Jack Harlow: a mistura de carisma e talento que o levaram ao topo

Se você está nas redes sociais, provavelmente já ouviu falar de Jack Harlow, seja pelas suas músicas virais ou pelo carisma do artista. O rapper que teve seu momento de ascensão em 2020, hoje vive seu melhor momento na carreira e com sua personalidade conquistadora não para de aparecer na mídia. Afinal, quem é Jack Harlow? E como ele se tornou uma das maiores promessas do cenário do rap americano?

Harlow nasceu em 1998 na cidade de Louisville, Kentucky. Desde seus 12 anos sempre foi apaixonado pelo hip-hop e com essa idade começou a gravar músicas no seu quarto, postando na plataforma SoundCloud para compartilhar com seus colegas. Na época, gravou algumas mixtapes com amigos sobre o nome de Mr. Harlow. Extra Credit foi um desses projetos que chegou a ser lançado independentemente, mas não pode ser mais encontrado em nenhum serviço de streaming.

Em 2015, o rapper lançou seu primeiro EP comercial, The Handsome Harlow, com a gravadora independente de Louisville, sonaBLAST! Records. Pelo sucesso de seus projetos durante o ensino médio, Jack ainda conseguiu esgotar alguns shows em espaços populares da sua cidade.

Já em 2016, um mês após se formar no ensino médio, o artista lançou outra mixtape, intitulada 18, pela gravadora e coletivo musical Private Garden Records, fundada por Jack Harlow e The Homies. O projeto com 8 faixas teve participações de Otis Junior e Nemo Achida e como singles, Never Woulda Known, featuring Johnny Spanish, e Ice Cream.

Capa da mixtape 18 de Jack Harlow. [Imagem: Reprodução/Amazon]

No ano seguinte, Harlow lançou dois singles, Routine e Dark Nigth, sendo o último acompanhado de um videoclipe por ser o lead single do álbum. Os lançamentos foram para mais uma de suas mixtapes, essa chamada de Gazebo. Para promover o projeto, o rapper chegou a fazer uma turnê que incluía 14 cidades dos Estados Unidos, chamada de Gazebo Tour.

Pensando no futuro da sua carreira, Jack Harlow então se mudou para Atlanta, onde conheceu seu conterrâneo KY Engineering e construiu uma relação de trabalho com ele. Foi a partir desse encontro que o artista pôde conhecer o DJ Drama, que ficou impressionado com o estilo único do rapper. Em agosto de 2018, Harlow anunciou a assinatura com a Atlantic Records através da gravadora de DJ Drama e Don Cannon, Generation Now.

Para celebrar a parceria, foi lançado o videoclipe de SUNDOWN, lead single do seu próximo projeto, a mixtape Loose. O disco com 13 faixas contou com a participação dos rappers CyHi the Prynce, K Camp, 2forwOyNE e Taylor. No final de 2018, o artista embarcou em uma turnê pela América do Norte chamada The Loose Tour. Com o sucesso do single, o álbum colocou Jack em um cenário de conhecimento nacional e conquistou a crítica. Loose chegou a ser indicada no BET Hip Hop Awards de 2019 na categoria de Melhor Mixtape.

Apesar de não serem singles, as faixas PICKYOURPHONEUP com participação do  K. Camp, CODY BANKS, SYLVIA featuring 2forwOyNE e DRIP DROP em parceria com Cyhi The Prynce, ganharam videoclipes no início de 2019.

Desde 2016, Harlow vinha lançando um projeto por ano, apostando em uma constância para atingir cada vez mais público. Em 2019 não foi diferente, lançou o lead single THRU THE NIGHT em parceria com o cantor Bryson Tiller. A faixa antecipou a nova mixtape do artista, intitulada Confetti.

Com 12 faixas e participações de 2forwOyNE and EST Gee, o projeto ainda contou com os singles não oficiais, HEAVY HITTER, GHOST, WARSAW com participação de 2forwOyNE, RIVER ROAD e WALK IN THE PARK

Com a chegada de 2020 mais lançamentos foram programados para o artista, mas dessa vez algo mudaria sua carreira. Em janeiro, era lançado o single WHATS POPPIN antecedendo o seu segundo EP, Sweet Action. O videoclipe, lançado junto a faixa, foi produzido por Cole Bennett do canal Lyrical Lemonade, que já trabalhou com gigantes da indústria, como Eminem e Juice WRLD.

WHATS POPPIN tornou-se o maior viral da rede social TikTok, sendo usada em diversas trends do aplicativo. Vale lembrar que no início de 2020 a rede social viveu um de seus maiores momentos de ascensão, impulsionando o nome de vários artistas, como Doja Cat e Megan Thee Stallion.

A versão original do single alcançou a 8° posição na Billboard Hot 100 e cinco meses depois, a canção ganhou um remix com a participação de DaBaby, Tory Lanez e Lil Wayne. Associada a grandes nomes, a música fez ainda mais sucesso atingindo o segundo lugar na parada musical da Billboard. Além disso, WHATS POPPIN foi indicada no Grammy Awards de 2021 na categoria, Melhor Performance Rap

Foi nesse momento que Harlow passou de um artista local em ascensão para um dos artistas revelação de 2020. No final do mesmo ano, o rapper anunciou o lead single, Tyler Herro, para o seu álbum de estreia intitulado Thats What All They Say. O primeiro single do projeto não se igualou ao sucesso anterior e apenas conseguiu a 34º posição na Billboard Hot 100.

