Tudo sobre a polêmica da base de 200 reais de Virgínia Fonseca

Não é nenhuma novidade que a internet democratizou o acesso à informação, ao entretenimento e à comunicação. Entretanto, para além disso, ela também abriu portas para que muitos anônimos ascendessem ao posto de subcelebridade, ganhassem uma certa fama e, dessa forma, assumindo o codinome de “influenciadores”, utilizassem sua imagem, sua voz e seu discurso para venderem histórias, produtos e, às vezes, a si mesmos. 

Em meio a tantas publicidades, pode surgir o pensamento: “Se vendo o dos outros, por que não vender o meu?” e, então, apostando na faceta de empreendedores, muitos passam a “desenvolver” seus próprios artigos, encontrando mais um ramo para monetizar. No entanto, há algumas situações em que parece que o influencer tem um lapso de memória e passa a desconhecer seu próprio habitat, pois, aparentemente, esquecem que a internet que deu a eles a notoriedade é a mesma que vai cobrar deles coerência e qualidade no resultado. 

De acordo com os especialistas em marketing, branding e posicionamento digital, ao lançar um produto no mercado, há uma série de fatores que guia a maneira como ele será divulgado e, resumindo muitos deles, chegamos ao quarteto fantástico: público-alvo, percepção de valor, preço e qualidade. “Público-alvo” é um termo bastante intuitivo e diz respeito a quem são as pessoas que a empresa deseja atingir, baseando-se na faixa etária, ocupação profissional e também no poder aquisitivo, ponto que está diretamente ligado à  “percepção de valor. Essa gira em torno do ideal que se constrói acerca da marca, com base no estilo de vida que ela busca representar desde sua propaganda, passando pelas cores, fontes e até linhas do design escolhidos para seus produtos; quanto mais luxuoso o imaginário, maior a percepção de valor. Isso, consequentemente, nos leva ao fator “preço”, que, obviamente, é diretamente influenciado pela valorização que uma empresa tem, ou ao menos deveria ser, já que não faz quase nenhum sentido cobrar um ticket alto de algo que sempre foi construído e voltado para quem pode pagar um ticket baixo/médio. Por fim, juntos, esse trio possui um peso direto no que o público vai esperar do quarto elemento: a qualidade. Não é dizendo que se um produto é barato, é aceitável que seja “ruim”, de forma alguma; dinheiro é dinheiro e só quem pagou sabe o quanto aquela quantia realmente lhe custou. Contudo, quando se trata de um artigo de preço elevado, logo se identifica a boa qualidade como uma de suas causas disso, porque se infere que esse valor representa o combo boa matéria-prima + processo produtivo seguro + uma mão de obra altamente qualificada.

Depois de ter toda a questão de marketing contextualizada, vem a pergunta: e quando não nos deparamos com essa coerência? Nada melhor que um hot topic para ilustrar!

Na última semana a internet ferveu: primeiro de curiosidade, depois de espanto e, por fim, de raiva! Mas, calma, que não foi uma revolta sem “base”… na verdade, tudo começou por causa de uma! A influenciadora digital Virgínia Fonseca anunciou, no último dia 4, o lançamento do mais novo produto de sua marca, We Pink: uma base que, de acordo com a propaganda, não se trata apenas de um cosmético, e sim de uma dermomake – conceito (questionado por alguns dermatologistas) utilizado para se referir a maquiagens que também tratam a pele. 

O furor de curiosidade foi causado principalmente por se tratar de Virgínia, que é, atualmente, um dos maiores nomes do mercado digital do país, com uma das taxas de conversão mais altas, de acordo com especialistas de marketing – ponto facilmente notado quando se olha para sua a marca, inicialmente voltada ao skincare, que, apesar de não estar no mercado há muito tempo, já apresenta um crescimento considerável. 

A segunda fase, o espanto, custou duzentos reais: o preço cobrado pelo produto. O público, em sua (esmagadora) maioria, ficou surpreso com o alto valor de uma “make de primeira viagem” de uma marca que, apesar de ser voltada para o ramo da beleza, nunca havia investido no nicho específico de maquiagem antes. 

Já a raiva –  sentimento que se mantém até o momento – foi resultado do fator crucial que, de acordo com grande parte das pessoas que se dispuseram a testar, o produto deixou de entregar: a qualidade. A cada três resenhas feitas por maquiadores profissionais, três reprovaram o produto, e a cada três resenhas feitas por consumidores “leigos”, o mesmo aconteceu também. Entre críticas à cobertura e vídeos da base “se desfazendo” nos famosos testes de água e transferência, mesmo gastando muito tempo rolando o feed e lendo comentários, é difícil encontrar elogios.

Toda essa sequência de acontecimentos, quando analisada mais a fundo, dá margem a uma série de considerações que vão muito além do tópico “maquiagem”. A metáfora da curiosidade, espanto e raiva, servem de trampolim para questionamentos sobre se, de fato, os influenciadores estão investidos em suas empresas e também sobre o quanto eles levam seu público em consideração. Tomando por exemplo o caso da Virgínia e toda a contextualização feita no início desse texto, diversas problemáticas podem ser apresentadas: 

1 – Falta de relação com público-alvo: 

Virgínia tem milhões de seguidores, mas não seguidores que ganham milhões. As pessoas que acompanham a influenciadora são, em sua maioria, jovens e adolescentes dependentes dos pais, de classe média/baixa e que a conheceram e se identificaram não por conta de nenhuma ligação com o universo da beleza, maquiagem e afins, mas por conta da espetacularização bem-humorada e à lá reality de seu cotidiano que, apesar de ainda muito diferente e distante da realidade de muitos de seus seguidores, era revestido por uma simplicidade de comunicação e uma ausência de “montação”. A fidelização por meio do carisma abriu caminho para a criação de um negócio que, apesar de bem-sucedido, gera uma dúvida: foi feito pensando em beneficiar o público ou em se beneficiar do público?

