Desde sua criação, as semanas de moda são responsáveis por direcionar a indústria. Elas não definem somente o calendário de lançamento de coleções, como ditam o estilo e as peças que estarão em alta na próxima estação. Hoje, as maiores semanas de moda são divididas entre Paris, Londres, Milão e Nova York – cada uma representando algo diferente para a indústria e para a comunicação de moda. Elas acontecem duas vezes ao ano: em fevereiro, quando são apresentadas as coleções Outono/Inverno; e em setembro, trazendo as coleções Primavera/Verão.
Além disso, antes do início das temporadas citadas acima, ocorre a semana de alta-costura. Apesar de ter uma duração de somente três a quatro dias, ela representa o ápice do luxo dentro da indústria de moda, com roupas feitas à mão e vendidas somente sob encomenda, para consumidores selecionados. Tornando-a ainda mais exclusiva, somente marcas que possuem aprovação da Federação da Alta-Costura e da Moda podem se apresentar durante essa semana, que também ocorre em Paris.
Por serem eventos tão grandes e importantes para o mercado de luxo e de moda, eles exigem um grande nível de organização e planejamento. Cada decisão criativa tomada durante os desfiles é resultado de meses de reuniões e preparação. De acordo com o maquiador e cabeleireiro Edu Hyde, responsável pela beleza de diversos desfiles apresentados nas semanas de moda internacionais, o planejamento começa cerca de 3 a 4 meses antes do dia do evento.
“São necessárias reuniões com os estilistas, diretores criativos, stylists e qualquer um que esteja envolvido na parte criativa do desfile”, conta o profissional. “Assim chegamos no consenso de desenvolvimento da beleza, que precisa ter harmonia com o tema abordado na coleção apresentada”, finaliza.
Edu Hyde com equipe criativa em sessão de fotos. Foto: Acervo pessoal – Edu Hyde
Em semanas de alta costura, este trabalho é ainda mais detalhado. “Elas atingem um público diferenciado. A roupa possui um acabamento impecável e é feita de maneira exclusiva, o que também precisa ser empregado na execução da beleza”, compartilha Edu. O maquiador e cabeleireiro ainda conta que, na maioria das vezes, a grife já possui alguma beleza em mente, e é trabalho do responsável pela beleza do desfile dar um direcionamento às ideias propostas e trazê-las à vida.
Após mais de dez anos trabalhando em backstages – isto é, os bastidores – das principais semanas de moda do mundo, Edu já foi responsável por assinar a beleza de diversos desfiles de grife e compartilha a grande responsabilidade que vem o cargo, “o maquiador que assina é o responsável por ver a execução dos demais e entender se está tudo em sintonia e harmonia”. Além disso, o único profissional de beleza que possui liberdade criativa durante o backstage de um desfile é aquele que o assina.
Edu Hyde produzindo a modelo e apresentadora, Fernanda Motta, para o desfile da Dolce & Gabbana. Foto: Acervo pessoal – Edu Hyde
Apesar de afirmar que não há rigidez em relação aos profissionais de beleza e a marca, existem algumas regras a serem seguidas. Uma delas é referente aos produtos de beleza utilizados nas modelos que irão desfilar, que não podem fazer parte do estoque pessoal de cada maquiador, e devem ser fornecidas pela produção de cada desfile. As grifes que possuem sua própria linha de cosméticos geralmente promovem o uso exclusivo desses produtos, na medida do possível, para reforçar a identidade da marca através da beleza. Aquelas que não disponham de cosméticos em seu catálogo, contam com o patrocínio ou permuta de alguma marca de beleza, utilizando somente os produtos fornecidos por elas.
Além disso, o funcionamento do backstage é um pouco diferente na presença de celebridades. “Algumas celebridades possuem autoridade para opinar no look que vão desfilar, decidindo junto a equipe de estilo e styling”, compartilha Edu, mas reforça que elas não possuem uma decisão final da parte criativa da produção do desfile. No caso de figuras públicas presentes, ou de alguma modelo principal, elas sempre serão maquiadas pelo profissional responsável pela beleza do desfile.
Outro fator responsável por trazer mudanças ao funcionamento dos desfiles é o crescimento exponencial das mídias sociais, e o poder de influência que elas acumulam. “Houve mudanças desde as equipes até aos participantes dos desfiles, pois os influenciadores passaram a ter mais visibilidade e autoridade na participação destes eventos”, conclui Edu.
Uma das principais tendências que a Frenezi apontou para o Inverno 2022 foram os capuzes à la Aläia, desfilados por marcas como Dion Lee, Michael Kors e Rick Owens. Fluido e alongado, o elemento fez parte dos códigos clássicos da maison comandada por Azzedine Aläia, estilista-ícone turco que deixou para trás um legado de peso em 2017, quando faleceu.
Mas não é à toa que esse elemento apareceu repetidas vezes nas passarelas: em julho do ano passado, a Aläia nomeou o seu primeiro diretor criativo desde a morte de Azzedine. Pieter Mulier foi o nome escolhido para o cargo, e a reativação da marca parece ter trazido de volta o legado de Azzedine para os moodboards dos mais variados estilistas — dentre eles, os três citados anteriormente.
Inverno 2022 de Dion Lee, Michael Kors e Rick Owens / Imagem: [Reprodução/Vogue Runaway]
Desde então, Mulier já apresentou duas coleções e vestiu celebridades como Zendaya e Liya Kebede, sendo a última para a recente premiação dos Oscars 2022. Ele também é marido de ninguém menos que Mathiew Blazy, nome escolhido recentemente pela Bottega Veneta para suceder Daniel Lee e sua era dourada na marca. Blazy fez sua estreia na Bottega mês passado, com uma coleção aclamada tanto pelo público quanto pela crítica e onde Mulier estava sentado na primeira fila.
E como na moda qualquer pequeno buzz e movimentação é motivo de atenção, esse talvez seja o momento certo de destrinchar a estética e o legado de Azzedine — os capuzes desfiados por Rick Owens, Dion Lee e Michael Kors podem ser apenas a ponta do icerberg de uma série de referências futuras ao estilista por outros designers e de uma possível re-estabilização da Aläia como uma das principais marcas da temporada parisiense.
Abaixo, entenda a história, o legado e o futuro da maison.
História
Azzedine nasceu na Tunísia entre o início e o final do nosso século — ele costumava não revelar sua idade, por mais que saibamos que o estilista veio ao mundo em 1935 — e foi criado por sua avó, que foi quem inscreveu o neto na academia de Belas-Artes logo cedo aos 16 anos. O sonho do estilista era ser escultor, o que de fato viria a ser a sua profissão dentro da moda mais tarde — Azzedine pode até ser considerado um estilista, mas o título de “escultor da carne humana”, como classifica o biógrafo François Baudot, parece lhe servir melhor.
Azzedine Aläia fotografado por Jean-Baptiste Mondino / Imagem: [Reprodução/Fundação Aläia]
Isso porque Aläia manipulava os tecidos e as agulhas como ninguém, corrigindo “imperfeições” do corpo feminino e realçando suas belezas. De onde veio esta aptidão? Do mesmo lugar que lhe direcionou da Arte para a Moda: a clínica de Madame Pineau, a parteira de seu bairro.
Ela conservava em seu local de trabalho as revistas de moda que o designer apreciava, e Azzedine lhe servia de assistente: esquentava a água e carregava as toalhas. Foi durante os partos que Aläia aprendeu ainda jovem a cuidar do corpo das mulheres e respeitá-lo; e era durante os intervalos entre um e outro que o até então futuro escultor mergulhava nas revistas de Paris, admirando os belos vestidos e tendo a certeza de que era ao lado e para aquelas mulheres que ele gostaria de trabalhar.
Quando finalmente obteve a permissão de sua avó para ir a Paris, Azzedine se apresentou na maison Christian Dior, onde trabalhou por apenas 5 dias em decorrência de problemas com seus documentos legais — era época da Guerra da Argélia, a mesma que fez Saint Laurent sair da também mesma maison para servir ao exército.
Depois disso ele chegou a trabalhar duas estações para o estilista Guy Laroche, até se firmar em um endereço próprio na rua de Bellechasse. É lá que ele cultiva um clientela elegante e discreta e faz suas experimentações têxteis para enfim, em 1980, lançar suas primeiras coleções.
Códigos e filosofia
Entre infinitas assinaturas e códigos clássicos, talvez a principal característica do trabalho do designer não seja exatamente um modelo ou adereço em si — por mais que ele tenha vários — mas sim a impecabilidade de seus designs e a atemporalidade dos mesmos. Carlyne Cerf, stylist de carreira renomada conhecida por ter assinado a primeira capa de Anna Wintour para a Vogue Americana, foi quem melhor soube definir o estilo do estilista: “absolutamente nada dele sai de moda”.
Azzedine não estava interessado em tendências e muito menos no que seus colegas de profissão estavam fazendo. Ele era um perfeccionista nato, interessado em atingir o corte e a modelagem perfeitas e em desenvolver roupas pensadas no movimento dos corpos e na anatomia humana, com as costuras feitas de maneira a contornar o corpo. Tudo isso ele fazia se utilizando principalmente da cor preta e do couro, o que garantia sofisticação e atemporalidade aos looks.
Mesmo assim, alguns elementos são fortemente associados ao seu trabalho: os já mencionados capuzes fluidos e acoplados às peças, o body em lycra, o uso de tecidos elásticos, o zíper enquanto adorno, o drapeado em colmeia de abelha, o cinto-espartilho em couro recortado e a pele animal exótica são alguns exemplos.
Verão 1990, Verão 1992 e Inverno 1992 Aläia da esquerda para a direita / Imagem: [Reprodução/Vogue Runaway]
O inventor das supermodelos
Para Suzy Menkes, importante crítica e jornalista de moda, foi Aläia quem inventou as supermodelos antes de Gianni. É isso que ela diz em ‘Aläia by Joe Mckenna’, documentário sobre o estilista produzido por um dos mais importantes e influentes stylists do mundo.
De fato, Aläia não só possuía todas as principais modelos da época em seus castings — dentre elas Linda Evangelista, Helena Christensen, Veronica Webb, Cindy Crawford e Naomi Campbell — como também mantinha uma relação de amizade e confiança com cada uma: saia para levá-las ao médico, cozinhava para elas e dava infinitos conselhos. Muito além de uma relação de musa e criador, Azzedine era como um pai para estas meninas.