Já o disco com 15 faixas contou com grandes figuras da indústria musical, como Lil Baby, Big Sean, Chris Brown, Adam Levine, Bryson Tiller, EST Gee e Static Major. As duas versões de WHATS POPPIN foram incluídas no projeto e o álbum no seu lançamento alcançou a 5° posição a Billboard 200, vendendo 51 mil cópias. Outros dois singles foram promovidos, Way Out com participação de Big Sean e Already Best Friends com Chris Brown.

Tentando se manter como figura presente no mainstream, Jack colaborou com artistas como G-Eazy, Eminem, Ty Dolla $ign, Saweetie e French Montana. Até que uma das suas participações se tornou seu próximo sucesso, a aclamada INDUSTRY BABY de Lil Nas X.

A canção atingiu o número 1 na Billboard Hot 100 em 2021, sendo essa a primeira vez de Jack Harlow no topo do chart. INDUSTRY BABY ganhou indicação no Grammy 2022 na categoria Melhor Performance de Rap Melódico e o verso de Jack foi considerado por muitos da crítica como um dos pontos altos da música.

No início de 2022, Harlow começou a preparar o caminho do lançamento de seu segundo álbum, Come Home The Kids Miss You. O lead single do disco, Nail Tech, alcançou a 18°posição na Billboard Hot 100 e ganhou reconhecimento de um dos maiores nomes do rap, Kanye West.

Em postagem já excluída do Instagram, Kanye elogiou o talento nas letras de Jack, dizendo que ele realmente consegue rimar e é um dos top 5 rappers atualmente. Harlow não escondeu sua felicidade no Twitter, já que West é um dos seus grandes ídolos e inspirações na música.

Tradução: “Isso aqui…é um dos melhores momentos de toda a minha vida…feliz que todos vocês puderam assistir da primeira fila … de repente todo o ódio não significa nada… imagine seu herói dizendo isso sobre você… Eu poderia chorar”

Os dois acabaram colaborando para o álbum de Kanye, Donda 2, em uma faixa chamada Louie Bag. Ela não pode ser encontrada em nenhum streaming convencional, já que só foi disponibilizada nos serviços da Stemplayer, dispositivo criado por West. Apesar disso, Harlow participou de uma das grandes performances ao vivo para promoção do disco, realizadas em um estádio em Miami.

Apresentação da música Louie Bag no estádio LoanDepot Park em Miami. [Imagem: Reprodução/Good Music]

Meses após o primeiro single de Come Home The Kids Miss You, Jack postou uma prévia em estúdio do que seria seu próximo hit viral. O vídeo que mostrava o refrão da canção First Class viralizou imediatamente nas redes sociais, principalmente, pelo uso do sample de Glamorous da cantora Fergie.

Uma semana depois a música foi lançada e estreou no primeiro lugar da Billboard Hot 100, sendo essa a segunda vez do artista no topo e sua primeira com uma canção solo. Aproveitando o momento de sucesso, Harlow finalmente lançou seu segundo álbum de estúdio com participações de Pharrell Williams, Drake, Justin Timberlake e Lil Wayne.

O projeto recebeu críticas mistas e no site do Metacritic ganhou nota 52, não impressionando a Pitchfork que deu a baixíssima nota de 2.9 e atribuiu o álbum como uma das declarações mais insípidas e vazias da história pop recente.

Dá para notar que Jack Harlow tem hits, conquistou as paradas musicais e seu talento no rap é inegável. Mas nem todos esses elementos justificam sua ascensão à fama nos últimos dois anos. Jack ganhou muitos admiradores por seu carisma e confiança, que o fizeram ser considerado um dos rappers mais bonitos do momento.

Talvez a primeira vez que você tenha visto Harlow foi quando partes da entrevista do artista com a comediante Amelia Dimoldenberg ganharam as redes sociais. No vídeo que simula um encontro entre os dois, ele exibiu sua personalidade paqueradora, cheio de brincadeiras e gestos românticos.

O público foi à loucura com esse lado do artista e, frequentemente, Jack aparece em vídeos flertando e desconcertando mulheres famosas. No tapete vermelho do BET Awards em 2021, ele viralizou em um vídeo cumprimentado a  rapper Saweetie e no Met Gala deste ano em entrevista com a youtuber Emma Chamberlain aconteceu o mesmo.

E parece que o carisma do rapper vai o levar até as telas do cinema, já que Harlow foi confirmado no elenco do reboot do clássico de 1992, Homens Brancos Não Sabem “Enterrar”. Na sua primeira audição para o filme, o artista conseguiu impressionar os diretores e executivos o suficiente para interpretar um dos protagonistas, o personagem Billy Hoyle.

Fica evidente que Jack Harlow construiu seu caminho na indústria musical com muita constância e lançamentos frequentes. Quando finalmente algo chegou ao mainstream, o artista soube que era seu momento. Ele parece ter um plano claro de como vai levar a vida da fama, sempre unindo seu carisma com seu trabalho. Essa mistura o tornou uma figura sólida em dois anos e o cenário parece bem promissor para o futuro.

O legado de Elza Soares

Considerada uma das maiores cantoras brasileiras e uma das maiores vozes do samba, Elza Soares faleceu nesta última quinta-feira (20), aos 91 anos.

Nascida no Rio de Janeiro em 1930, Elza Gomes da Conceição teve uma infância complicada, interrompida aos seus 12 anos, quando foi obrigada pelo pai a se casar com Antônio Soares, cujo sobrenome herdou para o resto da vida. Aos 13, Elza engravidou do primeiro filho. Sete anos depois, tornou-se viúva. 

