De ‘menino prodígio’ a diretor criativo da Balmain, a apresentação da nova coleção Primavera/Verão 2022, que reúne grandes nomes da última geração de supermodelos (Naomi Campbell, Carla Bruni, Lara Stone, Mila Jovovitch, Natasha Poly, Natalia Vodianova), celebra os 10 anos desde que Olivier Rousteing, estilista francês e atual diretor criativo da marca, juntou-se à casa.
Dono de um talento indiscutível, especialmente quando o assunto é a produção de corsets de couros, Rousteing também é dono de um feito incrível dentro da indústria da moda: o designer mais jovem a tornar-se diretor criativo de uma marca francesa – na época, tinha apenas 25 anos – além de ser o único negro e gay a ocupar tal cargo em uma casa local.
Apesar de ser uma referência quando o assunto é sucesso, sua caminhada para atingir uma carreira brilhante foi extremamente oposta, marcada por uma trajetória árdua e dolorosa. Aos 7 dias de vida, Olivier foi deixado em um orfanato e adotado por um casal aos 5 meses.
A partir de então, Rousteing protagoniza uma vida repleta de superações, principalmente voltadas a temas como homofobia e racismo, os quais critica publicamente. No entanto, o racismo e a homofobia não impediram de alcançar o patamar no qual o designer se encontra atualmente. Olivier se formou na renomada École Supérieure des Arts et Techniques de la Mode, em Paris, e conseguiu sua primeira oportunidade de trabalho no ramo da moda como assistente na Roberto Cavalli, uma grande marca italiana.
Em 2009, iniciou-se sua história com a Balmain. Lá, foi escalado para trabalhar ao lado de seu mentor, e então diretor criativo da marca, Christophe Decarnin. Após o anúncio da saída de Decarnin, o nome de Olivier foi o mais cotado para assumir o cargo, e assim aconteceu.
Desde sua nomeação, Rousteing tem ministrado perfeitamente a junção entre o luxo da Balmain e sua contemporaneidade, marcada por seu espírito juvenil — que tem conquistado os jovens de todo o mundo, trazendo-os para o encanto do mundo glamoroso da Balmain —, além de firmar sua relação com as celebridades, que regularmente são vistas utilizando suas criações, tais como: Beyoncé, grande amiga de Olivier e responsável pela narração do desfile de Spring/Summer 22, ocorrido nesta quarta-feira (29); o clã Kardashian-Jenner; Naomi Campbell; as irmãs Hadid; a atriz Zendaya (que foi o nome da noite no Venice Film Festival), dentre outras.
Na caminhada frente à Balmain , Olivier reúne em seu currículo como diretor criativo alguns desfiles inesquecíveis, entre eles:
Balmain Spring/Summer 2022 Ready-to-Wear: celebra uma década do artista como diretor da casa.
[Imagens: Alessandro Lucioni/ Gorunway.com]
Confira o desfile completo:
Winter Haute Couture 2020: primeiro desfile após o início da pandemia, ocorrido no rio Sena.
[Imagem: Balmain]
Balmain Spring/Summer 2020 Ready-to-Wear: coleção que ressoava as referências e identidade de raça de Olivier após a descoberta de suas origens (documentada em Wonder Boy, dirigido por Anissa Bonnefont e lançado em 2019 pela Netflix.
[Imagens: Alessandro Lucioni/ Gorunway.com]
Confira o desfile completo:
Balmain Winter Haute Couture 2019: re-estreia da Balmain e estreia de Olivier nas produções de alta-costura.
[Imagens: Alessandro Lucioni/ Gorunway.com]
Confira o desfile completo:
Balmain Festival 2020: Olivier inovou ao utilizar referências de festivais como Coachella e Lollapalooza para apresentar a coleção masculina de verão, o evento obteve sucesso e passou a ser algo recorrente.
A semana de moda de Milão é uma das quatro grandes semanas de moda internacionais, mas também é reconhecida por ser uma das mais internacionais entre suas colegas — uma reverência à qualidade do trabalho manual e artesanal de fazer roupas. Apenas perde para sua outra concorrente europeia (a PFW) quando o assunto é opulência e glamour. Milão é uma das cidades que não só respira cultura mas também a moda — que é um dos núcleos que fazem a cidade se mover.
Para a volta dos desfiles presenciais não era esperado nada menos que um grande evento, com desfiles e momentos memoráveis — porém lembrando que ainda não estamos ”de volta ao normal“: para entrar nos desfiles presenciais é necessário o comprovante de vacinação completa e o uso de máscaras é obrigatório.
Mesmo assim, com a ansiedade de ver os desfiles ao vivo novamente, o momento parece único. No último ano houve um grande movimento de democratização da moda, editores e convidados especiais ainda recebiam alguns presentes exclusivos como amostras de tecidos ou uma caixa inteira para explicar o conceito da coleção — sim, Loewe, isso é sobre você — porém praticamente o conteúdo que essas pessoas tão importantes viam era o mesmo que os pequenos amantes de moda que acompanhavam de casa.
Muitos se apaixonaram ainda mais pela indústria dos sonhos, mas fica o pensamento de como isso vai se desenrolar nas próximas temporadas. As grandes marcas realmente vão esquecer do enorme público digital e deixá-los sem fotos até que um certo app consiga colocá-las, horas depois da apresentação? A prática de manter a moda como uma atividade velada a que poucos têm acesso ainda é uma estratégia (notavelmente utilizada por Daniel Lee na Bottega Veneta), mas isso tem algum lugar claro no mundo globalizado de hoje?
Imagens dos desfiles comentados da MFW, todas as fotos retiradas do Vogue Runway ou dos sites oficiais das marcas.
Dia 1 – 22 De Setembro
Começamos o primeiro dia da Semana de Moda de Milão com o primeiro desfile presencial de Kim Jones. Desde sua estreia na Fendi em janeiro de 2021, existia um problema claro na visão da marca pelo diretor criativo: apesar de apresentar roupas femininas agradáveis ao olhar, o acabamento e qualidade de seu trabalho não traduzia o verdadeiro histórico da marca, com silhuetas interessantes mas que ao sair do papel pareciam tão rígidas quanto blocos de mármore italiano — já que a Fendi é uma casa tradicionalmente romana.
A inspiração e homenagem ao trabalho do famoso ilustrador dos anos 60, Antonio Lopez, não foi uma decisão meramente simbólica da história do artista com a marca, e sim um movimento calculado que trouxe um novo espectro do trabalho de Kim Jones para a coleção.
Ele precisava de leveza, suavidade e diversão em suas roupas, e quem é melhor para isso que um artista com o trabalho ligado diretamente a formas repensadas e cores vibrantes? É uma colaboração de referências. Muito depois de seu falecimento, o trabalho de Lopez ainda tem o poder de inspirar e fazer mudanças estéticas no trabalho de um grande designer.
A jornalista Cathy Horyn fala com Jones para seu artigo sobre a coleção. O designer admite que ainda está se adaptando ao trabalho que não é mais sobre ele e sim sobre uma marca com uma enorme história por trás, e cita como o trabalho que admira de Antonio Lopez o ajudou a encontrar a harmonia necessária para execução da coleção.
É possível dividir em três partes a coleção da Fendi: a primeira sendo de momentos monocromáticos em branco, com uma ótima alfaiataria (que é uma das melhores qualidades confortáveis do trabalho de Jones) é uma mistura de cores naturais como marrons e estampas em peles, em que já conseguimos detectar o trabalho de Antonio Lopez; então chegando aos alegres e vibrantes vestidos fluidos que parecem algo diretamente do armário da Bianca Jagger nos anos de 1970, com estampas diretamente do arquivo do artista na época; a última parte é completa por looks que possuem uma renda preta com o próprio padrão do tecido sendo uma obra do artista, semelhantes a beijos de batom vermelho no papel.
Fomos do branco que é representativamente a junção de todas as cores com uma apresentação do bom trabalho de Jones em produzir alfaiataria, para uma ótimo momento colorido e vibrante com vestidos fluidos e divertidos, alguns momentos em cetim e peles que são texturas famosas dentro da Fendi, terminando a coleção com preto que é justamente a ausência de cor mas em harmonia com looks de renda delicada. Em geral, é a melhor coleção que foi vista de Kim Jones em sua trajetória para a Fendi até hoje, com momentos que fazem jus a história e trajetória da marca, uma inspiração forte e emocionante de arte dentro da moda e uma mudança bem-vinda nas silhuetas e modelagens de seus designs.
Ainda com inspirações fortes da década de 60, Vivetta Ponti entrega uma incrível apresentação de patinadores de gelo vestindo as peças para uma produção dentro do esporte, uma demonstração de energia, suavidade e movimento da vestimenta que Ponti pretendia transpassar.
Com uma enorme inspiração do filme Barbarella (1968), um ícone da onda futurista na moda da época com Jane Fonda como protagonista e Paco Rabanne fazendo parte da produção de figurino, o filme é um clássico dos amantes de moda. Apesar da referência clara à moda de 1960, Ponti teve um espaço para uma versão mais experimental, futurista e sensual do que a que Barbarella representa. Um espaço que não foi tão bem executado durante a pesquisa de referência…
A coleção de Primavera/Verão 2022 de Alberta Ferretti deixa claro um jogo entre ambiguidades que podem trabalhar juntas em uma coleção. É uma temporada definitivamente feminina, com uma sensualidade que se aproxima muito mais do imaginário feminino de sexy — ela explicou na apresentação que percebeu uma grande ansiedade de voltar a se vestir para sair novamente.
As roupas variam entre modelos mais casuais e boêmios com texturas, macramê e crochê em tons terrosos e neutros como duas chaves principais desta parte da coleção. Depois, passamos por vestidos em tons de joias vibrantes, com bordados em pedrarias e técnicas diferentes para a marca. Uma característica mantida por toda a coleção que trouxe a harmonia entre esses dois estilos foi que todas as escolhas de modelagens e tecidos são leves e fluídos, perfeitos para o verão europeu.
