Gloria: romance, sexualidade e liberdade.

Como prometido em outubro de 2022, Sam Smith lançou seu quarto álbum de estúdio, Glória, na última sexta-feira (27). O cantor britânico deixou fãs e apreciadores ansiosos para o projeto completo depois do pequeno spoiler do que tinha por vir com o lançamento, em setembro de 2022, do sucesso Unholy, com parceria de Kim Petras. O hit alcançou o topo da Billboard Hot 100 e dominou trends nas redes sociais. 

 O álbum conta com 13 faixas e grandes parcerias como de Ed Sheeran, Jessie Reyez, Koffee e Calvin Harris, mas o que deixou a todos com uma pulga atrás da orelha foi a escolha do nome do álbum. Ao podcast Rule Breakers da BBC, Sam explica que Gloria foi o nome que deu a sua voz interior, uma voz lutadora que deve ser alimentada: “Existe uma voz lutadora em todos nós e você só precisa cuidar disso”. 

“Chamei meu álbum de ‘Glória’ porque chamei aquela voz dentro de mim de Glória. É como uma voz na minha cabeça que apenas diz: ‘Você consegue’.” Não só inspirador, o álbum também é um símbolo de empoderamento e representatividade, é sobre ter a liberdade para se encontrar dentro de si. 

Na mesma entrevista à BBC, Sam menciona sua trajetória na descoberta de sua identidade: “Acho que sempre fui não-binário, sempre fui queer. E eu sempre me senti assim”, explicou. “Muito, muito estressante e assustador, mas no minuto em que encontrei essas palavras e encontrei esta comunidade, minha paz interior se acalmou pela primeira vez em anos. Foi incrível”, finalizou o artista. 

A primeira faixa do álbum é exatamente sobre amor próprio e autodescoberta. Love Me More foi lançada a quase um ano atrás, em abril de 2022, já deixando um gostinho de quero mais para as próximas faixas. A música começa com um ar mais melancólico, mas não perde a essência dançante que Sam oferece nas suas músicas e traz uma batida contagiante que segue até o final da canção. O clipe foi lançado na mesma época e traz imagens de Sam se amando mais, literalmente!

A próxima faixa, No God fala sobre o próximo sempre querer estar certo, sobre querer provar algo. Não há uma história por trás da música, mas tem uma letra perfeita para quem quiser soltar alguma indireta: “Por que você tem que estar no controle? Quando você estiver errado, baby, deixe pra lá. Só porque é a sua opinião, não significa que está certo.” Com um som clean e leve aos ouvidos, a voz do Sam se mostra bem característica nessa faixa.

Hurting Interlude é um interlúdio – um intervalo entre as canções de um álbum, que pode ser feito através de um som ou voz. Nesse caso, Sam opta por uma voz que em 18 segundos diz: “Ter que mentir, eu sinto, é a parte mais triste e feia de ser homossexual. Quando você tem sua primeira experiência amorosa ruim, por exemplo, você não pode ir até seu irmão ou irmã e dizer: ‘Estou sofrendo’”.

A ordem das faixas foi muito bem planejada, já que o interlúdio precede Lose You, a canção que fala sobre perder o parceiro, talvez fruto de uma experiência amorosa ruim. A música não é melancólica apesar do que sua letra sugere, tem uma batida dançante, poderosa, que fala diretamente com quem quer que pretenda deixar o interlocutor da canção.

Logo em seguida, Perfect, um feat comJessie Reyez,apresenta uma vibe mais romântica. Essa música fala sobre conquista, parar com as noitadas para um provável romance ao lado de alguém: “Pode ser o tempo certo para você cara, sim. Tenho um sentimento de que pode ser você, deve ser você.” 

Finalmente chegou a hora do maior hit do álbum: Unholy. Com parceria de Kim Petras, o single viralizou no TikTok quase dois meses antes de seu lançamento. A estratégia de Sam Smith de soltar o refrão da música na plataforma para só depois lançar a música completa nos streamings teve um grande sucesso, que continua até hoje. Lançada em setembro de 2022, Unholy esbanja sexualidade e domínio. A letra fala sobre um homem “malvado” que passa suas noites no “The Body Shop”, – referência a um famoso clube de strip-tease de Los Angeles, que no clipe da música, com o mesmo nome, é localizado em Londres – sem que sua mulher descubra sobre suas ações “pecaminosas”. 

O mais interessante é que Unholy foi gravada na Jamaica e Sam explicou ao Entertainment Tonight que foi um dos momentos criativos mais gloriosos que já teve como artista: “Eu acho que sei o que quero falar agora, acho que sei quem sou um pouco mais e estou pronto para me divertir”.

Em Unholy, Sam e Kim parecem estar em um mundo mágico de atitudes profanas, de liberdade e sexualidade, além da clara representatividade que apresentam na música. A canção é o maior sucesso global lançado por artistas transgênero e não-binário. “Sempre houve artistas trans incríveis e talentosas, mas sem o devido reconhecimento.”, disse Petras à Billboard

Depois do single, a sétima faixa do álbum é How To Cry, também mais inclinada a uma vibe melancólica, a qual Sam sabe bem como fazer. A música fala algo sobre mentiras, não mostrar sentimentos e a dor que isso causa aos outros. “Porque ninguém te ensinou como chorar, mas alguém te ensinou como mentir”.

Six Shots, a oitava faixa do disco, tem uma melodia sexy, o que combina muito com a letra da canção, que mistura bebida com prazer. Com direito a comparações, o artista diz ser como um Whiskey, o que atinge fortemente mas tem um gosto doce, por isso se torna difícil de ser amado: “Não tem como me amar, não tem como. Você diz que precisa de mim, mas não me conhece. Sou do tipo escuro (Whiskey), para sempre sozinho”

A próxima faixa com parceria de Koffee e Jessie Reyez, Gimme, apresentou um grande potencial para se tornar um hit desde o dia de seu lançamento nas plataformas, 11 de janeiro. A música é sensual, contém uma batida impactante e sexy e esbanja euforia com a voz de Jessie Reyez, mais nasal, que combina muito com o estilo da canção, assim como a da cantora jamaicana Koffe, que leva um sotaque característico aos versos da música. 

O clipe de Gimme foi lançado no dia 13 de janeiro e também entrega muita sexualidade de Sam, Jessie e Koffee. Se passa em uma balada e todos exercem livremente seu desejo de ser quem são, com muito beijo, bebida e dança. “Você tem o que eu quero e é melhor você me dar, me dar. Eu mexo com o seu corpo, então mexa o seu corpo junto ao meu”.

Depois de Gimme, Sam escolhe mais um interlúdio para separar as canções que estão por vir. Dessa vez, Dorothy´s Interlude tem 8 segundos e a voz no áudio é de Judy Garland, a atriz que interpretou Dorothy em O Mágico de Oz (1939) e se tornou um dos primeiros ícones gay da história. O áudio diz: “Como é para uma propagação central. Além do arco-íris. Acredite no poder gay” e faz várias referências aos “amigos de Dorothy”, como a comunidade gay era chamada na década de 50 e 60 em Londres, onde viviam sob ameaça e violência e acabaram encontrando nas representações de Judy um lugar de acolhimento.

Mais um feat com Jessie Reyes e dessa vez também com Calvin Harris, I´m Not Here To Make Friends fala sobre amar. A melodia se parece com uma balada electropop, bem animada ao estilo Calvin Harris e o refrão é contagiante, faz o ouvinte querer dançar e cantar com Sam. O clipe foi lançado recentemente, no dia 27 de janeiro, e combina muito com a canção. Dirigido por Tanu Muino, ele entrega cores vibrantes e muita festa. Smith aparece vivendo plenamente e livre, com looks icônicos, como plumas, penas e diamantes, além da já esperada sensualidade que se tornou uma marca registrada do álbum.  

A décima segunda faixa leva o nome do álbum, Gloria, que tem apenas 1 minuto e 50 segundos, se parece mais como uma canção sacra, um coro, e fala sobre ser quem é, sobre brilhar como um diamante e cantar um hino a ‘Gloria’. 

Finalizando o álbum, o grande e mais esperado feat aconteceu: Sam Smith se juntou com o também britânico Ed Sheeran para uma parceria poderosa em Who We Love. A letra é bonita e romântica, fala sobre amar quem se ama, sobre não poder escolher o amor, pois seu coração sabe mais do que você mesmo. A voz de Sam combinou perfeitamente com a de Ed, trazendo uma sensação de calmaria e romance a melodia da música. 

Sam coleciona em sua carreira mais de 35 milhões de vendas de álbuns, 260 milhões de vendas de singles e 45 bilhões de streams. Desde sua estreia no dia 27, Gloria liderou os charts, estreando como número 1 do Top Albums Debut Global, se tornando um dos maiores sucessos do artista nas paradas.

Gloria se tornou um marco na carreira de Sam. Sendo seu quarto álbum de estúdio, é onde ele se redescobre e se livra das amarras de uma sociedade preconceituosa e sufocante, mas que também há uma revelação criativa e pessoal sobre sua vida e sua carreira. Ao contrário do que parece ser em algumas canções, o álbum não é melancólico e nem feito para quem teve o coração partido, mas é uma marca de expressividade e foi a forma que o artista encontrou para mostrar sua construção identitária interior e exterior. 

O álbum é um misto de paixão, sexo, autoconhecimento e confiança, sendo o mais criativo e expressivo na carreira do britânico. Misturando temas improváveis como sexualidade e religião, o álbum conseguiu transbordar a sensação de libertação, tanto de seu corpo como o de sua alma, e finalmente liberou sua “Gloria”!

Rush!: glam rock, críticas sociais e muitas músicas para se dançar

Nesta última sexta-feira (20), a banda italiana de glam rock Måneskin lançou seu terceiro álbum Rush!. Formada em 2016 na cidade de Roma, o grupo conta com quatro integrantes: o vocalista Damiano David, o baterista Ethan Torchio, a baixista Victoria De Angelis e o guitarrista Thomas Raggi. O nome Måneskin vem do dinamarquês e significa “luz da lua’’. A banda decolou após sua vitória no 2021’s Eurovision Song Contest.

‘’Nesse álbum, tentamos experimentar mais e ir em diferentes direções. Cada um de nós tem diferentes personalidades e gostos pessoais. Tentamos explorar isso ao invés de ficarmos apenas em um lugar’’, disse Victoria De Angelis para Esquire.

Capa de Rush! [Imagem: Reprodução:Spotify]

O novo disco conta com 17 faixas e diferentemente dos outros dois álbuns da banda, Teatro d’ira e Il ballo della vita,  Rush! fugiu do costume do grupo italiano e tem a maioria de suas músicas em inglês, contando com a participação de Sly, Captain Cuts, Max Martin em sua produção. De acordo com o grupo, o álbum foi inspirado na banda britânica de rock alternativo Radiohead e em críticas sociais. 

