Lindsay Lohan: The Rise, The Fall and The Comeback

Umas das atrizes mais icônicas dos anos 2000, Lindsay Lohan era considerada a próxima estrela de sua geração. Atuações aclamadas e sucesso repentino, Lohan tinha tudo para ter uma longa carreira: o que aconteceu? Quem (ou o quê) deve-se culpar pela queda de Lindsay? Sua família; a indústria; más companhias; drogas ou talvez uma combinação de todos esses fatores? 

Apesar de termos crescido vendo Lindsay nas telinhas, éramos novos demais para entender todas as polêmicas e escândalos que levaram a atriz prodígio a clínicas de reabilitação e um hiatus de trabalho que durou até esse ano, 2022. Hoje, no seu aniversário de 36 anos, fizemos um deepdive na carreira e vida pessoal de Lohan, assim como também aguardamos ansiosos pelo retorno da atriz na Netflix em dezembro deste ano.

THE RISE

O começo

Nascida em 1986 em Nova York, Lindsay cresceu em Merrick e em Cold Spring Harbor, ambas no estado de Nova York. Sua história familiar não era ótima: seu pai Michael foi preso por insider trading quando ela tinha apenas três anos, além do notório vício em drogas que ele mantinha. Seus pais se separaram e voltaram algumas vezes, e Michael continuou a assombrar a vida de Lindsay à medida que ela ficou rica e famosa. A mãe de Lindsay, Dina, também acusou Michael de violência doméstica e disse que isso afetou a filha. Sobre sua infância com seu pai, Lindsay disse para o Irish Examiner:

“Ele fez eu e minha mãe e os pais de minha mãe passar pelo inferno – desde ameaças de morte, a jogar sapatos na cabeça do meu avô e causá-lo uma concussão, a ameaçar a matar minha mãe na frente do meu irmão mais novo, Dakota.” “Eu cresci muito rápido por causa das situações a que fui submetida pelo meu pai. Minha mãe tentava me proteger daquilo o máximo possível, mas eu escolhi ficar no meio dos meus pais minha vida toda.”

Em meio a uma vida turbulenta, Lindsay e seus irmãos foram estimulados desde cedo a trabalharem. Aos três anos, em 1989, Lohan assinou contrato com a Ford Models, sendo a primeira modelo ruiva da agência. Nessa época ela apareceu em diversos comerciais, sendo um deles para a grife Calvin Klein. 

Aos dez, ela já atuava em uma novela chamada Another World, e foi aqui que ela foi descoberta pela Disney. Operação Cupido estreou em 1998 e obteve grande aclamação da crítica. Lindsay foi elogiada pela sua atuação e se tornou a nova promessa de Hollywood. Apesar de ter assinado um contrato de mais três filmes com a Disney, além de entrar para o elenco de um seriado com Bette Midler, ela decidiu voltar para casa para ser uma criança normal. Enquanto isso, Life Size (2000) e Get a Clue (2002) foram lançados.

Lindsay na première de Operação Cupido, em 1998

Lindsay x Hillary

Aqui se iniciam as famosas polêmicas que alimentaram os tabloides por anos: a briga Lindsay Lohan x Hillary Duff. Tudo começou com um garoto chamado Aaron Carter (irmão do Nick Carter do Backstreet Boys). Carter namorava Duff na época, até que no aniversário de dezesseis anos de Lohan, ele decide trocar Duff pela aniversariante. Isso apenas colocou mais lenha na fogueira da competição que a mídia criou entre as duas atrizes.

Em 2003, Freaky Friday estreou e foi mais um hit para Lindsay. Nesse filme ela contracena com o queridinho Chad Michael Murray, que depois também fará parte dessas polêmicas. No mesmo ano, Lindsay e Carter terminam e ele volta correndo para Duff. Em julho, no famoso shooting da Vanity Fair com as atrizes mais populares daquela geração, Hillary aparece com Carter, causando incômodo em Lindsay, fazendo com que o shooting fosse pausado por diversas horas. 

Vanity Fair (2003)

Na première de Freaky Friday, Hillary leva Chad Michael Murray como seu acompanhante, apenas servindo de combustível para os sites de fofoca. A fim de devolver na mesma moeda, Lindsay aparece na premiére de Doze É Demais, estrelada (entre alguns protagonistas) por Hillary Duff. Os boatos são de que Duff ficou tão chateada com a presença de Lohan, que ela ou sua mãe pediram para expulsarem Lindsay.

Essa confusão continuou a se perpetuar por mais alguns anos, com rumores de que Lindsay havia ganhado o papel de Confessions of a Teenage Drama Queen ao invés de Hillary e a ideia de que Duff era a all american good girl e Lohan a má influência. Nessa época, aos dezessete anos, Lindsay já estava começando a sair em baladas com pessoas mais velhas como Nikki e Paris Hilton e Nicole Richie, que tinham reputação de serem party girls, abusarem de drogas e se envolver em polêmicas. Também não foi nada bom para a imagem de Lindsay seu namoro com o ator sete anos mais velho Wilmer Valderrama.

O auge e as drogas

Apesar de tudo, ela não poderia estar indo melhor. Em 2004, Mean Girls chega às telonas, solidificando Lindsay como uma estrela. Ela chega num patamar onde nenhuma outra pessoa de sua idade havia chegado. 

Lindsay apresenta o Saturday Night Live, grande marco de sucesso para celebridades americanas, e nele se “reconcilia” com Duff em uma cena parodizada. No mesmo ano, ela aparece na People Magazine na lista dos 50 mais bonitos, apresenta o MTV Awards e sai na capa da Vanity Fair. Ainda em 2004, seu pai é preso de novo, aumentando a atenção em Lindsay. Ela assina contrato com a Casablanca Records para seu primeiro álbum de estúdio e recebe 7.5 milhões de dólares por Herbie: Meu Fusca Turbinado (2005), algo fora dos padrões para atrizes da sua geração.

Pouco tempo depois, Lohan é internada por infecção no rim, devido desidratação por estar trabalhando demais e perde seis quilos, fato que a afetará no futuro. O álbum é adiado e Lindsay e Wilmer terminam, alegando que ela era muito nova e que o relacionamento estava indo rápido demais. Os rumores de que Lindsay era usuária de drogas só aumentam a partir disso. 

Fotos dela com amigas de infância supostamente fumando maconha vazam na internet, e em uma de suas saídas com Hilton, ela perde sua bolsa. A pessoa que encontrou a bolsa diz ter visto saquinhos com cocaína dentro, mas o agente de Lohan desmentiu e o rumor morreu ali. Nas gravações de Just My Luck (2006), relatos de que Lindsay frequentava todas as festas em New Orleans e chegava de ressaca nos sets do filme só aumentavam. Em 2013, o pai de Lindsay conta para o The Sun UK que Lindsay havia tido uma overdose por cocaína durante as filmagens:

Documentos encontrados na bolsa perdida de Lohan

“Lindsay estava filmando em New Orleans e recebi uma ligação dizendo que ela havia tido uma overdose por cocaína.” “Um de seus assistentes havia lhe dado a droga. Eu estava tão bravo que peguei uma arma de casa e planejei ir para New Orleans matá-lo.”

THE FALL

O começo do fim

Após aparecer super magra em uma festa da Cartier, a imprensa só falava sobre Lindsay. Revistas vendiam a “dieta de Lindsay”, outras condenavam seu peso. Existia até um site que dizia arrecadar comida para ela. Anoréxica, drogada e viciada em cocaína eram os apelidos mais usados. 

Durante isso, seu pai era preso de novo, significando mais atenção dos paparazzi e manchetes ruins. Em junho, fugindo dos paparazzi, ela bate o carro e os tabloides a acusam de ser irresponsável e querer tirar a atenção da mídia sobre a prisão de Michael. São incertas essas acusações, pois o abuso de paparazzi nesta época era absurdo, levando uma lei ser criada em Los Angeles que proíbe paparazzi de seguir carros.

Enquanto as polêmicas rolavam, Lindsay tentava se provar como atriz séria em um filme novo, A Última Noite (2006), ao lado de Meryl Streep e Woody Harrelson. Lohan queria se desvencilhar da imagem infantil, ao mesmo tempo que fazia parceria com a Mattel, lançando sua boneca própria. Mais tarde, ela se envolve em mais um acidente de carro, com pouca repercussão na mídia.