2 – Ruído de percepção de valor: 

Como já foi dito, apesar da rotina distinta da maioria do público, a simplicidade é o que fazia esse mesmo grupo se aproximar. Ao analisarmos toda a carreira de Virgínia, percebemos que o que a diferencia de muitos outros grandes influenciadores é justamente a ausência de “montação”: os “bons-dias” tão famosos com a filha no colo, uma dancinha e a xícara de café na mão, e a rotina que ela sempre mostrou não era a de manhãs, tardes e noites com maquiadores e hair stylists à disposição. Ela pode ter acesso ao luxo, mas não construiu seu imaginário e nem o de sua empresa em torno disso. Se observarmos a estética da We Pink, percebemos esse mesmo padrão: as cores são femininas, acessíveis e divertidas; a fonte possui linhas arredondadas e sem serifa, o que comunica muita modernidade… tudo muito diferente do universo de luxo que é sempre tão mais neutro e tem parte de seu status enraizada no zelo pelo tradicional. 

3 – Divulgação como dermomake, mas que não é tão dermo assim: 

Outro ponto de controvérsias foi a respeito da grande divulgação da base como sendo uma dermomake, termo utilizado para se referir a produtos cosméticos que, além da estética, também prometem tratar a pele. O impasse, nesse caso, se deu pelo fato de muitos profissionais da área da beleza e saúde dermatológica argumentarem que os efeitos de tratamento de produtos como esse são mínimos e, por conta disso, as expectativas criadas em torno deles acabam sendo exageradas e facilmente frustradas. Isso fez com que se levantasse um questionamento sobre a real capacidade do produto entregar o que promete.

4 – Polêmica envolvendo um suposto desmerecimento do mercado nacional:

Ainda envolvendo a divulgação, uma fala da influenciadora e empresária fez a lista de críticas se prolongar. De acordo com Virgínia, sua base seria como as “gringas”, já que não há nenhuma maquiagem com esse nível de qualidade no mercado nacional. Isso foi interpretado pelas pessoas como sendo um desmerecimento para com as marcas produzidas no Brasil e uma falta de respeito com as figuras desse meio. A fala da influencer se mostrou controversa por, mesmo que acidentalmente, reforçar um estereótipo que há muito tempo a produção nacional luta para se livrar: o que de que apenas o estrangeiro é bom e só o de fora tem qualidade, como se ainda fossemos um país com capacidade insuficiente.  

5 – Promoção controversa uma semana depois do lançamento:

O último grande causador de revolta nas redes sociais foi o fato de que Virgínia, uma semana após o lançamento da base, fez uma promoção de seus produtos: ao comprar um perfume, o cliente ganhava outros cinco produtos de sua marca, incluindo… a base. Para muitos internautas isso foi um desrespeito a quem adquiriu a make logo que foi lançada e pagou um valor não tão simbólico por ela.

Por fim, esse cenário de reclamações, críticas e cobranças por parte dos consumidores serve como um grande demonstrativo de que o empreendedorismo não se importa se uma pessoa já tem fama, seus altos e baixos podem afetar todo mundo, seja famoso ou anônimo, iniciante ou já consolidado. Estar preparado para a inconstância é uma exigência básica para quem quer assumir o posto de empreendedor, já que a própria palavra, em sua origem (ligada à palavra “entrepreneur”), significa “aquele que assume riscos e começa algo novo”. No entanto, é preciso estar ciente de que esses riscos não são sempre confortáveis e até mesmo o novo precisa ser encarado com resiliência, revisão e cuidado. O público, mais do que nunca, tem se tornado cada vez mais consciente de sua força, de seu poder e de seu valor, e se aproveita disso para constantemente cobrar uma boa postura daqueles que lhes oferecem produtos, serviços e buscam um lugar no mercado. 

Por dentro dos produtos multifuncionais de beleza

Os cuidados com a beleza já fazem parte do dia a dia, e para isso, a utilização de diversos produtos se tornou algo natural para muitos. E seria um sonho conseguir manter a rotina com mais rapidez, praticidade e produtos de bom custo benefício.

Para ajudar nessa missão, cada vez mais as marcas apostam no lançamento de produtos multifuncionais. Disponíveis para cabelo, rosto, corpo e maquiagem, são soluções mais utilitárias e sustentáveis, que alinham múltiplas funções e ações – normalmente presentes em 2 ou mais produtos – e diferentes ativos em um único cosmético, além de contarem com novas tecnologias agregadas.

Vale apostar em cosméticos multifuncionais?