A primeira faixa do álbum é OWN MY MIND, onde os fãs já puderam ter uma noção do que estava por vir. A música foge um pouco do padrão do grupo e explora mais o techno world, perfeita para dançar. Em seguida, GOSSIP não decepciona. Com a participação do guitarrista Tom Morello, foi lançada no dia 13 de janeiro como uma prévia do álbum e faz uma crítica ao American Dream das celebridades, que, segundo eles, se baseia em: fofocas, bebidas, falsidade e cirurgias plásticas. Algo supérfluo, que as pessoas só descobrem quando entram nesse meio.

TIMEZONE é a terceira faixa de Rush!. A letra foi escrita por Damiano como uma carta direta de amor. O ritmo vai ao encontro com a emoção da letra, começando com algo suave e terminando com raiva e desespero. BLA BLA BLA é perfeita para aqueles que acabaram de sair de um relacionamento. A música retrata uma relação totalmente tóxica, mas com tons de ironia e provocação. 

BABY SAID, vem em seguida misturando vários ritmos e abordando algo muito comum. O flerte. Damiano fala sobre aquele sentimento de conhecer alguém que te faz querer ter algo mais sério apenas para depois levar um balde de água fria na cabeça, pois a pessoa não queria nada além de algo casual. Quem nunca passou por isso, né! A sexta faixa é GASOLINE, uma música que muitos fãs da banda já conheciam, afinal ela já havia sido tocada nos últimos shows que eles fizeram, trazendo uma pegada bem rock ‘n roll e abusando da bateria.  

Seguimos com FEEL, uma canção que, de acordo com as explicações que o grupo forneceu ao Spotify no dia do lançamento, as palavras desta canção são usadas exclusivamente para fins sonoros e como uma experiência, sem nenhum significado. Uma coisa é fato, essa foi uma experiência que deu certo.  

DON’T WANNA SLEEP é a oitava música, com um forte contraste: uma letra que fala sobre solidão e uma melodia que te faz querer sair da cama e dançar. A necessidade de escapar da realidade e o excesso de pensamentos que os impedem de dormir são o foco dessa faixa. 

Continuamos com KOOL KIDS, uma das primeiras canções que a banda escreveu após ganhar o Eurovision. “O que te faz ser legal ou não? Até que ponto isso importa?” Esses são os questionamentos centrais da música. As fortes críticas que Måneskin recebeu após o prêmio, como as que desmereceram sua vitória, foi o que motivou o grupo a criar essa faixa. No entanto, o fato que mais chama atenção é que Damiano gravou essa faixa completamente bêbado. 

IF NOT FOR YOU é aquela que se você quiser chorar, é ela! Fugindo totalmente do ritmo tradicional, a banda apostou em uma música lenta e melancólica completamente diferente de todas as outras 16 canções de Rush!. A bateria e o baixo foram deixados de lado e o foco ficou apenas na voz anasalada de Damiano e na guitarra de Thomas Raggi. 

READ YOUR DIARY é uma canção um tanto peculiar. Quando misturados os sentimentos de obsessão e loucura, obtém-se a letra da décima primeira música. A banda trouxe uma canção que aborda a visão de uma pessoa que age de maneiras bizarras quando está obcecado por alguém. 

O disco segue com MARK CHAPMAN, a primeira música em italiano do álbum. Seguindo a mesma linha da faixa anterior, em que também se fala sobre obsessão, mais especificamente entre um stalker e sua musa. É a canção com o ritmo mais rápido da banda, com cerca de 178 bpm (batidas por minuto).

A próxima faixa também é em italiano e tem um tom mais agressivo. LA FINE retrata as preocupações da banda com a situação de seu país no que tange à direção política que a Itália está indo: a extrema-direita. A ascensão de Giorgia Meloni trouxe esse medo devido os valores mais tradicionais que a premiê apoia e suas críticas à comunidade LGBTQIA +. O governo é formado pela coalizão de outros dois líderes de direita. 

IL DONO DELLA VITA foi a primeira música escrita para o disco. Cantada no idioma materno de Måneskin, a melodia é mais calma, mas igualmente bela, falando sobre a exaltação da alegria e reforçando a necessidade de valorizarmos as coisas simples da vida. 

MAMMAMIA é aquela música para você ouvir no máximo enquanto dirige por aí. Trazendo a clássica combinação de bateria e instrumentos de corda, a banda acertou mais uma vez no quesito de fazer uma música que não sai da cabeça. Não é atoa que a faixa continua sendo ouvida mesmo tendo sido lançada há um ano atrás. Seu videoclipe atingiu mais de 34 milhões de visualizações. Sabe quando você está fazendo algo super bacana, mas alguém insiste em menosprezar seu trabalho? Pois é, é exatamente sobre isso que essa faixa fala. 

A penúltima faixa, lançada em maio de 2022 , SUPERMODEL foi escrita após o grupo ter passado alguns meses em Los Angeles e ficarem intrigados com a concepção do conceito de ‘’celebridade’’. A personagem retratada na canção parece ser super legal, quase a própria definição de it girl, mas na verdade, luta contra vícios, solidão e depressão. 

Por fim, a última faixa de Rush! é THE LONELIEST. O single, lançado em 7 de outubro de 2022, permanece no Today´s Top Hits do Spotify até o início de janeiro. Uma música com uma pegada melancólica dos anos 90, simbolizando uma despedida por si só e mesclando uma carta de amor, de adeus e um testamento em seus 4 minutos e 7 segundos. Funcionando como uma espécie de catarse – liberação de emoções ou tensões reprimidas – para a banda e para aqueles que estão tentando superar a solidão e a falta de uma pessoa querida. 

Com esse terceiro álbum, Måneskin vem conquistando cada vez mais pessoas ao longo dos anos. Rush! mostrou que o grupo entende do que está fazendo e que pode ser versátil, mas sem abandonar suas origens italianas e do glam rock. Mostrando para as novas gerações que o rock ‘n roll não ficou apenas no século XX. 

Um álbum relativamente longo, com cerca de 52 minutos de duração, mas que contém desde músicas que te fazem querer chorar até aquelas impossíveis de ficar parado, tanto por conta de seus ritmos quanto pelo liricismo. É visível que houve um certo cuidado para que Rush! tivesse um pouco da cara de cada um dos integrantes, principalmente no que tange às letras das faixas do disco.  

O álbum, mesmo tendo sido produzido em solo estadunidense, na cidade de Los Angeles, não tentou se encaixar no padrão massificado da indústria musical, muito pelo contrário, trouxe autenticidade. Tentar restringir o álbum em apenas um gênero é praticamente impossível, mas uma coisa é certa: esse pode ter sido um dos melhores trabalhos de Måneskin até agora.

Retrospectiva de Música 2022

Texto por Gabriela Rocha e Isabelle Zanardi

2022 para a música foi sinônimo de grandes retornos. Com a volta de turnês, comebacks esperados por anos e alguns artistas voltando às suas origens, a indústria musical passou por uma grande montanha russa durante o ano. 

Antes de entrar em 2023 com o pé direito, confira quem fez a diferença em 2022!

Clipes Memoráveis

Uma das melhores partes do ano é o lançamento dos clipes cheios de coreografia, conceito e superproduções. Em 2022, nossos artistas favoritos não decepcionaram e trouxeram o melhor para o mundo da música.

Anitta abriu o ano com Boys Don’t Cry, a música pop rock trouxe o conceito gótico com diversas referências a Thriller, de Michael Jackson, e filmes como Harry Potter e Os Fantasmas Se Divertem.

Boys Don’t Cry, de Anitta

The Weeknd seguiu surpreendendo em suas produções com o clipe de Out Of Time. Retratando um relacionamento unilateral com um final inesperado, o vídeo segue a paleta do álbum e dá ganchos para a construção de narrativa visual proposta ao decorrer da era.

Out of Time, de The Weeknd

Como parte da trilha sonora do filme biográfico de Elvis Presley, Doja Cat lançou Vegas, trazendo um cenário que mistura a década de 1970 com a atual, formando um bom contraste da carreira de Elvis.

Vegas, de Doja Cat

Com a estética circense e a presença de um tigre de verdade, Sabrina Carpenter cumpre o que promete com because i liked a boy. Pensando em seu histórico de comprometimento com a produção de clipes, Sabrina leva o espectador para os bastidores de um circo enquanto aparece com looks característicos e elegantes.

because i liked a boy, de Sabrina Carpenter

Lançada para se encaixar perfeitamente no verão europeu, Despechá de Rosália entregou muita brincadeira na praia e estética de férias na Espanha. O single foi muito aguardado pelos fãs após começar a ser cantado nos shows da turnê Motomami e logo viralizar nas redes sociais. Anitta também entregou muito em 2022 e o clipe de Lobby, com Missy Elliott, comprova isso: com figurinos lindos e muita coreografia, a artista arrasou nos efeitos visuais e as referências vintage.

Lobby, de Anitta e Missy Elliott

A volta de Taylor Swift com a era Midnights trouxe dois clipes icônicos, dos singles Anti-Hero e Bejeweled. O primeiro, escrito e dirigido pela artista, conta com o duelo entre suas duas versões e várias referências à carreira da artista. Já o segundo é inspirado nos contos de fadas da Cinderela e tem as participações Jack Antonoff, Laura Dern e as irmãs Haim. Com até apresentação de burlesque, o clipe tem um dos visuais mais bonitos do álbum até agora – e seguimos na espera do clipe de Lavender Haze

Anti-Hero, de Taylor Swift

Foi nesse ano que também vimos Harry Styles como um híbrido de humano e lula no clipe de Music For A Sushi Restaurant. O queridinho do pop entregou muito conceito e cenas engraçadas ao literalmente virar um sushi no fim do dia.


Music For a Sushi Restaurant, de Harry Styles

Artistas Revelação

Todo ano a indústria produz novos artistas e dá força a nomes já conhecidos. Em 2022 a história não foi diferente e o Tiktok mais uma vez teve grande influência em alavancar esses cantores.

Dove Cameron [Imagem: Reprodução/Billboard]

Dove Cameron é mais uma das atrizes da Disney que se aventuraram no mundo da música. Ela que se tornou famosa por seu papel na série de comédia Liv and Maddie, lançou diversos singles ao longo dos anos que não tiveram muito sucesso — mas tudo mudou quando a artista adotou uma estética mais sensual e dark para seus novos lançamentos. Os singles Boyfriend e Breakfast logo foram um sucesso nas redes sociais e renderam várias apresentações e indicações de melhor nova artista.