Seu primeiro envolvimento na música, de fato, foi ainda aos 13, em um programa da rádio Ary Barroso, em busca de remédios para seu filho recém-nascido. A artista perdeu dois bebês para a fome. De lavadeira a operária de uma fábrica de sabão, somente aos 20 anos realizou seu primeiro teste oficial como cantora, na academia do professor Joaquim Negli.

Seu primeiro destaque foi com uma participação na composição Se Acaso Você Chegasse, em 1959. Embora grande parte do seu sucesso mundial seja por conta da sua marcante voz no samba, Elza transitou no jazz, no hip hop, no funk, e até mesmo na eletrônica. Sua voz chamava atenção por oscilar graves e agudos, de forma extremamente afinada. O timbre característico da cantora se destacava para todos que a ouviam.

Porém, sua carreira artística vingou de forma oficial no início dos anos 60, por volta dos seus 30 anos. Tudo isso em meio a um dos momentos mais marcantes da sua vida: quando Elza Soares se envolveu amorosamente com o craque de futebol Garrincha.

Entre 1962 e 1982, a artista viveu um relacionamento com o jogador. Os dois se conheceram em um treino do Botafogo, clube carioca em que Garrincha é considerado ídolo até os dias atuais. Casado na época, o jogador viveu um relacionamento escondido com a sambista, até o divórcio com sua ex-esposa. Após o término, Elza e Mané Garrincha ficaram juntos por 15 anos.

[Imagem: Reprodução/Folhapress]

O casamento com o atleta começou a ficar extremamente conturbado. O carioca enfrentou um grave problema com alcoolismo, adquirindo assim, algumas atitudes violentas em casa. Em uma das agressões sofridas por Elza, ela teve os dentes quebrados. O assunto nunca havia sido levado à tona até então.

Garrincha faleceu dia 20 de janeiro de 1983, que por coincidência, foi no mesmo dia da morte da cantora, devido a uma cirrose hepática. O casal teve somente um filho, que também faleceu. O “Garrinchinha”, como era conhecido, foi vítima de um grave acidente de carro, aos nove anos.

Mesmo que tenha se calado por anos, Elza Soares cantou sobre a dor e o trauma de ter convivido com um companheiro alcoólatra e agressivo anos depois, no disco A Mulher do Fim do Mundo, lançado em 2015. Por meio de versos e de batidas bem carregadas, a artista registrou suas dores em forma de música, mas sempre deixando claro que preferia “lembrar dos momentos bons”.

[Imagem: Reprodução/Flickr]

A cantora sempre tentava trazer sobre suas origens e histórias em todos os sambas que compunha. Um dos grandes exemplos foi o álbum Lição de Vida, lançado em 1976, e que contou com um dos maiores sucessos vistos na música nacional: Malandro, uma obra-prima feita em conjunto com Jorge Aragão e Jotabê.

E como todo bom sambista, Elza Soares foi extremamente ligada ao Carnaval.  As presenças da musicista são lembradas, principalmente, pelos desfiles da Salgueiro e Mocidade. O último desfile do qual marcou presença foi em 2020, antes da pandemia, quando foi enredo da Mocidade Independente Padre Miguel. Aos 89 anos, foi o grande destaque do carro alegórico.

[Imagem: Reprodução/Globo]

O significado da cantora ia além da voz. Era uma personalidade de impacto social muito grande. Cantava sobre o direito das mulheres, falava de relacionamentos abusivos, força e questões raciais. Fez história.  Até os últimos dias, trabalhou. Foram 36 discos, um prêmio de “Voz do Milênio”, vencedora do Grammy Latino, entre muitas outras marcas.

A música de Elza costumava falar sobre racismo, gênero e sobre o movimento feminista. Mesmo em uma época que tais assuntos não eram debatidos, a artista sempre deixava claro as causas que apoiava e sempre transparecia tudo em sua arte, algo que muitos não faziam, seja por medo de censuras ou por qualquer outro motivo.

Tal lírica foi de extrema importância. Elza era admirada por artistas no Brasil e no mundo. Cantava sobre a força da mulher negra, sem abrir mão do repertório. Era vista como uma cantora, que por meio da música, levantava uma força que serviu de inspiração para muitas vozes que vieram depois.

A importância de Elza Soares para a música é indiscutível. Além de transitar sobre assuntos importantíssimos de serem debatidos desde o começo da sua carreira, a cantora transitava por todas as plataformas possíveis ao longo do tempo.

A sambista gravou no formato chamado de “78 rotações”, acompanhando a evolução de todas as plataformas, indo do rádio e discos de vinil aos meios digitais e streamings. Algo que somente artistas que mantém um conteúdo bom por toda a carreira tem a capacidade de fazer.

“Rainha do samba”, foi considerada a “Voz do Milênio”, pela BBC, em 1999. Vista como um símbolo de liberdade e força.

A mulher do fim do mundo deixou um legado enorme na música nacional. Elza Soares faleceu dia 20 de janeiro de 2021, em paz, dias depois de finalizar a gravação de um show no Teatro Municipal de São Paulo.

Miley Cyrus: Uma artista atemporal

Do pop ao country, Miley Cyrus pode ser considerada uma das maiores e melhores vozes da atualidade na indústria. Consolidou sua carreira quando ainda era apenas uma adolescente, perdura no auge de seus 29 anos e faz sucesso entre millennials – geração y – e os novos jovens.