Segundo as entrevistas de Alessandro Dell’Acqua sobre sua coleção na diretoria criativa da NO.21, o designer deixa claro que tem uma paixão ardente por positividade corporal e que sempre acreditou no poder da expressiva e sensualidade na quase nudez — mas ainda sem glamourizar ou ostentar o corpo em si. Ele disse no backstage para a jornalista Tiziana Cardini: “Não gosto do que é abertamente provocativo”.
Realmente, Dell’Acqua apresentou uma coleção com muita alusão a pele à mostra, desde os tons utilizados nas roupas até a forma que foram desenhadas (alguns looks com adoção de tecidos quase transparentes e com recortes marcantes).
É indiscutivelmente complicado falar de uma coleção ligada à positividade de corpos sem diversidade dos mesmos. Apesar de Dell’Acqua ter feito um bom trabalho nessa versão de sensualidade despretensiosa, essa falta de diversidade em conjunto ao culto ao corpo deixa um amargor na boca. Os designs mais simples que fecham a coleção são os melhores executados, e as vestimentas mais trabalhadas ficam perdidas no meio da coleção.
A nova coleção de Jil Sander assinada pelos diretores criativos Lucie e Luke Meier é um desenvolvimento aberto da história e trajetória da marca em uma nova direção.
Uma reorganização do próprio conceito minimalista, com decisões expressivas durante a coleção — como cores mais vibrantes, adoção pelo estilo oversized como referência de silhueta, crochês e até algumas estampas florais mais fluídas entre os designs. Em geral, pode ser denominada como um grande sinônimo de classe, elegância e talvez o mais importante: inovação dentro da estética minimalista.
Fausto Puglisi apostou — mais uma vez — na sensualidade e no mundo exótico em sua coleção de Primavera/Verão 2022. Suas novas criações contam com peças portando estampas de animais (onças, tigres e zebras) e cores que remetem ao mundo selvagem. Ítens em cores vívidas, luminosas, com brilho e silhuetas bem marcadas também marcam presença — dão um toque de exuberância à sensualidade que está sempre presente na história e no imaginário da Cavalli.
É uma coleção que olha claramente para o período de ouro da marca nos anos 2000. Com silhuetas familiares de recortes na barriga e costas, com bordados, strass e suas formas provocantes. A Cavalli de Puglisi parece pronta para reviver grandes momentos sensuais da casa.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Fendi, Vivetta, Alberta Ferrareti, No.21, Jil Sander, Roberto Cavalli, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
DIA 2 – 23 de Setembro
Começamos o segundo dia com uma coleção concisa e confortável da Max Mara, uma visão contemporânea da consumidora da casa. Aos passos que voltamos lentamente ao “novo normal”, marcas se posicionam ou para a opulente faceta de anseio festeiro; ou como o diretor criativo Ian Griffiths da Max Mara estabeleceu, “uma ligação a uma nova forma de vestuário de trabalho”.
Com elementos da alfaiataria clássica e precisa que a marca é reconhecida mas com silhuetas retas que se preocupam com o conforto e uma paleta de tons neutros, relembra uma sofisticada musa da marca que ainda gosta de se sentir confortável e jovial.
Veronica Etro trás sua visão de Primavera/Verão farta em estampas, cores e peças de crochê. Em um cenário hippie, as roupas trazem elementos que remetem ao movimento do início dos anos de 1970, mas claro, com toques e releituras modernas. A diretora criativa conta para o jornalista Luke Leitch que encontrou um período de felicidade e reencontro espiritual através das práticas de yoga e meditação durante a quarentena que também encontra com o movimento hippie da década de setenta.
Como esperado de Etro, os adornos e styling da coleção são, como um todo, o perfeito balanço entre uma estética despojada e a marca de alta moda com clientes boêmios que ainda precisam do meio termo entre o frugal e o sofisticado.
A coleção da Emporio Armani marca o aniversário de 40 anos da casa. Em um desfile que junta a moda feminina e masculina, Giorgio Armani apresentou um trabalho extremamente familiar: looks de alfaiataria clássica em cores neutras e silhuetas sóbrias, com uma junção de uma estética Italiana estilosa mas datado como antiga, looks que podem ser facilmente encontrados em suas coleções mais velhas no Armani Silos. Em 122 looks, a casa mantém a tradição de apresentar mais do mesmo com inúmeras referências a criações anteriores do designer.
Partindo para uma coleção que se destaca como diferente de todas as outras do dia, Blumarine de Nicola Brognano segue com suas referências e inspirações dos anos 2000 e transforma a sua musa em algo ainda mais sensual, com modelos com glitter pelos corpos, transparências e tops de borboletas.
É fácil se apaixonar pela utopia Blumarine dos anos 2000 – o brilho e sua atmosfera rosa-Barbie transportam a maioria da geração Z à uma época feliz, sem preocupações (e comparando com o mundo sociopolítico, atual às vezes roupas podem ser o escapismo que precisamos).
Porém, o conceito dessa estética específica parece estar cada vez mais perdendo força nas mídias sociais – onde a tendência teve seu renascimento. Fica a pergunta: quantas vezes o mesmo conceito e modelagens conseguem ser reciclados por Brognano? Uma luz no final do túnel é que, com uma leve reorganização, é possível produzir a estética de maneiras e com referências diferentes.
Na MM6 Maison Margiela o clima foi de celebração às pequenas coisas: André Breton, Leonora Carrington e Claude Cahun buscaram transmitir a essência de peças simples mas com grande importância, como um aperitivo dividido entre amigos em um bar. A comemoração vem para o retorno da vida gastronômica em Milão, a possibilidade de visitar bares e restaurantes depois de tanto tempo em pandemia. Uma clara referência a filmes de terror também, com balão na mão e roupa xadrez – quase uma reimaginação do personagem Pennywise, do clássico de terror ‘It’ de Stephen King.
Falando em celebrações em uma das inclinações da moda pós-pandemia, a GCDS traz a sensualidade e irreverência para a passarela. Com sapatos super plataformas, peças em crochê e tricô, e inspiração na praia e no mar, muitos dos elementos do desfile são os já conhecidos da temporada, mas com toques de ousadia e sensualidade. De bolsas com designs super futuristas até bucket hats de crochê, a coleção reafirma o presente e o que o futuro pode ser. Tudo isso, claro, sem perder a aura sexy da marca.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Max Mara, Etro, Emporio Armani, Blumarine, Margiela, GCDS, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
DIA 3 – 24 de Setembro
Walter Chiapponi parece ter encontrado uma visão clara para sua Tod’s. Fazendo menção a trajetória da marca como uma grande potência em couro e alfaiataria, ele mistura os dois para uma coleção bem trabalhada. Uma temporada mais ligada ao comercial e ser atraente para o consumidor fiel a qualidade da marca, e ao mesmo tempo em trazer novos clientes que querem diferentes silhuetas e texturas.
O designer também tirou uma grande inspiração da moda na década de 1960, principalmente do movimento Mod’s, silhuetas retas, vestidos minis são exatamente a mistura entre o sportswear e sofisticação com uma inspiração clara do filme O Vale das Bonecas de 1967, ele admite que tudo na marca é ligado diretamente ao sportswear mas em conjunto com uma decoração técnica que trás outro espectro da vestimenta.
O desfile da Missoni de Primavera/Verão marca a primeira coleção do novo diretor criativo – Alberto Caliri – ele apresentou uma sensualidade entre características claras da marca, como suas estampas de chevron em tricô, saídas quase de praia e muito glitter entre as tramas de tecido.
É uma coleção segura e apropriada, principalmente que remete aquele otimismo pós-pandêmico com ansiedade de voltar a grandes festas, a coleção é uma homenagem à vida noturna com um toque de adoração e apreciação pela marca.
Uma coisa é clara sobre as coleções da Sunnei – Simone Rizzo e Loris Messina gostam de um grande gesto – a coleção teve a atmosfera de uma enorme armazém, os dois brincam com diferentes formas de apresentação de uma coleção, foram conhecidos pelas modelos CGI e outros tipos de realidades virtuais para seus shows digitais.
Em sua apresentação física não passa muito longe, um show de luzes e sons e os convidados de pé, a coleção apresentou composições, texturas e brincadeiras com volumes e proporções diferentes que parece ser uma das maiores características da marca.
Eles trouxeram uma nova ornamentação dentro do minimalismo contemporâneo da Sunnei fez a diferença na coleção com franjas e bordados, que deram um movimento necessário a modelagens quase estáticas e duras. Um dos exemplos de como um bom adorno e styling podem mudar o sentimento da coleção.
Entramos em mais um capítulo entre a história colaboração entre Miuccia Prada e Raf Simons, a coleção teve uma dupla apresentação em Milão e Shanghai. A ideia de apresentação vem em conjunto com o otimismo pós-pandêmico que tanto é visível nessa temporada por inteiro, aqui os dois designers se juntam para explorar todas as possibilidades possíveis que o novo mundo aguarda – novos talentos, ideias, valores – é uma experiência global, assim como nosso mundo ficará cada vez mais globalizado através do tempo.
Entre as roupas polidas e bem ajustadas, uma das características mais intrigantes da colaboração é como conseguimos ver momentos importantes da trajetória criativa de ambos designer em um mesmo look, referências claras do trabalho de Miuccia Prada nos anos 90 – principalmente da coleção “Ugly chic” de Spring Summer 1996 em conjunto a jaquetas gastas de motocicleta que lembram uma grande coleção de Raf Simons de Fall 2001 a “Riot Riot Riot”.
Ainda é Prada, tudo isso é unido em um equilíbrio clássico entre roupas sofisticadas e femininas, com uma sensualidade velada não abertamente exposta, Miuccia escreveu nas notas do desfile: “Nós pensamos em palavras como elegante – mas isso parece tão antiquado. Na verdade, trata-se de uma linguagem de sedução que sempre leva de volta ao corpo. Usando essas ideias, essas referências a peças históricas, a coleção é uma investigação do que elas significam hoje.”