Steve Lacy [Imagem: Reprodução]

Steve Lacy ganhou notoriedade no mundo da música em 2015, quando sua banda, The Internet, foi indicada ao Grammy naquele ano. O artista, que também é produtor, trabalhou com grandes nomes como Solange Knowles e Kendrick Lamar. Mas foi em 2022 que seu single Bad Habit viralizou no Tiktok e alcançou o topo da Billboard Hot 100. Seu segundo álbum de estúdio Gemini Rights também emplacou entre os dez mais vendidos na Billboard 200 e o cantor foi indicado em três categorias do Grammy, incluindo Gravação do Ano.

Premiações

O Grammy 2022 teve como destaque a dupla Silk Sonic, que venceu as quatro categorias às quais foi indicada, entre elas Canção e Gravação do Ano, consagrando seu álbum de estreia An Evening With Silk Sonic. Olivia Rodrigo também não ficou para trás, sendo a única artista a concorrer nas quatro principais categorias. Olivia levou quatro estatuetas, dentre elas a de Artista Revelação.

Jon Batiste, que teve o maior número de indicações da noite, levou cinco das 11 indicações, incluindo Álbum do Ano.

[Foto: Reuters/Mario Anzuoni]

No MTV Video Music Awards (VMAs) 2022, Anitta foi o grande orgulho brasileiro. A cantora ganhou a categoria de ‘Melhor Vídeo Latino’ com a música Envolver e se tornou a primeira brasileira a levar uma estatueta para casa. Taylor Swift apareceu de surpresa e levou a categoria principal de ‘Vídeo do Ano’ com All Too Well: The Short Film e de quebra fez o anúncio do seu tão aguardado álbum inédito, Midnights.

Além da apresentação de Anitta com muito funk, a premiação teve performances de Lizzo, BLACKPINK, Bad Bunny, Jack Harlow, Fergie e Nicki Minaj. A rapper americana levou também o importante prêmio de ‘MTV Video Vanguard’ que homenageou sua carreira na música.

No segundo semestre aconteceu o American Music Awards (AMAs), premiação que rendeu bons momentos em 2022. Dove Cameron ganhou a categoria de ‘Artista Revelação’, Taylor Swift levou todas as 6 categorias as quais foi indicada e Anitta conseguiu o prêmio de ‘Artista Feminina Latina Favorita’.

Foram ao palco performar Bebe Rexha com o hit I’m Good (Blue) em colaboração com David Guetta, Anitta e Missy Elliot com Lobby e Stevie Wonder e Charlie Puth para uma homenagem aos maiores hits de Lionel Richie, premiado com o ‘Icon Award’.

Eles Dominaram

Em um ano de ouro para artistas latinos, Bad Bunny se consagrou nos charts com o álbum Un Verano Sin Ti: o single Titi Me Pregunto debutou em #5 no Billboard Hot 100 e permaneceu 30 semanas no chart, junto com outras faixas do álbum.

Anitta fez tremer a indústria: mesmo que seu quarto álbum de estúdio Versions Of Me não tenha alcançado as expectativas da crítica, a funkeira lavou premiações gringas e se tornou a primeira mulher da América Latina a alcançar o topo do Spotify global com uma música solo, Envolver, logo no início do ano, sendo consagrada com uma indicação de Artista Revelação no Grammy 2023.

Envolver, de Anitta

Ludmilla lançou Numanice #2, seu segundo álbum de pagode, que lhe rendeu uma estatueta do Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Samba/Pagode, revolucionando a discussão do papel das mulheres neste gênero, além de trazer participações especiais, como a de Marília Mendonça na faixa Insônia.

Além de uma passagem caótica pelo Brasil, Rosalía também trabalhou – e muito – em 2022. Seu álbum MOTOMAMI dominou as redes, foi eleito o melhor álbum do ano pelo Metacritic e recebeu quatro estatuetas do Grammy Latino.

O retorno de Harry Styles não poderia ser melhor. Seu terceiro álbum solo Harry’s House debutou em #1 na Billboard 200 com meio milhão de vendas nos Estados Unidos em sua primeira semana, além de chartear todas as 13 faixas no Top 30 da Billboard Hot 100. O single As It Was se manteve cravado no primeiro lugar por 15 semanas.

As It Was, de Harry Styles

Beyoncé lançou seu sétimo álbum solo, Renaissance, com misturas de dance e disco. O lead single Break My Soul alcançou o número #1 em várias paradas musicais, incluindo a Billboard Hot 100. O disco foi sucesso de crítica e estreou em primeiro lugar na Billboard 200. O projeto recebeu nove indicações ao Grammy 2023, e fez Beyoncé atingir um novo marco histórico. Além de repetir a disputa de 2017 com Adele nas categorias principais, a cantora empatou com Jay-Z, seu marido, com o maior número de indicações no Grammys na história, com 88 cada. 

I’M THAT GIRL, de Beyoncé

Apesar de prometer e divulgar um teaser com os visuais da nova era, a artista ainda não lançou nenhum clipe ou fez performances para divulgação do álbum. Mesmo assim, ainda há esperanças de uma turnê: no leilão beneficente Wearable Art Gala 2022 foram leiloados um par de ingressos para a Renaissance Tour que deve acontecer no verão de 2023 ao redor do mundo. 

Taylor Swift é um fenômeno musical independente do ano, mas foi em 2022 com sua volta aos discos inéditos que a artista alcançou os maiores recordes de sua carreira. Foi com Midnights que a artista conseguiu mais de 1,5 milhão de vendas em sua primeira semana e se tornou a primeira cantora feminina a ter cinco álbuns vendendo mais de 1 milhão de cópias em sete dias.

Além disso, Taylor liderou o Top 10 da Billboard Hot 100 sozinha com 10 faixas de seu álbum e o single Anti-Hero ficou 6 semanas em primeiro lugar na parada musical. A cantora também anunciou sua nova turnê em estádios, chamada The Eras Tour, que vai contemplar seus 10 discos ao longo da carreira. Com o projeto, Taylor quebrou o recorde de mais ingressos já vendidos em um único dia por um artista em turnê, ocupando 2 milhões de lugares apenas na pré-venda dos shows previstos para 2023 – e dado o sucesso de bilheteria, estamos rezando para o anúncio das datas na América do Sul!

E se engana quem pensa que a artista vai dominar apenas o mundo da música: no final de 2022, Swift declarou que fará sua estreia como diretora de um longa que ela mesma roteirizou. O filme ainda não tem data de lançamento, mas será produzido pelo Searchlight Pictures, estúdio conhecido por levar algumas estatuetas do Oscar.

Além disso, Taylor liderou o Top 10 da Billboard Hot 100 sozinha com 10 faixas de seu álbum e o single Anti-Hero ficou 6 semanas em primeiro lugar na parada musical. A cantora também anunciou sua nova turnê em estádios, chamada The Eras Tour, que vai contemplar seus 10 discos ao longo da carreira. Com o projeto, Taylor quebrou o recorde de mais ingressos já vendidos em um único dia por um artista em turnê, ocupando 2 milhões de lugares apenas na pré-venda dos shows previstos para 2023 – e dado o sucesso de bilheteria, estamos rezando para o anúncio das datas na América do Sul!

    E se engana quem pensa que a artista vai dominar apenas o mundo da música: no final de 2022, Swift declarou que fará sua estreia como diretora de um longa que ela mesma roteirizou. O filme ainda não tem data de lançamento, mas será produzido pelo Searchlight Pictures, estúdio conhecido por levar algumas estatuetas do Oscar.

Festivais no Brasil

Com a flexibilização da pandemia, todo o país voltou a ser palco para grandes festivais e algumas atrações incríveis e inéditas passaram por aqui.

O Lollapalooza contou com muitas aparições surpresa de artistas brasileiros nos palcos, algumas parcerias inesperadas surgiram e aumentaram o entusiasmo da plateia – teve até artista gringo se arriscando no português da verdinha de 1 real.

O baterista da banda Foo Fighters, Taylor Hawkins, faleceu dias antes do show da banda no evento, o que foi um choque para todos os integrantes, família, amigos e fãs. Diversos artistas deixaram belas homenagens em seus shows e redes sociais. Foram momentos emocionantes que deixaram a marca do artista para sempre nas terras da Interlagos, mesmo que não tenha conseguido performar.

E como não só de alegria se vive o parquinho, alguns performers deixaram seus protestos contra o Governo Federal em seus shows, o que levou a uma denúncia por parte do Partido Liberal (PL). A ação foi aceita pelo TSE e a pena instituída foi uma advertência e multa de 50 mil reais. A indignação do presidente apenas motivou que os artistas protestassem ainda mais, virando até motivo de piada (“50 mil? Poxa… Menos uma bolsa”) e, no final, o partido desistiu formalmente do pedido e o TSE revogou a liminar.

[Imagem: Reprodução Twitter UpdateCharts]

O Rock in Rio não ficou para trás: mesmo com muita chuva em todos os dias, o público curtiu grandes nomes da música nacional e internacional durante os sete dias de festival.

Na sexta-feira (02/9), o Palco Mundo recebeu os gigantes do rock Dream Theater, Iron Maiden, Gojira e Sepultura + Orquestra Sinfônica Brasileira. O Palco Sunset seguiu a mesma linha, tendo apresentações de Bullet For My Valentine, Living Colour + Steve Vai, Metal Allegiance e Black Pantera + Devotos, um dia de glória para os metaleiros.

O sábado (03/9) foi mais dançante, contando com a presença de Post Malone, Jason Derulo, Marshmello e Alok no Palco Mundo e shows dos Racionais MC’s, Criolo + Mayra Andrade, Xamã + Brô MC’s e Papatinho e L7nnon + MC Hariel e MC Carol no Palco Sunset.

O terceiro dia foi o surto coletivo dos fãs alucinados de Demi Lovato e Justin Bieber: a dupla esgotou os ingressos em minutos durante as vendas e fizeram valer a expectativa. Além deles, o Palco Mundo recebeu Iza e Jota Quest (substituindo o trio Migos, que cancelou sua apresentação dias antes do evento). Já o Palco Sunset tremeu com Matuê, Luisa Sonza + Marina Sena, Emicida + convidados e Gilberto Gil.

O patrocinador majoritário Itaú fez valer o investimento com a Arena Itaú. Em conjunto com o TikTok, o palco contou com a presença de Viper, Fred Buzetti, Deadfish, Baco Exu do Blues, RRocha, Pedro Sampaio, Ananda e João Gomes.

Na quinta-feira (08/9), o Palco Sunset recebeu uma chuva de representatividade feminina. Duda Beat iniciou os trabalhos e o show continuou com Gloria Groove, Corinne Bailey Rae e Jessie J, que substituiu Ross Stone. Enquanto isso no Palco Mundo rolou muito rock com CPM22, The Offspring, Maneskin e Guns’n Roses.