A ideia não é nova, e é provável que você já tenha utilizado, mesmo sem perceber. Mas se fortaleceu na necessidade em priorizar saídas mais eficientes, funcionais e menos complicadas. Soma-se a isso o  aumento nas buscas de ideias compatíveis com  conceitos de compra inteligente, negócios com impacto e minimalismo, já que o consumo desse formato diminui produção de  embalagens, consumo exacerbado de beauty products , além da vantagem financeira que um 2 em 1 oferece, tanto para o produtor – que otimiza aos custos de produção de dois ou mais cosméticos – quanto ao consumidor. Todos esses fatores mostram que a tendência é o aumento na demanda de multifunções e que vale sim, experimentar.

É sempre importante , porém, se atentar aos ativos combinados  e compreender as vantagens e desvantagens que cada um deles traz a você. Entender se o cosmético realmente funciona para seu tipo de corpo, rosto ou cabelo, e até mesmo se  possível combinação com mais soluções pode causar efeito reverso ou anular os benefícios. Aliar o uso a consultas com especialistas é sempre a melhor opção.

Selecionamos alguns itens incríveis para conhecer:

Óleo Multifuncional Kálice Inoar Cosméticos

O produto alia vitamina E com 7 óleos vegetais e pode ser aplicado no cabelo (sozinho ou misturado ao shampoo, condicionador ou máscara), rosto e corpo. R$72,90

Sérum Uniformizador Sallve

Usado para o tratamento de hiperpigmentação de todos os níveis e em todos os tipos de pele (inclusive as mais sensíveis). Eficaz contra olheiras, manchas e linhas finas, pode ser usado em corpo e rosto. R$89,90

Base Tint Alta Cobertura Quem Disse, Berenice?

Base que garante 12 horas de duração. Além de corrigir a pele, tem fórmula hidratante, que previne oleosidade, protege dos raios solares e luzes de aparelhos eletrônicos. R$74,90

Palette Multifuncional Intense O Boticário

Paleta com 8 tons rose acetinados, que podem ser utilizados com sombra, blush e bronzer. R$89,90

Creme de Limpeza Derco Sensi Care

Indicado para todos os tipos de cabelo e sem sulfatos e parabenos, substitui shampoo e condicionador. Limpa, hidrata, produto e acalma cabelos mais sensíveis. R$116,30

Creme Multifuncional Yamasterol

Sem parafinas e silicones, pode ser usado por todos os tipos de cabelo como creme sem enxágue, co-wash, pós shampoo e misturado com máscaras e óleos hidratantes. R$4,95

Bastão Multifuncional com Cor Ollie

Protetor solar em bastão que protege e cuida da pele, enquanto oferece cobertura de manchas, inclusive de melasma. R$129,00

Stick Tudo Vic Beaute

Disponível em 5 cores e, com textura cremosa, funciona como batom, blush e sombra e possibilita diversas camadas de aplicação, ara resultado mais ou menos sutil. R$129,00

Lápis Delineador Avon

Colorido e versátil, o produto pode ser utilizado nos olhos ou na boca, e permite efeito marcado e esfumado. É resistente a água, suave, hidratante e não tem fragrância. R$10,99

Artificialmente natural

Quando o assunto é maquiagem, é quase impossível evitar a viagem nostálgica que leva as pessoas de volta às tendências do passado. Seja o visual pin-up dos anos 1950, marcado pelo delineado “gatinho” e batom vermelho, ou talvez as sobrancelhas finas, sombras cintilantes e lábios glossy dos anos 2000 (que, inclusive, é a nova febre, que surge em uma estética denominada de Y2k); uma rápida olhada para trás nos permite ver o quanto as ideias de “belo” mudaram com o passar do tempo.

Imagem: Reprodução Pinterest

Nesse sentido, ao observar a transição de ideais da última década (2010 – 2020) encontra-se uma mudança curiosa e quase extrema. Durante o início da década de 2010, o côncavo marcado, o blush bem rosado e o famoso batom snob (aquele rosa quase branco), eram o verdadeiro sucesso; pouco depois, por volta de 2014, surgiu a técnica cut-crease, que por meio de uma mistura de cores, criava uma produção carregada e marcante. Já em 2016, uma nova estética se tornou o desejo da vez e se estendeu até o fim da década: o famoso visual “Kardashian”. Nele, a festa de cores foi substituída por tons neutros e a marcação que antes acontecia nos olhos, foi transferida para a pele (que passou a ser carregada por meio do uso de base, corretivo, pó, contorno, blush e iluminador) e para os lábios, que passaram a ser contornados para criar uma verdadeira ilusão de ótica e simular um aumento de volume.

Imagem: Reprodução Pinterest

No entanto, com a virada da década parece que também houve uma virada no padrão: surgiu a “make beauty” (maquiagem embelezadora, em tradução do inglês), que tem por base o contrário de tudo o que foi visto até então. Ela usa sim elementos artificiais, mas tudo com o intuito de criar imagens naturais. De acordo com Sabrina Ataide, maquiadora e especialista em maquiagem beauty, o conceito dessa nova “linha” é definido como sendo um conjunto de técnicas e estilo de maquiagem que evidenciam a beleza natural, respeitando os traços e a individualidade de cada um, “É embelezar sem transformar!”.