Em geral, mais uma boa coleção de ambos e ver e acompanhar a parceria dos dois têm sido uma experiência única de entendimento e concordância entre dois grandes designers contemporâneos.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Tods, Missoni, Prada, Sunnei, Versace, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
DIA 4 – 25 de Setembro
Massimo Giorgetti presta homenagem à cidade de Milão em sua coleção de Primavera/Verão, não é a primeira vez que é possível tirar inspiração da cidade nas coleções da marca. Mas nessa é um pouco mais específica ele olha para o espectro da metrópole italiana na década de 1980, um tempo energizado por criatividade e possibilidade de renovação nas comunidades culturais e artísticas.
É uma versão bem editada da MSGM com peças animadas, cores vibrantes de verão e entrando também a previsão do sexy e da pele à mostra que foi vista durante toda a temporada.
Alicia Keys abriu o show virtual da Moncler. Mostrando a criatividade de não um, mas onze estilistas parceiros da marca como JW Anderson e Veronica Leoni. O show é transicional entre New York, Seoul, Tokyo e Shanghai. Com displays imaginativos e interagem com formas de arte diferentes – dança, filme, música, moda – muitos com oportunidade interativa.
Desde a saída do diretor criativo Paul Andrew em Janeiro deste ano, a Salvatore Ferragamo se encontrou em uma mudança de cadeiras durante esse meio tempo. A transição do novo CEO da marca Marco Gobbetti é esperada para começar durante esse mês, e o designer Guillaume Meilland, que tem sido o designer de Menswear da marca e se aventurou na temporada principal.
É difícil comparar com o último desfile de Andrew, com referências da história da marca como a plataforma arco-íris produzida para Judy Garland com uma apresentação digna de um filme Sci-Fi. Mas deu um ar de juventude necessário para a marca, a estreia de Meilland foi exatamente ao contrário, olha para uma tradição sofisticada e antiquada de pensar da marca com silhuetas quadradas, esportivas e cores neutras.
Essa coleção foi um pouco mais emocional para a Giorgio Armani, foi o aniversário de 40 anos da marca e voltamos às suas origens em um desfile intimista com trilha sonora marítima vimos o azzurro (azul-claro) da marca e modelos sorrindo como se estivessem na praia. De uma progressão de peças brancas e marinhas à acinzentadas, azuladas e cada vez mais leves.
E vestidos de festas em tule e cristais azuis, rosas e roxos pastéis quase etéreos, com uma execução digna da celebração da marca, com silhuetas extremamente familiares, de coletes com saias de tule, até blazers com lenços nos pescoços tudo gritava Giorgio Armani no coração de seu trabalho.
Apesar de existirem tendências que já são possíveis de compreender desta temporada como a sensualidade, o culto ao corpo e o anseio pela abertura da vida novamente, uma também é bem clara: muitas marcas tiraram um período introspectivo para olharem suas trajetórias e histórias e referenciarem isso de alguma forma em suas coleções.
Bem, aconteceu exatamente ao contrário na Philosophy di Lorenzo Serafini: em uma completa reviravolta da sua coleção de Outono/Inverno de 2021 (que tinha como centro o estilo preppy em uma homenagem a alunos escolares que perderam parte de sua experiência acadêmica), sua Primavera/Verão decide olhar para uma linha quase de lingeries. O designer explicou nas notas do desfile que era sobre o poder do movimento, querer mostrar mais pele e um renascimento da vida. É meio difícil se concentrar nisso quando estamos olhando para designs que são uma mistura entre toureiros espanhóis, o grunge de Los Angeles e florais diretamente saídos da Urban Outfitters.
Foi uma coleção confusa, muito menos refinada e sofisticada dentro do tema de escolha do que sua predecessora. Marcas estão focando em referenciar a própria história como um toque poderoso de reafirmar sua identidade visual. O que leva as perguntas: quem é a mulher Philosophy? Ela mudará com a marca a cada temporada?
Em sua apresentação da coleção de Primavera/Verão 2022, Francesco Risso deu um verdadeiro espetáculo: nos dias que antecipavam a coleção da Marni, o designer organizou mais de 400 provas de roupas. Não recebemos uma coleção de 400 peças, mas sim uma prova que voltar para a prática dos desfiles presenciais é um privilégio que deve ser aproveitado ao máximo – todos os convidados vestiram roupas feitas pela Marni.
Além disso, foi o primeiro designer da temporada a falar sobre as injustiças sociopolíticas que tanto foram conversadas nos protestos do Black Lives Matter em maio de 2020. A indústria da moda disse querer mudar e virar uma aliada ativa do movimento, mas é a primeira vez que falamos disso no mês da moda – na penúltima semana.
Risso teve um time incrível de apoiadores para ajudá-lo com o conceito e execução de toda a coleção: “Dev Hynes foi o responsável pela música, o poeta Mykki Blanco fez uma performance de palavra falada, e a cantora Zsela foi acompanhada por um coro celestial. Nas notas do programa, Babak Radboy, que é conhecido por seu trabalho com Telfar Clemens, compartilhou a direção criativa. O elenco tinha a diversidade racial, a inclusão corporal e a fluidez de gênero que se tornaram a norma na Nova York de Telfar. “Finalmente, Milan acordou”, disse um colega no caminho para a porta.”. São roupas utilitárias, versáteis e esteticamente alinhadas com a marca que carregam um significado simbólico.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: MSGM, Moncler, Salvatorre Ferragamo, Philosophy di Lorenzo Serafini, Giorgio Armani, Marni, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
DIA 5 – 25 de Setembro
Começamos o último dia com uma apresentação digital em meio a um armazém abandonado e pichado, com Dean e Dan Caten como anfitriões da nova era grunge chic da Dsquared2 que eles apresentaram em sua coleção de Primavera/Verão 2022.
A atmosfera ajudou a dar o tom principal da coleção, sendo citada pelos designers como sua versão de grunge vindo diretamente de Milão. Estéticas opostas se atraindo pela construção dos looks em si, desde jeans desbotados e peças que parecem quase inacabadas até momentos claros de noites opulentes são ambiguidades apresentadas durante toda a temporada da marca.
Segundo o relatório de vendas da LVMH do primeiro semestre de 2021, parece que a Emilio Pucci conquistou os corações das gerações mais novas… Com suas estampas psicodélicas e vibrantes em seda pura até seus looks minimalistas e sensuais como apresentado nesta última coleção pela nova diretora criativa Camille Miceli, a marca entende a demanda de uma aproximação dos designs com uma estética mais da vida noturna jovem, harmonizando o ideal moderno com a história e características claras de cada.
Mas a cereja de toda a semana foi o evento que prosseguiu com o encerramento, um dos segredos mais bem guardados de Milão que começou a virar um rumor no meio do evento: a colaboração de designers entre Versace e Fendi. Donatella Versace, como diretora criativa da marca, pegou a tarefa de reinterpretar elementos da Fendi; e Kim Jones, o diretor criativo, da Fendi assumiu o trabalho de dar sua reinterpretação a Versace.
Um evento recheado de celebridades (nos assentos e na passarela), Fendace realmente fechou Milão com chave de ouro com uma verdadeira mistura de logos. Porém, essa não é a primeira vez que vemos a colaboração de dois grandes designers de marcas diferentes juntos: tivemos no meio do ano a “Gucci Area” caracterizada por um hacking da Balenciaga de Demna Gvasalia.
Em Gucci, conseguimos ver uma harmonia na história e logos das duas casas. Foi uma experiência para trazer um público adorador da logomania? Sim, mas foi possível ver claramente o que era referência à Gucci e o que era Balenciaga. O que não aconteceu em Fendace, qual parecia apenas que o brasão da Fendi havia sido adicionado a alguns designs da Versace. Os acessórios, que são o maior caminho de consumo de luxo, foram muito melhor pensados.
Na pós-modernidade, com tantos meios de comunicação e tanta informação sendo bombardeada a cada minuto, não é muito longe se fazer o questionamento do porquê essas colaborações aconteceram; se estamos todos virando reféns de momentos virais e qual a verdadeira consequência disso refletida na qualidade do trabalho.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Emilio Pucci, DSQUARED 2 e Fendace , retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
Como parte do Big Four — as quatro grandes fashion weeks internacionais — Londres têm uma grande importância para o mercado internacional, mas é principalmente reconhecida por suas inovações criativas e designers fora da curva.
The British Fashion Council, uma organização sem fins lucrativos com a intenção de impulsionar a moda britânica, foi criado em 1983 e a London Fashion Week oficialmente abriu suas portas em 1984.
A cidade é o berço das revoluções contracultura: Mary Quant levantou as bainhas das saias em seus vestidos coloridos e retos para vestir os Mods em 1960; já na década de 1970 a BIBA se tornou um ícone entre lojas de departamento do mundo inteiro; no primeiro ano de LFW, em 1984, um jovem e recém-formado John Galliano faz seu desfile de inauguração; Alexander McQueen faz sua estreia em 1992 e segue em ser um dos estilistas mais importantes na história da moda moderna.
O impacto cultural que a moda da cidade tem é indiscutível. Existem duas Londres dependendo do seu ponto de vista: a Londres fechada e com títulos, que leva extremamente a sério seu legado em uma alfaiataria precisa, com cortes e silhuetas praticados a perfeição; e a Londres experimental e artística, a qual abraça os seus recém formados alunos de moda e impulsiona as tentativas e ideias diferentes. Apesar de grandes perdas devido a pandemia na cidade, um dos maiores valores do evento são justamente os novos jovens criativos, que fizeram parte desta temporada.
A semana começa com um dia cheio de comemorações — afinal, estamos no tão esperado pós-pandemia no hemisfério norte — como a festa de Onitsuka Tiger com a revista Dazed e o evento de graduação da Condé Nast College. A maioria dos eventos foi privado para convidados e por isso começamos a cobertura da Frenezi, a qual você também pode acompanhar em tempo real em nosso Instagram, com o segundo dia onde tiveram início de fato a apresentação de coleções.
Imagens dos desfiles comentados da LFW, todas as fotos retiradas do Vogue Runway.