Lindsay pinta o cabelo de preto e começa as gravações de Chapter 27 (2007) com Jared Leto, sobre o assassinato de John Lennon. Em dezembro lança seu segundo álbum A Little More Personal (e realmente era), que mais uma vez recebe críticas ruins, apesar de músicas sentimentais como Confessions of a Broken Heart (Daughter to Father). Na mesma época vaza a famosa lista dos “36 lucky fellas”, nomes dos homens famosos com quem Lindsay teria dormido.

Sua imagem continua a ficar mais suja depois de faltar uma entrevista por suposta intoxicação alimentar, mas depois ser vista no MTV TRL Awards. No ano seguinte, ela causa barraco no evento Man of the Year da GQ e no mesmo mês é vista saindo com Kate Moss (notória por seu vício em pó), que estaria a guiando para um bom caminho. Não muito tempo depois, o Daily Mirror denunciou os vícios de Kate em cocaína, então duvidamos que quão bom esse caminho era.

Lindsay x Paris, a carta e mais polêmicas

Em fevereiro de 2006, ela sai na capa da Vanity Fair, onde assume ter usado drogas e leva a mídia a confirmar que a sua magreza era devida a abuso de drogas. Em maio Just My Luck estreia e Lindsay recebe sua primeira indicação ao Framboesa de Ouro por Pior Atriz, e mais uma vez seu filme não decola (apesar de ser um dos meus guilty pleasures). Apesar disso, recebe boas críticas pelo seu filme com Meryl Streep, mas a imprensa não presta atenção devido a uma richa com Paris Hilton causada por ex namorado Brandon Davis. Davis logo depois vai para a reabilitação tratar seu vício por cocaína, enquanto Paris e Lohan continuam brigando. No CFDA Awards, Anna Wintour supostamente teve que pedir para Karl Lagerfeld controlar sua convidada (Lindsay), que foi ao banheiro várias vezes para “retocar a maquiagem”. 

Em seu aniversário de vinte anos, ela conhece Harry Morton, que se torna seu namorado. Aqui ela começa a gravar Georgia Rule (2007) com Jane Fonda, e as notícias de suas festas constantes, ressacas e inconstância cresciam. Lindsay é internada por “exaustão por calor” (aqui em aspas, porque essa desculpa parece ser usada várias vezes pela equipe de Lindsay quando querem encobrir seu uso de drogas) e as coisas vão de mal a pior. O CEO da produtora, James G. Robinson, escreve uma carta denunciando os maus hábitos de Lindsay e os danos que ela causou à produção do filme.

Isso prejudicou sua carreira de forma irreparável, pois agora nenhum estúdio queria se arriscar a contratar Lindsay. Ninguém poderia confiar mais nela, e talvez isso tenha sido um breve wake-up call. Após esse evento, ela começou a chegar mais no horário das gravações e assumiu mais responsabilidade.

Ainda no mesmo ano, Lindsay perde uma bolsa Birkin com um milhão de dólares em jóias no aeroporto de Heaththrow, ao mesmo tempo que ela e Harry terminam. Em novembro, é vista com um um pin de 90 dias de sobriedade do Alcoólatras Anônimos, enquanto ela ainda era menor de idade (maioridade nos Estados Unidos é de 21 anos). Pouco tempo depois, Paris é vista com Harry e recebemos o grande momento da cultura pop, em que Lindsay diz “Paris is a cunt”.

Rumores de que ela havia tido uma overdose e foi ressuscitada por um médico surgem, mas nunca foram confirmados. Lindsay aparece em vídeo dizendo que Paris bateu nela e quase em seguida, a famosa foto de Lindsay, Britney e Paris acontece. A foto foi totalmente um golpe de publicidade e Paris depois disse que Lindsay era uma drogada e que não era mais bem-vinda. Apesar disso, o assistente de Lindsay vai a público dizer que ela está no AA há um ano.

Fall from grace

Em 2007, Lindsay é vista chorando em corredor de hotel depois de levar um fora do James Franco (pelo amor de Deus) no Globo de Ouro. Ela se interna em uma clínica de reabilitação para ficar longe dos paparazzi. Pouco depois, ela é acusada por uma modelo de ter roubado milhares de dólares em roupas, com fotos de mensagens de textos (mundo pré print) contendo muita baixaria.

No mês de maio, uma amiga de Lindsay vaza um vídeo dela cheirando cocaína no banheiro de uma festa, essa é a primeira evidência concreta do seu uso de drogas. Após a festa do Memorial Day de Nicole Richie, Lohan é vista com Samantha Ronson, alimentando rumores de que estavam juntas. Em uma festa no dia seguinte, Lindsay bate o carro (de novo) e surgem essas fotos icônicas. Logo depois, Lindsay vai para reabilitação (de novo).

Lindsay sai da clínica e pouco tempo depois volta para a rotina de festas, fazendo a mídia questionar sua sobriedade. Tabloides diziam que ela colocava vodka em garrafas de água e trocava cocaína por MD. Ela é vista festejando a noite toda e usando a tornozeleira de sobriedade durante o dia tomando sol. Nessa semana aconteceu um acidente em uma festa com suas assistentes. Após ser flagrada bebendo, ela briga com o namorado de sua assistente, pega o carro e sai correndo. Aqui, Lindsay é presa pela segunda vez por dirigir sob influência. Ela vai para a reabilitação de novo e admite culpa pelo uso de drogas.

O ano é 2008 e Lindsay é capa da NY Magazine, canalizando o ícone Marilyn Monroe. Ela faz aparição especial em Ugly Betty, mas teve seus episódios reduzidos por não ter se dado bem com a protagonista, America Ferrera. No mesmo ano, lançou uma marca de roupas chamada 6126, que vendia leggings de grife. Apesar disso, os tabloides só falavam sobre seu namoro com Samantha, e as especulações sobre sua sexualidade aumentaram (em 2013, Lindsay disse que é héterossexual). Em abril, elas terminam.

Em agosto sua casa é assaltada pela mesma gangue de adolescentes que furtaram a casa de Paris Hilton e Orlando Bloom. Você deve achar essa história semelhante com a de The Bling Ring (2013) dirigido por Sofia Coppola, e é porque o filme foi baseado nisso.

A Bling RIng da vida real

(Mais) problemas com a justiça

Em outubro, sua liberdade condicional concedida após sua prisão é estendida para ela completar um programa de educação sobre uso de álcool, que ela ainda não havia feito. Já em 2010, Lindsay estava em Cannes. Ela não comparece ao tribunal para responder sobre as aulas do tal programa, ela alega terem roubado seu passaporte. Apesar das desculpas esfarrapadas, o juiz intima ela a não beber mais, a fazer testes de drogas toda semana e usar mais uma tornozeleira de sobriedade. Lohan paga fiança e sai. Na próxima audiência, ela recebe 90 dias por não ter completado o programa e nem os encontros no AA. Ela se entrega e serve apenas duas semanas, devido a superlotação, e pode ficar em condicional.

Lindsay tuita que está se responsabilizando por seus atos e fazendo testes de drogas toda semana, mas que testou positivo para anfetaminas (provavelmente Adderal) no sangue. Uma semana depois, ela perde a condicional e é presa de novo, mas na mesma noite recebe fiança, mais uma tornozeleira e vai para a reabilitação. Nesse meio tempo, fotos de Lindsay supostamente usando heroína são vazadas.

Em 2011, Lindsay sai da clínica e é pega roubando um colar. Ela é acusada e recusa acordo, pegando 120h em serviço comunitário por violar a condicional e o roubo vira contravenção. Em abril, ela fica 5h na cadeia, saindo depois de pagar fiança. Admite culpa pelo colar, ganha mais horas de serviço comunitário, uma tornozeleira eletrônica e fica em casa (dando festas). Seu novo filme ao lado de Robert DeNiro, Machete, estreia, mas Lindsay legalmente não pode promover o filme. Em outubro, ela perde a condicional (de novo) por não cumprir os serviços comunitários, é presa por 2h e sai por fiança. Lindsay deve servir 30 dias e completar o serviços.

Após as diversas prisões, Lindsay parece estar retomando o controle da sua vida. Aparece no SNL mais uma vez, fazendo graça de si mesma, e aparecendo em Glee (mais rumores dela ser uma diva). Ela começa a gravar o filme Liz and Dick (2012) e em junho bate o carro (de novo) e é internada por exaustão por calor (de novo). Em um final de semana na casa de sua mãe, Lindsay liga histérica para seu pai, dizendo que sua mãe estava drogada em cocaína (a ligação foi vendida para imprensa pelo próprio pai).