A expert ainda aponta que as demandas por esse tipo específico de produção mais leve e natural se deu de forma mais intensa nos últimos anos como reflexo dos tempos de pandemia “Acredito que a maquiagem é arte, e todo movimento artístico acompanha o comportamento social e de consumo. Nesses últimos anos, como reflexos de tempos de Covid-19, as pessoas têm se preocupado cada vez mais com sua saúde e bem-estar, o que as levou a se atentar mais às compras de beleza”. Dessa forma, em um cenário anteriormente dominado por grandes mudanças e um contexto em que quem conseguisse transformar mais era considerado o mais competente, Sabrina ressalta que essa mudança de preferências pode ter se dado pelos novos hábitos adquiridos. De acordo com ela, o uso de máscaras, por exemplo, contribuiu com o destaque dado aos olhos com o uso de técnicas como delineado “gatinho, holográfico e smokey eyes coloridos; além disso, a pele fresh se tornou preferência, justamente por ser mais leve e natural, o que vai totalmente “contra” o estilo Kardashian de maquiagem, que usava – e muito – de técnicas de contorno facial.

Se tratando dos motivos que podem ter levado o público à busca pela “leveza”, é inevitável pensar nisso como uma das repercussões das circunstâncias criadas pela pandemia. Os dias incertos serviram, para muitos, como um momento de reflexão e de (re)conexão consigo mesmos e com suas formas, belezas e traços naturais. As pessoas aprenderam a se enxergar novamente como são, sem o peso de se sentirem pressionadas a alterar quem são para se exporem ao mundo, e passaram a admirar isso também.

Assumir a desnecessidade de transformação funcionou como um escape, uma forma de liberdade em um período de restrições. Mesmo que a maquiagem embelezadora continue sendo um jeito de manipular a aparência, isso acontece de maneira mínima, justamente com a intenção que o próprio nome já carrega: apenas ressaltar o que já é belo. Para a maquiadora Sabrina, o porquê da afeição atual por esse tipo de visual se baseia no desejo de ter uma imagem saudável e que expresse a valorização do autocuidado: “O visual ‘limpo’ corresponde ao movimento de conscientização de autocuidado pós-pandemia, ou seja, as tendências de maquiagem se direcionaram a presentar um ‘ar saudável’ e bem cuidado. Então, hoje em dia, ter uma pele viçosa e com acabamentos mais naturais, que conferem um ar de saúde e elegância, transmite a mensagem de ‘estou em dia com meu autocuidado’”.

Imagem: Reprodução Pinterest

Entretanto, ainda nos encontramos em um mundo extremamente globalizado, que cria tendências que se espalham tão rapidamente quanto um piscar de olhos, por isso não se pode descartar a possibilidade de que a busca por transformação retorne. Basta uma ligeira olhada para o crescimento da estética Y2K para sentir que há novos desejos à vista. Nessa lógica, Sabrina destaca que acredita que tudo é possível: “Quando eu penso em comportamento social, moda e estilo, acho que tudo é possível. Os comportamentos sociais são sempre cíclicos, então acredito que possam voltar sim, porém, de uma forma repaginada, até porque o marco deixado pela pandemia é irreversível.

Para mais, ela afirma que a nova tendência à naturalidade levou as pessoas a se interessarem pela composição e nocividade de alguns ingredientes utilizados na indústria de beleza, no entanto, se as marcas se mantiverem transparentes em relação à produção, uma nova mudança não seria um grande problema e finaliza: “Confesso que até gosto da ideia de mudar e inovar, afinal de contas, maquiagem é arte e expressão do indivíduo; não dá pra colocar em uma caixinha”.

Por fim, até mesmo a beleza e as maneiras de implementá-la representam momentos e movimentos da história, sendo a crescente valorização da make beauty um deles, pois como já foi mencionado, esse novo conceito tem relação com a busca por uma aparência naturalmente saudável que surgiu como reflexo da pandemia enfrentada recentemente. Dessa forma, seja mais intensamente, com a intenção de criar uma máscara e transformar o exterior, seja para apenas ressaltar a beleza inata de cada um, o uso de elementos artificiais, como a maquiagem, não deixa de ser uma ferramenta útil para traduzir o espírito do tempo vivido, sendo o atual o da exaltação do – artificialmente – natural.

Autoestima e beleza no Dia dos Namorados

Em datas comemorativas, é comum que as pessoas curtam fazem produções e celebrar em grande estilo, e no Dia dos Namorados, isso não é diferente. Para muitas, um dia de selfcare nunca é demais e nós da Frenezi pensamos o mesmo. Porém, o problema mora quando este autocuidado tem como única intenção agradar seu amado ou amada.

Não nos leve a mal: não há problemas em agradar a quem você ama, mas quando há um exagero em mudar sua aparência por outra pessoa que não seja você, sua autoestima pode ser afetada. Em muitos filmes e séries como Sex And The City (1998), Bridgerton (2020) ou até mesmo nos contos de fadas, as personagens principais sempre estão em busca de seu grande amor – e sua beleza também está muitas vezes ligada a o que esta terceira pessoa pensa. E é aí quando a autoestima pode começar a ficar abalada. 

“Eu sou alguém que está procurando por amor. Amor de verdade. Ridículo, inconveniente, consumidor, não-consegue-viver-sem-o-outro tipo de amor” Reprodução: HBO

A autoestima

Em diversos comerciais de beleza no ‘mês dos namorados’, a linha de raciocínio é a mesma, de que você precisa de alguém amado neste dia. Porém, em questões de autocuidado, o dia dos namorados é tanto para quem está em algum relacionamento quanto para quem está solteiro: não há motivos para ficar para baixo e não cultivar o amor próprio se você não tem algum interesse romântico rolando.

