Quem nunca foi fazer uma limpa na gaveta de maquiagens e encontrou aquele produto que há tempos estava escondido no fundo da gaveta, jogado no esquecimento e que não se usava mais? E quando foi olhar a validade… surpresa! Estava vencido!
[Imagem: Reprodução/Coisas de Diva]
Infelizmente, acumular compras e esquecer de alguns itens é um acontecimento mais comum do que gostaríamos de admitir e, muitas vezes, o esquecimento dura um tempo tão longo que os produtos vencem sem que consigamos perceber e nem usufruir. Nessas horas, muita gente começa a cantar “tô invisível!”, e segue usando o que está fora da validade como se nada tivesse acontecido, mas os prejuízos causados por essa prática são bem mais graves do que se possa imaginar.
Nesse sentido, fica claro que a data que está no produto não é uma “tática” da indústria para fazer o cliente ter de de comprar mais ou outra vez, mas que esse prazo limite se trata de uma medida de precaução baseada no estudo do comportamento e reação dos componentes químicos dos artigos., De acordo a Drª. Amanda Vilela, médica dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), sofrem alterações severas com o tempo: “Os produtos de beleza têm muitos componentes e são estabilizados, muitas vezes, pelo Ph. Quando o prazo de validade acaba, ocorre uma desestruturação química desses produtos”.
Além disso, os riscos vão além de uma simples vermelhidão de momento ou incômodo de uma coceira, na verdade, isso pode ser apenas o indicativo de um problema maior. A Dra. Amanda esclarece que uma das principais intercorrências que pode ser desencadeada – para além desses sinais já citados – pode ser uma dermatite de contato, uma reação inflamatória na pele decorrente da exposição a um agente capaz de causar irritação ou alergia. Sendo assim, já dá para imaginar que, com o passar do tempo, a falta de atenção ou insistência em utilizar, pode causar prejuízos não apenas estéticos, mas à saúde também.
[Imagem: Reprodução/Boa Forma]
A pele é um órgão muito sensível e a aplicação de qualquer componente químico nela deve ser muito bem ponderada. Porém, se o produto vencido já foi utilizado e o dano já aconteceu, entrar em desespero não é a melhor opção. A dermatologista alerta que, nesse tipo de situação, buscar a orientação profissional é imprescindível para que o caso seja analisado de forma individual, mas destaca alguns cuidados imediatos que podem ser tomados antes mesmo de passar pela consulta: “O ideal é sempre agendar uma consulta com o dermatologista para o tratamento individualizado. Mas, até isso acontecer, sugiro suspender imediatamente os produtos de beleza, borrifar uma água termal para acalmar a pele e usar um hidratante calmante, como o Cicaplast Baume, para a pele ser regenerada.” Então, nada de tentar outras mil misturas ou receitas milagrosas, o melhor a se fazer é deixar a cútis descansar.
[Imagem: Reprodução/Pinterest]
E, para evitar intercorrências, separamos três pontos para os quais devemos nos atentar ao utilizar nossos produtos de beleza:
Textura: se a consistência do produto for, via de regra, homogênea e ele começou a empelotar, esse pode ser um sinal de que sua vida útil segura já acabou.
Odor: mesmo que alguns itens já venham de fábrica com um cheiro não muito agradável, com o uso ao longo do tempo, conseguimos identificar quando esse odor muda.
Cor: a cor é um dos principais fatores que indicam quando um produto começa a oxidar, por isso sempre observe atentamente se ela não está muito diferente antes de usar.
Por fim, assim como nos preocupamos com a validade dos alimentos que ingerimos e com os efeitos que podem causar de dentro para fora, também é muito importante se atentar com o que faz o caminho inverso, ou seja, o que aplicamos de fora para dentro.
Apesar de repercussão mundial, caso segue sem respostas e não há previsão para resolução
Na noite de 14 de março de 2018, há exatos 5 anos atrás, a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e o seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados a tiros no Rio de Janeiro. Ambos estavam em um carro, no bairro Estácio, no Rio de Janeiro, quando o veículo foi atingido por 13 disparos. Marielle, ao lado de seu motorista, estava retornando de um encontro de mulheres pretas, na Lapa, quando o crime aconteceu.
Criada no complexo da Maré, Marielle Franco tinha 38 anos e estava empossada como vereadora pela cidade do Rio de Janeiro há pouco mais de um ano. Nas eleições de outubro de 2016, Marielle foi a quinta vereadora mais votada pela cidade, se elegendo com pouco mais de 46 mil votos válidos no que marcou a sua primeira disputa por um cargo eleitoral. Marielle, com seus anos de ativismo e militância, era considerada um dos principais modelos e exemplos da política carioca. A trajetória de Marielle, ao longo de sua vida e através da política, foi marcada pela luta em defesa dos Direitos Humanos 一 com destaque à defesa pelos direitos femininos 一, e também pela crítica à violência policial nas favelas cariocas.
Marielle se graduou em Sociologia pela PUC-Rio e era mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em sua tese de mestrado, Franco dissertou sobre o tema ‘’UPP: a redução da favela em três letras’’. Sua militância e ativismo tiveram início enquanto ainda era estudante e frequentava o cursinho pré-vestibular comunitário e após perder uma amiga, vítima de bala perdida em um tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré, onde ambas residiam.
Além do ativismo, Marielle também presidiu a Comissão da Mulher da Câmara. Ela atuou em organizações voltadas à sociedade civil, como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Marielle também foi coordenadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Apesar de toda repercussão do assassinato da vereadora, o crime, mesmo após 5 anos de espera, continua sem respostas e as mesmas perguntas de 14 de março de 2018 seguem no ar: Quem mandou matar Marielle? E por quê?
REPERCUSSÃO INTERNACIONAL
Poucas horas após ocorrido, o caso Marielle já estava estampado nos principais veículos midiáticos internacionais, com destaque nos jornais dos Estados Unidos e Reino Unido. O que parecia, até o momento, silenciar a voz da militante, deu espaço para que milhares de sementes 一 inspiradas em Marielle 一 se levantassem e ecoassem a voz de Marielle.
Após o anúncio de sua morte, que logo tornou-se uma manchete mundial, entidades, grupos e partidos políticos no exterior passaram a condenar a morte violenta sofrida pela vereadora e também a cobrar respostas sobre o caso. Depois de 24 horas da morte de Marielle e Anderson Gomes, a Organização das Nações Unidas (ONU), em um exemplo de quebra de postura tradicional, emitiu uma nota exigindo ao Brasil que houvessem investigações sobre o assassinato da vereadora e seu motorista, bem como garantias de que os responsáveis pelo crime seriam cobrados pela Justiça brasileira.
Na Europa, uma junção de partidos da esquerda composta por cerca de 52 parlamentares enviou uma carta para a chefe do Parlamento Europeu pedindo que as negociações entre o Mercosul (bloco que o Brasil integra ao lado de outros 3 países sul-americanos) e a Europa até que o Brasil desse uma resposta efetiva acerca da proteção aos defensores de Direitos Humanos do país.
RUMO DAS INVESTIGAÇÕES: O QUE SE SABE ATÉ AGORA?
Ao longo desses 1.826 dias, as investigações sobre os assassinatos de Marielle e Anderson tiveram algumas reviravoltas, entretanto, continua sem previsão de conclusão. São 5 anos em que a família de Marielle e Anderson aguardam as respostas sobre o desfecho e os mandantes do crime.
Nas investigações, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) chegou a denunciar Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz como os assassinos de Marielle e Anderson, mas o mandante do crime não foi localizado. Ambos os denunciados irão a júri popular, porém, sem data marcada ou prevista. Nesses 1.826 dias, a apuração do caso Marielle seguiu diferentes linhas e as principais dúvidas levantadas ao longo da averiguação continuaram presentes.
O Ministério Público do Rio de Janeiro acredita que a principal linha de investigação parte de um crime cometido por motivação política, uma vez que Marielle era vereadora, ativista e também obteve uma votação expressiva na cidade, mas que outras hipóteses não devem ser descartadas.
A arma do crime, que também confere um dos questionamentos acerca do caso, também não foi localizada. A principal suspeita entre os investigadores do assassinato é que ela tenha sido jogada no mar após a prisão de Ronnie Lessa. No entanto, segundo apuração da Delegacia de Homicídios e do Ministério Público, trata-se de uma submetralhadora MP-5 contendo munição UZZ-18
Além da pressão de entidades e ativistas dos Direitos Humanos, diversas figuras políticas também vieram à público cobrar as autoridades para que a apuração do caso Marielle e Anderson fosse realizada com mais rapidez 一 apesar da longa espera. Dentre os nomes, podem ser citados, por exemplo, Ciro Gomes, Manuela D’Ávila, Fernando Haddad e o agora presidente Lula. Além deles, Marcelo Freixo, ex-companheiro de partido de Marielle, também se manifestou: “O assassinato de Marielle é o atestado de óbito do Rio de Janeiro. Quem morre não é a Marielle, quem morre é uma perspectiva de cidade”, disse Freixo durante uma live do Carta nas Eleições.
NOVOS DESFECHOS
Desde que o crime aconteceu, na noite de 14 de março de 2018, o comando das investigações foi modificado 5 vezes e até foi cogitada a sua transferência para o comando federal. Entretanto, apesar da cogitação, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido de transferência da Procuradoria-Geral da República, a PGR, em maio de 2020, com a justificativa de que não havia inércia dos comandos estaduais para haver tal transferência. Na época em que houve o pedido, a família de Marielle Franco também foi contra a federalização da investigação.
Prestes a completar 5 anos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, a Polícia Federal, a pedido do novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, abriu um inquérito para que fossem apuradas ‘todas as circunstâncias’ do assassinato da vereadora e de seu motorista. O pedido foi divulgado na manhã do dia 22 de fevereiro. Em suas redes sociais, Dino também se manifestou a respeito do pedido.
