O prazo de validade da beleza: por que as pessoas estão com medo de envelhecer?

Nas décadas de 1990 e 2000 muitos filmes de dramas adolescentes, apresentavam ao menos uma cena que retratava algum jovem desejando ser, ou ao menos aparentar ser, mais velho por algum motivo. Quem não se lembra do clássico De Repente 30 com Jennifer Garner e Mark Ruffalo? 

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Fosse pela autoridade, respeito, sabedoria e reverência que era concedida aos mais velhos ou simplesmente pelo fato de que “ser adulto” era associado à possibilidade de possuir mais liberdades, envelhecer era como se fosse um troféu. Um selo de experiência e competência. No entanto, o que se tem observado nos últimos anos, é uma tendência contrária, pautada no intuito de voltar no tempo com a aparência. É como se envelhecer tivesse deixado de ser o curso natural da vida e se transformado em uma doença a ser combatida. A comunidade passou a ser movida pelo desejo de ser como Benjamin Button.

Em um contexto marcado pela volatilidade, transformação constante e que preza muito a flexibilidade e a capacidade de adaptação, tudo o que é considerado antigo é associado a desatualização e, consequentemente, preterido e ignorado. A tendência pela exaltação da juventude pode ter como um de seus pilares o fato de que esta parcela da sociedade é, aparentemente, a detentora do conhecimento necessário para se compreender o mundo atual. No passado, envelhecer era o desejo, porque significava passar a saber e entender o que os mais novos não sabiam, porém, nos dias de hoje, qual seria o motivo de desejar isso sendo que são os mais jovens os conhecedores do funcionamento das tecnologias que imperam no mundo globalizado contemporâneo?

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Nesse sentido, o desejo por se manter jovem passou a nortear não apenas os comportamentos das pessoas (que tendem a ficar ligeiramente mais infantilizados com a intenção de parecer cool e descolado), mas a guiar suas escolhas em relação à sua estética também. A aparência é considerada a maior responsável por “denunciar” os anos de vivência e é o primeiro alvo de ataques quando se tenta desmoralizar e desconsiderar alguém com base na idade (prática denominada etarismo); por essa razão, à beleza passa-se a atribuir uma espécie de prazo de validade que faz com que as pessoas pensem que não serão mais aceitas, nem belas no mundo atual a partir do momento que atingirem uma idade mais “avançada”.

De acordo com a psicóloga Natália Tozo, as pessoas têm sentido tanto receio em envelhecer, porque a sociedade não valoriza o processo de envelhecimento, veem os idosos como pessoas que não são mais produtivas e não valorizam sua história e seus saber. “Com a tecnologia veio o acesso rápido ao consumismo e a ideia de padrão de beleza. A indústria veio com muitas novidades e promessas de uma imagem de que ficar mais jovem traz mais aceitação. […] Claro que se cuidar é importante e faz bem para o ser humano, mais nada em excesso é saudável nem para a mente, nem para o físico.”, ressalta a profissional.

Sendo assim, inicia-se uma busca intensa por maneiras que mantenham a imagem livre de rugas, linhas de expressão ou qualquer tipo de marca que possa “entregar a idade”. O investimento cada vez mais intenso na busca pelo corpo perfeito e a vontade de se inserir em um dos muitos padrões sociais, comportamentos esses que representam a manifestação do angústia em envelhecer: “o medo também vem acompanhado de sintomas de ansiedade com alteração do humor, intercalando dias mais eufóricos com dias mais deprimidos, excesso de cobrança pessoal, tensão e uma sensação de que ‘se eu não der conta, sou um fracasso”.

Seguindo esse ritmo, procedimentos invasivos e não invasivos, suplementos e até mesmo medicações para impedir que o corpo externe os sinais começam a ser frequentes nos planejamentos das pessoas. No entanto, é importante entender quais são, de fato, esses sinais e como tratá-los corretamente e dentro do necessário. A médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Dra. Amanda Vilela destaca que os primeiros sinais que indicam a chegada da idade se manifestam a partir dos 30 anos, quando a produção de colágeno começa a diminuir: “A partir dos 30 anos, diminuímos nossa produção intrínseca de colágeno e iniciamos o processo de degradação dos fibroblastos. […] Começamos a observar uma diminuição leve da espessura da pele, e as marcas de expressão também já se iniciam.”.

Todavia, o processo de envelhecimento, apesar de natural, pode ser feito com mais qualidade que, a dermatologista explica ser envelhecer com as suas características, mantendo os seus padrões e de uma forma natural, “É as pessoas te observarem e falarem: “Você está tão bem, igual a quando te conheci! O tempo só te faz bem!”. Dessa forma, alguns cuidados podem ser tomados para que o avanço da idade torne-se mais leve: “Primeiramente, ter um dermatologista de confiança, um especialista com olhos treinados, técnica e know-how para saber o que indicar é fundamental. Deve-se investir em procedimentos que estimulem colágeno como Ultraformer3, Bioestimuladores, fios de PDO e pontos de preenchimento com ácido hialurônico e a toxina botulínica!”, recomenda Dra. Amanda Vilela.

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É válido destacar que, apesar de existirem meios que permitam que o envelhecimento ocorra com mais qualidade e menos impacto, ele ainda assim é um acontecimento orgânico, inato, por isso, todo receio exagerado em relação a ele precisa ser questionada e observada com atenção. De acordo com a psicóloga Natalia, o tratamento dessas questões deve vir, especialmente, por meio da sociedade, que precisa mudar a mentalidade de que a felicidade é um sentimento próprio da juventude: “envelhecer é um processo natural e precisa começar a ser aceito e respeitado, principalmente por quem está nessa fase. A aceitação e o compromisso começam com o sujeito e o olhar dele para consigo mesmo, para que ele não deixe que o olhar do outro o defina […] Sua saúde mental precisa estar em equilíbrio com seu corpo”.

Por fim, é importante ressaltar que valorizar os mais velhos não significa desmerecer o conhecimento da juventude dos dias de hoje, apenas não deixar que as inseguranças fundamentadas em padrões distorcidos impeçam a sociedade de apreciar o avanço da idade e todas as experiências e aprendizados que cada etapa pode trazer. A beleza não possui um prazo de validade, mas sim estágios de maturidade que são resultado da constante transformação natural.