecer no país.
Queima de arquivo
O celular do autor de atentado contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pode se tornar uma prova inútil. Segundo o jornal Clarín, ao desbloquear o aparelho, especialistas encontraram a mensagem “redefinição de fábrica” – o que indica que o telefone voltou a ter as configurações originais e perdeu os dados armazenados. Com isso, a Justiça da Argentina está analisando se o aparelho pode ser enviado aos Estados Unidos para ser submetido a uma tecnologia superior e, assim, recuperar as informações.
Segundo o jornal, a Polícia Federal argentina tentou desbloquear o celular com um software, mas não conseguiu. Então, encaminharam o telefone para a PSA (Polícia de Segurança Aeroportuária). Até ser entregue, o aparelho da marca Samsung, teria ficado em um cofre, em modo avião. Na PSA, o telefone foi conectado mais uma vez a um computador, mas com um sistema mais moderno do que os usados até então. Foi quando apareceu a mensagem de “redefinição de fábrica”.
Fontes consultadas pelo portal argentino Infobae disseram que o telefone foi recebido pela PSA “dentro de um envelope aberto” e o aparelho não estava mais em modo avião.
O suspeito tem antecedentes
Em março de 2021, Fernando Andrés Sabag Montiel, de 35 anos, foi processado por contravenção. Ele foi preso por portar uma faca de 35 centímetros. Na ocasião, ele teria sido abordado pela polícia da cidade de La Paternal, na região metropolitana de Buenos Aires, por dirigir um carro sem placa.
O suspeito disse ser o dono do veículo e afirmou ter perdido a placa em uma batida de trânsito dias antes. Durante a revista, os policiais pediram que Sabag Montiel abrisse a porta do passageiro. Ao cumprir a determinação, a arma branca caiu. O brasileiro afirmou que o objeto era para sua defesa pessoal. A infração foi registrada e ele foi liberado.
O suspeito trabalha como motorista de aplicativo e tem um Chevrolet Prisma registrado em seu nome (o mesmo modelo que consta no processo). O brasileiro vive na Argentina desde 1993.
As informações são do Clarín, citando como fonte o ministro da Segurança, Aníbal Fernández.
FONTE: Ponte Jornalismo, Revista Fórum, UOL, G1, Poder360.
REFERÊNCIAS: A Serpente na rede: extrema-direita, neofascismo e internet na Argentina por Fábio Chang de Almeida.
Nesta semana, Olena Zelenska, esposa do presidente da Ucrânica, recebeu uma enxurrada de críticas após fazer um ensaio para a Vogue, ao lado do marido, em um cenário de guerra. Na publicação da revista intitulada “Retrato de bravura: a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska”, o principal líder da Ucrânia posa com sua esposa em diferentes locais, incluindo as ruínas do aeroporto de Kiev e a residência oficial dos principais governantes do país. A fotógrafa do editorial foi a Annie Leibovitz, ex-esposa de Susan Sontag – que é autora do livro “Diante da dor dos outros”, que discute a reprodução de imagens de dor e guerra na mídia. O texto da publicação, de Rachel Donadio, revela detalhes sobre a invasão da Rússia à Ucrânia, destaca a atuação das mulheres na guerra, a vida em tempo de guerra, seu casamento e história compartilhada e sonhos para o futuro do país.
O jornal Firstpost fez questão de discutir sobre o assunto: “A Ucrânia, comandada por um ex-comediante, infelizmente se tornou o alvo de uma sessão fotográfica bastante cruel e auto-estima que pertence à imaginação de um adolescente ou a um filme escrito por Tom Cruise. Zelensky já ganhou aplausos por sua bravura, por seu dom de falar e praticamente cair em eventos de elite como Cannes com a provável esperança de ganhar uma cinebiografia dele. Mas, ei, isso é guerra, morte, destruição e colapso econômico global que pode levar o mundo a um passado do qual trabalhou duro para superar. […] A banalização pode ser sua aliada quando você está na defensiva, mas o uso da mídia como uma vela reluzente de jantar no meio da guerra é, como diriam na moda, estupidez sob medida.”
Não é a primeira vez que a revista se apropria de um cenário caótico para um editorial. Anos atrás, durante a guerra na Síria, uma reportagem de Asma Assad, primeira-dama da Síria, foi divulgada – num momento em que os crimes de Bashar al-Assad estavam vindo à tona. Apesar das críticas, a publicação não foi apagada.
