A influência das músicas e artistas periféricos na moda

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Foto reprodução: Mc Caverinha

“Meu Versace exalando, Jacaré [Lacoste] grudou no pano” (Me Sinto Abençoado- Filipe Ret e MC Poze do Rodo)

“Ela se interessa que eu tô de Nike” (Maçã Verde – Mc Hariel)

“Vou de Lacoste polo branca, jacaré da França” (DJ GM e Oldilla)“No estilo tchutchuco, Rei Lacoste, indomável”  (MD Chefe)

Essas frases vêm de letras de músicas de funk ou trap que relatam o uso e admiração de marcas, mesmo que os mencionam sem efetivamente ganharem nada por isso. Assim como nos anos 2000, teve um crescimento no desejo e procura do tênis ‘Nike Shox’ e marcas como Oakley, crescimentos derivados pelas menções em músicas do gênero e parte da composição dos looks dos artistas, hoje isso se vê em esbanjar e mencionar outras marcas como Lacoste e Nike.

Não só marcas esportivas, mas também de luxo, como Versace e Gucci, podem fazer parte dessa cultura, mesmo que parte do público não tenha o poder de compra das mesmas. De acordo com o produtor musical, Vinci (28), que viveu grande parte da sua vida nas periferias e no meio musical, nem todos prezam pela autenticidade das peças mas isso não é necessariamente um problema: “Quando se tem dinheiro, você compra a peça original. Quando não se tem e mesmo assim quer vestir, acaba-se optando pela réplica, peças falsas. Na teoria você vai estar vestido da mesma forma. O pessoal da periferia não tem preconceito entre si, não! Quem está de Mizuno falso vai andar com quem está de Mizuno original”. 

Rappers, trappers e funkeiros “trajados”, são as principais figuras de influência desse meio que divulgam e usam marcas mesmo que paguem para ter, e não para divulgar. De acordo com o produtor musical, todos querem se vestir bem e parecer o Mc famoso. “Eles querem estar com o tênis e marca do ano, e claro, usar o perfume e relógio que está em alta”. 

Foto reprodução: Mc Kyan, Tropa da Lacoste

Em setembro de 2021, uma das principais e mais citadas marcas do meio, a francesa Lacoste, divulgou sua nova coleção com um vídeo dos novos embaixadores não-periféricos que, de acordo com a repercussão, não são os verdadeiros influenciadores e divulgadores da marca, por mais que tenham sido escolhidos e pagos para isso. Artistas como o rapper Kyan, autor da música ‘Tropa de Lacoste’, se manifestaram com indignação por não se sentirem representados pela marca. “As marcas não querem se associar com a periferia. Ela acha que os clientes tradicionais, que em sua maioria são da elite, vão deixar de comprar porque não querem se vestir igual o pessoal da favela se veste. A marca vai escolher quem vai usar,  e sempre vai optar por quem tem o poder aquisitivo maior”, descreve Vinci à Frenezi

Depois da repercussão negativa, a marca voltou atrás e escolheu uma das grandes representações do funk brasileiro: Mc Dricka, que tem uma música que cita a marca, para compor o time de embaixadores da marca. Porém, para Vinci, a decisão foi apenas estratégia. “A Lacoste só voltou atrás porque não queriam sofrer boicote. Os trappers e funkeiros pagam e divulgam a marca, mas são os últimos a serem escolhidos. Eles não se sentem representados.”

No começo de junho deste ano, Caverinha e seu irmão Kay Black, foram convidados a irem à Paris, França, para conhecerem a loja da Lacoste em sua sede. Para eles, é uma representação de esforço e de sonho realizado. Os fãs da marca comentaram e aplaudiram a grife pelo reconhecimento em colocarem como embaixadores os artistas que sempre a mencionaram de forma gratuita.

Camisas de time, óculos lupa ‘Juliet’ e tênis de mola são algumas das tendências de moda que ainda continuam em evidência há anos vindas da periferia que reproduzem a forte influência dos artistas que as mencionam e usam. São itens de desejo dos fãs de funk que são provenientes de um lugar onde sempre sofreram preconceito pela sua cultura. “As pessoas que tem preconceito nunca são da periferia. As roupas da favela não são vistas como moda, já que a elite dita ela. Os jovens periféricos hoje estão quebrando essa barreira de moda e trazendo o conceito da moda da favela.”