Talita Belém, 36, nos conta que adora se arrumar pro dia dos namorados. “Acho que é uma data especial, que você compartilha com quem você está todos os dias e, por ser uma vez ao ano (como as outras datas), vale fazer um esforcinho a mais pra quem a gente gosta e, no final, nem se torna um esforço.”

Maria Julia, 20, compartilha conosco um pouco dessa visão dos dias atuais: “Eu acho que, querendo ou não, no dia dos namorados as mulheres querem se sentir mais bonitas, comprar uma lingerie especial, essas coisas. Acho que tem muito disso sim. Eu não me arrumaria toda (hoje em dia). Acho que isso é mais em começos de namoro, em casais que não têm tanta intimidade.” 

O que é o caso de Daniela Santos, 26, que costumava se arrumar sempre em seu antigo namoro. “Eu me produzia toda, sempre pra agradar ele. Virou um ciclo vicioso, não me aceitava natural, sem maquiagem”, diz ela. “Chegava o dia dos namorados, a gente costumava sair, então eu sempre fazia as unhas antes, me maquiava em casa, arrumava cabelo, pensava numa roupa e às vezes até comprava uma nova! Comecei a não ficar mais desarrumada perto dele.” completa.

De pouco em pouco, a autoestima pode ir acabando nesses casos e começa a ser difícil de recuperá-la – mas nunca impossível! Por isso, pensamos numa rotina ideal para quem quer celebrar o amor próprio – ou até mesmo voltar a tê-lo – por meio da beleza neste dia especial.

Cuidando de seu grande amor: você!

Reprodução: Instagram (@badgalriri)

Primeiro: é sempre bom lembrar-se que este dia celebra o amor e, dentre todas as formas de amor, também está o amor próprio. Seja para quem vai ficar em casa ou quem irá sair para algum date ou festa, começar o dia com um banho quente e relaxante ajuda a aumentar o astral. Fazer uma hidratação nos cabelos, esfoliar a pele, utilizar óleos de banho e máscaras faciais: tudo vale no skincare. Após o banho, se presenteie com uma massagem com seu creme favorito, deixando a pele sempre macia e cheirosa.

Reprodução: Pinterest

Para as que são do time de se produzir: não tenha medo de ser feliz. Maquiagens temáticas ou básicas, apostando no novo – como um chamativo batom vermelho, vinho ou preto (alô, Rihanna!) – ou na produção que você mais gosta podem te ajudar a se sentir mais bela do que nunca. Testar um novo penteado, uma nova nail art enquanto ouve alguma de suas músicas favoritas pode ser um ótimo ritual para distrair o corpo e a mente.

Por fim, agora que você está pronta, caso você decida ficar em casa, prepare um prato especial, uma sobremesa gostosa e curta sua ótima companhia ao assistir um filme. Ou se você é do time das que gostam de sair: partiu! Seja sozinha, com amigas ou alguém especial, você estará exalando amor próprio e qualquer lugar irá se tornar incrível. E aí, quais seus planos pro dia dos Namorados?

Beleza no audiovisual: O papel da caracterização nas artes cênicas

Em 1981, o aclamado O Homem Elefante de David Lynch saiu do Oscar de mãos vazias, apesar de suas 8 indicaçoes. A indignação da crítica com a falta de reconhecimento da Academia ao filme foi tamanha, especialmente pelas técnicas impactáveis de caracterização que a película mostra, que a Organização estruturou a nova categoria para premiar profissionais de cabelo e maquiagem.

A caracterização desperta atenção dos espectadores e tem seu espaço próprio nas grandes premiações. Mas muito mais que uma categoria no Oscar, é um importante elemento na narrativa de uma peça, produção cinematográfica e televisiva ao complementar outros aspectos e pode ser até mesmo ser parte ativa na história de um personagem.

Breve história sobre a maquiagem cênica

O teatro se popularizou na Grécia Antiga e, ainda que peças fossem encenadas com as famosas máscaras de Comédia e Tragédia, existem evidências de que chumbo branco e vermelho, material extremamente tóxico, chegaram a ser utilizados na época como parte da caracterização de atores. Na Europa, com o passar dos séculos, a maquiagem passou a ser bastante utilizada por atores – ainda que fosse discriminada pela Igreja, principalmente na Idade Média – até ser plenamente aceita no século XX e a função de maquiador ser vista como profissão. 

Mas foi no oriente que a técnica se popularizou. Os shows de encenação chineses tinham os “cara pintada”, figuras que como o nome já indica apareciam com rosto inteiramente pintado de branco. Já no Japão, os tradicionais teatros Kabuki se utilizavam de forte maquiagem (kumadori) para encenar personagens e mostrar símbolos.

Em Hollywood, a família Westmore revolucionou a área. O britânico George Westmore fundou o primeiro departamento da área no local e seis de seus filhos trilharam o mesmo caminho, cada um deles liderou trabalhos nos maiores estudos e foram responsáveis por clássicos como Rebecca, E O Vento Levou, Casablanca, Guerra dos Mundos, Sabrina entre outros. Já são quatro gerações de atuantes no segmento.  Um dos integrantes mais recente, Michael Westmore já ganhou 9 Emmys e 1 Oscar por Marcas do Destino.