Supermodelos posam vestidas de Aläia / Imagem: [Reprodução/Fundação Aläia]
Para Naomi essa relação era ainda mais intensa: o estilista praticamente adotou a supermodelo como filha, sendo chamado de “papa” até hoje por ela. Naomi morou com Azzedine durante anos, tendo o estilista como única figura paterna ao longo da vida — ela só veio a conhecer seu pai biológico aos 41 anos de idade.
Azzedine e o sistema
O legado de Azzedine vai muito além de seu talento, processo criativo e design: o estilista foi um dos únicos de sua época a contestar o sistema da Moda. Azzedine apresentava suas coleções fora do calendário oficial e com poucos convidados. Seus desfiles podiam levar horas para começar em razão do seu perfeccionismo – Aläia só deixava a modelo adentrar a passarela se o traje que ela vestia estivesse perfeitamente ajustado ao seu corpo.
Grace Coddington, famosa editora de moda e ex-braço direito de Anna Wintour, ressalta que muitas vezes o seu perfeccionismo resultava em coleções atrasadas e entregues nas estações erradas para as lojas: “…ele trocava o Inverno pelo Verão ou o Verão pelo Inverno, colocava as roupas nas lojas na hora errada. Mas tudo isso provavelmente por uma boa razão: ele não estava nunca satisfeito com o jeito que uma peça era finalizada, ele era extremamente focado no que fazia.”
Com o tempo a espera para seus desfiles foram ficando cada vez mais demoradas, e talvez este tenha sido o motivo de sua desavença com Anna Wintour, que é internacionalmente conhecida por ser extremamente pontual. “Anna comanda os negócios da moda muito bem, mas não a parte criativa. Eu posso falar em voz alta! Ela nunca fotografou o meu trabalho em 10 anos, mesmo eu sendo um dos designers mais vendidos nos EUA. A mulher americana me ama, eu não preciso do suporte dela! De qualquer maneira, quem vai lembrar de Anna Wintour na história da moda? Ninguém.” foi o que ele declarou de maneira polêmica em 2011 para Vogue Inglesa.
Verdade ou não, o fato é que isto só comprova o quanto o estilista ia na contramão do sistema como um todo: ele apresentava suas coleções no momento em que queria e batia de frente com um dos principais nomes do mercado pois tinha certeza de seu talento e contribuição criativa para a indústria — e era, acima de tudo, um devoto ao seu ofício.
A era Mulier
Mesmo com apenas duas coleções apresentadas até então, Pieter Mulier parece ter sido a escolha certa para dar continuação ao legado de Azzedine e inseri-lo no mundo contemporâneo. Antes de Mulier e após a morte de Aläia a marca continuou entregando coleções desenvolvidas por um time interno, porém feitas de maneira enxuta e com pouca informação de moda.
Ex-braço direito de Raf Simons na Calvin Klein 205W39NYC, Mulier parece saber unir bem o lado comercial com os códigos clássicos da casa e consequentemente mirar em uma audiência mais nova. Nas suas mãos os tradicionais cintos em couro recortado se tornaram braceletes, os capuzes fluidos tomaram forma de balaclavas e os recortes e costuras estratégicas de Azzedine foram adaptados a modelagens atuais, como as proporções midi, e materiais do momento, como o jeans e a pele fake. Ao que tudo indica, este é apenas o início do comeback da marca e da re-estabilização do legado de um dos maiores estilistas de todos os tempos.
Verão e Inverno 2022 da Aläia por Pieter Mulier / Imagem: [Reprodução/Vogue Runaway]
Para inaugurar a temporada de Outono/Inverno 2022, que acontece durante os meses de fevereiro e março entre as principais cidades das semanas de moda internacionais — Nova Iorque, Londres, Milão e Paris — começamos a semana de moda de Nova Iorque com um respiro gelado da cidade, ainda se recuperando do inverno.
De corsets de couro em Dion Lee até as saias exuberantes em Carolina Herrera, abordaremos um pouco neste texto sobre a maioria dos desfiles da semana de Nova Iorque, com seus designers independentes e marcas jovens que já roubaram o coração da indústria e seus amantes.
Você pode encontrar o calendário oficial da Semana de Moda de Outono Inverno de Nova Iorque aqui.
Foto retirada da conta no Instagram da marca Christian Siriano.
Confira a cobertura completa da Semana de Outono/Inverno em Nova Iorque:
DIA 1
Começando por uma das primeiras apresentações do primeiro dia da NYFW com a coleção de Outono/inverno 2022 apresentada por Christian Juul Nielsen para a Herve Leger, o designer entrega peças que conversam perfeitamente com o agora e que certamente serão um sucesso de vendas. É uma coleção pouco criativa em termos de design, porém às vezes as marcas precisam apostar em peças mais comerciais por razões óbvias.
Todos os 24 looks são monocromáticos e em conjuntinho, feitos em cores que variam entre rosa pink, preto, verde ácido e marrom arroxeado. A modelagem das peças é toda mais justa em decorrência da bandagem, técnica pela qual Hervé Leger ficou internacionalmente conhecido.
Saias lápis fazem conjunto com tops com recortes e são estilizadas com luvas, assim como todos os outros looks da coleção, que recebem o acessório na mesma cor do conjuntinho. Destaque também para os vestidos longos e blusas justas com recortes e franjas, que com certeza serão os hits de venda desta coleção. É uma apresentação extremamente assertiva, mas que peca apenas em um aspecto: das 21 modelos fotografadas para o lookbook, apenas 1 é negra.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
O Outono/Inverno de Proenza Schouler vem na contramão de outras marcas: enquanto todos buscam as roupas pós-pandêmicas, para curtir a vida; ou o conforto do ‘loungewear’; a coleção criada pela marca é para o “agora”.
O corpo quase totalmente coberto na maioria dos looks nos recorda dos dias de lockdown, mas de forma sofisticada. Conjuntos de blazer e calça, casacos e saias somadas a blusas de manga infinita e gola alta, sempre com silhuetas amplas são reconstruídos pelo corset, marca registrada de Proenza, mas que surge de forma revisitada para evitar a redundância que vimos em tantas outras casas. Nessa coleção, o item aparece em forma de tecidos grossos amarrados por todo o abdômen e quadris.
Além da alfaiataria pesada e dos tecidos articulados quase como armaduras para enfrentar o atual momento, houve espaço para a fluidez. Vestidos em cores vibrantes — em contraste com os tons básicos mostrados no resto dos looks — marcaram ponto, sempre em materiais leves.
É interessante pensar em como os estilistas utilizaram, em cada uma das peças, diferentes técnicas para alcançar a silhueta marcada: alguns vestidos tiveram suas cinturas acentuadas por meio de “falhas” no tingimento das estampas; outros, com cintos e corsets feitos de tecido. O look 28 (ao lado) fez uso de amarrações e franzidos.
A repetição de técnicas ou de cores não é um problema aqui — a coleção passa longe de ser entediante e sabe buscar com maestria as tendências do momento sem perder a essência original.
A persona de Proenza Schouler por Lazaro Hernandez e Jack McCollough (diretores criativos da marca) se mostra novamente elegante, antenada e independente de opiniões e comportamentos alheios.
Foto retirada do Vogue Runway do desfile de Proenza Schouler.
Miley Cyrus, Lady Gaga, Lil Nas X e Lizzo: estas são apenas algumas das celebridades que amam Christian Cowan e já desfilaram alguns de seus modelos por aí. O estilista britânico de 25 anos é o favorito de famosos que buscam um visual glam e festivo sem erros, fazendo sempre o uso de muita cor, brilho e aplicações.
Sua estreia na NYFW em 2018 dividiu opiniões entre a crítica: muitos acharam o trabalho do jovem designer extremamente carregado, enquanto outros defenderam a sua estética opulente e a compararam ao trabalho de Jeremy Scott.
De fato as primeiras coleções de Cowan pecavam na edição final dos looks e no equilíbrio certo das aplicações e cores utilizadas pelo estilista. Mas, com o tempo, seu trabalho foi sendo refinado e atingiu o ápice na temporada passada, quando Cowan apresentou um dos melhores desfiles da NYFW.
Mas, infelizmente, o designer parece ter andado algumas casinhas para trás com seu Outono/Inverno 2022 apresentado ontem (12/11) em Nova Iorque. A coleção, que tem como inspiração trajes clássicos de gala, insiste nos mesmos erros do início da carreira do designer: a edição final dos looks é bagunçada, as aplicações de brilhos e paetês ultrapassam o limite e o line up final é dividido por seções em que os looks não conversam entre si.
Um dos looks apresentados pelo estilista combina um vestido drapeado com cauda em cetim lilás e uma jaqueta puffer rosa chiclete com aplicações em cristais e recorte nos braços. Já outro é composto por um vestido confeccionado em veludo preto com busto e alça em paetê roxo, em uma modelagem que claramente não valoriza e nem se adapta ao busto feminino.
Foto retirada do Vogue Runway do desfile de Christian Cowan.
Entre looks ultra carregados e extravagantes como estes, Cowan apresentou vestidos e peças em corte de alfaiataria, produzidas em tecidos fluidos com estampas abstratas que fogem completamente da narrativa da coleção e causam certo estranhamento no line up final.
O destaque ficou por conta de apenas um look: o final. Um vestido preto em tafetá com saia volumosa, recorte na barriga e aplicações em cristais exala a energia party girl meets old hollywood e nos faz lembrar exatamente o que amamos no trabalho do designer e desejamos ver daqui pra frente. Maddy Perez, certamente, escolheria este modelo para seu baile de formatura.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
A dosagem errada de glam e fantasia, a má distribuição dos looks e da paleta de cores no line up e a presença de peças que fogem da narrativa da apresentação são alguns deles. Acompanhe no carrossel o review completo.
A coleção construída por Mark Thomas e Thomas Cawson para a Helmut Lang dialoga perfeitamente com uma audiência mais jovem que busca peças minimalistas e fáceis de usar.
