Estamos no período em que ocorrem as principais premiações do ano, no qual também podemos ver nossos artistas favoritos dando um show – ou não – no tapete vermelho. Atuando como verdadeiras vitrines para grandes marcas, o processo de escolha dos looks das estrelas, para os red carpets, é extremamente complexo, contando com o apoio de diversos profissionais da moda. Tudo isso é minuciosamente calculado para associar a imagem dos artistas ao dressing code do evento e, ao conceito das peças. Reunimos a seguir, as principais tendências dos últimos red carpets e nossas apostas para os que virão.
Decote nas costas
Que os decotes profundos estão em alta, você já deve ter percebido, “now let’s hear it for the back of the dress”! As costas à mostra criam um ótimo contraste para a produção, além de explorar a sensualidade por uma nova perspectiva.
Jasmine Sanders veste Jean-Louis Sabaji
Ingrid Andress veste Bevza
Valentino Spring 2023 Couture
Fendi Spring 2023 Couture
Laços
Tendência das passarelas, os laços voltaram à tona, através da estética Ballet Core e prometem dominar o red carpet. Agora, vão além de simples adereços, sendo também, o foco principal dos looks, trazendo um toque de romance e feminilidade.
Claire Danes veste Giambattista Valli
Michaela Jaé Rodriguez veste Balmain
Valentino Spring 2023 Couture
Armani Privé Spring 2023 Couture
Metalizados
Tendência desde a última temporada de Outono / Inverno, as peças metalizadas, sejam elas, de tecido ou aplicações, continuam em alta. Adotada por ninguém menos que Beyoncé, em sua nova Era “RENAISSANCE”, a trend, que exala glamour de uma forma cool, tornou-se a protagonista dos red carpets.
Beyoncé veste Gucci
Mary J. Blige veste The Blonds
Zuhair Murad Spring 2023 Couture
Fendi Spring 2023 Couture
Capuz
Elemento marcante nas passarelas e agora, também, nos red carpets, o capuz traz mistério e um toque de irreverência aos looks, equilibrando, assim, a formalidade necessária para a ocasião, com um estilo mais despojado.
Miguel veste Diesel
Charlotte Lawrence veste Saint Laurent
Jean Paul Gaultier Spring 2023 Couture
Zuhair Murad Spring 2023 Couture
Luvas
Em suas mais variadas versões, as luvas agregam drama e sofisticação às produções. Um item clássico, que foge do óbvio e consegue ser adaptado a diversos estilos, até mesmo, aos mais modernos.
Dylan Mulvaney veste Christian Siriano
Jack Harlow veste Ernest W. Baker
Schiaparelli Spring 2023 Couture
Valentino Spring 2023 Couture
Babados
Tendência que pode passar um tempo esquecida (e até mesmo, saturada), mas volta constantemente! Os babados trazem volume e movimento ao visual, de forma glamourosa e divertida, sem perder a feminilidade.
Jennifer Lopez veste Gucci
Anitta veste Atelier Versace
Valentino Spring 2023 Couture
Zuhair Murad Spring 2023 Couture
Aplicação de flores
Elementos característicos das temporadas Primavera / Verão, as flores deixam as estampas e, aparecem agora, em alto relevo, através das aplicações, nos mais diversos materiais e tamanhos.
Eddie Redmayne veste Valentino
Camila Cabello veste PatBo
Armani Privé Spring 2023 Couture
Giambattista Valli Spring 2023 Couture
Plissados e drapeados
Criados através de técnicas de tratamento de tecidos – principalmente, naqueles mais leves e fluidos – os efeitos plissado e drapeado elevam os looks, imprimindo texturas que deixam a produção ainda mais interessante.
Jenna Ortega veste Gucci
Kelsea Ballerini veste Prabal Gurung
Fendi Spring 2023 Couture
Giambattista Valli Spring 2023 Couture
Assimetria
Através de recortes, fendas e alças / mangas de um ombro só, as peças assimétricas trazem movimento, sensualidade e elegância para as produções, de forma nada óbvia.
Cardi B veste Gaurav Gupta
Michelle Williams veste Gucci
Balmain Spring 2023 Couture
Elie Saab Spring 2023 Couture
All black
Clássicas e atemporais, as composições all black, vão do básico ao extravagante, a depender da modelagem e styling. Aposta certeira para um visual elegante, sem sobrecarregar o look.
Penso no Big Brother como uma grande vitrine: de comportamentos, atitudes, novas ideias e tendências. Sejam as tendências que vêm para ficar ou apenas as que refletem pontos que precisamos urgentemente mudar. O fato é que o programa sempre teve audiência recorde e expõe para milhões de brasileiros o que está “em alta”. O que, na sua primeira década, era um espaço de entretenimento e visibilidade, se transformou nos últimos anos, com os investimentos milionários e a constante participação de outras redes sociais nos resultados e acontecimentos do programa.
Se analisarmos apenas as últimas edições da versão brasileira, por exemplo, já vemos um aumento significativo em participações de marcas. Segundo a Época Negócios, em 2023,o programa fechou contrato com 34 empresas diferentes, sendo que, em 2022, esse número era de 11 patrocinadores e, em 2021, foram 8. Segundo a Rede Globo, a divisão das marcas é feita por cotas e a maior delas é de R$ 105 milhões cada (em que participam empresas como a Seara). O motivo para tamanho interesse, como já dito acima, é a audiência gerada pelo programa: em 2022 mais de 153 milhões de pessoas viram os conteúdos do BBB nas plataformas da Globo.
Ok, mas o que isso tem a ver com moda afinal? Retorno a minha primeira analogia: o BBB é uma verdadeira vitrine (e nem estou falando só da Casa de Vidro). Quando as pessoas assistem, elas veem muito mais do que as provas e confusões entre os grupos. Elas também se interessam pelo modo como os participantes se vestem e o que de novo – ou não – tem ali. E isso acontece desde muito antes do Instagram ou TikTok entregarem conteúdos a cada segundo.
Durante a edição BBB 03, eu tinha 4 anos de idade, portanto, não estava muito antenada nas tendências de moda do país (e nem no programa!). Mas se você era adolescente ou acompanhava o reality na época, tenho certeza que se lembra dos famosos brincos de pena usados pela Sabrina Sato na edição. Na minha opinião, foi a primeira tendência lançada e desejada que saiu diretamente do Big Brother Brasil. Hoje em dia, é mais comum encontrarmos outras versões do acessório, como as menores e de metal.
Sabrina Sato usando os famosos brincos de pena, no BBB03 [Imagem: Reprodução/Capricho]
Já na edição BBB 07, foi a primeira vez em que fui influenciada diretamente por um item desejo. Eu não assistia ao programa e nem tinha acesso à internet, mas me lembro perfeitamente de ver meninas adolescentes usando flores de crochê no cabelo. Implorei para a minha mãe me dar algumas coloridas, sem nem saber de onde aquela vontade vinha. Eu achava lindo? Combinava com minhas roupas? Não sei. Sei que era o que eu queria porque, afinal, todas as meninas mais velhas tinham. Hoje sei que posso agradecer à participante da edição, Iris Stefanelli, que transformou o acessório em verdadeira febre.
Íris Stefanelli e a tendência da flor de enfeite na cabeça. [Imagem: Reprodução/Capricho]
Eu poderia dar vários exemplos direto do túnel do tempo, como as headbands usadas pela Maria Melilo, no BBB 11, mas seguindo para a pandemia em 2020 vimos como as edições verdadeiramente se transformaram depois de um acontecimento com nome e sobrenome: Manu Gavassi. Gostem ou não, o fato é que Manu revolucionou o programa ao deixar vídeos no Instagram prontos do lado de fora da casa, para cada possível situação que enfrentasse lá dentro. O modo como ela conversou com o público, mesmo isolada por 3 meses, ditou como seriam as edições desde então, com números girando em torno de seguidores e engajamento nas redes sociais. Ela também lançou várias tendências de moda – e já vou explorar isso melhor – , mas essa relação entre consumo direto aqui fora ao que é mostrado no reality verdadeiramente mudou após a pandemia e explosão do TikTok, com coleções lançadas praticamente instantaneamente e lojas reproduzindo o que o público gostava de ver, de maneira cada vez mais acessível.
Tenho certeza que todo mundo lembra do meme da Manu com a sandália tratorada que parecia ser do tamanho dela. Menos de 1 mês depois e todos os principais nomes de marcas de calçados nacionais como Melissa, Anacapri e Arezzo tinham as suas próprias versões do sapato que dividiu opiniões. Mas penso que é exatamente esse o ponto: não é todo mundo que vai gostar e usar, mas era a peça mais comentada – literalmente – do país. Todo mundo sabia o que era uma sandália tratorada, depois disso, não apenas os mais ligados à moda. Na mesma edição, tivemos Bianca (a Boca Rosa) com os buckets hats. Ela afirmou, depois de ser eliminada, que todos os seus looks, incluindo cabelo e maquiagem, já tinham sido decorados para o confinamento, fato que fez com que sua marca vendesse 3 vezes mais, enquanto ela estava no programa.
A famosa sandália da Manu Gavassi que dividiu opiniões em 2020. [Imagem: Reprodução/Yahoo Notícias]
O fenômeno do BBB 21 não foi diferente: Juliette lançou moda ao usar camisa por baixo de cropped, tiaras acolchoadas e os brincos que imitavam piercings, os ear hooks. As vitrines das principais lojas do país eram tomadas por manequins “à la Juliette” e com outras tendências da edição, como os lenços na cabeça. Para comprovar que o sucesso do programa em si não interfere 100% no que o público deseja comprar, a edição de 2022 é um perfeito exemplo. Com um elenco considerado fraco e chato, uma participante lançava praticamente uma tendência nova por semana – e sem ser a queridinha do público. Jade Picon abusou das estampas psicodélicas, transparências, corsets em formato de coração, delineados diferentes e crochê. Ela usava uma peça na segunda-feira e, já na sexta da mesma semana, todas as lojas já vendiam as peças (que esgotavam em dias).
A participante Jade Picon e um dos seus looks mais famosos e recriados, com o corset em formato de coração. [Imagem: Reprodução/Instagram]
Quando penso na edição atual, confesso que ainda não me vem nenhum nome ou momento específico até então à cabeça. Ok que estamos na primeira metade do programa, mas para mim, uma das únicas que tem mostrado peças que têm chamado mais atenção é a atriz Bruna Griphao. Parece até que eu estou olhando diretamente para os anos 2000, com as inúmeras peças de cintura baixa, mix de cintos e, a (aparentemente) marca registrada da participante na edição, os corsets. Talvez ainda seja cedo para categoricamente afirmar que não teremos tendências de moda dessa vez, principalmente por se tratar de um assunto tão dinâmico. Entretanto, nesse quase primeiro mês, os looks definitivamente não chamaram tanta atenção e nem levantaram tanto burburinho nas redes sociais.
Bruna Griphao, da edição atual, usando um dos corsets que levou para a casa. [Imagem: Reprodução/Instagram]
Com a possibilidade (cada vez mais real) de peças serem produzidas e divulgadas em pouquíssimo tempo, as tendências passaram a ser mais acessíveis e imediatas. Penso que isso abre espaço para outras discussões muito relevantes, como o impacto ambiental de marcas que lançam uma coleção por dia e até o questionamento de o quanto essas tendências imediatistas realmente duram e representam o que os consumidores querem. Será que elas aguentam mais de uma estação em alta? Será que representam o que realmente vem pra ficar? Como isto não é um livro, minhas reflexões deste texto param por aqui, na certeza de que muito mais pode ser dito. A moda e a maneira como a vivemos em nosso dia a dia mostra como é uma área interdisciplinar, viva e real. Como ela acontece todos os dias e é moldada e influenciada pelo que está realmente acontecendo onde estamos – principalmente quando isso tudo é documentado no horário nobre para milhões de pessoas.
Setembro é considerado o janeiro do mundo fashion; neste mês, é dado ‘start’ numa nova temporada, com novas coleções nas passarelas e, lançamento das mais importantes edições das revistas de moda.
Capa da Edição de Setembro – 1939 da antiga Vogue Paris (atual Vogue França) [Imagem: Reprodução/Join Reel]
Essa sistemática foi estabelecida a partir do século XIX, quando a Alta Costura foi instituída pelo estilista inglês Charles Frederick Worth e, então, criado o calendário da moda, em 1857. A programação proposta por Worth, consistia em promover os lançamentos das coleções em duas temporadas (primavera-verão e outono-inverno) mas, foi apenas em setembro, que as revistas passaram a divulgá-las.
[Imagem: Reprodução / Balenciaga Archives Paris]
Atualmente, este cronograma continua sendo seguido, afinal, a indústria percebeu que a procura por novas peças de roupa, se intensifica com a mudança de estações (mesmo em países onde as variações climáticas não são tão bruscas, a exemplo do Brasil); além disso, no hemisfério norte, é durante este mês, que inicia-se um novo ano escolar e, a volta às aulas, após as férias de verão, influencia o desejo por um guarda-roupa renovado e re-adaptado ao clima invernal.
Cena do filme “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom” [Imagem: Reprodução / Pinterest]
As principais semanas de moda (Nova Iorque, Paris, Londres e Milão) também ocorrem em setembro, quando são desfiladas as coleções de Primavera/Verão, que ditam o que estará “em alta” durante as respectivas temporadas do ano seguinte; o surgimento de novas tendências, somado ao impacto dos ‘fashion shows’, acaba impulsionando, também, as vendas neste período.
Desfile de Yves Saint Laurent na Paris Fashion Week Spring 2021 [Imagem: Reprodução / Harper’s Bazaar]
Como mostra o documentário “The September Issue”, produzido por R. J. Cutler, em 2009 – que acompanha a rotina da editora-chefe da Vogue USA, Anna Wintour, durante o período pré-lançamento da edição de setembro – as publicações deste mês são maiores, apresentam um maior número de anúncios publicitários e, geralmente, contam com celebridades mais influentes nas capas, sendo planejadas cerca de 6 meses antes de sua publicação; tudo isso, acaba refletindo num maior interesse do público.
Cena do documentário “The September Issue” – Reprodução / Amazon Prime Video
Essa série nasceu de uma vontade muito grande, suponho que se a Frenezi não tivesse uma editora de moda completamente fascinada pela história da moda e suas décadas passadas, o resultado talvez fosse bem diferente. Começamos com uma Era de grande interesse, 1920, partindo do pressuposto duro que rege o jornalismo (mesmo o independente) que sempre precisamos de um gancho para as matérias, os figurinos do Grande Gatsby de Baz Luhrmann assinados por Miuccia Prada ajudaram, assim como o misticismo envolvido nos vestidos retos e os cabelos na altura do queixo.
Acredito que começar pelo século XX seja uma decisão racional, foi quando o sistema da moda começou a girar em torno das estações do ano, o período que também contou com a consagração de grande estilistas desde da alta-costura até o pronto para vestir – qual, iremos aprofundar nos anos 60 – de Paul Poiret até Donna Karan. Hoje, gostaria de trazer o começo do século, entre os anos de 1900 até 1918, um tema recorrente que gostaria que estivesse impresso na cabeça de cada leitor possível, é que não existe história da moda sem considerar as mudanças sociopolíticas do mundo no contexto inserido.
Figurinos da primeira temporada de Downtown Abbey (Reprodução/Divulgação).
Terminamos esse texto em 1918 e não 1920, justamente pela data de cessar fogo na Primeira Guerra mundial, quando os racionamentos terminam e os anos de jazz e bebedeira começam a esquentar. “La Belle Epoque” tradução literal para “Era da opulência” ou se você tem complexo de Downton Abbey “Era Eduardiana”- falamos em eras pelos monarcas regentes na Inglaterra – o título não se difere terrivelmente da tradução, imagens de grupos de poder e nível social elevados, em saiam armadas, espartilhos e chapéus vêm a mente.
As regras da moda eram seguidas à risca grossa, arriscando uma forte ridicularização social caso as desafiasse, o que as cartilhas de ilustração de moda reportavam eram quase reproduções de boas maneiras básicas em sociedade. Paris também mantinha fortemente o seu espaço como absoluta influência de moda no mundo: “Uma etiqueta de Paris era o endosso definitivo, estabelecendo seu proprietário como árbitro do gosto e membro dos escalões superiores da moda” Valerie Mendes, A moda no século XX.
Edwardian Era (Reprodução/TheEconomist).
A garota Gibson:
Os padrões de beleza femininos sempre foram quase irreais para seguir, a garota Gibson é reconhecida como o primeiro padrão de beleza estadunidense e nascida após a modernização do século anterior, com informações e ilustrações sendo popularizadas para maiores massas com uma velocidade maior do que antes. A mulher foi imaginada pelo ilustrador Charles Dana Gibson, foi o ideal de beleza durante toda a Era Eduardiana.
A garota Gibson se tornou o arquétipo absoluto para as mulheres de classe média alta estadunidenses, idealmente ela seguia as modas da época, ombros bufantes, colarinhos altos, espartilho em formato de S e saias altas. Um cabelo enorme sempre em coques volumosos que emolduravam seu rosto, com corpo atlético e com uma cintura mínima. Mais importante, a Garota Gibson tinha graça, confiança e tinha uma certa independência dos homens.
Mas não confunda a garota Gibson com a “New woman” do período, a nova mulher era controversa, ligada ao sufrágio feminino e politicamente engajada. O visual Gibson foi imitado pelo país, afinal ela sempre estava na última moda e participou de uma mudança nos ideais de beleza, que acompanhavam as mudanças na virada do século em razão da modernização.
Ilustrações por Charles Dana GibsonIlustrações por Charles Dana GibsonIlustrações por Charles Dana Gibson
A mulher do novo século:
Entramos no período de transição do velho século para o novo, que acompanhava rápidas mudanças na industrialização e modernização, conseguimos entender que há um início da modernização do vestuário feminino: “Os estilos cambiantes não só começam a se parecem com as formas reconhecíveis da moda contemporânea, como também cartografam a busca das mulheres por igualdade social”. NJ Stevenson, Cronologia da moda.
Já entre 1880 e 1900 a silhueta mudou, das grandes crinolinas da Imperatriz Eugênia e Charles Frederick Worth, para saias longas e mais justas com uma cauda, exatamente para dar ênfase à forma de S eduardiana. “Não é na história dos vestidos de alta-costura, porém, que a aurora da libertação da mulher de seu status de “bem-móvel” pode ser percebida”. NJ Stevenson, Cronologia da moda.
A roupa de alfaiataria foi requisitada por uma nova força de trabalho (governantas, balconistas e datilógrafas) a partir do tailleur usado pela alta-sociedade para viagens e atividades rurais, foi uma grande mudança para o vestuário e comportamento feminino.
A moda para mulheres entre esse período, seguiram bastante as regras das décadas anteriores (principalmente 1890). A roupa altamente super estruturada da silhueta da Garota Gibson foi popular por quase toda década, a simplificação e silhuetas mais soltas só apareceram no final da década, podemos argumentar que isso foi graças aos efeitos dos racionamentos durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
As décadas passadas foram conhecidas como a Idade de Ouro do novo dinheiro americano, com uma economia próspera, a opulência de vestidos com tecidos ricos, cores em tons de joias, diferentes texturas opulentas e colares pesados, a riqueza era exibida em estilos de vida extravagantes e especialmente, no vestuário feminino.
No começo da década de 1900, a moda seguia os padrões do final do século XIX, não houve grandes mudanças no vestuário durante os oito primeiros anos. O desejo do novo era inteiramente satisfeito pela introdução de séries de cores sazonais e por novos ornamentos, lembrando que nessa época o nível máximo de hierarquia na moda era ocupado pelos grandes couturiers, e seu seleto grupo de clientes.
O espartilho já dividia opiniões, durante a belle époque e os anos dourados dos EUA, os ricos desfrutavam de extrema opulência e o símbolo da vida privilegiada se tornou o espartilho em formato de S: “A príncipio considerado saudável por retirar a pressão do abdome e projetar o busto para a frente e os quadris para trás, esse tipo de espartilho tornou-se a estrutura para as roupas excessivamente adornadas do fim dos anos 1890 e começo dos 1900”.
Em contraste com a silhueta exuberante, as partes de cima eram bufantes, com bastante tecido para ajudar a montar a silhueta rígida, nos vestidos de dia os decotes eram inexistentes e terminavam com mangas dramáticas e um efeito diferente entre saias com anquinhas que deixavam a parte de trás maiores, e na frente uma certa solidez entre tecidos. A modéstia era algo especial dos vestidos de dia, cobriam o corpo do pescoço até os pés, com mangas longas cobrindo os braços e saias longas em linha A e formato de sino.
Os vestidos de noite eram rigorosamente adornados com rendas e bordados, tecidos ricos como chiffon e seda também eram utilizados em um único vestido, ainda remanescentes da época dourada americana. Essa opulência e graciosidade do vestuário durou algum tempo, mas com a virada do século e sua primeira década logo temos conflitos como a Primeira Guerra, que começam a mudar drasticamente o comportamento e as roupas em meados de 1910.
Com a chegada do Ballets Russes de São Petersburgo em 1909, uma nova forma de dança, música e o mais importante, os figurinos desembarcaram em Paris com uma popularidade exaltante. Os figurinos e cenários inspiraram uma onda de experimentação, riqueza ao colorido, silhuetas fora do comum e cortes assimétricos foram traduzidos para uma mudança fundamental que colocaria um final na figura rígida e modesta eduardiana.
“Sem Paul Poiret a história da moda no século XX não teria sido a mesma. Dotado de grandes habilidades inovadoras, Poiret soube também aproveitar o estado de espírito reinante para se autopromover”. NJ Stevenson, Cronologia da moda.
Poiret sempre teve um alto interesse por roupas, uma trajetória que passou de fazer roupas para as bonecas da irmã, ser desenhista freelancer para grandes couturiers, e até mesmo um tempo trabalhando na Maison Worth, o que não durou muito tempo pelas suas ideias ousadas e a clientela tradicional da casa. Em 1906 já estava cortando vestidos mais frouxos, fluídos e com a cintura larga, na mesma época que Madeleine Vionnet havia decidido abolir o espartilho, as roupas tornaram-se mais largas com formato parecido de túnicas no atelier do designer.
Os modelos inovadores de Poiret no início do século ajudaram para o estado de espírito da moda na época. Inspirado pelos desenhos orientalistas de Léon Bakst, ele lança a sua criação mais controvérsia: a túnica abajur em 1913.
“A predileção de Poiret pela decoração exótica com plumas preciosas, sedas fortes, calças de harém e frentes-únicas emplumadas havia traduzido o Zeitgeist em arte usável, mas sua teatralidade ficou anacrônica”. NJ Stevenson, Cronologia da moda.
Em consequência da Primeira Guerra, Poiret fechou as portas e nunca se recuperou totalmente, o mundo da moda foi seduzido pela simplicidade Chanel, mas o legado duradouro de Poiret compreendeu os aspectos comerciais e criativos – até teatrais – em uma empresa de alta-costura.
Copenhagen é conhecida entre os amantes de moda como a mais criativa da indústria, com a apresentação das coleções de Primavera/Verão 2023, suas marcas não decepcionaram com uma junção de diversão, criatividade e experimentação a CPFW ainda tem um reinado sobre as semanas de moda internacionais em diversidade de estilos, rostos e estéticas.
Os novos ares, de ondas de calor batendo recordes na europa, até a nova aspiração de grandes conglomerados de luxo – como Kering e LVMH – olharem com respeito para os graduandos de Copenhagen, que experimentam e começam a consolidar suas novas marcas para investimentos prósperos, assim como Cecile Bahnsen, que foi realocada para Paris mas nasceu na CPFW.
A semana de moda de Copenhagen também é internacionalmente reconhecida pelo seu streetwear, a inovação não é poupada nem nos looks de rua, com a aparição de tudo que se possa imaginar de bolsas em formato de pomba até saias do Star Wars, é um lugar para abraçar sua criatividade e individualidade.
Confira a cobertura completa da CPFW:
Streetwear na CPFW (Reprodução/Vogue Runway).
Biquínis
O clássico do verão ganha novas versões na Copenhagen Fashion Week. Há um tempo, o biquíni já estava invadindo os outfits do dia a dia. Nessa temporada, finalmente ele deixa de ser a peça básica para os dias de sol, e substitui o cropped. Na Ganni, ele faz dupla com calça de cintura baixa estilo baggy e low-rise, mantendo a estética Y2k. A marca de Ditte e Nicolaj Reffstrup, aposta em cores vibrantes e saturadas para destacar a peça. Já na (Di)vision, o beachwear ganha uma versão mais alternativa, em jeans combinado com calças de couro. A Sacks Potts, aposta no metalizado com amarrações de cores diferentes. Já na Holzweiler, ele aparece mais tímido, embaixo de jaquetas e peças de alfaiataria.
Crochet
Não existe um match mais perfeito para a temporada de verão, senão as produções em crochet e, sua presença nas passarelas da semana de moda Primavera/Verão de 2023 de Copenhagen são a prova disso. O uso da técnica manual esteve presente em marcas como The Garment, Skall Studio, Holzweiler, The Royal Danish Academy, Sunflower e Malene Birger. E para quem busca optar por peças mais leves, combinadas ao calor do verão europeu, as peças confeccionadas em crochê e expostas nas passarelas, se confirmaram como uma ótima saída para a estação.
Maxi bags
Que a era das mini bags já estava praticamente chegando ao fim todo mundo já sabe – há tempos que marcas internacionais vem desfilando modelos maxi em contraponto aos mini, que foram fortemente difundidos pelo pai da Le Chiquito, Simon Porte Jacquemus. Em Copenhagem então não poderia ser diferente: marcas como Malene Birger, Ganni, Soulland e Stine Goya foram só algumas das que adotaram essa proporção de acessório para a estação. Mas se antes o material chave para estas peças era o couro, agora ele é a fibra sintética acetinada, que vem nas mais diversas cores e dão forma à bolsas acolchoadas, confeccionadas de maneira a parecerem “fofinhas”.
Metalizados
Quem é minimamente atualizado nas tendências fashion, já está por dentro da volta dos “metalizados” tanto na passarela como no street style. Desde o começo do ano, várias outras semanas de moda vinham tomando posse da tendência que não é mais do que um reflexo do estilo Y2K que ainda está em alta desde 2020. Nesta semana de moda tão esperada pelas suas novidades e singularidades, marcas como Saks Potts, Sunflower e Stine Goya parecem abusar do potencial da tendência em toda sua extensão. Peças em um dourado extravagante e looks que “metalizavam” tons suaves de rosa e azul através das superfícies têxteis, como nos paetês não foram difíceis de serem encontrados nas passarelas da Dinamarca nesta temporada.
Coletes
Perfeitos pra quem não abre mão da terceira peça, mesmo em dias mais quentes, os coletes marcaram presença na Copenhagen Fashion Week e, são o ‘must have’ dessa meia estação. Na The Garment, aparecem em alfaiataria, como substitutos do blazer, garantindo um office look mais descolado; já a Soulland, apostou tanto nas peças em estilo suéter, feitas de lã, como nos modelos com abertura frontal, em couro, trazendo conforto e sofisticação para a coleção, dando um toque preppy ao street style. Seja em modelagens máxi ou mini, os coletes apareceram nas mais variadas formas, materiais e composições; colete de pelos + biquíni? Sim! Colete alongado usado como vestido? Sim também! Em sobreposição, misturando estampas? Porque não? A Spring 2023 da CFW nos mostra que as infinitas possibilidades, proporcionadas pela peça, devem ser aproveitadas de forma criativa.
Tons pastéis
Entramos no clima de primavera completamente, a CPFW é reconhecida por suas cores vibrantes e diferentes técnicas de design, quando falamos nas roupas coloridas uma variedade de paletas surgem na mente, principalmente depois de um ano cheio de vibrantes e color blocking. Os tons pastéis têm flertado com o mainstream novamente, com a volta de estéticas que variam entre meados de 2010, candy colors também tenham sua vez, menos na influência de um preppy hipster desajeitado com diferentes tons em um só, mas aparecendo em silhuetas fluídas, leves e mais casuais, justamente para fazer a junção do fator ‘cool’ com uma paleta de cores desafiadora para designers, principalmente nas marcas Saks Potts, Stine Goya, Helmstedt e Soulland.
Estranho pensar num mundo onde a tecnologia não afetava diretamente as estéticas e os estilos da moda como vivemos hoje em dia. Um tempo em que a moda era somente uma “ferramenta” utilitária a favor do pudor social e cultural, ela não era vista de forma segmentada em um sistema capitalista de oferta e procura, não qualquer tendência digital em redes sociais capaz de ditar a forma como devemos nos vestir. O guarda-roupa era simplesmente o reflexo dos valores culturais e deveres práticos de seu dono. Não havia qualquer regra, nem inúmeras possibilidades de estilos ao se vestir cedo pela manhã, sair na rua e continuar com as tarefas do dia. O famoso termo ‘street style’ nem existia como terminologia até os anos 70, com a ascensão do estilo do hip hop em bairros da periferia de Nova Iorque – EUA, como no Bronx e Queens.
Contexto:
Afirmar que existe uma só data de nascimento para o estilo do ‘street style’ na moda é o mesmo que tentar definir a quantidade exata de tendências que nos metralham diariamente nos veículos de comunicação de moda e nas redes sociais, no mundo de hoje termos a resposta parece impossível. Mesmo assim, é de senso comum entre estudiosos de história da moda que a terminologia surgiu na transição da década de 1970 para 1980, com o fortalecimento das tribos urbanas vistas de maneira marginalizada pelo resto da sociedade. Todos esses movimentos de contracultura foram os pioneiros na dialética de usar a moda como ferramenta capaz de traduzir a personalidade, gostos e crenças não somente do indivíduo inserido naquela cultura, mas sim um grupo que foi capaz de se estruturar em um só coletivo com todas as suas ideologias.
Apesar de todos esses estilos, mais cedo ou mais tarde terem atingido o gosto popular, foi com o Hip Hop que o street style dominou o vestuário mainstream no varejo. Roupas largas ou ‘oversized’ , sneakers, jóias em ouro extremamente extravagantes e a reinterpretação de peças do mercado de luxo começaram a ganhar uma força muito grande entre os jovens de regiões marginalizadas.
Na década de 80, longe dos Hampton ou Upper West Side, do outro lado de Nova Iorque, a 125th Street no Harlem tem sido a capital da vida cultural afro-americana desde o século 20. Por lá, lojas tradicionais de famílias vendiam roupas esportivas e de trabalho – como alfaiataria. Dessa forma, com lojas em massa vendendo sempre do mesmo jeito e com produções com intuitos, a única forma de adquirir e mostrar seu estilo, era indo a costureiras fazendo roupas sob medida. Porém, com o alto custo deste trabalho, as únicas pessoas que conseguiam ter esse estilo de vida, eram drug dealers, traficantes, cafetões e outros gangsters. O objetivo era fazer suas roupas aparentarem ser caras com toques clássicos como da alfaiataria, mas com muita representação do gueto. Eles detinham do poder e do dinheiro, todos queriam se parecer com eles.
Com o movimento tendo começado no Harlem, Bronx e em Bedford-Stuyvesant, ganhou força com a proliferação da televisão em programas de tv e em álbuns de artistas de hip-hop com os clipes. A televisão e os programas de tv tiveram influência primordial para espalhar essa cultura país afora. Will Smith e Spike Lee mostravam que a cultura negra era uma proposta viável. Eles usavam Nike. Os pretos não deveriam ter como comprar roupas só dos brancos. O hip-hop realmente poderia ser monetizado.
Além da estética de poder e dinheiro, o streetstyle trazia conforto. Os traficantes de droga ficavam parados por longas horas nas esquinas vendendo produtos que necessitavam de roupas práticas, especialmente no inverno de Nova Iorque. As botas Timberland passaram a fazer parte dos looks, assim como jaquetas puffer e casacos de vela, de marcas como Tommy Hillfinger, Ralph Lauren e Náutica.
LL Cool J, rapper dos anos 90. [FOTO: Reprodução/ Getty Images]
Os diversos estilos de rua não eram vistos de maneira generosa e com o ‘glamour’ que vemos nos dias atuais, esses grupos eram vistos de forma muito preconceituosa levando em conta a origem periférica que tinham, sejam eles vindos dos bairros marginalizados da clássicas Londres, sejam eles do Bronx e do Queens na grande Nova Iorque que começava a mostrar seu potencial como capital fashion nos anos 90.
Uma das primeiras personalidades a de fato esse movimento inserir tais estilos de rua, principalmente a cultura preta do Rap, foi Dapper Dan. O designer nova-iorquino de 77 anos, começou de maneira bem simples com suas criações visionárias no cenário do Harlem em 1982, com a inauguração do seu ateliê ‘Dapper Dan’s boutique’. Ele foi um dos primeiros que teve a sacada certeira de enxergar o potencial criativo que esse estilo emergente tinha para o mercado de luxo. Na época, Daniel descreveu sua marca como “tipo de roupa masculina étnica do gueto”.
Os estilos mais vendidos eram ternos de seda, sapatos de crocodilo e ternos jeans feitos de couro. Muito antes da Nike desenvolver roupas, Day imprimia seu tecido juntamente com o logo da marca esportiva. A elegância e a praticidade impulsionam o que viria a ser conhecido como o estilo do hip hop. Designers como The Mighty Shirt Kings se tornaram conhecidos por suas roupas personalizadas com barulho das correntes, coloridas e com estilo grafite. Roupas largas, grandes, com logo, atléticas como moletons com capuz, além de jeans e jóias de luxo como pingentes personalizados e carros caros. Tudo girava em torno do dinheiro e do poder que esbanjavam.
Dan coletava peças de luxo de grandes marcas europeias como Gucci, Versace e Louis Vuitton, as destrincharam e logo depois se apropriou de seus logos para a criação de novas peças, seu processo é o que chamamos hoje de ‘upcycling’ – processo de ressignificação de um material a partir da reciclagem.
Dapper Dan e Gucci. [FOTO: Reprodução/ Dazed]
Já na europa, mais especificamente em Londres, à medida que o disco mainstream e a música rock and roll prosperavam na década de 1970, o subgênero underground do punk era um fenômeno em progresso. O estilo musical dos anos 70 foi melhor representado pelos jovens da banda inglesa Sex Pistols e por Vivienne Westwood, estilista britânica namorada do integrante Malcolm McLaren e proprietária da loja ‘Sex’, em Londres, local onde foi o centro do estilo punk, com roupas fetichistas e o próprio nome vulgar. À frente da loja, o casal era o grande responsável pelo visual transgressor da banda, graças à visão que os representava.
Num momento no qual tudo estava dominado pela ascensão do movimento hippie, o punk dominou a moda e ascendeu o gênero musical. A contracultura jovem em todo o Reino Unido desejava perturbar a paz da sociedade inglesa, ostentando então o que era considerado roupas e maquiagem chocantes e expressando sentimentalismos revolucionários por meio de sua individualidade.
Movimento Punk, nos anos 80. [FOTO: Reprodução/Folha Um]
Na mesma época, mas na Califórnia, o hip-hop teve sua influência. Partindo de sua origem, o streetwear era uma forma de descrever roupas confortáveis, usadas por grupos de surfe e skate de Los Angeles. A grande parte das roupas de streetwear que vemos hoje vem da influência do skate e surfe. No livro “This Is Not Fashion; Streetwear: past, present and future”, com 304 páginas e 14 capítulos retratando a história do movimento streetwear, a única marca que ganha um capítulo inteiro pra si, é a Stüssy. E, definitivamente, isso não é à toa.
A Stüssy conseguiu dividir as épocas em ‘antes Stüssy’ e ‘pós Stüssy’. A marca define o que é streetwear. Shawn Stüssy, o criador da marca, reuniu tudo o que veio antes dele e misturou com originalidade, influências culturais, detalhes e qualidade. Shawn cresceu na Califórnia trabalhando em lojas que vendiam pranchas de surfe. Em 1979, começou a escrever seu nome de formas diferentes sonhando em lançar sua marca de pranchas.
No ano seguinte, se mudou para Laguna Beach e montou sua loja no Canyon no ano seguinte. Imprimindo sua assinatura, colocava em camisetas para ajudar na sua renda extra, e, viu que, numa feira de pranchas, as camisetas que não estavam à venda, se popularizaram. Em meados da década de 80, Shawn estava vendendo suas roupas em Nova Iorque e montando uma equipe internacional de pessoas com as mesmas ideias. A International Stüssy Tribe, era uma equipe que influenciava surfistas, skatistas, artistas e músicos como DJs de reggae e hip-hop, com suas peças feitas sob medida, largas e com bolsos.
Foto arquivo do início da Stussy. [FOTO: Reprodução/ The Hip]
Na década subsequente, o fenômeno tomou tamanha proporção que os magnatas do vestuário esportivo, principalmente marcas ligadas ao basquete, viram uma oportunidade de entrarem na crista da onda dessa tendência que rapidamente atingiu outras regiões dos EUA. Marcas como Adidas, Puma, Champion e Nike começaram a investir pesado em novos designs que fundissem o sportswear com o street style desses jovens da cultura do Rap, a partir de então a conexão entre o vestuário esportivo e o estilo de rua se tornou quase que sinônimos.
Designers contemporâneos:
Supreme;
A Supreme começou com James Jebbia, fundador da grife. Em meados de 1991 e 1994, James se juntou com Shawn Stussy e colaboraram juntos. Em 1994 na Lafayette Street, no SoHo- NY, que Jebbia deu início a marca independente. A loja apresentava peças tradicionais de streetwear, como sneakers, camisetas, moletons e acessórios de skateboard, se tornando então um clube underground, galeria de arte e ponto de encontro para pessoas que viviam e gostavam da cultura.
Com o passar dos anos, a marca foi ganhando seu lugar e conquistando o público fortemente. Realizando parcerias e lançando diferentes produtos, todos ganhavam a estética do logo com as linhas marcantes em tira vermelha com SUPREME escrito por cima em letras brancas- inspirado na arte de Barbara Kruger. A marca griou uma comunidade e virou um símbolo de contracultura nos anos 1990. Nos dias de hoje, a Supreme se tornou uma grife do mundo do streetwear, realizando parcerias com marcas de luxo como Tiffany & Co e Louis Vuitton.
Virgil Abloh e Off White;
Virgil Abloh foi a mente, corpo e alma da tão aclamada, respeitada e desejada Off White, além de, estar por trás das coleções de menswear da Louis Vuitton de 2018 até 2022 – ano do seu falecimento. Abloh se formou em arquitetura e ingressou na indústria da moda em 2009 após estagiar na Fendi, mas sempre esteve ligado a esse universo com sua mãe costureira. O designer realizou a parceria criativa na maison com Kanye West que foi fundamental para a carreira artística de ambos. Ele era uma espécie de assistente craitivo de Kanye, co-criando capas de albuns, ajudando no desenvolvimento de cenários, entre outros.
Apesar do surgimento da Pyrex Vision, primeira grife de Virgil Abloh fundada em 2012, com um conceito baseado em customização de itens de outras marcas, foi a Off White, em Milão, no ano de 2013, que teve sua real ascensão no mundo da moda. Estreando na semana de moda de Paris e nomeada finalista do prêmio LVMH, desde então, a marca ganhou clientes e admiradores fiéis. Com parcerias com marcas como Jimmy Choo, Converse, Dr. Martens, entre outros, a Nike foi a parceria que mais atraiu público e hype para a marca, gerando poder e a devida atenção necessária.
(Foto: Reprodução)
Brasil;
Com toda essa onda de novidade do estilo de rua juvenil ficando mais forte a cada dia nos EUA e na Europa, com a influência dos esportes radicais e dos estilos musicais da periferia, a moda brasileira até meados dos anos 90 não criou uma identidade para si no mundo do street style. Foi com o gradual crescimento do funk brasileiro que o street style começou a ganhar a forma da nossa bandeira verde e amarela. O funk como ritmo musical chegou nos anos de 1970 ainda com muita influência do funk estadunidense que tem forte influência do Soul Music, mas ainda de origem marginalizada em território norte-americano. No Brasil o ritmo se fundiu com o nosso MPB e teve suas primeiras aparições nas vozes de Tim Maia, por exemplo. Mas somente no final dos anos de 1980 que o ritmo musical ganhou a cara que conhecemos hoje como naturalmente brasileira, sob produção do Dj Marlboro – ele foi o primeiro a introduzir a batida eletrônica presente no funk de hoje.
Na virada do século, além do então “novo” ritmo musical ter se saído da periferia e se espalhado para a Zona Sul carioca, o funk toma conta de boates com os grupos musicais que surgiam trazendo a nova proposta. O “Bonde do Tigrão” foi o maior sucesso na época, atraindo mais admiradores para o estilo. Da mesma forma que o estilo musical demorou para chegar em território nacional e teve seu percurso traçado da periferia para os subúrbios de classe média, assim o street style que se comunica com os fãs de funk também levou 20 anos para se estabelecer como estética de moda no país.
Aqui o estilo tomou vários caminhos, desde uma certa continuação do estilo skatista proveniente da Califórnia até a formação de uma identidade própria que remonta hábitos dos funkeiros da periferia. O estilo Mandrake exemplifica que, mesmo com a influência do estilo de rua internacional, a identidade, hábitos e gostos de um povo transforma uma tendência global quando se insere intimamente em uma cultura.
Estilo Mandrake. [FOTO: Reprodução/ Kondzilla]
Mile Lab;
A marca fundada na região do Grajaú – SP em 2017, surgiu com o objetivo de não ser somente mais uma marca no mercado de moda nacional que meramente se inspira no street wear da região que a circunda, mas também atuar ativamente neste ambiente. Fundada por Milena do Nascimento Lima, de acordo com a própria direção, o coletivo criativo “busca o reconhecimento do corpo de periferia, da sua estética e do pertencimento deste corpo em todos os territórios possíveis”.
Ela tem como principal característica a busca e o ensinamento que a moda pode e deve dar voz aos periféricos em manifestar suas lutas, sua história e todo o direito e espaço para mostrarem a cultura marginal da qual fazem parte. O coletivo, além de contar com a direção criativa de Milena, também apresenta nomes como Breno Luan e Sabrina também na criação e na assistência de estilo; na fotografia, Vinícius Marques; e por fim toda a estratégia de comunicação e as redes sociais ficam sob os cuidados de Italo Augusto. Cada um contribui com suas experiências e pontos de vista sobre tudo o que rodeia a cultura da periferia, tornando a marca ainda mais especial no meio em que atua.
Design de Milena do Nascimento Lima. [FOTO: Reprodução/ MileLab.com]
P.Andrade;
O nome de Pedro Andrade já é um velho conhecido para os fãs de street style no cenário brasileiro, sua marca Piet completa neste ano uma década de história. Andrade em pouco tempo conquistou nomes importantes do entretenimento brasileiro como consumidores, dentre eles Marcelo D2 e Chay Suede. Tudo começou com a vontade do então estudante de design industrial em criar uma marca que pudesse oferecer às pessoas algo que ainda não era achado no mercado. Anos depois, Andrade resolveu abrir paralelamente a Piet, sua nova marca P. Andrade ao lado de sua esposa Paula Kim. Ao invés de continuar com lançamentos mensais, a estreante na SPFW P.Andrade tem como principal foco ousar mais em criação; a marca retrata o lado mais imaginativo, jovem e sustentável do designer. Logo em sua primeira coleção, a dupla de designers conseguiu se inspirar no design e na arquitetura nacional e inseri-los em um estilo de vestuário tão “internacional” como é o caso street style.
Não há como falar de street wear no Brasil sem ao menos mencionarmos a High Company, marca fundada em 2017 por Diogo Roccon em Vitória, ES. Diogo viveu sob a influência do surf mas foi a partir do skate que o designer criou a assinatura de sua marca. Roccon se mudou para Curitiba, PR, com o intuito de absorver o máximo possível dessa cultura, inserido dentro do maior epicentro da prática do skateboard no Brasil.
Rapidamente, a marca ganhou tamanha visibilidade que todo fashionista adepto ao estilo começou a ganhar conhecimento do trabalho de Roccon. A pouco tempo,a marca abriu seu primeiro endereço físico na região do Jardins, na Grande São Paulo, SP, conhecida por ser um bairro de extrema importância no cenário da moda nacional. O mais interessante é que a High Company não se limitou a criação de camisetas, moletons, calças oversized, e acessórios dentro dessa tendência, mas se permitiram a criarem a ferramenta mais necessária aos usuários desse estilo, o próprio skateboard. A High Company entendeu a necessidade do mercado de criar um estilo de vida aos seus consumidores, muito além de só uma criação sazonal de vestuário.
Lookbook High Company. [FOTO: Reprodução/ High Company]
O street style e sua cultura do ‘hype’ que vemos hoje nada mais é do que um reflexo direto dos caminhos que a moda sempre trilhou no cotidiano das pessoas. A forma de se vestir fala muito além dos gostos ou da forma como a pessoa gosta de ser vista, ela está ligada a forma de viver, ideologias, crenças, hábitos, lugares que frequenta; a cultura do Hype não se resume a peças de vestuário em alta nas tendências de mercado e famosas nas redes sociais, ela fala da forma como os adeptos desse estilo vivem e se relacionam.
Como qualquer estilo dentro da moda, o street style sofreu suas mudanças ao longo do tempo, e a cada mudança as gerações deixaram sua marca e seu legado para as gerações futuras. Um estilo que vive até hoje prestando homenagem à origem dessa cultura, contando uma história. “O que você cria hoje, conta uma história para o amanhã” , Dapper Dan.
Para todo bom amante da moda, os estudos iniciais sobre esse universo e todas as facetas que englobam essa indústria avaliada em zilhões de dólares é fundamental tirar um tempo para entender a cronologia histórica por trás de todo o movimento fashion que vemos nas ruas, nas redes sociais, lojas, marketing e como Zeitgeist que vivemos hoje influencia no look que escolhemos ao acordar pela manhã.
Desde sempre, a indumentária foi mudada e adaptada para se adequar às necessidades, deveres, e aspectos culturais e temporais do homem que cada período histórico requisitou. Assim, cada década de alguma forma deixou sua marca na forma de vestir das pessoas que a viveram, mas também influenciou os anos subsequentes.
Ainda hoje vemos nos pequenos detalhes peças, acabamentos e técnicas têxteis que são rastros de um tempo passado, um tempo que talvez possa remontar até mesmo séculos de herança no processo de confecção.
Há exatos 100 anos, o planeta se encontrava em situações muito parecidos com o mundo que vemos hoje, os momentos finais da década de 1910 deixou cicatrizes quase que incuráveis na geração que adentrava o que se chamaria num futuro próximo de “Os anos loucos” da década de 1920.
Dançarina ao som de Charleston. [FOTO: Reprodução/ Financial Times]
Com o início da Primeira Guerra Mundial no ano de 1914, todo o restante dos anos de 1910 foi marcado pela escassez de materiais e aviamentos têxteis, o que prejudicou exponencialmente a oferta do varejo e o ‘fazer moda’ da época. Os efeitos da guerra nas roupas foram inúmeros, conforme pontuamos na nossa matéria ‘A moda em tempos de guerra’, assim como os efeitos que a guerra causou na mentalidade daquela geração.
Após serem traumatizados por uma guerra que chegou a matar quase 20 milhões de pessoas e logo depois sofrerem as consequências de uma pandemia colossal como a da Gripe Espanhola, homens e mulheres da época só pensavam em aproveitar seus dias ao máximo, a famosa era “carpe diem” dos tempos modernos. Pensar que poderia haver uma ameaça ao bem estar e à vida a qualquer instante instaurou um anseio eufórico por aproveitar a vida sem precedentes.
“Tudo o que eu só conseguia pensar, de novo e de novo, era ‘você não pode viver para sempre, você não pode viver para sempre”, disse F. Scott Fitzgerald em ‘O Grande Gatsby’ (1925); a frase consegue sintetizar o maior medo dessa geração perdida, medo de não conseguirem aproveitar a vida ao máximo e que serviu de palanque para dar passe livre às festas regadas a álcool e drogas, muita música, luxo e ostentação.
A Grande Guerra propiciou a adesão de acabamentos e ornamentos de cunho militar nas roupas e com o fim dela a moda teve de se ajustar ao sentimento eufórico ‘pelo viver’ que surgia nos sobreviventes. Em plena Paris, a moda internacional e a alta-costura viram suas vendas voltarem a todo vapor ao normal e as grandes confecções viram a oportunidade de aumentar a contratação de mão de obra.
O momento era de euforia, as grandes maisons viram uma procura muito grande por vestidos de festas extravagantes e assim as mais recentes criações de moda – da época – tinham a liberdade de seguir por dois caminhos, a estética do clássico feminino romântico e o vanguardista. Seda, organza, tafetá, fitas e flores em vestidos de cores pastéis eram a definição do romântico nos trajes de gala. Por outro lado, seu maior antagonista foi quem passaria a ditar a moda dos anos 20, o visual garçonne ou jeune fille – jovem homem ou rapaz.
Jordan Baker, personagem de ‘O Grande Gatsby’ (2013). [FOTO: Reprodução/ Warner BROS. Pictures]
Como um reflexo de uma sociedade em transformação, a gradual independência das mulheres começou a ecoar não só em seu comportamento libertário de lutar pelos seu direito de voto e de trabalho mas também começou a deixar seus primeiros vestígios no visual, o estilo garçonne é o maior exemplo disso.
A aparência jovial e ‘moleque’ que o estilo passava aos olhares facilitava ao se juntar com os chapéus cloche – em forma de sino – na composição de uma silhueta esguia e alongada do qual os estilistas começavam a experimentar nos primórdios da década.
Trajes femininos com silhueta retangular ou em linha “I”, que pendiam dos ombros enquanto a linha da cintura descia ao mesmo nível que a linha dos quadris, começaram a dominar o vestuário das trend setters da época, a própria Coco Chanel foi uma das principais expoentes do estilo garçonne. Em conjunto com a silhueta reta, a mudança na bainha das saias foi um ponto muito marcante para o vestuário feminino. Ao encurtar as saias, a procura pelas meias de seda sempre em cores neutras e ‘coringas’ com bordados discretos para finalizar o charme nas pernas.
Já nos pés, os scarpins estilo ‘boneca’ de salto cubano e com tiras cruzadas em ‘T’ foram os principais calçados do aparentemente novo grupo de mão de obra que vinha surgindo na Europa desde a Grande Guerra. Os sapatos eram o equilíbrio perfeito entre o elegante e o confortável para garantir uma jornada de trabalho no mínimo cômoda para essas mulheres.
Catálogo da década de 1920. [FOTO: Reprodução/ Vintage Dancer]
Precisamos entender que toda a geração perdida dos anos de 1920 ditava sua rotina, ditava sua vida em cima da busca pelo luxo e pelo ‘exótico’. A inspiração em culturas estrangeiras como a cultura do Egito Antigo, principalmente com a descoberta da tumba faraônica de Tutankhamon em 1922, e até mesmo as culturas tribais do continente americano era comum tanto em peças do vestuário como em cartões postais, estilos arquitetônicos – o próprio Art Déco, roteiros cinematográficos, joalheria e em tudo o que a arte podia se infiltrar.
Mesmo que o corte da indumentária fosse seco e simples, o luxo e o exotismo vinha através de tecidos altamente adornados por estampas e bordados com desenhos naifs, motivos folclóricos que remontavam lendas e histórias de culturas tidas como exóticas, estampas geométricas, bordados em fios de ouro e pedrarias exorbitantemente caras.
Na moda masculina, o ponto de referência de todo bom burguês na época eram as peças que vinham dos ateliês da Savile Row em Londres. As formas das roupas masculinas, com o início dos anos loucos, não poderiam estar mais em ‘voga’; suas formas angulares e simétricas, com ombros extremamente acentuados, cinturas largas e calças estreitas se comunicavam sem nenhum problema com as linhas retas que dominavam a estética Déco e egípcia do período.
Para a moda de acessórios masculinos, os sapatos de biqueira arredondada vinham com toda força substituindo os sapatos de biqueira fina, enquanto que as calças só sofriam o processo de alargamento de grupo para grupo como foi o caso dos intelectuais da Universidade de Oxford, que passaram a terem suas calças chamadas de ‘Oxford bags’. Apesar da moda internacional ter dado seus passos pelo mesmo caminho em diferentes países ao redor do globo, fashionistas britânicos e franceses continuavam com a sua rixa em ditar tendências.
O look masculina casual dos anos de 1920. [FOTO: Reprodução/ He Spoke Style]
Foi justamente a partir dos anos 20 que a transgressão na moda como conhecemos hoje surgiu. As primeiras criações de moda feminina com inspiração na moda masculina começaram a tomar conta dos ateliês do mais alto escalão, a própria Chanel trouxe muitos artigos do vestuário masculino em suas criações. Aquela alfaiataria bem afiada e executada, blazers e peças de cima com abotoaduras e tecidos pesados como o tweed até então não eram facilmente encontrados nas vitrines de lojas femininas.
Calças para o público feminino passaram a serem mais aceitas quando entenderam o papel estético da peça na composição do look e não mais somente como um artigo utilitário. Aos poucos mulheres foram vistas usando calças em atividades de lazer e eventos casuais, sempre com cortes folgados e com fechos laterais.
Da metade para o final da década, o ‘pretinho básico’ de Chanel em conjunto com silhuetas assimétricas, principalmente nas bainhas desiguais de saias de vestidos, echarpes e conjuntos de cardigã de jérsei foram o auge da elegância e sofisticação do guarda-roupa das mulheres. Peças sempre em cartelas de cores discretas com uma ou outra cor de destaque.
Estilo garçonne [FOTO: Reprodução/ Verdade Feminina]
Poucos períodos na história da moda deixaram a marca que os anos loucos de 1920 deixaram. Uma década infestada de transgressões comportamentais e sociais que soube refletir nos vestuário a sede que essa geração tinha de viver, viver uma vida aproveitando ao máximo o prazer e o luxo. O ato de se vestir restaurou os valores de uma sociedade que tentava se reerguer através da arte e dos deleites ‘de viver o aqui e o agora’.
“Eram inteligentes e sofisticados, com um ar de independência sobre eles, e tão casuais sobre sua aparência, roupas e maneiras quase que impetuosas, mas representavam a onda do futuro, e sei que fui atraído por eles. Partilhei da sua inquietação, compreendi a sua determinação em libertar-se e descobrir por si mesmos o que era a vida”, Colleen Moore.
Cena da grande festa de Gatsby. [FOTO: Reprodução/ Warner BROS. Pictures]
A alta-costura é uma das semanas de moda mais esperadas pela a indústria, a temporada de outono inverno 2022 foi apresentada em Julho deste ano com a ajuda do órgão regulador francês da semana a Fédération de la Haute Couture et de la Mode – Federação de alta-costura e da moda – com a aparição dos três membros da federação se apresentando os membros oficiais, os membros correspondentes e os membros convidados.
Lembrando que a semana de alta-costura significa uma enorme e próspera visão na moda, ela é a vitrine do poderio de esplendor em técnica e qualidade das grandes casas, as marcas apresentam suas versões opulentas de grandes vestidos e coleções justamente para se reafirmar no mercado de luxo.
É a semana mais exclusiva do mundo da moda, com o jet-set internacional se movendo para Paris fomentando o turismo de luxo e as vendas dessas grandes marcas de quebra, a semana de alta-costura não visa exatamente as duas dúzias de clientes de alta-costura, mas sim o estabelecer da marca no mercado de luxo.
Você pode encontrar o calendário oficial da Semana de Moda de alta-costura aqui.
Confira a cobertura completa da Semana de alta-costura de outono inverno 2022:
Ao dar largada na temporada de Outono/Inverno Alta Costura 2022, Daniel Roseberry mais uma vez deixa seus fãs e colaboradores boquiabertos com o seu talento como diretor criativo da Maison Schiaprelli.
Roseberry, claramente, uma vez que iniciou sua jornada na casa de alta costura, declarou sua admiração pela fundadora, Elsa Schiaparelli e assumiu como objetivo prestar sempre seu tributo com a ‘inovação’ como palavra de ordem.
A apresentação ocorreu no Musée des Arts Décoratifs, onde acaba de inaugurar uma exibição em homenagem à própria Schiaparelli e seus anos como estilista, a amostra inclui peças de designers que admiravam a italiana como Christian Lacroix, Yves Saint Laurent e Jean Paul Gaultier. O mesmo ponto de partida foi explorado pelo designer americano, Roseberry, para desenvolver uma coleção que ‘resultasse’ no reflexo de uma “conversa entre designers que a admiravam”, segundo o próprio diretor criativo.
Como era de se esperar, Roseberry adentra o universo surrealista de Schiaparelli e Salvador Dalí em mais um runway; e entrega uma coleção rica em formas e fusões inesperadas. A coleção foi resultado da sinergia de ideias de todo o legado que Schiaparelli deixou em seus fãs.
Inspirado pela estética de Lacroix, Roseberry produz peças que remontam a silhueta do anos 80 que entram no mapa de coleção.
Não pôde faltar também a alfaiataria impecável da maison e o aproveitamento das formas anatômicas da moulage para a montagem dos looks.
A passarela contou com looks que soube misturar com sabedoria materiais diversos criando combinações não tão comuns, como: miçangas, pele, couro, jeans, metais, veludo, seda, o gabardine e até mesmo a palha em chapéus de toureiros.
Flores de seda e couro, tecidos telados em crochê , a força do veludo e dos acessórios de joalheria, todos esses elementos quando fundidos trazem um novo ar de inovação para uma marca que se comprometeu a nunca esquecer suas raízes.
O jogo de cores entre os azuis, pretos, off white, caramelos e dourados soube traduzir a mulher de Schiaparelli da década de 2020, uma mulher disposta a encontrar elegância no que há de mais primário em si mesma; seu corpo, suas paixões, arte e natureza.
Cada um desses pontos teve seu momento de destaque nessa coleção, desde os looks que exploravam o corpo das mulheres, às flores de seda ornamentadas, às peças de joalheria que remontam a estética surrealista do qual Elsa era aliada.
Em seus 3 looks finais, Roseberry parece resumir toda a aura da apresentação. A feminilidade trazida em cada uma dessas peças não deixa de comunicar a força e a personalidade voraz da mulher de Schiaparelli.
Roseberry consegue mais uma vez firmar sua posição como gênio criativo na casa Schiaparelli sem deixar de lado sua própria assinatura e legado que o fez tecer sua trajetória.
DIOR:
Maria Grazia Chiuri apresenta mais uma coleção Fall Couture no comando criativo da grande maison de Christian Dior no Musée Rodin, a passarela foi construída debaixo de uma enorme tenda ao centro do jardim do museu parisiense.
Para esta temporada, a italiana colaborou com a artista ucraniana Olesia Trofymenko. A artesão do leste europeu impactou a atual designer da casa Dior com um de seus bordados em paisagem pintada em mural. Chiuri logo iniciou as negociações de uma possível colaboração para a coleção de alta costura de inverno que viria a resultar no mergulho do folclore ucraniano como tema principal.
Com tudo o que vem acontecendo no leste europeu, uma guerra travada há pelo menos 3 meses, é no mínimo interessante perceber a admiração de um nome tão ‘poderoso’ no mundo fashion como o de Dior, abrindo alas para uma artista independente como Trofymenko exibir sua arte.
MGC entrega uma coleção repleta de bordados e looks que exploram as superfícies dos tecidos com muita cautela, o que não é nenhuma novidade para os fashionistas de plantão que observam com uma lupa de aumento cada passo da italiana na Dior. O trabalho zelado com os bordados e as maquetes têxteis seria um impacto para qualquer um se a autora da coleção não fosse a própria.
Mesmo com um trabalho um tanto “ordinário”, a italiana não deixou de apresentar uma coleção com um trabalho em cortes e acabamentos impecáveis. Mais uma vez, a marca trabalha com um conjunto de peças bem pensados não só em execução mas também na forma como eram apresentados na passarela. Os subgrupos de looks – ou como comumente chamamos “famílias de coleção” – se mostraram ter uma lógica e um sentido quando avaliados lado a lado, principalmente considerando a temática folclórica da apresentação.
A italiana se aventurou em trabalhar com uma diversidade de bordados, motivos de xadrez e na contradição de tecidos leves e pesados, o que trouxe um certo ‘equilíbrio’ na passarela.
Em relação à paleta escolhida, o preto, branco e off white, vários tons de bege, cinzas, azuis, rosas e vermelho trouxeram à vida o universo campestre e distante da realidade caótica de que vive-se hoje.
Na maior parte do desfile, Chiuri exibiu looks que exploravam a clássica silhueta da qual a italiana não parece querer se desprender, longínqua com mangas compridas bufante com um formato sutilmente mais estruturado do que o normal, peças fluidas e soltas o que de certa forma casar muito bem com o ideal da mulher bucólica do qual a coleção aparente atingir. Uma coleção inegavelmente bem executada e bem pensada em cada passo que assumiu dar, em termos de criatividade a história realmente parte para um outro lado. Haviam tantos caminhos inexplorados do qual a maison tem recursos para esmiuçar e mesmo assim parecem ter optado pela zona de conforto.
BALENCIAGA
Quando o assunto é Balenciaga, não há como esperar pela obviedade, especialmente quando se trata de Demna Gvasalia como mente por trás da direção-criativa das coleções. A cada temporada, seja ela de ready-to-wear ou resort, e agora pela couture week, Demna coloca toda a sua genialidade e excentricidade criativa em suas criações.
Após o seu debut na alta-costura em 2021 — ano este que marca o retorno da Balenciaga na semana de Haute Couture após 55 anos de sua coleção criada pelo então fundador e diretor-criativo da marca Cristóbal Balenciaga —, Demna demonstrou que desafios, apesar de parecerem assustadores, não o incomodam de forma alguma. Pelo contrário, o diretor-criativo da Balenciaga ao longo de sua estada na casa prova que sair da zona de conforto — e do considerado como habitual ou convencional — é o seu hobby favorito na indústria da moda.
E sua coleção de alta-costura desta temporada, que demarca a coleção número 51 da categoria da casa, reúne referências não somente da direção-criativa e arquivos do pai da costura refinada, Cristóbal Balenciaga, como ainda resgata as influências do streetwear de Demna Gvasalia unidas ao acabamento meramente perfeito que a alta-costura requisita.
Com uma atmosfera um tanto quanto sombria e melancólica, contemplada por um poema romântico na voz de AI e bombardeada por rostos cobertos imitando humanóides e simbolizando a pegada futurística, talvez uma das tendências favoritas de Demna ultimamente, a nova coleção da Balenciaga não é nada mais do mesmo, embora resgate silhuetas e referências de temporadas passadas.
Para a temporada de Outono, Demna trouxe às passarelas da alta-costura parisiense peças colecionadas majoritariamente nos tons de preto, além de repaginar os tecidos Abrahams em estilo neoprene — fabricados em uma collab com um fabricante japonês — caracterizando a famigerada silhueta Balenciaga de Demna Gvasalia, porém, desta vez, em modelos que encapsulam os moldes do corpo.
Outro fator que posiciona os olhares e toda a atenção para a nova amostra do duo Demna x Balenciaga é a presença de celebridades — ou principais nomes que amam e vestem a casa — nas passarelas da apresentação. Nomes como Naomi Campbell, Kim Kardashian, Bella Hadid, BFRND (esposo de Demna e músico), Dua Lipa e Nicole Kidman, roubaram a cena ao desfilarem pela Balenciaga nesta quarta-feira (07). Além disso, a aparição das bolsas ‘Speaker’, em que a maioria dos modelos carregavam durante a apresentação, simboliza mais um dos demonstrativos de inovação de Demna para a Balenciaga.
Por fim, embora tenha apresentado alguns erros de execução — exemplificados pela dificuldade de algumas modelos caminharem na passarelas com suas vestimentas —, a coleção de alta-costura de Demna marca, novamente, um período de reinvenção e transição entre as duas gerações da casa, a primeira de seu fundador e ‘’arquiteto da moda’’, Cristóbal Balenciaga, e a atual de Demna Gvasalia, que consegue mesclar muito bem os universos de streetwear e elegâncias da alta-costura.
JEAN PAUL GAULTIER
Após anunciar sua aposentadoria das passarelas, Jean Paul Gaultier tem buscado que outros designers possam tomar as rédeas de suas coleções de alta-costura a cada temporada. Depois do sucesso da collab entre Glenn Martens x Jean Paul Gaultier na última temporada, para a coleção de Outono 2022 foi a vez de Olivier Rousteing, atual diretor-criativo da Balmain, estar à frente das criações da maison francesa.
Tomando como responsabilidade criar as peças da coleção de sua fonte de inspiração no mundo da moda, Olivier, apesar de estar à frente de um grande desafio, conseguiu elaborar uma coleção sólida e com muito prestígio às referências próprias da casa, mescladas com o toque e silhuetas que Rousteing já tem trabalhado na Balmain.
Como o próprio disse antes do início da apresentação, esta coleção realmente funcionava como uma carta de amor para Jean Paul. Iniciada com peças masculinas, inspiradas nos moldes dos anos 1990 e especialmente nas tatuagens da época, Olivier celebra o que ele chama de diversidade e, ao mesmo tempo, liberdade de expressão. Em seguida a coleção ganha novos ares e simultaneamente revisita as criações que já conhecemos na Jean Paul Gaultier: espartilhos, jeans reaproveitados, os famigerados suéteres de pescadores e as referências dos seios expostos em trompe l’oeil, inclusive utilizado por Kim Kardashian na primeira fila do desfile.
Olivier ainda não deixa de fora da coleção suas raízes africanas. Durante a apresentação é possível captar as milhares de referências ao continente africano, dentre elas, o mix de cores e os adornos utilizados pela maioria dos modelos da apresentação.
Outro ponto bastante presente e muito bem explorado pelo duo Olivier e Jean Paul é a criação artesanal. O trabalho do artesanato foi expresso principalmente em uma das composições da coleção que continham vidro em forma de corpete, moldado pelo especialista por trás dos vitrais de Notre Dame, o que demonstra o cuidado e preocupação de Olivier em construir um trabalho impecável.
O que Olivier fez na tarde desta quarta-feira (06), não foi de fato surpreendente somente a Jean Paul Gaultier, mas pode-se assumir que talvez tenha sido uma surpresa a todos que acompanham as semanas de moda e, especialmente, voltam os seus olhos à semana de alta-costura. Em sua coleção para a Jean Paul, que pode se consagrar como uma das melhores e mais criativas da couture week, Olivier desponta como um ótimo aluno em redesenhar aquilo que já está pronto de maneira autêntica, especial e com suas características criativas. Entre técnicas e um ótimo briefing de design, Rousteing entrega à Paris e a Jean Paul Gaultier uma coleção sólida, criativa e com muita história para contar.
MAISON MARGIELA
Desde o início da pandemia, John Galliano, frente ao seu trabalho na Maison Margiela, tem buscado se reinventar e investir em formatos digitais para apresentar suas criações para a marca belga.
Para esta coleção de Outono 2022 da semana de alta-costura, John e Margiela optaram, novamente, pelo formato de fashion film para divulgarem as novas criações da Artisanal, assim apelidada a nova apresentação da casa. Inspirada na produção teatral britânica de Drácula, Galliano buscou reunir a moda, o teatro e o universo digital em um único universo.
Em uma coleção-cápsula, unindo 9 looks bastante distintos e singulares uns entre os outros, John Galliano produziu vestimentas em um estilo cowboy dos anos 1950 norte-americano e que, ao mesmo tempo, conversavam com uma outra narrativa americana mais sofisticada.
VIKTOR & ROLF
Se na temporada passada a dupla Viktor & Rolf produziu uma coleção inteiramente inspirada em vampiros e neste mundo mais gótico, para a semana de alta-costura de Outono 2022, o duo colecionou peças que, na primeira metade do desfile, seguem o storytelling de Nosferatu (inspiração da coleção exposta no início do ano), com vestimentas contendo golas altas estruturadas de forma que parecessem levitar na passarela, enquanto a segunda e última metade da mais nova exposição da dupla buscou segmentar um ambiente mais leve, relaxado e muito mais suave, se comparada à temporada passada e à primeira parte da apresentação da marca.
O que tornou a apresentação muito mais agradável e divertida aos olhos do público foi a aparição e presença dos dois designers na passarela interagindo com as peças de forma que manipulassem-as visualmente na frente da plateia presente.
FENDI
A “natureza fragmentar das coisas” foi o ponto de partida para a Haute Couture da Fendi. Kim Jones, atual diretor criativo da casa, fugiu do óbvio, trazendo para o outono / inverno, uma coleção fluida e descomplicada, em tons pastel – que contrastaram com as pontuais peças em amarelo vibrante – inspirada por elementos paisagísticos de três importantes cidades: Paris, Roma e Kyoto.
As referências a Kyoto, aparecem nos tecidos de kimono, típicos do século XVIII – confeccionados por meio do Kata Yuzen, uma técnica precisa de pinturas manuais – e, nos vestidos em patchwork de painéis de seda, feitos tradicionalmente no Japão, com silhuetas assimétricas.
Peças ornamentadas, com um “quê” da Art Déco, em clássicas modelagens italianas, fecharam a triangulação entre Roma (cidade de origem da Fendi), Paris (local onde surgiu o “japonismo”, tendência europeia até o início dos anos 20) e Kyoto (origem das matérias-primas utilizadas pela Maison).
É perceptível a influência de Karl Lagerfeld, antigo diretor criativo da marca, na coleção, através do design aparentemente simples, que conta com materiais sutis, porém, luxuosos – vale ressaltar que, os vestidos de lantejoulas foram confeccionados a partir de amostras de tecidos escolhidos por Karl, que por alguma razão, não foram utilizados anteriormente.
Os elementos bucólicos, vão além dos motivos florais e folhagens bordadas em tule; os paetês e cristais simbolizam a luz e, o brilho do orvalho sob a incidência dos raios de Sol – basicamente, o desfile remete aos agradáveis (e raros) momentos de “calor”, em meio ao frio invernal.
As joias assinadas pela designer Delfina Delettrez, não se limitaram a simples colares e brincos; adornaram também as headpieces, bolsas, sandálias e, até mesmo, luvas – essas, que roubaram os holofotes, dentre os demais acessórios da coleção.
VALENTINO
Encerrando a semana de alta-costura com chave de ouro, tivemos Valentino sob os degraus da escadaria da Praça da Espanha, em Roma. A direção criativa de Pierpaolo Piccioli começou com apresentações de alta-costura que tiravam lágrimas, os maiores e mais opulentos vestidos em tons de jóias que poderíamos ver.
Um dos grandes momentos pós-modernos na alta-costura eram as primeiras coleções de Pierpaolo Piccioli da Valentino. A opulência, imaginação e criatividade que as coleções tomavam, eram de tirar o fôlego de qualquer leigo, porém PPP nunca foi um grande storyteller suas roupas não contam uma história ou sua trajetória entre os tecidos, coisa que ajudava ao fator glamour de toda temporada – eram vestidos de baile de plumas e paetês em tons de jóias e realmente não precisava de nada mais!
A pandemia mudou algo de dentro da Valentino, o diretor criativo citou mais de uma vez que suas coleções haviam encurtado nas pernas e ficado mais “básicas” pois não fazia sentido naquele momento socialmente e politicamente desenhar grandes e opulentos vestidos de baile. Mas tinha uma apreciação pelo amor da arte na alta-costura nessas grandes coleções, que ainda faz muita falta.
Para sua temporada de outono inverno 2022 ele volta um pouco com suas raízes, as headpieces de plumas, tons de jóias vibrantes, brilho, bordado e alguns vestidos longos. Nada comparado a antes, mas é um começo! A verdade é que, retirando o valor simbólico da apreciação do trabalho espetacular e glamouroso da alta-costura, o que resta para Pierpaolo Piccioli? Numa direção criativa que visa roupas lindas sem um storytelling exato (que algumas coleções pós pandemia tiveram até, mas muito mais no rtw) esperamos uma coleção de alta-costura de tirar o fôlego.
Mesmo sem ser um grande storyteller em suas criações, a coleção dessa temporada ser titulada de “The Beginning” foi como um ciclo se encerrando, e outro recomeçando. Muito falamos sobre a moda pós-pandemia, mas Pierpaolo acabou de concretizar como esta vai ser para a alta-costura da Valentino. Com expressões diferentes de cores, silhuetas e texturas, adicionando corpos e pessoas cada vez mais diferentes na passarela, e alta-costura masculina.
Nada disso significa que ele deixou o passado para trás, com grandes ornamentos de cabeça de plumas, tons vibrantes e vestidos bordados brilhantes agraciaram os degraus de Roma.
A Valentino nasceu em Roma, recomeçar onde a marca se fundou anos atrás também possui um significado importante. Entre as combinações de cores, comprimentos e texturas como plumas e lantejoulas, a coleção parece muito coesa.
Mesmo que grande no tamanho, conseguimos ver uma trajetória clara no trabalho do ateliê, que também fez a aparição final no desfile em conjunto com o diretor criativo. Um fechamento memorável!
O “gaze” (em tradução livre, olhar / contemplar com fixação) é um termo relacionado à cultura visual, se refere à uma perspectiva empregada no cinema, no teatro e em demais manifestações artísticas: O “male gaze”, então, pode ser definido como o olhar masculino (heteronormativo), que dirige a cena e controla a câmera (e assim, o gaze), satisfazendo tal público, através de ideologias e discursos patriarcais – feito por e para homens – mas além disso, reflete a forma como estes enxergam e lidam com o mundo ao seu redor.
Laura Mulvey, crítica cinematográfica britânica, foi quem deu origem ao termo “Male Gaze” em 1975, utilizado pela primeira vez em seu ensaio, intitulado “Visual Pleasure and Narrative Cinema”, no qual ela utiliza da psicanálise para questionar a imagem feminina no cinema, ao analisar os tradicionais filmes de Hollywood, dos anos 40 e 50. Criados por uma indústria controlada exclusivamente por homens, Mulvey sugere que este olhar classifica as mulheres como objeto passivo das narrativas, incluídas nas tramas apenas para satisfazer o desejo masculino, sem agregar valor ao enredo, em cenas hipersexualizadas, através de aparências codificadas por forte impacto visual erótico.
Apesar de o termo em questão ter surgido a partir de uma perspectiva cinematográfica, o male gaze pode ser identificado nas demais indústrias que apresentam relação direta com a arte. Na publicidade, a mulher se torna o objeto de desejo a ser vendido para o público masculino, enquanto para o público feminino, vende-se a ideia de que só serão dignas de apreço ao seguir determinado padrão, pautado em um ideal (físico e comportamental) socialmente imposto. Até mesmo na indústria dos games, podemos usar o exemplo da icônica personagem Lara Croft, que nos leva a questionar se a mesma, seria uma heroína feminista – visto que foi uma das primeiras personagens femininas com um papel ativo em jogos de ação – ou, mais uma representação da objetificação feminina – desenhada com um apelo sexual intrínseco.
Campanha publicitária do cereal PEP by Kellogs – 1939 [Reprodução / Pinterest
Como o figurino é um dos elementos essenciais para a construção de uma personagem, a hipersexualização acaba sendo também transmitida para o estilo desta; se “a vida imita a arte”, esses códigos são incorporados pela sociedade e refletem na moda; o mesmo acontece com os padrões estéticos irreais, que são assimilados pela população, distorcendo a forma como enxergamos o mundo e a nós mesmas. O impacto gerado pelo male gaze pode ter passado despercebido por gerações anteriores, possivelmente, pelo fato de que a quebra de antigos costumes nos deu uma falsa sensação de liberdade e empoderamento. Porém, recentemente, foi levantado um questionamento por criadores de conteúdo no aplicativo “TikTok”, ao indagar: por quê quando mulheres optam por roupas mais extravagantes / fluidas / coloridas / diferentes, que não são consideradas sensuais, geralmente percebem olhares de admiração vindo de outras mulheres e, olhares de reprovação vindo de homens? Foi então, que os impactos do olhar masculino começaram a ser notados, também, na moda, pela geração Z. Rapidamente, outras trends que abordam esta temática, também tomaram conta das redes sociais; uma das mais populares consiste em representar personagens em situações cotidianas ou hipotéticas, sob o ponto de vista do male gaze, a partir de uma análise, acerca de sua aparência, estilo e comportamento, o que comprova sua influência em nossas personalidades.
Em entrevista concedida à Frenezi, a stylist e produtora de moda, Lívia Cady (@liviacady) reconhece que o olhar masculino sobre a mulher e, a objetificação sexual de sua imagem, implicam numa auto observação deturpada, além de influenciar também no lifestyle e preferências individuais (que infelizmente, acabam sendo generalizadas), relacionados com o estilo pessoal, que também pode ter seu desenvolvimento e construção prejudicados .
“Essa é uma herança histórica que está enraizada e muito presente no nosso dia-a-dia, lidamos com isso o tempo inteiro. Como profissional, meu papel é justamente, conduzir o/a cliente nesse processo de autoconhecimento e empoderamento de sua própria imagem, para que ele/ela não permaneça refém dessa dinâmica machista e, que o seu estilo não seja moldado de acordo a satisfazer às expectativas alheias e sim, às suas próprias”, ela explica.
Discussões acerca da feminilidade, também foram levantadas em debates sobre o male gaze na internet; comparações generalizadas e sem fundamentação teórica, que a relacionam à futilidade contribuem para a repreensão do feminino e afirmação de discursos patriarcais. O estereótipo ‘pick-me girl’, também foi bastante citado e, apesar de divergir (teoricamente) dos padrões hipersexualizados, impostos pelo male gaze, acaba por fomentar a rivalidade feminina, a partir da premissa de superioridade de quem despreza aspectos e elementos considerados “de mulherzinha” e se diz “diferente das outras garotas”, por basear seus interesses em elementos compreendidos socialmente, como masculinos, o que pode se tratar de mais um reflexo da inferiorização do feminino, pela construção social patriarcal.
Com uma extensa bagagem de campanhas publicitárias misóginas, a fast fashion estadunidense, American Apparel, fundada por Dov Charney (o qual já recebeu inúmeras acusações de assédio sexual), entrou em alerta de falência, em 2015, após uma série de boicotes à marca. Em 2021, foi anunciado o fechamento de todas as suas 110 lojas pelos Estados Unidos – porém, suas peças continuam à venda através da atacadista Gildan Brands, após um acordo que custou 88 milhões de dólares; mas (felizmente), é inegável o apagamento da marca, que teve o seu auge durante os anos 2000.
Campanhas publicitárias da marca American Apparel [Reprodução / Pinterest]American Apparel, catálogo da coleção Fall 2013 – Unissex Clothing [Reprodução / Feminist Film Studies Fall 2018]
Já a coleção outono / inverno 2022 da Roberto Cavalli, apesar de ter sido desenhada por Fausto Puglisi, em seu primeiro desfile como diretor criativo da casa, apresentado na Semana de Moda de Milão, trouxe um olhar feminino acerca da sexualidade. A marca conhecida por peças extremamente sexys e extravagantes, ganhou uma nova “mulher Cavali”, com um toque de romantismo, marcado pelos florais e, intelectualidade, simbolizada pelas estampas xadrez (utilizadas pela primeira vez na Cavalli). Puglisi conseguiu equilibrar sensualidade, feminilidade e conforto, numa releitura moderna do tão comentado empoderamento feminino.
Roberto Cavalli Fall Winter 2022 – Milan Fashion Week [Reprodução / Pinterest]
O Female Gaze, baseado em teoria feminista, surge em contraponto ao olhar masculino, numa busca pelo desvencilhamento destes padrões; a moda aparece como forma de subversão e escapismo. Em um mundo onde o conceito de ‘gênero’ é fluido, há quem ache irrelevante esta dicotomia, porém, é imprescindível que atentemos a essas representações e seus significados, para que nossa autonomia seja mantida dentro e fora das telas. Mas, numa sociedade onde mulheres são objetificadas de todas as formas possíveis – e independentemente da roupa que se veste – é possível lutar contra o male gaze?
Originado na Renascença Italiana no século XV, o ballet era uma forma de entretenimento para os altos membros da nobreza. Muito popular, logo a dança se espalhou para outras partes da Europa.
Na França o ballet teve grande evolução. Primeiramente introduzida por Catarina de Médici, esposa do rei Henrique II, que trouxe a dança da Itália, o ballet tornou-se um patrimônio francês nos séculos seguintes. O rei Luís XIV foi um grande patrono da dança – até dançando alguns ele mesmo – e elevou o status do ballet a uma forma de arte, fundando a Academia Real de Dança em 1661.
Rei Luís XIV no Ballet Royal de la Nuit
Foi apenas no século XIX que a sapatilha de ponta e os tutus apareceram. O ballet deixou de ser dominado pela ópera e se desvencilhou (não totalmente) das amarras reais. Fortemente influenciado pelo movimento romântico, os espetáculos começaram a retratar histórias de mulheres frágeis, amores impossíveis e criaturas mágicas, dentre eles Giselle e La Sylphide, por exemplo.
Carlotta Grisi em Giselle
Aqui, o foco começa a ser realmente nas bailarinas e na técnica de ponta. Técnica essa que foi aprimorada quando o ballet chega na Rússia. Esse é o grande boom do ballet, foi nessa época onde os grandes clássicos foram escritos. O Quebra-nozes, A Bela Adormecida e O Lago dos Cisnes nascem de mãos russas, mais precisamente das mãos de Marius Petius e compostas por ninguém mais, ninguém menos que Piotr Tchaikovski. Essa era é a mais definitiva para o ballet clássico, onde toda a atenção era voltada para a dança, sua precisão e, também, sua dificuldade.
Bailarinas de O Lago dos Cisnes no Teatro Mariinsky em São Petersburgo, 1895-1910.
Consequências na cultura
Apesar de ser visto como uma dança feminina, o ballet originalmente era composto apenas de homens, que interpretavam papéis masculinos assim como femininos. Não foi até meados de 1830 que a associação do ballet à mulheres começou. A Revolução Francesa foi um dos motivos, época em que artes e costumes mais aristocráticos eram vistos com maus olhos. Homens não queriam tomar mais parte disso, e como temas super românticos já haviam sido implementados, abriu-se espaço para as mulheres subirem ao palco. Ao fim do século, homens bailarinos não eram mais aceitos culturalmente. O crítico Jules Janin disse: “Em nenhuma circunstância eu reconheço o direito de um homem dançar em público”.
Essa nova feminização do ballet trouxe consequências reais que perduram até o dia de hoje. Bailarinas -geralmente de baixa renda- treinavam rigidamente desde crianças dentro do Paris Opera Ballet até chegarem ao corps de ballet, para então, serem suscetíveis a avanços sexuais dos patronos da ópera, que podiam influenciar suas carreiras. Dançarinas que, de alguma forma ou outra, chegavam a lugares de destaque em produções, eram vistas como prostitutas pela sociedade.
Esse estereótipo é visto em Cisne Negro (2010), o mais famoso dos filmes balletcore. Nina (Natalie Portman) é vista como uma “vadia” por ter conseguido o papel principal, sofrendo retaliação de outras bailarinas.
Reprodução/ Cisne Negro (2010) diretor Darren Aronofsky
Outro ponto importante a ser discutido sobre as consequências do ballet é o culto ao corpo magro. Conceito popular em meados dos anos 1920, a magreza era vista como sinônimo de saúde. Não coincidentemente, foi nessa época que o ballet voltou à graça do povo. É de conhecimento público os vários relatos de transtornos alimentares como anorexia, bulimia e dismorfia corporal dentro da cultura do ballet.
Misty Copeland, uma das mais famosas bailarinas atuais, desabafa em artigo:
“Eles me disseram: ‘Seu corpo mudou. As linhas que você está criando não são mais como eram. Gostaríamos de vê-la mais alongada’. Isso, claro, era apenas uma forma educada e segura de dizer, ‘Você precisa perder peso’.”
Misty Copeland em O Lago dos Cisnes
Misty, que na época nem menstruava de tão magra, contou sobre suas dificuldades em aceitar seu corpo uma vez que começou a tomar a pílula, que fez seus seios e quadris aumentarem. Ela também admitiu a comer compulsivamente, por sentir-se frustrada com as demandas da companhia de dança. Misty pesava 48 kg com 1,57cm de altura e considerava-se gorda: “[Mas] em meu mundinho, eu fiquei devastada quando descobri que eu era ‘gorda.’ Eu sempre tive orgulho do meu corpo -sua força e graça me permitiram seguir minhas paixões. Mas agora ele havia se tornado o inimigo.”
Outro relato mais extremo é da bailarina Gelsey Kirkland. Em seu livro Dancing On My Grave (1986), ela conta sobre seu tempo dançando para o famoso coreógrafo George Balanchine. Sobre uma ocasião em que ele fez uma “inspeção física”, Kirkland disse:
“Com os nós dos dedos, ele apertou no meu esterno até as costelas, cacarejando com a sua língua e dizendo ‘preciso ver os ossos.’ Eu tinha menos de 45 kg na época… Ele não apenas disse ‘coma menos.’ Ele disse ‘coma nada.’”
Os conceitos de magreza e hiper feminilidade são pontos fortes do balletcore, que preza por corpos retos, brancos e quase infantis. Jennifer M. Miskec diz sobre o ballet e o feminino:
“O ballet é o espaço perfeito para a feminilidade ideal: corpos magros; saias bufantes; silêncio; movimentos graciosos que fazem tudo parecer fácil enquanto escondem a dor, angústia física pela beleza.” É importante realçar os impactos que esses padrões têm em bailarinas e mulheres que consomem essa cultura, que muitas vezes buscam um corpo “ideal” baseado em conceitos feitos por homens e para homens.
Na moda:
Não é a primeira vez que a moda toma como fonte de inspiração para suas criações o ballet, na verdade historicamente apresentações de danças, óperas e teatros foram grandes atrações culturais, que chegaram a alterar o curso do vestuário da época por sua popularidade.
O caso mais famoso foi o de 1909 quando a companhia de ballet russa – Ballets Russes de São Petersburgo -inaugurou sua apresentação no teatro de Paris. Apresentação que mudou o curso dos vestidos de noite por uma década seguinte, penduricalhos e bordados famosos nos vestidos de 1920, e principalmente no grande designer Paul Poiret foram inspirados diretamente por este ballet.
”Com a chegada dos Ballets Russes, uma nova forma de dança, música e desenho de figurinos e cenários entusiasmou e assombrou a cidade inspirando uma onda de audaciosa experimentação. Os costureiros foram rápidos em sua resposta à vanguarda russa, com Paul Poiret ao timão. A riqueza do colorido, a decoração bizarra e o corte exótico foram traduzidos numa mudança fundamental que baniu a figura eduardiana rigidamente espartilhada”. NJ STEVENSON, Cronologia da moda, 2011, p. 78.
Paul Poiret, 1911, reprodução/ Met Museum
O orientalismo da época graças a companhia de ballet russa, mostrou o quanto os movimentos culturais podem ter ramificações nos grandes designers. A marca Nina Ricci sob a direção criativa de Olivier Theyskiens em sua estreia na marca, no outono inverno de 2007, também trabalhou com a estética, longe de uma apresentação específica ou de grandes peças de ballet em geral. A coleção incorporou elementos claros do Ballet em um contexto casual, com modelos em cardigans enormes, aquecedores de mãos e um sapato de salto com a ponta arredondada e tiras em cetim de sapatilhas, acompanhados com meia-calças da mesma cor!
Nina Ricci Fall Winter 2007, Reprodução/Vogue Runway
Assim como Simone Rocha, o grande nome da semana de moda de Londres mostra em suas coleções, sapatilhas adornadas, pérolas, cores claras, tulles e corpetes são alguns exemplos da estética clara da marca, tudo bem amarrado em uma paleta de cores claras, características observadas como movimento estético central da marca, mas principalmente das coleções referentes as temporadas de primavera verão 2022 e outono inverno 2020.
Hoje, é possível perceber uma mudança no ciclo de tendências da moda, este não é mais regido pelas grandes casas de alta-costura, nem mesmo no grande ciclo de designers de luxo, a popularidade de novas estéticas e micro-tendências surgem do próprio público – uma das mudanças aceleradas pelo pós-pandemia – o Ballet Core apelidado por seus membros é uma estética de estilo que assim como o old money é menos sobre as roupas em si, e muito mais sobre o estilo de vida.
Editorial para Grazia France 2013, fotografada por David Roemer
Quem não aspira em ser uma bailarina? Seres quase místicos, esbeltos, que levam os corpos ao extremo pela própria arte e a graça em se mover, o estilo encontra raizes no preppy mas incorpora elementos clássicos do ballet, principalmente de vestimenta casual e diária das dançarinas para ensaios, como macacões colados, leggings, segundas peles, aquecedores de mãos, meia-calças e boleros leves. Um dos elementos principais são as saias transpassadas de cetim, acessórios de pérolas e sapatilhas.
O ballet core também entra num estereotipo claro da bailarina, não como um ser humano ou uma atleta, mas um ser místico que se aproxima de uma musa, que muitas vezes continua nos padrões clássicos de corpo e aparência que continuam a ser exacerbados nessa estética. O importante em ter em mente quando falamos dessa estética emergente que apesar de olhar para um estilo de vida e mimica-ló, o ballet é uma dança que merece dias, meses e anos de preparação, não é sobre olhar para o físico, mas aproveitar a ideia da estética para brincar com o visual hiper-feminino, independente do tipo de corpo. Essa vertente perigosa que o ballet core nasceu fez com que o estilo fosse popularizado principalmente em meninas muito magras, o que não deve impedir de experimentar com o estilo, buscar inspirações em novas marcas como Simone Rocha, que olha para o ballet de modo diferente, são importantes para não cair na rotina, com uma inspiração que pode se tornar tão rica e divertida.