“Jackman”: a verdadeira essência de Jack Harlow

O rapper Jack Harlow lançou, no dia 28 de abril, seu terceiro álbum produzido em estúdio, Jackman. O disco leva o primeiro nome do cantor e foi feito em parceria com a Atlantic Records e Generation Now. O anúncio do novo álbum foi feito pelo seu Instagram, apenas alguns dias antes do lançamento, pegando seus fãs de surpresa. 

Capa do álbum Jackman [Imagem: Reprodução/Instagram]

Com aproximadamente 25 minutos e 10 faixas no total, Harlow trouxe músicas que não passam de três minutos, com exceção de uma, além de cantá-las sozinho, sem nenhum featuring; algo que, até então, não tinha sido visto em seus dois últimos trabalhos: Thats What They All Say e Come Home The Kids Miss You. Ambos contaram com a presença de artistas de peso, como Drake, Justin Timberlake, Adam Levine e Lil Wayne. 

O disco começa com Common Ground, uma canção que, ao mesmo tempo que traz as rimas de Jack com um arranjo melódico ao fundo, tornando a faixa uma bela maneira de abrir o álbum. O assunto abordado é a realidade de jovens negros e brancos que crescem nos subúrbios, cercados por uma certa ‘’divisão’’ e por arrogância. 

They Dont Love It vem em seguida, com um beat animado e com uma pegada que lembra um pouco os raps do início dos anos 2000. Ao longo da canção, Harlow refere-se a si mesmo na terceira pessoa, além de deixar claro que está tentando mudar quem ele é; ou melhor, mostrar o seu ‘’verdadeiro eu’’ e parar de se importar com a opinião alheia. ‘’Eu fui suave por tanto tempo, estou tentando ficar forte. F*da-se polir minhas unhas, cara, estou tentando me polir. F*da-se modelar minha barba, estou gostando dela assim’’, canta Harlow na primeira estrofe da faixa. 

Ambitious é a terceira canção. O cantor relembra de todos os seus sonhos quando era mais jovem, focando, principalmente, em sua realidade quando tinha 14 e 19 anos. Ele conta, também, que tudo que parecia inatingível para ele, hoje não é mais. O sucesso alcançado por Harlow é o tema principal desta faixa. Cada um dos três versos é dedicado para falar sobre uma de suas idades, finalizando com a descrição de suas conquistas aos 24. 

A próxima canção tem um ritmo parecido com algumas faixas de Drake, além de alguns vocais muito escutados em Fair Trade. Is That Ight? também fala sobre o sucesso que o rapper vem conquistando ao longo dos anos. No entanto, um questionamento é feito: será que tem algum problema ele não querer todos esses luxos e coisas caras que as outras celebridades têm? Com simplicidade e muita gratidão é a forma como Jack Harlow quer curtir sua vida. Is That Ight? é uma das canções do álbum com o maior potencial para virar um hit. 

Gang Gang Gang aborda a questão da amizade e até onde ele está disposto a ir para defender seus amigos que já fizeram coisas ruins e problemáticas. Com um ritmo mais parado e um beat constante, Jack fala como viu amigos de infância seguirem caminhos que ele nem imaginava, inclusive o encarceramento. No final, o cantor ainda faz questão de deixar claro que, independente da amizade, as pessoas devem ser responsabilizadas pelo o que fizeram.  

‘’Responsabilizamos aqueles que amamos por moral, mas principalmente por medo. A escolha fica clara e anos de camaradagem, de repente, desaparecem. Quase como se você nunca estivesse aqui’’, afirma Harlow na quinta faixa de Jackman.

O álbum segue com Denver, uma faixa que mostra um outro lado de Jack Harlow; um lado cheio de vulnerabilidade e inseguranças presentes no cotidiano do cantor. Mesmo com o apoio da família e de seus amigos, a depressão e a ansiedade ainda são um fator constante na vida dele. A canção é sincera, honesta e crua. O vocal feminino ao fundo traz uma dramaticidade à música, casando muito bem com a letra. 

A sétima canção é No Enhancers, uma das mais curtas de todo o disco. Harlow fala sobre uma garota, dando a entender que ela não está mais em sua vida. A faixa é toda dedicada à ela, com o rapper frisando que não há necessidade de que algo seja feito para mudar sua aparência, deixando claro que gosta dela ‘’natural’’. De todas as músicas de Jackman, é a que menos se destaca.  

It Can’t Be é a próxima, dando uma alfinetada naqueles que afirmam que ele só faz  sucesso  por ser branco, uma discussão que surgiu nas redes ao longo do ano passado após o lançamento de First Class, música que estourou, principalmente, no Tiktok. A melodia da canção em si não é nada especial, é apenas mais um rap. Contudo, a liricidade da faixa é o que surpreende, com Jack botando para fora tudo que sente de forma bem audaciosa. 

‘’Deve ser a cor da minha pele, não consigo pensar em nenhum outro motivo para eu ganhar. Não consigo pensar em uma explicação, não podem ser os anos de trabalho que coloquei. Não pode ser o jeito que eu fiquei com os mesmos amigos. Não pode ser o estilo que ganhei quando entrei, não pode ser’’, desabafou o rapper em It Can’t Be. 

  Jack Harlow [Imagem: Reprodução/Jornal do Rap]

A penúltima canção é a única que ultrapassa a média de dois minutos e meio de duração presentes ao longo de Jackman. Com uma batida forte e cativante, Harlow divide a faixa Blame On Me em três pontos de vista: de seu pai, de seu irmão mais novo e de seu irmão mais velho, dedicando um verso para cada. O caçula se sentiu abandonado por Jack enquanto crescia. O eu-lírico da segunda parte é o próprio Harlow, justificando suas atitudes com o mais novo. Já o terceiro e último é escrito na perspectiva paterna, que tenta explicar o motivo de suas ações. 

O álbum se encerra com Questions. A faixa é, simplesmente, uma tradução literal de seu nome, contendo 33 perguntas feitas pelo rapper a si mesmo. O tema principal desses questionamentos gira em torno de uma autorreflexão sobre sua vida e suas conquistas, além do que o futuro lhe reserva, com um receio de não cumprir as expectativas que foram colocadas sobre ele ao longo dos últimos anos. É uma canção que faz jus à toda honestidade que foi colocada ao longo do disco, sendo uma bela maneira de finalizá-lo. 

Jackman é, sem dúvida alguma, um álbum que tem como objetivo mostrar que Jack Harlow sabe, sim, rimar. Não é super elaborado e cheio de firulas técnicas e melódicas. É simples, o que não significa que é mal feito. Muito pelo contrário, as batidas de fundo foram muito bem escolhidas pelo rapper, além do incremento de vocais em algumas canções que só enriqueceram o disco.

 É ainda mais surpreendente que ele tenha conseguido alcançar esse resultado sozinho. A participação de outros cantores não é nem um pouco necessária para incrementar a obra. Harlow deu conta do trabalho. É nítido que foi um álbum pensado para rebater o criticismo que o rapper vem enfrentando em sua carreira, é como se Jack Harlow tivesse um ponto para provar. 

Jack também acertou no tamanho de seu novo trabalho, mirando no clichê de que ‘’menos é mais’’ e, nesse caso, realmente foi. Com apenas dez faixas, o cantor conseguiu mostrar muito bem sua essência sem tornar o álbum cansativo e maçante. É algo agradável de ouvir, podendo muito bem ser concluído durante algum deslocamento. 

No entanto, o que mais surpreende em Jackman é a vulnerabilidade que o cantor se dispôs a mostrar em algumas de suas canções. Esbanjando talento na liricidade, colocando suas inseguranças para fora e deixando claro que sua vida está longe de ser perfeita; uma imagem muitas vezes perpetuada pelas celebridades. No geral, é um trabalho muito bom, feito para aqueles que realmente gostam de rap, uma decisão um tanto arriscada considerando que os últimos sucessos do cantor tinham uma pegada mais pop. Mas Jackman é um forte concorrente para ser considerado o melhor álbum feito por Harlow até agora.

FLO: O novo Girl Group que representa o comeback do R&B

Ouvir falar sobre Rhythm and Blues (R&B), e não lembrar da icônica era de ouro da música com Destiny’s Child, TLC, Mariah Carey, Diana Ross e Alicia Keys, é impossível. Ele surgiu no final da década de 1940 como uma extensão do gospel e do blues, mas em 1990 começou a ser comercializado como subgênero do funk, do jazz, do rock, do blues e do soul, praticamente um mix de gêneros musicais. 

O R&B contemporâneo, como ficou conhecido, foi muito difundido por grupos e artistas negros do Estados Unidos e do Reino Unido, e apesar de representantes muito diversos, foram os girl groups que marcaram essa geração entre os anos 1990 e 2000. Hoje, passados mais de 20 anos do sucesso de uma era, é raro ver grupos de mulheres que fazem sucesso em estilos diferentes do pop, que é o mais conhecido e adotado pelas artistas. 

A geração Z já está acostumada com os girl groups que se separaram nos últimos anos, como Fifth Harmony e Little Mix, mas também com o surgimento de alguns que começaram a fazer sucesso em gêneros mais modernos, como o K-pop e seus representantes, como Blackpink e Girls Generation. A falta de novos grupos femininos no cenário musical chama atenção, mas foi questão de tempo para novidades na indústria. 

Quebrando todas as regras e padrões dos grupos atuais, surgiu o FLO, grupo feminino composto por Jorja Douglas, Stella Quaresma e Renée Downer, três mulheres negras que se inspiram no R&B contemporâneo para suas canções. O grupo surgiu no Reino Unido em 2019, e diferente das formações tradicionais de grupos musicais, que normalmente provém de concursos e competições, a conexão entre elas e com a música vem da infância. 

Aos 5 anos, Stella se mudou de Moçambique para Londres e na escola conheceu Renée. Por meio das redes sociais conheceram Jorja, alemã criada na Inglaterra. O grupo foi formado e elas começaram seu trabalho com regravações no TikTok. Mas foi com o single de estreia Cardboard Box, produzido pelo britânico MNEK (Little Mix e Dua Lipa), que FLO conquistou fãs e a internet. 

Depois de um fã postar um vídeo da canção no Twitter que a música viralizou e se tornou hit em questão de minutos nas redes sociais, principalmente no TikTok, onde as dc´´s rapidamente foram criadas para o som. Abordando superação de relacionamentos, a canção tem um ar de pop misturado ao clássico R&B dos anos 2000, que tem uma estética leve e confortável aos ouvidos, além do clássico ritmo contagiante do gênero.  

@flolikethis

@remiblack SNAPPEDDD on this choreo for the Cardboard Box music video🥰 #cardboardbox #newmusic #fyp

♬ Cardboard Box – FLO

Vivendo e fazendo música no século da tecnologia, o grupo já estava esperando que as redes sociais pudessem alavancar seu trabalho e não ser um obstáculo: “Não é um fator primordial quando fazemos uma música, mas, às vezes, você consegue imaginar algo que pode ir bem no TikTok. As mídias sociais são parte do jogo”, disse Stella em entrevista ao Estadão

A partir do sucesso nas redes sociais, o grupo começou a chamar a atenção de outros artistas envolvidos no gênero, como SZA, Missy Elliot, JoJo e Kelly Rowland, ex-integrante do Destiny´s Child. SZA até repostou em seus stories do Instagram um clipe da música nova das meninas com a legenda: “Ooooooooooo eu gosto muito disso”, em tradução livre. 

Stories de SZA no Instagram reagindo a FLO

Em entrevista ao The Line of Best Fit, o trio comentou sobre seu primeiro sucesso: “Cardboard Box é uma das primeiras músicas que escrevemos como grupo e durante o processo nos abrimos sobre lutas de relacionamento e experiências de seguir em frente com um ex […] Queremos que as pessoas fiquem leves e empoderadas- tipo, tá tudo bem encerrar um capítulo ruim da sua história!”. 

Após o hit se tornar a maior faixa de estreia de um grupo em mais de uma década, alcançando mais de 40 milhões de reproduções, FLO venceu o Brit Awards em 2023. O grupo foi o primeiro a ganhar o prêmio na categoria de Estrela em Ascensão pela premiação britânica.

FLO, vencedoras do Brit Awards 2023 na categoria Rising Star
Imagem: [Divulgação/Billboard]

A nostalgia que acompanha Cardboard Box e outros trabalhos do grupo vem com força por meio das redes sociais. São estilos antigos que, de alguma maneira, voltaram a ter influência nos aplicativos e chegaram em peso nas roupas, música e penteados. A estética de FLO segue essa volta dos estilos dos anos 2000, tanto na música quanto no visual, e até nos clipes, que incluíram a aparência retrô.

Por enquanto, o único EP do grupo foi lançado em julho de 2022, The Lead, que contém 5 faixas. Logo depois, lançaram o single Not My Job e alguns remixes de Cardboard Box. O álbum é perfeito para fãs de Destiny’s Child e TLC, pois incorporou completamente a vibe R&B dos anos 2000. Elas entregaram vocais, ritmo e pura nostalgia nos hits da produção.

No começo de 2023, FLO lançou um remix da música Hide & Seek, do cantor britânico Stormzy, e as vozes do grupo encaixaram perfeitamente com a do rapper. No final de março, o grupo se juntou à Missy Elliot para um feat nostálgico, empoderador e contagiante. Fly Girl fala sobre se cuidar e se sentir bem consigo mesma, sem precisar de homens para “arrasar na pista”.

Na busca pela representatividade e pelo empoderamento, FLO volta às origens de um gênero clássico, mas que hoje é muito distinto ao R&B, para abordar os altos e baixos das clássicas questões femininas do século XIX. Sem perder a essência do gênero, elas usam dos recursos da era em que vivem para mostrar que o gênero vive nesse século e nas mulheres que fazem música. 

O grupo está se tornando o maior representante do R&B moderno. Abordando questões atuais de maneira autêntica, as meninas se inspiram nas divas do gênero da década passada, mas não deixam a originalidade de lado. Sua formação e seu sucesso demonstram a perfeita evolução dos modernos girl groups, mas à caminho de uma desconstrução do clássico gênero musical pop que as mulheres normalmente estão inseridas.

FLO chegou para ficar. O mundo da música clama por novos ares e vozes que podem significar comebacks importantes na indústria musical. Por isso, o grupo é um prato cheio para os fãs de R&B e promete ser uma das maiores apostas para o futuro das girl groups. É melhor ficar de olho em uma das melhores propostas dessa geração. 

Guerra de Fandoms no Mundo da Música

Os fandoms podem ser caracterizados como um grupo de fãs dedicados a um artista ou banda específicos. Esses fãs são apaixonados por sua música e gostam de demonstrar sua devoção por meio de uma variedade de atividades dentro e fora das redes. 

Nos últimos anos, o mundo da música tem sido palco de uma batalha acirrada entre os fãs de diferentes artistas, conhecida como “guerra de fandoms“. Essa competição, que pode ser vista no Twitter, Instagram e Facebook, consiste em tentar provar qual artista é o melhor, mais popular ou detentor de mais prêmios.

A guerra de fandoms não é um fenômeno novo, mas com a popularização das redes sociais e a facilidade de se conectar com pessoas de todo o mundo, ela tem se intensificado. Os fãs se organizam em fã clubes, criam hashtags e, até mesmo, promovem campanhas para tentar elevar seu artista favorito ao topo das paradas de sucesso e derrubar os concorrentes.

Essas batalhas podem parecer inofensivas à primeira vista, mas muitas vezes se transformam em ataques pessoais e comportamentos hostis, elevando as tensões entre os fãs e, até mesmo, entre os próprios artistas. A difamação, o bullying e as ameaças são práticas comuns entre os participantes da guerra de fandoms, que muitas vezes se esquecem de que a música é um fator extremamente relativo e de gosto pessoal.

Alguns dos maiores conflitos ocorrem entre os fãs de cantores do mundo pop como Taylor Swift, Ariana Grande, BTS, Justin Bieber, Beyoncé, Lady Gaga, entre outros. Os fandoms desses músicos possuem até nomes e são conhecidos como os Swifties, Arianators, Army’s, Beliebers, Beyhive e Little Monsters, respectivamente. 

Multidão de fãs da Beyoncé, chamados de Beyhive, em Houston. [Imagem: Reprodução/Yahoo]

E se engana quem pensa que esse é um problema somente na esfera internacional da música. No Brasil, os fãs de artistas inseridos na música pop também constroem uma certa rivalidade, principalmente, entre cantoras femininas. Admiradores de Anitta, Ludmilla e Luísa Sonza são facilmente encontrados em discussões na internet acerca de quem teria maiores qualidades para ser considerada uma “verdadeira artista”.

Mas, por que essa competição tão acirrada entre fãs? Para muitos, a música é mais do que apenas uma forma de entretenimento, ela se torna parte de sua identidade e estilo de vida. Os fãs de um determinado músico sentem uma conexão emocional com o trabalho desses cantores e, por extensão, com o próprio artista.

Infelizmente, essa conexão pode rapidamente se transformar em uma rivalidade acalorada quando os fãs começam a competir entre si para provar que seu músico preferido é superior aos outros. Muitas vezes, são usadas estatísticas de vendas, números de streaming e posições nas paradas musicais para argumentar a favor ou contra os artistas. Mas a problemática se torna ainda pior quando a aparência, problemas pessoais e até relacionamentos são usados como munição para esses ataques.

Em 2017, a cantora Demi Lovato aproveitou a performance do single Sorry Not Sorry para propagar uma mensagem anti-bullying. Antes do início da música, o telão exibiu inúmeras mensagens de haters no Twitter atacando a aparência da artista e manipulando imagens com propósito de humilhar a cantora nas redes. 

Ao se levantar da plateia, Demi declarou a importância da positividade e da empatia, que são elementos encontrados na canção. Infelizmente, essa mesma apresentação é usada atualmente por fãs de outros artistas para atacar a cantora americana, que consideram o momento muito vergonhoso para a carreira de Lovato.

Para os músicos, essa rivalidade pode ser uma faca de dois gumes. Embora a competição entre fãs possa ajudar a impulsionar o sucesso de um cantor, também pode levar a comportamentos tóxicos que podem prejudicar a reputação dessas celebridades.

Muitos cantores tentam se distanciar das batalhas dos fandoms e pedem a seus fãs que parem de lutar uns com os outros. Em 2019, durante o clipe da faixa You Need to Calm Down a cantora Taylor Swift trouxe várias drag queens vestidas como artistas femininas da indústria musical. Ariana Grande, Lady Gaga, Adele, Cardi B, Nicki Minaj e Beyoncé, juntas formavam em harmonia uma representação das “rainhas do pop”.

Além disso, o vídeo contou com a presença de Katy Perry, que foi uma grande surpresa para os fãs, já que ela e Taylor Swift tiveram uma briga pública que durou anos. Assim, sua aparição no vídeo marcou um momento simbólico de reconciliação entre as duas artistas e o fim das brigas entre fãs nas redes sociais.

No entanto, nem todos os artistas tomam essa posição. Alguns até parecem incentivar a rivalidade entre fãs, usando-a como uma forma de gerar publicidade e atenção para si mesmos. As redes sociais também têm sua parcela de culpa e desempenham um papel fundamental no controle das guerras entre fandoms

As plataformas de mídia social, como Twitter e Instagram, têm políticas rígidas contra o assédio e a incitação à violência e podem excluir contas que violam essas políticas. Mas claro, tudo depende da denúncia de usuários sobre comportamentos tóxicos para que a equipe de suporte possa tomar medidas para mitigar a situação.

Apesar disso, ações como essa só resolvem o problema temporariamente. Escondidos por trás de fan clubs e fan accounts, muitos perfis acreditam na anonimidade da internet e se sentem livres para ofender outras pessoas. Mesmo que atitudes sejam tomadas em relação a isso, esses perfis ainda podem ser facilmente recriados.

Portanto, a guerra de fandoms no mundo da música é um reflexo da cultura da internet, onde a opinião pessoal é valorizada acima de tudo. Isso leva à criação de grupos de fãs extremamente leais que se tornam agressivos e hostis em relação a outras pessoas que não compartilham suas opiniões. 

Embora seja natural ter opiniões diferentes e preferências em relação à música, isso não deve levar a uma guerra entre fãs. Em vez disso, eles devem se concentrar em celebrar a música dos artistas que amam e respeitar as escolhas uns dos outros. Esse que deve ser um esforço coletivo de conscientização entre os fãs, os músicos, a mídia e as redes sociais.

[Crítica] Ocean Blvd: mais um álbum que seguiu a fórmula ‘Lana Del Rey’

Elizabeth Woolridge Grant. Este é o nome da mulher que em menos de uma semana atingiu, novamente, o topo das paradas de sucesso americanas e britânicas. Conhecida popularmente como Lana Del Rey, a cantora americana lançou nesta última sexta-feira (24) seu nono álbum de estúdio, Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd. 

Com 78 minutos e 16 faixas, Lana trouxe histórias de sua família, a ideia de vida após a morte e o paradoxo entre querer passar despercebida, mas também a necessidade de se sentir vista. Dessa vez, o tema “relações amorosas” não foi o foco principal de sua obra, uma mudança que foi bem recebida pelo público geral. De acordo com a Chart Data, seu novo disco teve a maior estreia de sua carreira no Spotify.

Capa do novo álbum de Lana Del Rey [Imagem: Reprodução/Pitchfork]

Começando com The Grants, uma canção melódica e até mesmo religiosa, que aborda questões sobre espiritualidade e questiona seus familiares, amigos e a si mesma sobre como será sua vida depois de sua morte. A mistura entre a voz suave da cantora e o coral foi excepcional. 

Em seguida Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, faixa que leva o mesmo nome do disco e foi lançada três meses atrás. É possível ver a Lana que conquistou milhões de fãs por seus questionamentos sobre o amor implorando para ser amada até que ela consiga se amar, além de trazer a melodia suave característica de suas obras.

A terceira canção é Sweet. Com uma harmonia entre voz, piano e violino, a cantora deixa claro ao seu futuro amor o tipo de mulher que ela é, como se comporta e suas expectativas com a relação. É um desabafo camuflado, mas muito bem construído. A&W é a próxima. Escrita na perspectiva de outra mulher e com 7 minutos de duração, Del Rey conseguiu transcender a inquietação trazida na letra para o ouvinte. É uma música que abre portas para interpretações e que foge um pouco da estética melancólica que os fãs estão acostumados. 

Judah Smith Interlude traz o diálogo de um homem confuso, que quer abandonar seus filhos e sua mulher e questiona Deus sobre o que está acontecendo em sua vida, pedindo para que Ele consiga fazê-lo amar sua realidade e sua família. É a dramaticidade que a cantora gosta de acrescentar a seus trabalhos. Contudo, é uma faixa que, provavelmente, será pulada pela maioria. 

Em parceria com o pianista Jon Batiste, Candy Necklace é uma música que traz a sensação de déjà vu, com uma melodia e letra que não surpreendem. É uma canção que poderia ser encaixada em qualquer um dos discos anteriores. A faixa seguinte, Jon Batiste Interlude, é um interlúdio de Joe esbanjando sua habilidade no piano. 

Kintsugi significa ‘’a arte de reparar cerâmicas quebradas’’ em japonês e é o nome da oitava faixa. Em entrevista para o canal da Rolling Stones, Lana detalhou ainda mais sobre a técnica, explicando que os reparos são feitos com ouro a fim de deixar a peça ainda mais bela. A artista considera que o mesmo aconteceu com ela após seu processo de cura.

É uma canção longa, mas com um significado muito bonito. A cantora relembra do falecimento de familiares e como ela lidou com o luto e se remendou. A simplicidade proposital no que tange ao arranjo instrumental contrasta com a letra densa, enriquecendo ainda mais a música. 

Fingertips ocupa a nona posição no disco e foi a primeira faixa a ser mencionada pela cantora em 2022, na edição de maio da W Magazine. Com pouquíssima instrumentalização e estrutura empobrecida, foi feita após a junção de uma série de áudios que Del Rey gravou em seu celular. A inquietação e a dúvida sobre maternidade são os temas principais. A cantora se questiona repetidamente sobre a possibilidade de fracassar como mãe. 

Paris, Texas possui a liricidade de Lana e samples de I Wanted to Leave de SYML. O contraste entre uma das capitais mais turísticas e mais adoradas do mundo e a simplicidade das cidades do interior dos Estados Unidos emana ao longo da canção, com Del Rey citando repetidamente sobre a necessidade de voltar para casa, mesmo podendo estar em qualquer outro país.

Lana Del Rey [Imagem: Reprodução/PitchFork]

Grandfather please stand on the shoulders of my father while he’s deep-sea fishing conta com a participação de RIOPY. É uma música boa, mas não se destaca, pode ser considerada mais do mesmo r. Continuamos com Let The Light In, que conta com a participação do padre John Misty. É uma canção sugestiva que retrata um affair entre um casal com a personagem feminina querendo ser mais do que uma simples amante. É uma melodia gostosa de se ouvir, além das vozes que contrastam bem.

Margaret é a décima terceira faixa e recebe o nome da esposa de Jack Antonoff, da banda Bleachers, que faz featuring na canção. É uma balada que seria uma ótima trilha sonora, mas não é nada excepcional. Algumas músicas do álbum se encaixam nessa característica, e Fishtail também é uma delas. A composição carrega a necessidade de Lana receber alguma demonstração de carinho de seu parceiro, algo que estava sendo inconsistente na relação.

Peppers é a penúltima faixa do álbum, contando com a presença do rapper canadense Tommy Genesis. O título faz referência à banda Red Hot Chili Peppers e é, basicamente, a repetição de um mesmo verso ao longo da canção inteira, acrescentando algumas outras frases ali e aqui. No entanto, é uma das poucas que fogem do ritmo tradicional e melancólico da cantora.

O disco se encerra com Taco Truck x VB, trazendo uma pegada mais positiva sobre a vida amorosa de Lana e dando a entender que ela está em um novo relacionamento. VB faz menção a Venice Bitch, uma das canções do álbum Norman Fucking Rockwell. Originalmente, a canção se chamaria ‘Bonita’, a fim de combinar com o trecho: ‘’É por isso que eles me chamam de Lanita, quando eu vou até o chão eu sou bonita’’. Independente do nome, é uma faixa envolvente e uma bela maneira de finalizar o álbum. 

Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd é, sem dúvida alguma, um álbum que divide opiniões. Para aqueles que gostam de Lana Del Rey devido à forma que ela escreve sobre o amor romântico, esse disco não possui tantas canções focadas nesse tema. Mas, mesmo assim, uma coisa é fato: independente do tema, as letras da cantora são uma forma de poesia que só ela consegue fazer. É singular. É uma de suas assinaturas. 

No entanto, aqueles que acompanham Del Rey já esperam isso dela, as letras bem construídas não são uma surpresa. Se a cantora buscava mais inovação com esse disco, teria que fazê-la na parte melódica, criando novos arranjos e saindo um pouco mais da sua zona de conforto. Bom, não foi isso que aconteceu. Apenas três músicas fogem do padrão ‘sad girl’. Para aqueles que gostam dessa fórmula que Lana domina há anos, é um bom álbum. Bem construído e bem pensado.

Por outro lado, para aqueles que não amam essa estética melancólica, o disco não se destaca, podendo ser facilmente confundido com qualquer outro trabalho da cantora. As melodias são repetitivas, e a liricidade, apesar de bem feita, não é o suficiente para prender o ouvinte e convencê-lo a ouvir o álbum mais uma vez.

[Crítica] Vilã: Ludmilla traz versatilidade e paixão a cada faixa

O quinto álbum de estúdio de Ludmilla, nomeado VILÃ, foi lançado na última sexta-feira (24) e traz um turbilhão de informações. Mostrando abundantemente, mais uma vez, sua versatilidade, Ludmilla traz faixas que transitam entre funk, pop, reggaeton, hip hop e baladas mais lentas, com participações especiais, outros idiomas e diversas artimanhas que transformam a experiência do ouvinte em uma montanha russa sonora, no bom sentido.

O álbum abre com Nasci Pra Vencer e Sou Má (feat.Tasha & Tracie), duas canções previamente lançadas e que já estão na boca do povo. Nelas, já é perceptível a linha das próximas músicas, com melodias marcantes, um toque robusto de rap e a letra com elementos de autoestima, desabafo e um certo deboche confiante, que traz autenticidade e a personalidade de Ludmilla para suas composições.

A terceira canção é Senta e Levanta, com participação de Stefflon Don e Topo La Maskara. A faixa traz muita latinidade e frescor, com um belo refrão chiclete e melodia dançante e poderosa, tornando impossível ficar parado enquanto escuta, sendo um potencial hit de verão (no outono) e nas redes sociais. Em seguida, temos a música mais comprida do álbum, Brigas Demais, com participação de Delacruz e Gaab, onde os viúvos do “Numanice” comemoram, pois a sofrência é dominante e o ritmo começa a diminuir. Neste momento, Ludmilla demonstra algumas notas mais altas e um timbre diferenciado da anterior, lembrando bastante o tom que normalmente utiliza cantando pagode.

5 contra 1, com participação de Dallass, segue o ritmo da anterior, sendo um pouco mais lenta, mas o que realmente se destaca: a composição. Parecendo com um desabafo, as palavras formam uma cronologia e o ouvinte fica imerso na história contada de forma tão honesta, repleta de palavrões e com maestria.

A faixa Vem Por Cima quebra a sequência anterior e sobe o ânimo novamente. Com a participação do grupo Piso 21, que faz toda a diferença para o andamento da canção, a mistura entre uma quase batida de funk e melodia predominante do reggaeton, traz para o Brasil uma música em português voltada para o gênero, algo que somente temos acesso com músicas em espanhol, sendo um experimento interessante e com bastante futuro no campo musical brasileiro.

A próxima faixa é o hit Socadona, com participação de Mariah Angeliq, Mr. Vegas e Topo La Maskara. Mesmo sendo lançada há mais de um ano, a música consegue se adequar ao restante do álbum e mantém a linha animada e dançante da anterior, que também contém diversos elementos latinos em sua composição, testando a teoria anterior de que reggaeton cantado em português é uma possibilidade bem sucedida.

[Imagem: Twitter]

A oitava faixa é Solteiras Shake, com participação de DJ Gabriel do Borel, colocando o funk na cena de forma “empopzada”. A composição carrega um pouco de humor e segue a linha da contação de uma história dentro da música, mas dessa vez uma história engraçada e irônica. A próxima é Sintomas de Prazer, segunda música solo do álbum, que diminui a animação da sequência anterior e abre alas para uma divisão mais lenta do disco. Com diversos componentes do R&B, a letra é romântica e o ouvinte é levado pela sintonia.

Eu Só Sinto Raiva, com participação de Ariel Donato, te tira completamente da transe que poderia ter restado de animação. Mesmo muito bem casada, Ludmilla transmite um sentimento muito profundo de dor e sofrimento tão bem que essa luta contra o fim se torna consistente e, mesmo sem motivos, é impossível não sofrer junto. Essa canção é uma demonstração clara da versatilidade e talento da cantora, lembrando bastante a linha de penhasco, de Luisa Sonza.

A faixa Malvadona, com participação de Vulgo FK e Oruam, traz de volta o R&B e muda da água para o vinho para uma letra romântica e apaixonada. As participações são muito bem inseridas e constroem um andamento agradável e um ritmo contagiante, mesmo que mais lento. Gostosa com Intensidade eleva novamente o compasso e é uma das melhores faixas do álbum. A composição é completamente pautada no amor próprio e é capaz de empoderar o ouvinte em poucos minutos, com uma melodia majoritariamente pop, ficando na linha tênue entre as lentas e as animadas. Um acerto e tanto é a escolha de ser uma música solo, quebrando a sequência de participações e provando que estas são opcionais, pois Ludmilla consegue sustentar uma música sozinha.

Make Love é romântica e cativante, lembrando as origens pop de Ludmilla de 2014, mas com a sua personalidade e afirmação atual. A faixa é contagiante e dançante, mas não confunda com o “dançante” de TikTok, essa é daquelas músicas para fechar os olhos e se deixar levar pelo ritmo e movimentos, aproveitar a música em sua forma mais livre.

A penúltima música é Me Deixa Ir, uma típica balada lenta melódica pop. Considerada também como uma grande queridinha em potencial dos fãs árduos do “Numanice”, a faixa começa a desenrolar o fechamento do álbum, diminuindo o ritmo e dando um check em todos os gêneros que a cantora é capaz de interpretar em um mesmo trabalho.

Achou que o fim seria calmo? Nada disso, Ludmilla fecha o álbum com Todo Mundo Louco, com participação de Capo Plaza, Tropkillaz e Ape Drums. Resgatando o rap e o toque de reggaeton, a faixa é extremamente animada e irônica, realmente dando o nome da faixa, com diversos recursos acontecendo ao mesmo tempo tornando-a meio caótica, mas sem atrapalhar o entendimento da música e sendo perfeita para encerrar o álbum, já que representa a montanha russa sonora da maneira mais pura possível.

[Imagem: Twitter]

A montanha russa chega ao fim e, como na vida real, o sentimento é de “quero mais”. Mesmo com uma quantidade às vezes desnecessária de participações, “VILÔ é histórico por ser mil álbuns em um, sem medo de ousar gêneros, velocidades e ritmos. Ludmilla é a protagonista de uma mudança na indústria brasileira e um elemento determinante do empoderamento feminino, demonstrando seu poder a partir de sua capacidade de fazer o que estiver determinada e se reproduzir dentro de tantas realidades.

A palavra é VERSATILIDADE! Não há nenhuma voz ecoando que Ludmilla não seja capaz de adentrar, independente da proposta, e este álbum é a representação de que ela consegue cantar o quiser com muito talento. Neste momento, fica claro que ela é somente vilã dos haters, que têm cada vez menos artifícios para usarem contra a artista, já que todos os seus projetos apresentam, novamente, VERSATILIDADE e muita qualidade, do início ao fim.

Artistas nacionais para ficar de olho no Lollapalooza Brasil

A data da edição brasileira do Lollapalooza, um dos festivais mais conhecidos do mundo, chega cada vez mais perto, e, com isso, a expectativa dos fãs por grandes apresentações de seus músicos favoritos aumenta. Muitas das vezes, os que carregam legiões de fãs para os festivais são atrações principais. No entanto, diversos artistas que não estão entre os headliners prometem fazer shows à altura do festival. 

Dentre as atrações confirmadas na edição deste ano, há uma série de artistas nacionais que têm crescido em suas carreiras e elaborado trabalhos interessantes, merecendo atenção especial do público. A Frenezi separou alguns dos destaques para o festival, que acontecerá em São Paulo, nos dias 24, 25 e 26 de março.

Edição de 2022 do Lollapalooza Brasil / Imagem: Divulgação (Facebook/Lollapalooza Brasil)

Gab Ferreira (sexta-feira, 12:00-12:30)

Artista independente que faz parte do cenário de música pop alternativa no Brasil, a cantora, que teve um começo mais alinhado ao pop e ao R&B, familiarizou-se com a cena indie depois de seus primeiros lançamentos. Gab possui um show com um formato mais eletrônico, com destaque para os beats e a guitarra. A apresentação no Lollapalooza acontece no momento de maior maturidade musical da artista, em que suas obras mais recentes soam como algo mais completo e com uma identidade bem estabelecida.

Clipe de Not Yours, canção de Gab Ferreira

Em entrevista para o canal “Som no Set”, a cantora definiu a música como liberdade e uma forma de se expressar e testar coisas novas. Isso é evidenciado de forma bem clara nas suas próprias canções, já que a artista variou o seu estilo musical ao longo de sua trajetória.

Brisa Flow (sexta-feira, 12:30-13:15)

Primeira indígena originária marrona a se apresentar no Lollapalooza Brasil, a artista preparou uma apresentação especial para o festival. A cantora possui um repertório com foco no rap, mas que explora a ancestralidade por meio de cantos e efeitos sonoros. Como realizou licenciatura em música e especialização em arte-educação, Brisa entende que a arte é uma forma de evitar que tradições e conhecimentos culturais sejam esquecidos ou apagados ao longo do tempo.

Clipe de Making Luv, música de Brisa Flow

A artista nasceu em Minas Gerais e é filha de dois artesãos chilenos que fugiram da ditadura em seu país. Ela explora sua representatividade e exerce seu papel político também fora das canções, posicionando-se em questões sociais e buscando transformar a cena em um lugar com mais diversidade, valorizando e potencializando a cultura brasileira e latino-americana.

Mulamba (sábado, 12:00-12:30)

Utilizando a sonoridade do rock e da MPB para se pronunciar contra o que há de errado na sociedade, a banda formada em Curitiba dá ênfase ao empoderamento feminino, ao combate ao machismo e à igualdade de gênero. Lançaram, por exemplo, uma música contra a violência contra travestis e mulheres transexuais. A canção tem o nome de Dandara, que se tornou símbolo de resistência também na luta contra a transfobia após o assassinato da travesti Dandara dos Santos. Mantendo o caráter crítico de suas canções, criaram uma música sobre o rompimento da barragem em Mariana, fora outras temáticas.

Clipe de Mulamba, canção da banda Mulamba

O nome da banda é, na verdade, uma ruptura ao significado pejorativo que a palavra presente no nome carrega, fazendo dela uma demonstração de força e poder. Dentre as diversas influências do grupo, estão o carimbó, o rock clássico e o samba.

Tássia Reis (sábado, 13:05-13:45)

Pronta para entregar um show com grande variedade musical, a artista natural de Jacareí (SP) é dona de hits de rap, R&B, jazz e MPB. Tassia utiliza sua inspiração para se expressar como artista de diversas formas também fora da música, e essa pluralidade criativa surte efeito no sucesso ao explorar diferentes estilos musicais.

Clipe de Dollar Euro, canção de Tassia Reis com Monna Brutal

Mesmo passeando por diversos gêneros, Tassia Reis mantém consistência e qualidade, fazendo os álbuns parecerem exatamente ajustados para encaixar cada um desses estilos musicais. Com a apresentação não deve ser diferente: a artista possui gabarito para entregar um ótimo show no sábado de Lollapalooza, independente do caminho que desejar seguir para a apresentação.

Larissa Luz (domingo, 12:40-13:20)

A cantora natural de Salvador fará um dos primeiros shows do domingo de festival. Iniciou sua carreira solo em 2012, após fazer parte do grupo Ara Ketu. Chegou a ter seu álbum Território Conquistado indicado ao Grammy Latino quatro anos depois, na categoria “Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa”. Traz um techno misturado com MPB, e, apesar de preferir não colocar suas músicas em uma prateleira específica, a cantora define o gênero de suas canções como música baiana futurista e ancestral para “dançar e pensar ao mesmo tempo”.

Climão, canção de Larissa Luz

Larissa também possui um projeto musical com Luedji Luna e Xênia França, que busca resgatar as mulheres pretas no carnaval, homenageando cantoras que foram silenciadas no passado. Sua apresentação no Lolla deve contar com elementos que esbanjam brasilidade e dificultem o trabalho de quem quer passar o domingo de festival sem dançar.

Black Pantera (domingo, 12:40-13:20)

Donos de letras tão fortes quanto a sonoridade de suas músicas, a banda de crossover thrash, composta por três integrantes, possui nome em homenagem aos Panteras Negras, partido estadunidense criado para lutar contra a opressão ao povo negro. Apesar de ter sido criada em 2014, já possui experiência em grandes festivais, como Rock In Rio e Download Festival.

Clipe de Fogo Nos Racistas, música de Black Pantera

Fazendo o número de três membros em uma banda que mistura hardcore punk e thrash metal parecer mais que o suficiente para um som pesado bem completo, o grupo utiliza suas canções para fazer duras críticas sociais associadas a política, discriminação e igualdade de direitos, possuindo influências de ícones da música como Bad Brains, Rage Against The Machine e Sepultura.

O Grilo (domingo, 14:15-15:15)

Banda de rock formada em 2016, O Grilo iniciou sua carreira fazendo sucesso com EPs e singles. Três anos depois, e em meio a uma reestruturação da banda, venceram um concurso da Rádio 89 FM e tiveram a oportunidade de abrir a edição daquele ano do Lollapalooza Brasil. Após o evento, a agenda lotou. Devido à — até então — recente reformulação e à falta de tempo para ensaiar, as apresentações, na visão do grupo, ainda estavam aquém do esperado naquela época. Isso mudou conforme os integrantes passaram a ter mais tempo para criar novas canções e aumentar o entrosamento entre eles.

Clipe de Serenata Existencialista, canção da banda O Grilo

Com a pandemia e a necessária interrupção da agenda de shows, a banda decidiu se isolar e gravar seu primeiro álbum de estúdio, que foi lançado em 2021. Esse projeto foi tratado como uma virada de chave para a banda, por conseguir realizar algo da forma que os membros realmente gostariam de fazer. Desta vez, o grupo chega com mais corpo para o festival, contando também com mais alternativas sonoras para sua apresentação, devido ao repertório mais vasto e variado, e sem deixar escapar os primeiros hits que fizeram parte do início do sucesso da banda.

O festival

A edição de 2023 do Lollapalooza Brasil acontece neste final de semana, nos dias 24, 25 e 26 de março. Com diversos artistas nacionais talentosos e de variados gêneros musicais no line-up, é mais um festival repleto de opções de shows para o público assistir e, assim, valorizar a música brasileira.

Sucessos da indústria musical que irão comemorar seus aniversários em 2023

Para algumas bandas, 2023 será um ano marcante em suas carreiras. Alguns discos muito conhecidos e adorados pelos fãs celebrarão ‘’aniversários cheios’’, como The Dark Side of the Moon e In Utero. Neste ano, as bandas de rock são as principais aniversariantes. Por isso, a Frenezi separou cinco álbuns que se destacam e não podem ficar de fora das playlists.

Beatles: 60 anos de seu primeiro álbum

A banda de rock britânica, formada por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, surgiu na cidade de Liverpool e se tornou um sucesso mundial na década de 60. No entanto, um quarteto não foi a formação inicial. Lennon e McCartney começaram como uma dupla, tocando em bares e clubes da cidade inglesa e conquistando, aos poucos, um público cativo. Até que encontraram Harrison, em 1958.

A dinâmica mudou quando o produtor musical George Martin entrou em cena e falou que o trio teria que virar um quarteto, visto que um baterista fixo precisava ser contratado. Starr foi o escolhido para assumir o posto. Não demorou muito para que o grupo lançasse seu primeiro single: Love Me Do, que atingiu o décimo sétimo lugar nas paradas de sucesso da Inglaterra. 

A banda liderou o que foi chamado de ‘’Invasão Britânica’’ na indústria musical americana, estrelando no mercado com o álbum Please Please Me e quebrando vários recordes de vendas. Mas, nos Estados Unidos, o disco recebeu um nome diferente. Na época, era comum que cada país elaborasse as capas dos CDs, a seleção das músicas e até mesmo o nome. Como consequência, os estadunidenses conheceram o disco como Introducing the Beatles,  lançado em 22 de julho de 1963 pela gravadora Vee-Jay Records.

Capa do álbum Please Please Me [Imagem: Reprodução: Parlophone]

 O disco possui 14 faixas, sete de cada lado, sendo Paul McCartney o principal compositor do álbum, escrevendo oito músicas. O sucesso foi tão grande que a Rolling Stones classificou a canção Please Please Me em #184 e I Saw Her Standing There em #130 na lista das melhores canções de todos os tempos. Além disso, o álbum de estreia é o mais vendido da história, com 52 milhões de cópias vendidas até os dias atuais.

Arctic Monkeys: 10 anos de AM

Lançado em 9 de setembro de 2013, AM foi o quinto álbum de estúdio da banda inglesa de rock Arctic Monkeys. Apenas na primeira semana de sua estreia vendeu cerca de 157 mil cópias e conquistou o primeiro lugar nas paradas de sucesso do Reino Unido e o sexto nos Estados Unidos. Este ano, o disco completará 10 anos. 

Capa do álbum AM [Imagem: Reprodução/Arctic Monkeys]

O single R U Mine foi lançado cerca de um ano antes e fez com que os fãs criassem muita expectativa. De acordo com as críticas feitas na época, Arctic Monkeys não decepcionou. Recebeu uma nota 81 de 100 no site Metacritic, após uma análise feita por 36 pessoas.

“Com inspirações de hip-hop com rock de titãs, este disco é construído sobre batidas portentosas que são obscuras e intimidadoras, ainda impiamente emocionante”, disse Simon Harper, da revista Clash, sobre o disco. 

A banda, formada no início dos anos 2000, é composta pelo vocalista Alex Turner, o baterista Matt Helders, o guitarrista Jamie Cook e o baixista Nick O’Malley. AM foi muito bem avaliado, principalmente, pelos solos de guitarra de Cook, que se destacam ao longo do álbum. A versão em vinil possui duas faixas bônus que ficaram de fora do disco: 2013 e Stop The World I Wanna Get Off With You.

Arctic Monkeys [Imagem: Reprodução/Letras]

50 anos de The Dark Side of the Moon:  

1º de março de 1973: esta foi a data que Pink Floyd escolheu para lançar a obra que definiria a carreira da banda. The Dark Side of the Moon tornou-se um sucesso mundial, vendendo mais de 60 milhões de cópias ao redor do globo e garantindo o primeiro lugar na Billboard por mais de 14 anos.  

Inicialmente, o quarteto britânico planejava que o disco trouxesse letras que tratam do cotidiano e das pressões que os músicos sofriam na indústria musical. No entanto, algumas canções como Money, Us and Them e Brain Damage mostram que outros temas também foram abordados, desde dinheiro, loucura até conflitos armados. Em entrevista para a Rolling Stones, Roger Waters, vocalista e baixista, afirmou que: ”Dark Side foi o nosso primeiro álbum que é genuinamente temático e que realmente fala sobre algo”. 

Capa de Dark Side of the Moon [Imagem: Reprodução/Pink Floyd]

O álbum foi gravado em Abbey Road, mesmo local onde Paul McCartney estava terminando de produzir Red Rose Speedway. O encontro era inevitável, assim como o featuring, por menor que tenha sido. No final da música Eclipse, de Pink Floyd, é possível escutar uma versão orquestral de Ticket To Ride, canção lançada pelos Beatles em 1965.  

O disco completa 50 anos este ano. Contudo, em 1972, os fãs tiveram um pequeno spoiler do que viria a ser considerado um dos melhores trabalhos da banda. As composições de The Dark Side of the Moon foram apresentadas, até na mesma ordem que aparecem no disco, em Brighton Dome, mais de um ano antes de seu lançamento. 

Aerosmith e Dream On:

É impossível pensar em Aerosmith sem associar ao single Dream On. A banda surgiu na cidade de Boston no início dos anos 70, trazendo uma pegada um pouco diferente: o hard rock com outros gêneros, como R&B, heavy metal e pop rock. A junção de duas bandas – Chain Reaction, do vocalista Steven Tyler e Jam Band, do guitarrista Joe Perry e do baixista Tom Hamilton – virou o que conhecemos até hoje como uma das maiores e melhores bandas de rock, que se tornou completa após a chegada de Ray Tabano e Joey Kramer.  

Dream On foi uma jogada de sorte responsável por mudar todo o futuro do grupo. A banda estava quase sendo largada pela gravadora após o fracasso de seu primeiro trabalho na indústria, até que seu produtor convenceu a Columbia Records a lançar essa canção, com a promessa de que ela faria sucesso. E realmente fez. A gravadora manteve o contrato de Aerosmith e o grupo tornou-se um dos principais clientes. No mesmo ano, a banda lançou o álbum Aerosmith.

Aerosmith [Imagem: Reprodução/Discogs]

In Utero: O último álbum de Nirvana

In Utero, lançado em 1993 pela DGC Records, foi o último álbum da banda e é considerado o testamento musical de Kurt Cobain, vocalista e guitarrista do grupo, que cometeu suicídio no ano seguinte. Por ser considerado a espinha dorsal de Nirvana, após sua morte o grupo se separou. 

Kurt Cobain  [Imagem: Reprodução/RockTime]

O disco começou a ser gravado aqui no Brasil e chocou os diretores pelo pouco tempo que levou à banda a concluir as gravações: apenas 12 dias. Em sua primeira semana de lançamento, atingiu o primeiro lugar na parada Billboard 200 e vendeu mais de 181 mil cópias. Atualmente, cerca de 15 milhões já foram vendidas. 

Serve the Servants, música que aborda os aspectos da vida de Cobain, abre a última obra da banda. O disco mescla vários ritmos ao longo de suas canções; algumas mais melódicas, como Heart-Shaped Box, e outras mais agitadas, como Very Ape. A versão americana do álbum possui 12 faixas, já as outras versões, apresentam uma faixa bônus de quase oito minutos. Mesmo de forma não intencional, Nirvana fez um belo trabalho para encerrar a trajetória do grupo. 

Capa do álbum In Utero [Imagem: Reprodução/Nirvana]

[Crítica] ‘Endless Summer Vacation’ é o verdadeiro tributo de Miley Cyrus 

Depois de romper com a imagem de boa garota em Bangerz, esbanjar psicodelia ao lado de Wayne Coyne em Dead Petz, retornar às suas origens do country em Younger Now e aprimorar uma postura de rockstar em Plastic Hearts, Miley Cyrus deu início a uma era de maior potência em sua carreira com o lançamento de Endless Summer Vacation na última sexta-feira (10).

O oitavo álbum de estúdio da artista contém 13 músicas, que é dividido em duas partes – a primeira representa a manhã, com baladas mais sensíveis, e a segunda a noite, com canções que remetem a era disco oitentista e um grunge discreto dos anos 70. Além de conter a participação das cantoras Sia e Brandi Carlile, os principais produtores e compositores que fazem parte do projeto são Greg Kurstin, Kid Harpoon, Tyler Johnson, Mike Will Made-It e Michael Pollack.

Capa de Endless Summer Vacation [Imagem: Reprodução/Instagram]

O grande carro-chefe do disco, Flowers, é uma canção que sintetiza a narrativa contada por Miley em Endless Summer Vacation: a mensagem do amor-próprio. Os números da música falam por si só sobre seu potencial — são 289 milhões de visualizações no YouTube, 646 milhões de streams no Spotify e seis semanas no topo da Billboard Hot 100, parada de sucessos dos Estados Unidos, e da Billboard Global 200.

Em meio a esse sucesso, os fãs da cantora colocaram em debate algumas teorias da conspiração envolvendo o ex-marido de Cyrus, o ator Liam Hemsworth. A música foi lançada no dia 13 de janeiro, dia do aniversário de Hemsworth. Além disso, de acordo com alguns rumores, a casa utilizada no clipe foi o local onde o ator se encontrava com as amantes durante o casamento.

E, por fim, a canção faz uma inteligente resposta à atemporal When I Was Your Man, de Bruno Mars – que Liam teria dedicado à Miley durante a festa de noivado do casal. É inegável que Flowers foi uma ótima escolha para debutar a nova fase da artista.

Em seguida, Jaded é um pedido de desculpas mesmo após um manifesto sobre autossuficiência. Ela mostra o outro lado da moeda de alguém que, apesar de já ter superado o fracasso em um relacionamento, também assume sua parcela de culpa. “É uma pena do caramba que tenha acabado assim, lamento que você esteja cansado”

Rose Colored Lenses, fala sobre uma manhã na cama ao lado da pessoa amada e perfeita por quem está apaixonado, ou, como ela diz, “perdido no país das maravilhas enxergando o mundo cor-de-rosa”. É uma balada sensual, mas também romântica, sendo uma das faixas que mostra a maturidade alcançada pela artista no novo trabalho. 

Em parceria com a cantora Brandi Carlile, Thousand Miles resgata uma vertente da persona Miley Cyrus, especialmente no trabalho apresentado por ela há seis anos em Younger Now. A sensação de já ter escutado algo parecido da artista se confirma com a nota que a cantora deixou sobre a canção no Spotify.

A música foi escrita por Miley em 2016 ou 2017 – mesma época da sua fase country – quando soube que uma das suas melhores amigas perdeu uma irmã para o suicídio. “Eu não conseguia imaginar a vida sem a minha irmã [Noah Cyrus], então escrevi essa música para ela”. Cyrus também conta que, originalmente, a canção se chamaria Happy Girl, porque tomou uma forma que não era esperada. 

Na sequência, You não foi uma surpresa para os ouvintes por já ter sido apresentada por Miley em seu show especial de Ano Novo para o canal de TV norte-americano NBC, no Réveillon de 2021 para 2022. Apesar de ter sido interpretada ao vivo algumas vezes, – inclusive, está presente no álbum Attention, uma coletânea que revisita todos os sucessos da cantora e foi gravado durante os shows da turnê de 2022, que passou pelo Brasil – You ainda não havia ganho uma versão de estúdio. Porém, agora conta com um vocal forte e elementos sonoros que fogem ao senso comum para uma música calma e romântica.

Handstand é a famosa faixa de interlude do álbum, ou seja, responsável por “fechar” o primeiro capítulo do disco e introduzir o segundo. Entretanto, a música não é nada rápida – diferente das interludes comuns. Já a sétima canção do disco, River, intitula também o segundo lead-single, e é justamente um ponto de partida para uma nova história a ser contada sobre a aura noturna e sensual que envolve as pistas de dança. 

Acompanhada de um videoclipe em preto e branco, a música fala sobre “um amor que flui como um rio”. A estética de diva pop estampa uma artista adulta e pronta para ser referência. Ainda no clipe, Miley interage com modelos sem camisa, dança em meio ao vento e no final, fica completamente molhada – tudo isso apenas com um look preto básico, provando que menos é mais.

Em nota ao Spotify, a cantora contou que River surgiu em um momento difícil de sua vida, mas com uma história peculiar. “Estava passando por muitas questões emocionais e pessoais. Essa música evolui como um problema”, declarou a artista. A ocasião que inspirou o trabalho foi uma festa com amigos gays ao som de Diana Ross, Whitney Houston, Lindsay Lohan, Paris Hilton, Britney Spears e “todas as lendas”.

Violet Chemistry é a prova que Miley Cyrus voltou com tudo para o universo pop – seu último álbum tão pop havia sido Bangerz, em 2013, apesar da sonoridade completamente diferente. “Hoje a noite faremos apenas coisas erradas” é um dos versos da canção provocativa e com um refrão chiclete. 

Direta ao ponto, Miley Cyrus traz uma parceria pouco comercial com Sia, que quase não canta em Muddy Feet. A música é, basicamente, um “chute na bunda” em um relacionamento que não faz mais sentido. Com palavrões e sentenças de peso, traz um pouco da energia rockstar da artista.

Wildcard, mostra o caminho para o final do trabalho, mas é uma daquelas faixas que quando começa parece inofensiva, e quando chega no refrão mostra um potencial que o ouvinte não esperava. Ao deixar o recado para a pessoa amada: “ei, sou imprevisível, não espere por muito”, a cantora entrega uma potência vocal e tanto.

A faixa Island não conversa tanto com a estética sonora que Endless Summer Vacation se propõe – especialmente por vir no segundo ato do álbum, que segundo a cantora, é a selvageria noturna. A canção se remete ao tropical, e surgiu a partir de uma reflexão pessoal da artista. “Ela estava contemplando a vida no paraíso que conseguiu criar para se sentir segura”.

Wonder Woman pode ser considerada a última faixa do disco, já que a 13ª é uma versão demo de Flowers no piano. WW não fecha o álbum com grande excitação como era de se esperar para a conclusão da parte PM, mas apesar disso, é uma música bonita que fala sobre a força feminina passada de geração para geração.

A canção é em homenagem à avó materna, Loretta Finley, que morreu em agosto de 2020, e a quem era bastante apegada. “Eu e Mami éramos muito próximas e ela dirigia o meu fã clube. Se você recebeu algum autógrafo entre 2008 e 2018, provavelmente era da minha avó”, revelou a artista ao Spotify. Em Wonder Woman, Miley descreve sua avó como uma mulher não só maravilhosa, mas forte e autossuficiente, algo que facilmente traça um paralelo com Flowers, que abre o disco.

Com o lançamento do álbum, Miley conseguiu a melhor pontuação no Metacritic – comparado a seus trabalhos anteriores – com uma nota 84. Além disso, alcançou o topo do iTunes em 14 minutos nos Estados Unidos, pegou #1 em 54 países na Apple Music e, ao redor do mundo, conseguiu a primeira posição em 70 países. Diversos veículos a aclamaram, como a BBC, que chama a cantora de “a maior pop star do século 21”, e a Clash Magazine, que afirma ser um lançamento onde Cyrus incorpora a si mesma, “este é um lançamento que visa a atemporalidade por si só”.

O disco veio acompanhado de um especial no Disney+. Em Miley Cyrus – Endless Summer Vacation (Backyard Sessions), a artista fala sobre o que motivou a composição das músicas e como elas representam quem ela é atualmente. Também conta com apresentações de algumas das canções e do hit The Climb, em comemoração aos 14 anos de seu lançamento.

Endless Summer Vacation é a despedida perfeita para histórias conturbadas e uma mensagem de boas-vindas à novas oportunidades. O oitavo disco da estrela pop é, tanto uma declaração sobre seguir em frente, quanto uma fusão madura de toda a sua história musical. Há momentos de pop, de acordo com a moda do rádio, combinado com country, rock psicodélico e sintetizadores dos anos 1980. 

A autossuficiência é um tema recorrente, mas Miley também mostra um lado íntimo em faixas que abordam dores e medos. A cantora, porém, não deixa sua faceta selvagem de lado, o que se torna um verdadeiro trabalho completo, principalmente por carregar a experiência de transitar por diferentes gêneros musicais e personas de forma camaleônica. “Endless Summer Vacation é uma mistura de tudo que já fiz, por isso chamo ele de sapato de Cinderela, porque ele tem o encaixe perfeito”, declara Miley ao Disney+.

A ascensão das “faixa rosa” na cena do trap brasileiro

Para quem acompanha o mundo da música no Brasil, não é novidade que o trap esteja ganhando um espaço extraordinário dentro da indústria musical. Nascido como um subgênero do rap, o trap surgiu em Atlanta, Estados Unidos, entre os anos 1990 e 2000. Sempre foi caracterizado por ser um pouco mais “agressivo” do que o rap em si, tanto na letra das músicas quanto na batida. Mesmo com algumas divergências, o trap e o rap ainda se mantêm conectados pelo conteúdo das músicas, que geralmente abordam questões raciais, desigualdade, ostentação e a vida nas periferias. 

No Brasil, esse estilo começou a circular e ser aderido em 2013, mas seu consumo ficou muito intenso a partir de 2016, com grandes nomes do trap, como Raffa Moreira, Sidoka e Recayd Mob. O trap foi construído pela ótica cultural, espacial, midiática e social vinda das favelas e periferias, que, inicialmente, em São Paulo, já mostravam uma potência nessa cena. As letras são como poesia e trazem uma visão de como o intérprete vive naquele lugar descrito na canção. Sexo, racismo, desigualdade, dinheiro e as experiências de cada um são o ponto chave do trap, que ao se misturarem com o beat e auto-tune, o tornam um estilo único.

É fato que o trap já é destaque na indústria brasileira, e mesmo que seja um dos estilos mais escutados hoje, a maioria das músicas são interpretadas por homens, trazendo um debate sobre a posição feminina e a visibilidade que possuem na cena atualmente. Assim como no rap, as mulheres tiveram que enfrentar o patriarcado e as questões de gênero para alcançar um espaço digno, mas, mesmo assim, ainda não conseguiram grande reconhecimento no subgênero. 

Mesmo que as trappers mantenham a ousadia do estilo que cantam, não deixam que os mesmos temas que são abordados por homens sejam o principal de suas músicas. Com mais glamour, elas inovam na abordagem de questões importantes, principalmente as de gênero, combinadas com pautas raciais e sobre vivências nas periferias. Pode se parecer muito com o que os homens cantam, mas é diferente ao passo que levam representatividade e empoderamento aos ouvintes, principalmente a outras mulheres e meninas que se identificam com as letras.

As chamadas “faixa rosa”, são as “divas da rima”, mulheres empoderadas e maduras nas questões sexual e amorosa, que alcançaram a independência, principalmente financeira, e que fazem música (rap, trap e funk) com temas que identificam em suas vidas reais. O termo “faixa rosa” é muito comum na Região Sudeste do Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, e se refere a essas mulheres que ostentam sua liberdade. 

Um exemplo está presente na música Faixa Rosa, da AZZY, cantora destaque na indústria do rap, na qual deixa claro a sua independência: “Ele me chama de braba, de faixa rosa, fala que eu sou gostosa e é doido pra me pegar. Sabe que eu não dependo de ninguém, tenho meu copão também, desencosta que eu quero dançar.” 

Muitas se mostraram relevantes na cena e a maioria representa autonomia a outras que pretendem entrar no ramo. Por menor que seja o número de artistas mulheres no trap, é muito importante o incentivo que as presentes e com maior visibilidade levam para as futuras trappers da geração. 

Ebony

Ebony nasceu em Queimados, na Baixada Fluminense, e começou a fazer sucesso aos 18 anos, quando gravava músicas autorais direto do seu celular, por meio de aplicativos que disponibilizavam beats. Em março de 2019, lançou sua primeira música oficial, Ca$h Ca$h e depois continuou gravando hit atrás de hit. Em entrevista ao João Vitor Pena para o Medium, Ebony fala sobre como é ser considerada a primeira trapstardo Brasil: “Eu gosto de ser a primeira mulher a fazer trap no Brasil, mas isso me assusta, porquê já era pra ter mais!”. 

Em Bratz, um de seus primeiros hits, ela rima sobre a posição da mulher no cenário, sobre ostentação e hype, exatamente como o trapé traduzido como uma expressão musical de sua realidade. Hoje, com mais de 253.126 ouvintes mensais no Spotify, Ebony foi a única mulher a aparecer no documentário de 2019 produzido pelo streaming, “O trap nacional mostra a que veio”. Desde então, se consolidou como uma das maiores trappersdo país e inspiração para outras mulheres na cena.

Onnika

Nascida em Diadema, São Paulo, Onnika começou a fazer sucesso com apenas 19 anos, ao lançar seu primeiro single Ayo Bih, música que é recheada de ostentação e empoderamento. Depois disso, lançou hits com grandes nomes da cena, como Bin, Tasha e Tracie, Febem, Ebony e outros. Em 2022, lançou o ep ONNiKA, onde mistura vocais bem trabalhados com grandes características do trap. 

Cristal

Ganhando destaque na cena do trap nacional nos últimos anos, a artista Cristal, de Porto Alegre, é um dos nomes mais promissores da cena. Ela já se dedicava à poesia antes de entrar para o mundo da música, mas se destacou quando lançou o single Ashley Banks, em 2019, que faz referência ao seriado Um Maluco no Pedaço e quebra a lógica do racismo, o qual associa pessoas negras à pobreza e à miséria. Cristal participou da faixa Deus Dará, de Djonga, e ganhou muita notoriedade ao mostrar sua voz imponente na música. 

Suas letras abordam, sobretudo, questões raciais e sociais, levando o que passou em sua vida para as letras de suas músicas. Seu último lançamento foi o álbum Quartzo. Nele, cada faixa representa um cristal e um pedaço da sua vida: “A música e a poesia são quase como livros abertos sobre a nossa vida. Sempre senti esse incômodo e, ao mesmo tempo, essa necessidade de falar. Isso está sempre me dividindo como artista e como pessoa.” 

Tasha e Tracie

As irmãs Tasha e Tracie, aos 26 anos, estão despontando na indústria do trap nacional. Elas são as responsáveis por criar o Expensive Shit, nome do blog onde falam sobre a valorização da população negra nas periferias por meio da arte, moda e informação. Já eram ativistas desde cedo. Trabalharam sempre em prol das lutas raciais e periféricas e através disso, começaram uma carreira na moda, transformando peças a partir de roupas compradas em brechós e criando um estilo próprio, seguindo sua ancestralidade e gosto. 

A entrada das irmãs no mundo da música começou em 2019, quando lançaram o álbum Rouff. Seguiram com o disco Diretoria, lançado em 2021, repleto de brasilidades, faz referências à escolas de samba, lifestyle e claro, empoderamento: “Enxergamos ‘Diretoria’ como um pé na porta. A gente tentou passar um recado que somos MC’s, sem essa de RAP de Mina.”, comentou Tasha ao Portal Popline. 

A última parceria foi com Ludmilla, em Sou Má. A música se tornou hit em pouco tempo e já alcançou mais de 4 milhões de reproduções no Spotify. Além de fazer parte de uma nova fase da carreira de Ludmilla, que está se aventurando em novos gêneros musicais, também representa um grande símbolo de representatividade na junção de três mulheres negras que cantam sobre autoestima, independência e ostentação de suas próprias conquistas. 

Ebony, Onnika, Cristal e Tasha e Tracie são apenas algumas das representantes de uma cena complexa, ampla e repleta de mulheres diferentes, com vivências e realidades distintas. Suas ações dentro do movimento devem ser enaltecidas como símbolo da representatividade e empoderamento que levam em suas rimas, e onde apresentam o resultado de uma grande luta para ganhar espaço dentro de um ambiente que sempre foi majoritariamente masculino e ainda deve ser conquistado por muitas outras “divas da rima”. 

Oscar 2023: quem leva o prêmio de “Melhor Canção Original”?

Com a cerimônia do Oscar 2023 se aproximando, as expectativas para conhecermos os vencedores em diversas categorias aumentam, incluindo a de Melhor Canção Original. Este ano, com uma variedade de filmes aclamados pela crítica e favoritos pelo público sendo indicados, a premiação promete ser histórica.

A categoria de Melhor Canção Original premia as músicas criadas, especificamente, para um filme, incluindo a letra e a melodia. Ela é importante na premiação pois as músicas, muitas vezes, se tornam um componente crucial na construção da atmosfera do filme, transmitindo emoções e complementando a narrativa.

A 95° edição da cerimônia de entrega dos Academy Awards acontece dia 12 de março de 2023, em Los Angeles, Califórnia. É importante destacar que é o compositor que recebe a indicação, tendo um limite de até três participantes na composição das faixas. Os intérpretes só são considerados na categoria se tiverem contribuído na letra das canções.

Lift Me Up – Rihanna

Lift Me Up foi lançada em 28 de outubro de 2022, como lead single do álbum de trilha sonora de Pantera Negra: Wakanda Forever. O anúncio da música foi muito comentado por marcar a primeira canção solo de Rihanna em mais de 6 anos. Classificada como uma balada R&B, a canção é um tributo ao falecido ator Chadwick Boseman, que interpretou o personagem T’Challa, protagonista do primeiro filme.

A faixa foi produzida e escrita por Ludwig Göransson, com adições de Ryan Coogler, da cantora nigeriana Tems e de Rihanna na composição. Em sua crítica, a Pitchfork elogiou os vocais da cantora barbadense, mas considerou a música e a letra uma adição genérica para a trilha sonora.

O single estreou em segundo lugar na Billboard Hot 100 e permaneceu por duas semanas não consecutivas no Top 10. No Reino Unido, Lift Me Up debutou em terceiro lugar na Official Single Charts. A canção foi indicada no Golden Globes Awards, Critics’ Choice Movie Awards e no Oscar deste ano. Apesar disso, até o momento, só ganhou o prêmio no Hollywood Music in Media Awards.

Rihanna não colocou a música na setlist de sua performance no Super Bowl, mas é inegável que nos últimos meses ela foi um dos nomes mais comentados no mundo, e isso pode ser levado em consideração pelos votantes na corrida para ganhar a estatueta. A representatividade também pode ser uma questão forte para a premiação, que tenta trazer maior diversidade nas indicações nos últimos anos.

Hold My Hand – Lady Gaga

Hold My Hand é o lead single do disco da trilha sonora de Top Gun: Maverick. A canção, lançada em 3 maio de 2022, conta com composição e produção de Lady Gaga e BloodPop. Essa é a terceira vez que a cantora é indicada nessa categoria, sendo anteriormente nomeada por Til It Happens to You, do documentário The Hunting Ground, e Shallow, de Nasce Uma Estrela.

Para a crítica, Hold My Hand evoca as poderosas baladas dos anos 80, com uma ótima mensagem de esperança. Além disso, o single possui semelhanças com Take My Breath Away, música original feita para o primeiro filme Top Gun, em 1986. A música interpretada pela banda Berlin ganhou a categoria de Melhor Canção Original em 1987 e conseguiu o primeiro lugar na Billboard Hot 100.

O videoclipe da faixa foi dirigido por Joseph Kosinski, mesmo diretor de Top Gun: Maverick. No filme, a música toca durante uma cena no bar entre a personagem Penny e sua filha e, depois, se repete na cena final, em que o protagonista Maverick e Penny desaparecem no pôr do sol. 

Por ter sido lançada em uma terça-feira, Hold My Hand só entrou na Billboard Hot 100 em sua segunda semana, em 17° lugar. Além da indicação no Oscar, a canção recebeu indicações no Globo de Ouro, Grammy Awards por Best Song Written for Visual Media e no Critics’ Choice Movie Award na categoria de Best Song.

Naatu Naatu – M.M. Keeravaani e Chandrabose

Naatu Naatu é uma música indiana em telugu feita para a trilha sonora do filme RRR (Revolta, Rebelião, Revolução). A faixa foi composta por M. M. Keeravani e Chandrabose, e é interpretada por Rahul Sipligunj e Kaala Bhairava. Ela se tornou a primeira música de um filme indiano a ser indicada ao Oscar por Melhor Canção Original

Apesar disso, não é a primeira música com compositores indianos a ser nomeada na categoria. No Oscar 2009, a canção Jai Ho, do filme Quem Quer Ser um Milionário?, venceu o prêmio. Porém, o longa era uma produção britânica, apesar da história ser situada na Índia. 

Naatu Naatu já tem o favoritismo da crítica e ganhou o Globo de Ouro e Critics’ Choice Movie Awards. No Golden Globe Awards, fez história por ser a primeira música indiana a ganhar a categoria. 

O interessante é que o filme RRR ganhou a curiosidade do público americano após um trecho do longa com a produção musical viralizar no TikTok. A coreografia feita pelos protagonistas do filme ganhou as redes sociais e virou trend no aplicativo de vídeos. Com a chegada do longa nos cinemas americanos e no streaming, várias pessoas puderam assistir a performance na íntegra.

Applause – Diane Warren

Applause, do filme Elas por Elas, é escrita por Diane Warren e interpretada por Sofia Carson, atriz e cantora. Lançada em 9 de dezembro de 2022, a faixa tem uma mensagem de empoderamento feminino que conversa com o longa antológico.

A canção é a 14° indicação de Diane, que ainda não conseguiu vencer a categoria. Esse é o sexto ano consecutivo que Warren tem uma de suas composições na premiação. A marca de 14 indicações em Melhor Canção Original só foi alcançada por sete artistas na história. Por esse motivo, em novembro de 2022, a compositora ganhou um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra e contribuição para o cinema.

This Is A Life – Ryan Lott, David Byrne e Mitski

Trecho do filme Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. [Imagem: Reprodução]

This Is A Life faz parte da trilha sonora do filme Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo e é composta por Son Lux, um projeto pop experimental de Ryan Lott. Lançada em 8 de março de 2022, a canção é uma balada clássica e lenta com destaque para os vocais de Byrne e Mitski, também compositores da faixa.

A música é a que menos recebeu atenção nas apostas da categoria, pois não foi indicada em nenhuma das premiações usadas como termômetro do Oscar. Apesar disso, o longa Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é um dos favoritos da edição e tem o maior número de indicações, 11 ao todo.

Pré Lista

Com a divulgação dos pré-selecionados, muitas expectativas surgiram, mas nem sempre os favoritos do público entram na lista de indicados. Um dos grandes “esnobados” desta edição é a música Carolina, de Taylor Swift, para o filme Um Lugar Bem Longe Daqui.  A artista americana ganhou indicações do Golden Globes, Critics’ Choice e Grammy Awards pela sua composição. Todavia, foi ignorada pela Academia e não garantiu sua primeira nomeação ao prêmio.

Algumas outras canções muito comentadas foram Nothing Is Lost (You Give Me Strength), de The Weeknd, para Avatar: O Caminho da Água, Ciao Papa, de Gregory Mann, para a animação Pinóquio de Guillermo del Toro, My Mind & Me, de Selena Gomez, para o documentário Selena Gomez: My Mind & Me e Stand Up, de Jazmine Sullivan, para Till – A Busca por Justiça.

Mesmo assim, os fãs de cinema e música podem esperar por uma noite emocionante e inesquecível na cerimônia do Oscar deste ano, onde a música e o cinema se unem para celebrar e honrar os talentos mais impressionantes e inspiradores do ano.