Segundo Sepulveda (2016), a história da imprensa sensacionalista tem dois momentos marcantes. De acordo com o jornalista Danilo Angrimani, em seu livro “Espreme que sai sangue” (1995), um deles ocorreu na França, entre 1560 e 1631, com o surgimento dos primeiros jornais impressos franceses, o Nouvelles Ordinaires e o Gazette de France. Os dois periódicos exploravam em suas páginas notícias trágicas e principalmente histórias sobre crimes ou pessoas defeituosas. Antes disso, era possível encontrar brochuras de aproximadamente 16 páginas, chamadas de “occasionnel”, em que já se relatavam notícias desse tipo.
Com a popularização da imprensa, aliada à criação da máquina ao vapor que permitiu um aumento na tiragem, foram criados jornais populares, destinados a atrair as massas. Um desses jornais era chamado de “canards”, que em francês significa pato, mas também pode ser usada para designar algo falso. Logo a fotografia foi utilizada como registro, para ser armazenada e consultada por profissionais de diversas áreas, e por volta de 1990, o sensacionalismo se aproveitou da tecnologia para fazer a transição entre os diferentes tipos de veículos de comunicação. Segundo Linfield, a fotografia, – tanto quanto a mídia em si (acrescento), tem ‘contribuído muito para o espetáculo, para a excitação retinal, para o voyeurismo, para o terror, inveja e nostalgia, e só um pouco para o entendimento crítico do mundo social.’ […].
O meio de comunicação sensacionalista se assemelha a um neurótico obsessivo, um ego que deseja dar vazão a múltiplas ações transgressoras […] É nesse pêndulo (transgressão-punição) que o sensacionalismo se apoia (ANGRIMANI, 1995, p. 17).Já Arbex Jr. (2001, p.103) escreve que, a mídia cria diariamente a sua própria narrativa e a apresenta aos telespectadores – ou aos leitores – como se essa narrativa fosse a própria história do mundo. Os fatos, transformados em notícia, são descritos como eventos autônomos, completos de si mesmos. Os telespectadores, embalados pelo ‘espaço hipnótico’ diante da tela da televisão, acreditam que aquilo que veem é o mundo em estado ‘natural’, é ‘o’ próprio mundo.
A primeira-dama reagiu às críticas após o ocorrido. “Milhões leem a Vogue e falar diretamente para eles era o meu dever. E essa foi uma experiência interessante […] As primeiras-damas não têm oportunidades de influenciar politicamente, mas nós temos uma influência emocional. Nós entendemo-nos e sentimos o mesmo”, disse em declarações à ‘BBC’.
Para o jornalista Gabriel Fusari, o jornalismo – tanto de moda ou em geral, tem atuado como conteúdo publicitário fantasiado de jornalismo. “Quando não, ele descarta seu papel noticioso e de relevância pública para fortalecer as estruturas do capital, mesmo que sendo hipócrita ao trazer um dito conteúdo político, que na verdade é só uma ferramenta na manutenção de greenwashing ou de uma falta inclusão social. […] Será que esse editorial faz sentido num conflito como esse? Será que essa tentativa de glamourizar a figura da Ucrânia faz bem?”, ele questiona.
Uma menina de 11 anos foi estuprada no início deste ano e, para evitar que fizesse um aborto autorizado, foi mantida pela Justiça em um abrigo de Santa Catarina. Ela só descobriu a gravidez com 22 semanas, quando foi encaminhada para o Hospital Universitário de Florianópolis e onde teve o procedimento para interromper a gestação negado. A suspeita é a de que a violência sexual contra menina tenha ocorrido na casa dela. As informações foram divulgadas pelo site do G1.
O Código Penal permite o aborto em caso de violência sexual, sem impor qualquer limitação de semanas da gravidez e sem exigir autorização judicial. A equipe médica, no entanto, se recusou a realizar o abortamento, permitido pelas normas do hospital só até a semana 20. Por conta disso, o caso chegou nas mãos da juíza Joana Ribeiro Zimmer e da promotora Mirela Dutra Alberton.
Mesmo com o laudo psicológico da garota comprovando que a mesma não queria manter a gravidez, a juíza e promotora tentaram convencê-la a continuar com a gestação. Joana teria perguntado a menina se ela “suportaria mais um pouquinho”. A jurista, Deborah Duprat, afirma que o código penal permite o aborto em qualquer época, ainda mais em uma criança que, além de sofrer o impacto psicológico do abuso, não possui a integridade física preparada para uma gravidez.
A psicóloga, Thais Micheli Setti, funcionária da prefeitura de Tijucas, que fez o acompanhamento da vítima, registrou no laudo de maio que ela “Apresentou e expressou medo e cansaço por conta da quantidade de consultas médicas e questionamentos, além do expresso desejo de voltar para casa com a mãe. Relatou estar se sentindo muito triste por estar longe de casa e que não consegue entender o porquê de não poder voltar para o seu lar”.