Lindsay é presa mais uma vez por socar uma mulher em uma balada, mas acaba saindo impune. No fim de 2012, a IRS (Receita Federal dos EUA) apreende todas as contas bancárias da atriz, devido a mais de 200 mil dólares que Lohan devia em impostos ao governo desde 2009. Enquanto ela gravava Scary Movie 5 (2013), Charlie Sheen supostamente pagou 100 mil dessa dívida para ela. O resto, segundo a imprensa, foi pago por três bilionários com quem Lindsay saiu: o Príncipe Abdulaziz da Arábia, o hoteleiro Vikram Chatwal e o artista Domingo Zapata.

No ano seguinte, 2013, Lindsay vai para o tribunal por ter batido o carro (de novo) e pega 90 dias de reabilitação e terapia mandatória. Em agosto ela é entrevistada pela Oprah, e anunciam uma série documental sobre a vida dela. Em 2014, a série é lançada e nela, Lindsay diz que Oprah salvou sua vida, além de revelar que havia sofrido um aborto espontâneo. Apesar de várias cenas chocantes, a série não fez sucesso. Mais tarde no ano, ela se muda para Londres e cria um aplicativo chamado Lindsay Lohan: The Price of Fame.

Em 2015, Lindsay está finalmente fora da condicional depois de oito anos, além de ter contratado um novo agente. Ela começa um namoro com o herdeiro russo Igor Tarabasov em 2016, noivando depois de cinco meses e terminando depois de quatro meses depois do noivado. Lindsay diz que Igor a traiu, mas não se tem certeza. Em uma ocasião, a polícia quebra a porta de sua casa após ouvirem gritos de Lohan dizendo que Igor estava a estrangulando, nenhum boletim de ocorrência foi feito.

A fatídica mudança para Dubai acontece em 2017, e aqui Lindsay se afasta um pouco dos tabloides. Durante o infeliz julgamento de Harvey Weinstein, Lindsay defende o abusador e causa polêmica na internet. A atriz Rose McGowan disse:

“Por favor, vão com calma com Lindsay Lohan. Ser uma estrela infantil transformada em sex symbol muda sua cabeça de formas que vocês não compreendem.”

A última polêmica de Lindsay foi em 2018, quando ela fez uma live no Instagram gravando uma família de moradores de rua e querendo levar eles para a casa. A atriz foi acusada de tentativa de sequestro e preocupou seus fãs pelo comportamento.

THE COMEBACK

A Renascença de Lohan

Em 2019, Lindsay lançou um show na MTV chamado Lindsay Lohan’s Beach Club, mas desapontou quem assistiu pois ela não aparecia no show. Ela modelou um pouco, participou do The Masked Singer, fez as reuniões de elenco de Mean Girls e Operação Cupido. Em 2020, Lindsay lança sua primeira música em anos, Back to Me.

Lohan disse no podcast de sua mãe, THE OG MAMA D!, que estaria pensando em voltar para os Estados Unidos e retomar sua carreira. Em 2021, essa vontade vira verdade e Lindsay anuncia contrato de dois filmes originais da Netflix, um sendo lançado em dezembro desse ano, chamado Falling for Christmas. Ela também anuncia, em abril de 2022, seu próprio podcast The Lohdown, disponível em todas as plataformas. No mesmo mês, Lindsay participa do vídeo My Life in Looks da Vogue Americana.

Lindsay está longe das más línguas dos tabloides há uns bons anos e parece que, agora, definitivamente, ela está tomando controle da sua vida e tendo hábitos saudáveis. Não é desconhecido para ninguém os perigos de crescer dentro da indústria hollywoodiana. Outras estrelas que tiveram seu big break ainda crianças passaram por eventos traumáticos, polêmicas e abuso de álcool e drogas, como Drew Barrymore e Miley Cyrus, por exemplo. Lindsay passou por muito enquanto era apenas uma jovem sem orientação adulta.

A esperança é de que, assim como Robert Downey Jr. conseguiu dar um 360 na carreira, Lindsay também consiga. O talento ainda está dentro dela, o que falta é a mudança de comportamento e a oportunidade da indústria em confiar nela de novo. Lindsay ainda pode continuar a ser uma grande estrela e impressionar com suas atuações. Abuso de substâncias é uma doença séria, que deve parar de servir como alimento para a imprensa, que ama ver jovens adultas cheias de potencial perder tudo. A partir de agora, o que podemos fazer é apoiar Lindsay e continuar a proteger estrelas mirins, a fim de evitar mais traumas.

Porque O Diabo Veste Prada é um dos melhores filmes do século XXI 

Uma análise intimista sobre o impacto de O Diabo Veste Prada no imaginário cultural e o que faz desse filme uma obra-prima cinematográfica

Baseado no livro de mesmo nome da autora Lauren Weisberger lançado em 2003, O Diabo Veste Prada inova quando ao se tornar uma das poucas exceções da máxima “o livro sempre é melhor que o filme”. Um marco da cultura pop do século XXI, o longa se consagra como um dos melhores filmes já feitos desde, bom… sempre (de acordo com esta que escreve, pelo menos). Constantemente citado nas redes sociais, referência para outros filmes e uma eterna fonte de inspiração, O Diabo Veste Prada foi, e ainda é, a porta de entrada para vários amantes de moda e cinema.

O livro

O ano é 2003. A efervescência da virada do século se reflete na moda, que, cada vez mais rápido, muda com a evolução da tecnologia, o começo das redes sociais e o boom da cultura de celebridades e paparazzi. 

Desde os anos 80 e 90, as personalidades do mundo da moda deixaram de ficar apenas no backstage e começaram a virar celebridades por si só. Designers são cada vez mais reconhecidos e modelos viram quase semideusas, criando uma certa mística sobre suas personalidades: quem são; de onde vieram; o que fazem; com quem fazem e onde fazem? Esse ambiente foi muito propício para a virada cultural do século XXI, onde celebridades não precisavam mais ser dotadas de beleza e/ou talento.

Com a glorificação e o mistério de conhecer quem são as pessoas mais poderosas da moda, aliado ao sempre crescente império da Vogue Americana, outra celebridade havia nascido, quisesse ela ou não Anna Wintour, editora-chefe da revista norte-americana desde 1988 até os dias atuais, ascendeu à posição de Mulher Mais Poderosa na Moda e todos os holofotes se voltaram para ela.

Com sua aparência intrigante (o bob que nunca muda, os óculos escuros) e sua personalidade reservada, Wintour facilmente tornou-se alvo de fofocas e capas de revista. Quem é essa mulher que mexe todos os pauzinhos na revista mais influente do mundo? É fácil imaginar e tentar se colocar nos pés de alguém tão poderoso e aparentemente inalcançável.

É nesse cenário que O Diabo Veste Prada, o livro, nasce. Lauren Weisberger, recém-formada em jornalismo pela Cornell (também Ivy League, como a Brown, universidade que Andy estudou no livro), trabalha como assistente da editora-chefe mais amedrontadora de todas: Anna Wintour. Meio ficção, meio crítica, O Diabo Veste Prada é uma espiada nos bastidores da revista mais badalada do mundo e uma crítica venenosa sobre os membros dessa elite nova-iorquina. 

Weisberger é perspicaz ao perceber que suas experiências poderiam se tornar um best-seller e transforma tudo isso em nada mais, nada menos, do que um dos livros mais icônicos dos anos 2000. É impossível não ter curiosidade sobre o backstage de uma das indústrias mais lucrativas do mundo, que, decorada com modelos lindas, roupas fabulosas e os eventos mais comentados do ano, mascara péssimas condições trabalhistas, chefes abusivos e jogos de poder.

Dotado de uma ótima escrita e de um humor afiado, O Diabo Veste Prada é um must-read para apaixonados por uma boa fofoca, moda e cultura pop.

Tudo isso, pretensiosamente ou não, torna-se praticamente irresistível à uma adaptação nos cinemas. Três anos depois, o filme baseado no livro estreou. 

O que faz um filme brilhante

Na Frenezi, sempre batemos na tecla da importância de uma boa equipe para que o filme seja bem sucedido. Em O Diabo Veste Prada, isso é feito com a maior das maestrias. Do diretor à figurinista, do elenco ao editor: o longa é um exemplo de todas as partes trabalhando em sintonia a fim de criar não só um ótimo filme, mas se arriscar a ser um filme perfeito. Deve-se levar em consideração a opinião parcial da autora desse texto -amante do cinema e estudante de moda-, mas não é grande esforço meu te convencer que, apesar de ser grandemente subestimado como apenas mais um chick flick, O Diabo Veste Prada é, sim, um filme excepcional e que alcança sucesso em todas as categorias importantes para se destacar na minha lista de melhores filmes da história.