DIA 2 – 17 De Setembro
Começamos o primeiro dia de coleções com uma emocionante apresentação em Halpern, onde o designer Michael Halpern relembra momentos emocionantes de sua infância quando conseguia observar de perto os ensaios do Centro de Artes de sua cidade. Ele conta para o jornalista Anders Christian Madsen uma memória de sua mãe vendo ele entrar por baixo dos tutus ainda pequeno para entender como eram feitos.
A apresentação da coleção foi feita por meio de um emocionante e belo número de ballet filmado no Royal Opera House com bailarinos-estrelas da companhia como Fumi Kaneko, Sumina Sasaki, Sae Maeda e Leticia Dias, para citar alguns nomes. Uma rara colaboração entre o ballet e a moda elaborada da melhor forma possível, apesar de algumas silhuetas opulentas que é costume por parte da Halpern, como o vestido globo e o macacão de paetês que fizeram sucesso nas últimas temporadas.
Talvez o verdadeiro triunfo desta coleção sejam as roupas que parecem ser feitas para serem apreciadas em movimento, de vestidos em seda com cores e padronagens pensadas para a apresentação, franjas bem posicionadas, fendas que acompanham os corpos das dançarinas, saias rodadas e tecidos que parecem quase flutuantes… É uma coleção que definitivamente desafiou o ateliê da marca, a confecção da vestimenta em si foi muito bem executada.
Quando se fala do legado de Londres como uma das semanas que apoia jovens criativos, experimentais e irreverentes, o nome que vem à mente é Matty Bovan. Essa coleção leva o título de Hypercraft e começou com arquivos de imagens da família do designer nos anos de 1970. De crochês da vovó a papel de parede retrô, até uma inspiração clara do cenário usado no filme O iluminado (1980).
Entre silhuetas desconexas e tecidos diferentes, até a forma que a coleção é filmada e fotografada realmente faz uma imersão total do trabalho de Bovan, e talvez por isso ele ainda prefira os meios digitais para apresentar suas coleções — uma aproximação maior entre o público e o conceito da coleção.
Falar de LFW sem Vivienne Westwood é quase imoral. Durante os últimos anos houve uma redescoberta da trajetória de Westwood pelo público jovem, principalmente pelos amantes de peças vintage. Durante suas últimas coleções, ela também percebeu essa nova preferência nascente do seu próprio público e tornou sua linha principal uma forma de reviver essas coleções, se ajustando a iniciativas sustentáveis para sua marca.
Nesta coleção há, principalmente, referência a sua temporada histórica de Primavera/Verão de 1998 Tied to the Mast (Amarrados ao Mastro, em português), uma coleção quase de fantasia que olha para a história dos piratas ingleses no século XIX e todos os contos e conceitos entre essa estética marinha punk, a qual foi traduzida para um consumidor contemporâneo com modelagens famosas principalmente entre a nova geração: plataformas, jeans largos, corsets repensados, os famosos colares de pérolas e bolsas mini.
Nensi Dojaka é uma nova e emergente designer que na temporada passada estava nas plataformas da LFW em intermediação com o coletivo do Fashion East. Com a sua iminente vitória no prêmio da LVMH — um dos mais ansiados por novos designers na indústria hoje — ela escolheu uma coleção segura, e mostrou exatamente o ponto forte de seu trabalho, afinal é sua primeira semana do evento com seu nome, de fato.
O look de Dojaka já conquistou celebridades e amantes durante a última temporada, com sua silhueta sexy, transparências e recortes que modelam o corpo em formas e sentidos diferentes do comum. Porém, após o lançamento de sua coleção, muitos críticos e comentaristas de moda em geral se perguntaram se as roupas da designer seriam bem traduzidas para pessoas com corpos diferentes do padrão de modelos — essa é uma dúvida que entra na questão do próprio potencial de comercialização da nova marca.
David Koma teve uma ascensão grande durante o último ano também, vestiu celebridades como Beyoncé, Jennifer Lopez, Cardi B e em eventos mais recentes Madison Beer. Suas roupas party-friendly com fendas sexys, aplicações em glitter e proporções mini conquistaram uma boa base de clientes, fazendo seu negócio crescer exponencialmente.
Mas essa coleção é no mínimo uma confusão dentro de estéticas e modelagens trabalhadas pela marca anteriormente. Koma disse em sua apresentação que era como casar a moda praia e o Old Hollywood glamour e, sinceramente, seria um conceito mais claro e conciso entregar glamour Hollywoodiano de uma forma que se aproximasse da sua estética própria dentro do conceito por inteiro.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Halpern, Matty Bovan, Vivienne Westwood, Nensi Dojaka e David Koma retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
Dia 3 – 18 De Setembro
O caso de Sarah Everard foi um momento decisivo para discussões de feminicídio e direitos da mulher no Reino Unido. No mesmo mês do assassinato, num evento na House Of Commons, o ministro britânico do trabalho Jess Phillips leu uma lista surpreendentemente longa de casos ocorridos no último ano e o nome de Sarah apareceu como um símbolo de luta.
A designer Yuhan Wang sentiu uma forte ligação com os movimentos da causa sociopolítica, que a inspiraram na criação de sua coleção de Primavera/Verão a tomar o termo “feminilidade” como sinônimo de força misturando vestidos que são o espelho do feminino ideal em seus babados, tecidos fluidos e estampas florais com cores pastéis com o peso dos acessórios de couro, passados por cima das peças parecendo um boldrié. A coleção da designer é uma carta aberta para uma discussão sobre a força feminina.
Palmer Harding também fez sua aparição na data, apresentou sua temporada de Primavera/Verão por meio de uma sessão de fotos disponibilizadas online. É uma coleção segura e atraente para seus clientes, o que não é possível criticar depois de um ano conturbado para pequenas marcas.
A qualidade de sua alfaiataria nunca fica velha, a valorização do corpo por meio de modelagens precisas. É o que ele deixa claro para quem está desenhando suas roupas, apesar de que as vestimentas em tecido metálico são uma boa nova adição para uma coleção clássica e minimalista.
Charlotte Knowles e Alexander Arsenault agora assinam juntos a direção criativa da KNWLS, e nesta coleção decidem explorar o termo “adrenalina” com a ansiedade e felicidade dos desfiles presenciais estarem voltando para a cidade de Londres. O desfile foi descrito como uma experiência amplificada ao vivo, com luzes, som alto e um parque de carros perto da estação de metrô Oxford Circus como uma atmosfera industrial e longa para o desfile.
Grandes marcas registradas da casa — como bustiers que marcam a cintura, calças de tecido quase transparente com recortes e a mistura de roupas de baixo com roupas de sair — seguem como tradições, mas o verdadeiro triunfo acontece na harmonia de diferentes referências e inspirações dentro de uma coleção.
Molly Goddard passou por uma grande mudança desde sua última coleção, agora é mãe e isso é claramente uma nova inspiração em seu trabalho criativo. Sempre foi possível perceber uma apreciação por símbolos denominadamente infantis no trabalho de Goddard (seu vestido assinatura é uma versão de um que tinha quando era pequena). Agora é possível ver referências principalmente a roupas de bebês, em tons brancos e rosas pálidos, em conjunto com um apelo mais utilitário e versátil que não é possível enxergar nas últimas coleções.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Yuhan Wang, Palmer Harding, KNWLS, Molly Goddard retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
Dia 4 – 19 de Setembro
Rejina Pyo é também do time de novas mães da London Fashion Week, mas ao contrário de Goddard, a designer se encontra confortável em silhuetas mais sensuais e descoladas. Pyo citou para a jornalista Sarah Harris: “Não acho que as mulheres precisam fingir que são fisicamente tão fortes quanto os homens; tudo bem ser gentil às vezes e aceitar isso. Eu não sei… talvez seja porque eu vou ter uma menina.”
Algo memorável do trabalho de Pyo é como ela compreende tendências fortes de hoje, mas seu trabalho não depende delas. Consegue captar a essência mas ainda assim entende como a mesma pode morrer a qualquer minuto. É quase como uma balança, difícil de utilizar: um pouco é bom para aproveitar o momento, mas não exageradamente para não ser dada como uma coleção datada. Normalmente o trabalho da designer é reconhecido por tecidos, estruturas e silhuetas mais rígidas, nessa coleção vemos uma suavidade — muito bem-vinda.
Erdem é uma das marcas londrinas que reverencia seu legado e trajetória em qualidade dos processos manuais de vestimenta e alfaiataria clássica por associações claras de tradições da casa, como a estamparia floral e maxi vestidos. A coleção também pontua o aniversário de 15 anos da casa. Erdem Moralioglu agora olha para a história da marca para mais do que os bordados de flores: é uma mulher que vive e trabalha além de seu tempo presente, misturando a história do vestuário inglês para ressignificá-lo.
Richard Malone entrega uma incrível e criativa coleção nesta temporada, com diferentes formas, silhuetas e trabalhos com tecidos bordados e plissados por toda a coleção. Deixa claro o esforço em conjunto do trabalho manual de seu time com o uso de diferentes materiais, como restos de couro providenciados em colaboração com a Mulberry.
O desfile foi uma verdadeira obra de arte, em conjunto com sua atmosfera geral, apresentado no museu Victoria e Albert — reconhecido pelo seu instituto de figurinos — as formas circulares em formas de rosas no meio das roupas é homenagem a sua avó, que fazia essa técnica com tecidos para comemorar as vitórias da Associação da Atlética Gaélica.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Rejina Pyo, Erdem, Richard Malone, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
Dia 5 – 20 de Setembro
Simone Rocha é um dos nomes mais esperados da LFW atualmente. Ela conquistou um público fiel com seus vestidos volumosos de tule entre jaquetas de alfaiataria reconstruídas. Na última temporada, foi possível ver um pouco do aspecto romântico e a suavidade feminina de Rocha se mesclando com o peso de peças de couro e acessórios em tons fortes. Esse inteligente balanço se mantém firme durante a coleção, somado a outro novo estímulo: o início de sua maternidade.
