TERMOS CINEMATOGRÁFICOS

A indústria cinematográfica está sendo dominada por franquias de filmes e séries e produzindo frequentemente, são obras derivadas, sequência de uma história ou o mesmo enredo com atores e cenários diferentes. No entanto, você sabia que existem termos do cinema que ajudam a diferenciar cada produção?

Spin off

Sabe aquele personagem antagonista/ secundário que se torna popular e queridíssimo pelos telespectadores? Com o interesse do público, o spin-off é uma produção derivada/ subproduto que mostra mais sobre a história daquele personagem, que se torna um protagonista. Além disso, o spin-off se passa no mesmo universo daquela franquia ou produção original, não precisa se passar antes ou depois.

Um exemplo muito claro é o da série Loki, do Disney +, em que o antagonista roubou as cenas nos filmes da Marvel ganhou seu próprio spin-off e em breve terá o lançamento da sua segunda temporada. Também dentro da plataforma, The Mandalorian, estrelado por Pedro Pascal, é um dos mais assistidos e uma série derivada de Star Wars.

O filme derivado de John Wick, Ballerina, está em produção e tem estreia marcada para junho de 2024. O spin-off terá a atriz Ana de Armas como protagonista e o astro da franquia Keanu Reeves fará uma participação. Na trama, a jovem, interpretada por Armas, busca vingança com as pessoas que mataram sua família.

Prequel

Prequel, pode ser chamado como pré-sequência, é quando uma obra conta uma história anterior de uma produção original, ou seja, foi feita depois do primeiro filme ou seriado. 

Por exemplo, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é um filme prequel de Jogos Vorazes, pois se passa 60 anos antes dos acontecimentos da franquia original.

O filme do A24 Pearl também é um prequel de X: A Marca da Morte e retrata sobre o motivo daquela personagem ter aquele determinado comportamento, além de outras franquias famosas, como Animais Fantásticos no qual  os acontecimentos ocorrem antes de Harry Potter.

As séries não ficam de fora, House of the Dragons se passa cerca de 200 anos antes de Game of Thrones.

Remake

Remake ou reconstrução é quando recriam uma produção com a mesma história depois de anos. Mudando apenas os personagens e utilizando inovações tecnológicas. Os live-actions da Disney são exemplos de remake, Alice no País das Maravilhas (2010), Aladdin (2019), O Rei Leão (2019), A Pequena Sereia (2023), que será lançado em maio deste ano, entre outros.

Este ano, a Warner Bros. Discovery divulgou que terá a remake de Harry Potter, mas em formato de seriado e será lançada no HBO Max.

Reboot

Reboot, também chamada de reinício, é uma nova versão de uma obra original e não precisa ser uma continuação nele. Pode trazer uma série ou filme com uma nova história e personagens diferentes ou pode ter o retorno dos protagonistas ou antagonistas do original, mas no mesmo universo da produção.

Os exemplos clássicos são os seriados das streaming que estão mais presentes ultimamente, como Gossip Girl (2021-2022), And Just Like That (2021-presente), os quais ambos são do HBO Max. No Star +, o seriado How I Met Your Father (2022-presente) é um reboot de How I Met Your Mother (2005 – 2014).

Parece muito confuso os termos cinematográficos citados no texto, mas é importante saber e conhecer a diferença e o significado de cada um. E, quando tiver alguma divulgação de alguma produção, é necessário poder identificar o termo cinematográfico que está sendo apresentado e não ficar perdido na história e enredo da franquia.

ESTERIÓTIPOS DOS VILÕES

Toda produção apresenta estereótipos: seja o da “loira burra” ou o do “príncipe encantado” e com heróis e vilões isso não seria diferente. Muitas tramas que apresentam uma luta entre o mocinho e o vilão (alô, filmes da Disney!) costumam usar  estereótipos para diferenciá-los, ou seja, utilizam-se de alguns padrões específicos para que o telespectador consiga identificá-los na narrativa. E essa imagem de vilania do antagonista pode apresentar uma figura de uma pessoa ou criatura não muito boa, tornando esses estereótipos marcantes para a indústria cinematográfica.

Neste texto vamos mostrar os principais estereótipos e quais os truques que Hollywood utiliza para diferenciar mocinhos de vilões.

Deformidades

As imperfeições na pele estão presentes na maioria dos vilões nos filmes, seriados de televisão e em animações. Um antagonista com deformidade bastante marcante no cinema é o Lord Voldemort (Ralph Fiennes), da franquia Harry Potter (2001-2011), que possui uma aparência assustadora e a ausência de cavidade nasal, assim como Vecna (Jamie Campbell Bower), o vilão mais perverso da quarta temporada de Stranger Things (2016- presente), que além da falta de nariz, possui diversas deformidades pelo corpo. Muitos vilões chegam até mesmo a assumir uma forma antropomorfizada como os Orcs da franquia Senhor dos Anéis (2001 – 2003)  e suas deformidades quase animalescas. 

Pintas, sardas e olheiras

A maioria dos vilões da Disney possuem algumas dessas condições na pele enquanto os bonzinhos não possuem nenhuma dessas marcas. Alguns  exemplos de antagonistas são a Úrsula com sua  pinta no filme A Pequena Sereia (1989),  o Jafar de Aladdin (1992), o Scar de O Rei Leão (1994) e o Facilier de A Princesa e o Sapo (2009), ambos com olheiras.

Máscaras e Maquiagem

Esse traje que cobre o rosto dos vilões é bastante habitual nas produções cinematográficas, principalmente nos filmes de terror e de super heróis. A máscara, na maioria das vezes, é usada para esconder o rosto desconfigurado e também a identidade da pessoa,  tornando- a mais assustadora.

Jason Voorhees, de Sexta-Feira 13 (1980), é mais um dos exemplos por apresentar um rosto deformado e, logo, ele se esconde com uma máscara de goleiro de hóquei. Além dele, Michael Myers, de Halloween (1978), assalta uma loja e pega uma máscara do Capitão Kirk, o personagem de William Shatner na série Star Trek. E, para finalizar os antagonistas de slasher, Leatherface, de O Massacre da Serra Elétrica (1974), é um dos mais macabros, pois ele usa pele humana para cobrir seu rosto.

O Coringa não possui máscara, mas usa a maquiagem para esconder suas cicatrizes, assim como também o palhaço Pennywise em It: A Coisa (2017).

Não tem como deixar de lembrar do vilão mais marcante do cinema e o mais poderoso da galáxia, o Darth Vader, da franquia Star Wars, com a icônica máscara, que faz barulho na respiração e seu traje todo preto marcaram a indústria cinematográfica.

Os seriados não ficam de fora, no caso da série da Netflix, The Umbrella Academy (2019 – presente), os assassinos Hazel e Cha-Cha são vilões que viajam no tempo durante a primeira temporada e utilizam máscaras de desenhos animados coloridos que escondem suas identidades.

Formato do rosto

O estereótipo muito comum nos vilões é o formato do rosto, a maioria deles apresenta uma espécie de design, principalmente em desenhos animados. As formas pontiagudas (queixo, rosto, maçãs do rosto), nariz grande e pontudo, dedos magros e pontiagudos, unhas pontudas, dentes pontiagudos, sobrancelhas arqueadas são associados como ameaças ou perigosos. Como o caso dos vilões da Disney, a Malévola de A Bela Adormecida (1959), a Cruella de 101 Dálmatas (1996), o Facilier de A Princesa e o Sapo (2009) e entre outros. Enquanto os protagonistas exibem aquele formato mais suave e mais curvado que mostram aquela imagem de leveza.

Uso de cores e figurino

Os figurinos contribuem com a identidade dos vilões e passa aquela mensagem para o telespectador entender as características dos personagens sobre a trama. As roupas, geralmente, mostram um formato mais pontudo nas bordas e os comprimentos são longos para cobrir os braços, as pernas e a cabeça, a Malévola e a Rainha Má são um dos exemplos de exibir uma imagem de maldade e pânico devido às suas vestimentas.

Além disso, a caracterização dos vilões são influenciados possuem significados para transmitir uma mensagem e caracterização do personagem. A cor vermelha significa vingança, preto é reconhecido como escuridão e trevas, roxo ou púrpura representa arrogância e crueldade e, por último, o verde como inveja e destruição. Essas cores são mostradas na maioria dos vilões e conseguem demonstrar o seu lado obscuro na história.

Questão dos corpos

A corporação chama a atenção para identificar quem é o bonzinho e o malvado na história, alguns vilões não apresentam aquele corpo padrão, como as princesas da Disney, que são magra com cintura curvada, abdômen definido e seios elevados. No caso da Ursula de A Pequena Sereia, ela é uma antagonista sobrepeso para tentar se diferenciar da protagonista, a Ariel. Outra questão estética é a magreza extrema, como Facilier, Cruella, Jafar e Scar, que representam, além dos protagonistas, aquela mensagem de maldade, de magos e bruxaria. Eles exibem os braços e as pernas finos, o corpo muito alongado e distorcido e, em alguns casos, o  pescoço comprido.

Falando das condições dermatológicas e estéticas dos antagonistas, é necessário lembrar que não são refletidos como malvados, pois, ultimamente, a indústria cinematográfica está gradativamente evoluindo e mudando nessas questões físicas. A aparência dos personagens para que esses modos da pele e também dos corpos não influenciam de forma negativa nas pessoas e crianças que possuem esses estereótipos. 

[Crítica] Daisy Jones & The Six: Um mergulho no mundo dos rockstars

Se você é fã de uma boa história dramática e não está obcecado por Daisy Jones & The Six, certamente você ainda não assistiu. A minissérie, que conta com 10 episódios, estreou na Amazon Prime Video em março de 2023 e narra a história da ascensão relâmpago de uma banda de rock fictícia e sua separação repentina depois de uma única turnê.

Ambientada na década 1970, a série se divide em revelar os acontecimentos da época e nos relatos dos personagens – que mais velhos – contam sua versão dos fatos ao serem entrevistados. A narrativa é baseada no livro Daisy Jones and The Six: Uma história de amor e música da autora best-seller norte-americana Taylor Jenkins Reid, já consagrada por outros trabalhos como Os Sete Maridos de Evelyn Hugo.

Em entrevista para o Collider, Brad Mendelsohn, seu empresário e produtor, comenta sobre seu trabalho: “Ela cria personagens incríveis e os coloca em cenários que todos nós gostaríamos de ter vivido ou passado (…) Ela tem uma visão da condição humana que considero extremamente atraente.”

De fato, os personagens são avassaladores. O ator britânico conhecido pela atuação em comédias românticas, Sam Claflin, dá vida a Billy Dunne e Riley Keough, neta de Elvis Presley, interpreta Daisy Jones. Seus personagens são os cantores e líderes da banda e sua química em cena assim como seu relacionamento conturbado têm sido o motivo de exaltação por parte dos fãs apaixonados, assim como tudo que envolve a série: a música, o figurino, os atores.

Com nota 8,1 no IMDB, Daisy Jones & The Six se solidifica como uma ótima aposta no entretenimento. As filmagens da minissérie – que começariam em 2020 – foram adiadas devido a pandemia do Covid-19. Por essa razão os atores tiveram muito mais tempo de preparação para desempenhar os seus papéis. Alguns dos principais integrantes da banda sequer sabiam tocar os instrumentos de seus personagens e esse espaço para o desenvolvimento técnico foi muito positivo.

Não sei o que teríamos feito se tivéssemos filmado quando deveríamos. Teria sido muito diferente. Teríamos um pouco mais de magia do cinema envolvida. Mas, neste caso particular, eles realmente fizeram todas essas coisas (estudo de personagem).”, comenta o showrunner Scott Neustadter, em entrevista ao Entertainment Weekly.

[Video: Reprodução/Instagram]

O SUCESSO POR TRÁS DA SÉRIE

ALERTA DE SPOILER

[GIF: Reprodução/Giphy]
[GIF: Reprodução/Giphy]

No primeiro episódio intitulado Track 1: Come and Get It há um entendimento claro do formato da minissérie: um texto explicativo nos conta que Daisy Jones & The Six eram uma das maiores bandas do mundo e que após um show de plateia lotada – da turnê do premiado álbum “Aurora” – eles se separaram sem deixar explicações.

Vinte anos depois, o silêncio é rompido e os integrantes da banda e amigos íntimos estão dispostos a falar sobre o acontecido em um documentário.

É aí que a história se divide em dois, contando sobre o começo de The Dunne Brothers composta pelos irmãos Billy e Graham (Will Harrison) e a trajetória solitária de Margaret – que se tornaria a conhecida Daisy Jones – até o momento em que os integrantes se tornam um grupo musical.

Há muitos destaques positivos nas sequências dos personagens que concedem o tom necessário para a identificação do telespectador com suas trajetórias. Billy e Graham lidam cada um à sua maneira com a ausência do pai alcoólatra e o relacionamento de Karen Sirko (Suki Waterhouse) e Graham e a escolha vanguardista de Karen de não ser mãe e nem esposa.

[Foto: Lacey Terrell/Prime Video]

O personagem Eddie (Josh Whitehouse) somado a sua rivalidade com Billy e a “disputa” por Camila Dunne (Camila Morrone) é uma grata surpresa e traz o contraponto necessário para o ego inflado do vocalista da banda que em muitos momentos desvaloriza sua relação com a esposa. Quando se sente desprezada, Camila têm um rápido affair com Eddie.

“Começamos a conversar sobre isso e acho que acaba sendo totalmente justificado porque não é por vingança. Não é para chamar a atenção. Sublinha realmente o quão importante é se sentir visto e desejado e como é ser deixado de lado e não ser cuidado emocional ou fisicamente. É por isso que estou muito orgulhosa da decisão de fazer o que era melhor para ela naquele momento”, diz Morrone a Rolling Stones sobre a traição de sua personagem.

[Foto: Lacey Terrell/ Prime Video]

A melhor amiga de Daisy – a personagem da atriz brasileira Nabiyah Be – Simone Jackson, cumpre bem o papel de “o outro lado da história” com seu enredo de precursora da disco music e a luta contra os preconceitos enraizados na indústria da música. Foi bonito assistir as cenas na boate em que ela aparece deslumbrante e arrasando nos vocais.

 Ao lado de Daisy, Jackson também conduz o arco para a personagem de Jones crescer e decidir cuidar da sua saúde mental e física.

Sobre o assunto, é inevitável mencionar a cena em que Billy Dunne salva Daisy de uma overdose. Há nas entrelinhas um espelhamento no qual o vocalista também se vê em Jones e seu amor por ela endossa ainda mais a atmosfera de desespero de perdê-la. A partir disso, eles criam uma conexão além da já estabelecida tensão sexual, o que dificulta a sanidade de ambos.

BILLY X DAISY X CAMILA

A relação de Billy Dunne com as mulheres de sua vida é intensa. O encontro com Camila ainda em Pittsburgh se solidifica com a ida da moça para Los Angeles. Camila fica grávida de Billy, porém o vício do rockstar por álcool e drogas impede que ele conheça a filha.

A sensibilidade de como o tema é tratado é um dos pontos altos da série, vide a cena em que Teddy Price (Tom Wright) o consola na porta da maternidade. Depois que sai da reabilitação, um novo Billy surge, conquista a atenção de Camila e se torna um ótimo pai.

Porém, tudo parece desmoronar quando Billy conhece sua parceria musical Daisy Jones: a antipatia inicial pela cantora esconde uma enorme tensão sexual. Assim como Dunne, Daisy é uma “alma perdida”, carente de amor na infância, uma mulher livre e propensa a chegar aos seus limites. A química entre os dois é inegável e sua esposa, Camila, sente que para Billy chegar ao estrelato precisa de Jones ao seu lado. E estava certa.

O triângulo amoroso é retratado de maneira tão justa e visceral que é possível que você se pegue torcendo para todos os personagens igualmente. Apesar de traída, a personagem de Camila não se torna a vítima, como Jones também não é a vilã.

“Estou tão confuso quanto Billy estava, honestamente. Eu amei as duas mulheres por razões diferentes e acho que ambas foram boas para ele por razões diferentes.”, explicou Sam Claflin ao ser perguntado se Billy e Daisy foram feitos um para o outro pelo Insider

Em comentários de fãs nas redes sociais da série é possível notar essa dualidade de sentimentos: “Camila era o coração do grupo e Daisy era a alma. E esses são exatamente os lugares que as duas guardavam na vida de Billy”.