Os códigos de Lang aparecem na paleta de cores, composta majoritariamente por preto, e nas texturas – que vão desde a renda, passando pela seda e chegando à pele de carneiro colorido. A coleção apresenta uma boa leva de peças de alfaiataria, que são desconstruídas através de recortes e faixas no maior estilo Lang possível.
No geral a coleção é puramente comercial, assim como a maioria das já apresentadas pela dupla. A verdade é que, desde o desligamento de Helmut da moda há 15 anos atrás, a marca tem produzido coleções pouco importantes e significativas.
O legado de Lang parece ainda permanecer vivo nas mãos de Thomas Cawson, diretor criativo à frente da marca. A prova disso vai para além da cartela de cores minimalista da coleção apresentada ontem (11/02) : Cawson parece utilizar a alfaiataria como base, e desconstruí-la para a contemporaneidade, fazendo uso de texturas como pele de carneiro tingida e criando assim desejo para o consumidor mais jovem.
DIA 2
Começando o segundo dia com uma marca brasileira, a PatBo, a qual ao homenagear a terra natal, Patrícia Bonaldi em seu segundo desfile físico para NYFW se aventura profundamente no mundo do trabalho manual. A coleção toda foi confeccionada por profissionais que fazem parte da escola de bordadeiras da designer mineira em Uberlândia, sua cidade natal.
Bonaldi teve seu foco centrado muito mais nas texturas das superfícies dos tecidos, do que em estampas corridas como em coleções passadas. Ela se manteve fiel ao DNA da sua marca apresentando, mais uma vez, as franjas e os bordados que deram fama ao seu nome.
Foto retirada do Instagram da marca PatBo.
Um elemento novo para a marca mineira na passarela, em comparação com o último desfile, foi o foco em materiais brilhantes, como strass, pedrarias em geral e até mesmo tecidos brilhantes, como o veludo molhado.
Logo no início do desfile a temática da juventude e da sensualidade é apresentado como um guia para compreender todo o resto da coleção. O primeiro look apresenta um maiô inteiro bordado de strass coberto por um longo sobretudo branco de inverno, já no segundo look jeans ornamento por strass revela ter sido uma mistura condizente entre o jovial e o sensual.
A passarela foi marcada pela sensualidade dos looks, tanto nas silhuetas como nos tantos recortes nas modelagens dos maiôs, vestidos, saias e top croppeds. Além disso, a presença de materiais e peças mais quentes como casacos, croppeds de manga longa em veludo e blazers foi discutido pontualmente pela própria designer para desmistificar a crença de que “brasileiros não sabem pensar na moda invernal”.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
A brasileira em pouco tempo soube cativar a atenção da moda internacional e é possível enxergar a influência disso em sua assinatura, principalmente nesta última coleção. Ainda é preciso que a marca se desprenda de certos elementos, mas tendo em vista todo o seu caminho percorrido até aqui, é inegável a grande promessa que PatBo é para a moda brasileira no cenário internacional.
Se Jason Wu tinha o objetivo de explorar ao máximo a feminilidade com todas as suas facetas, ele certamente conseguiu na sua mais recente coleção de Outono/Inverno 2022 apresentada fisicamente na NYFW neste sábado (12).
Segundo notas do próprio designer, toda a atmosfera do desfile teve o intuito de resgatar o glamour dos anos 50 e homenagear aspectos da alta-costura estadunidense, além disso toda a coleção também foi uma homenagem ao companheiro de rotina de Wu, seu gatinho Jinxy, que veio a falecer recentemente.
Wu mostra ser possível explorar de diversas maneiras a temática floral, que já é familiar para os fãs de seu trabalho. Os motivos florais foram apresentados ao longo dos looks com certa discrição, sua presença se fez em estampas abstratas que remetem a silhuetas das flores e em bordados e rendas.
O flerte com o uso de diferentes silhuetas do designer taiwanês foi equilibrado, explorando de tudo um pouco. Vestidos de bainhas curtas, outras longas, saias bolha e saias midi; casacos puffer de superfície acolchoada, enquanto houveram vestidos de cetim e chiffon que exploravam a cintura marcada ou não.
Numa tentativa de se aventurar em novos matizes. Que se afasta dos verdes e amarelos vividos apresentados na sua coleção de Primavera/Verão 2022 e explora a feminilidade encontrada no rosa pink, vermelho e roxo; e a sensualidade embutida no preto, branco e marrom hickory.
O desfile se encerra com o vestido preto de número 37, em camadas e com uma cintura bem marcada, uma tentativa de fechar a passarela com a sensualidade discreta que o vestido passa. Mesmo assim sua finalização passou aquele desejo “por mais”, por querer ver mais trabalhos seguindo a temática explorada.
O desfile de Outono/Inverno da Elena Velez, é uma celebração às diferentes formas de feminilidade; traz a força, o desejo por liberdade, a confiança e a sensualidade, que, sob a perspectiva da estilista, sintetizam o feminino.
Velez trouxe também, referências a questões impostas, pela sociedade, às mulheres, como a maternidade e a pressão estética. A simbologia maternal, abre espaço para homenagear a mãe da designer, que inspirou a coleção – capitã de navio e mãe solo, sua realidade fugia do que é descrito como adequado e feminino.
O embate entre o discreto e o extravagante descreve bem a apresentação da coleção de Outono/Inverno 2022 de Christian Siriano.
A apresentação física ocorreu no coração de Nova Iorque, no andar do Concourse do Empire State Building na noite de ontem (12). Os convidados da primeira fileira contaram com confidentes fiéis de Siriano, como a atriz Dre Barrymore, a famosa drag queen Aquaria, além da sua clientela habitual.
Nomeada de “Matrix Vitoriana”, segundo notas do desfile, Siriano – como qualquer outro designer contemporâneo a ele – teve como objetivo exprimir a angústia de tempos tão tensos como os de hoje.
Durante o curso na passarela, é muito ‘pontual’ essas referências do designer estadunidense. Peças em látex que remetem à rigidez de tempos futurísticos e distantes como o mundo de Matrix e o tule resgatando a delicadeza de vestidos de gala de tempos passados, tempos Vitorianos.
O designer logo de cara apresenta uma cartela de cores bem limitada, os azuis e pretos tiveram o maior destaque durante o desfile.
Foi interessante observar o trabalho de silhuetas do designer nos diferentes tecidos. Formas simples nos vestidos com silhueta de linha “I” no veludo molhado, e figuras mais experimentais em um dos tecidos mais norte-americano que se pode pensar, o Jeans.
Após anos sendo admirado por suas formas extravagantes, dessa vez os looks que rou-
baram a cena são justamente os mais discretos da coleção.
As estampas tiveram uma aparição um tanto desconexa ao longo da apresentação. Ter uma comunicação coerente entre as peças de uma passarela é de extrema importância, justamente para exprimir, sem sombra de dúvidas, a mensagem do estilista.
Estampas xadrez, florais, rendas bordadas, tules e chiffon com aplicações de lantejoulas e os veludos tiveram sua parcela de destaque na passarela.
Christian Siriano capta várias das diversas tendências de consumo dos últimos anos, como: os espartilhos, blazers de silhuetas rígidas, luvas, brilhos e rendas – que se acentuaram muito nessa última temporada de moda. Tal jogo de marketing pode se tornar proveitoso pelo ponto de vista comercial, mas ao final do desfile, a mistura de tantas informações como essas pode resultar num trabalho um tanto confuso.
Dessa vez, numa tentativa de querer explorar duas temáticas tão distintas – Matrix e a era vitoriana – em combinações não tão óbvias, a coleção final de Siriano precisou harmonizar com mais eficácia as ideias que o inspiraram.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Com um desfile um pouco mais íntimo do que de costume, Brandon Maxwell sendo o penúltimo designer da noite de ontem (12), apresentou sua coleção de Outono/Inverno 2022 na NYFW.
Brandon Maxwell leva consigo os admiradores de seu trabalho de volta ao tempo de sua juventude, ao nascimento de seu amor pela moda tendo como mentora sua avó, que sofre de Alzheimer. Do início ao fim, o desfile transparece uma nova faceta de Maxwell, uma versão do estilista mais delicada e até angelical.
Diferente de suas coleções passadas, o designer estadunidense faz uso da simplicidade para explorar materiais já familiares aos norte-americanos, como o jeans, as rendas e a camurça – muito presente nos acessórios da coleção. A dança entre tecidos pesados e leves durante a apresentação soube equilibrar os looks de inverno, que não necessariamente precisam descrever uma estação rigorosa.
O jovem Maxwell durante sua infância costumava brincar com os xales e joias da avó e sua irmã era seu manequim preferido para explorar sua criatividade; seus looks refletem essa brincadeira infantil com um tom agora mais adulto do designer. Peças em cetim, chenille, renda, tecidos acolchoados, tricô, couro trabalham essas nuances entre o reto e o volumoso.
Toda a coleção é um retrato da vida de Brandon Maxwell, desde sua infância e a forma como a sua avó o influenciou até a abertura da sua própria boutique no Texas.
“Quando decidimos fazer um show, eu queria fazer algo que, se fosse meu último, fosse um suporte de livros do qual eu me orgulhasse”, disse o designer de 37 anos.
Uma coleção tão pessoal como a de Maxwell, revela o potencial criativo do estilista, um designer capaz de entregar looks glamourosos, como sempre fez, mas também que enxerga em sua trajetória pessoal aspectos da simplicidade que podem encantar igualmente o seu consumidor.
O desfile foi iniciado e encerrado pela modelo Karlie Kloss. No look final, o vestido de gala com estampas florais estabelece a conexão íntima entre um neto e sua avó, as flores foram reproduzidas de uma pintura feita pelo avô de Maxwell em homenagem à esposa. Tendo como um toque final, uma echarpe acolchoada e ornamentada por plumas, que resgatam perfeitamente o primeiro contato do estilista com a moda e o olhar amoroso de um neto.
DIA 3
Atualizando as definições de ‘boho chic’, Ulla Johnson resgatou o estilo hippie e setentista, dando a ele uma nova roupagem, através de silhuetas e tecidos que marcaram os anos 90. As esculturas do artista Alma Allen – que fizeram parte da composição do cenário – foram fonte de inspiração para os tons acobreados e para as peças metalizadas.