O roteiro

Dez páginas. Se em dez páginas você entendeu sobre o que é o filme, então é um bom roteiro. É exatamente isso que O Diabo Veste Prada faz. 

Em dez minutos você sabe quem é Andrea Sachs (Anne Hathaway), entende que ela não liga para moda e que é recém-formada em jornalismo. Conhecemos Emily Carlton (Emily Blunt), a coadjuvante, que é o total oposto de Andy. Nessa hora também somos apresentados à revista Runway, casa de metade do filme, e a Nigel (Stanley Tucci), a força contrária de Miranda, um personagem levemente baseado no eterno André Leon Talley. A vilã é Miranda Priestly (Meryl Streep): fria, rude e impossível de agradar. Essa é a grande narrativa do filme todo: Andy conseguiria ser aceita e respeitada por Miranda?

Uma falha em muitos filmes da época que O Diabo Veste Prada não comete é a falta de aprofundamento de personagens femininas.

Todas, até Emily, são facilmente assimiladas pelo público e suas motivações são sempre claras e justificadas. Um ótimo exemplo disso é a cena em que Andy encontra Miranda em seu quarto de hotel, em Paris. A Miranda do filme é muito mais humana, e é aqui onde percebemos isso. Com um toque da própria Meryl Streep, vemos a tão temida megera finalmente vulnerável, sem maquiagem, se abrindo com Andy. Não temos outra chance senão de nos compadecer com Miranda, pois, como audiência feminina ( na grande maioria), entendemos as dificuldades de obter sucesso em um mundo onde mulheres podem ter ambição, mas nunca mais que os homens. Mulheres poderosas são vistas como monstros quando homens são parabenizados pelas mesmas atitudes.

Essa genialidade é toda da roteirista Aline Brosch McKenna (e claro, também de Weisberger), rainha dos comfort movies como Vestida Para Casar, Compramos um Zoológico e Crazy Ex-Girlfriend. Eu friso aqui a importância de McKenna porque, apesar de ser um ótimo livro, de alguma forma o filme consegue ser melhor. Talvez seja a indulgência visual que o longa oferece, mas o roteiro é, de verdade, excepcional. Apesar de conter vários momentos de improvisação, grande parte do roteiro foi seguido e mesmo assim permaneceu natural, esperto e engraçado. Frases como Flowers? For spring? Groundbreaking; You eat carbs for chrissake!; Can you please spell Gabbana?, e obviamente o monólogo do suéter cerúleo são icônicos e citados até os dias de hoje.

Não é cansativo, te mantém engajado e respeita o tom da autora original. Essa seção é uma salva de palmas para Aline Brosch McKenna!

O figurino

O Oscar de Melhor Figurino de 2007 foi uma das disputas mais acirradas. Maria Antonieta (2006) é um filme incrível e um dos favoritos da Editoria de Cinema & Tv da Frenezi. A modernização do figurino de época foi extremamente bem feita por Milena Canonero, que nos poupou da previsibilidade de mais um filme histórico que não oferece nada visualmente. Dreamgirls (2006), estrelado por Beyoncé e Jennifer Hudson, também foi um ótimo filme, mas, de novo: mais um figurino histórico.

O que talvez muitas pessoas da Academia não entendem é que, apesar de grandes vestidos bufantes e perucas super trabalhadas serem, sim, incríveis, a dificuldade de construir um figurino contemporâneo que consiga representar a história, ao mesmo passo que sobreviver ao teste do tempo, é muito maior.

É nesse aspecto que Patricia Field deveria ter mais reconhecimento. Sim, Sex And The City – um outro brilhante trabalho da figurinista – foi um marco geracional, mas O Diabo Veste Prada alcança algo que SATC não consegue: o bom envelhecimento da moda da época. Em entrevista para a Harpers Bazaar em 2016, Patricia disse: “Eu acho que atemporalidade é um fator muito importante em tudo o que eu faço. É isso que faz um clássico. É óbvio o que é atemporal e o que não é, mas você precisa de tempo para achar essa resposta.” 

Field dá a impressão de, muitas vezes, tentar demais ser vanguarda e fora do normal nos figurinos da famosa série da HBO. Muitos looks de Carrie são completamente sem sentido, tanto para a narrativa quanto para a personagem. Mas, no longa de 2006, ela abaixa o tom, traz um toque de realidade e demonstra o crescimento das personagens de forma mais limpa, clara e primorosa. “Eu amo fazer moda. Eu sempre coloco a moda em todo o meu storytelling porque é quem eu sou, mas eu não estou vendendo roupas, estou contando uma história”, disse Field.

Eu poderia ficar horas e horas apontando o porquê de o figurino desse filme ser  genial, e com certeza, se você já conversou cinco minutos comigo, sabe minha fixação com absolutamente todos os looks. Vamos analisar o figurino de cada personagem e o que faz de Patricia Field uma das melhores figurinistas da geração dela (vamos deixar de lado Emily em Paris, em respeito aos olhos da audiência).

Andrea Sachs

Ah Andy, o patinho feio. Podem tentar discutir, mas ela é a pick-me girl original. Nos primeiros minutos do filme já vimos como ela é diferente das outras, como ela não liga para todas-as-coisas-femininas. Brilhantismo da roteirista? Sim. Ali já entendemos quem é Andy por completo.

Desde o começo ela demonstra desdém pelo mundo da moda, pois acha que é tudo muito superficial (alô, monólogo do suéter cerúleo, vamos chegar lá!). Os mocassins horrorosos, que ironicamente estão muito em alta, e as roupas que não fazem absolutamente nada para valorizar o corpo de Anne Hathaway, representam quem ela é naquele momento: crua e ignorante.

O momento do suéter cerúleo é, na minha opinião, a parte mais brilhante do filme todo. Aqui é o turning point da transformação de Andy, aqui ela entende a importância da indústria da moda.

“[…] esse azul representa milhões de dólares de incontáveis empregos e é quase cômico como você acha que fez uma escolha que te isenta da indústria da moda, quando, na verdade, você está usando um suéter que foi escolhido para você pelas pessoas nessa sala… de uma pilha de ‘coisas’.’’

Depois de vários outros suéteres feios, Andy falha em uma tarefa de Miranda. Procurando consolo em Nigel, que, educadamente, lhe põe no devido lugar quando fala que ela não está levando a sério o trabalho que milhões de garotas matariam para ter, ela percebe que deve mudar. Então chega a parte mais divertida do filme: a transformação. 

Andy abandona as saias medonhas, joga fora o mocassim e aposenta os suéteres desleixados. Com um bom banho de Chanel, agora a silhueta muda para algo mais liso e reto, linhas verticais e um entendimento do corpo de Hathaway. É possível perceber uma mistura do estilo das outras personagens, as cores escuras, texturas de Emily e as golas e vibe preppy de Miranda. Vemos ela experimentar com texturas e acessórios, até chegar a escolher suas próprias roupas em Paris. Quando ela se gaba para Nigel de ter ido do tamanho 40 para o 38: esse é o fim da transformação de Andy em uma das clackers que ela tanto criticava no começo do filme. Um mix de elegância e peças refinadas, a nova Andy é muito chique e totalmente diferente de quem costumava ser. Em Paris, seu estilo chega muito perto do de Miranda, com como por exemplo, o decote dos vestidos que elas usam antes de Andy se demitir (parte que, no livro, é muito mais divertida).

O que mais me aquece o coração é o último look do filme, que representa quem ela é de verdade. Mostra como ela aprendeu com Nigel, Miranda e Emily mas continuou fiel à sua essência. É uma Andy casual, prática e ainda bem arrumada. Não sente mais a necessidade de saltos de dez, mas mantém o bom corte de cabelo e as roupas que lhe servem. A transformação está completa.

Emily Charlton

A melhor personagem do filme inteirinho é Emily. Trabalhadora, determinada, irônica, a fashionista que amamos odiar. Ela leva seu trabalho muito a sério e não deixa ninguém interferir nos seus planos. Emily e Nigel são os mais engraçados do filme todo, pois mesmo com os estereótipos, são uma representação fiel das pessoas de moda. 