Recentemente, a Revista Forbes concedeu a cantora o destaque de pessoas com menos de trinta anos que revolucionam os negócios e transformam o mundo. De acordo com a Billboard, Cyrus foi anteriormente selecionada para fazer parte dessa listagem em 2014, mas foi convidada a retornar devido a uma série de realizações, que incluem: ter seis álbuns na parada dos cinco primeiros na Billboard 200 ao longo dos anos . A Happy Hippie Foundation da cantora, que apoia pessoas LGBTQIA+ e jovens em situação de risco, também foi levada em consideração em sua inclusão, assim como seus investimentos na FanMade e na empresa de produtos femininos Hers.

Ela é uma superestrela global graças à sua passagem como agente dupla na Disney, Hannah Montana, ao passar espetacularmente por algumas das fases mais emocionantes do pop sem seguir uma ‘receita de bolo’. A eliminação do passado, o momento da maioridade (Can’t Be Tamed de 2010); a era controversa do sexo-positivo e do apelo aos tablóides (Bangerz de 2013); a fase de trip-out psicodélica (experimento Her Dead Petz de 2015); o flerte enraizado e autêntico entre cantores e compositores (Younger Now de 2017) – no tempo que alguns artistas levam para lançar alguns singles e por fim a era mais rock n‘ roll da artista (Plastic Hearts de 2020).

Princesa da Disney

Miley representou uma das personagens mais icônicas na história da emissora Disney, Hannah Montana. Em 2006, quando tinha apenas 14 anos, a sitcom foi ao ar, durou quatro temporadas e mostrou a fama e estrelato de uma artista pop que vivia em meio de um grande dilema entre ser Miley Stewart, ao viver sua tranquila vida ao lado da família e amigos; e de ser Hannah Montana, o fenômeno mundial da música.

Nesse mesmo ano, Cyrus lançou seu primeiro CD, Hannah Montana com todas as músicas do seriado, que na época fez um grande sucesso e atingiu o primeiro lugar nas paradas da Billboard 200. Em 2007, estreou um álbum duplo, Hannah Montana 2 e Meet Miley Cyrus, que também alcançaram o #1 na revista semanal.

As músicas sempre mostraram uma evolução muito evidente. Life’s What You Make It é uma canção animada sobre não abaixar a cabeça, não se frustrar e seguir em diante com um sorriso no rosto. A autoajuda era um tema frequente, encontrado em canções como Make Some Noise ou até mesmo o primeiro single, Nobody’s Perfect. Já no segundo disco, que nos apresentaria Miley, o grande destaque fica para I Miss You, dedicada a seu falecido avô.

Em seguida, lançou o segundo álbum, Breakout (2008), que também ficou no topo das paradas, mas acabou que se tornou um período silencioso e sem lançamentos inéditos para a cantora. No ano seguinte, 2009, a Disney exibiu o filme da Hannah Montana, que serviu como uma espécie de ponte entre a segunda e a terceira temporada do seriado, e o lançamento da trilha sonora coincidiu com o lançamento do EP The Time Of Our Lives, que possui grandes sucessos como Party In The U.S.A. e When I Look At You.

A terceira temporada de Hannah Montana ganhou uma trilha sonora, e fez com que, apenas em 2009, Miley tivesse 3 álbuns lançados. Por mais que ela cantasse sobre a “vida dupla” vivida na ficção, era nítido que essa vida existia na realidade. Provavelmente a temporada mais triste da sitcom, onde os assuntos mais sérios eram retratados nas músicas, como em Mixed Up e Don’t Wanna Be Torn. Mesmo que o seriado continuasse um sucesso extremo, as vendas caíram para 1,2 milhões ao redor do mundo.

A partir disso, a fórmula da série começou a se perder e a artista também não parecia mais tão satisfeita com o posto de atriz, em decorrência disso, Hannah Montana foi renovada para uma última temporada, com uma nova casa, uma nova peruca e, principalmente, uma nova sonoridade. Nos álbuns anteriores, o pop e o rock eram os gêneros dominantes, mas nesse final da fase com um clima de despedida, entregou canções com influências eletrônicas e R&B, como I’ll Always Remember You e Ordinary Girl.

Hannah Montana completou 15 anos de estreia em março de 2021 e através das redes sociais, Miley Cyrus prestou uma homenagem sobre a importância da personagem em sua vida. No texto, a artista também relembra a perda de seu avô, que faleceu um mês antes da estreia, agradece seus companheiros de elenco, Emily Osment, Mitchel Musso e Jason Earles, ao dizer que os colegas de elenco viraram uma verdadeira família, que ela via com mais frequência do que sua própria família, e no final fala que a Hannah estará sempre em seu coração.

O perfil da Hannah Montana respondeu a carta da Miley Cyrus, que até então não havia conta da personagem no Twitter, mas ganhou um perfil oficial e verificado, que já foi desativado nos últimos dias. Sua primeira postagem foi um retweet na carta da cantora, que diz: “Muito bom ouvir de você, Miley. Só se passou uma década”, em alusão ao fim do seriado há 10 anos.

Miley mostra toda a importância do alter ego em sua vida: “Teve momentos em minha vida em que você carregou minha identidade em suas luvas do que eu conseguia segurar com minhas mãos quebradas” – escreveu a artista na carta para Hannah, que de acordo com ela se manteve firme ao seu lado durante todos esses anos e que nunca sairá dela, e finalizou com a frase de uma das músicas da série: “Você estará comigo a onde eu estiver!”.