Não é de hoje que designers usam movimentos em suas vidas como inspiração. Num trabalho majoritariamente criativo, as referências e inspirações pessoais de cada artista sempre aparecem. Vestidos de tule, jaquetas de couro, bolsas de pérola, sutiãs de maternidade bordados em cristais e pendentes surgem para homenagear tarefas diárias de novas mães.
É uma homenagem à sua nova perspectiva, o olhar por outros olhos enquanto ainda entende a essência principal de seus designs anteriores que fizeram o nome da marca crescer e se tornar indispensável para a semana de moda londrina.
Supriya Lele é a última da semana que nos promete uma releitura do que é sexy, com tecidos quase transparentes em conjunto com um tipo de trama em rede e strass por cima de maiôs e tops.
E falando em previsões que nasceram nessa semana, Roksanda — assim como Richard Malone — se aventura em diferentes formas e tecidos para criar roupas que se assemelham a verdadeiras obras de arte. Similar a Halpern, suas roupas foram apresentadas numa imersão entre vestimenta e movimento, utiliza formas criativas e cores vibrantes para amplificar a experiência como um todo.
O Fashion East sempre apresenta incríveis novos designers para a LFW. Nensi Dojaka foi participante do projeto até uma temporada atrás, antes de ganhar o prêmio LVMH. Outro grande designer independente da plataforma é Maximilian, com criações que já foram utilizadas por personalidades importantes na indústria como a modelo Naomi Campbell.
Ele realmente se inspirou em aproveitar o verão da melhor forma possível, com roupas que lembram a água e o oceano — muitos tecidos molhados cintilantes e macacões que se assemelham a maiôs. Maximiliam também entende a necessidade comercial, mistura técnicas de alfaiataria clássica em vestidos com recortes precisos, tecidos semi-transparentes e blazers bem cortados como terceira peça em vários looks. Deixa claro que não há limitações para os seus talentos e que consegue transitar entre uma vasta categoria de consumidores.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Simone Rocha, Supriya Lele, Roksanda, Fashion east, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
Dia 6 – 21 de Setembro
Quando os desfiles digitais começaram durante o ano passado, muitas questões foram levantadas sobre as apresentações digitais por meio de fotos. Lookbooks parados em fundos brancos se tornaram um técnica batida e com ajuda da estética da marca em conjunto com um bom time criativo, há inúmeras versões de diferentes fotografias de coleções hoje.
No último dia do evento, Ashlyn foi uma das marcas a apresentar uma coleção que junta em perfeito balanço as formas geométricas e o estudo da costura contemporânea e moderna, pensada para uma mulher minimalista que também gosta de tomar riscos, tudo fotografado de uma forma criativa e inteligente para apresentar.
Richard Quinn apresentou há pouco o que foi possivelmente o melhor fashion film que a indústria viu em muito tempo, com um ritmo musical, figuras de látex e uma construção de atmosfera sem precedentes. Essa coleção parece a irmã conservadora comparada à apresentada no filme de trinta minutos.
O designer se emocionou ao voltar a apresentar seus desfiles presencialmente na cidade de Londres. Não só seu otimismo com o futuro é notável entre a coleção, mas também um esforço de voltar às raízes de sua marca. Das estampas florais às silhuetas quase que de estátuas góticas, a coleção emana o nome de Richard Quinn.
Não tivemos a rigidez de suas segundas peles de látex preto ou muitas menções a seu estilo beirando o dominatrix, que deram lugar a looks cobertos da cabeça aos pés em enormes vestidos florais e sobretudos de spikes e couro. Essa coleção é a sua volta ao formato presencial de uma maneira quase reconfortante.
Por mais que não se pense na palavra conforto para explicar os designs de Quinn, há algo de aconchegante em ver um designer em sua cidade de origem depois de tempos conturbados, com estilos que são claramente assinaturas breves de sua marca e trajetória.
Desde os bordados maximalistas as silhuetas que não fazem muito sentido para um olho despreparado é, possível fazer uma observação sobre a temporada na capital britânica como um todo: todos estão emocionados e animados, com teorias transbordando de otimismo por estarem de volta aos desfiles presenciais, quase um grito de “não voltamos os mesmos dessa experiência traumática, mas estamos aqui e ainda fazendo roupas incríveis”.
Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Richard Quinn, Ashlyn, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.
Ontem (23), Blumarine apresentou sua coleção de primavera/verão 2022 e definitivamente não é destinada aos amantes do minimalismo clássico.
Mais uma vez, Nicola Brognano busca inspiração na moda dos anos 2000 e faz referência a ícones da moda da época: o vestido jeans usado por Britney Spears, o estilo de Paris Hilton, Victoria Beckham, Beyoncé, Fergie e outras grandes estrelas da década.
O maximalismo, drama, exagero e sensualidade são apenas alguns dos adjetivos cabíveis para a fantasia colorida Blumarine.
Blumarine X moda dos anos 2000.
Desde bandanas amarradas na cabeça até modelos cobertas de glitter, sapatos de bicos extra finos e peças carregadas de transparência; Brognano traz elementos chaves que fizeram o estilo Y2K. Desde sua estreia na marca, o designer se preocupa com a relação com as novas gerações, em representar não só o ontem como também o agora.
Desde o início da pandemia, o estilo foi adotado por jovens ao redor do mundo e popularizado por meio de redes sociais — principalmente pelo TikTok. A nostalgia pelos anos de infância e a volta de tendências de décadas passadas não é novidade, na década de 2010, com as crianças da década de 1990 chegando à idade adulta, pôde-se observar a volta de muitos elementos da década — desde séries e filmes até elementos no vestuário.
O padrão cíclico da moda é esperado e previsto, no entanto, as tendências devem se adaptar tendo em mente o contexto atual e o público do momento. Nicola Brognano e sua principal colaboradora, a stylist Lotta Volkova — fazem isso com maestria, fato que se comprova com a grande popularidade de suas coleções nas redes sociais.
Para esta coleção, o designer apostou em peças em jeans, cintura baixa, vestidos com transparência e borboletas. Broganano reuniu uma paleta colorida e vibrante que abre portas para o mundo pós-pandemia e as esperanças de um futuro melhor e mais vivo. Blumarine representa a mulher jovial e ousada, o mini é extremamente mini e o maxi ainda é sexy por decotes ou transparência.
E, de acordo com as palavras de Lotta Volkova para Vogue, a nova Blumarine é sobre “Fadas militares. Garotas borboletas sensuais. Frívolo e divertido mood Y2K quando as redes sociais não estavam no horizonte. Rainhas de patchwork em jeans. Garotas trippy, psicodélicas e neons. Estampas jeans no tapete vermelho, bandanas no tapete vermelho. Sereias de cintura baixa.”
No momento, Brognano se preocupa em definir a identidade da marca, reutiliza algumas das cores da coleção Resort e silhuetas similares. No momento, as peças Blumarine sob o comando do estilista são facilmente identificáveis. Prova que o seu objetivo está sendo alcançado.
A borboleta — em cintos acessórios ou estampas — segue como mascote da marca, ícone prometido e protegido pelo diretor criativo da marca.
Recordando da ilustre frase do editor de moda Candy Pratts Price no documentário The September Issue de 2009, “September is the January of fashion” (“setembro é o janeiro da moda”, em português). O documentário acompanha a redação da Vogue estadunidense durante o fechamento da edição do mês de Setembro, também conhecida por ser a edição mais importante do ano.
Durante esse mês, amantes, comentaristas e jornalistas de moda são bombardeados por novidades e coleções. As temporadas de Primavera-Verão acontecem em sequência durante todo o mês, começando pela NYFW – que este ano teve início no dia 7 de Setembro e terminou no dia 12. Neste artigo serão examinadas as coleções que ocorreram durante o evento, seguindo por ordem cronológica dos acontecimentos.
Imagens dos desfiles comentados da NYFW, todas as fotos retiradas do Vogue Runway.
DIA 1 – 07 de Setembro;
Se o começo da temporada estabelece o tom das próximas semanas, apesar das poucas coleções, o primeiro dia da NYFW fez seu impacto inicial esperado. Desde Collina Strada e suas cores vibrantes, volumes contraditórios e o mais importante de toda a coleção – um dos castings mais inclusivos em algum tempo. A mensagem é clara: inclusão e diversidade são a base a moda de Nova Iorque. São relíquias não reconhecidas oficialmente, mas sabemos que sempre estiveram lá – do streetwear que foi para as passarelas, até a vitória na famosa Batalha de Versalhes – mesmo que por algumas (muitas) vezes esquecidas entre coleções.
Nada impede absolutamente ninguém de desfilar para a Strada – impedimentos físicos e estéticos não são o problema, as roupas são mostradas em corpos reais em situações reais. Temos modelos a vista, mas conseguimos perceber a versatilidade do casting bem apurado. Christian Siriano não passa muito longe num casting diversificado, mas em inovação em design e construção de coleção? Talvez.
Infelizmente foram apuradas diversas ‘semelhanças’ entre a coleção de Siriano e trabalhos prévios de outros designers. Mesmo assim não salvam a coleção: parece que se é desejado um grande momento de Siriano, o conceito das coleções é bom mas a junção da vestimenta em si é que normalmente não consegue traduzir o mesmo. São alguns vestidos individualmente bons, juntos numa coleção que não parece uniforme ou nem mesmo conversa entre si… Os próprios tecidos e técnicas do designer lembram um projeto de competição de reality show, não um grande momento de vestidos de baile na NYFW.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Collina Strada e Christian Siriano fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial das marcas.
DIA 2 – 08 de Setembro;
O dia começa com a coleção de Ulla Johnson, um ar fresco, leve e boêmio no meio de Manhattan graças a elementos claros do design de Johnson – como florais, babados volumosos, bordados, tecidos fluídos em tons alegres e neutros. Já é uma característica visual da marca procurar apresentar coleções que refletem sua calma e a busca por um estado de paz.
Completamente diferente da coleção que a antecede, Willy Chavarria leva o conceito de ‘Maxi’ um pouco ao pé da letra com calças de cinturas altíssimas e camisas oversized. O importante de se analisar essa coleção é como o streetstyle de subculturas latinas – principalmente da cidade de Nova Iorque – que normalmente são associadas a falta de estilo ou refinamento foram uma das maiores inspirações para o designer que criou bombers acetinadas, jaquetas estilo motociclista, cintos com maxi fivelas e cores vibrantes.