Na terça-feira (21) da semana passada, a Justiça de Santa Catarina determinou que a menina fosse liberada do abrigo que estava sendo mantida sob medida protetiva e voltasse à casa da mãe. No dia seguinte (22) ela conseguiu interromper a gravidez, segundo Ministério Público Federal (MPF).
Diálogo impactante travado entre juíza e a vítima menor de idade:
– Qual é a expectativa que você tem em relação ao bebê? Você quer ver ele nascer? – pergunta a juíza.
– Não – responde a criança.
– Você gosta de estudar?
– Gosto.
– Você acha que a tua condição atrapalha o teu estudo?
– Sim.
Faltavam alguns dias para o aniversário de 11 anos da vítima. A juíza, então, pergunta:
– Você tem algum pedido especial de aniversário? Se tiver, é só pedir. Quer escolher o nome do bebê?
– Não – é a resposta, mais uma vez.
Após alguns segundos, a juíza continua:
– Você acha que o pai do bebê concordaria pra entrega para adoção? – pergunta, se referindo ao estuprador.
– Não sei – diz a menina, em voz baixa.
A audiência com a mãe da vítima seguiu no mesmo tom.
– Hoje, há tecnologia para salvar o bebê. E a gente tem 30 mil casais que querem o bebê, que aceitam o bebê. Essa tristeza de hoje para a senhora e para a sua filha é a felicidade de um casal – afirma Ribeiro.
Ela responde, aos prantos:
– É uma felicidade, porque não estão passando o que eu estou.
Após ser questionada pela juíza sobre qual seria a melhor solução, a mãe segue:
– Independente do que a senhora vai decidir, eu só queria fazer um último pedido. Deixa a minha filha dentro de casa comigo. Se ela tiver que passar um, dois meses, três meses [grávida], não sei quanto tempo com a criança… Mas deixa eu cuidar dela? – suplicou. – Ela não tem noção do que ela está passando, vocês fazem esse monte de pergunta, mas ela nem sabe o que responder!
Juíza é promovida e segue em silêncio em relação à sua conduta
Desde 2016, o Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, denuncia que a gravidez infantil forçada é um tratamento cruel e degradante, equivalente à tortura. Apesar da repercussão negativa, a juíza se retirou do caso alegando ter sido promovida, por um convite feito bem antes do caso. A conduta de Joana tem sido investigada desde semana passada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Já o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) instaurou um procedimento para apurar a conduta da promotora, Mirela Dutra.
Sem aborto, sem adoção — o problema é o corpo feminino
Ainda nesta semana, outro caso chamou a atenção da mídia. Segundo o G1, tudo começou com um post do jornalista Matheus Baldi, no dia 24 de maio, dizendo que a atriz Klara Castanho teria dado à luz a uma criança. A pedido da mesma, esse post foi apagado, mas a notícia se espalhou.
Na última quinta-feira (23), a apresentadora Antônia Fontenelle incitou ainda mais os comentários contra Klara na internet. E, para completar, o jornalista Léo Dias gerou repercussão sobre o assunto no programa The Noite e, ainda, publicou um texto do caso na sua coluna do Metrópolis, fazendo o caso viralizar ainda mais.
Foi então que Klara decidiu se pronunciar e, por meio de uma carta aberta ao público, revelou que foi estuprada, engravidou e entregou legalmente o bebê para adoção.
“Fui violentada não só pelo homem que me estuprou, mas também pelo julgamento das pessoas”, escreveu a atriz de 21 anos. “Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo.”
Além da invasão de privacidade, Klara contou que foi abordada e ameaçada por uma enfermeira na sala de cirurgia com as seguintes palavras: “Imagine se tal colunista descobre essa história”. Quando voltou para seu quarto do hospital, já havia mensagens no seu celular do colunista com todas as informações.
Antônia Fontenelle, candidata a vereadora e o jornalista Léo Dias, publicaram vídeos pedindo desculpas diante toda a repercussão negativa. O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo e o Conselho Federal de Enfermagem estão apurando a denúncia, e a enfermeira já foi demitida. O Hospital Brasil se solidarizou.
A atriz também vem sendo criticada nas redes por levar a criança para a adoção. Várias mulheres se solidarizaram, inclusive a jornalista de moda Lele Santhana que disparou: “Ninguém se preocupa com as vítimas dos crimes, pouco se importa se irão decidir pelo aborto ou pela adoção. Elas serão condenadas de todo o jeito. Nunca foi sobre ser pró-vida. Sempre foi sobre o controle total dos corpos femininos”.