A moda se apropria do meio em que está presente, além de ser influenciada pela cultura do local. A música sempre foi um instrumento de expressão. Ela encontra seu espaço e influencia as coisas à sua volta. “O Funk e o trap contribuíram muito para a moda, já que os jovens consomem esses estilos musicais e querem ser iguais. A música é o principal influenciador da moda. Todo mundo da favela sempre quis ter essas marcas, mas não se achavam na posição de ter aquilo. Quando o pessoal da favela começa a ganhar espaço na música, eles começam a ter dinheiro e comprar, mas sem tirar o pé da favela, e isso mostra que favelado também pode. Eles querem ter o que sempre sonharam.” 

Foto reprodução: Mc Ryan SP 
[Usando chapéu, calça e relógio Gucci] 

A periferia sempre influenciou a moda, movimento que vem de décadas. Analisando a cultura como um todo, de qualquer lugar que seja, se tudo o que derivou da periferia fosse excluído por um momento, lugares desapareceriam, estilos musicais iriam parar de ser reproduzidos, roupas sumiriam até em lugares de luxo). A periferia vem cada vez mais ganhando seu espaço no palco de apresentações. Mostrando que possuem habilidades de lançarem tendências riquíssimas e duradouras. Trappers e funkeiros souberam administrar seu trabalho e influência de forma que hoje são os maiores lançadores de tendências neste meio musical. 

A volta do fascínio pelos seios a mostra

A temporada de primavera-verão de 2022 trouxe para suas coleções apresentadas a tendência da transparência do corpo à mostra, que se mostra recorrente principalmente no busto, colocando seios à mostra ou evidenciados pela estrutura da roupa. Porém, não só a exposição literal dos seios femininos estavam presentes, mas também a exaltação dos mesmos em formato surrealistas. A Schiaparelli de Daniel Roseberry trouxe os mamilos grandes, dourados e triangulares, tal como a jaqueta jeans de Júlia Fox que é a parte central do look. Não só eles, mas também Simone Rocha, Loewe, Lanvin, Prada e Saint Laurent adotaram a tendência. 

A exaltação aos seios não aconteceu agora, ela vem de mais de uma década sendo apresentada em temporadas de desfiles. Jean Paul Galtier com seus seios surrealistas apontados para o futuro é a marca registrada de sua moda. E na música também, com Katy Perry com seus peito-bala no clipe California Gurls. A transparência sempre esteve presente. Nos anos 90 ela era infiltrada de forma que os looks evidenciaram a pele, mas com roupa íntima por baixo ou até mesmo a inserção de uma terceira peça para que nem tudo ficasse tão aparente.

Desde o início do Instagram e das redes sociais, os seios à mostra eram bloqueados pelas plataformas, então as peças eram vistas apenas em desfiles e aparições de eventos, como no full look de cristais transparente de Rihanna em 2014. A transparência aparece em 90 com looks ajustados nas cinturas que realçam a beleza do corpo feminino eram os grandes momentos – geraram diversos comentários tanto pela graciosidade quanto pela repercussão conservadora e moral da época. 

Alexander McQueen, considerado uma enfant terrible de sua época, sempre trouxe essas ‘grandes’ problematizações do período para seus shows. Ele não se importava sobre as opiniões a seu respeito e também sobre seus designs. Abusava e ousava da nudez feminina. As inovações de sua geração são tendências e referências aos dias de hoje.

O legado surreal de Jean Paul Gaultier começou na temporada de outono-inverno de 1984. Uma silhueta única com veludo laranja e rosa, no vestido Bombshell Breasts. Adiante, atraiu com seu visual grandes nomes como Madonna com seu corset usado na tour Blond Ambition de 1990. Contudo, eles têm origem de uma memória afetiva do designer, os espartilhos de sua avó, e que foram primeiramente desenvolvidos para Nana, seu urso de pelúcia.

Em 1992, Gaultier organizou um evento de solidariedade de Moda para a AmfAR (Fundação Americana para a Investigação da luta contra o HIV) no Shrine Auditorium de Los Angeles. O evento contou com uma série de celebridades presentes. Porém. Foi Madonna que marcou a noite para que se tornasse memorável por décadas. A cantora tirou a jaqueta quadrada para mostrar um saia de cintura alta e os seios nus emoldurados por um sutiã. 