A produção artesanal é característica de Johnson, a coleção foi 100% feita à mão, em Miami, com processos de lavagem e acabamentos sustentáveis. O crochê e a camurça, vieram em propostas femininas, contudo imponentes; por meio da estamparia, Ulla homenageou o continente americano, unindo tradição e modernidade.
Através de suas coleções temáticas, Piotrek Panszczyk, diretor criativo da AREA, já nos transportou para diversos cenários, mas curiosamente, o mais característico da marca, ainda não tinha sido abordado. Focada em peças com aplicação de pedrarias, bordados e recortes sensuais, a Area é sempre associada à festas, boates e, à vida noturna em geral. Apresentar o óbvio poderia soar cliché, mas Panszczyk sempre nos surpreende.
Inspirada pelo universo das showgirls, a coleção homenageou Zizi Jeanmarie e Josephine Baker, ícones dos anos 20, que marcaram o glamour Deco, trouxe também, o brilho das dançarinas de Las Vegas e, o ar divertido e misterioso do carnaval brasileiro – que inclusive, esteve presente na trilha sonora.
Mais do que apenas rostos bonitos, a coleção Spring 2022 da Area exalta a determinação feminina – Panszczyc reforça que abre espaço para uma discussão política, ao analisar o retrato social das showgirls e suas manifestações artísticas.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Os bordados foram desenvolvidos em conjunto com artesãos indianos, enquanto headpieces e outros acessórios faciais, foram criados em Roma. Mais uma vez, a marca deu um show de criatividade e irreverência, através de peças extravagantes e perfeitamente executadas.
A coleção contou com looks mais conceituais, em relação à anterior, o que marca uma nova fase para a Area, com uma imagem mais estabelecida, possibilitando assim, uma maior afinidade com a alta-costura.
A marca fundada em 2016, por Catherine Holstein, mantém sua essência, repleta de peças em couro, jeans, alfaiataria e cashmere, em produções ousadas, com toque refinado e acabamentos impecáveis.
Na coleção Outono-inverno, abusou desta ousadia característica, numa proposta industrial, jovem e sexy – surpreendentemente, sem saltos altos, um grande diferencial.
Mais uma vez, a estética futurista é apresentada na fashion week, marcada pelos tecidos metalizados, transparências, aparência molhada e, até mesmo, pelas franjas, que acompanham uma padronagem de linhas desconstruídas; já as modelagens oversized, foram substituídas por peças que, propositalmente, parecem ajustadas.
A coleção de Outono/Inverno 2022 de Eckhaus Latta encerrou a noite e comemorou o marco de uma década da grife no mercado. Com um dos desfiles mais marcantes até o momento, Mike Eckhaus e Zoe Latta se mantêm firmes em suas assinaturas que transformou a marca em uma das marcas independentes mais potentes da NYFW.
Do início ao fim do desfile, os recortes e as modelagens “desconstruídas” das roupas foram o alicerce de toda apresentação. A dupla de designers reafirma mais uma vez sua criatividade em torno da escolha de materiais, em conjunto, com o recorte e a forma que estes são trabalhados, resultando em silhuetas singulares da marca.
“Não queríamos ser nostálgicos ou retrospectivos, mas queríamos trazer de volta as coisas que amamos das nossas primeiras coleções, especialmente o trabalho manual”, disse Eckhaus e Latta.
Peças de malhas e couro recortadas e construídas de maneira instintiva, calças jeans desfiadas de cima a baixo, os tules; todos trabalhados de maneira que refletissem integralmente a assinatura dos fundadores da marca. A atenção às texturas das superfícies de cada peça foi provavelmente o ponto alto da coleção. O brilho também teve sua parcela de presença durante o desfile, em peças de lantejoulas, strass, fios brilhantes que entrelaçam as malhas e no brilho natural das peças de couro à luz do ambiente.
Toda a coleção da marca prova que é possível reproduzir constantemente a estética indie alternativa da dupla com qualquer cartela de cor, e dessa vez não foi diferente, o uso do rosa pink, em conjunto com os tons terrosos, cinzas e pretos não deixa de revelar a alma indie da coleção.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
O desfile soube tomar a responsabilidade de deixar os espectadores da NYFW encantados, ao mesmo tempo que reafirma as características da própria marca, que as fizeram se tornar uma potência na moda independente nova-iorquina.
Inspirado por sua recente viagem à Escócia, Joseph Altuzarra trouxe o estilo navy às passarelas, fazendo referência à uma lenda local – na narrativa, um marinheiro é seduzido por sereias e, transformado em uma criatura marinha; os estágios desta mutação podem ser percebidos ao longo da coleção: composições mais pesadas e estruturadas, com ar militar, são apresentadas no início; em seguida, as peças tie dye em malha, simbolizam a sedução; por fim, lantejoulas que lembram escamas, aparecem gradualmente, até que tomam conta dos looks por completo, marcando o fim da transformação.
A coleção de Outono/Inverno resgatou tópicos da temporada passada, com releituras nada óbvias; o tie dye, que marcou a Primavera da marca, apareceu com novos padrões e em diferentes tecidos, como malhas e cashmeres. Já o estilo militar, foi retomado de coleções apresentadas há mais de uma década; Altuzarra conta que o reconhecimento destas modelagens, por antigos clientes, traz uma sensação nostálgica, como se pudesse observar o passado da marca.
Para o futuro, Joseph investe também numa nova linha, denominada “Altu”, onde traz um abrangente olhar genderful – não confundir com genderless, como ele costuma frizar.
DIA 4
A temporada de Outono/Inverno da marca, apresentada por Wes Gordon (diretor-criativo), reflete a sensibilidade, leveza e sutileza, que são registros da Carolina Herrera em seus 40 anos de existência. A coleção simboliza o romantismo 一 carregado por seus vestidos fluidos e clássicos 一 unido ao poder feminino e exuberância, contemplados com um toque de alfaiataria clássica fabricada em ondas ondulantes. A energia da imagem feminina proposta por Gordon reúne a energia, o drama e o jogo de cores, que fazem da coleção um show de sofisticação e linearidade.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Haoran Lin e Siying Qu 一 co-fundadores e responsáveis pela direção criativa da Private Policy 一 embarcaram nas influências do estilo urbano e esportivo para a coleção de Outono/Inverno 2022 da marca. Para esta temporada, a dupla confeccionou peças indispensáveis no guarda-roupa nova-iorquino: trench coats, moletons, alfaiataria e vestidos em seda. Além disso, embalados pela necessidade e seu compromisso com os tópicos social e sustentável, as vestimentas da coleção contaram com um tecido oriundo dos jornais bem como a reutilização de tique-taques (utilizados em diferentes formas) para adicionar personalidade à maioria dos looks expostos pela marca.
Fascinada pelo universo noturno e seu ‘glam’, Alexandra O’Neill fez da mais nova coleção de Outono/Inverno 2022 da Markarian uma exposição típica de uma noite de gala. Inspirada nas capitais cosmopolitas e sua vida noturna 一 fazendo jus inclusive à capital nova-iorquina 一, Alexandra não poupou a adição de brilhos e plumas à suas criações. A exposição ainda conta com peças em seda e renda e acessórios inspirados nas famigeradas e clássicas décadas de 1910 e 1920.
O streetswear é, sem sombra de dúvidas, a assinatura da Coach. Para esta temporada, Stuart Vevers 一 atual diretor-criativo da casa 一 explanou uma proposta ainda mais inspirada no estilo urbano. Ambientada em um cenário de rua, a coleção é inteiramente apresentada em uma atmosfera cotidiana, inserida nos arredores de ‘Coachville’ (cidade imaginária onde se narra a história urbana da marca). A apresentação ainda conta com a participação de peças tradicionais da casa: T-shirts com grafites lúdicos, casaco clássico de shearling, peças em couro reaproveitado 一 com cortes que referenciam os anos 1970 一 e vestidos em renda e crochês, evidenciando a influência do dia-a-dia nas veias da Coach.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Apesar de ser considerado novo na indústria da moda, Connor Mcknight aparentemente tem feito um ótimo trabalho autoral para sua marca homônima. Para a sua coleção de Outono/Inverno 2022, o estilista tem buscado mergulhar em sua própria originalidade para confeccionar suas peças, produzindo suéteres de lã feitos à mão e algumas produções em malha 一 como vestidos, por exemplos 一, que são assinatura e clássicas de Connor. Além disso, a coleção ainda assina uma pegada sutil composta de muita elegância dos anos 1950 sem perder sua atemporalidade e atualidade.
Diferentemente da última coleção de Outono/Inverno, para esta temporada de 2022 de sua marca homônima, Tory Burch reúne uma apresentação altamente nova-iorquina, embalada pelo próprio cenário 一 que faz referência ao título ‘Nova Yorker’ 一, e expressa, especialmente através da diferença na composição dos looks, que variam desde silhuetas mais acentuadas e passam por terninhos mais fluídos, composições com pegadas mais esportivas, vestidos longos e justinhos, suéteres em lã, cardigans e criações portando linhas horizontais, a caracterização da diversidade, originalidade e liberdade nos quais os nova-iorquinos expressam em seu modo de se vestir.
Apesar de parecer convencional, o streetwear proposto por Maryam foge do habitual quando a mesma propõe a junção de cores e recortes nas peças de uma maneira única, assim como aconteceu em sua mais nova coleção de Outono/inverno, apresentada nesta segunda-feira (14). Para esta temporada, Zadeh recorreu ao estilo moderno e atual reunindo-o em uma coleção majoritariamente em tons de creme e contendo peças em estampa xadrez, forro em anágua, jaquetas de couro, ternos em alfaiataria, transparência e saias sobrepondo calças.
Após dois anos longe das passarelas, Dion Lee retorna à Semana de Moda de Nova York com sua marca homônima honrando de maneira exemplar aquilo que ele sabe fazer muito bem: roupas andróginas. Conhecido por vestir personalidades como Lil Nas X e Troye Sivan, o estilista traz para sua nova coleção de Outono/Inverno peças que reúnem o olhar único de Lee para transformar suas criações em vestimentas sexys (sem serem vulgares) 一 expressas pelas peças criadas a partir do ‘sex appeal’ ou exposição da pele. Uma outra assinatura de Dion que marca presença nesta temporada são os corsets (espartilhos) recortados e suas silhuetas esculpidas, além de peças e acessórios em couro que adicionam ainda mais personalidade à sensualidade de sua marca e coleção.