Na sexta (09/9), o festival levou uma nostalgia emo/pop punk aos fãs. O Palco Mundo foi ocupado por Capital Inicial, Billy Idol, Fall Out Boy e Green Day. O Sunset recebeu Di Ferrero + Vitor Kley, Jão e shows de homenagem ao primeiro ano de Rock in Rio, 1985, que teve presença de Alceu Valença, Blitz, Elba Ramalho, Ivan Lins e Pepeu Gomes, além de Agnes Nunes, Andreas Kisser, Liniker, Luísa Sonza e Xamã. Apesar dos problemas no som durante seu show, Avril Lavigne fechou as apresentações do Palco com muito carisma e empolgação.

Sábado (10/9) foi dia de muito pop, soul e luzes! O Palco Sunset recebeu Bala Desejo, Gilsons + Jorge Aragão, Maria Rita e Ceelo Green + Luiza Sonza. No Placo Mundo a latina Camila Cabello animou a cidade do rock com um look amarelo canarinho e muito funk com os convidados L7nnon, Biel Do Furduncinho e Bianca. Bastille e Djavan também estiveram presentes e com muita alegria e sensibilidade fizeram a galera vibrar. A noite terminou mais colorida e iluminada ao som de Coldplay, que levou o público à loucura!

No último dia, domingo (11/9) os palcos foram dominados pelas mulheres! No Palco Sunset estiveram Liniker + Luedji Luna e Majur, Agnes Nunes, Mart’nália, Gaby Amarantos e Larissa Luz em homenagem a Elza Soares. Ludmilla também esteve lá com muito funk e energia. O Palco Mundo recebeu Ivete Sangalo, Rita Ora, Megan Thee Stallion e Dua Lipa, que fecharam o último dia do festival com muito pop!

[Imagem: Arquivo Rock In Rio]

O estreante da categoria foi o Primavera Sound, que teve sua primeira edição no país e aconteceu em São Paulo no mês de novembro. Com uma pegada mais indie, os headliners do festival foram: Arctic Monkeys, Björk, Travis Scott, Lorde, Father John Misty, Charli XCX, Mitski, Phoebe Bridgers, Interpol, Beach House e Arca, que se apresentaram nos Palcos Beck’s e Primavera. 

De artistas nacionais, Tasha & Tracie, L7NNON, Luccas Carlos, Liniker, Jovem Dionísio, Terno Rei, MC Dricka e muitos outros chacoalharam o Anhembi. A novidade foi que o festival foi transmitido pela conta do TikTok do organizador, quebrando a tradição de assistir pela TV, principalmente pelo Multishow.

[Imagem: Arquivo Primavera Sound]

2023

O ano que passou foi de muitos anúncios, retornos, e sobretudo, sucesso para os nossos artistas preferidos. As turnês e festivais voltaram com força total após a pandemia e trouxeram cantores internacionais de volta ao Brasil – obrigada, festivais! Além disso, novos nomes começaram a se consolidar na indústria e os lançamentos não pararam de acontecer.

As eras que se iniciaram em 2022 ainda não terminaram e no próximo ano devem entregar ainda mais música boa e performances inesquecíveis para entrar na história. A editoria de Música da Frenezi agradece também a você, por acompanhar todas as novidades conosco. Feliz 2023!

Gal Costa: a eterna musa da Tropicália e MPB

Nesta quarta-feira (9), o país acordou com a notícia da morte de uma das suas maiores cantoras, Gal Costa, aos 77 anos. Um dos ícones da música popular brasileira, Gal tinha 57 anos de carreira e mais de 40 álbuns lançados. Em outubro de 2021, a cantora iniciou uma grande turnê que revisitava grandes sucessos dos anos 80 na MPB que entrou na lista de festivais no Brasil e tinha planos para se expandir na Europa. Infelizmente, a agenda de shows foi interrompida há alguns meses para a artista realizar uma cirurgia.

Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em 26 de setembro de 1945 na cidade de Salvador. O apelido Gal foi criado pelo produtor Guilherme Araújo, que preferiu trocar o nome Maria da Graça que foi apresentado no início de sua carreira. A artista conheceu Caetano Veloso em 1963, aos 18 anos, apresentada por sua amiga e vizinha Dedé Gadelha, futura esposa de Caetano. Assim, se iniciou uma grande amizade e profunda admiração entre os cantores que colaboraram várias vezes em suas carreiras.

Gal estreou no espetáculo Nós, Por Exemplo em agosto de 1964, na inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador. Ao lado de grandes nomes como Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano, a artista também estrelou o show Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova. A primeira aparição em um álbum foi no disco de estreia de Maria Bethânia, irmã de Caetano, na faixa Sol Negro em 1965. Em seu primeiro compacto (disco de vinil que só tinha duas canções) regravou as faixas Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil, e Sim, foi você, de Caetano Veloso.

O primeiro LP oficial foi Domingo com seu bom amigo Caetano, lançado em 1967. A música de destaque do disco foi Coração Vagabundo, um dueto entre os cantores. Em 1968, Gal participou do álbum Tropicália ou Panis et Circencis com Gilberto Gil, Nara Leão, Caetano Veloso, Os Mutantes e Tom Zé. Esse disco foi o manifesto musical do movimento do tropicalismo, que mesclava elementos tradicionais da cultura brasileira com as tendências estrangeiras da época.

Gal no IV Festival da Música Popular Brasileira, em 1968. [Imagem: Acervo Estadão]

A revista Rolling Stones Brasil, considera Tropicália como o segundo dos 100 maiores discos da música brasileira. O álbum que moldou o futuro da música popular brasileira que contrastava com a formalidade da bossa nova teve como maior hit a faixa Baby, escrita por Caetano e interpretada por Gal. Esse foi o primeiro grande sucesso solo da cantora, que se tornou um grande clássico da MPB.

Em 1969, ela lançou seu primeiro disco solo intitulado Gal Costa que contava com três novos grandes hits, Divino Maravilhoso, Que pena (Ele já não gosta mais de mim) e Não identificado. No mesmo ano gravou já o segundo disco solo, chamado Gal, que foi a obra mais conceitual e psicodélica de sua carreira. O destaque do álbum vai para as canções Meu nome é Gal e Cinema Olympia. Em 1981, protagonizou uma das cenas mais icônicas da TV brasileira com Meu nome é Gal, em especial inédito da série Grandes Nomes na TV Globo. Nela, a cantora duelava com um solo de guitarra, atingindo vocais cada vez mais agudos com sua conhecida afinação invejável.

Gal realizou em 12 de outubro de 1971 um dos show mais importantes de sua carreira e da música brasileira, no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana. A série de espetáculos Fa-tal foi dirigida por Waly Salomão e gerou o disco ao vivo Fa-Tal / Gal a Todo Vapor, com os sucessos inéditos Vapor barato, Como 2 e 2 e Pérola negra. A performance se tornou icônica exatamente pela época em que foi realizado, com Caetano e Gil exilados em Londres, Gal desafiava a ditadura militar e se tornava porta-voz da contracultura do tropicalismo.

Dessa irreverência, foi lançado o álbum Índia em 1973 como o sexto álbum de estúdio da artista. Produzido por Gilberto Gil, o disco era vendido coberto de plástico, depois das imagens da capa e contracapa serem alvo dos censuradores na época. A capa é estampada por um close em Gal com biquíni vermelho e a contracapa mostrava parte dos seios da cantora. Na ditadura, foi a primeira vez em que um disco saiu com a embalagem lacrada e acabou despertando a curiosidade de todos.

Gal Costa também fez muito sucesso ao gravar músicas para as aberturas de novelas da Rede Globo. Em 1975, lançou Modinha para Gabriela, escrita por Dorival Caymmi para o enredo de Gabriela. Na segunda versão da novela, em 2012, Gal interpretou a canção mais uma vez. Em 1988, gravou a canção Brasil, escrita por Cazuza, Nilo Romero e George Israel para a telenovela Vale Tudo. Para a produção Deus nos Acuda, lançou Canta Brasil em 1992, e para Torre de Babel, gravou Pra Você em 1998.

Ao lado de seus conterrâneos e grandes amigos Gilberto Gil, Caetano e Maria Bethânia, Gal reuniu o grupo chamado Doces Bárbaros para uma turnê pelo país em comemoração aos 10 anos de carreira deles. O conjunto de artistas rodou o Brasil em 1976 com o espetáculo, que resultou em um disco ao vivo de mesmo nome e um documentário dos bastidores. Doces Bárbaros foi um dos mais importantes grupos da contracultura dos anos 70 e até virou enredo da escola de samba Estação Primeira de Mangueira em 1994.

O quarteto Doces Bárbaros. [Imagem: Reprodução]

Em 1978, Gal Costa apresentou seu álbum Água Viva, o primeiro disco de ouro de sua carreira (ultrapassando a venda de 40 mil cópias). Desse projeto foi criado o espetáculo Gal Tropical, a virada de chave para a cantora no mainstream. Já que amadurecia sua imagem de musa hippie do tropicalismo para uma cantora solo mais estabelecida. A apresentação foi sucesso de crítica e gerou outro disco de mesmo nome, em que cantava seus grandes hits e faixas inéditas, como Força estranha, escrita por Caetano Veloso, Balancê e Noites Cariocas (Minhas Noites Sem Sono)

Em seguida vem o álbum Profana, lançado em 1984, e outro ponto alto da discografia da artista. As canções fenômeno do projeto foram Chuva de prata, com participação do grupo Roupa Nova, e Vaca profana. No ano seguinte, Gal seguiu desafiando os limites da liberdade feminina e posou nua para a revista Status, quando estava prestes a completar 40 anos. Outro momento marcante aconteceu em 1994 na apresentação da música Brasil no Rio de Janeiro, onde ela apareceu de camisa aberta e os seios à mostra para o choque do público.

A cantora foi homenageada pela Academia Latina das Artes e Ciências da Gravação em 2011, na cerimônia do Grammy Latino. Gal Costa recebeu o grande Prêmio à Excelência Musical, pelo conjunto de sua discografia. O último projeto com faixas inéditas foi A Pele do Futuro, em 2018. Esse que foi seu quadragésimo álbum de estúdio, contou com participações de Maria Bethânia e Marília Mendonça. Em 2021, foi lançado o último disco da cantora, Nenhuma Dor, com regravações de seus maiores clássicos. O elenco de participações contava com artistas masculinos da nova geração, como Zeca Veloso, Seu Jorge, Silva e Rubel.

Parte da capa do álbum comemorativo, Nenhuma Dor. [Imagem: Reprodução]

Em sua homenagem, o filme Meu Nome é Gal que conta a vida da cantora  já estava em produção e chega aos cinemas na primeira semana de março de 2023, no Dia Internacional da Mulher. Gal será interpretada no longa pela atriz Sophie Charlotte. A cantora sempre foi discreta quanto a sua vida pessoal, mantendo a vida da família e relacionamentos na esfera privada. 