Além disso, a cantora também fez uma festa de comemoração toda temática da Hannah. “Festa de Hannahversário”, escreveu Miley nas redes sociais, que usou um look personalizado inspirado na personagem e com decoração caprichada, com direito a máscaras e até um enorme bolo em formato de guitarra rosa.

A emancipação da cantora

Com a finalização de Hannah Montana, Cyrus lançou em 2010 o álbum de estúdio Can’t Be Tamed, e oficializou a separação da Disney. O trabalho foi diferente dos discos anteriores, que sempre se moldaram ao conservadorismo da companhia, mas na época, Miley estava mais madura e adulta. Além disso, o primeiro single – que leva o nome do álbum – explicita como a artista quer ser livre e fazer o que realmente gosta.

O vídeo apresenta uma Miley enjaulada em exibição de um museu de arte, soa como uma mistura entre I’m a Slave 4 U da Britney Spears e Paparazzi da Lady Gaga, o que exala um resultado surpreendente e talvez um pouco chocante. A cantora parece quebrar um tabu, mas sem a coragem de suas próprias convicções. 

O álbum se encontra em um tipo de limbo, aonde ela quer se dissociar da Hannah Montana, mas não parece ter uma direção. Com isso, a artista experimenta diferentes identidades, como na faixa de abertura Liberty Walk, aposta em um estilo antigo da Gaga, ou nos hinos de amor como Forgiveness and Love e My Heart Beats for Love. A Billboard declarou que ela fracassou como qualquer outra canção de adolescente cujo alcance artístico excede o seu domínio.

Apesar das críticas negativas e do desempenho mais baixo nos charts, o disco foi uma das estratégias mais inteligentes da carreira da cantora. Se ela conquistou espaço entre as grandes pop stars adultas, é porque um dia fez a transição necessária para que isso pudesse acontecer.

Bangerz e a verdadeira Miley

Diferente de Can’t Be Tamed, a era Bangerz mostra uma Miley mais decidida! Três anos atrás no álbum anterior, ela queria que soubessem que se libertava de sua imagem anterior, mas ainda não tinha um plano de backup verdadeiro. Agora, a artista estava igualmente rebelde mas no controle de sua música e imagem ao representar-se de modo único.

O primeiro single do álbum foi We Can’t Stop e era de se esperar que fosse uma música mais dançante e festiva, mas foi inesperado, com uma grande influência dos nomes com quem dividiu o estúdio, apostou em um mid-tempo bem diferente de tudo que já havia lançado e foi fortemente para o lado mais urbano. Não poderia ter sido mais inteligente, a música funcionou como um perfeito chiclete e foi o primeiro smash hit da cantora.

Miley soube manter o buzz ao seu favor. Wrecking Ball foi definida como o segundo single do disco e se não bastasse ser uma das melhores baladas lançadas na época, além de contar com um refrão mais que potente, ganhou um clipe dirigido pelo polêmico Terry Richardson. Afinal, é difícil esquecer a imagem da artista nua em uma bola de destruição.

Assim que o videoclipe foi lançado, choveram artigos com títulos do tipo “Miley Cyrus aparece nua e lambendo marreta em seu novo clipe e isso, por sua vez, despertou o falso conservadorismo de muita gente que achou a situação a coisa mais vulgar do mundo. Talvez, só não mais vulgar que a performance feita por ela semanas antes, no palco do VMA, aonde cantou com o Robin Thicke e dominou o palco com todas as suas ‘maluquices’ e muita sensualidade, de um jeito bem Miley, ao dançar, rebolar, que fez da MTV a sua zona pessoal. 

Desde a primeira faixa, Adore You, Cyrus detalha como andava sua vida no relacionamento com Liam Hemsworth, demonstra amor puro, que começa a passar por festas, curtições e diversões. As primeiras dúvidas e dores chegam no segundo single, traições e mágoas fazem o sofrimento se tornar insuportável, e em FU e Drive, trazem o final do namoro. Maybe You’re Right chega a aceitação e em Someone Else, a artista mostra o que todas as vertentes do relacionamento fizeram com ela.

Bangerz é uma verdadeira bagunça, e mesmo que em uma primeira olhada Miley possa não parecer, ela possui um dos timbres mais belos da música pop, com uma técnica vocal que a deixa superior a muitos artistas com mais extensão e uma criatividade musical, artística e midiática que a deixam sempre um passo a frente dos concorrentes.

Era Malibu

Foram 4 anos de diferença entre o Bangerz e o Younger Now – sem contar com um álbum nesse meio tempo, Miley Cyrus & Her Dead Petz – e não podíamos esperar que a Miley continuasse a mesma. O álbum de 2017 surpreendeu todos, não pelos mesmos motivos de Can’t Be Tamed e Bangerz, mas pela volta da cantora para uma era mais clean.

Younger Now ficou marcada por alguns acontecimentos em sua vida pessoal: a volta do relacionamento com Liam, sua decisão de parar de fumar maconha e o retorno para a música country. No primeiro single, Malibu, ela corre pelo campo e pela praia, segura balões coloridos e rola no chão abraçada com cachorrinhos.

Essa fase traz um ritmo folk e vibrante, muito mais próximo do country de suas raízes em Nashville do que do pop frenético das obras anteriores. Além disso, o visual da cantora é etéreo e ao mesmo tempo despojado, com pouca ou nenhuma maquiagem e raízes do cabelo bastante aparentes.