A fim de ampliar a colaboração federal com as investigações sobre a organização criminosa que perpetrou os homicídios de MARIELLE e ANDERSON, determinei a instauração de Inquérito na Polícia Federal. Estamos fazendo o máximo para ajudar a esclarecer tais crimes. pic.twitter.com/iuT6AXOXjL
O documento publicado destaca a atribuição da Polícia Federal em ‘’apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme’’. Apesar de demonstrar ser uma ação atrasada a comando de um órgão ou representante federal, o pedido encaminhado pelo ministro surge como um sopro de esperança aos familiares, amigos e defensores dos Direitos Humanos e Sociais, uma vez que a resolução do assassinato 一 e localizar o mandante do crime 一 pode proporcionar um ar de alívio e suspiro, ao menos por enquanto, aos familiares e àqueles que optam pela humanidade e em defender os direitos do seu próximo.
Marielle. Presente!
As informações para a construção dessa matéria foram retiradas do G1, do jornal ‘O Globo’, da Veja, da CNN Brasil, do Correio Braziliense, do ‘Estado de S. Paulo’ e do site Politize.
Você aperta o play, a história começa e, nos primeiros 15 minutos, já é possível identificar o mocinho, o vilão, sentir empatia ou aversão por algum personagem. E é exatamente isso que a produção quer que aconteça. Antes mesmo de a história se desenrolar por completo, ela já quer prender o telespectador por um único ponto que, segundo pesquisas, é responsável por 90% das informações transmitidas ao cérebro: o visual.
Feche os olhos e imagine: cores suaves – candy colors, mais especificamente -, cabelos soltos e esvoaçantes, make leve, sapatos sem salto, roupas soltas e com muita cara de conforto… aposto uma caixa inteira de produtos da Rare Beauty que você idealizou uma pessoa inocente, boa, de alma leve e sorriso fácil. Agora, feche novamente e faça o caminho inverso: pense em cores vibrantes e profundas, olhares marcados, cabelos milimetricamente controlados, roupas justas e com caimento pesado… a aposta segue a mesma se você idealizou alguém de personalidade forte, quase inacessível, que causa um certo receio só de pensar em se aproximar. Esse é o poder da caracterização, e é ele um dos artifícios mais poderosos na construção de um personagem que cativa.
Anna Delvey [Imagem: Reprodução/Pinterest]Anna Delvey [Imagem: Reprodução/Pinterest]
Um exemplo nítido desse feito é a transformação instantânea de Anna Delvey na série “Inventando Anna” (que foi um verdadeiro fenômeno quando foi lançada no início do ano). Ao ouvir que sua aparência, antes composta por ondulados cabelos loiros, maquiagem romântica e um estilo mais girlie, não condizia com a de uma mulher de negócios, séria e competente que gostaria de se transparecer ser para conquistar aliados e financiadores, Anna prontamente tratou de escurecer os fios, adotar óculos quadrados e de armação escura (contrariando seu contraste pessoal e gerando peso visual), apostar em peças de corte mais reto, tecidos mais firmes e uma postura mais formal. A forma como ela passou a ser percebida mudou instantaneamente, e isso aconteceu logo na primeira cena em que ela aparece com o novo visual, antes mesmo que o primeiro diálogo dela nessa nova fase fosse construído.
A aparência, goste ou não, é sim um meio de exercer uma chamada “comunicação silenciosa” e, assim como ela é capaz de externar a personalidade de “pessoas reais” no dia a dia, na criação de um enredo artístico também. Fato é que, a maior intenção dos autores é criar uma conexão com o público, seja por meio do incômodo, da identificação, da polêmica ou da aversão, o que importa é fazer com que o que é fictício não seja esquecido no que é real, e a beleza tem um papel fundamental nisso. Pode parecer ousadia, mas vale dizer que uma boa parte das pessoas que consomem o conteúdo cinematográfico conseguem se lembrar de algum personagem – que para eles foi – marcante quando vê uma determinada peça em uma loja, num corte de cabelo de alguém passando pela rua ou num estilo de maquiagem que está mais em alta – já que a mídia tem, inegavelmente, esse famoso e ao mesmo tempo assustador, poder de influenciar o desejo das massas. O conjunto xadrez de Cher em As Patricinhas de Beverly Hills, o cinto dourado e a capinha de soco inglês da delegada Helô em Salve Jorge, o pretinho básico junto de um colar extravagante de Holly em Breakfast at Tiffany’s… Se notarem, cada um desses elementos se comunica muito estrategicamente à personalidade dos personagens que os tornaram famosos: o xadrez é uma estampa clássica e que, em algumas variações, é ligada à monarquia – como o xadrez Príncipe de Gales – e Cher era uma verdadeira princesinha no clássico dos anos 1990; o cinto dourado traz um toque de glamour e a capinha de soco inglês transmite uma mensagem de força, garra e defesa – e Helô era uma delegada implacável, mas, ao mesmo tempo, muito vaidosa; já o vestido preto acrescido de luvas e um colar de peso comunicam uma classe singular – e Holly era uma personagem que mostrava que a elegância também podia ser simples.
Cher [Imagem: Reprodução/Pinterest]Delegada Helô [Imagem: Reprodução/Pinterest]Holly [Imagem: Reprodução/Pinterest]
No entanto, esse feito não é tão simples. Como na “vida real” o processo de conhecimento e desenvolvimento do próprio estilo, a curadoria de preferências e a definição dos elementos que vão conseguir transformar a imagem de uma pessoa na extensão da personalidade dela, da mesma maneira ocorre na criação da aparência de um personagem, e quem fica a cargo de fazer com que isso aconteça da melhor forma possível são os profissionais desse ramo da beleza artística: os figurinistas, maquiadores e cabeleireiros que ficam encarregados de exercer uma dupla transformação: despir o ator de si mesmo e vesti-lo de um novo alguém. Nesse sentido, a figurinista Flávia Botelho (no instagram como @a_figurinista) traz mais profundidade sobre as atribuições de um figurinista (que, já adiantando, faz muito mais do que escolher as roupas). “Em uma produção artística, a figurinista deve ter todo o roteiro, entender o perfil psicológico de cada personagem para criar, junto com a direção, o conceito do figurino.” De acordo com a profissional, cores, formas e elementos são avaliados e indicados para ajudar a reforçar a dramaturgia tanto de cada personagem, quanto do conjunto do elenco, “[…] a figurinista precisa entender de composição de cores, de como essas cores ficam na luz do palco ou nas câmeras, quais tecidos e aviamentos devem ser usados, como e quando usar efeitos de tingimentos ou envelhecimento para trazer vida ao figurino, por exemplo.”
Para chegar a essas definições, o ponto de partida é o diálogo: o primeiro passo para uma produção de sucesso começa no alinhamento das ideias com a equipe: “O primeiro passo é a leitura do roteiro e, em seguida, a conversa com o diretor, porque quando a gente lê o roteiro, já visualiza essa composição.” E o registro dessas ideias são, geralmente feitos por meio de croquis – um processo que pode ser diferente de acordo com o perfil de cada profissional, “Tem gente que faz primeiro uma pesquisa de referências de imagens, para depois ir refinando, até chegar no que melhor representa cada personagem. Varia, mas o principal é começar a dar forma, estabelecer cores junto com a direção de arte […] É um trabalho em conjunto!”
Porém, como se trata da criação de uma personalidade, a complexidade é inegável. Segundo Flávia, o maior desafio na construção dessa forma de comunicação é pensar com a cabeça do expectador, de alguém que não sabe nada daquela obra. “Achar quais elementos são essenciais e quais são dispensáveis; limpar toda distração, deixar de ado as questões de moda ou gosto pessoal e colocar o foco na construção do personagem, em representar quem ele é.”
E, como pessoas que são, os personagens também estão sujeitos a mudanças: de vida, de realidade e, em alguns casos, até de personalidade (tragam à memória a Clara – de Bianca Bin – em “O outro lado do paraíso”, que depois de passar por traumas profundos, ressurgiu completamente diferente, por dentro e por fora). Assim como na vida real, a aparência também reflete a essência e, ao passo em que o comportamento muda, a imagem se altera junto. Entretanto, para que a narrativa não seja prejudicada por uma mudança drástica, inesperada ou aleatória, que pode quebrar a conexão já existente com o público e despersonalizar a personagem, é de fundamental importância não deixar de manter o contato com as ideias do diretor para o enredo da trama. “Primeiro há que se entender que um filme, série, peça de teatro, antes de existir para o público, existe em um roteiro e, na maioria das vezes, essas mudanças já são previstas.” Assim, é possível planejar com antecedência como realizar essa transição sem romper com a narrativa, “Quando a construção de um figurino começa pelo perfil psicológico, ou seja, pela humanização – tornar o personagem uma pessoa – a gente também passa a entender, na trama, como essa pessoa reage, os sentimentos dela e como ela se vestiria em diversas situações, […] se fosse pobre, se fosse rica, se fosse para a guerra, para um jantar romântico, para uma entrevista de emprego, enfim. Por isso tudo começa no roteiro e na conversa com a direção!”
Inventando Anna [Imagem: Reprodução/Pinterest]Uma Linda Mulher [Imagem: Reprodução/Pinterest]
De fato, enquanto expectadores e ainda ignorantes em relação ao conteúdo que está por vir, qualquer influência visual conta para criar uma atmosfera, uma linha de raciocínio que instiga nossa imaginação em relação ao que pode acontecer. Que atire a primeira pedra – ou cancele a assinatura na plataforma de streaming – quem nunca julgou um personagem na primeira cenaem que ele apareceu, antes mesmo do coitado dizer qualquer coisa – como não interpretar Anna Delvey como uma herdeira multimilionária em Inventando Anna, ou Vivian como uma pessoa rebelde em Uma Linda Mulher? É por isso que o trabalho dos bastidores não pode ser ignorado; o figurino aguça a curiosidade e torna a encenação ainda mais convidativa aos olhos e é por meio da criação dessa imagem de mil palavras que os personagens falam antes mesmo de abrir a boca.
Quando o assunto é maquiagem, é quase impossível evitar a viagem nostálgica que leva as pessoas de volta às tendências do passado. Seja o visual pin-up dos anos 1950, marcado pelo delineado “gatinho” e batom vermelho, ou talvez as sobrancelhas finas, sombras cintilantes e lábios glossy dos anos 2000 (que, inclusive, é a nova febre, que surge em uma estética denominada de Y2k); uma rápida olhada para trás nos permite ver o quanto as ideias de “belo” mudaram com o passar do tempo.