Portanto, eles não só atraíram como também inspiraram. Elsa Schiaparelli usava de suas referências e isso vem até os dias de hoje. Daniel Roseberry, atual diretor da marca, insere em todas as suas coleções algum design que cubra de forma artística ou que represente os seios femininos. Na alta-costura de 2021, os seios eram cobertos por um colar dourado em forma de brânquias que faziam parte de um vestido longo preto. Já na última temporada de alta costura 2022, Roseberry assemelhou-os ao de Gaultier com peitos pontiagudos feitos com uma mistura de resina e vinil que vinha do corset e eram circulados com arcos dourados. Os seios de Gaultier são arquivados e guardados numa casa tradicional, mas que são inspirações de designs únicos e consequentemente, com o passar do tempo, são vistos sendo imortalizados. 

Contudo, de um período para cá, essa tendência repercutiu para além das passarelas. Glenn Martens em suas últimas coleções para a Y/Projects desenvolveu looks que apresentam seios desenhados. Desde então, celebridades – como Anitta, Bruna Marquezine – aderiram a esse trend. Também podemos notar a influência de Gaultier e seus peitos em forma de cone com as passarelas recentes de Daniel Roseberry para a Schiaparelli, com uma das fortes inspirações do designer sendo antigos estilistas que o ajudaram a nutrir seu amor por moda e desenhar.

A Loewe, dirigida por JW Anderson, na última coleção de outono-inverno 2022, enviou como parte dos convites para seu desfile um ‘lenço’ de látex quadrado, que foi usado por alguns jornalistas como cachecol no momento da apresentação. Mesmo que a casa espanhola seja tradicional com seus fundamentos como uma casa baseada em couro, dessa vez, além dele, utilizou do plástico líquido para desenvolver as peças de blusas firmes nos corpos que eram transparentes.  

Reprodução: Vogue Runway, Loewe FW 2022

Já Isabel Marant na sua coleção de outono-inverno 2022, aderiu à transparência com uma peça manga longa e gola alta feita de rede repleta de cristais, assim como no desfile da Ludovic de Saint Sernin. Os cristais e brilhos têm feito presença há algumas temporadas. Unir ambas tendências fez com que os telespectadores do desfile vibrassem com o looks que contemplava uma calça cargo que quase passou despercebida fazendo dupla com a blusa de cristais.

Pela história, vemos que essa exaltação pela transparência e a exposição dos seios vem de décadas. Esse impulso e ânsia sempre foram requisitados e abordados por designers e mulheres de todas as épocas. Ambos, têm a ver com o encantamento ao corpo feminino. Percorre muito além disso. Representa a autoestima, alívio, conforto e contentamento com o próprio corpo. Vislumbrar pessoas com estaturas reais, compreendendo e aderindo a tendência é o que incentiva as mulheres a se aceitarem genuinamente. 

Reprodução: Vogue Runway, Isabel Marant FW 2022

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The Tumblr girl is coming back

Os dias se passavam ao som do álbum Ultraviolence da Lana Del Rey, que está na playlist junto com The Neighborhood, Arctic Monkeys, The 1975, Lorde, The xx, entre outras bandas alternativas que se juntam ao indie pop. As fotos eram guiadas de acordo com a roupa. Normalmente jeans skinny, ou meia arrastão – elas sempre rasgavam e isso que era deixado em evidência – com jaqueta de couro, cores escuras, silhuetas simples, gargantilhas no pescoço, às vezes camisa quadriculada e nos pés All Star ou coturno.

Foto reprodução: Pinterest 

Essa estética, marcada pelo ano de 2012 a 2014, é caracterizada à época do Tumblr, uma plataforma na qual era formado por comunidades que tinham pessoas de todos os lugares do mundo, com as mesmas estéticas e pensamentos, com um estilo acessível e não elitizado como o Old Money. 

O rock foi o fundador dos estilos. Seguido pelo grunge com o Nirvana de Kurt Cobain juntamente com as meninas do Bikini Kill. Ele não se importava em comprar roupas, e nem se elas rasgavam. Vivia sua melancolia e as levava em suas músicas. A partir deste estilo, nasce o indie, com The Neighbourhood e Arctic Monkeys. 