O papel da caracterização no cênico

Primeiramente é importante entender as diferenças entre maquiagem para TV, cinema e palco.

No que diz respeito à maquiagem, existe uma diferença importante entre o que é visto na tela e o que é visto pessoalmente. O maquiador de Cinema e TV se preocupa com os mínimos detalhes, principalmente com a tecnologia de alta definição. Qualquer falha ou exagero é visível. Principalmente no cinema, onde a tela é gigantesca e as proporções aumentam drasticamente. Já no teatro, quanto mais você destacar e exagerar, mais será possível o público enxergar a arte e as expressões. Mesmo que esteja sentado nas últimas poltronas.”, aponta Mirella Oliveira, maquiadora de cinema e fundadora do portal Maquiagem No Cinema.

Por conta disso, as técnicas utilizadas também, se diferem.

[…] as técnicas de envelhecimento costumam ser diferentes para teatro e vídeo. No vídeo, a preocupação é sempre com o realismo, o espectador não deve enxergar a maquiagem. Geralmente são utilizadas técnicas de efeitos especiais (que envolvem próteses, produtos químicos que encolhem a pele, próteses capilares e de pelos postiços, lentes de contato e até próteses dentárias). Já no teatro é mais comum o uso de técnicas de luz e sombra e perucas, que, mesmo de longe, podem ser vistas. As marcas e linhas de expressão podem ser feitas através de um jogo de cores, gerando um efeito de ilusão de ótica. Além disso, no cinema e na TV, as cenas são rodadas diversas vezes, em ângulos diferentes, muitas vezes numa cronologia diferente do roteiro e, por fim, são editadas.  As maquiagens podem ser retocadas a cada corte de câmera e existe uma preocupação com a continuidade de cenas. No teatro, tudo acontece ao vivo.”

O papel da maquiagem é, em conjunto com outros elementos, comunicar a narrativa proposta para a produção. Por meio da caracterização entendemos não apenas a aparência do personagem – no sentido mais literal – mas seu espírito, ambiente, motivações e impressões. A maquiadora completa: “A criação de um personagem parte da concepção de suas características físicas e psicológicas descritas no roteiro, somadas à construção estética por parte dos departamentos de arte, figurino e caracterização, trazendo elementos físicos que contribuem para a atuação. Os personagens são criados a partir desta somatória de especialidades e a caracterização é, na minha opinião, tão importante quanto as demais.”

Moonrise Kingdom, de Wes Anderson, conta a história de dois pré-adolescentes que se sentem deslocados em seus meios, e após se conhecerem em uma apresentação de teatro, se apaixonam, passam a trocar cartas e decidem fugir. Suzy Bishop, a jovem protagonista do filme, é vista por seus pais como depressiva e problemática. A personagem usa maquiagem mais escura nos olhos e o cabelo levemente bagunçado, que trazem ar rebelde, impulsivo, uma certa tentativa de parecer madura no meio de adultos disfuncionais, e contrastam com o ambiente aparentemente harmônico (e um tanto exaustivo) que a garota vive. Suzy é o ponto fora da curva da família, é não apenas compreensível, mas perfeitamente planejado, que seus elementos visuais fujam do senso comum dos locais que passam.

Esse é só um exemplo de trabalho dentro de produções cinematográficas, trabalho de caracterização do filme é reconhecido justamente por carregar tantos simbolismos dentre outros presentes em roteiro, trilha e direção de arte.

Com tudo isso, é fácil notar quer  trabalho que equipe de maquiagem de uma produção é mais complexa do que pode-se imaginar, visto que a caracterização é um elemento essencial para se contar uma história e deve ser minuciosamente pensada para atender o plataforma que a história é contada, fazer sentido para toda a equipe envolvida, ajudar atores no processo de encenação e abraçar todas as características de um personagem.  

Mirella concorda: “Eu mesma só fui entender a proporção da importância do maquiador quando realizei meu primeiro trabalho em um set. Até então, como espectadora, eu acreditava que as pessoas estavam daquela forma por mero acaso e que o maquiador de cinema só cuidava das grandes transformações. Quando entendi que tudo é estudado nos mínimos detalhes, desde os figurantes até os protagonistas, e que cada um desses elementos é minuciosamente pensado e criado, me fascinei! E é essa a minha iniciativa com o portal, contribuir para que o mundo entenda a importância do nosso trabalho. Questionar o porquê de, na maioria das vezes, os créditos do maquiador estarem entre os últimos a serem apresentados, enquanto o figurino, por exemplo, é um dos primeiros. Não os desmerecendo, muito pelo contrário. Ambos são importantes, na mesma proporção.”

Quando a beleza sai do audiovisual

Muitas vezes o trabalho é tão marcante que ultrapassa as barreiras da tela não somente como fantasia (o que sempre foi bastante comum) mas como parte da vida de seus espectadores.

O exemplo recente – e já clássico – é o de Euphoria. Por um lado, temos Cassie, uma personagem cuja beleza é um elemento de autoaceitação tão grande que se torna quase uma tortura. A jovem acorda de madrugada para seguir longo processo de skincare, e se certifica de estar sempre chamando atenção, linda, sexy e adequada mesmo que isso a coloque em um lugar destrutivo O ritual da personagem, porém, viralizou nas redes e hoje é fácil encontrar postagens que explicam e ensinam os passos.