Proenza Schouler tem um histórico de roupas descomplicadas e versáteis desde sua fundação em 2002 por Jack McCollough e Lazaro Hernandez, mas nesta temporada os maiores traços da coleção são “roupas alegres para voltar a sair para o mundo”, como disseram os designers para a jornalista Nicole Phelps. São roupas utilitárias facilmente vistas em armários do consumidor contemporâneo como blazers, trench coats, ternos e vestidos fluídos em cores vibrantes – afinal, ainda é uma coleção de primavera-verão – porém a habilidade desses elementos tão comuns de se destacarem de uma forma única é o verdadeiro e principal atributo da coleção.
Não muito diferente de um dos favoritos da semana, Peter Do apresenta uma coleção honrando a identidade criativa de sua marca, atribuindo silhuetas de alfaiataria tão fortes e reconhecidas de seu trabalho em conjunto com tecidos e texturas surpreendentes que trazem uma leveza e fluidez necessárias para sua coleção, além de valorizar suas raízes vietnamitas com uma releitura do tradicional ÁO DÀI.
Terminamos o forte dia com Prabal Gurung, que na temporada passada foi um dos poucos designers a embarcar completamente no tema de otimismo e uma saudades de glamour para o próximo ano. Nesta coleção, ele diminui um pouco esses elementos e olha novamente para a “garota americana”, pensando em como trazer um ar cosmopolita e de poder para a roupa em si, explorando silhuetas bem marcadas mas com uma ambiguidade de escolher cores majoritariamente vibrantes para a coleção.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Ulla Johnson,Willy Chavarria, Peter Do, Proenza Schouler, Prabal Gurung fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.desfiles
DIA 3 – 09 de Setembro;
Gabriela Hearst é um novo grande nome de Nova Iorque. A uruguaia foi apontada como diretora criativa da Chloé e teve sua estreia durante a temporada passada. Existe uma linha clara entre o trabalho de sua marca autoral e na grife francesa. O jornalista Anders Christian Madsen fez um ponto claro em sua crítica: é como ver duas crianças diferentes de pais que você conhece crescerem diante de seus olhos – e uma analogia: Hearst nomeou sua coleção de estreia na grife de “Afrodite”, para complementar de uma forma diferente a coleção da marca autoral que chamou de “Atena”. Pode ser uma boa previsão para Paris daqui a algumas semanas…
Agora falando sobre a coleção desta temporada, elementos de alfaiataria clássica e cortes precisos ainda marcaram presença, mas o surpreendente foram os looks em crochet de tons vivos e formas diferenciadas produzidos em colaboração com as comunidades Navajo pelo Uruguai. Destoam das características sóbrias do trabalho de Hearst da melhor forma possível, trazendo um novo elemento e dimensão para a coleção.
Seguindo para o desfile mais oposto de todos: Moschino assinada por Jeremy Scott. Desde sua primeira coleção para a marca em 2014 é possível afirmar uma coisa: Ele ama um tema. Todas as coleções têm uma forte ideia central e são trabalhadas ironicamente ou não – já que ironia é uma das bases fundadoras da Moschino. Nesta temporada o tema são brinquedos e símbolos infantis com uma dicotomia de silhuetas ligadas a alfaiataria clássica, é uma ambiguidade quase engraçada que talvez seja uma dos maiores legados de Scott na marca.
Carolina Herrera celebra 40 anos e seu diretor criativo Wes Gordon não faz passar batido com uma homenagem emocionante a desfiles que fazem parte da história da marca, principalmente os da década de 80 quando a designer venezuelana começava sua carreira na moda. São referências claras mas traduzidas de uma forma despretensiosa sendo atraente para os consumidores jovens.
E terminamos o dia em um marco turístico de Nova Iorque, subindo alto para onde nenhum outro designer foi antes. LaQuan Smith é o primeiro designer a desfilar no Empire State Building, em live com o NYT Fashion o designer explica sua atitude de “Go Big or Go Home” e as roupas refletem este exato pensamento. A mulher de Smith é sensual e de personalidade forte, ela é quem veste as roupas – e não o contrário. De vestidos transparentes a plumas e cristais, nada passa em branco. É uma mistura cosmopolita e sensual de roupas para sair.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Gabriela Hearst, Moschino, Carolina Herrera, LaQuan Smith fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
DIA 4 – 10 de Setembro;
Michael Kors sabe exatamente para quem são suas coleções e entende como ninguém que identidade visual das roupas não é necessariamente sobre logos ou características visuais – são roupas bem feitas, com especialidade em conseguir incluir em apenas uma coleção ótimos momentos para o dia-a-dia da mulher contemporânea do designer e acompanhá-la até o traje de noite.
Stuart Vevers está provando cada vez mais seu valor com sua visão para a Coach. O sucesso de vendas das bolsas e suas campanhas de marketing são os maiores medidores disso e durante essa temporada ele decidiu homenagear uma das principais designers a participar da trajetória da marca – Bonnie Cashin, uma pioneira no sportswear norte-americano que fazia roupas descomplicadas, utilitárias e modernas para as mulheres independentes no pós-guerra. Com o legado de Cashin em mente, Vevers faz uma coleção marcada por influências diretas do sportswear, especialmente sobre a cena skatista dos anos 90, e referências claras da subcultura grunge da época são possíveis de observar.
Helmut Lang é uma marca com uma história tão forte que acaba impactando suas coleções recentes. Mesmo que Lang não tenha envolvimento com a marca desde 2005, o atual diretor criativo Thomas Cawson entende seus clientes – mas ainda não consegue traduzir para um grande momento da marca hoje e se situa muito no legado do designer na década de 90. Por mais que as roupas sejam bem feitas e estruturadas já faz algum tempo, até mesmo como a coleção foi fotografada lembra a marca em seu ápice.
Liberdade é a palavra que define a coleção de Eckhaus Latta, desde cortes estratégicos que deixam do torso aos mamilos a mostra até roupas que pareciam visualmente confortáveis nas modelos. É a liberdade de vestir o que quiser e ser quem quiser sem preocupar-se com reações externas, uma coleção ligada a discussões entre os conceitos de gênero discutidos principalmente entre a geração Z. Mike Eckhaus e Zoe Latta conseguiram entender o ponto central da conversa e ascender transformando isso em uma boa coleção.
Christian Cowan adora transformar seus desfiles em verdadeiras experiências – de Teddy Quinlivan jogando o casaco de forma bruta em cima da plateia em um conjunto roxo até grandes chapéus de plumas com mini vestidos colados, é tudo sobre comemorar, sobre reconectar-se com uma grande festa depois de tanto tempo. Mas se falarmos sobre as roupas em si, talvez fiquem um ou dois pontos faltando: Quinlivan é um designer experimental e com uma queda pelo erótico, e às vezes peca na construção de uma coleção estável. Tem muitos looks bons e muitos ruins na mesma leva, o que faz duvidar-se da intuição sobre gostar ou não da temporada.
Brandon Maxwell é um dos ‘tradicionais’ designers no evento, uma aparição indispensável para a volta presencial da NYFW. Contudo, enquanto as previsões ansiavam por uma coleção com modelos famosas e vestidos longos, lisos e bem ajustados, foi apresentado algo bem diferente. Em seus cinco anos de passarelas, Maxwell ainda não havia produzido um momento de estamparia. Agora, onde o designer se encontrou na posição criativa de stylist e criador, foi possível sentir a diferença entre suas roupas, entre texturas metálicas e vestidos fluídos com estampas psicodélicas. É uma faceta diferente de Brandon que até agora não era possível ver – mas é sempre revigorante um designer se aventurar em experimentações (mesmo que algumas delas não sejam sempre certeiras).
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Michael Kors, Coach, Helmut Lang, Eckhaus Latta, Christian Cowan e Brandon Maxwell fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
DIA 5 – 11 De Setembro:
Começamos o dia com uma experiência física e espiritual em Rodarte – uma mistura de sentimentos, uma declaração das irmãs Kate e Laura Mulleavy sobre se encontrar espiritualmente e se aproximar da natureza, e também declararam a liberdade de seu espaço criativo confortável para impulsos diferentes de criação. Isso explica a coleção que tinha um pouco de tudo um pouco – dos vestidos de noite femininos pelos quais a marca é conhecida com rendas e franjas, um pouco de alfaiataria, estampas de cogumelos e terminando com uma série de vestidos leves de cores claras e modelos descalços. Realmente foi uma mistura de experiências.
O legado de Anna Sui gira em torno de ser uma das poucas designers que entende o balanço necessário entre a moda experimental e a moda de luxo utilitária. Se divertir e se expressar pela vestimenta parece ser um tema recorrente do evento por inteiro mas Anna Sui carrega esse patrimônio há anos, entregando agora uma coleção que consegue facilmente dialogar com gerações mais novas que procuram novas marcas para abraçarem e continuar uma conversa fixa com o seu próprio consumidor de anos, já que esses atributos sempre estiveram ligados a marca.
Falando em experiências, Thom Browne sempre entrega muito mais que um desfile: faz um show completo até mesmo quando estava limitado ao digital seu fashion film na Fall 2021 RTW – um dos mais interessantes e bem produzidos de toda a temporada. De repensar o que significam ternos e alfaiataria hoje, mas ainda mantendo uma precisão impecável em seus cortes e ajustes, pinturas de rosto que combinavam com enormes vestidos florais, vestidos com um relance de abdômen definido pintado, Browne não decepciona em entregar grandes experiências que unem a moda e a arte.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Rodarte, Anna Sui, Thom Browne fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
DIA 6 – 12 De Setembro;
Com a data do Met Gala se aproximando e a exibição do Costume Institute tomando forma, é uma decisão inteligente criar uma coleção com forte conexão e inspiração na história de uma das grandes designers americanas como Claire McCardell – principal inspiração de Tory Burch para sua coleção.