Diante toda confusão causada na época, Miley disse à revista Harper’s Bazaar: “Eu só quero que as pessoas vejam que essa sou eu agora. Não estou dizendo que não vinha sendo eu mesma. É só que eu tenho sido muitas pessoas, porque eu mudo muito. Ouço muitos comentários do tipo ‘queremos a Miley de volta’, mas você não pode me dizer quem é essa. Eu estou bem aqui”.

Entretanto, talvez a Cyrus de 2020 não concordaria tanto com a de 2017, já que a cantora afirmou que esse período de Younger Now é o único momento na carreira dela que não faz sentido: “Quando eu olho pela minha carreira, há um período de dois anos que realmente não faz sentido. Você provavelmente deve saber que isso aconteceu na era ‘Younger Now’, de ‘Malibu’. Eu acho que isso aconteceu, e acontece com muita gente, porque às vezes a gente se perde em outra pessoa”.

Um legado para a vida toda

Com o lançamento de Midnight Sky, o primeiro single do álbum Plastic Hearts, em agosto de 2020, o público foi capaz de enxergar a Miley com outros olhos. Obviamente mais adulta, com seus 27 anos, mas de uma forma mais madura e bem diferente do que ela apresentou no Bangerz em 2013, que fez o mundo parar de vê-la como uma estrela teen pela primeira vez.

Muitas piadas foram feitas nos últimos anos sobre ela ter ‘diversas personalidades’ em seus álbuns, ao explorar, por exemplo, o country no Younger Now, e um experimental que nem todo mundo entendeu direito no Miley Cyrus & Her Dead Petz. Mas a mistura do disco retrô com o vocal mais rock de Midnight Sky criou a expectativa de que teríamos uma verdadeira estrela do rock.

Ao longo dos últimos quase 15 anos, a cantora sempre fez questão de expressar seu amor pelo gênero: em todas as suas turnês colocava pelo menos um cover de grandes clássicos como I Love Rock ‘n’ Roll, de Joan JettCherry Bomb do The Runaways e até Landslide, do Fleetwood Mac, além de ter em seu álbum Can’t Be Tamed uma versão de Every Rose Has Its Thorn, do Poison. O novo álbum também possui dois covers que seguem o mesmo estilo, Heart of Glass, do Blondie, e Zombie, do The Cranberries.

Na abertura com WTF Do I Know, a guitarra proeminente no refrão e na ponte dão o tom – apesar de não definir o som – do que podemos esperar das próximas faixas. Enquanto as já conhecidas Midnight Sky e Prisoner, com Dua Lipa, trazem uma sonoridade um pouco mais disco e de sintetizadores oitentistas, faixas como Angels Like You e Never Be Me mostram não só um lado diferente musicalmente, mais lentas e focadas nos vocais, mas letras vulneráveis sobre sua dificuldade em ser uma pessoa confiável e leal em seus relacionamentos.

Além de Dua, Miley traz outras três participações mais do que especiais no álbum: Joan Jett em Bad Karma e Billy Idol em Night Crawling, dessa vez explorou os elementos de um bom rock clássico, nostálgico, mas inédito na medida certa, e Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, em um remix de Midnight Sky com Edge of Seventeen.

Mas se engana quem acha que nessa obra recente, ela deixou suas outras facetas de lado. High, por exemplo, explora suas raízes country e lembra um pouco de seu trabalho no Younger Now, enquanto a produção mais diferente de Golden G String poderia ter saído direto do controverso Dead Petz.

Nas letras, Cyrus explora principalmente sua liberdade e fala sobre querer estar com uma pessoa por vontade e não por necessidade. Um tema interessante quando lembramos que em 2019 ela terminou seu relacionamento vai e volta de quase 10 anos com Liam Hemsworth apenas alguns meses depois de se casarem.

E se a Miley adolescente de G.N.O. cantava “vou dançar com outras pessoas e não quero pensar em você”, a artista 13 anos mais velha mostra que sua essência não mudou tanto quanto as pessoas imaginam, já que em Gimme What I Want canta: “Me dê o que eu quero ou eu darei para mim mesma”.

Por mais que Plastic Hearts surpreenda com a versatilidade das 12 faixas, é um álbum que não deveria existir. Em novembro de 2018, a casa de LA que Cyrus compartilhava com Liam foi destruída por um incêndio. Seis meses depois, em maio de 2019, a artista lançou um EP, She Is Coming, considerado o primeiro de uma série de EP de três partes. No final do ano, no entanto, ela e Hemsworth se divorciaram e as canções restantes foram consideradas perdidas no incêndio ou sucateadas, o assunto não era mais relevante.

“Bem quando eu pensei que o corpo do trabalho estava concluído, estava TODO apagado”, Miley publicou no Instagram quando anunciou Plastic Hearts: “A natureza fez o que agora vejo como um favor e destruiu o que eu não pude deixar para mim. Perdi minha casa em um incêndio, mas me vi nas cinzas”.

Miley Cyrus tem gerido a carreira de modo a sempre se recriar e faz com que sua marca pessoal e plataforma cresçam continuamente. De princesa da Disney e estrela adolescente à desconstrução e exploração de novas identidades, ela realizou mais transformações do que a maioria dos donos de negócios ousam fazer. É claro que nada é garantido e que experimentar é tomar riscos, e ela é tão conhecida pelas falhas quanto pelos acertos.