Foto reprodução: Pinterest 

Nas telas, a atriz Lucy Hale, que interpreta a Aria Montgomery na série “Pretty Little Liars”, e a personagem Effy Stonem de “Skins”, interpretada por Kaya Scodelario, se enquadra ao estilo desenvolvido da época, já que era o período em que a série estava sendo gravada. Muito se materializa através de séries e da música. Atualmente, vemos a cantora Olivia Rodrigo e a personagem Maeve Wiley de “Sex Education”, explorando todo o esteriótipo, mas com o toque do novo, sem se prender ou resgatar por completo algo que pode se reinventar com novas presenças que são disponibilizadas em todas as áreas de criação.

Os adolescentes de antes cresceram, hoje são os adultos e jovens que, com a memória afetiva da época, resgatam, exploram e, literalmente, compram essas tendências. O que antes era trazido de 30 em 30 anos, com a pandemia, isso tem se acelerado e diminuído para 10 anos. 

Essa estética tem voltado, mas o que antes era baseado nos anos 2000 e toda a característica trazida à tona, hoje ela retorna se embasando nos anos de glória – entre 2012 e 2016 – e tem se reinventado, se reintegrando às novas manifestações artísticas. Contudo, essa estética não vem apenas de uma estética visual, mas também de uma subcultura que trouxe à tona os problemas mentais, pessoas que se identificam com outras e viam que vivem a mesma situação. Isso então incluía falar abertamente sobre depressão, ansiedade e pensamentos suicidas.

As músicas alternativas da época retratavam sobre os problemas, como Lana Del Rey que transformava sua solidão e melancolia em música, e dizia o quanto gostava e aceitava aquilo. Isso fazia com que as meninas da época fizessem o mesmo. Até aquelas que não tinham depressão, induzia este tipo de melancolia para soarem interessantes e fazerem jus às outras pessoas. 

As comunidades, em sua maioria composta por meninas, se identificavam gerando valor e dependência naquilo. Compartilhavam seu diagnóstico, conversas com profissionais sobre o quadro, fotos com frases como “100% triste” escrito em rosa com brilhos, pílulas de remédio em cima da mesa, maquiagens escuras em forma de luto. Mesmo não tendo sido criado pelo Tumblr, a obsessão pelo trágico fez parte da cultura, exacerbaram esse fetiche. Notoriamente, o reconhecimento e a discussão desses assuntos facilitou o tratamento e reconhecimento dos sentimentos e das doenças até hoje, contudo, trouxe à tona a romantização de problemas mentais, de ter um coração partido, solidão, magreza extrema e da rebeldia. 

Com o lançamento de “13 Reasons Why”, reboot de “Gossip Girl” e “Euphoria”, é notável a presença de uma trama que abraça uma cultura de drogas e sexo, apresentando atores glamorizados e vidas mais sofisticadas e fáceis. Um pouco de toda a época do Tumblr está presente, mas com mudanças, gerando algum tipo de demérito e mais conscientização principalmente de quem esteve presente em todo aquele período.

Foto reprodução: Pinterest 

Hoje, o que volta, parte é substituído. Calças skinny que saíram de destaque são alteradas por mom jeans ou calças jeans de perna reta. O batom escuro chega em forma de gloss, maquiagens que antes eram escuras são influenciadas por séries trazendo brilho e com looks mais extravagantes em decotes e transparências. A época Tumblr marcou uma geração de pré-adolescentes e adolescentes ao redor do mundo.

Hoje, eles cresceram e se tornaram adultos com sentimento de pertencimento a esse período e uma memória de descobertas e reencontros que fazem parte de quem são hoje. São os que possuem o poder de compra e também de lançar e repercutir as tendências. Com o TikTok, novos grupos identitários e novos costumes e tendências têm surgido. 

Pode-se dizer que a era Tumblr foi um momento em que os jovens entraram no mundo da internet, esbarram e permaneceram com seu primeiro contato a um grupo digital de acolhimento sem barreiras – o que antes era vivido com barreiras físicas e sólidas, foram se integrando num novo mundo. Hoje, as barreiras se quebraram e todos têm acesso às outras culturas e pessoas, facilitando o encontro de sua identidade.

A grande comunidade do Tumblr retorna citando as consciências de uma identidade coletiva, mostrando às novas gerações – além das características físicas – o poder de um grupo semelhante frente ao auxílio da internet e da união de características iguais. É algo mais significativo que os momentos que estão sendo vividos nesses últimos anos. Foi uma época duradoura e que foi morada e conforto para muitos adolescentes.