McCardell foi uma das pioneiras do sportswear, pensando na utilidade e versatilidade de suas roupas no cenário pós-guerra. A visão de Burch para a coleção foi justamente encontrar o equilíbrio de sua mulher cosmopolita e moderna (que nunca largou mão do seu charme boêmio) e a trajetória de McCardell. Das silhuetas precisas às estampas surpreendentes, a coleção foi bem executada em todos os sentidos da palavra.
Joseph Altuzarra volta para sua marca autoral depois de um hiatus desde 2017, quando embarcou em uma experiência transicional de designers mais estabelecidos que procuravam novas oportunidades no mercado internacional de Paris. Sua primeira coleção de volta para a marca foi um momento muito esperado.
A coleção foi descrita por ele como eclética com um toque de escapismo, uma ótima colocação – temos características claras do trabalho prévio do designer na silhueta e construção da roupa em si, mas os detalhes de styling, texturas e até estampas de tie-dye são adicionados às produções a fim de criar algo novo. É uma coleção jovem, boêmia e chique, de uma forma ambígua da palavra.
No pôr-do-sol final da NYFW com coleções que deixaram mais do que claro a ansiedade pela vontade de viver e se divertir com as roupas, a Staud fez literalmente uma enorme bola de Disco em seu desfile. Parecia uma grande festa: a designer Sarah Staudinger explicou para a jornalista Sarah Spellings que a Staud não se caracteriza como uma marca que deixa claro, no preto e no branco, suas tendências e referências da coleção. O mais importante para Staudinger seriam os momentos envolvidos no processo criativo, sentimentos que florescem desde na hora do rascunho da coleção até o animado desfile.
Com o tema da exibição do Costume Institute, os esforços do CFDA, uma NYFW cheia de novos talentos e nomes, fica bem claro que tem algum estímulo fiscal ou até mesmo sentimental para o revival da moda Americana – mas estamos prontos para isso? Apesar de alguns ótimos momentos, o evento foi morno, sem quebras de barreiras ou situações inesperados. Como fazer o revival da moda americana se mais da metade dos designers tem que se concentrar em pagar as contas no final do mês depois de um tempo conturbado é uma decisão complicada.
Mas fechamos a NYFW com um dos maiores nomes da cidade, o co-chair do CFDA: Tom Ford, que faz agora sua volta para às passarelas de Nova Iorque. Se a moda americana tem um rosto, é discutível que Tom Ford talvez seja ele. Ford mostra o otimismo máximo da melhora do cenário atual da melhor forma que pode; desenhando roupas prontas para festa.
Lantejoulas, lamê, cores vibrantes e silhuetas confortáveis se compararmos com o repertório antigo do designer, são peças para realmente serem tiradas da passarela e irem direto para algum clube exclusivo na cidade. É uma enorme representação de ansiedade em voltar a sair, se divertir e talvez o mais importante: retomar o fluxo de vendas.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Tory Burch, Altuzarra, Staud e Tom Ford fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
Depois de muito e mais de um ano sem o evento, o Met Gala aconteceu na noite desta segunda-feira (13). O baile e a exibição tiveram a moda norte-americana como tema – uma escolha que, apesar de vaga, prometia diversos elementos cabíveis para interpretação por parte dos designers e stylists.
De todos os temas já abordados pelo evento, esse não se mostrava tão complexo quanto seu antecessor (Camp) ou controverso como o tema de 2018 acerca da religião católica. Ainda assim, como de costume, convidados e seus times falharam para seguir o tema proposto.
Não é segredo que a moda norte-americana, assim como a cultura e história estadunidense — e de boa parte da América — foi construída por mãos pretas. Mas onde elas estavam na noite de segunda-feira em um evento extremamente exclusivo da sociedade estadunidense?
Alton Mason vestindo Theophilio no tapete vermelho do Met Gala, 2021. Beleza por Taylour Chanel, styling por Law Roach. [Imagem: Aday Living/ Reprodução Instagram]
Sim, o evento contou com vestidos assinados por designers pretos como Christopher John Rogers (usado pela autora Eva Chen e pela atriz Jordan Alexander) e Theophilio (usado pelo modelo Alton Mason), porém em sua minoria. Também contou com referência à grandes figuras negras norte-americanas como Aretha Franklin (vestido usado por Jennifer Hudson) e Josephine Baker (vestido da Dior usado por Yara Shahidi e da Oscar de la Renta usado por Anok Yai).
Em um ano onde houve a estreia do primeiro designer negro-norte americano na alta-costura – Pyer Moss, que apresentou sua coleção couture recheada de críticas sociais e políticas – a fundação da moda norte-americana parece ter sido mais uma vez apagada. Ao invés disso, houve a típica concentração de grandes designers brancos e suas marcas multibilionárias.
Elizabeth Keckley. [Imagem: Fotógrafo desconhecido]
A indústria da moda estadunidense foi semeada por mãos pretas. Ainda nos tempos de escravidão, eram os afro-americanos que costuravam vestidos para famílias da elite. Elizabeth Keckley, afro-americana e ex-escrava, é apenas um dos grandes exemplos dessas personalidades. Nos anos de 1860, Keckley era a costureira de Mary Todd Lincoln — esposa do então presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln. Depois de comprar sua liberdade e deixar St. Louis, Missouri, ela se estabeleceu em Washington, DC, com uma loja com 20 ajudantes e atuou como costureira das mulheres mais influentes daquele momento. Apesar de mais citada, é importante lembrar que diversos designers negros do período não foram creditados pelos seus trabalhos.
Nos anos de 1940, ainda com as leis de segregação racial no país, designers pretos estavam por trás do figurino de importantes figuras culturais. Como por exemplo Zelda Wynn Valdes, que foi responsável por desenhar as roupas da icônica cantora de jazz Ella Fitzgerald, da cantora Maria Cole, da atriz Dorothy Dandridge, da cantora Eartha Kitt e da primeira estrela de ópera estadunidense Marian Anderson. Ainda na mesma época, em Nova Iorque, há a presença de Ruby Bailey, conhecida em Harlem por seus designs repletos de cores e estampas.
[Imagens: Fotógrafo desconhecido]
Ann Lowe.
E claro, é impossível não mencionar Ann Lowe, a primeira designer afro-americana a tomar mais reconhecimento. Entre os anos de 1920 e 1960, Lowe vestiu mulheres da alta sociedade e é responsável por um dos vestidos mais notórios na história da moda estadunidense: o vestido de casamento de Jackie Kennedy. Ainda assim, na época, Lowe não recebeu crédito pelo seu trabalho por conta de sua etnia. Em 1968, a designer abriu sua loja na Madison Avenue, Nova Iorque, e hoje seus designs são exibidos em museus.
Jackie Kennedy em seu vestido de casamento, feito por Ann Lowe. [Imagem: Arquivo/FIT]
Contemporâneo de Kelly, Willi Smith é provavelmente um dos designers mais revolucionários e também mais esquecidos do cenário da moda, o inventor do streetwear. Na década de 1970, Smith foi o responsável por misturar elementos de roupas atléticas com alfaiataria, criando peças que eram feitas para serem usadas. O designer tinha a proposta da moda tangível, para todos. Seus designs ganharam fama e ele rapidamente virou uma espécie de ícone dentro da comunidade afro-americana.
Street couture, como ficou conhecido seu legado, tirava inspiração do mundano, do comum. De pessoas reais e dos subúrbios a fim de servir os mesmos. WilliWear, marca do designer com sua parceira de negócios Laurie Mallet, obteve sucesso instantâneo com sua proposta plural. Apesar de precursor do streetwear que conhecemos hoje, Smith é raramente lembrado.
Willi Smith para Digts, Coleção FW72, 1972. [Imagem: Arquivo/ Willi Smith Community Archive]
Conhecido como um dos pioneiros, Stephen Burrows — mais um contemporâneo de Patrick Kelly e Willi Smith, notável pelos seus designs repletos de cores vibrantes – é mais um dos designers que marcam a moda estadunidense. Em 1973, foi um dos cinco designers a participar do desfile Batalha de Versailles, uma competição entre designers franceses e norte-americanos para fins beneficentes.
Ainda nos anos de 1970, Burrows foi um dos responsáveis por consolidar a estética que mais tarde seria associada com o início da década — como cores fortes e formas geométricas. Durante sua carreira (que se estende até hoje), quebrou barreiras como o primeiro norte-americano a ganhar prêmios de moda, e se tornou um dos favoritos das celebridades.
Coleção de Stephen Burrows para Henri Bendel, 1970. [Imagem: Charles Tracy/ Reprodução The New York Times]
Nos anos de 1980, Dapper Dan, estilista nova-iorquino, definiu a cultura do hiphop com o uso da logomania e silhuetas que marcaram a década. Se Galliano fez uso das logos nos anos de 1990, foi Dan que deu início à tendência e redefiniu a estética urbana quando as gigantes do luxo não prestavam atenção para aquilo. Seus designs viraram uniforme da comunidade negra norte-americana dentro do cenário musical, vestindo nomes ilustres como Eric B. & Rakim e Mike Tyson.
Durante sua glória nos anos 80, se apropriou de logos de gigantes casas de luxo como Louis Vuitton, Gucci e Versace. A apropriação resultou em uma série de processos na década de 1990 que fez com que o designer encerrasse operações. Uma de suas peças mais famosas foi uma jaqueta bufante, de pele, com a estampa clássica da Louis Vuitton nas mangas — ítem que reapareceu na coleção Resort de 2018 da Gucci, dessa vez com a logo da maison italiana. Anos depois, nos anos 2000, sua influência ainda é marcada no estilo Y2K.
Dapper Dan em sua loja nos anos de 1980. [Imagem: Divulgação/ Dapper Dan]
Hoje a lista de designers norte-americanos com grande notoriedade se expande: Christopher John Rogers, LaQuan Smith, Telfar Clements, Kerby Jean-Raymond, Victor Glemaud, Kanye West e Virgil Abloh são apenas alguns nomes que continuam quebrando as barreiras da indústria da moda e apresentam coleções que ultrapassam as expectativas de criatividade e manufatura. A NYFW que se encerrou neste domingo (12) foi apenas mais um atestado de que os designers pretos norte-americanos são os que trazem algo interessante para o cenário da moda estadunidense. Mesmo assim, onde estavam esses criadores no tapete vermelho do Met Gala?