Ela é lembrada por contestar regras, ajudar pessoas em situação de rua, apoiar a comunidade LGBTQIA+ e levantar questões de gênero, mesmo quando as pessoas não entendem isso. Cyrus criou um espaço para a sua música e deixa uma mensagem para a indústria de que pode fazer qualquer coisa, se redescobrir, seja como pessoa, trabalhadora, ou em qualquer relacionamento. Miley, mais do que nunca, vive isso ao máximo, e por isso é uma grande estrela ainda em ascensão.

Por Trás do DNA: Mayari Jubini

Natural do Espírito Santo, a estilista Mayari Jubini de 26 anos vem conquistando o Brasil — e o mundo — ao vestir grandes nomes da música brasileira: entre seus clientes estão Anitta, Luiza Sonza e Pabllo Vittar.

Ainda em seu estado natal graduou-se em moda, apesar da falta de apoio (tanto financeiro quanto social) enquanto mulher periférica. Pouco tempo depois conquistou a pós-graduação em Negócios e Marketing de Moda na famosa Faculdade Santa Marcelina, e é só então que nasce sua marca, Artemisi Gallery, criada como um trabalho de conclusão de curso.

Queridinha das principais estrelas do país, Mayari vem acumulando seguidores e fãs em suas redes sociais por sua técnica de criação fora da curva. Apesar da pouca idade, ela se mostra o necessário para o mercado da moda atual: uma lufada de ar fresco, fiel a suas origens e princípios mesmo após todas as adversidades pelas quais passou. Conversamos com a designer para entender um pouco melhor sobre seu “DNA”.

Imagem: [Reprodução/Instagram]

A estilista

Nascida em Cariacica, município localizado no Espírito Santo, a trajetória de Jubini na moda começa muito antes de suas formações acadêmicas: desde criança já demonstrava uma curiosidade e forte veia artística, com inclinações para artes plásticas, literatura e filmes. 

A designer conta em entrevista para a Frenezi que sempre teve um lado criativo, “Desde muito nova tive um contato com a arte que não veio da minha família ou de alguém que me apresentou”, a mãe de Mayari era dona de casa e seu pai cortador. Ela conta que acabou conhecendo a literatura e foi tocada pela mesma. Isso a motivou a buscar mais e a aproximou de outras áreas como o cinema, todos que serviram de inspiração para o seu trabalho.

Ainda na adolescência, Mayari trabalhou em uma loja de roupas e lá criou peças para o catálogo — esse seria apenas o início de uma brilhante carreira no ramo. Após se formar, com melhores oportunidades e crescimento profissional em mente, Jubini mudou-se para São Paulo e iniciou uma pós em negócios da moda na Faculdade Santa Marcelina.

E não foi sem desafios: não conhecia ninguém, não tinha emprego garantido e nem investimento, apenas a vontade e certeza de que algum dia alcançaria seu sonho. “O mercado da moda ainda é muito elitista e senti isso claramente no início. Tem muito preconceito, a moda ainda é segregadora e quem tem voz dentro dela é quem tem recursos financeiros”, conta sobre sua chegada na cidade. Pouco tempo após sua mudança conseguiu o primeiro emprego na capital paulista: uma vaga no renomado ateliê Paulo Dolce.

“Se você estiver vestindo Prada, grandes marcas caras, com certeza terá um tratamento diferente. Eu percebi isso e […] não queria passar por um papel e fingir ser outra pessoa: queria conseguir a voz sendo quem eu sou e falando da minha história, assim como consegui. […] Tem uma coisa que te faz ter credibilidade independentemente do lugar de onde você veio: os resultados.”

A marca

O DNA de Mayari é moderno, cosmopolita e acima de tudo, livre. Sua marca não segue caminhos pré-estabelecidos por antecedentes da indústria, deixando livre o espaço para que a imaginação da artista possa correr. Visão, sensibilidade, estética punk, elementos 3D, vinil e recortes se misturam para criar peças dificilmente imagináveis e pouco convencionais, mas que surpreendem pela excelência na técnica.

Nascida como um projeto de TCC, Mayari se refere com amor ao processo de abertura da Artemisi em 2019 como a melhor coisa que já fez. A necessidade de fazer todo o trabalho sozinha pelo alto custo para criar uma marca e pouquíssimos recursos a disposição foi a maior das dificuldades. . A designer explica que o processo exigiu meses de reclusão, foco e dedicação total: “Já tinha esse plano fazia tempo, mas na hora de colocar em ação foram meses sem sair socialmente, só trabalhando, sem gastar dinheiro pois tinha que juntar e não podia usar com nada. Eu tinha que saber desenvolver tudo, estava criando ela [marca] sozinha.”, ela conta que precisava saber fazer tudo por conta própria, não só do lado criativo como também do administrativo, “Precisei entender a questão financeira, tive que estudar muito”.

A marca tem ganhado força após vestir personalidades que se interessam por seu diferencial, sendo as peças utilizadas principalmente em trabalhos conceituais como clipes ou ensaios fotográficos. 

Como contou em entrevista, o crescimento meteórico de seus modelos foi inesperado e aconteceu de forma rápida quando um stylist encontrou o portfólio da grife. “Foi maravilhoso ver o reconhecimento vindo das equipes de grandes artistas. O retorno do público também foi incrível, por ele vi que a marca foi ficando mais consolidada a cada novo trabalho.”. Falando também sobre seu processo criativo, ela conta que é um movimento constante de refletir sobre elementos que estão em sua vida.