Sua personalidade fria e distante é demonstrada em sua paleta de cores: pretos, cinzas e tons escuros. Emily não é só mais uma clacker, ela é mais avant-garde. As escolhas de peças não são óbvias e mostram seu lado mais arrojado, com silhuetas interessantes e linhas afiadas. Vivienne Westwood e Rick Owens estão presentes no seu guarda-roupa, marcas que, na época, eram mais desconhecidas. Os toques de cor vem nas suas maquiagens (sou obcecada pelas sombras que ela usa) e, obviamente, seu cabelo vermelho brilhante, demonstrando sua personalidade forte. 

Ao contrário de Andy, ela não passa por uma transição de estilos pois ela sabe quem é e onde quer chegar. Patricia Field contou para a Bazaar: “[Emily Blunt] foi a atriz com quem eu pude ser um pouco mais expressiva. Eu podia arriscar, ter liberdades, porque ela conseguiria segurar isso dentro do jeito que ela interpretou a personagem. Ela interpretou com ousadia e expressão, então eu juntei isso com o figurino.”.

Miranda Priestly

Miranda é o suprassumo da classe e elegância. Ao conhecer Meryl Streep pessoalmente, Patricia pensou imediatamente em Donna Karan. “Eu fui para os arquivos de Donna Karan, porque quando ela começou nos anos 1980 e 90, suas silhuetas eram clássicas, atemporais, vestiam bem as mulheres e não eram complicadas.”.

A ideia era criar um guarda-roupa para Miranda que não refletisse as tendências da época e, dessa forma, parecesse já ser seu estilo próprio. Para criar a aparência de uma editora-chefe poderosa, Patricia evitou propositalmente fazer a conexão com Anna Wintour. Ela queria criar algo novo, que não tivesse sido feito antes. Junto de Meryl e seu hair stylist, o penteado totalmente branco de Miranda nasceu, parcialmente inspirado pela ex-editora da Harper ‘s Bazaar, Liz Tilberis.

Miranda é clássica, mas também um pouco sexy. Era importante para Streep e Field mostrar esse lado poderoso em mulheres mais velhas. A única vez que vemos Miranda com um look simples é em Paris, quando seu marido pede o divórcio e ela se abre com Andy, mostrando vulnerabilidade.

Os fabulosos casacos de pele, os terninhos, bolsas, óculos escuros e cintos foram todos um mix de Donna Karan, com toques de Valentino e, claro, Prada. 

Field conseguiu dar personalidade a uma das personagens mais memoráveis da cultura pop, fazendo você não só temê-la, mas também desejar ser ela.

O elenco

Boa parte do sucesso de O Diabo Veste Prada veio pelo alto calibre do elenco. Obviamente, quando se tem Meryl Streep a bordo, as coisas vêm muito mais facilmente. 

Anne Hathaway ainda estava no começo da carreira, tendo deixado a Disney depois de O Diário da Princesa, e obteve elogios em seu papel coadjuvante em O Segredo de Brokeback Mountain. Era o seu primeiro filme “sério” como protagonista. Emily Blunt também teve sua estreia em um filme mais reconhecido internacionalmente, impressionando a todos.

Stanley Tucci não precisava de introduções… ator versátil, engraçado e perfeitamente perfeito. Todo filme é um bom filme se tem Stanley Tucci no elenco (amo ele em A Mentira).

Meryl Streep conquistou mais uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, e todo o resto do elenco continuou a ter uma carreira longa e bem sucedida. Apesar de amar todas as atuações, nenhuma delas acima citada é a minha parte preferida do filme. Como falar da genialidade de trazer Gisele Bündchen para fazer uma pontinha?

Faz todo o sentido trazer a melhor e mais famosa modelo do mundo, no melhor e maior filme de moda da história. É engraçado porque Gisele é citada no livro, na parte em que Andy vai para o Met Gala. Ela diz que a Gisele não é tão bonita assim pessoalmente, e adoro a ironia do diretor David Frankel em trazer ela como um membro da Runway. Na verdade, a ideia veio da roteirista Aline, que encontrou Gisele em um voo. A über disse que só participaria se ela não interpretasse uma modelo.

Personalidade intrínseca à moda dos anos 2000, Gisele como Serena não só traz aquele momento de ‘ei! eu conheço ela!’, mas também mostra como em sintonia estavam as pessoas que fizeram o filme com o who is who do mundo da moda.

Outras menções honrosas são Heidi Klum e, claro: Valentino Garavani. Wendy Finerman, a produtora do longa, foi quem conseguiu a aparição do designer. Acerca do medo de muitas pessoas de participar do filme e irritar Anna Wintour, Wendy disse: “Ele tomou uma posição, alguém ia se manifestar e nos apoiar, e isso foi ótimo porque ter Valentino nos deu credibilidade. Ele é um ícone.”. 

A música

Sim, chegou a hora de falarmos da cena de abertura.

O poder que essa sequência tem sobre mim não é normal. Toda vez que eu me arrumo para sair, Suddenly I See da KT Tunstall toca automaticamente na minha cabeça. Julia Michels é a responsável pela supervisão de música de O Diabo Veste Prada e muitos outros filmes como Pitch Perfect (2012) e Nasce Uma Estrela (2018).

Músicas de Madonna, U2, Alanis Morissette e outros artistas incríveis, trazem um toque especial ao filme. Um destaque também para Theodore Shapiro, que compôs a música original do filme, tão icônica quanto às acima citadas.

O legado e o futuro

Dezesseis anos depois, O Diabo Veste Prada se mantém relevante e permanece no topo dos filmes mais amados do século. Um perfeito exemplo de excelência, o longa conquistou um público que excede as barreiras de idade e gênero, sendo apreciado por todos os tipos de telespectadores. 

Após se tornar um ícone da cultura pop, ele ascendeu ao status de obra-prima. É possível para cada pessoa se identificar com alguma parte do filme. Em entrevista à Teen Vogue, Lauren Weisberger disse: “Na final das contas, é sobre uma garota recém-formada da universidade que não só tem o seu primeiro emprego depois da faculdade, mas também uma chefe terrível. É algo que eu ouvi várias e várias vezes de jovens mulheres pelo país todo. Nem sempre se parecia com Miranda Priestly, e nem sempre era na indústria da moda, mas todo mundo teve essa experiência. Pareceu universal.”

O filme não mudou só as nossas vidas, como também o mundo da moda afora. Abriu espaço para mais pessoas desabafarem sobre as péssimas condições de trabalho, abusos e bullying. Anna Wintour até citou o filme no documentário da Vogue The September Issue

Anna também foi em grande parte impactada pelo filme, sempre usando isso a seu favor. Na reunião do elenco em 2021, a roteirista Aline contou para a Entertainment Weekly que Wintour estava presente nas primeiras screenings de O Diabo Veste Prada. “Ela sentou bem na minha frente e do David Frankel com a filha dela e vestiu Prada, o que mostra que ela tem um grande senso de humor!”.

E o legado de Lauren Weisberger não para por aí. Esse ano mesmo, o musical baseado no livro e filme estreia na Broadway, com músicas compostas por ninguém mais, ninguém menos, que Sir Elton John. “É tão legal que ainda seja relevante, que ainda se mantenha”, disse Lauren para o Independent.

A previsão é de que esse legado continue a se expandir, pois, assim como o figurino, o filme é eterno e continuará sendo citado pelos anos seguintes. Sei que ainda vou recorrer a ele em dias que preciso de um comfort movie ou de apenas uma inspiração. O Diabo Veste Prada é um exemplo do poder dos filmes em nos acompanhar pela vida, e ser parte intrínseca dela.

Você pode rever O Diabo Veste Prada no Star+

[Crítica] Noite Passada em Soho: a grande ambição de Edgar Wright

ALERTA DE SPOILER

O novo terror psicológico de Edgar Wright estreou em outubro nos Estados Unidos, e desde então colecionou críticas mistas. Na última quinta-feira (18), o filme chegou aos cinemas brasileiros e marcou sua estreia como um dos mais antecipados do ano entre os amantes do gênero. Com um elenco estrelado pela favorita do ano Anya Taylor-Joy (O Gambito da Rainha), Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit) e Matt Smith (The Crown), Noite Passada em Soho apresenta um show de cores e psicodelia para quem assiste.