Gal era assumidamente bissexual e manteve namoros com homens e mulheres anónimos e famosos. Em entrevistas revelou nunca ter conseguido engravidar por um problema físico e realizou o sonho da maternidade através da adoção. Em 2007, adotou um menino de dois anos de idade, após visitar um abrigo no Rio de Janeiro, e o batizou de Gabriel. 

A importância de Gal Costa para a música brasileira é inestimável, graças a seu timbre de voz, afinação e vocais impecáveis. A cantora se tornou a musa da tropicália e da MPB em um cenário em que o público precisava de música para sua luta. Gal trabalhou com os maiores artistas brasileiros, carregando composições de seu amigo Caetano Veloso, de Tom Jobim, Chico Buarque e Milton Nascimento.

[Imagem: Reprodução]

Sua sensualidade profana durante a ditadura, lhe rendeu o título de ídola da contracultura nos anos 70 e seu trabalho nesse tempo foi inovador com ruídos e misturas não típicas da música brasileira. A cantora nunca se prendeu a um gênero musical específico, o que a permitia sempre estar atenta ao que havia de novo e incorporar essas novidades ao seu trabalho. 

Gal sempre soube se atualizar para as próximas gerações, suas performances eram atemporais e sempre arrancava alguma reação do público, seja positiva ou negativa. Ela sempre será lembrada como uma das maiores cantoras brasileiras e seu impacto é percebido até hoje na música nacional e internacional. Gal Costa é e sempre será a maior musa da indústria fonográfica do Brasil.

É ético separar arte do artista?

Música é algo intrínseco no dia a dia do brasileiro, dados da Associação Brasileira de Música e Artes (ABRAMUS) indicam que quase 80% das pessoas escuta música todos os dias, sendo os estilos musicais preferidos: o Pop, Sertanejo e MPB, todos com quase 50% de aprovação entre os consumidores nacionais. O Funk tem seus fãs, mas não é todo mundo que escuta no fone, apenas em situações sociais.

Com tanta música rodando, será que conhecemos todos os músicos que ouvimos diariamente? Por trás de toda obra existe um indivíduo que a carrega, e mesmo que o consumo de cantores que não tenham a “ficha limpa” seja inocente, a receita deste consumo segue indo para suas mãos. Mas quais as consequências deste consumo? Ou nem existem consequências?

Assim como tudo, existem os dois lados desta moeda. O autor Roland Barthes, que escreveu o livro “A Morte do Autor”, defende a ideia de que os elementos utilizados pelo artista para criar sua arte são anteriores a ele, quem insere significado à obra é o público que a consome, a partir de suas próprias vivências. A obra, assim que inserida no mundo, deixa de ter um dono – essa “morte” do autor possibilita que este conteúdo não fique limitado a apenas um ponto de vista, entregar toda a significação da obra para o autor é, de certa forma, impor um limite e uma finalização a ela. Barthes ainda diz que artistas são seres humanos propensos a erros, mas que podem evoluir, logo, restringir todo o trabalho de alguém por seus erros não seria correto.

Pensando de outra forma, existem infinitos músicos talentosos espalhados pelo globo, dar dinheiro, reconhecimento e fama para alguém que tenha qualquer desvio de caráter é realmente necessário, considerando o mar de opções? É inegável que os artistas colocam seus sentimentos, experiências, referências e considerações sobre contextos atuais em suas obras, logo, é ambíguo dizer que o autor entrega sua obra para que o público a signifique, sendo que possui um significado para si próprio.

Eles dependem de seus números para sobreviverem na profissão, é a audiência que escolhe quem prospera, se este público deixa representações preconceituosas ou criminosas no topo, a visão da impunidade será cada vez mais clara: Não importa o que este artista faça, ele continuará vendendo e se sustentando de sua arte.

Trazendo para a realidade

Para exemplificar o problema utilizando a indústria musical, é possível citar o caso de Chris Brown. O rapper teve um relacionamento de dois anos com a cantora Rihanna, na noite anterior à cerimônia do Grammys de 2008, eles tiveram uma briga séria e Rihanna foi agredida pelo namorado, saindo muito machucada e traumatizada do episódio. Mesmo com a repercussão e comoção pelo caso, Chris seguiu sua carreira musical e é sustentado por ela até hoje, tendo até a história contada a partir de seu ponto de vista no documentário ‘Chris Brown: Welcome To My Life’, em que constrói um arco de redenção e arrependimento sobre o ocorrido.

[Imagem: Getty Images]

Um exemplo mais recente são as problemáticas ao redor da figura mais caótica do momento: Kanye West. Entre falas antissemitistas, fotos com uma camiseta escrito “White Lives Matter” (vidas brancas importam), ironizando o movimento ativista “Black Lives Matter” e questionamentos sobre o caso de George Floyd, o cantor teve contratos suspensos com diversas marcas, incluindo a Adidas, Gap e Balenciaga. Essas suspensões resultaram em uma perda de 250 milhões de euros, aproximadamente 1,3 bilhão de reais, fazendo com que Ye saísse da lista de bilionários.

Trazendo para o cenário nacional, durante uma viagem para o arquipélago de Fernando de Noronha em setembro de 2018, a cantora Luísa Sonza pediu um copo d’água para uma hóspede negra que estava passando pelo banheiro, aparentemente a confundindo com uma funcionária da pousada onde realizaria um show. O caso foi categorizado como racismo estrutural, onde Luísa assumiu que a advogada Isabel Macedo de Jesus seria uma funcionária do local por ser negra, desconsiderando a alternativa que seria uma hóspede, dado seu tom de pele.

Na ocasião, Luísa não assumiu seu erro e manteve o caso em sigilo até 2020, quando veio à tona nas redes sociais e a mesma desmentiu as acusações. Foi apenas em 2022 que se retratou postando um vídeo se desculpando à vítima. Isabel processou Luísa e a pousada por danos morais e o caso se encerrou apenas em setembro deste ano.

[Tradução: “Você já ouviu falar sobre a ‘A Morte do Autor’?” “UAU” “Eu sinto muito” | Imagem: Mimi and Eunice]

E aí, dá para separar a arte do artista? Independente do lado que escolher, o importante é manter o olhar crítico sobre as obras e seus autores, essa atenção faz com que eles fiquem atentos a o que estão fazendo e disseminando para o mundo. O movimento contra a intolerância e preconceito não pode parar nunca, principalmente no meio artístico.

[Crítica] ‘Midnights’: os sonhos e pesadelos de noites em claro

Para a felicidade dos fãs da loirinha, Taylor Swift lançou seu décimo álbum de estúdio, Midnights, na última sexta-feira (21). O disco conceitual passa por histórias de 13 noites sem dormir ao longo da vida da artista e transita pelas madrugadas, tendo a meia noite como o maior símbolo do projeto.

No anúncio do álbum, Taylor o descreveu como “uma coleção de música escrita no meio da noite, uma jornada através de terrores e sonhos doces. Para todos nós que lançamos e viramos e decidimos manter as lanternas acesas e ir em busca – esperando que apenas talvez, quando o relógio bater às doze… nós nos encontraremos.”

O disco conta com 13 faixas (e 7 faixas bônus), divididas em lado A e B, e com uma única colaboração especial de Lana Del Rey. O projeto tem 6 produtores principais, Jack Antonoff, Jahaan Sweet, Keanu Beats, Sounwave e Taylor Swift. A masterização é feita por Randy Merrill e a mixagem assinada por Șerban Ghenea.

Além de Taylor como escritora creditada, o álbum tem como participações nas letras Jack Antonoff, Jahaan Sweet, William Bowery (pseudônimo do namorado da artista, Joe Alwyn), Keanu Beats, Lana Del Rey, Sam Dew, Sounwave e a atriz Zoë Kravitz.

A primeira faixa de Midnights é Lavender Haze, marcando a entrada do disco como um álbum pop. A música é inspirada na expressão “lavender haze”, que nos anos 50 era associada ao sentimento de estar apaixonada. A artista declarou que viu a frase em um episódio da série Mad Men e achou uma definição muito bonita do amor. A canção fala sobre não abandonar esse sentimento e o proteger a todo custo, ignorando os aspectos negativos que vem com ele. Taylor também cita seu relacionamento de 6 anos com o ator Joe Alwyn e todos os esteriótipos e rumores que teve que ignorar.

A segunda música é Maroon, uma faixa pop que estabelece conexão com a metáfora de cores usada na canção Red, do seu quarto álbum de estúdio. Em Red, a cor vermelha intensa é usada para descrever o fervor do amor, já em Maroon, o tom de vermelho ganha mais complexidades e descreve um relacionamento mais maduro e que de alguma forma foi perdido. 

Anti-Hero é a terceira faixa e lead single do projeto, a canção que aborda as inseguranças da artista tem uma abordagem bem honesta e quase satírica sobre o que ela mais odeia em sua vida. A música ganhou um clipe no mesmo dia do lançamento do álbum que foi escrito e dirigido pela artista. 

Na produção, a persona popstar de Taylor a assombra de várias maneiras e o vídeo contém inúmeras ironias sobre a carreira e vida da cantora. Além disso, Anti-Hero fez mais de 17 milhões de streams no Spotify, debutando no topo do chart global da plataforma e quebrando o recorde maior estreia de um single na história da plataforma.

Seguimos com Snow on The Beach, a canção com a participação de Lana Del Rey. A faixa fala sobre duas pessoas se apaixonando ao mesmo tempo, sentimento que parece tão surreal e mágico que se assemelha com a sensação de ver neve caindo na praia. Snow on The Beach é uma música pop moderna mais calma que mostra os vocais das duas artistas, mesmo com a colaboração de Lana sendo mais discreta do que o esperado. 

You’re on Your Own, Kid é a quinta música do projeto, que acompanha uma pessoa mais jovem em busca do amor. A faixa que vai crescendo sonoramente, debate a solidão da juventude e o destaque vai para a letra na ponte da canção. Nos versos, “You’re on your own, kid; You always have been.” (Você está por conta própria, garoto. Você sempre foi; em português) é possível resumir a intenção da canção.

A sexta música é Midnight Rain, uma faixa pop que apresenta o uso de sintetizadores em seu início e refrão, uma produção bem diferente na carreira da artista. A letra da canção fala sobre se lembrar de um amor passado, em que algumas noites Taylor contempla essa relação que já acabou por suas incompatibilidades.

A sétima faixa é Question…? , que inicia com uma interpolação de Out Of The Woods, do álbum 1989. A canção pop com melodia bem definida, traz na produção elementos diferentes como sintetizadores e palmas. Os versos são a incansável busca de respostas para algumas questões de um relacionamento passado que parecem assombrar a artista.