A figura feminina de Laquan Smith é sensual, exuberante, moderna, livre e empoderada. Em outras palavras, a forma como Smith desenha e expõe suas peças traduz o espírito feminino em sua representação mais literal. Para esta temporada, a sua representação é mais vívida como nunca: os 37 looks apresentados por LaQuan nesta segunda-feira (14), abrigam uma coleção repleta de cores, festividades e muita jovialidade. O desfile foi dedicado ao jornalista André Leon Talley e reuniu looks de pele, calças cargo de couro, minissaias, lantejoulas em diferentes cores e jaquetas de motoqueiros.
DIA 5
Inspiradas e criadas a partir das formas e silhuetas masculinas, a nova coleção de Outono/Inverno da uruguaia Gabriela Hearst embarca na proposta de peças andróginas 一 vestimentas que possuem traços de ambos os sexos, se diferindo da proposta ‘genderless’ (sem gênero). Segundo a estilista, em uma entrevista concedida à Vogue um dia anterior à apresentação de sua nova coleção, a androginia surge nos mesmos períodos em que novos pensamentos ocorrem. O tema proposto é claramente refletido nas criações para esta exposição, que se alinham muito bem aos ideais da casa.
Embora seja fortemente influenciada pelo conceito minimalista 一 o que é expresso principalmente através da ausência de detalhes exacerbados por toda a coleção 一, as vestimentas apresentadas por Hearst nesta temporada brincam com o uso de cores ao longo de toda a coleção. É possível observar um jogo de cores entre o amarelo, vermelho, rosa e preto 一 em sintonia com a passarela, inclusive 一 simbolizando o otimismo sugerido por Gabriela aos novos tempos, que marcam a transição entre a pandemia e seu eventual momento ‘pós’.
Este sentimento de otimismo comporta-se praticamente como uma assinatura da estilista. No entanto, nesta temporada fica ainda mais evidente através da forte presença de tons brilhantes em amarelo (que para muitos atribuem ao significado de luz, otimismo e prosperidade, por exemplo) e laranja 一 ligada ao significado de vitalidade, alegria e sucesso.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Um outro ponto que também sempre esteve alinhado às propostas de Gabriela Hearst para sua marca homônima tem sido a preocupação da designer com tópicos sociais e ecológicos. A pauta entrou oficialmente em vigor na casa a partir do ano de 2017.
Desde então, a estilista tem sempre buscado abordar essa temática, seja através de suas coleções ou do cenário de seus desfiles. Este ano não foi diferente: cerca de metade da coleção é oriunda de materiais reciclados 一 valor este que Hearst pretende dobrar até o final do ano, apesar de ser um compromisso árduo a ser cumprido 一 e as cores utilizadas nas peças (como os tons de amarelo, laranja, dentre outros) são originais de corantes orgânicos, que alinham-se perfeitamente à abordagem da casa.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Outro fator que é bastante aparente nas inspirações de Gabriela para esta coleção compreende as suas raízes uruguaias. Nesta coleção é possível observar peças em crochês, ponchos fabricados artesanalmente 一 bastante utilizados no país de origem da estilista 一, botas em cano mais longo, vestidos plissados e em estampas, criações em couro, cintos que lembram o guaiaca (bastante presente na cultura uruguaia), uso do tricô, além do uso da alfaiataria 一 que finca a presença da marca no mundo moderno, sofisticado e clássico 一 e da beleza (maquiagem e acessórios) da coleção, que relembram os nativos da região provinciana na qual Hearst morava.
Outro detalhe que chama a atenção na marca Gabriela Hearst é a recorrente presença de aspectos naturais em suas coleções. Para a temporada de Outono/Inverno de 2022, Gabriela buscou demonstrar sua conexão com o tópico ‘natureza’ através da colaboração com o artista Amo que, segundo as próprias palavras da designer, costuma pintar a alma das árvores e da natureza. Além disso, as filhas da estilista também colaboraram na construção das estampas florais presentes na coleção.
Para o âmbito social, Gabriela voltou a trabalhar com projetos bastante atuantes quando o assunto é o impacto social. A designer colaborou com artesãos independentes de seu país, Uruguai, e também com artistas bolivianos. O cenário de apresentação da coleção foi criado pela Groundswell, uma fundação sem fins lucrativos da cidade de Nova York que apoia o trabalho de jovens. Além disso, colaborou também com o Centro Ali Forney, que oferece ajuda aos jovens LGBTQIA+ que lutam para encontrar um lar para viverem.
Ademais, a coleção apresentada por Gabriela Hearst nesta terça-feira (15) foi extremamente cativante e altamente alinhada aos propósitos e ideais da diretora-criativa enquanto pessoa e marca. Com um show repleto de boas vibrações, otimismo e alegria, a casa de Hearst conseguiu, mais uma vez, confirmar sua responsabilidade e maneira criativa, além de reafirmar seus princípios.
Em uma pegada aparentemente um pouco mais melancólica, Peter Do apresenta uma coleção de alta qualidade nesta terça-feira (15). Após uma pausa de duas coleções voltadas à temporada de Outono/Inverno 一 visto que a última exposição para este período foi lançada em 2019 一, o designer retorna às passarelas e à estação mais potente do que nunca.
Para esta temporada o estilista apresenta ao público aquilo que ele sabe fazer de melhor e em qualidade aparentemente inquestionável: a alfaiataria fina. Um outro detalhe que volta 一 e ainda mais forte 一 nesta nova série apresentada por Do é a sua paleta de cores simplista e sua silhueta atemporal, que contrasta muito bom com o agito da capital nova-iorquina e atribui à cidade das grandes luzes uma calmaria revestida em sofisticação e classe.
Intitulada ‘Fundação’, a nova exposição de Peter Do revisita o passado e as coleções inaugurais da casa, de forma que estabeleça as bases para a ‘casa’ que eles buscam construir, concentrando-se de maneira mais precisa na inovação acima daquilo que é ‘’novo’’.
A paleta de cores presente nesta galeria representa uma coleção linear, cimentada, mas escolhida categoricamente e de um modo altamente criterioso adiciona um toque especial de sobriedade na coleção que comporta-se de maneira tão elegante. As 36 peças expostas nesta coleção, segundo o próprio Peter Do, simbolizam uma conversa inteiramente íntegra e resiliente, além de encenarem um encontro entre passado e presente, o que indica ser sua exposição mais interpessoal até o momento.
A figura feminina de Peter Do é símbolo de poder, elegância, classe, categoria e, acima de tudo, atemporal. E estes adjetivos são todos reproduzidos em forma de vestimentas.
Enquanto algumas marcas preocupam-se com a entrega de trabalhos resumidos ao exagero na adoção de detalhes, Peter Do com seu trabalho simplista, casual e minimalista entregam peças que resultam em um ótimo trabalho 一 seja no que se diz respeito à sua costura no momento de confecção ou pelo desenho em si. A nova coleção de sua marca homônima comporta-se como um presente aos amantes de uma boa alfaiataria e com um apreço pela praticidade do cotidiano. Apesar de parecerem simples, as peças desenhadas por Peter são impactantes e resultam em um trabalho praticamente impecável.
Ainda chama a atenção a presença de peças que, em sua própria composição, contrastam nas cores entre si. Blazers em alfaiataria e oversized também foram componentes marcantes nesta temporada de Peter Do, bem como os cintos triplos, a sobreposição de roupas e peças apresentando pontilhados 一 simbolizando o rascunho 一 deixados ali propositalmente. A sensualidade na coleção aparece de forma não-óbvia (à la Peter Do) e fica por conta de fendas, decotes profundos e recortes laterais, sem abrir mão do requinte de sua assinatura.
A coleção como um todo, ao mesmo tempo em que demonstra revisitar a história e estar intrinsecamente ligada aos aspectos passado-presente, comporta-se de modo eminentemente moderno e atual, contribuindo ainda para reafirmar o grande potencial de Peter Do como designer e o seu poder em se sobressair como um grande estilista.
Backstage de Michael Kors Collection, retirada do Instagram da marca.
Determinado a deixar a pandemia para trás, Michael Kors trouxe uma certa ‘simplicidade’ para sua coleção. Descomplicar as coisas para Kors significa looks monocromáticos dos pés a cabeça — vimos coral, rosa e amarelo em tons neutros, assim como chocantes neons. A aposta de Kors ficou para o outerwear: “em Nova York é seu cartão de visita”.
DIA 6:
Hillary Taymour, criadora e designer criativa da Collina Strada, em todas as coleções faz roupas que lisonjeiam todos os corpos e todos os modos de vida, além de apresentações e looks que fujam do normal. Nesta temporada de outono- inverno 2022, Taymour apresenta sua coleção de forma diferente e divertida (como costuma fazer). Com “The Collinas”, um filme com tema de reality show estrelado por Tommy Dorfman, apresentado no cinema Angelika. Muito da estética e formato se compara ao icônico reality show “The Hills” dos anos 2000, que coincidentemente – ou não – “Hills” significa “Colinas”, e ao Keeping Up With The Kardashians.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Tommy sai de Los Angeles e vai à Nova York para uma oportunidade de estágio na Collina Strada. Nos bastidores é possível ver as roupas da coleção, depois apresentadas em estilo passarela durante os créditos, onde aparecem os nomes de mais de 30 modelos.
A coleção remete muito aos anos 2000, com saias e calças em cintura baixa com detalhes no cinto, estampas e cores vibrantes em vestidos de babados em camadas sobre calças largas, moletons psicodélicos e tie-dye. Algumas ideias da primavera/verão de 2022 estão presentes, como a camiseta com estampa de anjo e peças de camadas de malha. Hillary também inclui na coleção jaquetas de veludo amassado com enchimento de penugem de flores, feitas com listras de zebra ou costura em estrela.
As dobras das calças são combinadas com tops e capas de tons brilhantes, do rosa ao verde e azul, com mangas bufantes. Calças são apresentadas em couro, nylon e outros tecidos, com os cintos brilhantes ou tênis de várias silhuetas e modelos.