Billy, ainda que controverso, é humanizado em suas ações e a escolha de ficar com Camila é acertada. Quando decide estar com Daisy é em seu pior momento – o de recaída – e até a cantora percebe que os dois realçam as sombras um do outro.

“Achei que eles não deveriam terminar juntos”, disse Riley, também para o Insider. “Talvez eu tenha tido minha cota de relacionamentos tóxicos, mas não vi, naquele momento de suas vidas, um final feliz para eles. Achei que ele deveria ficar com a Camila.”

A DOENÇA DE CAMILA

O último episódio é marcado pela morte recente de Camila Dunne em decorrência de um câncer. O plot twist causa surpresa e é a justificativa para a reunião dos integrantes da banda depois de tanto tempo: Julia Dunne filha do casal Camila e Billy é a responsável pela documentação das entrevistas.

O recado que Camila deixa registrado para Billy e Jones é o gancho emocionante para a cena final em que o rockstar aparece na porta de Daisy e ela o atende com um sorriso no rosto, assim como Camila pediu: “Fale para o seu pai ligar para Daisy Jones e fale para Daisy Jones atender. No mínimo, eles ainda me devem uma música”

[GIF: Reprodução/Giphy]

THE SEVENTIES

A trilha sonora estrelada na série foi fruto de uma equipe de músicos e especialistas dos anos 70. Embora as letras das canções já estejam presentes no livro, seu conteúdo foi mudado parcialmente e a sonoridade foi pensada especialmente para o formato.

Um dos responsáveis pelo lançamento das faixas entoadas por Daisy e os integrantes de The Six, é Blake Mills, produtor e compositor: “Criar a biblioteca de músicas para Daisy Jones & The Six foi uma experiência que nunca esquecerei. Sou grato por, entre outras coisas, ter me proporcionado a oportunidade de colaborar com tantos de meus colegas e também com alguns de meus heróis”, afirma ele, via Collider.

O esforço parece ter rendido frutos! No Spotify, 6 faixas do álbum “Aurora” debutaram no Top 50 das canções virais do Brasil, entre elas, Look at Us Now (Honeycomb) e The River. Já no chart global, as virais chegaram a 3 músicas mais tocadas.

[Video: Reprodução/Instagram]

E se as músicas transmitem a vibe folk e alucinante dos 70 ‘s, o figurino é um espetáculo à parte nesse quesito. Do início ao fim somos confrontados por roupas de tirar o fôlego, camadas de crochê que se misturam ao veludo em calças e sobreposições junto ao couro das botas e bolsas.

As plumas e peles também se evidenciam e marcam uma virada de chave para os personagens, que as usam num segundo momento da série onde estão consolidados como rockstars. A figurinista Denise Wingate, utilizou peças vintage e atuais para desenvolver o guarda-roupa dos personagens.

As meninas Karen, Camila e Daisy, conferem em cada detalhe de seu vestuário traços de suas personalidades: Karen exibe brilhos discretos e pontuais em meio ao veludo de suas roupas, Camila evolui o seu estilo e aparece suntuosa nos últimos episódios e Daisy se destaca pela sua icônica capa dourada do último show da banda.

Sobre o figurino em específico, Wingate comenta sua parceria com a atriz Riley Keough para a Glamour: “Na verdade, foi ideia dela fazer a roupa dourada no final. Ela me ligou e disse: “Estou no carro, estou ouvindo ‘Gold Dust Woman’. Isso é o que devemos fazer para o show final.” E então encontramos a peça dourada assinada por Halston e foi simplesmente perfeito. Sabíamos que tinha que ser espetacular.”

O sucesso acerca do figurino é tanto que dominou as redes sociais. No Tik Tok é possível encontrar inúmeros tutoriais com inspiração no estilo das personagens da série endossados pela trilha sonora do álbum “Aurora” ao fundo.

O ESTILO DE WARREN

[Foto: Lacey Terrell/ Prime Video]

Menção honrosa para o baterista Warren – interpretado por Sebastian Chacon – e seu visual nada discreto. Do bigode às camadas de roupa com direito a estampas das mais diversas – e muitas plumas – no elenco masculino ele se destaca e seu vestuário imprime sua personalidade corajosa e divertida.

Quem não se apaixonou pela empolgação do rockstar e seus looks extravagantes?

DAISY JONES & THE SIX É BASEADO EM FATOS REAIS?

Sim e não. A autora Taylor Jenkins se inspirou principalmente na banda de rock folk Fleetwood Mac e toda a história por trás da produção do álbum “Rumours”, de 1977. A vocalista Stevie Nicks e o guitarrista Lindsey Buckingham se relacionavam e no momento da confecção do disco, as coisas andavam conturbadas.

O vídeo da performance de “Silver Springs” – canção que fala sobre o término dos dois e que não entrou para seleção de músicas do álbum – onde Stevie canta e olha para Lindsey na reunião da banda em 1997 foi determinante para desenhar a sinergia que o casal Billy e Daisy teriam em cena. Faíscas para todo lado.

No entanto, outros muitos detalhes e acontecimentos da minissérie são de fato ficcionais e apesar das referências estéticas e comportamentais da época estarem presentes, há bastante espaço para o novo na narrativa.

HELLO SUNSHINE

É o nome da produtora responsável pela série em parceria com a Amazon Prime Studios. Sua fundadora é a atriz Reese Witherspoon – a personagem icônica de Legalmente Loira – que tem como missão mudar a narrativa das mulheres, como ela mesmo diz em descrição da produtora no Instagram.

Sua intenção de fato é colocar mulheres em evidência. Reese emplacou projetos na Apple TV+, HBO e Netflix e todos tinham em comum o protagonismo feminino. Com Daisy Jones & The Six, mistura duas de suas paixões, livros e o audiovisual.

Inclusive – em virtude do seu clube do livro – Reese já empreendeu diversas adaptações para o streaming e cinema, com destaque para a série sucesso Big Little Lies ganhadora de vários prêmios Emmy.

“Sempre que você é uma mulher escrevendo histórias sobre mulheres, você espera que Reese [Witherspoon] ligue. Você espera por isso, da mesma forma que as pessoas esperam ganhar na loteria.” Diz a autora Taylor Jenkins Reid sobre trabalhar diretamente com a Hello Sunshine.

ELENCO EM HARMONIA

O clima pode até ter pesado para a fictícia banda Daisy Jones & The Six, mas quando o assunto é o elenco a harmonia não poderia estar mais presente: a absoluta sintonia dos atores nas entrevistas e conteúdos para internet evidencia isso.

A sinergia é tanta que a banda pode fazer uma turnê na vida real! Segundo o roteirista da série, Scott Neustadter, já há conversas entre os produtores e o elenco para viabilizar a ideia. No entanto, nada foi acertado ainda. Por aqui, vamos torcer para que a empreitada se torne realidade.

[Foto: Reprodução/Pinterest]

E depois de consumir todo esse conteúdo sobre Daisy Jones & The Six , é possível que você esteja cogitando cortar o cabelo no estilo mais setentista possível ou queira adquirir uma peça de roupa com inspiração folk. Eu te garanto que é super normal: eu mesma já marquei meu horário no salão para ter a minha franja a.k.a Daisy Jones!

A24: A produtora que conquistou o cinema

Todos os anos, listas de melhores filmes ou até mesmo o Oscar, recebem filmes da mais badalada produtora de filmes do cinema hoje. A A24 é uma produtora independente, que surgiu em 2012 pelas mãos de Daniel Katz, David Fenkel e John Hodges, três produtores de cinema que deixaram seus empregos na época para fundá-la. 

Seu nome, um tanto quanto inusitado, surgiu quando Katz estava passando pela Autoestrada A24 na Itália e diz ter tido um “momento de claridade”, que o inspirou na construção da produtora. Os filmes distribuídos por ela são diferentes e têm o intuito de distorcer aquela imagem clássica do cinema, da indústria cinematográfica no geral. A maior inovação é a experiência imersiva que seus filmes propõem, tanto de imagem, quanto de som e ambientação dos cenários. 

Quem trabalha com a A24, no caso os diretores e roteiristas, têm carta branca para transformar seus filmes no que quiserem, com total liberdade criativa, indo além dos padrões de Hollywood. Ex Machina, por exemplo, longa de 2015 dirigido pelo diretor estreante – antes roteirista – Alex Garland, tem uma abordagem totalmente fora dos filmes convencionais que abordam a inteligência artificial. 

Desde o início, eles visam a distribuição de filmes e diretores iniciantes na indústria, dão um gás na produção e rapidamente se tornam febre, o que é muito bom para a visibilidade dos diretores e da própria produtora. 

A verdade é que a A24 se consolidou como uma produtora totalmente fora da curva das outras no mercado, principalmente sobre a maneira que “vende seu peixe”. Moderna e focada na internet, seus alvos são mais startups do que as empresas tradicionais de publicidade. Sem escritório para formular suas propagandas, tudo é feito online, através de vendas de produtos exclusivos dos filmes produzidos no site oficial, memes nas redes sociais e até perfil no Tinder para a personagem principal de Ex Machina. A internet se tornou seu novo outdoor.

Essa forma que a A24 encontrou para divulgar seus filmes começou a atrair um público misto, jovens e adultos que se uniram na imersão audiovisual que os filmes oferecem. O grande e mais recente hype da produtora se deve muito ao Twitter, onde a maioria de seus trailers, pôsteres e datas dos lançamentos são divulgados. Essa entrega online de seu conteúdo fez com que a produtora conquistasse cada dia mais um público plural, assim como seus filmes. 

A A24 é muito conhecida por seus filmes de horror/terror psicológico, principalmente com a febre desse gênero nas redes sociais nos últimos anos, mas diferentemente do que muitos pensam, não foram só esses gêneros que a produtora se encarregou de divulgar. Como os diretores têm total autonomia, todo e qualquer gênero de filme pode ser feito. 

O primeiro longa distribuído pela produtora, por exemplo, foi As loucuras de Charliedo diretor Roman Coppola. O longa conta uma história cômica, mas bem feita, com uma história leve e com boas reflexões, bem diferente dos famosos filmes de terror da mesma, como Midsommar e Pearl

Muitos outros filmes já passaram pelo radar da A24, os primeiros, menos conhecidos apesar do elenco de peso. Spring Breakers foi o longa que impulsionou o sucesso da produtora. Dirigido por Harmony Korine, ele conta a história de quatro jovens que se envolvem com um criminoso e precisam fazer um favor a ele. O elenco não deixa a desejar com James Franco, Selena Gomez e Vanessa Hudgens. É uma comédia de erros, bem polêmica, mas acabou entregando muita risada e faturamento para a produtora, que arrecadou US$ 31.2 milhões, dando seu pontapé inicial. 

Elenco de Spring Breakers
Imagem: [Divulgação]

Em 2015, a produtora distribuiu Ex Machina, Amy, e O Quarto de Jack, todos ganhadores de estatuetas no Oscar de 2016, o que fez com que a A24 subisse de nível na indústria cinematográfica e ganhasse um lugar com seus filmes diferentes no meio de Hollywood. Até hoje, em pouco mais de 10 anos da sua consolidação, a produtora já arrecadou 31 indicações ao Oscar. 

Neste ano, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo foi o queridinho da premiação, e sem surpresa, é mais uma produção da A24. A Baleia e Aftersun também estiveram presentes representando a produtora. Ganhadores de muitos Oscars, inclusive de Melhor Filme, os três têm histórias distintas e variam entre drama, multiverso e imersão e representam bem a variedade das produções, inclusive dentro de uma grande premiação do cinema. 

Por conta de todo o sucesso da A24, uma legião de fãs da produtora surgiu nas principais redes sociais e muitos abriram uma discussão sobre a idolatria a esse tipo de empresa que apenas busca o lucro pelas produções. A questão defendida é que as obras distribuídas pela A24 sejam analisadas e avaliadas separadamente da produtora que as produziu e assim não deixem com que essa reputação criada em torno da distribuidora seja o censor para um filme. 

Mas além dessa discussão, há também a questão da identidade que as produtoras produzem ao longo do tempo, que, no caso, a A24 não tem. As obras produzidas e divulgadas por ela são fruto da liberdade criativa que dão aos diretores parceiros, o que faz dos filmes cada um com um universo próprio. Talvez seu crescimento se dê a isso, os diretores gostam de trabalhar com eles. 

Além de muitos outros, dentre os filmes mais vistos da A24 estão Moonlight– Sob a Luz do Luar, X – A Marca da Morte e sua prequela Pearl, Lady Bird- Hora de Voar e O Farol

Moonlight- Sob a Luz do Luar

O ganhador do Oscar de Melhor Filme de 2017 foi Moonlight, um drama distribuído pela A24. O longa conta a história de vida de Chiron, um jovem negro que cresce na periferia de Miami e enfrenta muitas dificuldades na sua autodescoberta. O filme mostra as três fases da sua vida, infância, adolescência e maturidade, passando pelas transformações e abusos que sofreu durante seu crescimento físico e emocional. O longa se tornou o primeiro filme com um elenco todo de negros e o primeiro filme de temática LGBTQIA+ a ganhar a estatueta de Melhor Filme.

X- A Marca da Morte e Pearl

Os dois mais recentes e mais queridinhos projetos da produtora são X e Pearl, longas de terror que foram gravados simultaneamente. Lançado no começo de 2023, X: A Marca da Morte, dirigido pelo influente diretor no meio do horror, Ti West, conta a história de um grupo de amigos que vão a uma fazenda no Texas gravar um filme pornô e durante as filmagens coisas estranhas começam a acontecer entre os atores e os donos da fazenda onde ocorrem as gravações. Tudo acaba em banho de sangue, assim como os clássicos filmes de terror slashers do século passado. Maxxine, representada por Mia Goth é a protagonista e a título de curiosidade, com muita maquiagem, também é Pearl, a senhora dona da fazenda e causadora dos maus entendidos. 

Pearl é uma história que volta a 1918, ambientada no Texas, exatamente na mesma fazenda vista em X. É nesse filme que as origens da vilã de X serão descobertas e como ela se tornou o que é. Pearl sonha em se tornar uma estrela de cinema, porém, ela entra em um frenesi assassino quando o mundo não a ajuda com seus desejos.

A história não para por aí, MaXXXine, o terceiro filme da sequência já foi anunciado e deve contar a história de Maxine depois de sua fuga da fazenda. Ainda não tem data de estreia. 

Lady Bird- Hora de Voar

Protagonizado pela icônica Saoirse Ronan, Lady Bird conta a história de Christine, ou Lady Bird, como exige ser chamada, que em sua passagem da adolescência para a vida adulta vive uma vida de aprendizados, erros e acertos. Ela quer sair de casa e fazer faculdade em outro Estado, mas vive brigando com sua mãe, um dos focos centrais do filme. Durante esse crescimento pessoal, Lady Bird vive um namoro, amizades e os clássicos rituais de passagem para a maioridade. Foi o primeiro longa de Greta Gerwig como diretora solo e fez um ótimo trabalho em mostrar com sinceridade essa etapa de amadurecimento na vida de qualquer jovem. 

O Farol

Mais um terror psicológico da A24. Não poderia ser mais inusitado ver Robert Pattinson e Willem Dafoe protagonizando um filme preto e branco situado no século XX. Os dois são responsáveis pelo farol de uma ilha isolada e ao quererem descobrir o que acontece por ali, eventos estranhos começam a acontecer. Mas acontecem mesmo ou estão os dois enlouquecendo? Todo o filme é ambientado na ilha e no farol, onde os protagonistas trocam farpas a cada segundo, deixando um ar de dúvida sobre a relação que tem. É um filme intenso, imagem, som, luzes, tudo se combina para a criação de um cenário envolvente, assustador e contestador do que ocorre por ali. A direção é de Robert Eggers. 

Além de todas as discussões em torno do sucesso da A24, é inegável que ela se consolidou como uma das maiores e mais influentes produtoras atualmente, principalmente pela maneira como vende seus filmes através da internet e como os torna mais envolventes ao público. 