Vigilante Shit é a oitava música, com a sonoridade mais obscura do projeto, ela aborda o lado da vingança, que lembra muito seu disco Reputation. Na letra escrita unicamente por Taylor Swift, o eu-lírico se vinga de um amor passado e ajuda outras mulheres a fazer o mesmo. A faixa tem tudo para se tornar queridinha pelos fãs, já que vários versos tem potencial para viralizar nas redes sociais. 

Continuamos com Bejeweled, a canção mais animada e com uma óbvia mensagem positiva de Midnights. Nela, a artista sabe muito bem o seu valor e após situações frustradas em seu relacionamento, vai atrás do que realmente merece. O recado é claro, Taylor sabe que pode brilhar em qualquer espaço e qualquer interesse romântico deve entrar na fila pela sua atenção. A produção acompanha a ideia da letra, transportando o ouvinte para um mundo que parece estar cheio de brilho e glitter.

A décima canção é Labyrinth, uma faixa sobre o medo de se apaixonar. Seja por não ter superado um amor antigo ou pela velocidade em que se inicia um novo relacionamento, Taylor exibe seus medos e inseguranças em ter uma nova paixão pelo medo do fim. A produção da música brinca com os vocais da cantora, o que traz elementos interessantes à canção.

O disco segue com Karma, conceito conhecido pelos fãs da artista. A expressão indiana que simboliza que toda ação tem uma consequência, pode ser associada a uma vingança feita pelo universo. Taylor mostra sua versão de karma, que para ela é um sentimento divertido e tranquilizante, mas pode ser para os desafetos de sua carreira um grande problema.

Sweet Nothing é a décima segunda faixa, que mostra um pouco da dinâmica do relacionamento entre Swift e Joe Alwyn, além de ser escrita pelos dois. O namoro deles é mantido em torno de muita privacidade, exatamente pelo caos e curiosidade acerca da vida amorosa da cantora. A canção aborda a tranquilidade e facilidade da relação, além de enfatizar que Joe nunca teve alta cobranças em relação à artista.

A última faixa é Mastermind, que traz o encerramento do projeto com uma canção definidora da personalidade da artista. Na letra, as habilidades de Taylor em controlar e planejar o futuro são usadas para encantar uma nova paixão, mas os fãs sabem que a cantora é conhecida por ser uma verdadeira gênia em planejar sua carreira. Os easter eggs ou pequenas referências em seus clipes e músicas são essenciais e os fãs adoram decifrar todos os enigmas.

Para o lançamento do álbum, Taylor Swift lançou várias versões do disco com capas alternativas e faixas bônus. Midnights (3am Edition) foi a edição para as plataformas de streaming e download digital, que adicionou mais 7 músicas à versão standard. The Great War apresenta teclados sintetizadores bem característicos enquanto descreve um casal enfrentando a “guerra” e dificuldades no relacionamento, Bigger Than  The Whole Sky é uma balada pop que discute a perda de alguém importante e Paris é um pop raiz que fala sobre amor e a cidade do romance.

High Infidelity descreve um relacionamento instável e cercado de infidelidades dos dois lados, Glitch é uma das faixas mais sensuais do projeto e aborda uma amizade que evolui para o amor, assim como o relacionamento da cantora com Joe Alwyn, e Would’ve, Could’ve, Should’ve expressa o arrependimento de um relacionamento passado, tendo muitas referências com a faixa Dear John, escrita para o cantor John Mayer em seu álbum Speak Now. A última faixa bônus é Dear Reader, que como encerramento do disco deluxe tenta dar ao ouvinte alguns conselhos e lições de vida.

Todos os lançamentos de Taylor Swift estão acompanhados de muito sucesso e quebra de recordes, com Midnights não foi diferente. O álbum fez 185 milhões de streams no Spotify em seu primeiro dia, se tornando a maior estreia de um álbum na plataforma. Todas as 13 faixas da edição standard registraram 161 milhões de streams no Spotify, alcançaram o top 13 do chart global do streaming e se tornaram as 13 maiores estreias femininas na história do Spotify.

Midnights também se tornou o primeiro álbum de Taylor a alcançar o topo da Apple Music em mais de 100 países e quebrou o recorde de disco com maior streaming no primeiro dia de lançamento na plataforma. De acordo com Hits Daily Double, o projeto tem a previsão ser o disco mais vendido em uma semana nos Estados Unidos, depois da era dos bundles.

No Metacritic, o disco alcançou a nota 85 com 23 críticas, sendo só duas delas medianas em relação ao álbum. A revista Rolling Stones atribui ao Midnights nota máxima e o descreveu como um “deslumbrante synth-pop”, com letras sobre uma história de amor e um enredo de vingança. Já o New York Times, com a resenha de nota mais baixa para o álbum, apontou a familiaridade da sonoridade com outros projetos da carreira de Taylor e que Midnights seria uma aposta segura na discografia da artista.

[Imagem: Reprodução]

Depois de uma temporada experimentando em outros estilos musicais com Folklore e Evermore, Taylor Swift finalmente abandona o folk alternativo e volta para uma aguardada era pop. Midnights não era um lançamento esperado para tão cedo, já que a cantora vem regravando seus discos nos últimos anos. Mas traz uma boa surpresa para os fãs e movimentação na indústria musical.

Em geral, o destaque do disco vai para o liricismo, habilidade reconhecida no catálogo de Taylor. As letras são o ponto alto da maioria das canções, seja pela ironia ou genialidade nas rimas. Como tema central, a cantora explora a autocrítica, suas inseguranças e sua imagem pública. Mas deixa espaço também para vingança, autoconfiança, paixão e o fim dos relacionamentos. 

Midnights pode ser considerado um álbum de confissões pop, abordando as histórias das melhores e piores noites de Taylor. Na produção, os elementos são sutis, mas suficientes para deixar os ouvintes intrigados. O disco é uma boa adição a sua discografia e age como um check-in de onde a artista se encontra atualmente. O resultado é um projeto pop maduro e honesto, cheio de bons momentos.

A volta da era Sad Girl na indústria musical

Quem nunca, em algum momento de sua vida, foi atrás de uma música triste para escutar enquanto passa por uma situação triste e complicada? O estilo musical Sad Girl tem como público alvo esses tipos de pessoas; aquelas que recorrem às letras melódicas como uma forma de lidar com o sofrimento ou, em alguns casos, até chorar ainda mais durante os três ou quatro minutos daquela canção.  

Seja qual for o intuito da pessoa ao ouvir esse gênero musical, a indústria que promove esse tipo de música vem crescendo com uma força absurda, trazendo consigo alguns nomes populares como Billie Eilish, Lana Del Rey e Olívia Rodrigo. O que as três têm em comum? Todas fazem músicas cativantes com que muitos conseguem se identificar. 

Existe um certo prazer, mesmo em tempos de sofrimento, em encontrar aquela música que se encaixa com tudo aquilo que está sendo sentido. 

 [Imagem: Reprodução/Jillions]

No entanto, esse estilo Sad Girl não é exatamente algo novo. Os anos 90 foram importantes para que muitas mulheres, muitas vezes excluídas, emergissem na indústria musical. Fiona Apple com seu álbum Tidal foi um grande sucesso pelo mundo. A jornalista Rebecca Haithcoat afirmou em matéria escrita para a Spin que se sentia melhor quando via que: ” não era apenas eu que se apaixonava por caras idiotas, se sentia triste, não gostava do seu corpo, e não era perfeita” . 

Fiona tinha apenas 18 anos quando suas músicas estouraram. Ou seja, a cantora estava naquela fase em que decepções amorosas da adolescência são constantes. Esses acontecimentos misturados à uma capacidade magnífica de escrever e cantar foram a receita perfeita para o seu sucesso. Muitas garotas com os corações partidos conseguiam sentir tudo aquilo que a Apple cantava. 

Fiona Apple [Imagem: Reprodução/ Célula Pop]

Atualmente, quando se fala desse estilo musical, é impossível não lembrar de Lana Del Rey. A cantora e compositora americana está há mais de 10 anos produzindo músicas melancólicas de sucesso. Suas canções trazem aspectos da década de 1940 de Hollywood, além de se inspirar  em grandes artistas como Elvis Presley, Janis Joplin e Amy Winehouse. E como consequência de sua genialidade, Del Rey carrega consigo quatro Grammys

Video Games e Blue Jeans foram as duas responsáveis por realmente lançar Lana na indústria musical, iniciando uma nova fase do pop americano. A cantora conseguiu, de forma inigualável, mesclar decepções amorosas com outros assuntos mundanos, como inseguranças pessoais.  

”Você ainda me amará mesmo quando eu não for mais jovem e bela? Você ainda me amará mesmo quando tudo o que eu tiver for uma alma envelhecida?”, escreveu a cantora em Young and Beautiful.  

Outro feito de destaque de Del Rey é conseguir misturar, de forma harmônica, gêneros como o melancólico com o hip hop. Em entrevista cedida à Pitchfork, Lana contou que no início de sua carreira, suas músicas foram muito rejeitadas por gravadoras, pelo fato de não se encaixarem no padrão massificado do pop. Contudo, atualmente, é considerada por seus fãs uma das maiores artistas americanas, com mais de 110 canções lançadas.  

Lana Del Rey [Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons]

No final de 2021, falou-se ainda mais desse estilo após o lançamento do álbum de Adele e Taylor Swift, 30 e Red (Taylor’s Version) respectivamente. Ambos trazem músicas que expressam decepções amorosas de forma singular. Taylor traz a visão de uma jovem de 21 anos (idade que a cantora tinha quando gravou o álbum pela primeira vez) com coração partido e Adele, uma visão mais amadurecida do tema.  

Mesmo que o Sad Girl Pop não seja algo novo, a forma como milhares de pessoas estão se apegando a esse tipo de música é. A indústria cresceu de forma significativa após a chegada de Billie Eilish no mercado. Billie, assim como Fiona Apple, era apenas uma adolescente quando estourou mundialmente. Mas Billie tinha algo que a Apple ainda não tinha: milhares de plataformas de streaming que possibilitam que suas músicas sejam ouvidas em, praticamente, qualquer lugar do mundo.

É quase impossível atribuir quem foi a criadora do estilo Sad Girl, mas uma coisa é fato: Billie Eilish é uma das maiores propagadoras desse tipo de música nessa geração. Em seu primeiro Grammy, a cantora fez história. Conquistou cinco troféus, se tornando uma das artistas mais jovens, e a primeira mulher a conseguir tal feito.

  Billie Eilish no Grammy Awards [Imagem: Reprodução/Vogue Magazine]

Uma parte do grande sucesso das músicas Sad Girl se deve ao fato de que há forte identificação por parte do público com as letras tristes, que trazem a verdade nua e de forma direta; sem floreios, sem eufemismos. A música, arte criada há milhares de anos atrás, foi feita com o propósito de trazer alegria e diversão. Talvez essa ruptura com o intuito original da musicalidade seja outro grande atrativo para os ouvintes. Ou talvez cantar esse tipo de música seja apenas uma forma de catarse.