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Nesse sentido, ao observar a transição de ideais da última década (2010 – 2020) encontra-se uma mudança curiosa e quase extrema. Durante o início da década de 2010, o côncavo marcado, o blush bem rosado e o famoso batom snob (aquele rosa quase branco), eram o verdadeiro sucesso; pouco depois, por volta de 2014, surgiu a técnica cut-crease, que por meio de uma mistura de cores, criava uma produção carregada e marcante. Já em 2016, uma nova estética se tornou o desejo da vez e se estendeu até o fim da década: o famoso visual “Kardashian”. Nele, a festa de cores foi substituída por tons neutros e a marcação que antes acontecia nos olhos, foi transferida para a pele (que passou a ser carregada por meio do uso de base, corretivo, pó, contorno, blush e iluminador) e para os lábios, que passaram a ser contornados para criar uma verdadeira ilusão de ótica e simular um aumento de volume.
Imagem: Reprodução Pinterest
No entanto, com a virada da década parece que também houve uma virada no padrão: surgiu a “make beauty” (maquiagem embelezadora, em tradução do inglês), que tem por base o contrário de tudo o que foi visto até então. Ela usa sim elementos artificiais, mas tudo com o intuito de criar imagens naturais. De acordo com Sabrina Ataide, maquiadora e especialista em maquiagem beauty, o conceito dessa nova “linha” é definido como sendo um conjunto de técnicas e estilo de maquiagem que evidenciam a beleza natural, respeitando os traços e a individualidade de cada um, “É embelezar sem transformar!”.
A expert ainda aponta que as demandas por esse tipo específico de produção mais leve e natural se deu de forma mais intensa nos últimos anos como reflexo dos tempos de pandemia “Acredito que a maquiagem é arte, e todo movimento artístico acompanha o comportamento social e de consumo. Nesses últimos anos, como reflexos de tempos de Covid-19, as pessoas têm se preocupado cada vez mais com sua saúde e bem-estar, o que as levou a se atentar mais às compras de beleza”. Dessa forma, em um cenário anteriormente dominado por grandes mudanças e um contexto em que quem conseguisse transformar mais era considerado o mais competente, Sabrina ressalta que essa mudança de preferências pode ter se dado pelos novos hábitos adquiridos. De acordo com ela, o uso de máscaras, por exemplo, contribuiu com o destaque dado aos olhos com o uso de técnicas como delineado “gatinho, holográfico e smokey eyes coloridos; além disso, a pele fresh se tornou preferência, justamente por ser mais leve e natural, o que vai totalmente “contra” o estilo Kardashian de maquiagem, que usava – e muito – de técnicas de contorno facial.
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Se tratando dos motivos que podem ter levado o público à busca pela “leveza”, é inevitável pensar nisso como uma das repercussões das circunstâncias criadas pela pandemia. Os dias incertos serviram, para muitos, como um momento de reflexão e de (re)conexão consigo mesmos e com suas formas, belezas e traços naturais. As pessoas aprenderam a se enxergar novamente como são, sem o peso de se sentirem pressionadas a alterar quem são para se exporem ao mundo, e passaram a admirar isso também.
Assumir a desnecessidade de transformação funcionou como um escape, uma forma de liberdade em um período de restrições. Mesmo que a maquiagem embelezadora continue sendo um jeito de manipular a aparência, isso acontece de maneira mínima, justamente com a intenção que o próprio nome já carrega: apenas ressaltar o que já é belo. Para a maquiadora Sabrina, o porquê da afeição atual por esse tipo de visual se baseia no desejo de ter uma imagem saudável e que expresse a valorização do autocuidado: “O visual ‘limpo’ corresponde ao movimento de conscientização de autocuidado pós-pandemia, ou seja, as tendências de maquiagem se direcionaram a presentar um ‘ar saudável’ e bem cuidado. Então, hoje em dia, ter uma pele viçosa e com acabamentos mais naturais, que conferem um ar de saúde e elegância, transmite a mensagem de ‘estou em dia com meu autocuidado’”.
Imagem: Reprodução Pinterest
Entretanto, ainda nos encontramos em um mundo extremamente globalizado, que cria tendências que se espalham tão rapidamente quanto um piscar de olhos, por isso não se pode descartar a possibilidade de que a busca por transformação retorne. Basta uma ligeira olhada para o crescimento da estética Y2K para sentir que há novos desejos à vista. Nessa lógica, Sabrina destaca que acredita que tudo é possível: “Quando eu penso em comportamento social, moda e estilo, acho que tudo é possível. Os comportamentos sociais são sempre cíclicos, então acredito que possam voltar sim, porém, de uma forma repaginada, até porque o marco deixado pela pandemia é irreversível.”
Para mais, ela afirma que a nova tendência à naturalidade levou as pessoas a se interessarem pela composição e nocividade de alguns ingredientes utilizados na indústria de beleza, no entanto, se as marcas se mantiverem transparentes em relação à produção, uma nova mudança não seria um grande problema e finaliza: “Confesso que até gosto da ideia de mudar e inovar, afinal de contas, maquiagem é arte e expressão do indivíduo; não dá pra colocar em uma caixinha”.
Por fim, até mesmo a beleza e as maneiras de implementá-la representam momentos e movimentos da história, sendo a crescente valorização da make beauty um deles, pois como já foi mencionado, esse novo conceito tem relação com a busca por uma aparência naturalmente saudável que surgiu como reflexo da pandemia enfrentada recentemente. Dessa forma, seja mais intensamente, com a intenção de criar uma máscara e transformar o exterior, seja para apenas ressaltar a beleza inata de cada um, o uso de elementos artificiais, como a maquiagem, não deixa de ser uma ferramenta útil para traduzir o espírito do tempo vivido, sendo o atual o da exaltação do – artificialmente – natural.
A explicação do sucesso de Hollywood e análise do cinema ao redor do mundo
Por: Vitória da Rosa Geremias
Quando se fala em cinema, é impossível deixar de mencionar Hollywood. O distrito de pouco mais de 200 mil habitantes faz parte da cidade de Los Angeles, Califórnia, e é o maior responsável pela indústria cinematográfica dos EUA, com grande influência sobre o mundo inteiro. Hollywood é muito popular por seus blockbusters, ou seja, filmes super populares com alto rendimento financeiro, e hoje é considerada o polo mundial do cinema. Mas qual a razão para haver essa concentração produtiva e financeira nos EUA? Por que são os filmes americanos os mais populares, lucrativos, premiados e reconhecidos? O que há em Hollywood que favoreceu suas produções diante das outras indústrias cinematográficas?
Ao analisar a história de como tudo começou, o primeiro personagem a ser discutido é Thomas Edison, o inventor da lâmpada. Acontece que, entre o final do século XIX e início do século XX, o empresário criou um monopólio, juntamente com outros empreendedores que detinham patentes no ramo tecnológico, chamado Motion Pictures Patents Company (MPPC), com a finalidade de controlar e lucrar em cima de todas as produções no setor cinematográfico, causando má remuneração e altas cobranças de produtores e artistas.
O poder que Thomas Edison e a MPPC detinham sobre a cidade de Nova York influenciou essa classe criativa a se mudar para outra cidade em busca de “liberdade”. E então, começou a concentração em Los Angeles, a quase 4500 km de distância da metrópole nova-iorquina, a cidade se mostrava favorável pelo clima californiano, além de estar longe do alcance da MPPC.
Nesse momento, surge a “Era dos Estúdios”, quando se desenvolveram em Los Angeles os grandes oito estúdios responsáveis pela produção cinematográfica estadunidense: United Artists, Paramount, Metro-Goldwyn-Mayer, Warner Bros, Fox, Universal, Columbia e RKO. Agora com o poder em suas mãos, os estúdios que faziam parte do Big Eight controlavam a produção e distribuição de conteúdo. Datam desse período os clássicos Casablanca (1942) e Cantando na Chuva (1952) que marcaram o cinema da época.
Cena do filme Casablanca com os protagonistas Humphrey Bogart e Ingrid Berman [Imagem: Reprodução/Veja]
No entanto, foi durante a“Era de Ouro”que a potência de Hollywood foi demarcada. Entre as décadas de 20 e 60, os avanços tecnológicos e os sucessos de bilheteria alavancaram a influência hollywoodiana sobre o mundo. Atores como Charles Chaplin, Marilyn Monroe, Carmen Miranda e Audrey Hepburn, se destacaram no cenário mundial. Foi também nesse contexto que surgiu a Academy of Motion Picture Arts and Science e sua primeira premiação honorária, que mais tarde veio a se chamar Oscar e permanece até os dias de hoje.
O cinema estadunidense tinha uma fórmula extremamente comercial, o que o tornou bem sucedido. Por volta dos anos 60, influenciados pela contracultura, diretores como Martin Scorcese, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg e George Lucas mudaram o rumo do cinema. A “Nova Hollywood” dava mais destaque aos diretores do que aos atores, e havia uma liberdade criativa que não havia se visto antes. Sucessos como O Poderoso Chefão (1973), Taxi Driver (1976)e Star Wars (1977) marcaram o período que se estendeu até os anos 80.
A partir da década de 80, um último movimento surge no cenário hollywoodiano, permanecendo até os dias atuais. Com a popularização das câmeras VHS, o cinema independente ganha maior espaço no setor cinematográfico, são obras com baixo orçamento mas alto potencial de lucro, visto que são produzidas por cineastas já experientes.
Assim, o cinema estadunidense pode ser resumido em três camadas: os blockbusters, altamente comerciais, com grandes orçamentos que são superados pelos sucessos de bilheteria; as produções mais modestas, com mais lucro que investimento; e por fim, o cinema independente.
O CINEMA ALÉM DE HOLLYWOOD
Índia: Bollywood, A Maior Indústria Cinematográfica do Mundo
Cartaz do primeiro filme produzido em Bollywood, Raja Harishchandra (1913) [Imagem: Reprodução/IMDb]
Porém, a potência cinematográfica estadunidense tem um concorrente de mesmo nível em termos de produção. Na Índia, mais especificamente, na cidade de Mumbai (também conhecida por Bombaim) fica Bollywood, a Hollywood indiana, onde os filmes de maior orçamento do país são produzidos.