Dá pra ficar de olho nos próximos filmes que vão fazer parte da longa lista de filmes que coleciona a produtora. Beau is Afraid, Beef, You Hurt My Feelings, Past Lifes e Talk To Me são os próximos lançamentos. Agora resta esperar e escolher qual vai ser o próximo favorito da vez. 

Bonnie & Clyde: por que o musical é tão interessante quanto o filme

A última vez que assisti a Bonnie & Clyde: uma rajada de bala foi ontem, antes de escrever este texto. E confesso que fiquei feliz por ter ido ao musical, inspirado no casal de gângsters, lembrando nada do filme que assisti pela primeira e única vez, há mais de 14 anos.

Bonnie & Clyde: o casal mais procurado da Broadway estreou no dia 10 de março, no 033 Rooftop do Teatro Santander, em São Paulo, e é diferente de todos os musicais que já assisti. Cá entre nós, eu não sou muito fã do gênero – mas o espetáculo foi tão incrível que me fez olhá-lo com novos olhos.

Assim como o filme, a peça conta a história de Bonnie, Clyde e o restante da gangue Barrow. A história continua se passando nos anos 1930, época em que os Estados Unidos estava passando por uma grande recessão e a economia estava de mal a pior, resultando na Grande Depressão e em uma massa de criminosos espalhados pelo país. 

A química de Eline e Beto como Bonnie & Clyde nos palcos é incrível

O musical surpreende, chama o público para dentro da trama, traz dinamismo, comédia, drama, ótimos vocais e, inclusive, consegue humanizar o casal mais procurado da história – não se assuste se você sentir um pinguinho de pena dos personagens. 

A produção, inédita na América Latina, é dirigida por João Fonseca, tem direção musical de Thiago Gimenes, coreografia de Keila Bueno e conta com os atores Eline Porto, Beto Sargentelli, Adriana Del Claro, Cláudio Lins, entre outros. O elenco, acredite, é fantástico.

Baseado em um musical lançado em 2009, que chegou à Broadway em 2011 e conquistou duas indicações ao Tony Awards, o espetáculo segue em cartaz até o dia 14 de maio e os ingressos podem ser adquiridos no site da Sympla ou na bilheteria local.

Os verdadeiros amantes (e criminosos) Bonnie & Clyde

A verdadeira história dos amantes forasteiros

É importante deixar claro que Bonnie e Clyde já existiam antes do filme e do musical. Talvez você não saiba, mas os dois eram personagens reais e eram muito famosos entre 1930.

Bonnie Elizabeth Parker nasceu no interior do Texas e almejava mais. Acreditava que aquele não era o lugar ideal para ela. A jovem queria o tal “sonho americano” e se casou muito cedo, com um homem chamado Roy e, assim como Clyde, não era lá tão bom assim.

Depois do casamento, Roy foi preso durante cinco anos por um caso de roubo e nunca mais viu a esposa. Até que Bonnie se tornou garçonete e, durante o trabalho, conheceu Clyde Barrow, um jovem ambicioso que vinha do Kansas e levou a moça também para a vida de crimes e aventuras. Já deu pra entender que a Bonnie tinha um dedinho podre, não é mesmo… 

Os dois se apaixonaram e Clyde foi preso por roubo de automóveis. Em sua passagem pela cadeia, foi vítima de violência sexual e cometeu o primeiro assassinato como uma forma de vingança contra o abusador e o sistema prisional do país. 

Por conta de pequenos furtos, em 1932 o casal começou a se tornar conhecido e como o país naquela época estava passando por uma crise econômica e social, Bonnie e Clyde se tornaram a representação daquele momento. Não há ao certo a quantidade de crimes cometidos por eles, mas o casal contava com mais três amigos para auxiliar nos assaltos, a bordo de um Ford V8 – que ficou superconhecido que, inclusive, tinha uma versão só para fotos no espetáculo.

Mas o que ninguém imaginava é que uma das pessoas que faziam parte da gangue, Henry Methvin, fosse capaz de entregá-los para as autoridades. Enquanto Clyde acelerava o carro e Bonnie comia um sanduíche, os policiais do Texas atiraram uma chuva de balas e os dois, como você pode imaginar, acabaram morrendo, sendo lembrados até hoje. 

faye dunaway e Warren Beatty como Bonnie & Clyde

Há diferença entre o filme e o musical?

Sim, muita! O que beneficia tanto àqueles que assistiram ao filme, quanto aos que não conhecem a história. O filme, assim como muitos clássicos do cinema, tem um ritmo mais lento e a trama, um pouco confusa. 

Nele encontramos uma Bonnie, interpretada por Faye Dunaway, cheia de anseios, com vontade e coragem de jogar tudo para o alto – e até com uma aparente depressão. Porém, ainda que a personagem tenha esse ar aventureiro e impetuoso, o ar doce, um tanto inocente e espevitado, mais submisso ao Clyde, que até lembra um pouco uma “manic pixie girl”, nos deixa querendo mais. 

Cena clássica do filme Bonnie & Clyde: uma rajada de balas / Warner Bros, divulgação

Mesmo que Bonnie seja interessante, forte e corajosa, esses pontos acabam sendo deixados de lado, enquanto vemos uma personagem extremamente carente, um tanto mimada e infantilizada – e isso deixa certos buracos no roteiro. Lembrando que a história se passa nos anos 1930 e o filme é de 1967 – o contexto histórico aqui precisa ser levado em conta. 

Mas uma pergunta que me pegou, enquanto eu assistia ao filme, é: por que Bonnie, essa mulher inteligente e sagaz, ao perceber que um homem está tentando roubar o carro da mãe, daria uma volta com ele e, em menos de 24 horas, estaria completamente apaixonada, entregue e em uma vida de crimes? 

Ela não conhecia o Clyde até aquele momento. E, muito por isso, senti falta de um contexto, algo que mostrasse as verdadeiras motivações da personagem – até porque, ela não era “só um rostinho bonito” querendo sair do Texas. 

Eline Porto como Bonnie, no musical

Traçando um paralelo com o espetáculo, Eline Porto traz para Bonnie um ar mais vivido, mais maduro, ambicioso, com um toque de malícia. Essa, para mim, é a personagem que eu também gostaria de ter visto no filme. Dá para sentir que ela tem um passado, que sofreu, ainda está dolorida e, por isso, deseja sair do Texas o quanto antes.

E se a Bonnie do musical é diferente, o mesmo acontece com Clyde. Diferentemente do filme, o personagem do teatro também é mais humanizado, trazendo uma camada a mais para a história.

Beto Sargentelli interpreta Clyde Barrow

Interpretado por Beto Sargentelli, é possível sentir toda a frustração de Clyde e entender, mesmo sem concordar, o que ele está fazendo. As motivações estão mais claras e o ar de bad boy também. Em algumas partes do musical, enquanto o personagem canta, é possível se emocionar e até sentir a raiva que ele está sentindo. 

A química entre Eline e Beto é tão boa quanto a de Faye Dunaway e Warren Beatty – porém, muito mais intensa e avassaladora. Na história contada nos palcos, há uma belíssima divisão de tempo entre os dois, sem que um apareça mais do que o outro. Já no filme, em minha visão, Clyde acaba, sim, tendo um pouco mais de visibilidade do que Bonnie. 

Ambos personagens são muito bem construídos – nas falas, nos gestos, no figurino e caracterização. É lindo ver Bonnie e Clyde ganhando vida e interagindo com o público. É como se nós também ganhássemos vida e fizéssemos parte do espetáculo.

Quanto a Buck, o irmão de Clyde, outra ótima surpresa: o ator Claudio Lins trouxe uma personalidade divertida e até caricata, fazendo com que ele também se destacasse. Se no filme, Buck é secundário, aqui ele já não é tanto. As cenas entre os irmãos e até entre ele e Blanche, interpretada por Adriana Del Claro, são tão boas quanto as do casal protagonista.

O espetáculo segue até o dia 14 de maio, no 033 Rooftop

Se o longa é mais arrastado, mas ainda interessante por conta das cenas de ação, o espetáculo é muito mais dinâmico e as cenas de tiros e fuga também não deixam a desejar. É impossível não querer prestar atenção em cada detalhe do que está acontecendo no palco principal e nos demais “palcos” montados pelo teatro. 

Sobre as músicas, elas deixam a história ainda mais rica, não estão ali por acaso. Ajudam os atores a dar forma aos personagens e encantam o público, trazendo mais emoção e um lado humano em meio aos tiroteios. 

Eu ainda continuo gostando do filme que, por sinal, está disponível na HBO Max. Mas, assistir ao musical foi uma experiência diferente de tudo. Me senti muito mais próxima de Bonnie e Clyde. Consegui sorrir com as tiradas engraçadas de Buck e de Blanche e também tive vontade de dirigir aquele Ford V8, como se não existisse amanhã.

Lembrando que o espetáculo continua em cartaz até o dia 14 de maio, no 033 Rooftop do Teatro Santander, em São Paulo. Para mais informações, acesse o site.

[CRÍTICA] Pânico VI: inovador na brutalidade, mas com deslizes

Pânico VI estreou, na quinta-feira (09/03), nos cinemas brasileiros e promete ser a mais brutal da franquia. O longa é estrelado por Melissa Barrera, Jenna Ortega, Jasmin Savoy Brown, Mason Gooding e também conta com o retorno de Courtney Cox, que está presente em todas produções de Pânico, e da atriz Hayden Panettiere, a Kirby do quarto filme da franquia.

[Gif/ Paramount Pictures]

Infelizmente, a nova produção não conta com a presença da protagonista Sidney Prescott, interpretada por Neve Campbell, pois a atriz desistiu de atuar no projeto devido ao salário oferecido não ser condizente. Mesmo com a sua ausência, no entanto, a sua personagem é mencionada em algumas cenas.

Dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (Casamento Sangrento, 2019), após conviverem com as últimas mortes provocadas por Ghostface, os sobreviventes do massacre, Sam (Barrera), Tara (Ortega), Chad (Gooding) e Mindy (Brown), deixam Woodsboro e iniciam um novo capítulo em Nova York. Contudo, eles se tornam novamente alvos de um novo serial killer.

Diferente dos outros longas, a brutalidade de Ghostface consegue deixar os telespectadores assustados e arrepiados na poltrona. O filme traz muita cenas de violência explícita e bastante core, além disso, o assassino não somente usa aquela famosa faca como também uma espingarda (essa cena do mercado foi mostrada no trailer), trazendo aquela sensação de muita tensão e fazendo o público torcer para os personagens escaparem da morte.

As referências também não ficam de fora, além de mencionar sobre os filmes de terror, como Halloween – A Noite do Terror, Sexta-Feira 13 e Psicose, as easter-eggs das outras produções estão presentes nas fantasias dos figurantes, como, por exemplo, aquela cena na estação do trem em que as pessoas estão vestidas da noiva de Casamento Sangrento, Freddy Krueger de A Hora do Pesadelo e o George de It – A Coisa. O sexto filme também traz referências dos outros longas da franquia Pânico, que quem é fã do slasher pegará rápido cada detalhe.

As atuações de Melissa Barrera e Jenna Ortega, que interpretam, respectivamente, as irmãs Sam e Tara Carpenter, são grande destaque no filme. A conexão e união das protagonistas é bastante aprofundada e emocionante, elas mostram que querem melhorar cada vez mais a sua relação. Os irmãos Chad e Mindy também são explorados melhor na sexta produção, a aproximação deles com as Carpenter é evidente no enredo e os quatro personagens, apelidados de “QUARTETO TOP”, tentam o possível se unirem para começar um novo capítulo da vida para superar os traumas que viveram no quinto filme. Sem contar que o retorno de Gale e Kirby também deixa os fãs da franquia bastante entusiasmados.

Os novos personagens são introduzidos na trama, mas trazem aquela desconfiança de quem seria o Ghostface pelos protagonistas e também pelo telespectador. O longa também faz de tudo para enganar o público sobre o suspeito, logo, é preciso ser bastante esperto para não cair nas pegadinhas que a produção proporciona e consegue fazer o público ficar interagindo com a narrativa.

Porém, a produção também apresenta alguns deslizes que podem incomodar o telespectador. A abertura consegue trazer um diferencial, assim como as cenas das mortes que são mais sanguinárias, mas o roteiro segue o mesmo padrão dos longas anteriores de Pânico, deixando alguns momentos do filme saturados.

Tratando da violência, percebe-se que alguns personagens são feridos brutalmente pelo serial killer com várias facadas, mas conseguem reunir forças para continuar andando e lutando contra o assassino, ocasiões que se tornam estranhas nas cenas que são apresentadas.

Em síntese, apesar de alguns erros, Pânico VI consegue ser um slasher mais brutal e sanguinário e se tornando um dos TOP 3 da franquia. O resgate das referências dos anteriores torna-se bastante nostálgico para os fãs e faz ter vontade de rever os anteriores novamente, além de trazer a ironia das regras clássicas dos filmes de terror. A produção alcança (mais uma vez) a euforia e o entusiasmo do telespectador e, principalmente, dos fãs na sala de cinema.

[Crítica] Elvis: a Ilusão de Ser uma Estrela do Rock

Elvis foi lançado nos cinemas brasileiros há praticamente um mês prometendo contar a história de vida e carreira de um dos maiores ícones do rock. Abusando do exagero nas roupas, cenas e fotografia, a obra mostrou potencial para conquistar a audiência, não é atoa que estreou com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes.

Até agora, os comentaristas fizeram diversos elogios para a atuação do elenco, principalmente para a performance de Austin Butler como o protagonista titular, um exemplo disso é a crítica feita pelo The Wrap, ‘há energia e substância o suficiente […] e Butler se joga em uma performance selvagemente física, mas nunca cartunesca ou desrespeitosa’. Mas também não deixaram de comentar sobre a desequilibrada condução de direção e roteiro.

Apesar disso, quando se fala que o longa de Elvis Presley é um grande exagero, não necessariamente é um ponto negativo, já que tudo que se refere a ele sempre foi exagerado. Então, a produção de duas horas e quarenta minutos não poderia assumir um tom blaseé – um termo francês que classifica a atitude de uma pessoa cética ou indiferente – e isso inclusive, acaba sendo um dos maiores acertos do diretor Baz Luhrmann.

Elvis conta a história do astro desde a infância até a queda, passando é claro, pela ascensão, quando ele se torna um dos cantores mais famosos e bem pagos dos Estados Unidos. Nascido em Tupelo, Mississippi, em 1953, o menino tinha um irmão gêmeo, chamado Jesse, que morreu após o parto.

Mas as tragédias da família Presley não cessaram por aí: seu pai foi preso por estelionato, e por conta disso, Elvis e sua mãe foram despejadados de onde viviam, indo morar em um bairro de pessoas negras – vale lembrar que durante essa época, o racismo e a segregação racial eram muito fortes.

Após esses episódios, a vida do garoto segue, na maioria das vezes, rodeado por influências negras. Então, Elvis começa a cantar em uma banda e sua voz é reconhecida pelo Coronel Tom Parker – interpretado por Tom Hanks – um homem ganancioso que vivia de dar golpes nas pessoas. É inclusive sob o ponto de vista de Parker que a história é contada, com a primeira meia hora de tela focada totalmente no empresário, onde ele mesmo diz “sem mim, não haveria Elvis Presley”.

[Imagem: Reprodução/Warner Bros]

Querendo ou não, o Coronel é importante na trama, porque há quem associe a degradação do astro à tirania com que o então empresário comandava a carreira de Presley. Tom Parker era um produtor de parques de diversão e circos que passou a empresariar o astro logo no início de sua caminhada. Entretanto, o título não expressa sua verdadeira origem, já que ele não era coronel, nem se chamava assim e tinha um passado misterioso na Holanda.

Seu nome verdadeiro é Andreas Cornelis van Kuijk. Nascido na Holanda em 1909, e que aos 20 anos, imigrou ilegalmente para os Estados Unidos. A sua partida ocorreu no mesmo dia em que a sua suposta amante, Anna, foi espancada e morreu em decorrência dos ferimentos. Quando chegou ao país, assumiu a identidade Tom Parker e se alistou ao exército, onde serviu por dois anos, até 1933. Na época, ele foi afastado por indisciplina e teve uma crise nervosa, diagnosticado com depressão aguda psicogênica, estado de psicopatia constitucional e psicose. Tom também foi descrito pelos especialista como um homicida em potencial.