Foto reprodução: Pinterest 

O começo da internet como rede de apoio e sem barreiras. Um lugar onde as pessoas encontravam grupos com os mesmos sentimentos e desejos. Eles não estavam sozinhos, nunca estiveram. Estavam apenas perdidos de seus grupos que iriam entender e acolher suas particularidades. 

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OSGEMEOS: dupla que levou o estilo brasileiro do grafite para o mundo

O grafite chegou ao Brasil na década de 70 pela maior metrópole do país, São Paulo, influenciados pelo crescimento do movimento nos Estados Unidos. Os artistas se arriscavam com o cenário de um país que vivia um contexto político de ditadura, a manifestação era criminalizada pelo Estado — foi institucionalizado em 2011 e assegurado pela por lei. Através do Sudeste, a prática foi se espalhando para os demais centros urbanos do país. O Brasil é um dos países mais reconhecidos pela arte do grafite, cultura retratada como marginalizada por ser uma arte urbana.

Conhecidos internacionalmente com obras presentes em diversas galerias e museus, Otávio e Gustavo Pandolfo são uma dupla de irmãos gêmeos grafiteros de São Paulo, nascidos em 1974, conhecidos como OSGEMEOS. 

Pintura de OSGEMEOS em muro da cidade de São Paulo.

Quando crianças, viveram no tradicional bairro do Cambuci (SP), desenvolveram um modo distinto de brincar e se comunicar através da arte. Começaram como dançarinos de break, com o apoio da família, e com a chegada da cultura Hip Hop no Brasil nos anos de 1980, eles começaram a pintar grafites em 1987, gradativamente tornaram-se uma das influências mais importantes na cena paulistana, e ajudaram a definir um estilo brasileiro de grafite. As ruas eram o principal ateliê e lugar de estudo dos irmãos. 

Em 1995 surgiu a oportunidade da primeira exposição experimental de arte de rua no Museu da Imagem e do Som, o MIS em São Paulo. No início dos anos 2000, eles foram convidados a participar de um projeto para criação de murais em estações ferroviárias e metrô de São Paulo, o que normalmente não é feito no país. Depois disso, o reconhecimento da dupla cresceu de forma que fossem reconhecidos nacionalmente e internacionalmente, com mostras individuais e coletivas em museus e galerias ao redor do mundo, como Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão. Em 2014, criaram e executaram a pintura de um avião em um projeto da empresa de aviação Gol, que transportou a seleção de futebol do Brasil durante a Copa do Mundo.

Avião da seleção brasileira, arte pelo OSGEMEOS. [Imagem: Divulgação]

Os temas vão de retratos de família à críticas sociais e políticas onde retratam a realidade vivida nas grandes metrópoles. O estilo obteve referência através do hip hop tradicional e pela pichação. Por o grafite ser considerado uma arte marginalizada, as obras referenciam e criticam também esta característica. A presença de cores vivas, fantasias, lúdicas e a música fazem parte de sua arte. Algumas de suas apresentações em museus contam a história de como começaram, com a presença de músicas, danças de hip hop, cadernetas e desenhos de rascunhos além de obras com críticas sociais.

Mural em Vancouver Biennale-Canadá. [Imagem: Divulgação]

Nunca pararam de fazer sua arte, e com o passar dos anos, este cenário no qual sonhavam foi tomando forma de forma natural, até que conquistaram seu espaço se transformando numa linguagem própria com referências e influências por novas culturas.

Colaboração de OSGEMEOS e Banksy. [Imagem: Divulgação]

Jean-Michel Basquiat: O precursor do início do grafite e da arte urbana

Na última semana de agosto, a Tiffany & Co divulgou sua nova campanha About Love com os Carters traz para cena o diamante Tiffany, e quase ofusca outra obra de arte tão incrível quanto, que faz parte dessa produção, a Equals Pi, quadro de Jean-Michel Basquiat. Mas quem é o grande nome e autor desta obra avaliada em quase US$ 20 milhões?

Jean-Michel Basquiat- Equalps Pi, 1982.