Sem referências daqueles que construíram a moda norte-americana ou os que a mantém interessante atualmente, o evento da moda mais esperado no ano caiu como apenas mais um tapete vermelho hollywoodiano. A oportunidade de creditar designers de cor que fizeram a moda estadunidense — ou até mesmo grandes ícones da moda como Diana Ross, Prince e muitos outros — foi perdida mas já era esperada.
Os convidados não são obrigados a seguir o tema, e realmente poucos seguiram. Em sua grande maioria, os vestidos não referenciavam nada da história da moda estadunidense ou do país em geral. Trajes bonitos, sem sombra de dúvida, mas que fugiam do tema relativamente fácil proposto pelos presidentes do evento. A noite foi agraciada com momentos em Oscar de la Renta, mas assombrada por Saint Laurent, Valentino e Balenciaga — marcas que seriam perfeitas em qualquer outro evento ou qualquer outro tema, ou até mesmo se simplesmente adotassem elementos da cultura norte-americana.
A presença de marcas, mesmo gigantes, que se destacaram na indústria estadunidense foi escassa: não houve Marc Jacobs, pouquíssimos Ralph Laurens, Calvin Kleins e até mesmo Michael Kors. Isso sem mencionar a (quase) total falta de designs inspirados por Halstons e Bob Mackies. Alguns trajes pareciam até mesmo pertencer a tapetes vermelhos passados.
Com uma cultura rica e recheada de elementos marcantes, do country até Old Hollywood e subculturas de streetstyle, é decepcionante assistir o descarte do potencial de uma noite tão aguardada.
Opera como um relógio que badala toda primeira segunda-feira de maio, uma das poucas tradições e instituições intocadas que subsistem na indústria da moda. Desde do primeiro baile em 1948 o baile de gala do Costume Institute dentro do Metropolitan Museum of Art , permanece como um dos maiores eventos de moda até hoje e esperamos ansiosamente toda primeira segunda-feira de maio momentos inigualáveis de extravagância e arte.
O objetivo inicial no ano de fundação era ser um baile de arrecadação de fundos e divulgação da exposição anual para o até então recém fundado Instituto de figurinos do Metropolitan Museum of Art. A primeira edição foi um jantar à meia-noite e cada ingresso agregava o valor de cinquenta dólares, mas o que começou como uma festa apenas para apoiar a instituição se tornou a joia da coroa da sociedade Nova-Iorquina.
Vídeo oficial da primeira parte da exposição
Logo depois ficou conhecido entre esse universo como a “festa do ano” e hoje as associações não são muito diferentes se você gosta ou trabalha com moda, devemos isso bastante a uma editora-chefe extremamente especial da Vogue US que também foi consultora especial do instituto de figurinos entre os anos de 1972-1989 já sabemos de quem estamos falando, de Diana Vreeland.
Vreeland era conhecida como a editora que levou a Vogue a ficar conhecida oficialmente como a bíblia da moda, quando ela sentia uma visão ia com a mesma até o melhor resultado possível custe o que custar, o que segundo o livro Glossy – The inside story of Vogue de Nina-Sophia Miralles esse espírito perfeccionista e extravagante não a fez ficar muito popular entre a gestão financeira da Condé-Nast. Mas o mesmo espírito convenceu as maiores celebridades da época como Jacqueline Kennedy Onassis e Pat Buckley a irem prestigiar o baile, fazendo por consequência ele ficar cada vez mais influente.
Bianca Jagger em Halston na edição de 1977 [Imagem: Arquivo/Vogue US]
No ano de 1988 Anna Wintour se torna a editora-chefe da revista Vogue e respeitando a tradição de suas predecessoras em 1995 ela assume como copresidente do evento como um todo; “Ela transformou o evento em uma das campanhas de arrecadação de fundos mais visíveis e bem-sucedidas do mundo, atraindo convidados dos mundos da moda, cinema, sociedade, esportes, negócios e música”. – Nancy Chilton, diretora de relações externas do The Costume Institute do MET.
Wintour fez o baile ser uma verdadeira mistura entre as maiores celebridades conhecidas no mundo moderno em conjunto com grandes famílias endinheiradas tradicionais, essa mistura com uma campanha de marketing incrível dentro dos próprios looks que são usados durante o baile. A visibilidade que uma marca pode ter estando ali é enorme, porque as celebridades são rostos conhecidos mas as verdadeiras estrelas do eventos são as roupas sensacionalmente confeccionadas. No Met Gala vale tudo dentro do tema da exposição para ganhar uma boa atenção.
Mas o que acontece quando o mundo pressiona o botão de pausa um mês antes do evento?
Em 2020 o baile foi cancelado em decorrência da Pandemia do Coronavírus que abalou profundamente o funcionamento das sociedades modernas durante esse primeiro período. A exposição ‘About Time; Fashion and Duration’ chegou a acontecer mas o baile foi inteiramente cancelado. Com uma volta em novos ares em 2021, com a vacinação nos Estados Unidos desenrolando-se foi decidido que o novo baile aconteceria durante o mês de Setembro marcando o aniversário de 75 anos do Instituto de figurino e também marcando o começo da NYFW da temporada de primavera-verão e caso você não esteja familiarizado com o mês de Setembro vale como o ano-novo de toda indústria com as temporadas internacionais acontecendo em ordem, e começando por Nova-Iorque.
Ok… Mas e o tema?
No vídeo divulgado pelo próprio museu sobre a exposição já é possível reconhecer algumas criações de nossos designers contemporâneos favoritos como Christopher John Rogers e Prabal Gurung, muito feliz que nos primeiros glimpses já conseguimos identificar designers não-brancos na exposição.
O Costume Institute apresentará uma exposição de duas partes para 2021, “In America: A Lexicon of Fashion” e “In America: An Anthology of Fashion”. Basicamente, depois de um ano conturbado, o curador da exibição Andrew Bolton decide olhar para a história da moda Estadunidense, a primeira parte tem previsão de ser sobre um dos grandes triunfos da moda americana hoje, trazer para os holofotes novos, independentes e incríveis designers.
A moda estadunidense além de ter sido historicamente muito ligada a movimentos da cultura pop e Hollywood do filme noir até o glamour de Edith Head em seus figurinos para o cinema, como tem um passado calcado no racismo estrutural dentro do país, muitas costureiras pretas que faziam um trabalho inspirado na alta-costura parisiense para a alta-sociedade eram extremamente descredibilizadas na época. Um enorme exemplo foi o vestido de casamento de Jacqueline Kennedy feito pela Ann Lowe que assinava vestidos dos Kennedys aos Rockefellers e mesmo assim tinha problemas de reconhecimento na época.
Edith Head [Imagem: Getty Images]
Não muito longe, Willi Smith quebrou barreiras na moda americana que tiveram impactos em âmbitos internacionais e infelizmente ainda algumas vezes é negligenciado ele é reconhecido por ser um dos primeiros a trazer o streetwear para as coleções de moda de luxo juntando o versátil e utilitário com códigos de vestimenta da época. Mas algumas previsões sobre a exposição espero ver nomes de indivíduos geniais que formaram a moda americana como como Halston, Zac Posen, Bob Mackie, Stephen Burrows, Ralph Lauren, Oscar De La Renta, Marc Jacobs, Tom Ford e Ann Lowe.
Durante a legendária batalha de Versalhes, que colocou os estilistas franceses tradicionais contra os novos, jovens e idealistas americanos numa batalha de coleções em um evento beneficente com objetivo de arrecadar fundos para recuperação do palácio. A modernidade e diversidade que os americanos trouxeram levou a própria vitória, isso é um dos muitos exemplos do quanto a indústria pode se beneficiar com representatividade criativa trazendo novas experiências de vida, amor e criatividade para as coleções. Um dos exemplos históricos dentro da moda norte-americana que é esperado tanto para a própria curadoria das exposições como no red carpet.
Willi Smith à direita e Ann Lowe à esquerda. [Imagem: Arquivo / L’Officiel US]
Mas explicando um pouco do que já nos foi informado sobre o evento em si, todos os anos o baile tem vários co-presidentes que ajudam a hospedar o evento. Para o de 2021 temos Timothée Chalamet, Billie Eilish, Amanda Gorman e Naomi Osaka irão co-presidir, enquanto Tom Ford, Adam Mosseri do Instagram e Anna Wintour servirão como presidentes honorários.
Este ano tivemos o primeiro convidado preto na semana de alta-costura de Outono Inverno 2021 com Kerby Jean-Raymond apresentando em sua marca autoral Pyer Moss. O próprio tema da coleção de Raymond circulou entre sonhos e invenções pretas, o quanto eles foram importantes para a cultura e indústria Estadunidense. Além de designers que fizeram história novas marcas independentes, modernas e jovens que estão trilhando muito bem o mercado como a Pyer Moss também devem ser levadas muito em conta nesta edição. Nomes já conhecidos e amados pelos amantes de moda como Area, Christopher John Rogers, Christian Cowan, Dion Lee e Peter Do para citar alguns.
Lembrando que não podemos esquecer do legado de estilistas Norte-Americanos em grandes casas tradicionais de moda de luxo, Marc Jacobs inaugurando a primeira coleção de pronto-para-vestir na Louis Vuitton, Tom Ford renascendo uma Gucci sexy e campeã de vendas e um exemplo um pouco mais recente é o sucesso que Daniel Roseberry tem conquistado a cada apresentação nova de coleção na Schiaparelli – Misturando elementos de alta-costura, arte surrealista e vestimentas muito bem trabalhadas ele continua o legado que seus predecessores deixaram, criou-se até o ditado; “Nenhum Americano falhou em Paris”.
Schiaparelli Spring 2021 Couture [Imagem: Daniel Roseberry / Schiaparelli]