Essa descrição é vista em certo momento da cinebiografia de Luhrmann. O diretor cita em entrevista durante o Festival de Cannes, a parte do filme em que o homem, vivido por Tom Hanks, está deitado em uma cama de hospital sob efeito de morfina se defendendo das acusações de ser uma má pessoa, que explorou Elvis Presley, impediu sua carreira internacional e acabou pressionando tanto o cantor, que ele se viciou em remédios e acabou morrendo prematuramente, aos 42 anos de idade. “Ele está dizendo que não é o vilão. Que só fez seu trabalho, que era fazer com que a carreira de Elvis fosse a mais lucrativa possível”, declarou.

“Parker diz que fez seu trabalho tão bem que nós amamos Elvis, e ele nos ama. Que o cantor só se sentia bem quando estava sendo amado pelos seus fãs e amando-os de volta”, incita Baz sugerindo que a culpa é voltada para os fãs do cantor. E que ‘graças’ a sua morte, seus discos bateram recordes de vendas, tornando-o memorável até os dias atuais.

O cineasta ainda comenta sobre trazer algo mais autoral em um momento onde os super-heróis dominam as salas de cinema, uma colocação não só muito inteligente do ponto de vista mercadológico, como também fiel ao tom mítico do longa. “Elvis é o super-herói original. Ele vem da sujeira e em alguns momentos ofuscantes, sobe tão alto, encontra sua kryptonita e cai”.

Fora a decisão de escolher o empresário para narrar a história, Elvis quase foi intitulado de O Rei e O Coronel, mas com o desgosto declarado de Presley desde sempre pelo apelido, a ideia não vingou. “Você tem algum amigo que conta histórias de maneira confiável?”, provocou Luhrmann. “Documentários são aparentemente a verdade e em geral trazem aquela narração típica. Mas daí a gente vê na internet como é fácil manipular as pessoas a acreditarem que algo é a verdade, quando não é. Eu acho que os dramas são mentiras contadas por alguém para chegar a uma verdade maior”, explicou.

Baz encerra a entrevista comparando a narrativa de Elvis com a de Amadeus, filme de Milos Forman de 1984 que ganhou oito Oscars, por também ser uma cinebiografia, mas sobre o compositor e músico Wolfgang Amadeus Mozart. “O filme é sobre inveja”, pontuou ele. Ele tem suas suspeitas de que Parker sentia-se de forma parecida. “Os dois tiveram infâncias muito complicadas, ambos tinham um buraco no peito e eram sonhadores. Parker queria ser grande. E Elvis, também”, finalizou.

Agora falando do próprio Elvis, o ator Austin Butler merece todo o reconhecimento ao estrelar o papel do cantor, o mais engraçado é que no inicío do longa, há um grande mistério em revelar o rosto dele, que a princípio só aparece de costas ou de lado, porque por mais que todo mundo soubesse que era Butler em cena, ninguém havia visto nada além dos trailers.

Ele encarnou brilhantemente a personalidade do astro, obviamente abusando do exagero. Desde o jeito de dançar rebolando os quadris até o tom de voz, passando pela maneira de falar com a boca semi aberta olhando para baixo, tudo parece milimetricamente bem encaixado. “Ele era punk antes do punk existir. Ele estava rolando no palco, cuspindo. Temos que mostrar o que você não consegue ver nas filmagens de arquivo”, declara o ator em entrevista a revista Elle.

Além disso, muitos artistas talentosos foram cogitados para o papel titular, incluindo supostamente, Harry Styles e Miles Teller, mas quando Luhrmann se deparou com um vídeo de Butler “em uma bola de emoção, tocando e cantando ‘Unchained Melody’ em um roupão de banho em um piano”, ele sabia que tinha encontrado seu Elvis. “Daquele momento em diante, e a cada momento que o conheci durante o processo de audição, ele literalmente viveu a vida de Elvis”, afirmou o diretor na mesma conversa.

A caracterização é tão bem feita que, somado ao fato do efeito granulado de alguns trechos do filme para parecer uma filmagem antiga, pode fazer com que o espectador se confunda e não tenha certeza se está vendo Austin ou o verdadeiro Elvis. Isso fica mais evidente em uma cena quase no final do longa, quando mostra o cantor já deprimido, doente e com sobrepeso, sentado em frente ao piano em seu último show antes de morrer.

Conhecido pelo seu rebolado único, Elvis foi perseguido pelos grupos conservadores da época que viam nesse estilo de dança luxúria e pecado. Nos jornais tradicionalistas, recebeu o apelido de ‘Elvis The Pelvis’ pelo modo de se apresentar nos palcos. Dito isso, Tom Parker tenta mudar a fim de não desagradar essa elite e continuar ganhando dinheiro. Mas, o que incomodava não era apenas o rebolado, o cabelo ‘de menina’ e a maquiagem nos olhos, e sim o fato dele cantar e dançar igual um homem negro.

O cantor viveu boa parte de sua vida rodeado de pessoas negras – chamadas na época de pessoas de cor – e isso é bem retratado no filme que mostra, inclusive, a relação de Elvis e B.B King – interpretado por Kelvin Harrison. Foi na igreja de negros que ele aprendeu a dançar e rebolar, o que mais tarde viria a se tornar sua marca registrada.

Ao misturar soul, gospel e folk, ele conquistou os Estados Unidos. Mas, em uma época em que o segregacionismo estava tão presente, onde haviam barreiras físicas separando negros e brancos, cantar como um negro era uma grande ofensa para a sociedade.

Portanto, pode-se dizer que Elvis tinha o talento de um negro com a passabilidade de um branco, e isso lhe permitiu emergir e se tornar um astro, ainda que tivesse que ir contra a corrente. Ele também abusava dos movimentos de dança para chocar as garotas brancas que não tinham visto giros como aqueles porque elas não saíam para os juke joint – pequeno estabelecimento informal de música, dança, jogos e bebidas, operados sobretudo por afro-americanos – ou até mesmo as tendas gospel. “Ele era um gosto de fruta proibida”, diz Parker em uma das cenas enquanto observa uma garota desmoronar em gritos. “Ela poderia ter comido ele inteiro […] Foi a maior atração de carnaval que eu já vi”.

Um outro momento que reforça essa situação, ocorre quando Elvis comenta com B.B King que estão querendo lhe prender devido ao seu jeito de dançar. O amigo retruca dizendo que Elvis é branco e pode fazer o que quiser, enquanto ele, sendo negro, pode ser preso apenas por atravessar a rua. Em seguida, uma das melhores e mais inesquecíveis cenas musicais do filme acontece na música Trouble

Registrado em gloriosa câmera lenta por Luhrmann e pela diretora de fotografia Mandy Walker, ele se atira na direção do público, o rosto a centímetros da plateia enquanto declama que “não aceita ordens de nenhum tipo de homem”. Desse modo, Elvis quer, acima de qualquer coisa, fazer com que os espectadores entendam a euforia que Elvis Presley provocava ao vivo, o coquetel irresistível de rebeldia, ritmo e carisma que mexia com uma parte visceral do público.

A obra desenvolve uma trama em torno de uma magia particular do seu biografado, ao ponto de ser uma parte mística inexplicável, que contém um apelo atemporal, mas que de certo modo também usufrui da apropriação cultural. Afinal, pode-se dizer que Presley era o artista certo, na hora certa e no lugar certo.

Há algo quase cômico na forma como Baz Luhrmann mostra a reação do público em algumas das primeiras apresentações de Elvis, mas o filme também reconhece os fatores históricos e artísticos dessa ascensão. De um jeito um pouco caótico, o script assinado pelo diretor ao lado de dois colaboradores de longa data, Craig Pearce e Sam Bromell, se desdobra relativamente bem para retratar as facetas mais complexas do artista durante as quatro décadas em que ele esteve presente.

A relação do astro com a música de sua época e a relativa injustiça de sua imortalização no panteão do rock n’ roll acima dos originadores das técnicas que ele usava, são parte tão integral da história da produção quanto a dimensão política e moral de sua subida à fama. Então, é possível ver Elvis como um ‘branqueamento’ do rock e Elvis como símbolo de transformação moral em momentos de virada importantes do século XX nos EUA.

Elvis não está realmente interessado em Elvis Presley, o homem, embora dê a ele a prerrogativa de qualidades tremendamente humanas dentro do contexto melodramático do filme. Seu luto pela mãe, a generosidade que pautava suas relações pessoais, a admiração genuína que ele sentia por artistas com a coragem de se expressar, a relação visceral com a música, datada de seus primeiros contatos com ela na infância. Tudo está aqui, reconhecido e estilizado no ritmo inconfundível de Luhrmann, mas essa fundação humana serve apenas para apoiar uma exploração que é muito mais sobre Elvis Presley, o mito, o ícone, o símbolo – e ainda bem que é.

É verdade, é claro, que Elvis foi um homem. Tantas biografias, no entanto, se perdem no caminho de tentar decifrar algo intrinsecamente indecifrável: as idas e vindas, os cantos mais escuros e complicados, as partes mais íntimas e privadas da vida de uma pessoa de verdade. O diretor, até por sua natureza como artista, foge dessa armadilha quando cria, ao invés disso, uma ode – poema lírico – audiovisual a Elvis, uma jornada biográfica contada em linguagem pop, e que fala sobre cultura pop, cuja relação com a realidade é meramente incidental, quando ela existe.

Tudo isso é embrulhado em um pacote cintilante de espetáculo teatral, modelado tanto na decadência opulenta dos shows de magia e música de Las Vegas quanto na tragédia. O ponto é que Elvis, como de costume para as obras de Luhrmann, só funciona realmente se aceito dentro de sua própria lógica. O melhor jeito de aproveitá-lo é imaculado por preocupações morais sobre a integridade de cinebiografias, por regras arbitrárias de bom gosto estético e, principalmente, pelo apego insistente a uma ideia rígida de cinema e narrativa ‘de qualidade’. Sob os parâmetros de quem não se desprende de nada disso, alguns momentos do filme mal poderão ser considerados cinema, em sua abordagem distorcida e caótica da linguagem dessa mídia.

Acontece que, sob o olhar de quem reconhece entretenimento e arte pop como propósitos por si mesmos, ele é certamente um belo espetáculo. Talvez, o maior ponto que o filme tem em comum com o verdadeiro Elvis Presley é esse: no fim das contas, render-se aos prazeres que ele oferece é muito melhor do que tentar entendê-lo a partir de um molde no qual ele nunca teve vontade nenhuma de caber.

Algumas situações no filme que não acontecem na realidade

Assim como ocorreu com outras cinebiografias, especialmente de música, Elvis não é 100% preciso em seus relatos, e isso não é um problema, visto que algumas adaptações são necessárias para dar ritmo à trama. A equipe capitaneada pelo diretor Baz, retratou alguns fatos com certa fidelidade enquanto outras situações não aconteceram na vida real.

O próprio Elvis Presley interpretado por Austin Butler está um pouco diferente, como era de se esperar. O filme mostra que quase todas as influências musicais de Presley vieram da música negra. Alanna Nash, escritora de diversos livros sobre a vida e carreira do Rei do Rock, garante que não foi bem assim. Em entrevista à Variety, ela declara que: “Elvis também teve muitas influências brancas e disse, quando ainda estava na sétima série, que se apresentaria na Grand Ole Opry – famoso local de apresentações de country na cidade de Nashville. Lembre-se, ele entrou em um concurso na infância cantando ‘Old Shep’ – um clássico da música country”.

O filme também ignorou por completo as parceiras que Elvis teve no final de sua vida após terminar seu casamento com Priscilla Presley, além de ter mudado algumas coisas na sua relação com o coronel Tom Parker. E por falar no empresário de Elvis, ele também não passou ileso de situações que foram criadas para a obra.

O personagem de Tom Hanks tem um jeito mais exagerado e meloso, além de ser uma pessoa cheia de ideias que poderiam ter consequências desastrosas. Em uma cena da cinebiografia, Parker sugere a Presley dar uma maneirada no seu estilo para evitar críticas dos conservadores. Alanna revelou que o empresário, na realidade, pensava o contrário. “(Parker) gostava do fato que Elvis atraía muita gente para seus shows. Parker amava o fato de Elvis ser visto como um stripper masculino. Aquilo vendia muitos ingressos”. Ela também garantiu que o Coronel nunca chegou a ser ameaçado pelo governo por conta das apresentações de Elvis, algo que ocorre no longa.

[Imagem: Reprodução/Warner]

Além disso, Tom Hanks optou por dar um sotaque considerado ‘europeu’ – afinal, ele nasceu nos Países Baixos – ao seu personagem. Coisa que pouco lembrava o do Tom Parker de verdade, como é possível perceber em uma gravação de entrevista realizada na década de 80.

A obra também retrata que, após ouvir bons comentários sobre Elvis Presley, Tom foi até o programa de TV Hayride para conhecer o cantor, que começou a ganhar fama. Então, essa seria a primeira apresentação do Rei do Rock no lugar – e no mesmo dia, os dois se conheceram.

Na realidade, as coisas se desenrolaram de outro modo. O coronel não estava presente nesse evento. O astro de fato estava nervoso ao se apresentar, mas após uma pausa, se acalmou e conquistou o público. Apenas meses mais tarde que o empresário foi até o local para assistir a um show de Elvis, e eles se conheceram semanas depois, em um espetáculo do cantor na cidade de Memphis.

Em Elvis, é possível ver que Presley era próximo do lendário bluesman B.B. King. Uma das cenas do longa mostra o cantor após um ataque de fúria, ‘fugindo’ para uma casa de shows frequentada por King e outros artistas negros, como Sister Rosetta Tharpe e Little Richard. No entanto, na vida real, as coisas eram bem diferentes. Nash, agora para o jornal USA Today, afirmou: “Elvis e B.B. se conheciam, mas não eram amigos próximos. Eles provavelmente cruzaram caminhos pela primeira vez no estúdio Sun, mas foi algo breve”.

Além disso, uma das críticas mais fortes e repetidas em relação ao Elvis era como ele teria se apropriado de características da música negra em um ainda altamente segregado Estados Unidos. E com isso, o empresário junto a gravadora, venderam uma imagem pioneira do artista mesmo sabendo de todas as barreiras raciais, e só ofereceram uma versão mais ‘diluída’ do que muitos já conheciam através de nomes como Chuck Berry.

Em contrapartida, o próprio B.B King refutou qualquer percepção de Presley ao se tratar de uma pessoa preconceituosa. O fã-clube australiano de Elvis resgatou um artigo do San Antonio Examiner, onde contém uma entrevista do bluesman realizada em 2010 – 5 anos antes de sua morte. Nela, ele declara: “Nascemos pobres no Mississippi, passamos por infâncias desprivilegiadas. Aprendemos e conquistamos nosso caminho através da música. Veja bem, eu conversei com Elvis sobre música desde o início, e eu sei que uma das grandes coisas no seu coração era esta: a música é propriedade de todo o universo. Não é exclusividade do negro ou do branco ou de qualquer outra cor. É compartilhado em e por nossas almas”.

Em dezembro de 1968, o canal americano NBC exibiu um especial que marcou a primeira apresentação de Elvis Presley em sete anos. O material foi gravado, mas representou a volta do cantor aos palcos diante de um pequeno público. A atração ganhou o nome de ’68 Comeback Special’ – em tradução ‘O Especial de Retorno de 68’.

No filme, enquanto Presley gravava a apresentação, o senador Robert Kennedy foi assassinado, mas de acordo com Alanna, a gravação do especial e o assassinato do senador não aconteceram ao mesmo tempo. A escritora revelou que na realidade, apenas um dos ensaios ocorreu no dia em que Kennedy foi atingido pelos tiros que tiraram sua vida – 5 de junho de 1968. “Elvis chegou para iniciar as semanas de gravações em 3 de junho de 1968, e Kennedy levou os tiros em 5 de junho, morrendo no dia seguinte, 6 de junho”.