Esse é só um exemplo da influência que a série tem no meio. As produções estilo Euphoria (delineados ousados, cores, pedras, brilhos) hoje são comuns de se ver, e a maquiadora do show, Doni Davy, lançou uma linha de beleza. Além disso, outras produções também inspiraram linhas de beleza em parceria com marcas de cosméticos, como Bridgerton, Stranger Things, Pantera Negra e Capitão América.

Euphoria. Imagem/Reprodução HBO

Alguns trabalhos marcantes

Destaque

Conheça o artista: Thamires Ribeiro

Texto por: Alexandre Araujo.

Nesta semana, o quadro ‘Conheça o Artista – FRENEZI X Projeto Orgulharte’ chega ao fim e apresenta a última artista do projeto universitário carioca em parceria com a revista: Thamires Ribeiro, de 21 anos. 

Nascida em Minas Gerais e atual moradora de São Paulo, a artista é formada em maquiagem profissional. Contudo, as práticas e habilidades não se resumem apenas nisso. Conheça mais sobre a mineira. 

O interesse e admiração por maquiagem vem desde muito cedo, quando ainda era apenas uma criança. Thamires conta que sempre foi fã da cantora Lady Gaga e admirava a forma em que a artista se expressava de forma autêntica e segura de si mesma. “Eu amava todas as suas maquiagens excêntricas e chamativas”. Já atualmente, a inspiração vem de mulheres empoderadas, além de Tom Savini, um famoso maquiador, técnico em efeitos especiais de cinema, ator e cineasta norte-americano.

Como nem tudo são flores, a maquiadora enfrentou diversos desafios ao longo desses anos como profissional. Ela conta que o maior desafio foi no começo da pandemia, em 2020. “Foi um momento muito complexo onde eu enfrentei a síndrome do pânico e recebi meu diagnóstico de transtorno bipolar. Eu não conseguia clientes por não ter condições de trabalhar e, além disso, as clientes não tinham razões para me contratar, já que não tinham eventos durante a pandemia”, contou. 

Em contrapartida a isso, a jovem relatou que mesmo diante às barreiras e dificuldades, percebeu que é capaz de ser uma grande maquiadora. “A maquiagem, pra mim, é a minha forma de me expressar”, completou.

Confira a entrevista com Thamires Ribeiro:

  1. Quem é Thamires Ribeiro?

Sou formada em maquiagem profissional, mas também faço maquiagens artísticas, como a criação de personagens, Drag Queens, maquiagem de terror e sfx (próteses cênicas e efeitos especiais).

  1. Acha que a sua sexualidade interfere ou pode interferir futuramente nos seus planos/carreira? 

Acredito que minha sexualidade interfira em algumas questões. Por ser bissexual, a sociedade leva em conta de que sou apenas uma pessoa “confusa”. Alguns clientes já cancelaram comigo assim que souberam da minha sexualidade. Segundo eles, eu iria dar em cima.

  1. A indústria brasileira da sua área, na sua concepção, vem acolhendo a diversidade?

Acredito que, por ser um trabalho na área da beleza, o acolhimento da diversidade seja um pouco “aceito”, já que existem muitas pessoas LGBTQIAP+ trabalhando na área.

  1. Apesar de todas as circunstâncias, você pretende seguir com a carreira de maquiadora ou existe um plano B profissional?

Eu pretendo continuar com a carreira e tenho objetivos de trabalhar fora do país.

  1. Quer deixar uma mensagem para os nossos leitores?

Não tenha receio de continuar a fazer algo que gosta por medo de não ser aceito. Lembre-se, você se aceitar é um ótimo começo.

  1. Onde podemos conhecer mais sobre o seu trabalho?

No meu instagram, @succubgirl.

A nova empreitada das estrelas

Enquanto 2021 foi um ano financeiramente difícil para muitos, para as celebridades foi um ano de grandes investimentos. Seguindo a tendência que se iniciou em 2020, neste ano mais estrelas entraram no ramo da beleza com marcas de maquiagem e skincare. Esse fenômeno teve seu auge graças a pandemia, que permitiu às celebs mais tempo livro de seus projetos principais para dedicarem-se ao empreendedorismo. Outro fator que acarretou nesse boom de marcas assinadas por famosos foi o teor de autoconhecimento proporcionado pelo isolamento social, que leva a novas descobertas de beleza.

Parece que a expressão “Se a Rihanna usou, não é mais feio” se transformou em “se a Rihanna empreendeu na beleza, eu também posso!”. Algumas celebridades como Kylie Jenner (Kylie Cosmetics) e a modelo Miranda Kerr (KORA Organics), já eram conhecidas justamente por conta de sua associação a assuntos da área da moda, beleza e estética. Já outras, como a atriz Drew Barrymore (Flower Beauty) e a cantora da banda Paramore, Hayley Williams (Good Dye Young) são nomes que causam surpresa ao surgirem na lista. Isso nos leva à reflexão sobre como a indústria da beleza tornou-se uma atrativa área de investimentos por conta da constante busca da sociedade pelo “belo”, sendo ainda mais vantajoso para as celebridades que usam de sua fama e capacidade persuasiva quase instantânea para atrair multidões e transformá-las em consumidoras de seus produtos. 