O precursor do cinema bollywoodiano é o cineasta Dadasaheb Phalke, que em 1913 produziu o primeiro filme do país, o curta-metragem silencioso Raja Harishchandra. Com a chegada do cinema sonoro na década de 30, a Índia chegou a produzir mais de 200 filmes por ano, obtendo cada vez mais popularidade e sucesso comercial. Embora o país estivesse muito afetado nos anos de 1930 e 1940, devido a Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial, o cinema foi como um respiro e uma fuga da realidade, apesar de muitos cineastas da época também abordarem temas políticos e de cunho social.
A “Era de Ouro” de Bollywood foi durante as décadas de 50 e 60, com musicais e melodramas que enchiam as salas de cinema. Foi nesse período que a Índia recebeu a primeira indicação ao Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro”, com Mother India (em português, Honrarás a tua Mãe) de 1957.
Cena do filme Honrarás a tua Mãe (1957) [Imagem: Reprodução/IMDb]
Como forma de rejeição ao mainstream do cinema indiano, surge por volta da década de 60 o “Cinema Paralelo”, um movimento cujo foco eram temáticas políticas, sociais, naturalistas e realistas que conquistaram os críticos da época. Na década seguinte, a indústria bollywoodiana é dominada por produções cinematográficas que incorporavam uma figura de “herói romântico”. Surge então, a primeira super estrela indiana, o ator Rajesh Khanna, que protagonizou 15 filmes do gênero de grande sucesso entre os anos de 1969 a 1971.
É durante a década de 70 que acontece a “Era Clássica” de Bollywood, e também o momento em que o cinema indiano recebe o apelido a partir da junção das palavras Bombaim e Hollywood. Foi nesse período de auge das produções indianas que uma dupla de roteiristas, Salim Khan e Javed Akhtar, redirecionaram o cinema do país. Trazendo narrativas sobre o crime na cidade de Bombaim, com conflitos violentos e que refletiam a precariedade e descontentamento do povo. Surge uma nova figura no cinema, o de “jovem homem revoltado”, que foi frequentemente protagonizado pelo ator Amitabh Bachchan.
Hoje, Bollywood é considerada a maior indústria cinematográfica do mundo e, durante os anos, puderam ser percebidos alguns padrões estéticos do cinema indiano. Por ser um país com uma cultura musical muito forte, os filmes geralmente apresentam cenas de dança e música. A maioria das obras produzidas são melodramáticas e folclóricas, as atuações musicais exageradas criam um espetáculo ainda mais dramático e artístico, se tornando um elemento diferencial do cinema indiano.
Rituais de conquista amorosa são temas muito comuns no cinema indiano, e apesar de romance e sensualidade estarem presentes na narrativa, cenas de sexo são censuradas no país. Os filmes também são famosos por suas tramas clichês: triângulos amorosos, dramas familiares, heróis e vilões, comédia e suspense são enredos que, por vezes, estão todos em uma mesma obra. Características como essas são as que fazem o cinema de Bollywood ser tão lucrativo, pois é o tipo de entretenimento popular que garante sucesso de bilheteria.
Cena do filme Lagaan: A Coragem de um Povo (2001), longa indicado ao Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro” em 2002 [Imagem: Reprodução/MUBI]
Coreia do Sul: A Nova Potência do Entretenimento Mundial
Cena do filme Em Chamas (2018), filme sul-coreano que representou o país no Oscar de 2019 [Imagem: Reprodução/IMDb]
Hollywood é a principal indústria cinematográfica do mundo, e Bollywood a maior, no entanto, atualmente um novo país tem se destacado como uma nova potência do cinema mundial: a Coreia do Sul. Até o final da década de 1910, somente filmes estrangeiros, a maioria ocidentais, eram exibidos nos cinemas coreanos. Foi então que Park Seongpil, um produtor e empresário do ramo cinematográfico, comprou um cinema e patrocinou o lançamento do primeiro filme coreano, chamado A Vingança Honrada (의리적구투), de 1919.
Entretanto, devido a colonização japonesa da época, o início do cinema coreano foi um tanto pobre em lançamentos. Os filmes mais famosos da época foram Arirang (아리랑) de 1926 e Ao encontrar o amor (사랑을 찾아서) de 1928, porém, nenhum deles existe mais nos dias de hoje.
Com a libertação do domínio japonês na Coreia, em 1945, o cinema nacional passou a crescer. O primeiro filme que representa e marca essa independência é o romance Viva, Freedom (자유만세), onde o protagonista foge do exército japonês após se envolver com o Movimento de Independência e se apaixona por uma enfermeira. Ainda na mesma década, outros dois filmes fizeram sucesso e alavancaram o cinema coreano, sendo eles A prosecutor and a teacher (검사와 여선생), de 1948, e Hometown in My Heart (마음의 고향) , de 1949.
Cena do filme Viva, Freedom (자유만세), de 1946 [Imagem: Reprodução/MUBI]
Após a Guerra das Coreias, na década de 1950, a indústria cinematográfica sofreu para se recuperar. Na Coreia do Sul, filmes com temáticas anticomunistas, além de romances e comédias, eram o foco da produção. Foi nesse período que o sul da península teve sua “Era de Ouro”, com ajuda do governo além de outras contribuições estrangeiras.
O fim da “Era de Ouro” se deu pelos regimes ditatoriais, com censuras que começaram em 1948 e se tornaram mais brandas somente na década de 80, prejudicando a indústria cinematográfica coreana. A industrialização acelerada que tomou conta da Coreia do Sul, nas décadas de 70 e 80, ajudou o cinema a se reerguer. Entretanto, mais obstáculos surgiram, a crise monetária do FMI em 1997 e os conflitos militares com a Coreia do Norte atrapalharam a produção cinematográfica, mas, apesar dos empecilhos, os cineastas insistiram e assim surgiu um novo movimento.
Cena do filme Oldboy (2003), um dos primeiros blockbusters sul-coreanos [Imagem: Reprodução/IMDb]
O Novo Cinema Coreano trouxe consigo a era dos blockbusters, representado pela estreia do filme Shiri em 1999. A partir desse momento, várias produções coreanas passaram a fazer sucesso fora do país,como Oldboy (2003), O Hospedeiro (2006) e Em Chamas (2018). O movimento se mostrou forte durante as décadas seguintes e, em 2020, a Coreia do Sul marcou a história do Oscar. O longa-metragem Parasita (2019) ganhou, não somente, o Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro”, “Melhor Diretor” e “Melhor Roteiro Original”, como também o de “Melhor Filme”, sendo a primeira produção não falada em inglês a receber o maior prêmio da noite.
Quando o cinema sul-coreano passou a ganhar reconhecimento nos anos 2000, o governo do país criou um sistema de cotas a fim de investir na produção nacional e incentivar filmes independentes. Nasce então o grande diferencial da cinematografia sul-coreana: o balanço entre o comercial e o artístico/original. O diretor Bong Joon-ho (Parasita, O Hospedeiro, Okja, etc), por exemplo, é um dos cineastas que consegue conciliar a produção de um filme blockbuster contentando não somente o público mas também a crítica.
Hoje o cinema da Coreia do Sul é uma das três maiores indústrias cinematográficas do mundo, juntamente com as potências Hollywood e Bollywood.
Momento histórico em que Parasita é premiado com o Oscar de Melhor Filme, no ano de 2020 [Imagem: Reprodução/Globo]
França: O Berço do Cinema
Cena do filme Viagem à Lua (1902) [Imagem: Reprodução/Superinteressante]
No ano de 1895, na França, os irmãos Auguste e Luis Lumière inventaram o cinematógrafo, uma máquina de filmar e projetar imagens. Os dois eram engenheiros e filhos de um fotógrafo, e foi na cidade de La Ciutat que a primeira exibição cinematográfica do mundo aconteceu.
Os primeiros filmes não tinham roteiro, e na verdade, serviam mais como documentários, porque os próprios irmãos Lumière nunca pensaram que a sua invenção teria finalidade comercial no futuro. Somente com o cineasta revolucionário, Georges Méliès, que via a cinematografia como uma extensão dos palcos, é que surgem os primeiros filmes com roteiro. As principais produções de Méliès são Cleópatra (1899), Viagem à Lua (1902), As Viagens de Gulliver (1902) e Fausto (1904).
As duas primeiras décadas do século XX eram dominadas pelo cinema francês. Infelizmente, com a Primeira Guerra Mundial, a indústria de entretenimento francesa sofreu com a depressão econômica e isso favoreceu as produções estadunidenses, que acabaram ganhando espaço e público na Europa na década de 20. O governo francês a fim de ajudar os cineastas de seu país, estabeleceu uma lei que tornava obrigatória a exibição de um filme nacional a cada sete filmes estrangeiros.
O cinema nacional ainda não tinha se recuperado totalmente até a chegada da Segunda Guerra Mundial e, consequentemente, da invasão alemã ao território francês, o que tornou ainda mais difícil a produção cinematográfica da época. Entretanto, existe uma obra de caráter nacionalista feita no período, que só foi exibida após o fim da guerra, O Boulevard do Crime (1945), filme de Marcel Carné, considerado por muitos críticos como a melhor produção francesa de todos os tempos.
Cena de O Boulevard do Crime (1945) [Imagem: Reprodução/MUBI]
Entre as décadas de 50 e 60, na recuperação do pós-guerra que reergueu o país , surge um movimento artístico chamado Nouvelle Vague, que via o cinema como uma ferramenta para mudar o mundo. Impulsionados pelo Neorrealismo, o movimento nasceu entre jornalistas e críticos e ia contra o método convencional de fazer filmes. Os cineastas desse movimento eram adeptos de novas técnicas de direção e não necessitavam de grandes orçamentos.