Além disso, o longa chega a retratar a gravação sendo interrompida pelo barulho dos tiros que mataram Kennedy. Na vida real, o hotel em que o assassinato ocorreu era distante do estúdio em que o especial era produzido. Mas, a produção ao menos acertou em retratar que Elvis ficou abalado pelas mortes de Kennedy e do ativista Martin Luther King, assassinado dois meses antes do político. A música If I Can Dream, composta por Walter Earl Brown especialmente para o programa de TV, foi inspirada por trechos do famoso discurso I Have a Dream, de King.

Em Elvis, há um momento em que ele se alista ao exército para evitar uma possível prisão devido a sua péssima influência para os conservadores e um incidente violento em um show.

Elvis, de fato, se alistou no exército americano e cumpriu serviço militar entre 1958 e 1960, mas não teve relação alguma com uma possível prisão. Nash lembrou que a presença do astro entre os militares teve outro intuito e foi arranjada pelo Coronel Parker. “(Parker) negociou com o intuito de ser uma jogada de relações públicas, para fazer dele (Elvis) um garoto americano”.

O artista também se aventurou no mundo dos cinemas e participou de vários filmes, apesar de nunca terem sido grandes sucessos nas telonas. Há uma cena do longa em que Tom garante que Elvis se tornou o ator mais bem pago de Hollywood, mas não foi bem assim. Ele recebia salários de respeito para gravar algumas produções, justamente por conta de sua fama. Em 1965, por exemplo, ganhou US$1 milhão para gravar Feriado no Harém.

No entanto, três anos antes, Marlon Brando recebeu US$250 mil a mais para gravar O Grande Motim, e em 1963, Elizabeth Taylor ganhou a mesma quantia de Elvis para estrelar o clássico Cleopatra.

Ao decorrer do filme, Elvis Presley demite o Coronel em meio a um show em Las Vegas. Esse episódio até aconteceu na vida real, mas de uma maneira diferente. No espetáculo, ocorrido em setembro de 1973, Elvis destilou sua fúria contra Barron Hilton – dono da rede de hotéis homônima e que também era o proprietário do local em que ele teve que se apresentar por muito tempo.

O astro ficou insatisfeito ao saber que Hilton havia demitido um empregado do hotel com o qual simpatizava. Por conta do incidente, Parker teve uma discussão acalorada com Presley. Foi neste momento que o cantor, de fato, demitiu seu empresário – que foi recontratado após mostrar uma conta do que o cantor estaria devendo a ele.

Além disso, na produção, é revelado que Tom combinou esta série de apresentações no hotel como forma de bancar suas dívidas – afinal, ele perdeu muito dinheiro com jogos de azar. Na vida real, ele realmente se endividou desta forma ao longo de sua vida, mas Alanna Nash garante que os shows que Elvis fazia no hotel não tinham ligação com os problemas financeiros do empresário.

Como a caracterização em Elvis foi essencial

Para o desenrolar de toda a história, é necessário que os personagens tenham uma boa construção de imagem através de figurinos que complementem o roteiro. Com Elvis não seria diferente, principalmente por conta da responsabilidade em dar vida a uma persona lembrada não apenas pelas roupas e maquiagem, mas por uma história complexa, que passa por uma relação polêmica, por vezes violenta, e assistida pelo mundo em uma época com outro olhar em relação às estruturas do patriarcado.

Atender às expectativas do público era um dos maiores desafios que Shane Thomas, chefe de cabelo e maquiagem do filme, enfrentaria. Não só ele, mas também a equipe de figurino, com Catherine Martin e a participação de ninguém mais, ninguém menos que, Miuccia Prada. A designer italiana foi responsável por boa parte dos looks dos protagonistas através de suas duas empresas de roupas, Prada e Miu Miu, onde pode fezer esboços e desenhos para Austin Butler, que interpreta Elvis e para Olivia DeJonge, que interpreta Priscilla Presley.

[Imagem: Reprodução/Prada]

Além disso, a colaboração entre Miuccia Prada, Baz Luhrmann Catherine Martin é renovada depois que os três já deram vida às roupas para dois outros filmes do diretor: os de O Grande Gatsby, em 2013 , e o que Leonardo DiCaprio usou em Romeu+Julieta, em 1996.

Martin, figurinista quatro vezes vencedora do Oscar e criadora de roupas para a maioria dos filmes de Luhrmann -ambos são casados ​​desde 1997 e têm dois filhos – explicou que o centro da narrativa em Elvis é o amor lendário entre Elvis e Priscilla, destacando a beleza e o estilo icônico, justamente por ser um marco a cultura contemporânea. “Por isso, era importante para Baz e eu permanecermos fiéis ao seu verdadeiro legado, não simplesmente imitando as roupas da Sra. Presley, mas encontrando uma maneira moderna de conectar o público com seu estilo distinto e histórico”, afirma Catherine.

Priscilla é um dos pontos-chave da trama de Baz, afinal ela é um exemplo do que era a representação da estética e dos padrões de beleza norte-americanos em meados dos anos 60 e 70, abusando de cabelos volumosos, olhos bem marcados em delineados impecáveis, e até mesmo o formato das unhas. AFinal, nada é banal ou fútil quando se fala em narrativas cinematográficas.

Além disso, ela remonta a trajetória e as fontes de cultura negra das quais bebeu Elvis Presley. É por meio dela e do figurino que se marcam as passagens de tempo no longa. E, para o diretor, o visual dos personagens era tão importante quanto a história. “Baz tem muita certeza de como quer ver os personagens retratados. O meu trabalho era reproduzir sua visão junto de Catherine”, comenta Shane.

“Evitei replicar o visual dela. Priscilla é um pilar da cultura americana, então era muito mais sobre representá-la na frente das câmeras de forma respeitosa e homenagear seu status de ícone de beleza”, conta o beauty artist à Vogue Austrália. “Também precisei entender como trazer a beleza de Priscilla no rosto de outra pessoa; era sobre respeitá-la, mas também traduzi-la no rosto de Olivia DeJonge”.

[Imagem: Divulgação/Warner Pictures]

O início da história de Priscilla e Elvis é problemático, já que ela tinha apenas 14 anos quando eles se conheceram, e ele era 10 anos mais velho. A produção não retrata essa informação, mas, na ocasião, ela é representada como uma jovem esperta, porém sem grandes destaques em termos de elementos estéticos, sendo apenas uma garota comum.

Quando ela se casa com Elvis, em 1967, há um certo amadurecimento no estilo e o ícone começa a se consolidar. É como se ela tivesse, de fato, mergulhado na atmosfera que envolve uma estrela do rock. “Cilla usava uma maquiagem pesada. Eram três pares de cílios postiços em cima, além de cílios nas pálpebras inferiores e um super delineado”, comenta o expert, em entrevista ao POPSUGAR.

De acordo com o profissional, Olivia passava quase duas horas na cadeira de maquiagem todos os dias para chegar ao resultado visto nas telonas. E a parte mais complicada era acertar as sobrancelhas, já que, na vida real, Priscilla adorava mudá-las.

Além do olhar, não dá para falar da Presley sem lembrar do topete enorme, como aquele usado no casamento com o cantor. “Eu olhava para fotos e achava que aquilo era mentira”, entrega Shane. Para recriá-lo, ele lançou mão de duas até bater a altura. Em um segundo momento do filme, após a crise no casamento com Elvis seguida do divórcio, Olivia assume fios loiros, representados por quatro laces diferentes.

[Imagem: Divulgação/Warner Pictures]

Agora partindo para a estrela do rock and roll, além de bonito e talentoso, Elvis usava a estética de uma forma inteligente e consciente para se sobressair e construir uma imagem. A roupa passou a ser sua melhor aliada, compondo perfeitamente com seu cabelo e com os movimentos de seu corpo.

Para a obra, Austin Butler reviveu o cantor por meio do topete e da alfaiataria larga, que por muitas vezes não possui um gênero específico. O ‘estilo Presley’ inspirou muitos astros, como Bruno Mars, e grifes, como Versace e Cavalli.

A colaboração da Prada foi muito importante, principalmente nos ternos sob medida, em cores como marrom ou bordô, com lapelas largas e detalhes, como óculos escuros ou cintos coloridos. Já no caso da esposa, vestiu Miu Miu, com vestidos de chiffon, saias curtinhas, calças de campanha e paetês. Absolutamente tudo para ajudar a caracterizar os personagens sem cair no grotesco ou no disfarce.

Para as peças, os criadores se inspiraram em momentos específicos vividos por Elvis e Priscilla, como um macacão de paetês que ela usou em um show em Las Vegas, ou um vestido de lã que ela usou com uma jaqueta em um especial da NBC dedicado a Elvis, uma peça que, por exemplo, foi literalmente recriada.

A caracterização de Butler acontece até mesmo nos mínimos detalhes. O ator, que é loiro, tingiu o cabelo para a produção, mas também abusou de próteses e perucas. Ou até mesmo na maquiagem com os olhos esfumados – usados pelo cantor na vida real – tudo para contar sua jornada, da ascensão à decadência.

A música como ferramenta principal da obra

Elvis Presley é um nome imediatamente associado ao rock and roll. Não é atoa que ele é conhecido como Rei do Rock, sendo um dos maiores pioneiros do gênero, um verdadeiro símbolo da cultura dos Estados Unidos e de tudo que a engloba.

Hoje em dia, quando se fala do rock, o termo soa quase que obsoleto em seu significado mais literal. Existem pessoas gente vão dizer que, atualmente, o rap é o rock. Para outros, o rock realmente só cabe quando há uma banda, com guitarra, baixo e bateria. Mas também, há quem diga que o gênero não está ligado à música e sim à atitude.

Entender isso é, sem dúvidas, um dos grandes méritos do filme Elvis e de sua excelente trilha sonora, que não foi feita apenas para respeitar o legado de Presley, mas entender que é preciso se conectar com passado, presente e futuro, para conversar com todos os públicos que irão assistir a obra. Essa compreensão permite não apenas que a trilha seja uma das mais interessantes do ano, como também faz com que ela cumpra um papel fundamental em ressignificar a carreira do Rei do Rock, mostrando como a sua influência foi muito além do formato tradicional.

Um dos maiores exemplos disso isso é Vegas, faixa assinada por Doja Cat que usa um sample de Hound Dog. Famosa na voz de Elvis, a canção aparece em sua versão cantada por Shonka Dukureh e mostra como é possível construir algo totalmente diferente a partir de um grande clássico do ritmo.

Mais do que isso, a presença desse sample é uma homenagem as verdadeiras origens do rock – algo que, em vida, Presley sempre pareceu entender e respeitar, como foi retratado no longa de Luhrmann. O mesmo é válido para outras canções que trazem trechos de clássicos, como a ótima The King and I, de Eminem e CeeLo Green, que utiliza de Jailhouse Rock.

Da mesma forma, a presença de uma versão espetacular de Stevie Nicks e Chris Isaak para Cotton Candy Land é o pedido certo para quem esperava versões mais próximas das originais, sem contar as próprias mixagens especiais feitas para o filme de clássicos como I’m Coming Home, Suspicious Minds, Polk Salad Annie e muitas outras.

Também existe a versão de Can’t Help Falling in Love, assinada por Kacey Musgraves, sendo um ótimo exemplo de como essa trilha foi capaz de ‘traduzir’ as canções tão antigas para um contexto atual. E o mesmo vale para If I Can Dream, regravada pela banda italiana Måneskin.

Até agora, é possível entender o passado e o presente, mas e o futuro? Quando se trata de Elvis Presley, o futuro está sempre no presente – afinal de contas, o pioneirismo e a quebra de barreiras são marcas registradas do Rei do Rock, como ficou claro para qualquer um que tenha assistido ao filme.

Mas falar de futuro nesse ponto, é se permitir ir um pouco além nas hipóteses. É acreditar que, graças a uma trilha sonora como essa, algum fã de Doja Cat, de Eminem ou de Diplo, possa mergulhar de cabeça na história do rock.

Ao fim do filme, duas coisas permaneceram na memória. A primeira é como a decadência de um astro é aplaudida de forma cruel pelos próprios fãs, desde que o show business tomou conta da maneira como o ser humano consome a arte. De Kurt Cobain e Amy Winehouse, chama a atenção como essa sanha por testemunhar o fracasso, de vangloriar-se por estar diante da fragilidade de uma pessoa que não aguenta mais o peso do próprio talento. Por isso, ao longo de anos, milhares de pessoas compareciam semanalmente a Las Vegas para assistir à mais uma apresentação do Rei do Rock, por mais que seu corpo e sua voz pedissem socorro.

A segunda, é a frustração do cantor pelas inúmeras maneiras como seu empresário freou o processo de internacionalização de sua turnê, que acabou virando uma residência. Algo que a produção dá conta de esmiuçar e esclarecer as motivações pelo lado de Parker. Um apátrida viciado em jogo que fez de Vegas a prisão do homem mais famoso do mundo. Um desgaste que fez com que, em uma das cenas finais, o rosto e a voz de Austin Butler, tão bem no papel de Elvis Presley, revelasse um milionário de quarenta anos que se sente incapaz de sonhar, podendo ser uma tragédia aos olhos de qualquer um, ou um espetáculo pelo olhar de Baz Luhrmann.

E apesar de tudo isso, Elvis Presley não morreu e nem nunca morrerá, uma vez que ele vive através de suas obras que marcaram o mundo, e principalmente a indústria musical.

Confira os Indicados ao Emmy 2022

Nesta terça (12) a Television Academy anunciou os indicados a 74ª edição do Emmy Awards, apresentados pelos atores J.B Smoove e Melissa Fumero. Como grande novidade foi anunciada que a edição deste ano teve recorde de inscritos ao prêmio.

Succession (2018 – atualmente), com 25 indicações, Ted Lasso (2020 – atualmente), The White Lotus (2021), com 20 indicações cada, Hacks (2021 – atualmente) e Only Murders In The Building (2021 – atualmente), ambas com 17, formam o top 5 de produções mais indicadas ao prêmio. A HBO sai na frente na disputa, com três das cinco séries mais indicadas em seu catálogo: Succession, Hacks e The White Lotus.

A premiação ocorrerá dia 12 de setembro, e até o momento não foi anunciado nenhum apresentador.

Confira a lista dos indicados nas principais categorias.

SÉRIE DE COMÉDIA

  • Abbott Elementary
  • Barry
  • Curb Your Enthusiasm
  • Hacks
  • Maravilhosa Sra. Maisel
  • Only Murders in the Building
  • Ted Lasso
  • What We Do in the Shadows

ATRIZ EM SÉRIE DE COMÉDIA

  • Rachel Brosnahan (Maravilhosa Sra. Maisel)
  • Quinta Brunson (Abbott Elementary)
  • Kaley Cuoco (The Flight Attendant)
  • Elle Fanning (The Great)
  • Issa Rae (Insecure)
  • Jean Smart (Hacks)

ATOR EM SÉRIE DE COMÉDIA

  • Donald Glover (Atlanta)
  • Bill Hader (Barry)
  • Nicholas Hoult (The Great)
  • Steve Martin (Only Murders in the Building)
  • Martin Short (Only Murders in the Building)
  • Jason Sudeikes (Ted Lasso)

ATRIZ COADJUVANTE EM SÉRIE DE COMÉDIA

  • Alex Borstein (Maravilhosa Sra. Maisel)
  • Hannah Einbinder (Hacks)
  • Janelle James (Abbott Elementary)
  • Kate McKinnon (Saturday Night Live)
  • Sarah Niles (Ted Lasso)
  • Sheryl Lee Ralph (Abbott Elementary)
  • Juno Temple (Ted Lasso)
  • Hannah Waddingham (Ted Lasso)

ATOR COADJUVANTE EM SÉRIE DE COMÉDIA

  • Anthony Carrigan (Barry)
  • Brett Goldstein (Ted Lasso)
  • Toheeb Jimoh (Ted Lasso)
  • Nick Mohammed (Ted Lasso)
  • Tony Shalhoub (Maravilhosa Sra. Maisel)
  • Tyler James Williams (Abbott Elementary)
  • Henry Winkler (Barry)
  • Bowen Yang (Saturday Night Live)

SÉRIE DE DRAMA

  • Better Call Saul
  • Euphoria
  • Ozark
  • Ruptura
  • Round 6
  • Stranger Things
  • Succession
  • Yellowjackets

ATRIZ EM SÉRIE DE DRAMA

  • Jodie Comer (Killing Eve)
  • Laura Linney (Ozark)
  • Melanie Lynskey (Yellowjackets)
  • Sandra Oh (Killing Eve)
  • Reese Witherspoon (The Morning Show)
  • Zendaya (Euphoria)

ATOR EM SÉRIE DE DRAMA

  • Jason Bateman (Ozark)
  • Brian Cox (Succession)
  • Lee Jung-jae (Round 6)
  • Bob Odenkirk (Better Call Saul)
  • Adam Scott (Ruptura)
  • Jeremy Strong (Succession)

 ATRIZ COADJUVANTE EM SÉRIE DE DRAMA

  • Patricia Arquette (Ruptura)
  • Julia Garner (Ozark)
  • Jung Ho-yeon (Round 6)
  • Christina Ricci (Yellowjackets)
  • Rhea Seehorn (Better Call Saul)
  • J. Smith-Cameron (Succession)
  • Sarah Snook (Succession)
  • Sydney Sweeney (Euphoria)

ATOR COADJUVANTE EM SÉRIE DE DRAMA

  • Nicholas Braun (Succession)
  • Billy Crudup (The Morning Show)
  • Kieran Culkin (Succession)
  • Park Hae-soo (Round 6)
  • Matthew Macfadyen (Succession)
  • John Turturro (Ruptura)
  • Christopher Walken (Ruptura)
  • Oh Yeong-su (Round 6)

MINISSÉRIE

  • Dopesick
  • The Dropout
  • Inventando Anna
  • Pam & Tommy
  • The White Lotus

ATRIZ EM MINISSÉRIE E FILME PARA TV

  • Toni Collette (A Escada)
  • Julia Garner (Inventando Anna)
  • Lily James (Pam & Tommy)
  • Sarah Paulson (American Crime Story: Impeachment)
  • Margaret Qualley (Maid)
  • Amanda Seydried (The Dropout)

ATOR EM MINISSÉRIE E FILME PARA TV

  • Colin Firth (A Escada
  • Andrew Garfield (Under the Banner of Heaven)
  • Oscar Isaac (Cenas de Um Casamento)
  • Michael Keaton (Dopesick)
  • Himesh Patel (Station Eleven)
  • Sebastian Stan (Pam & Tommy)

ATRIZ COADJUVANTE EM MINISSÉRIE E FILME PARA TV

  • Connie Britton (The White Lotus)
  • Jennifer Coolidge (The White Lotus)
  • Alexandra Daddario (The White Lotus)
  • Kaitlyn Dever (Dopesick)
  • Natasha Rothwell (The White Lotus)
  • Sydney Sweeney (The White Lotus)
  • Mare Winningham (Dopesick)

ATOR COADJUVANTE EM MINISSÉRIE E FILME PARA TV

  • Murray Bartlett (The White Lotus)
  • Jake Lacy (The White Lotus)
  • Will Poulter (Dopesick)
  • Seth Rogen (Pam & Tommy)
  • Peter Sarsgaard (Dopesick)
  • Michael Stuhlbarg (Dopesick)
  • Steve Zahn (The White Lotus)

TALK SHOW

  • The Daily Show with Trevor Noah
  • Jimmy Kimmel Live!
  • Last Week Tonight with John Oliver
  • Late Night with Seth Meyers
  • The Late Show with Stephen Colbert

REALITY SHOW DE COMPETIÇÃO

  • The Amazing Race
  • Lizzo Procura por Mulheres Grandes
  • Nailed It
  • Rupaul’s Drag Race
  • Top Chef
  • The Voice

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[Crítica] Stranger Things é uma das melhores séries da atualidade mesmo com algumas ressalvas dessa quarta temporada

Após uma espera de praticamente três anos desde o último lançamento, Stranger Things retornou com a quarta temporada no final de maio, levando todos os fãs de volta a Hawkins para contar mais uma história sombria dos irmãos Duffer.

O primeiro volume possui 7 episódios muito bem construídos do início ao fim, ainda mais pelo tempo: a maioria ultrapassa uma hora, o último chega a uma hora e quarenta minutos. No dia 01 de julho, os dois últimos episódios foram liberados, que somados entre si dão quatro horas de duração e encerram esse arco, que até agora pode ser considerado um dos melhores.

Relembre um pouco do que aconteceu nas temporadas anteriores

O início da série se passa em 1983, em Hawkins, Indiana. O jovem Will Byers (Noah Schnapp) desparece e seus amigos, Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) decidem procurá-lo com a sua família e a polícia da cidade. Com isso, eles se deparam com uma série de eventos sobrenaturais e é nesse momento que eles começam a entender um pouco sobre o Mundo Invertido.

[Imagem: Divulgação/Netflix]

Nancy (Natalia Dyer), que é a irmã de Mike, Steve (Joe Keery), namorado de Nancy, e Jonathan (Charlie Heaton), irmão de Will, investigam por conta própria o que pode ter acontecido com o menino e Barb (Shannon Purser) – a melhor amiga de Nancy que é morta por um Demogorgon no início da história.

Nesse meio-tempo, aparece Eleven (Millie Bobby Brown), uma garota que tem superpoderes e não sabe muito sobre seu passado ou conviver em sociedade. No final, eles salvam Will, graças a um sacrifício de El, mas os problemas e a ligação do menino com o Mundo Invertido estão longe de acabar.

[Imagem: Reprodução/Netflix]

A segunda temporada avança para 1984, onde todos tentam seguir em frente após tudo o que rolou no ano anterior. Porém, uma nova ameaça aparece direto do Mundo Invertido para ameaçar os protagonistas, e além desse novo inimigo, também há uma nova personagem Max (Sadie Sink), que chega na cidade junto com seu irmão problemático, Billy (Dacre Montgomery).

[Imagem: Reprodução/Netflix]

Enquanto isso, o detetive de Hawkins, Jim Hooper (David Harbour), decide criar Eleven, que sobreviveu aos acontecimentos do final da 1ª temporada, e é nesse ano que aborda mais sobre seu passado, sua mãe biológica, que ficou viva, mas teve sequelas após enfrentar uma terapia de eletrochoque, e a existência de uma irmã, a Eight/Kali (Linnea Berthelsen).

Eleven fica escondida na cabana de Hopper e só Mike sabe que ela está lá. Cansada dessa realidade, ela foge e, quando volta, aprende a verdade sobre sua história. Depois disso, seus amigos enfrentam um Demodog e Eleven entende que precisa fechar de vez o portal para o Mundo Invertido.

No final, ela consegue destruir o Monstro das Sombras, que está conectado a Will e ameaçando a todos, e fica com Mike no baile da escola. Só que há uma vítima no meio disso tudo: Bob (Sean Astin), o novo interesse amoroso de Joyce (Winona Ryder). Ainda nessa temporada, Nancy termina com Steve e fica com Jonathan.

No terceiro ano da série, em 1985, o verão chega e um shopping novo na cidade de Hawkins também, deixando o amado grupo ainda mais sintonizado com sua juventude e com novos casais no ar. Aparecem cientistas russos como vilões tentando abrir um portão para o Mundo Invertido embaixo desse shopping, como revela Alexei (Alec Utgoff), um dos envolvidos nisso. Eleven descobre que o irmão de Max está possuído pelo Devorador de Mentes e, em uma futura batalha com o monstro, acaba sendo ferida e perdendo seus poderes.

Já no final da trama, Billy se sacrifica para proteger o grupo após El entrar em sua mente e o Hopper tenta destruir a máquina usada pelos russos para manter o portal para a outra realidade aberto mas é dado como morto. Eleven, então, vai morar com os Byers, que se mudam para a Califórnia.

Agora, nessa quarta temporada, é possível ver o que aconteceu com cada personagem e todo o mistério por trás de uma nova ameaça do Mundo Invertido: o Vecna, que marca suas vítimas através de um vínculo psíquico e as mata das formas mais tenebrosas e brutais, para se alimentar.

ALERTA DE SPOILER

[GIF: Reprodução/Giphy]

Ao longo de toda essa trama, foi possível ver três núcleos separados: Eleven, Will, Jonathan e Mike estavam na Califórnia; Joyce, Murray e Hopper na Rússia e os demais em Hawkins. Essa dissonância do grupo afeta um pouco a fluidez dos episódios, porque para conciliar tantas linhas narrativas simultâneas, Stranger Things opera na constante quebra de ritmo, ou seja, desenvolve uma situação e, assim que ela estoura, muda de núcleo em uma tentativa de manter a tensão sempre alta.

Durante a primeira parte, parecia que essa divisão entre os personagens não funcionaria em sintonia para salvar Hawkins e o mundo de Vecna, deixando os papéis de cada personagem um tanto quanto confusa. No entanto, o segundo volume acaba mostrando como todos esses enredos funcionam bem para a primeira conclusão desta ameaça de fim do mundo.

A protagonista Eleven ou Jane, vive um difícil período de adaptação nesta season. Apesar de seus esforços, a jovem sofre para se encaixar na escola e é constantemente vista como “a esquisita” por seus colegas de escola. Para piorar, ela está sem os seus poderes, passa pelo luto da morte de Hopper e lida com as saudades dos amigos e do namorado Mike. Porém, após um início movimentado nos primeiros episódios, a jornada de Eleven se torna mais solitária, no entanto poderosa, no final. Millie Bobby Brown consegue sustentar um núcleo inteiro praticamente sozinha, ditando os pontos de virada e provando que nasceu para interpretar esse papel.

Outro grande destaque da temporada, se não for o maior, é Sadie Sink, que volta à pele de Max. É possível acompanhar um lado da jovem nunca visto antes, o que está marcado pelo trauma e culpa. Reclusa de todos, Max passa por uma interessante jornada de reconexão consigo mesma e com os amigos, enquanto carrega um dos principais e mais emocionantes acontecimentos do quarto ano da série.

Ela é capturada por Vecna mas escapa ao som de Running Up That Hill de Kate Bush, música favorita da personagem. A crença de que a canção seria capaz de salvar Max, foi baseada em uma conexão astuta feita por Robin Buckley e Nancy Wheeler depois que uma das primeiras vítimas de Henry, seu pai Victor Creel, parecia ter sido salvo por ouvir Dream A Little Dream Of Me de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.

No entanto, como Vecna ​​revelou na conclusão da primeira parte da quarta temporada de Stranger Things, a música não foi a razão pela qual seu pai, Victor, sobreviveu. Em vez disso, foi simplesmente porque que Henry ultrapassou os limites de seus poderes, o que o levou a entrar em coma antes que pudesse acabar com seu pai.

Isso não deve minimizar a importância da canção de Kate Bush para a sobrevivência de Max. Nancy descreve isso como “uma ponte de volta à realidade” e deve haver pouca dúvida de que ela estava certa. A música evoca memórias fortes que são boas e ruins, então faz sentido que ela pudesse abrir uma porta para fora da alienação opressiva de trauma, desespero e culpa em que Max se encontrava. Além disso, também faz sentido que se ela não tivesse memórias tão positivas e o amor de seus amigos para retornar, não haveria como escapar da maldição de Vecna.

É importante mencionar também Eddie e Argyle, os novos personagens incluídos nessa história. Ambos são completamente diferentes, um é viciado no jogo D&D e é metaleiro, e o outro um completo maconheiro entregador de pizza, mas os dois são um alívio cômico no meio de tantos acontecimentos.

Eduardo Franco, que interpreta o personagem Argyle, esteve presente no MTV Movie&TV Awards e declarou ser uma honra fazer parte de uma série de tanto sucesso. “Todo mundo do elenco, da produção foram maravilhosos e gentis comigo. Todos me receberam muito bem, é como se fosse uma família mesmo”, afirmou o ator.

Inclusive, mesmo Eddie sendo um novo rosto, ele protagoniza a melhor cena do segundo volume da série, onde sobe no topo do próprio trailer no Mundo Invertido com uma guitarra e um amplificador e toca Masters Of Puppets da banda de heavy metal Metallica para atrair os morcegos de Vecna.

O mais curioso dessa cena é que Tye Trujillo, filho do baixista da banda, Robert Trujillo, participou da quarta temporada gravando as faixas de guitarra utilizadas nessa versão. Além dele, o guitarrista do Metallica, Kirk Hammet, colaborou nas gravações.

Além da escolha da música refletir bem as características do personagem, que é fã de thrash metal. A letra de Master of Puppets combinou muito com Stranger Things. James Hetfield, líder da banda, fala da perda de controle e do uso de drogas na música, então os versos sombrios fazem jus a atmosfera ameaçadora do Mundo Invertido. “Master of Puppets lida com drogas. Como as coisas ficam de cabeça pra baixo, em vez de você assumir e fazer, as drogas controlam você” o vocalista afirmou sobre a faixa em entrevista à Thrasher Magazine.

Porém, infelizmente no final dessa trama o Eddie morre nos braços do Dustin, mas os fãs ainda não possuem 100% de certeza, talvez porque não querem acreditar ou porque não têm uma confirmação de fato. De qualquer maneira, isso é uma pena e que chega a ser revoltante, principalmente por ter sido um personagem inserido na penúltima temporada da série, onde foi muito bem desenvolvido e aceito por parte do público.

Uma das grandes surpresas do quarto ano da série, foi a junção de Nancy e Robin como uma dupla. As atrizes apresentam uma ótima sintonia e as personagens, surpreendentemente, se completam, rendendo cenas memoráveis. Já Steve e Dustin, voltam a chamar atenção por sua incrível e divertida dinâmica em conjunto.

Por outro lado, alguns personagens perdem completamente o destaque e ficam à deriva durante a narrativa. É o caso dos irmãos Byers, na qual é possível contar nos dedos quantas falas tiveram ao longo de todos os episódios. Mike e Lucas também não apresentam tanta relevância, mas ainda conseguem aparecer mais do que os primeiros.

O mais revoltante é que o Will saiu de personagem principal para um mero coadjuvante, e que o maior arco gira em torno do personagem ser gay e estar apaixonado por Mike. Já o Jonathan, foi reduzido a maconheiro e que até a trama entre ele e a Nancy que poderia ser explorada, foi deixada de stand by.

Apesar disso, Will protagoniza uma das cenas mais tocantes da quarta temporada. Sem qualquer ambição de grandiosidade, nem ameaça monstruosa pelo caminho, o adolescente demonstra toda sua coragem quando, de coração partido, aconselha Mike sobre seu relacionamento com a Eleven. E, como se suas lágrimas não fossem suficientes para dar conta da sua vulnerabilidade, os olhares furtivos de Jonathan pelo retrovisor denunciam o quanto dói no irmão mais novo estender a mão para seu melhor amigo dessa maneira.

Apesar disso, a direção consegue equilibrar melhor o tempo de tela dos núcleos, onde é possível identificar perfeitamente o motivo pelo qual eles estão separados, como é o caso de Joyce e a Rússia. A história flui em um bom ritmo e se mostra mais madura em relação às outras temporadas. Ao mesmo tempo, referências aos anos anteriores estão mais presentes, assim como pontos narrativos que se conectam com o início da série.

Como é o caso do grande vilão da temporada, Vecna. Ele vem do jogo de RPG Dungeons & Dragons, citado na série desde a primeira temporada. No game, ele é uma criatura que usa um tipo proibido de mágica para se tornar imortal, e é quase isso que Stranger Things mostra. Na série, o monstro se torna ainda mais forte a cada humano que mata. A escolha de suas vítimas, no entanto, não é aleatória. Vecna prefere possuir pessoas que passaram por algum evento traumático e estão vulneráveis emocionalmente, e as tortura com memórias dolorosas antes de acabar com suas vidas.

Voltando a D&D, no jogo Vecna nasceu humano séculos atrás, e sua mãe, Mazzell, foi executada por praticar feitiçaria. Então, em busca de vingança, Vecna se tornou um mestre das magias obscuras, chegando a um nível em que nenhum outro mortal havia alcançado. Em Stranger, os adolescentes começaram a comparar o monstro do Mundo Invertido com Vecna, devido aos seus poderes e pela aparência. Tão poderoso quanto o personagem do jogo, o Vecna de Hawkins é mais perigoso que o Demogorgon, mais complexo de se entender e mais difícil de ser combatido.

Não é só no RPG que Vecna tem um passado traumático com a família. Na série, se descobre que o monstro é Henry Creel, agora conhecido como Peter. O personagem, interpretado por Jamie Campbell, foi uma criança que demonstrava comportamentos estranhos. Com isso, sua mãe buscou ajuda profissional para tratar sua “natureza perturbada” e ele não gostou nada disso. Henry começou a usar seus poderes, primeiramente, para matar animais, até acabar matando a própria família. Victor Creel, o pai, foi o único sobrevivente para poder carregar a culpa pelos crimes.

Também é revelado a origem dos poderes de Eleven, mostrando que Henry, agora Peter, é o paciente 001 dos experimentos do laboratório de Hawkins. Levado à força para lá, Martin Brenner usou o sangue de Henry para criar outras crianças com os mesmos poderes. Para isso, no entanto, precisaria suprimir suas habilidades com a ajuda de um dispositivo implantado em seu pescoço.

Ao longo de todos esses anos, Peter esteve no laboratório de Hawkins auxiliando Brenner nos experimentos, quando descobriu que Eleven era tão poderosa quanto ele. Então, nos flashbacks de 1979 no episódio 7, O massacre no laboratório de Hawkins, os fãs podem ver que ela foi manipulada por Peter e acabou removendo o dispositivo que controlava seus poderes.

Então, Henry provoca um massacre no laboratório, matando as crianças e funcionários da instalação, mas é detido por Eleven, que acaba abrindo o portal para o Mundo Invertido e empurrando ele para lá. Ao cair, ele é queimado por um raio e se transforma em Vecna, o que é comprovado com a marca 001 no pulso.

É inegável como Jamie, que já tem grandes nomes no currículo, como Caius Vulturi em Crepúsculo, Jace em Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos e Gellert Grindelwald em Harry Potter, se sobressaiu fazendo o Vecna. Em entrevista a Vanity Fair, o ator declarou que não enxerga necessariamente o seu personagem como um vilão.

“Eu sou capaz de vê-lo como um vilão? Eu certamente sou capaz de vê-lo como um ponto de conflito”, afirmou. “Mas em termos de, tipo, ele é mau ou [é um] vilão? Quero dizer, eu o entendo e o amo. E eu me relaciono com ele. Fiquei com os olhos lacrimejados ao dizer isso – talvez eu devesse calar a boca! Tipo, eu o entendo, então sempre estarei do lado dele”. Ele ainda acrescenta que: “Acho que ainda há um nível de humanidade nele, mesmo onde ele está agora, mas acho que a humanidade dele estar onde está agora é um fato com o qual posso me relacionar. Tenho certeza que todos nós podemos.”

Com um aspecto bizarro, Vecna tem uma aparência tétrica, que até mesmo fez Millie Bobby Brown chorar quando viu o ator caracterizado. Em conversa com The Verve, Barrie Gower, designer de próteses e maquiador, revelou que o personagem foi feito à base de efeitos especiais e muito lubrificante.

“No dia [da filmagem] ele tem que estar superviscoso, então usamos produtos como lubrificante K-Y. Também usamos um produto chamado UltraWet, um gel transparente, que passamos em todo o corpo dele”, declarou ele. “É o tipo de coisa que, no set, se você colocava a mão no ombro dele, você se arrependia porque ficava todo melecado”, enfatizou Barrie.

O perfil oficial da Netflix compartilhou um vídeo que mostra a impressionante transformação de Jamie Campbell Bower no poderoso vilão da 4ª temporada de Stranger Things. O processo, que inclui a aplicação de diversas camadas de tecido e maquiagem no rosto e no corpo do ator, impressionou os internautas.

Além disso, a caracterização dos personagens carrega um estilo oitentista em seu auge, onde os penteados e figurinos tentam rejuvenescer o elenco, mas não é com todos que consegue. No entanto, tudo não se torna um mero detalhe assim que adentra a nostalgia da série. Os produtores da série reveleram algumas características sobre os looks, que vão desde tênis personalizados da Converse, até referências a nomes como o cantor britânico David Bowie e o filme Grease – Nos Tempos da Brilhantina.

Nessa temporada, Natalie Dyer fez uma permanente mas também usou uma peruca parcial para chegar ao visual de Nancy. Já Mike, deixou o cabelo crescer para ficar parecido com Eddie, em quem se inspira, mantendo um pouco mais comprido atrás e com camadas curtas.

Para os cenários da Califórnia nessa temporada, a figurinista Amy Parris usou diversas referências visuais, como a Thrasher Magazine, Skateboard Magazine, Surfer Magazine, além de anuários reais de escolas do ensino médio americano.

A equipe de figurino colaborou com a Quiksilver para criar o visual tipicamente californiano de Argyle: os tênis do personagem foram customizados pela Vans, e ele usa meias tie-dye igualmente customizadas. O figurino de Mike na Califórnia também foi feito pela Quiksilver, com o intuito de combinar com as roupas do personagem de Eduardo Franco.

O visual de Jonathan nessa season foi influenciado pelo Argyle e pelas atividades extracurriculares que eles fazem juntos. Consequentemente, ele está usando estampas mais psicodélicas. Já para o visual dos alunos do Colégio Hawkins, a Converse fez tênis personalizados em três cores para combinar com a paleta da escola.

No capítulo 4 dessa quarta temporada, a roupa da Robin parece que saiu do armário da Nancy e foi inspirada por catálogos antigos da coleção primavera-verão da Sears, Montgomery Ward e JCPenney em 1986.

Originalmente, os irmãos Duffer queriam que o cabelo do Eddie fosse parecido com o penteado clássico do David Bowie como Jareth em Labirinto – A Magia do Tempo, mas a equipe responsável pelos cabelos dos atores baseou o visual final em Ozzy Osbourne e outros integrantes de bandas famosas dos anos 1980.

E por fim, o penteado de Chrissy foi inspirado na personagem de Olivia Newton-John chamada Sandy em Grease – Nos Tempos da Brilhantina, no estilo líder de torcida americana, mas com franjas bem anos oitenta.

A fotografia de Stranger Things sempre foi bastante mutável e na quarta temporada isso não foi diferente. A depender do contexto de cada cena, a iluminação transita entre o claro e o escuro, também dando bastante destaque para a cor vermelha no mundo de Vecna. As transições do mundo real para o mundo invertido também acontecem e apresentam um bom jogo de câmeras.

Como foi dito anteriormente, a trama se divide entre núcleos diferentes, portanto, a cenografia é intercalada entre a Califórnia, Hawkins, a Rússia e o Mundo Invertido. São muitos os cenários que carregam a história neste ano, entre novos e já conhecidos, mas o destaque vai para a mansão que habita Vecna. O local é cheio de detalhes e uma importante peça para a narrativa, que inclusive por fora, lembra um pouco da casa do filme A Casa Monstro.

A trilha sonora da série também é um grande marco e que trouxe boas posições nos charts. A música de Kate Bush, Running Up That Hill por exemplo, na época de lançamento alcançou a posição mais alta do Hot 100 da Billboard da carreira da cantora, com um 30º lugar. Mas a série da Netflix mostrou o poder de uma plataforma de streaming, levando a música à 1ª posição do ranking no Spotify. Agora, a canção do Metallica, Masters Of Puppets, é a próxima a atingir bons lugares nas paradas musicais.

Outra música dessa quarta temporada que caiu no gosto do público foi Pass the Dutchie, do grupo Musical Youth. A trilha de Argyle e Jonathan, alcançou o 9º lugar no ranking da Apple Music. Além disso, embala vários vídeos divertidos nas redes sociais.

Mas não são apenas esses três sucessos resgatados. A quarta temporada também trouxe o hit da banda The Beach Boys, California Dreamin e Detroit rock city, do KISS. Afinal, Stranger Things aposta na nostalgia para conquistar o público, inclusive aqueles que nem viveram nos anos 80, e essa fórmula se repete desde a primeira temporada.

Quais as pontas soltas?

Com os dois episódios finais da quarta temporada de Stranger Things, muita coisa foi respondida mas algumas situações ainda ficaram pendentes para o grande final da série. Como prometido pelos criadores, os irmãos Duffer, a temporada não terminou com tudo resolvido, muito pelo contrário. O maior desafio de todos foi anunciado, e a próxima temporada precisa dar um jeito para resolver tudo o que ficou para trás, mas já foi confirmado que a produção terá um salto temporal.

Max morre?

Depois de ter escapado da morte por muito pouco, Max encerra a temporada em uma cama de hospital em coma. Além disso, parece que ela não está dentro de sua mente, que Eleven encontrou vazia. Então, fica um questionamento de que talvez ela esteja presa dentro da mente do Vecna e se ela vai ficar sem enxergar ou andar.

[Imagem: Reprodução/Twitter]

O que vai acontecer com Hawkins?

A season encerra com as quatro mortes causadas por Vecna abrindo portais que permitiram que o Mundo Invertido invadisse Hawkins. As partículas começaram a cair lentamente e a matar a vegetação que encontravam pelo caminho, então resta saber se os civis que sobreviveram continuarão por lá mesmo ou se a cidade abrigará apenas algumas pessoas, além dos protagonistas e possivelmente agentes do governo.

Vecna vivo

Vecna apesar de ter ficado bem ferido com o ataque de Nancy, Robin e Steve, conseguiu fugir e, muito provavelmente, passará estes anos do salto temporal reunindo forças a fim de concretizar seu plano de uma vez por todas. A não ser que um novo personagem poderoso seja introduzido, Eleven é a única capaz de enfrentar Henry frente a frente.

[Vídeo: Reprodução/Twitter]

Nancy, Jonathan e Steve

A relação de Nancy e Jonathan sofreu bastante com a distância física e emocional entre os dois. A diferença de planos do casal pode acabar terminando com o relacionamento, enquanto Steve está pronto para levar uma vida de família com Nancy e seus seis futuros filhos.

Will e a ligação com o Mundo Invertido

Os criadores da série já confirmaram à Collider que Will terá um grande foco na última temporada da série, o que faz sentido já que no final do nono episódio, é possível ver o personagem se arrepiando devido a ligação com o Vecna. É importante lembrar que a conexão entre ele e o Devorador de Mentes foi estabelecida na 1ª temporada, antes de ser resgatado do Mundo Invertido. Alguns fãs já estão especulando que como tudo começou com ele, faz sentido toda essa história ser finalizada com ele também.

Stranger Things continua encontrando mais força nos indivíduos e menos na jornada. A fórmula dos Irmãos Duffer funciona e entretém justamente porque eles amam seus personagens, fazem todo mundo amar seus personagens e gostam de permanecer o máximo possível em seus conflitos e emoções. Também ajuda bastante quando há consequências brutais, como no último episódio – e é de se esperar que os criadores tornem o impacto permanente.

A escala do seriado só tem aumentado, com a produção dando um show visual cada vez maior, seja esteticamente, seja cinematograficamente. Por mais desnecessariamente extenso que seja a finalização da quarta temporada, é impossível negar que foi o ano mais épico e macabro da série, mas, como sempre, mantendo o lado humano que torna a obra tão empática e divertida de acompanhar.

De uma série de mistério ao tom de terror, o seriado caminha para o seu desfecho carregando uma legião de fãs consigo. Dá para ter uma noção do que esperar do fatídico quinto ano, se considerar que apenas dois episódios foram tratados como um verdadeiro evento da cultura pop de 2022. É possível aguardar uma sequência com toda qualidade e potencial que trouxeram até aqui. Principalmente quando a promessa é grande demais para se esperar tanto.

Lindsay Lohan: The Rise, The Fall and The Comeback

Umas das atrizes mais icônicas dos anos 2000, Lindsay Lohan era considerada a próxima estrela de sua geração. Atuações aclamadas e sucesso repentino, Lohan tinha tudo para ter uma longa carreira: o que aconteceu? Quem (ou o quê) deve-se culpar pela queda de Lindsay? Sua família; a indústria; más companhias; drogas ou talvez uma combinação de todos esses fatores? 

Apesar de termos crescido vendo Lindsay nas telinhas, éramos novos demais para entender todas as polêmicas e escândalos que levaram a atriz prodígio a clínicas de reabilitação e um hiatus de trabalho que durou até esse ano, 2022. Hoje, no seu aniversário de 36 anos, fizemos um deepdive na carreira e vida pessoal de Lohan, assim como também aguardamos ansiosos pelo retorno da atriz na Netflix em dezembro deste ano.

THE RISE

O começo

Nascida em 1986 em Nova York, Lindsay cresceu em Merrick e em Cold Spring Harbor, ambas no estado de Nova York. Sua história familiar não era ótima: seu pai Michael foi preso por insider trading quando ela tinha apenas três anos, além do notório vício em drogas que ele mantinha. Seus pais se separaram e voltaram algumas vezes, e Michael continuou a assombrar a vida de Lindsay à medida que ela ficou rica e famosa. A mãe de Lindsay, Dina, também acusou Michael de violência doméstica e disse que isso afetou a filha. Sobre sua infância com seu pai, Lindsay disse para o Irish Examiner:

“Ele fez eu e minha mãe e os pais de minha mãe passar pelo inferno – desde ameaças de morte, a jogar sapatos na cabeça do meu avô e causá-lo uma concussão, a ameaçar a matar minha mãe na frente do meu irmão mais novo, Dakota.” “Eu cresci muito rápido por causa das situações a que fui submetida pelo meu pai. Minha mãe tentava me proteger daquilo o máximo possível, mas eu escolhi ficar no meio dos meus pais minha vida toda.”

Em meio a uma vida turbulenta, Lindsay e seus irmãos foram estimulados desde cedo a trabalharem. Aos três anos, em 1989, Lohan assinou contrato com a Ford Models, sendo a primeira modelo ruiva da agência. Nessa época ela apareceu em diversos comerciais, sendo um deles para a grife Calvin Klein. 

Aos dez, ela já atuava em uma novela chamada Another World, e foi aqui que ela foi descoberta pela Disney. Operação Cupido estreou em 1998 e obteve grande aclamação da crítica. Lindsay foi elogiada pela sua atuação e se tornou a nova promessa de Hollywood. Apesar de ter assinado um contrato de mais três filmes com a Disney, além de entrar para o elenco de um seriado com Bette Midler, ela decidiu voltar para casa para ser uma criança normal. Enquanto isso, Life Size (2000) e Get a Clue (2002) foram lançados.

Lindsay na première de Operação Cupido, em 1998

Lindsay x Hillary

Aqui se iniciam as famosas polêmicas que alimentaram os tabloides por anos: a briga Lindsay Lohan x Hillary Duff. Tudo começou com um garoto chamado Aaron Carter (irmão do Nick Carter do Backstreet Boys). Carter namorava Duff na época, até que no aniversário de dezesseis anos de Lohan, ele decide trocar Duff pela aniversariante. Isso apenas colocou mais lenha na fogueira da competição que a mídia criou entre as duas atrizes.

Em 2003, Freaky Friday estreou e foi mais um hit para Lindsay. Nesse filme ela contracena com o queridinho Chad Michael Murray, que depois também fará parte dessas polêmicas. No mesmo ano, Lindsay e Carter terminam e ele volta correndo para Duff. Em julho, no famoso shooting da Vanity Fair com as atrizes mais populares daquela geração, Hillary aparece com Carter, causando incômodo em Lindsay, fazendo com que o shooting fosse pausado por diversas horas. 

Vanity Fair (2003)

Na première de Freaky Friday, Hillary leva Chad Michael Murray como seu acompanhante, apenas servindo de combustível para os sites de fofoca. A fim de devolver na mesma moeda, Lindsay aparece na premiére de Doze É Demais, estrelada (entre alguns protagonistas) por Hillary Duff. Os boatos são de que Duff ficou tão chateada com a presença de Lohan, que ela ou sua mãe pediram para expulsarem Lindsay.

Essa confusão continuou a se perpetuar por mais alguns anos, com rumores de que Lindsay havia ganhado o papel de Confessions of a Teenage Drama Queen ao invés de Hillary e a ideia de que Duff era a all american good girl e Lohan a má influência. Nessa época, aos dezessete anos, Lindsay já estava começando a sair em baladas com pessoas mais velhas como Nikki e Paris Hilton e Nicole Richie, que tinham reputação de serem party girls, abusarem de drogas e se envolver em polêmicas. Também não foi nada bom para a imagem de Lindsay seu namoro com o ator sete anos mais velho Wilmer Valderrama.

O auge e as drogas

Apesar de tudo, ela não poderia estar indo melhor. Em 2004, Mean Girls chega às telonas, solidificando Lindsay como uma estrela. Ela chega num patamar onde nenhuma outra pessoa de sua idade havia chegado. 

Lindsay apresenta o Saturday Night Live, grande marco de sucesso para celebridades americanas, e nele se “reconcilia” com Duff em uma cena parodizada. No mesmo ano, ela aparece na People Magazine na lista dos 50 mais bonitos, apresenta o MTV Awards e sai na capa da Vanity Fair. Ainda em 2004, seu pai é preso de novo, aumentando a atenção em Lindsay. Ela assina contrato com a Casablanca Records para seu primeiro álbum de estúdio e recebe 7.5 milhões de dólares por Herbie: Meu Fusca Turbinado (2005), algo fora dos padrões para atrizes da sua geração.

Pouco tempo depois, Lohan é internada por infecção no rim, devido desidratação por estar trabalhando demais e perde seis quilos, fato que a afetará no futuro. O álbum é adiado e Lindsay e Wilmer terminam, alegando que ela era muito nova e que o relacionamento estava indo rápido demais. Os rumores de que Lindsay era usuária de drogas só aumentam a partir disso. 

Fotos dela com amigas de infância supostamente fumando maconha vazam na internet, e em uma de suas saídas com Hilton, ela perde sua bolsa. A pessoa que encontrou a bolsa diz ter visto saquinhos com cocaína dentro, mas o agente de Lohan desmentiu e o rumor morreu ali. Nas gravações de Just My Luck (2006), relatos de que Lindsay frequentava todas as festas em New Orleans e chegava de ressaca nos sets do filme só aumentavam. Em 2013, o pai de Lindsay conta para o The Sun UK que Lindsay havia tido uma overdose por cocaína durante as filmagens:

Documentos encontrados na bolsa perdida de Lohan

“Lindsay estava filmando em New Orleans e recebi uma ligação dizendo que ela havia tido uma overdose por cocaína.” “Um de seus assistentes havia lhe dado a droga. Eu estava tão bravo que peguei uma arma de casa e planejei ir para New Orleans matá-lo.”

THE FALL

O começo do fim

Após aparecer super magra em uma festa da Cartier, a imprensa só falava sobre Lindsay. Revistas vendiam a “dieta de Lindsay”, outras condenavam seu peso. Existia até um site que dizia arrecadar comida para ela. Anoréxica, drogada e viciada em cocaína eram os apelidos mais usados. 

Durante isso, seu pai era preso de novo, significando mais atenção dos paparazzi e manchetes ruins. Em junho, fugindo dos paparazzi, ela bate o carro e os tabloides a acusam de ser irresponsável e querer tirar a atenção da mídia sobre a prisão de Michael. São incertas essas acusações, pois o abuso de paparazzi nesta época era absurdo, levando uma lei ser criada em Los Angeles que proíbe paparazzi de seguir carros.

Enquanto as polêmicas rolavam, Lindsay tentava se provar como atriz séria em um filme novo, A Última Noite (2006), ao lado de Meryl Streep e Woody Harrelson. Lohan queria se desvencilhar da imagem infantil, ao mesmo tempo que fazia parceria com a Mattel, lançando sua boneca própria. Mais tarde, ela se envolve em mais um acidente de carro, com pouca repercussão na mídia.

Lindsay pinta o cabelo de preto e começa as gravações de Chapter 27 (2007) com Jared Leto, sobre o assassinato de John Lennon. Em dezembro lança seu segundo álbum A Little More Personal (e realmente era), que mais uma vez recebe críticas ruins, apesar de músicas sentimentais como Confessions of a Broken Heart (Daughter to Father). Na mesma época vaza a famosa lista dos “36 lucky fellas”, nomes dos homens famosos com quem Lindsay teria dormido.

Sua imagem continua a ficar mais suja depois de faltar uma entrevista por suposta intoxicação alimentar, mas depois ser vista no MTV TRL Awards. No ano seguinte, ela causa barraco no evento Man of the Year da GQ e no mesmo mês é vista saindo com Kate Moss (notória por seu vício em pó), que estaria a guiando para um bom caminho. Não muito tempo depois, o Daily Mirror denunciou os vícios de Kate em cocaína, então duvidamos que quão bom esse caminho era.

Lindsay x Paris, a carta e mais polêmicas

Em fevereiro de 2006, ela sai na capa da Vanity Fair, onde assume ter usado drogas e leva a mídia a confirmar que a sua magreza era devida a abuso de drogas. Em maio Just My Luck estreia e Lindsay recebe sua primeira indicação ao Framboesa de Ouro por Pior Atriz, e mais uma vez seu filme não decola (apesar de ser um dos meus guilty pleasures). Apesar disso, recebe boas críticas pelo seu filme com Meryl Streep, mas a imprensa não presta atenção devido a uma richa com Paris Hilton causada por ex namorado Brandon Davis. Davis logo depois vai para a reabilitação tratar seu vício por cocaína, enquanto Paris e Lohan continuam brigando. No CFDA Awards, Anna Wintour supostamente teve que pedir para Karl Lagerfeld controlar sua convidada (Lindsay), que foi ao banheiro várias vezes para “retocar a maquiagem”. 

Em seu aniversário de vinte anos, ela conhece Harry Morton, que se torna seu namorado. Aqui ela começa a gravar Georgia Rule (2007) com Jane Fonda, e as notícias de suas festas constantes, ressacas e inconstância cresciam. Lindsay é internada por “exaustão por calor” (aqui em aspas, porque essa desculpa parece ser usada várias vezes pela equipe de Lindsay quando querem encobrir seu uso de drogas) e as coisas vão de mal a pior. O CEO da produtora, James G. Robinson, escreve uma carta denunciando os maus hábitos de Lindsay e os danos que ela causou à produção do filme.

Isso prejudicou sua carreira de forma irreparável, pois agora nenhum estúdio queria se arriscar a contratar Lindsay. Ninguém poderia confiar mais nela, e talvez isso tenha sido um breve wake-up call. Após esse evento, ela começou a chegar mais no horário das gravações e assumiu mais responsabilidade.

Ainda no mesmo ano, Lindsay perde uma bolsa Birkin com um milhão de dólares em jóias no aeroporto de Heaththrow, ao mesmo tempo que ela e Harry terminam. Em novembro, é vista com um um pin de 90 dias de sobriedade do Alcoólatras Anônimos, enquanto ela ainda era menor de idade (maioridade nos Estados Unidos é de 21 anos). Pouco tempo depois, Paris é vista com Harry e recebemos o grande momento da cultura pop, em que Lindsay diz “Paris is a cunt”.

Rumores de que ela havia tido uma overdose e foi ressuscitada por um médico surgem, mas nunca foram confirmados. Lindsay aparece em vídeo dizendo que Paris bateu nela e quase em seguida, a famosa foto de Lindsay, Britney e Paris acontece. A foto foi totalmente um golpe de publicidade e Paris depois disse que Lindsay era uma drogada e que não era mais bem-vinda. Apesar disso, o assistente de Lindsay vai a público dizer que ela está no AA há um ano.

Fall from grace

Em 2007, Lindsay é vista chorando em corredor de hotel depois de levar um fora do James Franco (pelo amor de Deus) no Globo de Ouro. Ela se interna em uma clínica de reabilitação para ficar longe dos paparazzi. Pouco depois, ela é acusada por uma modelo de ter roubado milhares de dólares em roupas, com fotos de mensagens de textos (mundo pré print) contendo muita baixaria.

No mês de maio, uma amiga de Lindsay vaza um vídeo dela cheirando cocaína no banheiro de uma festa, essa é a primeira evidência concreta do seu uso de drogas. Após a festa do Memorial Day de Nicole Richie, Lohan é vista com Samantha Ronson, alimentando rumores de que estavam juntas. Em uma festa no dia seguinte, Lindsay bate o carro (de novo) e surgem essas fotos icônicas. Logo depois, Lindsay vai para reabilitação (de novo).

Lindsay sai da clínica e pouco tempo depois volta para a rotina de festas, fazendo a mídia questionar sua sobriedade. Tabloides diziam que ela colocava vodka em garrafas de água e trocava cocaína por MD. Ela é vista festejando a noite toda e usando a tornozeleira de sobriedade durante o dia tomando sol. Nessa semana aconteceu um acidente em uma festa com suas assistentes. Após ser flagrada bebendo, ela briga com o namorado de sua assistente, pega o carro e sai correndo. Aqui, Lindsay é presa pela segunda vez por dirigir sob influência. Ela vai para a reabilitação de novo e admite culpa pelo uso de drogas.

O ano é 2008 e Lindsay é capa da NY Magazine, canalizando o ícone Marilyn Monroe. Ela faz aparição especial em Ugly Betty, mas teve seus episódios reduzidos por não ter se dado bem com a protagonista, America Ferrera. No mesmo ano, lançou uma marca de roupas chamada 6126, que vendia leggings de grife. Apesar disso, os tabloides só falavam sobre seu namoro com Samantha, e as especulações sobre sua sexualidade aumentaram (em 2013, Lindsay disse que é héterossexual). Em abril, elas terminam.

Em agosto sua casa é assaltada pela mesma gangue de adolescentes que furtaram a casa de Paris Hilton e Orlando Bloom. Você deve achar essa história semelhante com a de The Bling Ring (2013) dirigido por Sofia Coppola, e é porque o filme foi baseado nisso.

A Bling RIng da vida real

(Mais) problemas com a justiça

Em outubro, sua liberdade condicional concedida após sua prisão é estendida para ela completar um programa de educação sobre uso de álcool, que ela ainda não havia feito. Já em 2010, Lindsay estava em Cannes. Ela não comparece ao tribunal para responder sobre as aulas do tal programa, ela alega terem roubado seu passaporte. Apesar das desculpas esfarrapadas, o juiz intima ela a não beber mais, a fazer testes de drogas toda semana e usar mais uma tornozeleira de sobriedade. Lohan paga fiança e sai. Na próxima audiência, ela recebe 90 dias por não ter completado o programa e nem os encontros no AA. Ela se entrega e serve apenas duas semanas, devido a superlotação, e pode ficar em condicional.

Lindsay tuita que está se responsabilizando por seus atos e fazendo testes de drogas toda semana, mas que testou positivo para anfetaminas (provavelmente Adderal) no sangue. Uma semana depois, ela perde a condicional e é presa de novo, mas na mesma noite recebe fiança, mais uma tornozeleira e vai para a reabilitação. Nesse meio tempo, fotos de Lindsay supostamente usando heroína são vazadas.

Em 2011, Lindsay sai da clínica e é pega roubando um colar. Ela é acusada e recusa acordo, pegando 120h em serviço comunitário por violar a condicional e o roubo vira contravenção. Em abril, ela fica 5h na cadeia, saindo depois de pagar fiança. Admite culpa pelo colar, ganha mais horas de serviço comunitário, uma tornozeleira eletrônica e fica em casa (dando festas). Seu novo filme ao lado de Robert DeNiro, Machete, estreia, mas Lindsay legalmente não pode promover o filme. Em outubro, ela perde a condicional (de novo) por não cumprir os serviços comunitários, é presa por 2h e sai por fiança. Lindsay deve servir 30 dias e completar o serviços.

Após as diversas prisões, Lindsay parece estar retomando o controle da sua vida. Aparece no SNL mais uma vez, fazendo graça de si mesma, e aparecendo em Glee (mais rumores dela ser uma diva). Ela começa a gravar o filme Liz and Dick (2012) e em junho bate o carro (de novo) e é internada por exaustão por calor (de novo). Em um final de semana na casa de sua mãe, Lindsay liga histérica para seu pai, dizendo que sua mãe estava drogada em cocaína (a ligação foi vendida para imprensa pelo próprio pai).

Lindsay é presa mais uma vez por socar uma mulher em uma balada, mas acaba saindo impune. No fim de 2012, a IRS (Receita Federal dos EUA) apreende todas as contas bancárias da atriz, devido a mais de 200 mil dólares que Lohan devia em impostos ao governo desde 2009. Enquanto ela gravava Scary Movie 5 (2013), Charlie Sheen supostamente pagou 100 mil dessa dívida para ela. O resto, segundo a imprensa, foi pago por três bilionários com quem Lindsay saiu: o Príncipe Abdulaziz da Arábia, o hoteleiro Vikram Chatwal e o artista Domingo Zapata.

No ano seguinte, 2013, Lindsay vai para o tribunal por ter batido o carro (de novo) e pega 90 dias de reabilitação e terapia mandatória. Em agosto ela é entrevistada pela Oprah, e anunciam uma série documental sobre a vida dela. Em 2014, a série é lançada e nela, Lindsay diz que Oprah salvou sua vida, além de revelar que havia sofrido um aborto espontâneo. Apesar de várias cenas chocantes, a série não fez sucesso. Mais tarde no ano, ela se muda para Londres e cria um aplicativo chamado Lindsay Lohan: The Price of Fame.

Em 2015, Lindsay está finalmente fora da condicional depois de oito anos, além de ter contratado um novo agente. Ela começa um namoro com o herdeiro russo Igor Tarabasov em 2016, noivando depois de cinco meses e terminando depois de quatro meses depois do noivado. Lindsay diz que Igor a traiu, mas não se tem certeza. Em uma ocasião, a polícia quebra a porta de sua casa após ouvirem gritos de Lohan dizendo que Igor estava a estrangulando, nenhum boletim de ocorrência foi feito.

A fatídica mudança para Dubai acontece em 2017, e aqui Lindsay se afasta um pouco dos tabloides. Durante o infeliz julgamento de Harvey Weinstein, Lindsay defende o abusador e causa polêmica na internet. A atriz Rose McGowan disse:

“Por favor, vão com calma com Lindsay Lohan. Ser uma estrela infantil transformada em sex symbol muda sua cabeça de formas que vocês não compreendem.”

A última polêmica de Lindsay foi em 2018, quando ela fez uma live no Instagram gravando uma família de moradores de rua e querendo levar eles para a casa. A atriz foi acusada de tentativa de sequestro e preocupou seus fãs pelo comportamento.

THE COMEBACK

A Renascença de Lohan

Em 2019, Lindsay lançou um show na MTV chamado Lindsay Lohan’s Beach Club, mas desapontou quem assistiu pois ela não aparecia no show. Ela modelou um pouco, participou do The Masked Singer, fez as reuniões de elenco de Mean Girls e Operação Cupido. Em 2020, Lindsay lança sua primeira música em anos, Back to Me.

Lohan disse no podcast de sua mãe, THE OG MAMA D!, que estaria pensando em voltar para os Estados Unidos e retomar sua carreira. Em 2021, essa vontade vira verdade e Lindsay anuncia contrato de dois filmes originais da Netflix, um sendo lançado em dezembro desse ano, chamado Falling for Christmas. Ela também anuncia, em abril de 2022, seu próprio podcast The Lohdown, disponível em todas as plataformas. No mesmo mês, Lindsay participa do vídeo My Life in Looks da Vogue Americana.

Lindsay está longe das más línguas dos tabloides há uns bons anos e parece que, agora, definitivamente, ela está tomando controle da sua vida e tendo hábitos saudáveis. Não é desconhecido para ninguém os perigos de crescer dentro da indústria hollywoodiana. Outras estrelas que tiveram seu big break ainda crianças passaram por eventos traumáticos, polêmicas e abuso de álcool e drogas, como Drew Barrymore e Miley Cyrus, por exemplo. Lindsay passou por muito enquanto era apenas uma jovem sem orientação adulta.

A esperança é de que, assim como Robert Downey Jr. conseguiu dar um 360 na carreira, Lindsay também consiga. O talento ainda está dentro dela, o que falta é a mudança de comportamento e a oportunidade da indústria em confiar nela de novo. Lindsay ainda pode continuar a ser uma grande estrela e impressionar com suas atuações. Abuso de substâncias é uma doença séria, que deve parar de servir como alimento para a imprensa, que ama ver jovens adultas cheias de potencial perder tudo. A partir de agora, o que podemos fazer é apoiar Lindsay e continuar a proteger estrelas mirins, a fim de evitar mais traumas.