Quando se fala em sustentabilidade na moda, a marca tem se tornado referência e um dos nomes mais importantes nesse quesito. No outono/inverno de 2021, Hillary utilizou de sobras de matérias-primas e ressignificou peças antigas de estações passadas, além de se unir à plataforma americana de resale The Real Real, transformando peças impróprias para venda em novos tops, calças e vestidos.
Nessa temporada, a designer usa de seu questionamento sustentável na apresentação em quase todo o filme desta coleção. A nova estagiária é zombada e questionada pelos colegas do estúdio ao comer um sanduíche à base de carne enquanto todas da mesa se alimentam de legumes e frutas. Além de, beber café em um copo descartável quando as outras meninas usam seus próprios squeezes, e também de tirar muitas selfies.
Por mais que muitas das coleções da marca apresentando uma estética Y2K, “mais é mais”, muitas cores presentes, e até um excesso de material, as roupas de Collina Strada são feitas conscientemente. Hillary faz questão de sempre trazer diversidade à frente da marca, como os modelos sempre diversos, com idade, etnia, gênero e capacidade física. A mãe de 70 anos de seu colaborador, Charlie Engman, é apresentada no The Collinas, assim como Aaron Philip, o modelo negro, transgênero e deficiente. Ambos apareceram junto com modelos.
Hillary pretende expandir os negócios para calçados, oque custaria US$250.000 para iniciar a produção do design usando práticas sustentáveis. E, admite que o desafio é este, crescer um negócio se mantendo fiel a sua consciência ambiental.
Quando a pandemia começou, instituições de moda estavam procurando maneiras de apoiar pequenas marcas, o que resultou a levar avanços para a Collina Strada. A marca foi incluída no programa Vaul da Gucci para jovens designers.
Ademais, a coleção apresentada por Hillary Taymour nesta quarta-feira (16) seguiu as ideias da marca. Divertida, alinhada aos propósitos e ideais conscientes de Taymour para sua marca. Apresentada de forma diferente e leve, reforçou ser possível passar uma mensagem transparente sobre consciência ambiental, o que a marca deseja seguir daqui para frente.
Designer nascido em Singapura, mas criado no Nepal, Prabal Gurung sempre fez referência às suas origens e passado em suas coleções. Devido à pandemia, não pode retornar sempre a sua terra natal como fazia de costume. Para esta coleção de outono/inverno 2022, Gurung relata que “é um conto de duas cidades”, se referindo à Nova Iorque e ao Nepal. Ele traz referências e cores que fazem referência aos dois lugares.
Para essa coleção, Prabal mergulha na sensibilidade do espírito nova-iorquino. Apresenta tops de seda, botas cano alto e vestidos compridos. As cores vão do preto, rosa, amarelo, verde e vermelho. Estampas florais que remetem a sua herança do Nepal, um enorme apego emocional aos rododendros. Nessa temporada, o designer admitiu que quis inspirar o desejo de viajar, ainda mais após dois anos de pandemia. “Sempre ando na linha tênue entre esperança e pragmatismo”, relata.
Fotos retiradas para a montagem do Vogue Runway.
Prabal relata que faz a celebração das mulheres “aqui e ali”, com cores e silhuetas, contando a história visual das mulheres que definem a nação. Em sua coleção de primavera/verão 2022, o designer também fala sobre as referências e celebração às mulheres, propondo uma grande reflexão sobre todas as forças por trás da chamada vulnerabilidades femininas.
Dessa vez, optou por não abordar temas sociais ou políticos como havia feito anteriormente. Nesta coleção, ele não faz uso de grandes construções ou formas elaboradas, mas busca looks confortáveis para a silhueta feminina.
Prabal não exagera em seus designs, opta por algo que entregue sua mensagem desenvolvida e que não faça grandes reflexões para compreender o que foi apresentado.
Mesmo assim, seus looks chamam a atenção pela beleza e cor. Vestidos com lantejoulas, recortes, tamanhos diversos. Indo desde algo mais despojado e largo, ao mais justo e festeiro. Pragal continua seguindo sua linha de desenvolvimento com looks de cores chamativas, mas que mantém sua elegância.
Quando se fala em criatividade e experimentação, se pensa em Nova York Fashion Week. Na última semana, as grifes nova-iorquinas apresentaram suas coleções de Outono/Inverno 2022 Ready To Wear nas passarelas da cidade que nunca dorme. Representando as diferentes facetas de Nova York, a beleza de cada desfile foi representada a partir de uma diferente abordagem e visão de futuro. Finalmente adentrando num mundo de fato pós pandêmico, é possível reconhecer diversos ideais de esperança marcados pela beleza.
Para James Pecis e Hannah Murray, dupla responsável pela beleza de Gabriela Hearst, este é o momento de abraçar a simplicidade. Com rostos limpos e imperfeições à mostra, é possível identificar o processo de aceitação do simples, que surgiu junto com o isolamento social. Os fios dos modelos também foram deixados intocados e naturais, reforçando a ideia de que, após um momento tão conturbado, a descomplicação da beleza traz um ar de respiro e leveza.
A beleza assinada pela renomada Pat McGrath para o desfile de Prabal Gurung ainda traz um elemento de simplicidade. Porém, desta vez, acompanha de olhos marcados por tons quentes e sóbrios, que representam as estações para quais o show foi apresentado (Outono/Inverno). A sobriedade dos olhos característicos na Beauty também pode ser reconhecida como um olhar de força interior, necessária após todas as mudanças que ocorreram globalmente nos últimos dois anos.
Apesar dos olhos marcados também estarem presentes, a sobriedade vista acima se torna fantasia na beleza de Altuzarra. A maquiagem de Dick Page conta com peles naturais e glowys, bochechas avermelhadas e sardas evidentes. Para marcar o olhar das modelos, o maquiador optou por tons sóbrios mas executados com leveza. O que realmente reafirma uma sensação fantasiosa, quase fairycore, da beleza é o wet hair (nenhuma surpresa por aqui), assinado por James Pecis. O conjunto final traz a mesma impressão de força vista na beleza de Prabal Gurung, porém com um aspecto que tende ao plano espiritual.
A estética do fairycore, que foi vista na coleção SS22 RTW de Collina Strada, se tornou o completo oposto no desfile apresentado na última semana. Apesar da maquiadora Allie Smith ter mantido o uso de sombras rosas e vivas nos cantos dos olhos e de gloss metálicos nos lábios, a hairstylist Mideyah Parke utilizou penteados divertidos para transformar a beleza em uma estética totalmente diferente. O resultado final se tornou um Pop Punk, que parece ter saído de um álbum da Avril Lavigne, e que representa perfeitamente a rebeldia da Geração Z, nascida da vontade de lutar por um mundo melhor, mas sem deixar de aproveitar os momentos de diversão.
Collina Strada FW22 RTW [Imagem: Vogue Runway]Collina Strada FW22 RTW [Imagem: Vogue Runway]
A beleza de Anna Sui, assinada por Pat McGrath e Garren, também traz elementos de estéticas popularizadas nas mídias digitais. O elemento punk pode ser visto de uma maneira mais Emo, que combina franjas laterais e alisadas, que cobrem boa parte dos olhos, com delineados pretos, gráficos e bem marcantes. E o uso das tendências não para ai, diversas modelos também foram produzidas com o foxy eye – tendência que popularizou em 2021 -, e com faixas largas de cabelo que trazem à beleza um ar de Dark Academia. Essa mistura de tendências e estéticas, mescladas com harmonia, representam a aceitação e experimentação das diversas mudanças que ocorreram nos últimos tempos.
Ana Sui FW22 RTW [Imagem: Vogue Runway]Ana Sui FW22 RTW [Imagem: Vogue Runway]
Apesar da adaptação às transformações ocorridas, ainda há quem gosta de voltar para os clássicos. Lacy Redway e Sheika Daley, responsáveis pela beleza apresentada no desfile de LaQuan Smith, trouxeram o glamour pré-pandêmico de volta à passarela. Todos os elementos da maquiagem representam os clássicos que nunca saíram de moda, e que finalmente poderão voltar a ser vistos em noites de festa: olhos esfumados, delineado preto gatinho, cílios postiços e contornos marcados. O hairstyle, entretanto, foge das ondas naturais tão utilizadas antes do isolamento social e é caracterizado por fios perfeitamente puxados para trás, queridinhos de It Girls como Bella Hadid e Hailey Bieber. A harmonização dos componentes da beleza mostram como é possível aderir às mudanças sem abrir mão dos clássicos.
LaQuan Smith FW22 RTW [Imagem: Vogue Runway]LaQuan Smith FW22 RTW [Imagem: Vogue Runway]
Seguindo a mesma composição vista acima, a produção de Lauren Parsons e Jimmy Paul, para a beleza de Carolina Herrera, também apresenta uma maquiagem clássica harmonizada com fios estilizados de forma mais moderna. Entretanto, segue uma linha menos glamurosa e mais classy, com o famoso visual de delineados gatinhos e lábios marcados – pela nova linha de batons do segmento de beleza da marca. Já os tons escuros e marcados de sombras e contornos são substituídos por peles leves e olhos simples, deixando para trás a beleza exagerada e abraçando a simplicidade de uma beleza clássica porém descomplicada, que se faz necessária após um período tão conturbado.
Recordando da ilustre frase do editor de moda Candy Pratts Price no documentário The September Issue de 2009, “September is the January of fashion” (“setembro é o janeiro da moda”, em português). O documentário acompanha a redação da Vogue estadunidense durante o fechamento da edição do mês de Setembro, também conhecida por ser a edição mais importante do ano.
Durante esse mês, amantes, comentaristas e jornalistas de moda são bombardeados por novidades e coleções. As temporadas de Primavera-Verão acontecem em sequência durante todo o mês, começando pela NYFW – que este ano teve início no dia 7 de Setembro e terminou no dia 12. Neste artigo serão examinadas as coleções que ocorreram durante o evento, seguindo por ordem cronológica dos acontecimentos.
Imagens dos desfiles comentados da NYFW, todas as fotos retiradas do Vogue Runway.