Jean-Michel Basquiat nasceu em 22 de dezembro de 1960 no Brooklyn (NY). Desde pequeno desenhava nos papéis que seu pai trazia do escritório de contabilidade, sua mãe o levava em museus e lugares artísticos. Aos 7 anos sofreu um acidente que precisou ficar um tempo no hospital, ainda lá, sua mãe o presenteou com um livro de Grey´s Anatomy, o qual no futuro os desenhos anatômicos inspirariam sua arte. 

Sem título (crânio) da série de anatomia, 1982

Nos anos de 1970, a arte predominante nos Estados Unidos era a pop art, artistas como Andy Warhol e Roy Lichtenstein eram referências, além da arte minimalista e conceitual. 

Enquanto isso, na Alemanha, acontecia um movimento que foi chamado de “Die Jungen Wilden”, do portugês “Os jovens rebeldes”. Em todas as partes do mundo era possível ver jovens reagindo a um frizz intelectual que o minimalismo e a arte conceitual costumavam propor diretamente ou indiretamente.

O mercado de arte estava em alta, artistas produzindo arte apenas para vender. Nos EUA as pessoas passaram a consumir mais galerias do que museus. Muitas vezes essas galerias brincavam entre o que era considerado uma cultura elevada e outra mais trivial. Basquiat entra com o equilíbrio, a cultura do gueto, a chamada arte marginalizada (grafite) e a cultura da aristocracia. Nasce a linha tênue entre isso, o movimento do novo. 

Em 1980, aconteceu o desenvolvimento da West Village. Estavam promovendo o marketing da arte do grafite, a divulgação para o mundo, seja em marcas, galerias ou vestimentas, a vez da ascensão do grafite. Basquiat entrou e foi notado por críticos e historiadores. Desde o colegial pichava com seu amigo Al Diaz a palavra SAMO© (abreviatura de “same old shit”), entre 1977 e 1980. Muros, cafés, galerias e lojas passaram a ser telas deste pseudônimo com frases poéticas, chamando ainda mais atenção nos lugares onde a alta renda estava concentrada. 

Boom for Real: The Late Teenage Years of Jean-Michel Basquiat.

“Escolhia os lugares da moda de Nova York que frequentava, como o Mudd Club, para chamar atenção”. No meio da década de 80, triunfou no meio artístico da cidade. Com o tempo, as artes de rua, os grafites e as escritas passaram a não atrair mais policiais e a diminuição dessa arte como marginalização. Grandes nomes no grafite como Kenny Scharf, Fred Brathwaite e Rammellzee, já não eram nomes ligados a jovens delinquentes, mas sim nomes respeitados e conhecidos, tudo devido ao crescimento do grafite e sua enorme onda de marketing.

Não só suas obras eram negociadas como marca, mas ele mesmo. Os artistas visuais estavam no mainstream e era algo considerado cult. Basquiat conheceu Glenn O´Brien que o convidou para ser personagem principal de um filme chamado New York Beat, baseado na arte de Nova Iorque e no próprio Basquiat. Porém, só foi lançado nos anos 2000 com o nome de Downtown 81. A obra Cadillac Moon, participou de um evento chamado New York, New Scene, mostrando que algo novo estava acontecendo na cidade. Ela representava o fim do Basquiat, do Samo. Uma obra importante que risca o pseudônimo. 

Jean- Michel Basquiat, Cadillac Moon, 1981.

Uma época na qual ainda os artistas eram vistos como marginais, assim como Jackson Pollock ou Van Gogh que não foram reconhecidos como tais durante sua vida, Basquiat era um artista marginalizado pela sociedade, ainda mais pela sua cor de pele. Um dos poucos artistas da época que vendeu milhões. Seus desenhos muitas vezes eram vistos como infantis, retratando a vida urbana; namorou Madonna; teve uma banda chamada Gray que tocava noise music e se apresentavam em clubs que o próprio Basquiat tocava como dj; passou a vender cartões postais desenhados a mão para ganhar dinheiro; viveu no subsolo de colecionadores e galeristas em troca de tintas e telas, que muitas vezes eram vendidas sem nem terem sido finalizadas. 

O seu “fim” estava associado na cena artística da cidade, também a uma postura racista da cena artística de Nova Iorque, e como os brancos reagiram à cor da pele do Basquiat. Jean-Michael Basquiat morreu em Manhattan (NY) aos 27 anos de overdose. Hoje suas obras são leiloadas e avaliadas em milhões, algumas em museus e em acervos particulares espalhados pelo mundo, alguns como França e Jerusalém.