Entretanto, esse movimento não é necessariamente surpreendente. Muitas das celebridades que empreendem no mercado da beleza já apresentavam um histórico de colaborações com as grandes marcas de beleza, como Sephora e Mac. Os grandes nomes do mercado sempre investiram na criação de linhas assinadas por celebridades como forma de impulsionar suas próprias vendas, graças às legiões de fãs e seguidores influenciadas por elas. O sucesso e retorno financeiro que acompanha essas colaborações levou as estrelas a tomarem as rédeas e fazerem isso por conta própria, gerando um benefício próprio sem a necessidade de carregar o nome de outras empresas consigo.

O mercado de beleza movimenta bilhões de dólares por ano, e seu crescimento é exponencial. Portanto, é possível observar que o envolvimento de nomes famosos na indústria não é somente baseado no interesse genuíno pelo universo. É possível observar esse fator no crescimento de celebridades que passaram a investir no mercado de skincare – que não está tão saturado quanto o de maquiagens -, como Hailey Bieber que planeja lançar sua própria marca de cuidados para pele, Rhode, em 2022.

Hailey Bieber responde sobre o lançamento de sua marca de skincare.
Video: Hailey Bieber/Youtube
Rebranding Kylie Cosmetics como cruelty-free e vegano.
Imagem: Kylie Cosmetics

Além disso, muitos dos compradores não são necessariamente levados a comprar os produtos graças à uma afeição autêntica pela indústria, e sim pela celebridade que os vende. O grande império de beleza de Kylie Jenner, Kylie Cosmetics, só se tornou cruelty-free e vegano em 2021, o que mostra que o desinteresse do público em saber a procedência dos itens. Esse consumo de beleza impulsionado pelo fanatismo pode ser extremamente prejudicial ao mesmo ambiente e à indústria em si, ocupando o espaço de marcas preocupadas em trazer os melhores resultados enquanto seguem se preocupando com todos os fatores envolvidos no processo – mas que não possuem um nome famoso para tornar a marca bilionária.

A beleza de Milão e o domínio da ‘no-makeup-makeup’.

Segunda-feira (27) chegou ao fim a temporada Primavera-Verão 2022 da semana de moda de Milão. As coleções apresentadas foram uma representação da leveza e do glamour tão esperados para a vida pós-pandêmica. Enquanto algumas marcas apresentaram belezas mais carregadas e teatrais em contraponto aos tecidos leves e fluídos das peças, outras optaram por maquiagens quase imperceptíveis para contribuir com o frescor das coleções.

A dupla Path McGrath e Guido Palau foi responsável pela beleza do desfile da Versace e de sua collab com a Fendi, que também teve Guido Palau como hairstylist, acompanhado de Peter Philips na maquiagem. Em todas as passarelas é possível ver maquiagens teatrais, com abundância de cores nas maçãs do rosto das modelos e olhos dramáticos. Para a Fendi, essa produção foi feita com tons mais apagados, que conversam com a seriedade dos looks, enquanto na Versace a produção conta com cores vivas combinando com as peças. Já para o desfile de “Fendance”, a beleza foi caracterizada pelo glamour composto por sombras metalizadas, iluminador marcado e lábios glossy.

Na coleção apresentada por Del Core, a beleza foi responsável por aumentar o fator dramático e quase camp presente na passarela. A maquiagem de Diane Kendal consistiu em sombras coloridas e gliterizadas esfumadas para além das áreas dos olhos, trazendo o efeito de uma aquarela. Para os fios, o hairstylist Anthony Turner optou pelo queridinho das passarelas — o wet hair, para impulsionar a dramaticidade do visual.

Evitando brigar com as estampas dominantes da passarela da Etro, a maquiadora Lisa Butler optou por apresentar uma produção bem clean and fresh. Entretanto, adicionou pedras brilhantes ao rosto de algumas modelos para ainda deixar sua marca na beleza do desfile. Essa estratégia também foi utilizada por Hiromi Ueda, que assinou uma produção que consistia somente em delineados nos olhos de algumas das modelos que desfilaram para a grife Missoni, assim, o hairstylist Holli Smith direcionasse os olhos dos convidados à dramaticidade do wet hair.

No desfile de Alberta Ferretti, a beleza foi caracterizada pela simplicidade e frescor. As modelos foram apresentadas com o que aparentou ser uma pele intocada e com os fios naturais, alguns até mesmo presos. Diferente das citadas acima, a beleza assinada por Petros Petrohilos e Benjamin Muller não foi minimizada para não desfocar as peças, e sim para casar com a leveza e fluidez dos modelos desfilados.

Alberta Ferretti SS22RTW.
[Imagem: Reprodução Vogue Runway]

Nas passarelas das marcas Blumarine e Prada — queridinhas do HF Twitter (comunidade de moda no twitter) — a ‘no-makeup-makeup‘ também foi utilizada. As belezas assinadas por Inge Grognard e Anthony Turner, e Path McGrath e Guido Palau, respectivamente, consistiram em modelos com suas peles e fios naturais desfilando na passarela. Entretanto, essa leveza quase entediante é justificada através do uso de acessórios como lenços e óculos — pontos fortes de venda — que ocupam o espaço de uma maquiagem ou um hairstyle mais carregado.