Ambientado entre duas épocas, o longa segue Eloise Turner (Thomasin McKenzie), uma jovem tímida do interior da Inglaterra que se muda para Londres a fim de estudar moda na London College of Arts. Lá, ela encontra dificuldades em se encaixar e logo adentra um mundo de alucinações quando se muda para um quitinete alugado pela Sra. Collins (Diana Rigg). Em seus sonhos, Eloise conhece Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora nos anos 1960, que procura Jack (Matt Smith) para ser seu agente, até que as coisas vão para um mau caminho.

Imagem: Reprodução/PARISA TAGHIZADEH

O filme tem um roteiro que procura alcançar várias tonalidades, e temas como saúde mental, traumas e assédio sexual são abordados em meio a um cenário colorido e ilustrado pelas ruas de Londres. Desde o começo conhecemos Eloise como uma garota sonhadora e inocente, que mora com a avó e lida com o falecimento de sua mãe. É comentado já no início que Eloise é sensitiva e capaz de ver imagens de sua mãe, a qual também tinha problemas mentais que levaram à sua morte, e é essa habilidade que carrega o filme todo.

Após sentir-se hostilizada na república de estudantes, Eloise procura um quarto para alugar na rua Goodge 8, onde é apresentada Sandie, personagem que Eloise acompanha nas ruas londrinas dos anos 1960. Toda vez que Eloise dorme, ela viaja ao passado e se encanta pela cantora, que costumava dormir no mesmo quarto na casa da Sra. Collins. A personagem de Anya Taylor-Joy é, assim como a atriz, cativante e impossível de tirar os olhos. 

Com um figurino impecável e fiel à época, não há como não se deixar levar pela visão romantizada de um cenário tão vivo no imaginário atual. A efervescência cultural de Londres, o Swinging Sixties e a promessa de sucesso de uma nova era é o mood ditado por Wright nas sequências do passado. É irônico como é essa mesma romantização da época, sob a perspectiva da protagonista Eloise, é aos poucos quebrada à medida que ela conhece mais Sandie e Jack. 

Imagem: Reprodução/PARISA TAGHIZADEH

A cada vez que Eloise dorme, a vontade de passar mais tempo no passado aumenta. Porém, logo ela descobre as dificuldades que Sandie enfrenta no show business londrino, regado à prostituição e homens predadores. Jack torna-se, então, o vilão da história. Aqui, Edgar Wright mostra uma das suas maiores intenções: o verdadeiro perigo são os homens da vida de Sandie. Quão longe ela iria para conquistar seus sonhos? Quanto ela sacrificaria? O antagonista Jack – brilhantemente atuado por Matt Smith que, sem dificuldade, passa o ar assustador necessário – pressiona Sandie a prostituir-se, até ela perder sua essência. 

Enquanto isso, Eloise começa a ficar cada vez mais instável e tenta salvar Sandie a todo custo. Essa talvez seja a parte mais emocionante do filme, quando a realidade se mistura com alucinações da vida passada. A expectativa de saber o que aconteceu com Sandie cresce a cada minuto e é ilustrada pelos incríveis efeitos especiais do filme. 

Imagem: Reprodução/PARISA TAGHIZADEH

Os vilões, homens que abusaram sexualmente de Sandie, vão aterrorizando diariamente Eloise, que começa uma investigação para encontrar Jack na vida real. E é aqui que o filme decai em qualidade de roteiro. O que antes era uma busca psicológica e instigante, vira uma confusão mal trabalhada. As visões dos abusadores são impactantes no começo, mas depois viram apenas um jumpscare. Além disso, à medida que Eloise perde sua sanidade mental, o ritmo acelera e atropela a história. 

Apesar de um crescimento fantástico, o roteiro peca na busca de Eloise por Jack, que poderia ter sido trabalhada de uma forma melhor. Ela confunde Jack por Lindsay, um personagem que foi brevemente introduzido no passado e precisava de mais tempo de tela para criar um impacto maior no espectador quando a confusão é explicada. Assim como Lindsay, John (amigo de Eloise), cativa e promete ser um dos melhores personagens do longa, mas não é aprofundado e seu relacionamento com a protagonista acaba sendo raso.

Wright, entretanto, consegue camuflar essas pequenas falhas com um show de efeitos especiais e cores incríveis, fazendo com que mal se preste atenção nisso.  A fotografia é, com certeza, o quesito mais digno de premiação em Noite Passada em Soho, junto das atuações (em especial da novata Thomasin McKenzie).

Imagem: Reprodução/PARISA TAGHIZADEH

O maior erro do filme, algo que nem a estética salvou, foi o final. O foco de repente vira a Sra. Collins, que revela ser Sandie, ou seu nome real: Alexandra Collins. O roteiro tenta convencer que Sandie é a verdadeira vilã, que assassinou os homens que tentaram estuprá-la e os escondeu debaixo do piso da casa. Apesar de uma sequência visual interessante, é mais do que decepcionante o jeito com que Eloise descobre a verdade sobre a Sra. Collins e entende o que realmente aconteceu.

Collins simplesmente entrega em uma conversa a resolução do filme todo e muda a narrativa inicial, aliada a uma cena desconcertante onde os homens mortos pedem ajuda à Eloise, como se indicassem ser as reais vítimas do filme. É estranha a forma que Wright termina o longa, pois passou mais da metade do filme mostrando a misoginia e a realidade das mulheres no show business, só para colocar uma das protagonistas como uma assassina fria. 

Não existe a sensação de descobrir aos poucos o que realmente aconteceu, porque isso foi explicado palavra por palavra. Sandie, que recebeu tanta profundidade, agora é Alexandra Collins, uma mulher traumatizada em sua juventude que não recebe a mesma profundidade na velhice. 

O que era um filme sobre um medo extremamente real de mulheres do mundo todo, termina de forma agridoce. Edgar Wright, mais uma vez, conquista uma narrativa estética brilhante, como é visto em Baby Driver (2017) e Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010). É admirável a ambição de Noite Passada em Soho, que apesar dos pesares, consegue lidar com saúde mental e traumas ligados à abuso sexual de forma interessante e – até certo ponto – respeitosa às suas importâncias. 

É definitivamente um filme para a lista de filmes que é necessário assistir para criar a própria opinião, mas ainda é uma experiência divertida e de agarrar o assento. Noite Passada em Soho é um dos melhores filmes do ano até agora e, com certeza, uma razão para ir aos cinemas.

Veja o trailer abaixo:

Don’t Watch-List

O que faz um filme bom? O diretor, o roteirista, o elenco? Ou o telespectador?

Durante a história do cinema, vários filmes foram elevados ao status de obra-prima (como por exemplo, O Poderoso Chefão) e outros… Nem tanto. Sabe-se que filmes são produções feitas por pessoas, mas quem são essas e como trabalham juntas é o que pode fazer um filme ser indicado ao Oscar ou ao Framboesa de Ouro. 

Como explicado no Manual do Cinéfilo, cada departamento é de extrema importância para o sucesso do longa. Mas e quando mesmo com grandes nomes, o filme desaponta? Quais são os pontos que precisam ser acertados para criar uma boa experiência para quem assiste? A Frenezi não traz, dessa vez, a lista das melhores produções já feitas; essa é a lista de decepções. 

É comum dizer que a beleza está nos olhos de quem vê, mas nesses casos, foi difícil manter os olhos abertos. Roteiro péssimo, más atuações, efeitos especiais mal feitos e enredo ruim no geral: todos os porquês para NÃO assistir os filmes a seguir.

Cinderella (2021)

Cinderella' Trailer: Camila Cabello Stars in Amazon Movie - Variety
Kerry Brown / Courtesy of Amazon Studios

O filme de estreia da cantora Camila Cabello foi lançado no dia 3 deste mês no Amazon Prime Video. Dizer que o filme é ruim seria um eufemismo. 

O enredo segue a história clássica da Cinderela: uma moça que perdeu o pai e é mantida como empregada pela madrasta e meias-irmãs, até ir ao baile com ajuda da fada-madrinha e depois casar-se com o príncipe. Com tantas recriações da mesma história, o que fez Cinderella (2021) ser tão decepcionante?

Apesar do elenco ter grandes nomes como Pierce Brosnan (Mamma Mia), Idina Menzel (Encantada) e Minnie Driver (Gênio Indomável), não foi suficiente para deixar o filme agradável. Com atuações rasas dos atores principais (Camila Cabello e Nicholas Galitzine) e um roteiro pobre, Cinderella deixou muito a desejar.