DIA 1 – 07 de Setembro;
Se o começo da temporada estabelece o tom das próximas semanas, apesar das poucas coleções, o primeiro dia da NYFW fez seu impacto inicial esperado. Desde Collina Strada e suas cores vibrantes, volumes contraditórios e o mais importante de toda a coleção – um dos castings mais inclusivos em algum tempo. A mensagem é clara: inclusão e diversidade são a base a moda de Nova Iorque. São relíquias não reconhecidas oficialmente, mas sabemos que sempre estiveram lá – do streetwear que foi para as passarelas, até a vitória na famosa Batalha de Versalhes – mesmo que por algumas (muitas) vezes esquecidas entre coleções.
Nada impede absolutamente ninguém de desfilar para a Strada – impedimentos físicos e estéticos não são o problema, as roupas são mostradas em corpos reais em situações reais. Temos modelos a vista, mas conseguimos perceber a versatilidade do casting bem apurado. Christian Siriano não passa muito longe num casting diversificado, mas em inovação em design e construção de coleção? Talvez.
Infelizmente foram apuradas diversas ‘semelhanças’ entre a coleção de Siriano e trabalhos prévios de outros designers. Mesmo assim não salvam a coleção: parece que se é desejado um grande momento de Siriano, o conceito das coleções é bom mas a junção da vestimenta em si é que normalmente não consegue traduzir o mesmo. São alguns vestidos individualmente bons, juntos numa coleção que não parece uniforme ou nem mesmo conversa entre si… Os próprios tecidos e técnicas do designer lembram um projeto de competição de reality show, não um grande momento de vestidos de baile na NYFW.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Collina Strada e Christian Siriano fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial das marcas.
DIA 2 – 08 de Setembro;
O dia começa com a coleção de Ulla Johnson, um ar fresco, leve e boêmio no meio de Manhattan graças a elementos claros do design de Johnson – como florais, babados volumosos, bordados, tecidos fluídos em tons alegres e neutros. Já é uma característica visual da marca procurar apresentar coleções que refletem sua calma e a busca por um estado de paz.
Completamente diferente da coleção que a antecede, Willy Chavarria leva o conceito de ‘Maxi’ um pouco ao pé da letra com calças de cinturas altíssimas e camisas oversized. O importante de se analisar essa coleção é como o streetstyle de subculturas latinas – principalmente da cidade de Nova Iorque – que normalmente são associadas a falta de estilo ou refinamento foram uma das maiores inspirações para o designer que criou bombers acetinadas, jaquetas estilo motociclista, cintos com maxi fivelas e cores vibrantes.
Proenza Schouler tem um histórico de roupas descomplicadas e versáteis desde sua fundação em 2002 por Jack McCollough e Lazaro Hernandez, mas nesta temporada os maiores traços da coleção são “roupas alegres para voltar a sair para o mundo”, como disseram os designers para a jornalista Nicole Phelps. São roupas utilitárias facilmente vistas em armários do consumidor contemporâneo como blazers, trench coats, ternos e vestidos fluídos em cores vibrantes – afinal, ainda é uma coleção de primavera-verão – porém a habilidade desses elementos tão comuns de se destacarem de uma forma única é o verdadeiro e principal atributo da coleção.
Não muito diferente de um dos favoritos da semana, Peter Do apresenta uma coleção honrando a identidade criativa de sua marca, atribuindo silhuetas de alfaiataria tão fortes e reconhecidas de seu trabalho em conjunto com tecidos e texturas surpreendentes que trazem uma leveza e fluidez necessárias para sua coleção, além de valorizar suas raízes vietnamitas com uma releitura do tradicional ÁO DÀI.
Terminamos o forte dia com Prabal Gurung, que na temporada passada foi um dos poucos designers a embarcar completamente no tema de otimismo e uma saudades de glamour para o próximo ano. Nesta coleção, ele diminui um pouco esses elementos e olha novamente para a “garota americana”, pensando em como trazer um ar cosmopolita e de poder para a roupa em si, explorando silhuetas bem marcadas mas com uma ambiguidade de escolher cores majoritariamente vibrantes para a coleção.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Ulla Johnson,Willy Chavarria, Peter Do, Proenza Schouler, Prabal Gurung fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.desfiles
DIA 3 – 09 de Setembro;
Gabriela Hearst é um novo grande nome de Nova Iorque. A uruguaia foi apontada como diretora criativa da Chloé e teve sua estreia durante a temporada passada. Existe uma linha clara entre o trabalho de sua marca autoral e na grife francesa. O jornalista Anders Christian Madsen fez um ponto claro em sua crítica: é como ver duas crianças diferentes de pais que você conhece crescerem diante de seus olhos – e uma analogia: Hearst nomeou sua coleção de estreia na grife de “Afrodite”, para complementar de uma forma diferente a coleção da marca autoral que chamou de “Atena”. Pode ser uma boa previsão para Paris daqui a algumas semanas…
Agora falando sobre a coleção desta temporada, elementos de alfaiataria clássica e cortes precisos ainda marcaram presença, mas o surpreendente foram os looks em crochet de tons vivos e formas diferenciadas produzidos em colaboração com as comunidades Navajo pelo Uruguai. Destoam das características sóbrias do trabalho de Hearst da melhor forma possível, trazendo um novo elemento e dimensão para a coleção.
Seguindo para o desfile mais oposto de todos: Moschino assinada por Jeremy Scott. Desde sua primeira coleção para a marca em 2014 é possível afirmar uma coisa: Ele ama um tema. Todas as coleções têm uma forte ideia central e são trabalhadas ironicamente ou não – já que ironia é uma das bases fundadoras da Moschino. Nesta temporada o tema são brinquedos e símbolos infantis com uma dicotomia de silhuetas ligadas a alfaiataria clássica, é uma ambiguidade quase engraçada que talvez seja uma dos maiores legados de Scott na marca.
Carolina Herrera celebra 40 anos e seu diretor criativo Wes Gordon não faz passar batido com uma homenagem emocionante a desfiles que fazem parte da história da marca, principalmente os da década de 80 quando a designer venezuelana começava sua carreira na moda. São referências claras mas traduzidas de uma forma despretensiosa sendo atraente para os consumidores jovens.
E terminamos o dia em um marco turístico de Nova Iorque, subindo alto para onde nenhum outro designer foi antes. LaQuan Smith é o primeiro designer a desfilar no Empire State Building, em live com o NYT Fashion o designer explica sua atitude de “Go Big or Go Home” e as roupas refletem este exato pensamento. A mulher de Smith é sensual e de personalidade forte, ela é quem veste as roupas – e não o contrário. De vestidos transparentes a plumas e cristais, nada passa em branco. É uma mistura cosmopolita e sensual de roupas para sair.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Gabriela Hearst, Moschino, Carolina Herrera, LaQuan Smith fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
DIA 4 – 10 de Setembro;
Michael Kors sabe exatamente para quem são suas coleções e entende como ninguém que identidade visual das roupas não é necessariamente sobre logos ou características visuais – são roupas bem feitas, com especialidade em conseguir incluir em apenas uma coleção ótimos momentos para o dia-a-dia da mulher contemporânea do designer e acompanhá-la até o traje de noite.
Stuart Vevers está provando cada vez mais seu valor com sua visão para a Coach. O sucesso de vendas das bolsas e suas campanhas de marketing são os maiores medidores disso e durante essa temporada ele decidiu homenagear uma das principais designers a participar da trajetória da marca – Bonnie Cashin, uma pioneira no sportswear norte-americano que fazia roupas descomplicadas, utilitárias e modernas para as mulheres independentes no pós-guerra. Com o legado de Cashin em mente, Vevers faz uma coleção marcada por influências diretas do sportswear, especialmente sobre a cena skatista dos anos 90, e referências claras da subcultura grunge da época são possíveis de observar.
Helmut Lang é uma marca com uma história tão forte que acaba impactando suas coleções recentes. Mesmo que Lang não tenha envolvimento com a marca desde 2005, o atual diretor criativo Thomas Cawson entende seus clientes – mas ainda não consegue traduzir para um grande momento da marca hoje e se situa muito no legado do designer na década de 90. Por mais que as roupas sejam bem feitas e estruturadas já faz algum tempo, até mesmo como a coleção foi fotografada lembra a marca em seu ápice.
Liberdade é a palavra que define a coleção de Eckhaus Latta, desde cortes estratégicos que deixam do torso aos mamilos a mostra até roupas que pareciam visualmente confortáveis nas modelos. É a liberdade de vestir o que quiser e ser quem quiser sem preocupar-se com reações externas, uma coleção ligada a discussões entre os conceitos de gênero discutidos principalmente entre a geração Z. Mike Eckhaus e Zoe Latta conseguiram entender o ponto central da conversa e ascender transformando isso em uma boa coleção.
Christian Cowan adora transformar seus desfiles em verdadeiras experiências – de Teddy Quinlivan jogando o casaco de forma bruta em cima da plateia em um conjunto roxo até grandes chapéus de plumas com mini vestidos colados, é tudo sobre comemorar, sobre reconectar-se com uma grande festa depois de tanto tempo. Mas se falarmos sobre as roupas em si, talvez fiquem um ou dois pontos faltando: Quinlivan é um designer experimental e com uma queda pelo erótico, e às vezes peca na construção de uma coleção estável. Tem muitos looks bons e muitos ruins na mesma leva, o que faz duvidar-se da intuição sobre gostar ou não da temporada.
Brandon Maxwell é um dos ‘tradicionais’ designers no evento, uma aparição indispensável para a volta presencial da NYFW. Contudo, enquanto as previsões ansiavam por uma coleção com modelos famosas e vestidos longos, lisos e bem ajustados, foi apresentado algo bem diferente. Em seus cinco anos de passarelas, Maxwell ainda não havia produzido um momento de estamparia. Agora, onde o designer se encontrou na posição criativa de stylist e criador, foi possível sentir a diferença entre suas roupas, entre texturas metálicas e vestidos fluídos com estampas psicodélicas. É uma faceta diferente de Brandon que até agora não era possível ver – mas é sempre revigorante um designer se aventurar em experimentações (mesmo que algumas delas não sejam sempre certeiras).
