86% dos profissionais transexuais sofreram discriminação no trabalho, diz pesquisa

Nesta terça-feira (28), foi celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Para dar ainda mais sentido a data, diversos estudos sobre esse público e eventos especiais foram realizados no mês de junho. Um levantamento inédito chamado “LGBTI+ no Mercado de Trabalho Brasileiro 2022” foi realizado pela Santo Caos com o objetivo de divulgar dados recentes e relevantes sobre esse tema, que ainda é pouco discutido.  

Um dos resultados mais alarmantes mostra que 65% dos profissionais LGBTQIA+ já sofreram discriminação no ambiente de trabalho e 28% deles já foram assediados. O índice de casos de discriminação é ainda maior quando analisadas apenas as pessoas trans e bissexuais: 86% e 72%, respectivamente.

Importante ressaltar que, de acordo com a classificação do estudo, a discriminação compõe todo o tipo de atividade preconceituosa, mesmo que feita de maneira velada, como piadas, ironias, comentários e insinuações jocosas. Já o assédio é o ato de ofender direta e explicitamente alguém por conta de sua característica.

O conteúdo completo se encontra no site da Santo Caos, uma instituição brasileira de consultoria em Diversidade & Inclusão. Para a pesquisa, a organização coletou informações de quase 20 mil trabalhadores de todas as faixas etárias, entre novembro de 2020 e abril de 2022.

LGBTQIA+ no mercado de trabalho

Somente 48% do público LGBTQIA+ se sente confortável para falar sua identidade de gênero ou orientação sexual para alguém no trabalho. As pessoas bissexuais são as que menos falam abertamente sobre sua orientação sexual (60%), seguida das trans (52%). Em conformidade, esses são os grupos com menores porcentagens na saúde emocional.

Já as que mais falam são as lésbicas (75%) e gays (69%).

Outro ponto de destaque é que apenas 8% dos líderes das empresas são pessoas

LGBTQIA+. O que talvez explique o índice é que este público costuma ficar aproximadamente 3 anos em uma companhia, já os não LGBTQIA+ permanecem nas empresas, em média, de 4 a 13 anos. Vale ressaltar que, de acordo com os dados da pesquisa, o público LGBTI+ têm renda média abaixo de quatro salários mínimos, frente a 36% das pessoas que não fazem parte desse grupo.

59% das pessoas LGBTQIA+ têm menos de 31 anos

Há uma maior concentração de pessoas com idade entre 25 a 38 anos. Em relação à população idosa, cerca de 3% das pessoas com 50 anos ou mais, são LGBTQIA+. Segundo um estudo da Carta Capital de 2019, esses indivíduos têm maiores chances de estarem morando sozinhos, de não terem filhos e de não apresentarem alguém para chamar em caso de uma emergência. Infelizmente, nem mesmo as instituições de longa permanência estão preparadas para receber a população idosa LGBTQIA+, pois são ambientes em que a violência e a intolerância contra essas pessoas são altas.

Ser quem você realmente é, ainda é um tabu

Entre as pessoas LGBTQIA+, 41% sentem que podem ser quem realmente são no ambiente de trabalho, entre os que não fazem parte desse público, o número sobe para 53%. Quanto maior o tempo de casa – no âmbito profissional, mais as pessoas LGBTQIA+ sentem que podem ser quem são (44% em menos de 6 meses e 64% a mais de 15 anos).

As minorias são maiorias

Há uma maioria de mulheres, pessoas negras, PCD e não brancos no grupo de LGBTQIA+. Das pessoas bissexuais, 71% são mulheres. Mais de 50% das pessoas trans/travestis, assexuais e outros são negras. Há uma baixa proporção de pessoas com deficiência e pessoas 50+ na amostra.

Pordeus e Viana (2021), enfatizam a necessidade de o indivíduo que sofre de discriminação e preconceito encontrar grupos com os quais se identifique, pois o apoio e o compartilhamento de experiências semelhantes são muito importantes entre os que dividem lutas específicas. Além disso, para que as minorias não se dispersem e se vejam vítimas do preconceito enraizado no seio social, elas precisam de proteção e força para superar os obstáculos e conscientizar a sociedade acerca de quão prejudiciais são os conceitos de distinção e segregação (que ocorrem quase de maneira automática nos contextos familiar e laboral).

No que diz respeito ao ambiente de trabalho, para que esse público se sinta mais acolhido e menos discriminado, é preciso promover uma cultura de diversidade, respeito e desconstrução. Algumas empresas já oferecem apoio psicológico, assistência jurídica para os que sofrem de LGBTfobia, folga remunerada para aqueles que estão fazendo transição de gênero, palestras para os funcionários da empresa sobre o tema e programas específicos de contratação. Mas é preciso que a maioria das companhias se mobilizem e façam essa transformação.

Urgência de ações

Segundo a pesquisa, mulheres lésbicas e homens gays são os grupos que mais acreditam ser importante priorizar o tema e, em conjunto com outros, são os mais interessados em participar. Em contrapartida, pessoas trans/travestis apresentam a menor porcentagem em ambas questões. O grupo acredita que o tema deve ser priorizado, mas não têm muito interesse em participar, isso porque eles não veem as ações como efetivas ou não se sentem representadas nelas.

Ainda assim, pessoas NÃO LGBTQIA+ se sentem menos preparados para lidar com diversidade e, ainda, não tem interesse em saber mais. As mesmas mostram-se pouco interessadas na temática de diversidade e inclusão, assim como, veem como menos prioritário, em comparação com pessoas LGBTQIA+.

“A leitura dos dados nos permite inferir que a rotatividade maior da população LGBTQ+ é consequência direta da discriminação e do assédio, que tornam o ambiente de trabalho mais tóxico para essas pessoas” comenta Jean Soldatelli, sócio-diretor da Santo Caos. “Essa informação trazida pelo estudo corrobora a urgência de ações que promovam diversidade e inclusão nas empresas, criando melhores condições para esse grupo manter suas atividades profissionais”, finaliza.

Não só nas empresas, mas em todos os ambientes existe a necessidade de pessoas NÃO LGBTQIA+ se interessarem sobre a diversidade e inclusão, pois somente dessa forma enxergaremos mudanças políticas, sociais e culturais em todo o movimento.