Com origem grega – kátharsis – o termo significa purificação do espírito humano; é um método de expulsão. Nesse caso, às vezes os ouvintes só estão buscando expulsar todo o sentimento que estão sentindo para fora de si mesmos.

No entanto, não é necessário que a pessoa esteja sofrendo para gostar e ouvir esse tipo de música. Afinal, se elas são tão boas assim, a tendência é que muitos passem a conhecê-las gostem cada vez mais. Por isso, a Frenezi preparou uma playlist incrível, Sad Girl – Frenezi Style, para os amantes da melancolia que trazem as músicas nessa vibe Sad Girl, para que ela possa ser escutada no carro, no banho, na cama… onde a vontade de ouvir e cantar surgir. 

Do Gramofone ao Digital: Reproduzindo Inovação

Com todas as inovações na tecnologia e na internet, seria muito difícil imaginar um mundo sem que a música acompanhasse essas mudanças em tempo real. A maneira de gravar e escutar música tiveram um grande progresso e pode-se dizer que ficou bem mais fácil, até porque os discos de vinil eram caríssimos e nem todo mundo conseguiu comprar um Ipod na época do seu lançamento. Além disso, imagina quantas fitas eram necessárias para gravar todos os programas de sexta-feira da MTV no lançamento de um esperado clipe só pra assistí-lo mais tarde novamente?!

As mudanças foram muitas, mas através de uma pequena linha do tempo é possível resumir como a música foi se transformando e inovando seu jeito de chegar no ouvido das pessoas. 

O gramofone foi uma das maiores inovações na indústria musical do século XIX. Ele permitiu que muitas pessoas ouvissem música em casa, sem precisar ir a um concerto ou show. O som não era dos melhores e nem era ao vivo, não era capaz de marcar temporalidade, mas a ideia de ouvir uma música pré-selecionada no conforto da sua casa era bem legal para a época. Foi um dos primeiros equipamentos que permitiu que a música fosse escolhida pelo ouvinte, sem que seguisse necessariamente a sequência que uma rádio tocava, por exemplo. 

Gramofone do século XIX.
[Imagem: Reprodução/Pinterest]

Depois dele surgiram os LPs de vinil, aproximadamente na década de 1940 e também foram uma super inovação tanto em qualidade de som quanto na facilidade de ouvir as músicas através dele. Os vinis foram a principal maneira de escutar música durante muito tempo, principalmente pelo intervalo que um disco poderia ficar rodando e a grande quantidade de canção que poderia ser gravado nele, além de poder comprar quantos quisesse e quando um artista favorito lançava um álbum novo. 

O aparelho que permitiu que o disco de vinil fosse reproduzido foi a Vitrola, um instrumento bem parecido com o gramofone, mas muito mais moderno. O gramofone funcionava a base de uma manivela, que esticava as cordas metálicas e fazia o som sair pelo alto falante. Já a vitrola, tinha a caixa de som, alto falantes e controles acoplados e não precisava de uma manivela, visto que a reprodução das músicas era feita de forma automática, por motores a base de eletricidade. 

Disco de vinil tocando em vitrola
[Imagem: Divulgação/Matthias Groeneveld/Pexels]

Com os vinis foi criada a estereofonia, ou mais conhecido como stereo, um sistema de reprodução de áudio que deixou uma sensação mais real e melhorou o som gravado, criando um envolvimento espacial entre o ouvinte e a música. Apesar de ter sido substituído mais pra frente, os vinis voltaram à moda recentemente com uma proposta mais vintage e bem aesthetic e muitas lojas e brechós ainda vendem esse tipo de disco. 

As fitas cassetes ou K7 foram uma revolução lançada pela Philips em 1960, pois com uma fita virgem era possível gravar ou criar sua própria música, sem precisar de uma mídia anteriormente disponível. Muita gente começou a fazer mixtapes ou até seleções usando os gravadores portáteis como o Walkman, criado pela Sony, que além de facilitar na gravação foi uma febre para quem curtia ouvir uma música nos fones de ouvido.

Fitas cassete
[Imagem: Reprodução]

Com os Compact Discs, ou mais conhecido como CDs, as outras mídias foram substituídas pelos aparelhos que reproduziam esse tipo de disco em casa ou na rua, como o Discman. Esses tipos de disco ficaram muito tempo em alta e foram a melhor opção para ouvir música durante muito tempo. Muito da sua fama se deu quando os aparelhos de rádio dos carros adotaram a entrada de CD

[Imagem: Reprodução/Douglas Heriot] 

Com a modernidade surgiram os MP3 Player, sendo o primeiro, o MPMan lançado pela empresa sul coreana SaeHan Information Systems em 1997. Logo depois, o iTunes foi criado para baixar e comprar músicas em computadores e 8 meses depois o iPod finalmente foi lançado trazendo uma super inovação: enorme armazenamento de músicas em formato digital. 

Poucos anos depois, a sensação de “comprar música” como uma coisa física foi desaparecendo lentamente e hoje quase ninguém usa mais CDs ou iPod, mas aplicativos de música pagos ou gratuitos que dão acesso a todo tipo de música, das mais antigas às mais atuais. O estilo de reprodução e de gravação das canções mudou drasticamente, e hoje, como a maioria das coisas na internet, se tornaram de fácil acesso para o público em geral. 

A criação e a notoriedade do YouTube pode ser considerada a maior virada na maneira de produzir e consumir conteúdo musical. Com uma indústria fonográfica cada vez mais evoluída, o surgimento do YouTube em 2005 e o encerramento das transmissões na tv aberta pela MTV brasileira em 2013, marcaram o fim de uma era e o início de uma nova, trazendo muitos benefícios para os amantes da música, mas também para todos aqueles que queriam produzir ou descobrir novas tendências. 

Página inicial do YouTube no ano de seu lançamento, 2005
[Imagem: Reprodução]

Considerado a Billboard da nova geração, o YouTube deu início a grande acessibilidade que se tem hoje nas redes sociais e nos aplicativos de música. A grande questão do site é a sua facilidade em viralizar muito conteúdo em um curto período de tempo, o que já fez muitas pessoas terem seus quinze minutos de fama. 

Em 2011, por exemplo, a californiana Rebecca Black lançou o hit mundial Friday, que viralizou de maneira grandiosa. Tempos depois o clipe no YouTube foi o vídeo com mais dislikes da história, mas não foi o suficiente para abalar a cantora que ainda faz parte do mundo da música. Seu último single Read My Mind foi lançado no final de 2021. 

Outra música muito viral mas por pouco tempo, foi Gangnam Style do coreano PSY. Com dancinha e tudo, o hit chegou ao Guinness World Records por ter sido o vídeo mais curtido no YouTube em 2012, o primeiro a alcançar a marca de um bilhão de curtidas.

Com essa grande fama, a plataforma também abriu espaço para outros grandes aplicativos de reprodução. Um pouco diferente da proposta do precursor, Spotify, Deezer, SoundCloud e outros apps de streaming tem como principal objetivo a reprodução de músicas e mais recentemente, podcasts. 

A internet fez isso, redescobriu novas maneiras de escutar música, mas também de se relacionar com ela em todos os sentidos. Nesse assunto, é impossível não mencionar a grande estrela dessa geração: o TikTok. O aplicativo surgiu exatamente para conectar os usuários com a música. Com vídeos curtos, ele proporciona novas interações entre pessoas e sons, que além de conteúdo criativo também tem um papel na revelação de novos artistas. 

Acessível: a palavra perfeita para descrever a música na era da internet e da tecnologia. Nessa geração, as canções se desprenderam de um conceito físico, não é mais comum ir a uma loja comprar um disco e por mais que a compra ainda ocorra de forma online, é muito menos impactante. Além disso, a universalidade que a reprodução musical alcançou nos últimos tempos também revela um caráter onipresente. 

No carro, em casa, na caixa de som ou no fone de ouvido, a música sempre está presente, e se fez mais ainda com essa acessibilidade que a internet e as inovações tecnológicas proporcionaram. Ela ajuda a expressar e a trabalhar com sentimentos e por isso todos veem uma grande necessidade de estar conectado com essa arte. E é por essa necessidade que a evolução da indústria acompanhou a humana e provavelmente continuará seguindo as grandes inovações da humanidade. Será interessante observar quais serão os próximos passos na evolução dessa arte e na maneira como todos se relacionam com ela. 

Revolução do rádio na indústria musical

A história do rádio começa em 1860, quando as ondas de rádio foram descobertas pelo físico escocês James Maxwell, passando por sua real difusão durante a Primeira Guerra Mundial, até a chegada das transmissões no Brasil, em 1923. De lá para cá, a abordagem e influência desse meio de comunicação mudou bastante, a rádio ergueu carreiras e criou grandes sucessos com sua disseminação em massa. Mesmo que possa parecer uma indústria morta, ela apenas está se adequando, mas mantém sua hegemonia quando o assunto é difusão de hits.

A Era de Ouro do rádio aconteceu mundialmente a partir de 1927, quando passou por um processo de massificação por conta da possibilidade de transmissões sonoras de aparelhos que tocavam os discos direto no microfone, profissionalizando o meio com contratação de artistas, criação de grades com novelas, programas humorísticos e de auditório.

Com a chegada de outros artifícios midiáticos, como a TV e a internet, a rádio foi ameaçada de extinção diversas vezes, mas conseguiu e ainda consegue se adequar às novas realidades. A mais nova atualização é a transição de formatos, vindo do analógico ao digital. As emissoras possuem sites que transmitem ao vivo sua programação, seja ela recheada de músicas, entrevistas, notícias ou debates, podendo até mesmo conter imagens. Essa modalidade trouxe grande benefício, uma vez que rádios locais puderam se alastrar por toda internet, não apenas a pequena porção que antes cobria, expandindo suas barreiras geográficas e levando seu conteúdo a outros públicos, sem fronteiras.

A onda de podcasts também beneficiou o formato, fazendo com que o público voltasse a ser ouvinte. Seja escutando nas plataformas de áudio ou acompanhando o áudio do Youtube sem, necessariamente, estar vendo a imagem, os podcasts trazem de volta o storytelling ao rádio, despertando o interesse do ouvinte para ouvir a história completa, saber mais sobre o assunto, conhecer a pessoa entrevistada, todos esses estímulos atiçam a curiosidade, tornando mais pessoas fiéis ao formato – em sua versão atualizada.