Um dos piores aspectos com certeza foram as músicas. Não foi o melhor momento para Cabello, que é cantora. Além das canções originais mal escritas, os covers de músicas famosas como Somebody to Love da banda Queen, Material Girl da Madonna e Am I Wrong de Nico & Vinz fizeram 1h53min de filme parecer uma eternidade. Toda a seleção musical do filme não faz sentido e parece bagunçado.

E sobre a bagunça: o figurino. Não é possível entender nem em que século a história deveria acontecer. Muitas vezes é optado pelos produtores manter uma certa liberdade no figurino quando o filme é fantasia, e isso pode ser muito bem feito, como em Cinderela (2015), mas não dessa vez. Mesmo tentando relevar os figurinos sem sentido dos figurantes, os looks apresentados por Cabello são extremamente decepcionantes.

The Timeless Costumes in Camila Cabello's 'Cinderella' Reference Chanel and  '80s Lacroix - Fashionista
Courtesy of Amazon Studios

Na parte mais esperada do filme, a transformação, Cinderella ganha um terno azul – uma tentativa fracassada de parecer progressista – e, só então, o vestido do baile. O vestido é tão feio que ela deveria ter ido de terno. A fada-madrinha interpretada por Billy Porter (provavelmente a única coisa boa nesse filme) com certeza estava melhor vestida do que a personagem principal.

Para finalizar: não foi nada mais do que um esforço em vão de alavancar a carreira de Cabello, que talvez, por enquanto, deva se ater a apenas cantar. Com um roteiro que tenta o tempo todo forçar um tipo de ideia do que seria feminismo, o longa permanece superficial e falha em inovar de forma bem sucedida.

Um Dia de Chuva em Nova York (2019)

Um Dia de Chuva em Nova York - O Ultimato | Ultimato do Bacon
Divulgação/ Imagem Filmes

Um típico filme de Woody Allen que, sem surpresa, desaponta. 

Na receita cansada de Allen, Um Dia de Chuva em Nova York apresenta mais do mesmo: um grupo de pessoas complicadas em alguma cidade famosa do mundo, dessa vez Nova York. Apesar de um bom elenco, que conta com Timothée Chalamet no papel principal, Selena Gomez, Elle Fanning e Jude Law, o filme é extremamente entediante.

Gatsby (interpretado por Chalamet) é um jovem pretensioso que leva sua namorada, a jornalista Ashleigh (Elle Fanning) para um fim de semana em Nova York. A relação é sem química, visto que os dois mal se veem durante os dias. Gatsby reencontra Chan (Selena Gomez), irmã de sua ex-namorada e Ashleigh passa seu tempo com o diretor Rolland Pollard (Liev Schreiber), nome que, estranhamente, lembra muito outro certo diretor com alegações pesadas de assédio sexual…  

Um dos maiores erros do filme deve ser a falta de empatia que o espectador cria por Gatsby, que só reclama sobre tudo e passa um ar antipático. Os diálogos sem sentido e uma narrativa sem fundamentos são aspectos que nem as boas atuações de Chalamet, Gomez e Fanning conseguem salvar. Ashleigh e Chaz são uma das poucas partes aproveitáveis do filme, mas o mérito é todo das atrizes, não do roteiro.

Além disso, o final também decepciona e não traz muita resolução para os personagens. Um Dia de Chuva em Nova York é mais um trabalho clássico de Woody Allen: pretensioso e entediante. O atrativo do filme (o elenco) é sabotado pelo diretor e simplesmente não vale 1h32min.

The Neon Demon (2016)

The Neon Demon – O Demónio de Néon, em análise | Magazine.HD

Mais um filme de Elle Fanning, infelizmente. Apesar de ser uma grande atriz e demonstrar isso no longa, a experiência de assistir ao filme é totalmente de virar o estômago.

O terror é dirigido por Nicolas Winding Refn e conta com nomes como Fanning, Abbey Lee Kershaw (Mad Max 2015), Jenna Malone (Jogos Vorazes) e Keanu Reeves (Matrix). A história fala sobre Jesse, que se muda para Los Angeles aos dezesseis anos a fim de se tornar modelo. Lá, ela lida com os desafios e tentações da indústria, assim como a inveja das outras modelos. 

Pensando assim, o filme não parece ser tão pesado. Mas é, e muito. The Neon Demon não é necessariamente ruim, pois cumpre seu papel de chocar o espectador, somado à linda fotografia e atuações incríveis. Mas não é para qualquer um e deveria ter uma classificação indicativa de dezoito anos, tendo em vista que apresenta várias cenas extremamente gráficas, como canibalismo e necrofilia.

É difícil assistir Jesse passar por tantos abusos e ver os outros personagens cometerem crimes tão nojentos. A cena com Keanu Reeves é totalmente assustadora e dá vontade de – fisicamente – vomitar. O pior talvez seja a última meia-hora, quando o dedo já está no botão de desligar do controle-remoto mas o enredo obriga a assistir até o final para ver até onde o horror continua. Spoiler: vai até o último minuto. 

The Neon Demon acerta o que queria acertar, mas vale a pena 1h58min de trauma? A resposta é não.

Gatinhas & Gatões (1984)

Prime Video: Sixteen Candles
Divulgação / Amazon

Um dos clássicos das comédias românticas adolescentes, Gatinhas & Gatões é um dos filmes mais amados da década de 1980.

Com a rainha do gênero, Molly Ringwald (de Clube dos Cinco e A Garota Rosa Shocking), o filme deve ser um dos mais decepcionantes do diretor John Hughes (Curtindo a Vida Adoidado). Apesar de ter a receita para o sucesso com o combo Ringwald + Hughes, Gatinhas & Gatões não traz nada de novo.

Como todo filme adolescente dos anos oitenta, não dá para esperar grandes roteiros ou fotografia. Mas o que mais decepciona no filme são, é claro, as piadas machistas e estereótipos super manjados. Se não prestar muita atenção pode-se até aproveitar o longa, mas há momentos tão ultrapassados que hoje em dia são difíceis de superar.

Na pior cena do filme, Jake Ryan (Michael Schoeffling) diz para Ted (Anthony Michael Hall), que sua namorada está desmaiada de bêbada e que ele “poderia violá-la de dez formas diferentes, se quisesse”, Ted responde com “o que você está esperando?”. Depois, Jake deixa Ted levar ela para casa e diz para ele se divertir. 

Na época do #MeToo Movement, Molly Ringwald disse em artigo para o The New Yorker: “Se as atitudes em relação à subjugação feminina são sistêmicas, e eu acredito que são, é lógico que a arte que consumimos e aprovamos desempenha um papel no reforço dessas mesmas atitudes”, quando falando da cena mencionada acima. 

Se até Ringwald concorda que o filme é ultrapassado e não reflete os dias de hoje, talvez seja preferível escolher assistir Clube dos Cinco da próxima vez.

Ligeiramente Grávidos (2007)

Ligeiramente Grávidos | É bom e Vale a pena Assistir? Confira Trailer,  Sinopse e mais

Do diretor de famosas comédias besteirol, Judd Apatow, (O Virgem de 40 Anos), não acerta a mão desta vez.

Em Ligeiramente Grávidos, Katherine Heigl (queridinha das romcom) é Alison, uma jornalista que se vê em apuros quando engravida depois de uma ficada de uma noite só com o fracassado Ben, interpretado por Seth Rogen. Além dos dois, Leslie Mann (esposa de Apatow) e Paul Rudd estão no elenco. E nenhum desses nomes consegue salvar o filme. 

Talvez a culpa seja inteiramente de Seth Rogen, que por algum motivo, em todos esses anos de carreira, não consegue sair do mesmo typecasting e estraga quase todos os filmes em que atua. Ou talvez a culpa seja do roteiro péssimo que não engaja quem assiste e faz um filme que já é longo (2h13min), parecer mais longo ainda. 

Não é esperado uma grande obra-prima cinematográfica de uma comédia, mas essa nem engraçada é. O filme cria um sentimento de agonia e dó em relação à Alison, pois Ben não é nem um pouco capaz de criar um filho. O relacionamento é totalmente forçado e os dois não têm nada em comum, logo não é possível torcer pelo casal. 

O humor “de maconheiro” que sempre acompanha Rogen onde quer que ele vá, simplesmente não funciona e é extremamente irritante ao decorrer do filme. Ligeiramente Grávidos é mais um para a lista de filmes que não deveriam ter sido feitos.