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Michael Kors, Coach, Helmut Lang, Eckhaus Latta, Christian Cowan e Brandon Maxwell fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
DIA 5 – 11 De Setembro:
Começamos o dia com uma experiência física e espiritual em Rodarte – uma mistura de sentimentos, uma declaração das irmãs Kate e Laura Mulleavy sobre se encontrar espiritualmente e se aproximar da natureza, e também declararam a liberdade de seu espaço criativo confortável para impulsos diferentes de criação. Isso explica a coleção que tinha um pouco de tudo um pouco – dos vestidos de noite femininos pelos quais a marca é conhecida com rendas e franjas, um pouco de alfaiataria, estampas de cogumelos e terminando com uma série de vestidos leves de cores claras e modelos descalços. Realmente foi uma mistura de experiências.
O legado de Anna Sui gira em torno de ser uma das poucas designers que entende o balanço necessário entre a moda experimental e a moda de luxo utilitária. Se divertir e se expressar pela vestimenta parece ser um tema recorrente do evento por inteiro mas Anna Sui carrega esse patrimônio há anos, entregando agora uma coleção que consegue facilmente dialogar com gerações mais novas que procuram novas marcas para abraçarem e continuar uma conversa fixa com o seu próprio consumidor de anos, já que esses atributos sempre estiveram ligados a marca.
Falando em experiências, Thom Browne sempre entrega muito mais que um desfile: faz um show completo até mesmo quando estava limitado ao digital seu fashion film na Fall 2021 RTW – um dos mais interessantes e bem produzidos de toda a temporada. De repensar o que significam ternos e alfaiataria hoje, mas ainda mantendo uma precisão impecável em seus cortes e ajustes, pinturas de rosto que combinavam com enormes vestidos florais, vestidos com um relance de abdômen definido pintado, Browne não decepciona em entregar grandes experiências que unem a moda e a arte.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Rodarte, Anna Sui, Thom Browne fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
DIA 6 – 12 De Setembro;
Com a data do Met Gala se aproximando e a exibição do Costume Institute tomando forma, é uma decisão inteligente criar uma coleção com forte conexão e inspiração na história de uma das grandes designers americanas como Claire McCardell – principal inspiração de Tory Burch para sua coleção.
McCardell foi uma das pioneiras do sportswear, pensando na utilidade e versatilidade de suas roupas no cenário pós-guerra. A visão de Burch para a coleção foi justamente encontrar o equilíbrio de sua mulher cosmopolita e moderna (que nunca largou mão do seu charme boêmio) e a trajetória de McCardell. Das silhuetas precisas às estampas surpreendentes, a coleção foi bem executada em todos os sentidos da palavra.
Joseph Altuzarra volta para sua marca autoral depois de um hiatus desde 2017, quando embarcou em uma experiência transicional de designers mais estabelecidos que procuravam novas oportunidades no mercado internacional de Paris. Sua primeira coleção de volta para a marca foi um momento muito esperado.
A coleção foi descrita por ele como eclética com um toque de escapismo, uma ótima colocação – temos características claras do trabalho prévio do designer na silhueta e construção da roupa em si, mas os detalhes de styling, texturas e até estampas de tie-dye são adicionados às produções a fim de criar algo novo. É uma coleção jovem, boêmia e chique, de uma forma ambígua da palavra.
No pôr-do-sol final da NYFW com coleções que deixaram mais do que claro a ansiedade pela vontade de viver e se divertir com as roupas, a Staud fez literalmente uma enorme bola de Disco em seu desfile. Parecia uma grande festa: a designer Sarah Staudinger explicou para a jornalista Sarah Spellings que a Staud não se caracteriza como uma marca que deixa claro, no preto e no branco, suas tendências e referências da coleção. O mais importante para Staudinger seriam os momentos envolvidos no processo criativo, sentimentos que florescem desde na hora do rascunho da coleção até o animado desfile.
Com o tema da exibição do Costume Institute, os esforços do CFDA, uma NYFW cheia de novos talentos e nomes, fica bem claro que tem algum estímulo fiscal ou até mesmo sentimental para o revival da moda Americana – mas estamos prontos para isso? Apesar de alguns ótimos momentos, o evento foi morno, sem quebras de barreiras ou situações inesperados. Como fazer o revival da moda americana se mais da metade dos designers tem que se concentrar em pagar as contas no final do mês depois de um tempo conturbado é uma decisão complicada.
Mas fechamos a NYFW com um dos maiores nomes da cidade, o co-chair do CFDA: Tom Ford, que faz agora sua volta para às passarelas de Nova Iorque. Se a moda americana tem um rosto, é discutível que Tom Ford talvez seja ele. Ford mostra o otimismo máximo da melhora do cenário atual da melhor forma que pode; desenhando roupas prontas para festa.
Lantejoulas, lamê, cores vibrantes e silhuetas confortáveis se compararmos com o repertório antigo do designer, são peças para realmente serem tiradas da passarela e irem direto para algum clube exclusivo na cidade. É uma enorme representação de ansiedade em voltar a sair, se divertir e talvez o mais importante: retomar o fluxo de vendas.
Imagens dos desfiles da esquerda para direita: Tory Burch, Altuzarra, Staud e Tom Ford fotos retiradas do Vogue Runway ou site oficial da marca.
Neste domingo (12) chegou ao fim a temporada SS 2022 RTW de Nova York, que trouxe um olhar pós-pandêmico à indústria da moda. As decisões criativas apresentadas refletem a esperança que os designers possuem sobre um mundo onde o glamour se revigora. Essa esperança também é extremamente visível na beleza que acompanha cada uma das coleções.
Apesar de cada coleção ter a sua própria essência, todas trouxeram a própria idéia de um mundo ideal pós-Covid, cheio de glamour, tons vivos e sensualidade. Além disso, também é possível enxergar as tendências de beleza que se tornaram as favoritas durante a quarenta, como makes mais coloridas e assimétricas, que surgiram para quebrar o padrão de “no makeup-makeup” existente pré-pandemia. Essa nova tendência de maquiagem, que se desprende da regra de traços lineares, pode ser vista como uma releitura da liberdade pela qual todos ansiavam durante o pico da pandemia.
Prabal Gurung SS 22 RTW. Beleza por Sil Bruinsma. [Imagem: Reprodução Vogue Runway]
Sem dúvidas, uma das estéticas que mais se popularizou no TikTok nos últimos meses marcou sua presença nas passarelas de Nova York. A fairycore, que começou somente como uma estética nas redes sociais e se tornou uma tendência nas coleções apresentadas na semana de moda. Enquanto Odile Gilbert e Dick Page, que assinam a beleza da coleção de Primera-Verão da Altuzarra, optaram por um lado mais obscuro do fairycore – com sombras escuras bem esfumadas, pele neutra e messy brows, com tranças nas madeixas frontais do cabelo para finalizar, Evanie Frausto e Allie Smith assinaram a beleza de Collina Strada como um completo oposto.
Em um artigo da edição norte-americana da Vogue, a beleza da coleção foi apresentada como um “jardim fantástico de fadas”. Frausto e Smith trouxeram à passarela todos os principais elementos que constituem a estética, e que também estão em alta nas redes sociais. O conceito foi composto de cores neons, nail arts que fariam até Kylie Jenner chorar e uma pele completamente natural, com ênfase em iluminar os melhores traços das modelos. Na maioria delas, a concentração de cores era na região da orelha, fazendo referência às orelhas pontiagudas de fadas em histórias fictícias.
Altuzarra SS 22 RTW. Beleza por Odile Gilbert e Dick Page. [Imagem: Reprodução Vogue Runway]
Collina Strada SS 22 RTW. Beleza por Evanie Frausto [Imagem: Reprodução Vogue Runway]
Anna Sui foi outra coleção que soube aproveitar as maiores tendências que surgiram no cenário atual e as trouxe para a passarela. Com beleza assinada por Pat McGrath, as modelos desfilaram com sombras metalizadas em cores vivas, misturadas como aquarelas em seus olhos. A artista utilizou sombras com efeito glossy, sem se importar com simetria ou excesso de glitter. Esse estilo de maquiagem se popularizou no TikTok durante a primeira temporada da série Euphoria, e continua em alta até então. O glamour da maquiagem cria um constraste com a escolha de estilizar algum dos looks com miçangas, outra tendência que surgiu nas mídias sociais.
Anna Sui SS 22 RTW. Beleza por Pat McGrath. [Imagem: Reprodução Vogue Runway]
Atendendo todas às expectativas para uma coleção pós-pandêmica, LaQuan Smith trouxe glamour, sensualidade e festa para a passarela. De acordo com o esperado, a beleza assinada por Lacy Redway e Sheika Daley reflete como todos anseiam poder sair quando o mundo se normalizar. Composta por olhos carregados, tons pesados, glitter e delineados estilo foxy eyes e dominantes, a maquiagem apresentada carrega muita força na totalidade dos looks e deixa a modelo pronta para ir direto para o Studio 54. O hairstyle, seja ele puxado para trás de forma bem rente à cabeça ou solto com as madeixas bagunçadas, ambos com baby hair a mostra, tornam a beleza ainda mais sensual.
LaQuan Smith SS 22 RTW. Beleza por Lacy Redway e Sheika Daley [Imagem: Reprodução Vogue Runway]
Já a beleza de Danilo e Kabuki no desfile da Moschino se manteve fiél à essência da marca, sem deixar de acrescentar tendências atuais. Cores em tons pastéis, cabelos enfeitados com miçangas e tranças características dos anos de 1990 são uma grande parcela das trends que voltaram graças às mídias sociais no período de isolamento. Além disso, os coques extremamente volumosos de algumas modelos também remetem à beleza teatral e exagerada que se espera de um momento pós-pandêmico. Todos esses elementos puderam ser vistos simultaneamente na passarela, e mesmo assim Danilo e Kabuki ainda souberam trazer elementos clássicos da casa — como Taylor Hill desfilando com um móbile para bebês enfeitando sua cabeça.
Moschino SS22 RTW. Beleza por Danilo e Kabuki [Imagem: Reprodução Vogue Runway]
Apesar de diferenças apresentadas pela beleza de tais coleções, elas mostram o seu jeito de expressar a esperança do amanhã. Cada um desses artistas a utiliza de uma forma única, que representa o que é esperado em um cenário sem isolamento e com liberdade. Entretanto, em momento nenhum, escolheram ignorar as tendências que nasceram desse próprio cenário, em que as pessoas utilizavam essa arte como válvula de escape do mundo real.