[Foto: Pexels]

Na indústria musical, a rádio continua sendo carro forte na disseminação de músicas – com certeza não em seu formato analógico, mas em suas segmentações. Com a facilitação do processo de abrir sua própria empresa, foram criadas diversas rádios digitais que cobrem cada um dos gêneros musicais, dando oportunidades a novos artistas independentes, que conquistam o público nichado da estação sem precisar de grandes gravadoras fazendo o marketing por trás, evitando a polarização de gostos.

Polarização? Sim, em tempos remotos, quando o modelo analógico era forte, apenas músicas e gêneros rentáveis com grandes gravadoras por trás, como a Warner, Sony, Som Livre e Universal entravam na programação, para atingir superficialmente o público, fazendo-o focar apenas no que eles gostariam que fosse escutado, repetindo diversas vezes a mesma música e artista até que se tornasse um sucesso.

A polarização entra no quesito de que cada rádio fazia isso com um gênero ou artista específico, criando sucessos de extremos diferentes, enquanto músicas que seguiam a mesma linha, mas sem nenhum patrocínio, eram ignoradas. E se até os que seguiam a linha eram ignorados, os criativos que faziam obras fora da caixa simplesmente não existiam.

O formato criava personalidades endeusadas e muita rivalidade, uma vez que o espaço dentro da mídia era extremamente disputado e caro. Nesta nova fase, quem se arrisca e tem as ideias marketeiras mais criativas é que ganha destaque, indo parar nas rádios e grandes playlists organicamente, fruto da massificação do trabalho na internet.

[Foto: Unsplash]

Isso certamente dificulta o trabalho das rádios, que antes criavam as tendências e agora tem que acompanhá-las para não ficar para trás, enquanto ainda luta com a pirataria e as novas leis de autorização do uso dessas músicas.

O que antes estava na rotina do indivíduo agora tem que disputar com diversas distrações para arranjar uma migalha de atenção, e nada cria mais relevância do que se sentir visto. A estratégia das emissoras para manter a audiência é um sistema de participação do ouvinte, quando este se sente parte da programação e tem seus pedidos atendidos, instintivamente cria um laço emocional com o programa e seus apresentadores, resultando na fidelidade deste indivíduo, que irá inserir o rádio em sua rotina meticulosamente – a atenção está nos detalhes, e o reconhecimento é uma grande porção desta migalha.

Entre trancos e barrancos, o rádio ainda vive! Assim como todos os antigos meios de comunicação, o rádio precisou se atualizar para continuar em vigor, abandonando antigos costumes e abraçando a globalização, tudo isso precisando manter a essência do emissor e sua ligação com o receptor. Essas mudanças foram drásticas e tem seus pontos positivos e negativos, mas não anulam o esforço de emissoras e aspirantes a manter o sistema ativo, mesmo que com diferentes dinâmicas.

A realidade fora dos palcos: vícios, ansiedade e depressão

No início deste mês de setembro, o Rio de Janeiro recebeu mais uma edição de um dos festivais mais famosos no mundo da música: o Rock In Rio. Dentre os artistas cotados para as apresentações no palco mundo, Justin Bieber e Demi Lovato se destacaram. Não apenas pelo fato de suas performances terem sido impecáveis e cheias de talento, mas também por conta do que aconteceu depois destas.

Ambos os cantores se manifestaram em suas redes sociais falando sobre exaustão física e mental e como isso afetaria suas respectivas turnês. Bieber optou por cancelar os próximos shows e Demi afirmou que essa seria sua última. 

O tema saúde mental é algo que passou a ser muito debatido ao longo dos últimos anos, principalmente na indústria musical. Em 2019, uma distribuidora digital sueca chamada Record Union fez um estudo e concluiu que dentre os 1500 músicos analisados, 73% destes possuem algum tipo de doença mental, principalmente na faixa etária dos 18 aos 25 anos. 

As doenças mais comuns são: ansiedade e depressão. Transtornos que afetam tanto Bieber quanto Demi. Dentro da pesquisa, apenas 19% afirmou ter procurado um tratamento adequado, enquanto 50% admitiu se automedicar, abusando de remédios, álcool e de drogas, lícitas ou não.

 O astro canadense e a ex-estrela da Disney estão longe de serem os únicos afetados pelas pressões da carreira e os dramas que os cercam. Artistas como Sabrina Carpenter e Joshua Bassett são atacados em suas redes sociais constantemente desde o início de 2021, após polêmica envolvendo um triângulo amoroso; fator determinante para suas saúdes mentais. 

Justin Bieber: pausa em Justice Tour por questões de saúde

O astro canadense, em seu documentário Justin Bieber: Next Chapter falou abertamente sobre os problemas que ele enfrenta com sua saúde mental. Em 2020, o cantor revelou que ao longo de sua adolescência chegou a ter pensamentos suicidas por conta de toda pressão e do bullying que estava sofrendo.

Recentemente diagnosticado com a síndrome de Ramsay Hunt, doença responsável por causar paralisia facial e perda auditiva, Justin decidiu dar uma pausa em sua agenda lotada de shows, a fim de se concentrar nos tratamentos da síndrome para melhorar o mais rápido possível. Uma atitude que ao mesmo tempo foi muito compreendida pelo seu público, também foi altamente criticada. 

Após uma melhora significativa, Bieber retomou a Justice Tour e inclusive realizou o sonho de muitas beliebers – fãs do astro – vindo  ao Brasil, no início deste mês. O artista entregou um show espetacular na edição do Rock in Rio de 2022, performando por mais de 1h com uma setlist de 22 músicas. No entanto, os fãs perceberam o cansaço que o cantor apresentou ao longo de sua apresentação. Justin estava visivelmente abalado. 

Justin Bieber no Rock in Rio [Imagem: Reprodução/Instagram]

Após sua apresentação no Rio de Janeiro, o cantor confirmou o que a mídia já estava especulando. A Justice Tour estaria sendo suspensa mais uma vez. Os shows que aconteceriam na capital paulista nos dias 14 e 15 de setembro foram cancelados. Bieber, em seu Instagram, se desculpou e agradeceu o apoio de seus fãs.

Comunicado oficial da Time for Fun [Imagem: Reprodução/Twitter]

No entanto, nem todo mundo entendeu a decisão tomada pelo astro. Mais uma vez ele foi considerado como mimado e egoísta por, pasmem, priorizar sua saúde física e mental. Infelizmente, enquanto alguns torcem para que Justin Bieber fique bem, outros simplesmente não compreendem como ele pode agir dessa forma. Colocando o cantor em um patamar muito elevado, esquecendo-se de algo fundamental: Justin Bieber também é humano. 

Demi Lovato: uma jornada de vícios e depressão

Demi Lovato, após uma série de shows pelo mundo, anunciou em seu Instagram nesta última terça-feira (13) que está muito doente e que não consegue mais seguir com a carreira. “Essa próxima turnê será minha última, eu amo vocês e muito obrigada”, disse a cantora. A data prevista para o fim da Holy Fvck Tour é dia 6 de novembro deste ano.

A cantora americana Demi Lovato, em entrevista fornecida à Variety, contou sobre seu documentário Dancing with the Devil, que aborda a sua luta pela preservação de sua saúde mental e contra o vício. “Há dois anos enfrentei o momento mais difícil da minha vida e agora estou pronta para compartilhar minha história com o mundo inteiro. Pela primeira vez vocês poderão ver o meu ponto de vista sobre minha história de luta e cura. Sou grata por ter conseguido encarar meu passado e finalmente compartilhar minha jornada com o mundo”, declarou à revista.

A jornada de Lovato com transtornos em sua saúde mental começou quando a cantora trabalhava para o Disney Channel, em 2010. Além de lidar com a constante busca pela “perfeição”, lidava também com a bipolaridade. A artista foi afastada para um tratamento em Illinois para cuidar de sua bulimia, colapsos nervosos, automutilação e dependência de álcool e cocaína.
Demi contou, também, que quando mais nova chegou inclusive a performar embriagada e sob o efeito de drogas. Uma de suas apresentações mais elogiadas do single Give Your Heart A Break, no programa American Idol, a cantora estava totalmente fora de si. Ao longo desse período difícil, ela foi alvo de muitos ataques e críticas da mídia. Comentários de que a cantora “havia chegado no fundo do poço” foram recorrentes; fator que só contribui para a piora de seu estado.

Sabrina Carpenter e Joshua Basset após Drivers License

No ano passado, a cantora Sabrina Carpenter foi envolvida em escândalos amorosos juntamente com seu ex-namorado, Joshua Basset, e Olivia Rodrigo, que também namorou o cantor e ator em 2020. Os rumores de que Sabrina havia sido a responsável pelo rompimento do casal circularam por toda internet após o single drivers license, lançado por Rodrigo em janeiro de 2021.  

Na música, Olivia menciona que uma loira teria sido quem os afastou; os fãs logo concluíram que se tratava de Sabrina, uma vez que a cantora tinha sido vista com Basset várias vezes, inclusive em suas redes sociais. Com isso, Sabrina se tornou alvo de inúmeros ataques, além de ter sofrido ameaças de morte. A cantora, em entrevistas, falou que esses hates excessivos foram péssimos para sua saúde mental. Joshua, que também sofreu com muitos ataques, optou por não responder à cantora diretamente e pediu que seus fãs não jogassem hate em ninguém

Tanto Carpenter quanto Bassett compartilharam seus sentimentos por meio da música. Sabrina lançou o singleSkin”, que pode ser entendida como uma resposta direta à Olivia, levando em conta que a cantora menciona em sua canção: “Talvez loira tenha sido a única rima”. Fazendo alusão à drivers license

 ”Minhas músicas são um reflexo do que está acontecendo na minha vida. Gostaria que refletisse a força que pode ser encontrada em momentos difíceis”, disse Carpenter em entrevista à People Magazine 

Joshua lançou Lie, Lie, Lie e Crisis; ambas sobre todo o drama em que ele foi envolvido publicamente. ”Minha mãe me ligou, porque ouviu que estou recebendo ameaças de morte. Não sei que diabos devo fazer com isso. Gostaria de poder abrir meus olhos e esse pesadelo ter acabado. Mas você sensacionalizou e continua jogando lenha na fogueira”, escreveu Joshua Basset em Crisis.

Uma coisa é fato: pessoas públicas estão mais sujeitas a críticas e pressões externas do que qualquer um; e os cantores não são diferentes. Os cuidados com a saúde mental são essenciais para que os artistas consigam seguir na indústria musical. Felizmente, essa questão está cada vez mais sendo abordada pela mídia, e doenças como depressão estão parando de ser consideradas um tabu.

Quanto mais se fala sobre o assunto, mais informadas ficam as pessoas. Consequentemente, torna-se mais fácil procurar um tratamento. Esses são apenas  alguns, dos milhares de cantores, que convivem com transtornos em suas saúdes mentais. Cabe ao público compreender e respeitar que eles terem suas vidas publicizadas, não anula o fato que também passam por problemas como qualquer um.