Cats (2019)

Trilha sonora do filme 'Cats' tem Taylor Swift, Jennifer Hudson e mais;  ouça | Jovem Pan
Divulgação / Monumental Pictures

Não tem como fazer uma lista de filmes ruins e não incluir Cats.

É na verdade, impressionante, que um filme com atores de tanto renome como Judi Dench (007), Idris Elba (Thor: Ragnarok), Ian McKellen (O Senhor dos Anéis), e cantores incríveis como Taylor Swift e Jennifer Hudson, seja tão ruim. Talvez Cats seja o pior filme desta lista. 

É quase impossível assistir do começo ao fim. E é difícil apontar qual departamento mais errou, porque nesse caso podem ter sido todos. Os produtores falharam em entender que um musical quando adaptado para as telas, deve ter um ritmo diferente. As músicas e os diálogos não são bons e não conseguem segurar o enredo. 

Porém, o que definitivamente marca Cats como um dos piores filmes desse século são os efeitos especiais. A ideia de transformar os atores em gatos – literalmente -, não funcionou nem um pouco. É mais um dos obstáculos da passagem Broadway-Hollywood que Tom Hooper (diretor) não superou. 

Assistir aos atores mexendo as orelhas e enrolando o rabo não é algo que alguém queira ver e é praticamente humilhante. Esse filme deveria ser passado em câmaras de tortura. 

Thor (2011)

Ficha Técnica | Thor (2011) - Entreter-se
Divulgação / Marvel Studios

O filme marca a estreia de Chris Hemsworth como Thor no Universo Cinematográfico Marvel e até hoje é considerado o pior dos 23 filmes.

Thor (2011) introduziu um novo herói na época em que a Marvel Studios ainda estava construindo o seu império. Apesar de ser compreensível que os produtores estavam testando o terreno em termos de público e aceitação, o filme desaponta.

Mesmo contando com um elenco bom e efeitos especiais interessantes para retratar a terra fantasiosa de Asgard, esses aspectos não foram suficientes. O problema é quando Thor chega à Terra e começa um relacionamento com Jane (Natalie Portman). O casal não faz muito sentido no enredo e o humor é um tanto forçado.

Com o nível de produção dos filmes da Marvel, a história não agrada e é uma experiência entediante. Thor é totalmente esquecível – uma pena, considerando que o personagem é um dos mais engraçados e aprofundados da UCM. 

Let Them All Talk (2020)

CRÍTICA - 'Let Them All Talk': Soderbergh entre Bergman e Allen sem ser  incisivo
Divulgação / HBO Max

Este é mais um dos casos de um grande elenco que não conseguiu carregar o filme.

Lançado diretamente no streaming HBO Max em dezembro do ano passado, Let Them All Talk conta a história de três senhoras amigas de longa data que viajam juntas em um navio depois de anos sem se verem. O elenco tem nomes de peso como Meryl Streep, Dianne Wiest, Candice Bergen e Gemma Chan.

Não há dúvidas que as atuações são de qualidade, mas o roteiro teve um direcionamento curioso. O diretor Steven Soderbergh (Erin Brockovich 2000) deixou campo livre para que as atrizes improvisassem. Escolha muito interessante, mas que simplesmente não funcionou muito bem. 

A trama escorre muito lentamente e fica difícil entender sobre o que se trata. O roteiro (ou a falta dele) deixa confusa a intenção do diretor e os diálogos quase embalam o sono. 

Apesar dos personagens bem definidos e uma premissa interessante, Let Them All Talk transmite a mesma sensação que os filmes de Woody Allen (o que não é uma boa coisa). 

Esses são alguns exemplos de quando as engrenagens delicadas de um filme não funcionam tão bem quanto deveriam. 

Porém, é importante lembrar que em Hollywood nem sempre má qualidade significa más cifras, e alguns dos filmes acima fizeram relativo ou muito sucesso de bilheteria, o que evidencia que muitas vezes outros mecanismos fazem um filme se destacar: um casting poderoso, o pertencimento a uma franquia ou um diretor de renome encabeçando o projeto. Atrativos que podem fazer com que, muitas vezes, um filme não tão bem produzido; com um roteiro não muito bom; ou medonhos efeitos especiais lotem as salas de cinema, não fazendo jus a sua verdadeira qualidade.

Viúva Negra e a sexualização das adaptações de quadrinhos no cinema

No dia 8 de julho, aconteceu o lançamento do filme Viúva Negra, filme solo da personagem protagonizada por Scarlett Johansson. O longa já atraiu polêmicas com o processo da atriz alegando quebra de contrato por parte da Disney, mas, outro aspecto do filme também merece atenção: o figurino. 

Desde sua primeira aparição no cinemas em 2010, no filme Homem de Ferro 2, Natasha Romanoff virou uma personagem querida pelos fãs de quadrinhos e filmes de super-heróis. A Viúva Negra permaneceu sendo a única integrante mulher da formação original dos Vingadores no Universo Cinemático Marvel até sua morte em Vingadores: o Ultimato (2018). A falta de representação feminina nesse meio foi notada pela Disney, que começou a tentar corrigir nos últimos anos. A mudança foi perceptível ao observar o tratamento da personagem nos últimos onze anos. 

Em seu primeiro filme, ela é vista apenas como algo a ser desejado, como o próprio Tony Stark diz depois de a ver pela primeira vez: “Eu quero uma”. Essa visão objetificada é totalmente refletida em seu figurino. Um macacão extremamente apertado certamente não é a opção mais óbvia para lutar, muito menos com o decote à mostra. O cabelo perfeitamente solto e cacheado e a bota de salto também não. 

Imagem de Divulgação / Marvel Studios

Apesar de grande parte da personalidade da heroína ser baseada no uso da sensualidade para manipulação, Scarlett Johansson contou esse ano, em entrevista para o site Collider: “Ela é tratada como um pedaço de algo, uma posse – como um pedaço do seu traseiro, na verdade”. A atriz também disse que seu pensamento era diferente na época do filme e que sua autoestima provavelmente era mensurada por esse tipo de comentário.

Ao longo de onze anos, Natasha passou por diversas mudanças de cabelo e algumas de figurino, mas nunca recebeu o desenvolvimento de personagem que merecia. Sua história nunca tinha sido aprofundada e ela era usada apenas como ponto de apoio nos enredos dos outros personagens masculinos, como em Capitão América 2: o Soldado Invernal. Agora, em 2021, com o seu filme solo esperado por muito tempo pelos fãs, a Viúva Negra pode, finalmente, ter o holofote que tanto precisava. 

Com Johansson na produção e Cate Shortland na direção, há uma narrativa focada na evolução da personagem de forma mais humanizada. Essa nova perspectiva é vista na mudança do macacão clássico da Viúva Negra por um branco com mais ênfase no conforto, assim como seu cabelo amarrado longe do rosto em tranças. 

Imagem de Divulgação / Marvel Studios

Para a Collider, Scarlett disse: “Eu tenho um entendimento muito mais evoluído de mim mesma hoje. Eu sou mais compreensiva comigo como mulher – provavelmente não o suficiente, mas me aceito melhor e tudo isso está relacionado ao afastamento dessa sexualização”.

Porém, infelizmente, não é apenas Natasha Romanoff que sofreu com a sexualização e falta de aprofundamento no cinema. A Mulher Maravilha, a Mulher Gato e a Arlequina também passaram por algumas representações carregadas por male gaze e, com o tempo, evoluíram conforme a indústria foi reconhecendo os danos dessa prática. Figurinos totalmente desconfortáveis e nem um pouco apropriado para lutas, peles à mostra vulneráveis, cabelos ao vento e botas de salto alto são parte do combo personagem-feminina-de-quadrinhos que, apesar de poder funcionar no papel, no cinema acaba parecendo absurdo e quase cômico. 

Perto da profundidade e cuidado com qual os homens no mundo dos quadrinhos recebem nas adaptações, é nítido o tratamento injusto e sexualizado que a Viúva Negra e outras heroínas receberam todos esses anos e que, só agora, começaram a ser notadas e discutidas. Quando o constante male gaze é presente no material original da adaptação (HQ’s com personagens – não só femininos – hiperssexualizados), fazer a cópia fiel nas telonas parece lógico para algumas pessoas.

 Porém, é preciso saber entender o que faz sentido manter e o que mudar. Grandes histórias, como essas escritas nos quadrinhos, por vezes precisam  ser ajustadas para conversar com o mundo atual, alcançar novos públicos e sobreviver.

Confira o trailer: