Artistas nacionais para ficar de olho no Lollapalooza Brasil

A data da edição brasileira do Lollapalooza, um dos festivais mais conhecidos do mundo, chega cada vez mais perto, e, com isso, a expectativa dos fãs por grandes apresentações de seus músicos favoritos aumenta. Muitas das vezes, os que carregam legiões de fãs para os festivais são atrações principais. No entanto, diversos artistas que não estão entre os headliners prometem fazer shows à altura do festival. 

Dentre as atrações confirmadas na edição deste ano, há uma série de artistas nacionais que têm crescido em suas carreiras e elaborado trabalhos interessantes, merecendo atenção especial do público. A Frenezi separou alguns dos destaques para o festival, que acontecerá em São Paulo, nos dias 24, 25 e 26 de março.

Edição de 2022 do Lollapalooza Brasil / Imagem: Divulgação (Facebook/Lollapalooza Brasil)

Gab Ferreira (sexta-feira, 12:00-12:30)

Artista independente que faz parte do cenário de música pop alternativa no Brasil, a cantora, que teve um começo mais alinhado ao pop e ao R&B, familiarizou-se com a cena indie depois de seus primeiros lançamentos. Gab possui um show com um formato mais eletrônico, com destaque para os beats e a guitarra. A apresentação no Lollapalooza acontece no momento de maior maturidade musical da artista, em que suas obras mais recentes soam como algo mais completo e com uma identidade bem estabelecida.

Clipe de Not Yours, canção de Gab Ferreira

Em entrevista para o canal “Som no Set”, a cantora definiu a música como liberdade e uma forma de se expressar e testar coisas novas. Isso é evidenciado de forma bem clara nas suas próprias canções, já que a artista variou o seu estilo musical ao longo de sua trajetória.

Brisa Flow (sexta-feira, 12:30-13:15)

Primeira indígena originária marrona a se apresentar no Lollapalooza Brasil, a artista preparou uma apresentação especial para o festival. A cantora possui um repertório com foco no rap, mas que explora a ancestralidade por meio de cantos e efeitos sonoros. Como realizou licenciatura em música e especialização em arte-educação, Brisa entende que a arte é uma forma de evitar que tradições e conhecimentos culturais sejam esquecidos ou apagados ao longo do tempo.

Clipe de Making Luv, música de Brisa Flow

A artista nasceu em Minas Gerais e é filha de dois artesãos chilenos que fugiram da ditadura em seu país. Ela explora sua representatividade e exerce seu papel político também fora das canções, posicionando-se em questões sociais e buscando transformar a cena em um lugar com mais diversidade, valorizando e potencializando a cultura brasileira e latino-americana.

Mulamba (sábado, 12:00-12:30)

Utilizando a sonoridade do rock e da MPB para se pronunciar contra o que há de errado na sociedade, a banda formada em Curitiba dá ênfase ao empoderamento feminino, ao combate ao machismo e à igualdade de gênero. Lançaram, por exemplo, uma música contra a violência contra travestis e mulheres transexuais. A canção tem o nome de Dandara, que se tornou símbolo de resistência também na luta contra a transfobia após o assassinato da travesti Dandara dos Santos. Mantendo o caráter crítico de suas canções, criaram uma música sobre o rompimento da barragem em Mariana, fora outras temáticas.

Clipe de Mulamba, canção da banda Mulamba

O nome da banda é, na verdade, uma ruptura ao significado pejorativo que a palavra presente no nome carrega, fazendo dela uma demonstração de força e poder. Dentre as diversas influências do grupo, estão o carimbó, o rock clássico e o samba.

Tássia Reis (sábado, 13:05-13:45)

Pronta para entregar um show com grande variedade musical, a artista natural de Jacareí (SP) é dona de hits de rap, R&B, jazz e MPB. Tassia utiliza sua inspiração para se expressar como artista de diversas formas também fora da música, e essa pluralidade criativa surte efeito no sucesso ao explorar diferentes estilos musicais.

Clipe de Dollar Euro, canção de Tassia Reis com Monna Brutal

Mesmo passeando por diversos gêneros, Tassia Reis mantém consistência e qualidade, fazendo os álbuns parecerem exatamente ajustados para encaixar cada um desses estilos musicais. Com a apresentação não deve ser diferente: a artista possui gabarito para entregar um ótimo show no sábado de Lollapalooza, independente do caminho que desejar seguir para a apresentação.

Larissa Luz (domingo, 12:40-13:20)

A cantora natural de Salvador fará um dos primeiros shows do domingo de festival. Iniciou sua carreira solo em 2012, após fazer parte do grupo Ara Ketu. Chegou a ter seu álbum Território Conquistado indicado ao Grammy Latino quatro anos depois, na categoria “Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa”. Traz um techno misturado com MPB, e, apesar de preferir não colocar suas músicas em uma prateleira específica, a cantora define o gênero de suas canções como música baiana futurista e ancestral para “dançar e pensar ao mesmo tempo”.

Climão, canção de Larissa Luz

Larissa também possui um projeto musical com Luedji Luna e Xênia França, que busca resgatar as mulheres pretas no carnaval, homenageando cantoras que foram silenciadas no passado. Sua apresentação no Lolla deve contar com elementos que esbanjam brasilidade e dificultem o trabalho de quem quer passar o domingo de festival sem dançar.

Black Pantera (domingo, 12:40-13:20)

Donos de letras tão fortes quanto a sonoridade de suas músicas, a banda de crossover thrash, composta por três integrantes, possui nome em homenagem aos Panteras Negras, partido estadunidense criado para lutar contra a opressão ao povo negro. Apesar de ter sido criada em 2014, já possui experiência em grandes festivais, como Rock In Rio e Download Festival.

Clipe de Fogo Nos Racistas, música de Black Pantera

Fazendo o número de três membros em uma banda que mistura hardcore punk e thrash metal parecer mais que o suficiente para um som pesado bem completo, o grupo utiliza suas canções para fazer duras críticas sociais associadas a política, discriminação e igualdade de direitos, possuindo influências de ícones da música como Bad Brains, Rage Against The Machine e Sepultura.

O Grilo (domingo, 14:15-15:15)

Banda de rock formada em 2016, O Grilo iniciou sua carreira fazendo sucesso com EPs e singles. Três anos depois, e em meio a uma reestruturação da banda, venceram um concurso da Rádio 89 FM e tiveram a oportunidade de abrir a edição daquele ano do Lollapalooza Brasil. Após o evento, a agenda lotou. Devido à — até então — recente reformulação e à falta de tempo para ensaiar, as apresentações, na visão do grupo, ainda estavam aquém do esperado naquela época. Isso mudou conforme os integrantes passaram a ter mais tempo para criar novas canções e aumentar o entrosamento entre eles.

Clipe de Serenata Existencialista, canção da banda O Grilo

Com a pandemia e a necessária interrupção da agenda de shows, a banda decidiu se isolar e gravar seu primeiro álbum de estúdio, que foi lançado em 2021. Esse projeto foi tratado como uma virada de chave para a banda, por conseguir realizar algo da forma que os membros realmente gostariam de fazer. Desta vez, o grupo chega com mais corpo para o festival, contando também com mais alternativas sonoras para sua apresentação, devido ao repertório mais vasto e variado, e sem deixar escapar os primeiros hits que fizeram parte do início do sucesso da banda.

O festival

A edição de 2023 do Lollapalooza Brasil acontece neste final de semana, nos dias 24, 25 e 26 de março. Com diversos artistas nacionais talentosos e de variados gêneros musicais no line-up, é mais um festival repleto de opções de shows para o público assistir e, assim, valorizar a música brasileira.

Artistas contemporâneos mostram que o punk é uma tendência na indústria musical

A indústria musical tem revelado novos artistas dispostos a explorar o punk. Como exemplo disso, nos últimos anos, Machine Gun Kelly esteve em evidência por seus dois álbuns de pop punk, enquanto Olivia Rodrigo e Willow também emplacaram hits do gênero. Recentemente, Doja Cat, em entrevista à Variety, afirmou que deseja explorar o punk como uma alternativa sonora. Isso mostra uma possível tendência de artistas a migrarem para o gênero, mesmo não estando tradicionalmente posicionados nele desde o início. Mas por que faz sentido para eles explorar esse gênero em específico?

Para compreender esse cenário, é importante entender os diferentes significados dentro do punk. É um movimento cultural que abrange não só a música, mas também a moda, a arte e a literatura. Ele surgiu nos Estados Unidos e na Europa como uma alternativa à complexidade do hard rock e do rock progressivo. 

Esses gêneros possuem características musicais muito elaboradas, como utilização de técnicas apuradas e cuidadosamente aplicadas às músicas. O punk, por sua vez, apostava na simplicidade dos arranjos e na objetividade. Com isso, aliado a suas letras com caráter político e social, ele teve o seu início em 1970 já remando contra a maré.

Tendo Ramones, The Clash e Sex Pistols como algumas das bandas de vanguarda, o movimento passou a ser uma oportunidade de inclusão para jovens que se sentiam desconectados da sociedade. Dentre as principais características, a estética de rebeldia, as roupas rasgadas e os metais e tachas. Musicalmente, parte dessas bandas destacaram-se também pelos vocais que esbanjavam espontaneidade, e não necessariamente um primor técnico. Portanto, o foco era no movimento, na cultura e na mensagem das músicas.

Com o passar dos anos, surgiram diversos segmentos do punk. Dentre eles, o pop punk e o punk hardcore. O primeiro é o nicho de diversas bandas muito famosas, como blink-182, Green Day e Simple Plan. É algo que agrada mais o mainstream e faz sucesso considerável desde os anos 90. Suas letras contam com temas mais pessoais e amorosos. 

Enquanto isso, o segundo possui uma sonoridade mais forte e agressiva, contando com letras sobre questões políticas e um caráter evidente de enfrentamento à sociedade como um todo. Ao contrário do punk tradicional, o hardcore não deu tanta atenção ao visual, abandonando, por exemplo, os cabelos exóticos. O subgênero possui, dentre suas principais bandas no final dos anos 1970: Black Flags, Dead Kennedys e Bad Brains.

Hoje, existem motivos que fazem o punk ser possível de ser explorado por artistas distintos em momentos diferentes de suas carreiras. Para Machine Gun Kelly (MGK), por exemplo, foi uma boa opção afastar-se um pouco do rap e buscar outras oportunidades e públicos. Mas o que fez o artista escolher especificamente o pop punk foi que existia sentido em explorar a estética de um subgênero mais leve, de músicas sobre assuntos pessoais e com letras pegajosas. Essas características combinavam com os seus trabalhos anteriores, e ele pôde se aproveitar disso escolhendo um gênero que traz a leveza do mainstream sem deixar de lado a rebeldia do punk.

Clipe de Bloody Valentine, um dos principais hits de MGK

No caso de MGK, a escolha foi um sucesso — e ele até chegou a reconhecer isso em uma entrevista à Billboard. Prova disso é que, mesmo após o anúncio do artista de que iria voltar para a sua era de rap, ele continua esbanjando participações em festivais de rock e de metal, que são gêneros com uma cultura mais alinhada à do punk que à do mainstream.

Seguindo a mesma linha, a cantora Willow também experimentou o pop punk em algumas de suas canções, como transparent soul e a própria emo girl, com MGK. Os vocais poderosos da cantora adaptam-se de forma que faz ser nítida a tendência da nova geração da música de abraçar o pop punk como um gênero relevante para diversificar o seu cardápio de estilos musicais.

Clipe de transparent soul, de WILLOW

Outra artista que evidenciou a escolha pelo pop punk como opção foi Olivia Rodrigo, que trouxe em seu álbum Sour duas canções com a sonoridade pop punk bem marcadas: brutal e good 4 u. No entanto, essa linha do punk que os artistas têm seguido traz menos ruptura com relação ao pop e é uma forma de explorar novos caminhos sem sair completamente do mainstream.

O que Doja Cat indicou ter desejo de fazer é explorar um subgênero do punk que possui uma divergência maior do pop, que é o punk hardcore. Esse seria um movimento diferente do que tem sido observado na indústria musical.

Doja Cat estampando a capa da revista Variety. [Imagem: Divulgação/Twitter]

Os últimos anos da carreira de Doja contaram também com posicionamentos contra a indústria musical no geral. Ela chegou a afirmar que não gosta de se sentir pressionada a fazer as coisas de uma forma que ela não gosta de fazer, como participar de ensaios fotográficos com frequência e atividades comerciais do tipo. O posicionamento pessoal da cantora sem pensar no que a indústria irá achar é interessante do ponto de vista do anti-establishment — que é uma forte característica do punk hardcore. Um bom exemplo disso é a atitude dela de raspar o cabelo e as sobrancelhas por uma vontade própria, já que não gostava de ter cabelos.

Esses fatores aproximam a estética de Doja Cat do punk hardcore, que possui esse caráter de enfrentamento e de posicionamento forte. A cantora — também na entrevista à Billboard — demonstrou, inclusive, ser admiradora de IDLES, uma famosa banda de punk.

Clipe de MOTHER, da banda IDLES

A escolha pelo punk ou por algum dos seus subgêneros tem sido feita por diversos artistas do pop e do rap mainstream. Em cada caso, há um sentido para que essa opção seja plausível. Com motivos para o hardcore ser uma possível opção, resta esperar para ver como uma estrela de pop e rap internacional, como Doja Cat, sairá no punk hardcore, que ainda não foi explorado com tanto afinco por algum artista recente.