As principais características estéticas podem ser resumidas a longos planos sequência, roteiros improvisados e falta de continuidade. As temáticas abordadas eram de cunho existencial, com sarcasmo e ironia, principalmente nos momentos em que faziam referência a outras obras cinematográficas. O baixo orçamento também levou a inovações estilísticas no que se refere a cenário e equipamentos, fazendo com que os cineastas buscassem maneiras de expressão artística dentro do que tinham disponível. Mas o maior aspecto da Nouvelle Vague era ir contra a maré do mainstream e desafiar o espectador, revolucionando o cinema e criando novos métodos de direção, como a “quebra da quarta parede”, por exemplo.
A revista Cahiers du Cinéma era o principal meio pelo qual as ideias do movimento se difundiram. Foi lá que os jornalistas, críticos e cineastas da revista começaram a questionar o cinema vigente na França e o padrão narrativo das obras de Hollywood. Os principais nomes do movimento eram François Truffaut, Jean-Luc Godard, Éric Rohmer, Claude Chabrol e Jacques Rivette. O filme considerado como pontapé inicial da Nouvelle Vague é de Chabrol, chamado Le Beau Serge (1958), que foi seguido por outros grandes exemplos do movimento como Os Incompreendidos (1959), de Truffaut e Acossado (1960), de Godard.
Cena do filme Os Incompreendidos [Imagem: Reprodução/MUBI]
O cinema francês na década de 80 passou a competir com as produções americanas, com produções mais caras, e a partir dos anos 90, os franceses levaram o cinema nacional a outro patamar. Liderados pelo cineasta Jean Pierre Jeunet, grandes obras como Delicatessen (1991), Ladrão de Sonhos (1993)e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) marcaram o cinema internacional com atores talentosos e diretores premiados.
Cena do filme Piaf – Um Hino ao Amor (2007), que garantiu BAFTA, Globo de Ouro e Oscar de Melhor Atriz para Marion Cotillard [Imagem: Reprodução/MUBI]
Brasil: Uma Potência Emergente
Cena do filme Alô Alô Carnaval (1936) [Imagem: Reprodução/IMDb]
Em 19 de junho de 1898, data que hoje é dedicada ao Dia do Cinema Brasileiro, dois irmãos italianos, Paschoal e Affonso Segreto, fizeram gravações da Baía de Guanabara, se tornando então, os primeiros cineastas do Brasil. Entretanto, foi no ano de 1897, no Rio de Janeiro, que o cinema chegou ao país pela primeira vez através de Paschoal Segreto, que trouxe para exibição uma série de curtas-metragens sobre o cotidiano das cidades europeias. Desde então, o cinema brasileiro vem crescendo e conquistando reconhecimento mundial, apesar de momentos de desvalorização e baixo investimento na produção nacional.
A primeira década da sétima arte no Brasil passou por algumas dificuldades logísticas, visto que, a falta de energia elétrica era uma questão que impedia a propagação de salas de cinema pelo país. Foi entre os anos de 1907 e 1910 que o cinema se estruturou no Brasil, primeiramente exibindo filmes estrangeiros e produzindo documentários. Com uma base fortalecida, atores e atrizes foram surgindo e mais de 30 filmes foram produzidos nessa época. A primeira obra de ficção é de 1908: Os Estranguladores, um curta-metragem de Francisco Marzullo e Antônio Leal e é em 1914 que, O Crime dos Banhados, de Francisco Santos, se torna o primeiro longa-metragem brasileiro.
Foi na década de 30, com a criação do primeiro grande estúdio do Brasil, Cinédia, que a produção brasileira alavancou. É dessa mesma época o primeiro filme sonoro do país, a comédia Acabaram-se os Otários (1929), de Luiz de Barros, que foi seguida por outros grandes títulos como Limite (1931), de Mario Peixoto, A Voz do Carnaval (1933), de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro, e Ganga Bruta (1933) de Humberto Mauro.
Cena do filme Ganga Bruta (1933) [Imagem: Reprodução/IMS]
A dominação de Hollywood já era um fator recorrente e o público gostava das narrativas estadunidenses, logo, as histórias românticas e musicais que (quase sempre) terminavam com um final feliz, foram vistas pela Cinédia como uma maneira de aproximar o cinema brasileiro do público novamente. É nesse momento que a estética dos cenários grandes e brilhantes surgem, juntamente com a estrela Carmem Miranda, em produções nacionais como Alô, Alô, Brasil (1935) e Alô, Alô, Carnaval (1936). Para entender melhor a história do cinema brasileiro, leia o texto escrito por Rhaísa Borges, “O cinema brasileiro: dos primórdios à atualidade”.
Nigéria: Nollywood, A Maior Indústria Cinematográfica Africana
Cena do filme The Amazing Grace (2006) [Imagem: Reprodução/MUBI]
Apelidado de Nollywood, o cinema nigeriano é a maior indústria cinematográfica africana, e está entre as maiores do mundo. Suas narrativas têm propostas autênticas e procuram representar a identidade africana, portanto, não se encaixam no perfil comercial das produções estadunidenses. A língua oficial do país é o inglês, o que ajuda a dar mais visibilidade para a representatividade cultural que os cineastas propõem.
A indústria cinematográfica é responsável por ser a segunda maior geradora de emprego no país, é autossuficiente, ou seja, não necessita de financiamentos governamentais, e leva ao mercado interno e externo mais de 200 filmes por mês. Apesar do país ser o país com maior população no continente africano, ele não possui muitas salas de cinema, portanto, os lucros comerciais dos filmes são, na sua grande maioria, gerados pela compra de DVDs e aluguel de streaming.
Os filmes nacionais são tão populares para a Nigéria como as novelas são para o Brasil. A produção nigeriana de maior bilheteria é de Jeta Amata, chamado The Amazing Grace (2006), que teve cerca de 25 mil espectadores. As produções de Nollywood são a maior representação da cultura africana na sétima arte, e demonstra a necessidade de restabelecer a identidade e buscar suas raízes após anos de colonização britânica no seu território.
Cena do filme Lionheart (2018) [Imagem: Reprodução/Netflix]
A temporada de premiações é sempre muito esperada em diferentes ramos da arte, de música à cinema, mas principalmente os tapetes vermelhos que roubam a cena — são muitos os rostos aproveitando o momento para colocarem seus melhores e mais opulentes vestidos para as cerimônias.
De Gwyneth Paltrow no vestido rosa pálido com uma grande saia de tafetá na cerimônia de 1999, Cher usando Bob Mackie com uma coroa de penas e saia brilhante em 1986 e Gillian Anderson com calcinha a mostra em 2001, o evento rendeu alguns momentos memoráveis para a moda.
Na edição de 2022, alguns deixaram a desejar com a escolhas de figurinos — uma onda um pouco mais básica inundou a cerimônia — enquanto são esperados grandes momentos na premiação ano, mas outros…
Gwyneth Paltrow no Oscar de 1999 de Ralph Lauren (Foto: Reprodução/ Marie Claire UK)Cher no Oscar de 1986 de Bob Mackie (Foto: Reprodução / Pinterest)
Confira as escolhas da editoria de moda da Frenezi para os melhores looks da noite:
Izabella Ricciardi – Editora de moda
Deixando claro como o dia que o meu favorito de toda a noite foi, sem dúvida alguma, Jada Pinkett Smith de Jean Paul Gaultier Couture Spring Summer 2022 por Glenn Martens. Apesar disso, é perceptível no tapete vermelho como um todo uma mudança interessante no vestuário das premiações. Entre os últimos anos, se gostariam de ter um grande impacto na cerimônia, a presença era marcada com uma saia bufante e enorme de tulle assinada pela Giambattista Valli, ou um Valentino assinado por Pierpaolo Piccioli.
Contudo, as silhuetas na Alta-Costura ficaram mais limpas e retas na Valentino, o tule da Giambattista nunca se renovou: talvez a estética tenha oficialmente morrido por ter sido feita diversas vezes — ou talvez porquê o vestido de Ariana Grande no Grammy de 2020 ficou tão conhecido (e era por sua vez tão grande e volumoso) que seja quase impossível fazer algo maior.
Com a estreia de Demna Gvasalia na Alta-Costura da Balenciaga no ano passado — que teve uma boa influência nos vestidos de baile — ao que parece os tapetes vermelhos deram uma virada gótica. Com os momentos de grandes e volumosos vestidos sendo agora de tafetá — amassado ou em babados — o importante é ser grande, assim como o vestido de Kendall Jenner assinado pelo próprio Demna Gvasalia, Billie Eilish de babados Gucci por Alessandro Michele e finalizando com a versão mais comercial da nova estética que conserva o formato do corpo dentro do vestido, Laverne Cox de August Getty.
Kendall Jenner de Balenciaga (Foto: Reprodução/ Instagram)Billie Eilish de Gucci (Foto: Reprodução/ Instagram)Laverne Cox de August Getty (Foto: Reprodução/ Steal the Look)
Luiz Fernando Neves – Repórter de Moda
Certamente o look mais polêmico da noite, Kristen Stewart cruzou o tapete vermelho do Oscar vestindo um conjuntinho de terno e shorts da Chanel, marca que a atriz mantém uma parceria há anos. O look pode até incomodar a primeira vista, mas o fato é que ninguém além de Kristen conseguiria segurar esse visual. A atriz, que declarou recentemente que “não liga a mínima” para a premiação, soube traduzir perfeitamente sua alma e estilo através da composição, sendo coerente com quem ela é — e, de quebra, ainda fez história: foi a primeira pessoa a vestir shorts na história do prêmio.
Kristen Stewart de Chanel (Foto: Reprodução / Vogue)
Julia Ferreira – Repórter de Moda
Dessa vez Hunter Schafer se afastou do seu guarda roupa à la Prada e apostou no universo gótico e pós apocalíptico de Rick Owens da coleção de Outono/Inverno 2022. A modelo/atriz se aventura em um vestido de gala de jeans manchado com costas à mostra e o cabelo molhado repartido ao meio, roubando assim os holofotes do tapete vermelho da after party da Vanity Fair.
Hunter Schafer de Rick Owens (Foto: Reprodução/ Vogue)Hunter Schafer de Rick Owens (Foto: Reprodução/ Vogue)
Maria Fernanda Rocino – Repórter de Moda
Dakota Johnson de Gucci por Alessandro Michele foi um dos grandes momentos. Não só pelo look exuberante, mas pela escolha de usar no Oscar um look de uma coleção inteira dedicada à Hollywood.
Dakota Johnson de Gucci (Foto: Reprodução/ Vogue)Dakota Johnson de Gucci (Foto: Reprodução/ Vogue)
Liz Bichara – Repórter de Moda
Timothée Chalamet surpreendeu, mais uma vez, ao usar Louis Vuitton para a premiação do Oscar. O astro de Duna — filme mais premiado da noite — apostou em um blazer cropped de renda, sem camisa, desfilado na coleção Primavera/Verão 2022 de womenswear.
Timothée Chalamet de Louis Vuitton (Foto: Reprodução/ Vogue)Timothée Chalamet de Louis Vuitton (Foto: Reprodução/ Celeb Mafia)
Mirelle Carvalho – Repórter de Moda
Enquanto diversos artistas buscaram continuar em sua zona de conforto apostando em vestidos básicos convencionais e talvez nada dignos de um tapete vermelho do Oscar, Jada Pinkett Smith escolheu nada mais nada menos que um dos vestidos mais comentados da última coleção de Primavera/Verão Alta-Costura 22 da Jean Paul Gaultier, assinada por Glenn Martens. Acontece que, apesar de o vestido não ser sustentável para todos que possivelmente possam escolhê-lo, parece ter sido desenhado para Jada, que consequentemente sustentou lindamente o look escolhido e arrancou suspiros por onde passou, se consagrando como uma das possíveis personalidades mais bem vestidas da noite.
Jada Pinkett Smith de Jean Paul Gaultier (Foto: Reprodução/ Celeb Mafia)
Neste domingo, 27 de março, a 94ª edição do Oscar, a premiação de cinema mais famosa que existe, aconteceu em Los Angeles, nos Estados Unidos, no tradicional Dolby Theatre. O evento anual é apresentado por uma organização profissional sem fins lucrativos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, onde os melhores filmes do ano são homenageados. A Academia, sediada em Beverly Hills, foi fundada em 11 de maio de 1927 e teve sua primeira cerimônia realizada em 1929. Hoje, o Oscar é um evento multimilionário transmitido ao vivo pela televisão para mais de 200 países, tornando-se assim um dos maiores eventos midiáticos do mundo.
Louis B. Mayer, um dos fundadores da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), criou a Academia, porém, um dos principais atores norte-americanos do começo do século XX, Douglas Fairbanks, foi eleito o primeiro presidente da associação. Assim, em 16 de maio de 1929, à noite, membros da Academia e 270 convidados, encheram o Blossom Room por somente 20 minutos, no Hotel Roosevelt, para honrar as realizações cinematográficas mais proeminentes de 1927 e 1928.
Um convite para o primeiro Oscar, originalmente conhecido como Academy Award of Merit (Prêmio da Academia ao Mérito, em inglês) [Imagem: Reprodução/Medium]
Apesar da extrema crise econômica causada pela queda da bolsa de valores de Nova York, que deu inicio à Grande Depressão, a indústria cinematográfica passava por uma mudança dramática na época ao introduzir som pela primeira vez em um filme, O Cantor de Jazz (1927). Nesse momento, a indústria gozava de várias produções que movimentaram o evento, porém filmes sonoros de muito sucesso – que lançaram antes do primeiro Oscar – não foram considerados, porque foi visto como injusto compará-los a filmes mudos.
O primeiro vencedor do Oscar foi o ator suíço Emil Jannings, que ganhou o prêmio de Melhor Ator por seus papéis em dois filmes mudos, O Último Comando (1928) e O Caminho de Toda a Carne (1927). O romance Asas (1927), dirigido por William A. Wellmen e ambientado durante a Primeira Guerra Mundial, ganhou o primeiro Oscar de Melhor Filme.
Emil Jannings, nome artístico de Theodor Friedrich Emil Janenz [Imagem: Reprodução/Correio Braziliense]
Uma estatueta dourada do Oscar é uma conquista sublime na carreira de cada diretor, ator ou atriz, compositor ou qualquer outra pessoa envolvida no processo de criação de um filme. O cobiçado troféu tem 34 cm de altura e é revestido com uma fina camada de ouro de 24 quilates, enquanto seu peso de 3,8 kg vem de seu interior de bronze maciço.
Em 1927, Cedric Gibbons, diretor de arte da MGM, projetou o gráfico que serviria de base para a estatueta: um cavaleiro em pé segurando uma espada de modo protetor na frente de um rolo de filme com cinco raios. O rolo simbolizava a indústria cinematográfica e os raios representavam os cinco ramos originais da Academia.
No ano seguinte, Gibbons designou o escultor George Stanley para realizar seu projeto e desde então o design não sofreu mudanças significativas até hoje, nos mais de 90 anos em que já foi entregue, apenas durante a escassez de metal na Segunda Guerra Mundial, quando as estatuetas foram feitas de gesso pintado com tinta dourada. Após o conflito, o gesso foi trocado por metal banhado a ouro, que é como conhecemos hoje a estatueta do Oscar.
As estatuetas do Oscar nos bastidores durante a entrega do troféu em 28 de fevereiro de 2016 [Imagem: Reprodução/The Hill]
Segundo o jornal NY Post, desde que a primeira premiação aconteceu, mais de 80 Oscars foram roubados ou perdidos. Apenas 11 deles nunca foram encontrados – a maior parte das estatuetas foi achada em lixeiras ou catálogos de leilões, retornando para seus vencedores. O maior roubo da história do Oscar ocorreu em 2000, quando uma encomenda com 55 pequenas estátuas ainda não preenchidas com o nome de seus vencedores foi roubada por funcionários da empresa que transportava os prêmios de Chicago à Califórnia.
As origens do nome da estatueta são incertas, mas uma história popular diz que a diretora executiva Margaret Herrick pensou que a estátua se parecia com seu tio Oscar e então a equipe começou a chamar a o prêmio assim. Outra versão diz que a atriz Bette Davis o teria apelidado assim, dado a semelhança da estatueta com seu primeiro marido, Harmon Oscar Nelson. De qualquer maneira, até hoje esse apelido é o nome pelo qual o Prêmio da Academia é conhecido mundialmente.
Em 1953, o Oscar passou a ser uma atração televisionado e, a partir disso, ganhou cada vez mais projeção e status. Atualmente, o evento é transmitido ao vivo para diversos países, mas a Academia sempre está se equilibrando na corda bamba que é manter bons números de audiência. Assim sendo, a Academia está constantemente em busca de entregar modificações que garantam o interesse na premiação, principalmente aos expectadores mais jovens, como por exemplo o acréscimo de categorias, como a de Melhor Filme Estrangeiro visando a internacionalização do prêmio, e as aguardadas apresentações musicais.
Lady Gaga e Bradley Cooper foram o assunto do Oscar de 2019 após fazerem apresentação emocionante no palco da premiação [Imagem: Reprodução/G1]
Em 2019, a audiência do Oscar, somente nos Estados Unidos, atingiu quase 30 milhões de espectadores. A cerimônia de 1998 ainda mantém o recorde da maior audiência da História dos Prêmios da Academia, na qual foi registrado que 57 milhões de pessoas assistiram ao evento.
Os filmes nomeados para concorrer, assim como a escolha dos vencedores do prêmio, são decididos pelos membros da Academia. Na primeira cerimônia do Oscar, apenas 26 membros compunham a Academia. Hoje, presume-se que o número de membros seja de cerca de 8500 pessoas, mas apenas duas categorias são abertas ao voto de todos: Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro. As demais categorias necessitam de exímio conhecimento para que haja uma avaliação mais crítica, como por exemplo na categoria Melhor Documentário.
Embora a primeira cerimônia do Oscar tenha acontecido no final da década de 1920, muitas mudanças só aconteceram recentemente, como a composição dos membros da Academia. A indignação generalizada do público para que a Academia diversificasse sua composição de homens brancos e velhos e incluísse mais jovens, mais mulheres e mais pessoas de cor repercutiu-se e, felizmente, mostrou resultado nos últimos anos. Até 2012, as estatísticas revelavam que 94% dos membros da Academia eram brancos, 77% eram homens e mais de 50% tinham idade superior a 60 anos.
O procedimento de premiação também mudou. No primeiro Oscar, os convidados já sabiam quem eram os vencedores e, além disso, desembolsaram cinco dólares para possuir o privilégio de participar da cerimônia. No entanto, no próximo ano, a Academia decidiu criar uma sensação de suspense e, em vez disso, enviou de antemão uma lista dos vencedores aos jornais, com publicação embargada até às 23h da noite da cerimônia.
Esse sistema permaneceu em vigor pelos por 10 anos, mas em 1940, o jornal Los Angeles Times, popularmente referido como Times ou LA Times, quebrou o embargo e anunciou os vencedores em sua edição noturna, o que significa que os indicados descobriram seu destino antes de comparecer ao evento. Por isso, em 1941, o sistema do famoso envelope lacrado foi finalmente introduzido e os resultados tornaram-se um segredo bem guardado.
O método do envelope funcionou muito bem até 2017, quando uma confusão nos bastidores causou um embaraçoso anúncio falso: o musical La La Land: Cantando Estações (2016) foi erroneamente declarado como Melhor Filme. Apenas após a intervenção dos organizadores, o prêmio foi entregue para o vencedor correto, a equipe criativa por trás do drama Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016).
Momento histórico da gafe do Oscar de 2017 em que os envelopes de Emma Stone e Moonlight foram trocados [Imagem: Reprodução/Observador]
No decurso dos 90 anos de história do Oscar, algumas produções e artistas do Brasil concorreram em várias categorias. A última vez aconteceu em 2020, quando Democracia em Vertigem (2019), dirigido por Petra Costa, concorreu na categoria Melhor Documentário. Entretanto, antes disso, O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O que é isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1998) já disputaram na categoria Melhor Filme Estrangeiro.
Cidade de Deus (2004) e O Beijo da Mulher-Aranha (1986) receberam quatro indicações cada um. Contudo, o momento mais memorável para o país provavelmente fora a indicação de Fernanda Montenegro, em 1999, como Melhor Atriz, por Central do Brasil (1998), mesmo que a vencedora tenha sido a atriz Gwyneth Paltrow, por sua atuação em Shakespeare Apaixonado (1998).
A cerimônia do Oscar de 2022 não fugiu das mudanças trazidas pela pandemia de coronavírus, do domínio das mídias sociais, do decréscimo de consumo da televisão (graças em parte às mídias sociais), do surgimento de plataformas de streaming de grande sucesso e da cultura do binge-watching. Entretanto, a Academia, assim como a indústria cinematográfica que o Oscar celebra anualmente, foi resiliente e primorosa em readaptar-se de acordo com a necessidade do momento.
O Prêmio da Academia retornou ao Dolby Theatre após uma cerimônia reduzida no ano passado com convidados que respeitavam o distanciamento social e medidas de proteção, sem a presença do público. Neste ano, o evento não teve mais uma vez a presença do público, mas teve a presença exclusiva dos indicados e de seus acompanhantes e, pela primeira vez na história, um trio feminino comandou a cerimônia: Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes. Ademais, o Oscar não tinha anfitriões desde 2018, quando Jimmy Kimmel exerceu a função – as atrizes de Descompensada, Família Upshaw e Todo Mundo em Pânico retomaram à tradição após quatro anos.
Os dias se passavam ao som do álbum Ultraviolence da Lana Del Rey, que está na playlist junto com The Neighborhood, Arctic Monkeys, The 1975, Lorde, The xx, entre outras bandas alternativas que se juntam ao indie pop. As fotos eram guiadas de acordo com a roupa. Normalmente jeans skinny, ou meia arrastão – elas sempre rasgavam e isso que era deixado em evidência – com jaqueta de couro, cores escuras, silhuetas simples, gargantilhas no pescoço, às vezes camisa quadriculada e nos pés All Star ou coturno.
Foto reprodução: Pinterest
Essa estética, marcada pelo ano de 2012 a 2014, é caracterizada à época do Tumblr, uma plataforma na qual era formado por comunidades que tinham pessoas de todos os lugares do mundo, com as mesmas estéticas e pensamentos, com um estilo acessível e não elitizado como o Old Money.
O rock foi o fundador dos estilos. Seguido pelo grunge com o Nirvana de Kurt Cobain juntamente com as meninas do Bikini Kill. Ele não se importava em comprar roupas, e nem se elas rasgavam. Vivia sua melancolia e as levava em suas músicas. A partir deste estilo, nasce o indie, com The Neighbourhood e Arctic Monkeys.
Foto reprodução: Pinterest
Nas telas, a atriz Lucy Hale, que interpreta a Aria Montgomery na série “Pretty Little Liars”, e a personagem Effy Stonem de “Skins”, interpretada por Kaya Scodelario, se enquadra ao estilo desenvolvido da época, já que era o período em que a série estava sendo gravada. Muito se materializa através de séries e da música. Atualmente, vemos a cantora Olivia Rodrigo e a personagem Maeve Wiley de “Sex Education”, explorando todo o esteriótipo, mas com o toque do novo, sem se prender ou resgatar por completo algo que pode se reinventar com novas presenças que são disponibilizadas em todas as áreas de criação.
Os adolescentes de antes cresceram, hoje são os adultos e jovens que, com a memória afetiva da época, resgatam, exploram e, literalmente, compram essas tendências. O que antes era trazido de 30 em 30 anos, com a pandemia, isso tem se acelerado e diminuído para 10 anos.
Essa estética tem voltado, mas o que antes era baseado nos anos 2000 e toda a característica trazida à tona, hoje ela retorna se embasando nos anos de glória – entre 2012 e 2016 – e tem se reinventado, se reintegrando às novas manifestações artísticas. Contudo, essa estética não vem apenas de uma estética visual, mas também de uma subcultura que trouxe à tona os problemas mentais, pessoas que se identificam com outras e viam que vivem a mesma situação. Isso então incluía falar abertamente sobre depressão, ansiedade e pensamentos suicidas.
As músicas alternativas da época retratavam sobre os problemas, como Lana Del Rey que transformava sua solidão e melancolia em música, e dizia o quanto gostava e aceitava aquilo. Isso fazia com que as meninas da época fizessem o mesmo. Até aquelas que não tinham depressão, induzia este tipo de melancolia para soarem interessantes e fazerem jus às outras pessoas.
As comunidades, em sua maioria composta por meninas, se identificavam gerando valor e dependência naquilo. Compartilhavam seu diagnóstico, conversas com profissionais sobre o quadro, fotos com frases como “100% triste” escrito em rosa com brilhos, pílulas de remédio em cima da mesa, maquiagens escuras em forma de luto. Mesmo não tendo sido criado pelo Tumblr, a obsessão pelo trágico fez parte da cultura, exacerbaram esse fetiche. Notoriamente, o reconhecimento e a discussão desses assuntos facilitou o tratamento e reconhecimento dos sentimentos e das doenças até hoje, contudo, trouxe à tona a romantização de problemas mentais, de ter um coração partido, solidão, magreza extrema e da rebeldia.
Com o lançamento de “13 Reasons Why”, reboot de “Gossip Girl” e “Euphoria”, é notável a presença de uma trama que abraça uma cultura de drogas e sexo, apresentando atores glamorizados e vidas mais sofisticadas e fáceis. Um pouco de toda a época do Tumblr está presente, mas com mudanças, gerando algum tipo de demérito e mais conscientização principalmente de quem esteve presente em todo aquele período.
Foto reprodução: Pinterest
Hoje, o que volta, parte é substituído. Calças skinny que saíram de destaque são alteradas por mom jeans ou calças jeans de perna reta. O batom escuro chega em forma de gloss, maquiagens que antes eram escuras são influenciadas por séries trazendo brilho e com looks mais extravagantes em decotes e transparências. A época Tumblr marcou uma geração de pré-adolescentes e adolescentes ao redor do mundo.
Hoje, eles cresceram e se tornaram adultos com sentimento de pertencimento a esse período e uma memória de descobertas e reencontros que fazem parte de quem são hoje. São os que possuem o poder de compra e também de lançar e repercutir as tendências. Com o TikTok, novos grupos identitários e novos costumes e tendências têm surgido.
Pode-se dizer que a era Tumblr foi um momento em que os jovens entraram no mundo da internet, esbarram e permaneceram com seu primeiro contato a um grupo digital de acolhimento sem barreiras – o que antes era vivido com barreiras físicas e sólidas, foram se integrando num novo mundo. Hoje, as barreiras se quebraram e todos têm acesso às outras culturas e pessoas, facilitando o encontro de sua identidade.
A grande comunidade do Tumblr retorna citando as consciências de uma identidade coletiva, mostrando às novas gerações – além das características físicas – o poder de um grupo semelhante frente ao auxílio da internet e da união de características iguais. É algo mais significativo que os momentos que estão sendo vividos nesses últimos anos. Foi uma época duradoura e que foi morada e conforto para muitos adolescentes.
Foto reprodução: Pinterest
O começo da internet como rede de apoio e sem barreiras. Um lugar onde as pessoas encontravam grupos com os mesmos sentimentos e desejos. Eles não estavam sozinhos, nunca estiveram. Estavam apenas perdidos de seus grupos que iriam entender e acolher suas particularidades.
O estopim oficial do mais novo ’comeback’ da marca italiana Diesel foi, sem dúvidas a coleção apresentada durante a semana de moda de Milão referente a temporada de Outono Inverno 2022. A primeira coleção assinada pelo novo diretor criativo Glenn Martens fez com que todos os críticos e amantes de moda dessem uma nova chance para a marca. Uma coleção skin-baring, sexy, sublime, inovativa, cheia de jeans e couro. Desde o Y2K clubwear até o uniforme de motociclista, com códigos joviais, rebeldes, que conversam genuinamente com a nova geração de consumidores.
Entretanto, seu grande plano de reestruturação já vem acontecendo desde 2020. Mesmo em meio ao período caótico da pandemia, a Diesel já trilhava um futuro no qual voltaria a conversar com gerações mais novas, adaptando novas tendências e voltando ao fashion radar. Esse futuro é agora! Muito antes da Diesel ser “deixada de lado”, ela construiu um legado para si mesma, marcada pela estética dos anos 2000, provocativa e rebelde. Nos anos 90, ela era a marca mais ‘cool’ da cena da moda.
Muito antes dos algoritmos tomarem nossas vidas e nos disserem o que gostamos ou não, a Diesel jeans já se estabelecia como marca do momento e queridinha das celebridades – Paris Hilton, Lindsay Lohan e Mariah Carey usavam Diesel dos pés à cabeça – Também instituída como marca ‘go-to’ dos clubbers da época que iam à loucura com os ‘distressed-jeans’ que viam numa infinidade de modelos.
Campanha de publicidade da década de 90 para a Diesel (Foto: Reprodução/Pinterest).
Fundada em 1978 por Renzo Rosso, a Diesel já sustentava seu hype de melhor e mais ultrajante marca de jeans desde sua criação. Com suas lojas físicas de ponta e publicidade criativa e provocativa, a marca facilmente virou uniforme das ‘cool kids’ e em 1998 ganhou o título de ‘marca do momento – imprevisível, irreverente e rebelde’ pelo The Wall Street Journal. De Nova York a Berlim, a Diesel misturava o estilo ‘europeu chique’ com o jovem e cool americano, sendo high fashion e high street. Afinal, todos queriam poder usar a emblemática e ardente marca do momento.
Campanha de publicidade da década de 2000 para a Diesel (Foto: Reprodução/Pinterest).
No entanto, apesar de toda sua fama, a Diesel perdeu sua relevância cultural e seu espírito revolucionário. Apesar de ter-se mantido consistente e ainda um negócio de sucesso, a marca viu-se perdendo para a rigorosa competição que agora tomavam os postos de queridinhas da juventude – a ascensão da londrina TopShop, o apelo de massificação da Abercrombie & Fitch e contemporâneas marcas de streetwear como Supreme e Palace. O apelo, o desejo e o símbolo de status que a marca proporciona era cada vez menor.
As fashions trends e estratégias de marketing se desenvolveram e mudaram ao passar das décadas, era cada vez mais difícil para Diesel estabelecer uma comunicação com seu consumidor, sua missão (ou mensagem) se tornou pouco clara – até mesmo internamente. A marca perdeu sua oportunidade de participar do movimento de streetwear no seu ápice em meados de 2010, ou mesmo da volta da logomania na moda.
Em 2020, contudo, com um novo duo de diretores executivo e criativo, a marca já almejava sua volta. O novo CEO da Diesel, Massimo Piombini – ex-CEO da Balmain, que passou também por grifes como: Valentino, Bulgari e Gucci – decidiu juntar-se a marca, que diferente de seus trabalhos prévios não se trata de uma marca high couture, pois a mesma foi uma das primeiras marcas globais a terem um grande impacto nele quando mais jovem, Piombini sentia que a história e narrativa da marca precisava ser restabelecida para os consumidores de hoje.
Diesel FW 2022 (Foto: Reprodução/Marca)
Para ele, o problema não estava no produto ou na comunicação, mas na cultura da marca. Piombini, agora quer focar em modelos de jeans mais impactantes, enquanto investe rigorosamente em sustentabilidade.
Rosso, criador da marca, reafirma sua missão de recriar o antigo espírito da marca que a estabeleceu nos anos 80’ e 90’ ao contratar Massimo Piombini e Glenn Martens. “Essa é uma revolução cultural para a marca”, diz Massimo. Não só externamente como vimos em suas recentes coleções, desfiles e publicidade, mas também internamente, reestruturando os valores de base da marca entre seus funcionários e colaboradores.
Em novembro de 2021, a contratação do autêntico, inovador e promissor designer belga, Glenn Martens, seria a chave de ouro para a estratégica revolução da Diesel. Dono de sua própria marca, Y/Project, e sua impressionante colaboração com Jean Paul Gaultier. Martens atingiu o ápice dos holofotes e da criatividade este ano e foi nomeado como “most intriguing designer,” pela revista i-D. Sua contratação no ano passado foi um dos mais excitantes da moda e em resposta ao porque aceitaria a proposta na marca, Martens revelou ter um apego emocional pela Diesel, já que a mesma foi a primeira marca para qual juntava dinheiro para poder comprar’. Não é à toa que Martens consegue capturar a essência da marca, ao mesmo tempo que a faz novamente queridinha das celebridades e do público.
Vinte anos depois a gigante Diesel está de volta – e de forma literal, já que vimos sua grandiosidade representada por enormes bonecos infláveis, que por sinal vestiam Diesel, no seu mais recente desfile. A marca volta trazendo e protegendo seu DNA ao mesmo tempo em que o tenta melhorar ainda mais. O jeans volta a ser o centro das atenções e é apresentado das mais diversas formas – escultural, revelador e apertado à pele e largo, distressed, cintura alta e boyfriend. Além dos designs, a marca volta a entender que atualmente a relevância das marcas se baseia muito mais na ética do que na estética, mais do que somente os jeans, a marca era antigamente adorada pelas suas campanhas provocativas que abordavam política, sexualidade, raça e religião – a marca foi uma das primeiras a falar sobre minorias com suas campanhas que muitas vezes contavam com beijos gays, pessoas negras e a liberdade sexual da mulher.
Martens também tem como seu objetivo se engajar com a sustentabilidade, tornando o jeans menos poluente e levando essa sustentabilidade e circularidade ao consumidor. O desejo é levar a Diesel além do que ela já é, a tornando uma marca ainda mais divertida, sexy, experimental, atraente, prazerosa e provocante.
Glenn Martens no final do desfile da Diesel FW 2022 (Foto: Reprodução/Vogue Runway)
Desde que o trailer oficial de RebeldeNetflix (2022) lançou, comentários relacionando a nova geração da novela mexicana com o seriado Elite (2018 – atualmente) foram muito presentes. Isso se deve, principalmente, pela mesmice da Netflix em seus roteiros que dificilmente inova em suas produções adolescentes. A nova série é uma continuação da telenovela mexicana de 2004, dirigida por Santiago Limón, que também é o diretor do filme No, porque me enamoro (2020).
A atriz e produtora Cris Morena criou a novela argentina Rebelde Way (2002), estrelada por Luisana Lopilato, Camila Bordonaba, Benjamin Rojas e Felipe Colombo, juntamente à produção também foi formada a banda ErreWay. Por conta do grande sucesso foram desenvolvidos remakes da obra em outros países, como, por exemplo: México, Portugal, Índia e Brasil.
Rebelde(2004), foi a versão mexicana produzida por Pedro Damián, também diretor de Clase 406 (2002), e estrelada por Anahí (Mia), Alfonso Herrera (Miguel), Maite Perroni (Lupita), Christian Chávez (Giovanni), Dulce María (Roberta) e Christopher Uckermann (Diego), além da novela o elenco principal formou o grupo musical RBD, que se tornou a banda mais premiada do mundo.
Foto reprodução/ montagem: RBD (esquerda) e ErreWay (direita)
A Netflix produziu a sequência que se passa no mesmo universo de Rebelde México, que conta com a presença de personagens da 1ª geração como Celina Ferrer (Estefania Villarreal), que é a nova diretora do Elite Way School, e Pilar Gandía (Karla Cossío), a mãe da protagonista Jana Cohen (Azul Guaita). A ex chiquitita Giovanna Grigio interpreta Emília e o elenco principal também é formado pelo primo da Mia, Luka Colucci (Franco Masini), M.J. (Andrea Chaparro), Dixon (Jerónimo Cantillo), Sebas (Alejandro Puente), Andi (Lizeth Selene) e Esteban (Sérgio Mayer).
Após o gigantesco legado deixado pela banda, o EWS que, até então, era um colégio bem tradicional, aderiu o programa de música a sua grade escolar, e passou a realizar anualmente uma batalha de bandas em que o vencedor poderá ter um contrato com uma gravadora renomada.
Logo no começo do primeiro episódio, é possível notar o apelo a nostalgia ao iniciar a trama com uma conversa entre Jana e Pilar. A introdução de Dixon também trouxe lembranças de quando Giovanni ingressou no colégio, ambos pedindo para a mãe não chamar muita atenção e escondendo a verdadeira identidade, mudando de nome. A elite, assim como na telenovela de 2004, está sempre presente, desta vez através de Sebastian Langarica, o filho da próxima chefe de governo. Será que sua mãe será tão bruta como era León Bustamante com o Dieguinho?
Foto reprodução Netflix/ Emília (Giovanna Grigio) e Andi (Lizeth Selene) em cena
Os 8 episódios, que duram em torno de 40 minutos, garantiram um enredo leve sobre adolescentes com problemas de adolescentes. O desenvolvimento de cada personagem foi um tanto raso, assim como dos casais e das amizades. Os plots twists foram previsíveis e a história foi muito rápida separando-se entre a audição, a formação da banda e o final, talvez, por isso, não foi possível passar a audiência um vínculo de amizade entre os personagens. Assim que chegaram ao colégio os protagonistas já tiveram que se preparar para a batalha das bandas, com isso a relação entre eles gira em torno de desmascarar a seita e vencer a competição sem todo o envolvimento esperado entre as personagens.
O maior deslize da série foi a forma que a seita La Logia foi trabalhada. Tanto na versão original como na primeira geração mexicana, o foco da associação secreta era criar o terror com os bolsistas, uma guerra de classes entre os alunos de elite com os mais pobres, além das “pegadinhas” que eram agressões pesadas a ponto de quase matar. Em RBN a seita foi totalmente ridicularizada, ao invés dos bolsistas o novo alvo foram os novatos e o trote foi (alerta de spoiler) vestir-se com o uniforme dos RBD e fazer eles cantarem a música Rebelde. Esse foi, com certeza, um grande erro para para os fãs e para o que representava a La Logia e a problemática envolvendo o preconceito dos alunos de elite com os bolsistas que era retratada na novela.
Montagem/Reprodução
Mia Colucci foi o centro das referências. Entre algumas delas, por exemplo, M.J usa a estrela vermelha na testa e Jana o celular flip na bota. Por ser típico dos Colucci não apoiarem seus filhos no mundo musical, a história de seu primo, Luka, também se assemelha com a de Mia. Assim como Franco, Marcelo prefere que seu filho entre para os negócios da família ao invés de fazer música.
Mas e Roberta, Lupita, Diego, Miguel e Giovanni? Os outros RBD ‘s foram esquecidos pela Netflix? As referências foram poucas e até mesmo inexistentes, uma falta de consideração com os outros personagens e que causou grande descontentamento a muitos RBDManiacos.
Porém, o legado da banda foi muito bem retratado com a exposição na parede do corredor, os uniformes, prêmios, o chapéu de Salvame, fotos e alguns instrumentos. O mural, além de ser um bom incentivo para os alunos e validar o prestígio da banda para o Elite Way, é de longe o momento mais nostálgico e sentimental para todos os fãs.
Reprodução Twitter @rebelde_netflix
Pensando no público alvo, a atuação de maneira geral é mediana e nada surpreendente ou inovadora. Até mesmo Esteban (Sérgio Mayer) que possui um plot importante, tornou-se o menos interessante, devido a falta de expressão em quase todas as cenas. Mayer acabou se envolvendo em polêmicas dizendo que não gostava de RBD, o que causou certo aborrecimento com os fãs.
A Netflix também pecou ao não colocar uma interação entre Pilar e Celina. É de conhecimento dos fãs o trauma que Gandía tem em relação ao EWS, mas uma conversa de velhas amigas ou até mesmo um telefonema sobre Jana, que compareceu diversas vezes na diretoria, seria ainda mais nostálgico, mas quem sabe fique para a próxima temporada?
Ainda sem data de estreia, a segunda temporada foi gravada simultaneamente e com novos covers, como Besame Sin Miedo, novos personagens e a confirmação de todos os principais. Por mais que não tenha tido um gancho no último episódio, ainda é esperado que a história se aprofunde assim como o desenvolvimento de cada um, dos casais e também das amizades. A Netflix precisa sair da mesmice do roteiro de séries adolescentes e procurar inovar sem medo, RBN já conquistou o seu espaço e não é preciso forçar Rebelde México em seu enredo.