Pabllo Vittar, Ludmilla, Anitta e Luiza Sonza em looks exclusivos criados pela Artemisi Gallery. Imagens: [Divulgação]

Todas as peças são pensadas e desenhadas unicamente por Jubini, e depois são produzidas por uma equipe no ateliê da Artemisi. É nesse momento que Mayari traduz suas visões de mundo e inspirações (que segundo ela mesma não vem da moda geralmente, mas sim da arte, cinema e literatura) em criações jovens, ousadas, que desafiam a questionar a tradicional forma de se fazer moda. 

“Gosto muito do que está à frente do seu tempo, mas sem essa ideia batida de futurismo na moda. Penso em como criar algo avançado. Sensibilizar nosso olhar em diversos ramos da arte faz com que consigamos ir além”.

Por trás do DNA: Charles de Vilmorin

O estilista francês Charles de Vilmorin, recém graduando da notória La Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, foi indicado para ocupar o cargo de diretor criativo da maison Rochas no início deste ano. 

É especulado que a escolha foi, em parte, por conta de sua herança. O jovem é sobrinho-neto de Louise de Vilmorin — romancista, escreveu Madame de… (1951), livro que foi adaptado para as telonas em 1953 com o filme Desejos Proibidos (Madame de… em francês) de Max Ophüls; poetisa e jornalista francesa; herdeira da empresa de agricultura Vilmorin, fundada há mais de 200 anos. Louise era amiga de Hélène Rochas, esposa e grande musa do couturier Marcel Rochas — fundador da casa. No entanto, segundo o Financial Times, tal ligação era desconhecida até então.

Em entrevista ao jornal, o estilista fala sobre a sua herança artística passada por meio da sua família — sua mãe trabalha como professora de arte — e nega que foi indicado para a posição na Rochas por conta das ligações de Louise de Vilmorin com Hélène Rochas.

Ao invés disso, o designer acredita que a escolha tenha se dado por conta da sua ousadia, criatividade e a coragem de experimentar coisas arriscadas ainda seguindo as normas e tradições da alta costura francesa.

Charles de Vilmorin para Rochas. [Imagem: Charles de Vilmorin/ Reprodução Instagram]

Logo quando foi apontado para o cargo, Vilmorin contou à Vogue que a sua relação com a marca começou ainda qundo pequeno. Na infância, a maison estava presente em sua vida no formato de roupas e perfumes. Em fevereiro, o designer afirmou que a via como um símbolo de pureza e elegância, e que planejava unir o legado de cores e criatividade com o seu próprio toque.

Charles de Vilmorin apresenta a jovial esperança e ansiedade para o futuro. Em entrevista para a Fédération de la Haute Couture et de la Mode, fala sobre o significado e importância do futuro para a indústria: “É importante usar o passado, viver o presente e pensar sobre o futuro. É o papel de um designer pensar sobre o futuro”. Tal esperança é refletida no seu “DNA”.

Ao fazer um mergulho em seu instagram, é possível notar sua assinatura artística de forma prepotente. Seu feed é coberto por desenhos (que lembram os utilizados em seus designs), cores vibrantes no formato de fotografia, arte ou inspiração. Já pelas redes sociais, percebe-se que Charles de Vilmorin é — no sentido mais nú e cru da palavra — um artista.

Charles de Vilmorin: a marca

Ilustrações por Charles de Vilmorin. [Imagens: Charles de Vilmorin/ Reprodução Instagram]

O DNA de Vilmorin é vibrante, colorido, artístico e humano. Com elementos do Cubismo, Pop Art e até mesmo do Modernismo; o estilista cobre suas obras com verdadeiros elementos artísticos muitas vezes negligenciados pelo público geral quando se fala de moda.

A maison Charles de Vilmorin foi fundada em 2020, bem no meio da pandemia do COVID-19. Com o papel do estilista na Rochas, sua marca terá o propósito de se basear em Haute Couture — mais uma vez reforçando o lado artístico de seu criador — com pequenas cápsulas de pronto-a-vestir de tempos em tempos. A primeira coleção lançada foi a de Outono/Inverno 2020.

Segundo o próprio criador, a mulher de Charles de Vilmorin é ”um pouco tímida, um pouco trash. Ela não sabe para onde quer ir mas vai. Ela é tímida e um pouco… Desajeitada”, conta ao Financial Times.

As estrelas do momento foram as jaquetas puffer de poliéster impermeável super coloridas que relembravam uma silhueta dos anos de 1980 com ombreiras super marcadas. Todas as peças são feitas a mão. A coleção de lançamento foi um sucesso, com suas criações usadas em editoriais por grandes revistas como Numéro China.

Desde o início, o designer apresenta sua visão extremamente criativa de forma ousada e direta. A identidade do que será a maison Charles de Vilmorin se deixou clara desde o princípio: cortes ousados e grandiosos, elementos artísticos (seja em cores, texturas ou cortes) e o ponto humano — todos os ítens são feitos a mão por um time pequeno de pessoas.

Mesmo com pouco tempo no mercado, o estilista foi convidado pela Fédération de La Haute Couture et de la Mode para participar da Semana de Alta Costura.

Ele traduziu sua visão criativa repleta de cores, formas e arte para o couture de forma extremamente natural. Para a coleção, Vilmorin pintou todos os tecidos à mão antes de serem costurados em suas formas finais. Tal técnica pode ser notada ao se aproximar das fotografias da coleção. As imperfeições, ou melhor, detalhes de uma tela pintada a mão são evidentes. A falta de simetria e pequenas manchas não contam como defeitos para a visão artística e proposta apresentada. O designer afirma que tira inspiração do familiar — de seus amigos. As linhas e traços menos que perfeitos passam a impressão do conhecido, confortável. O humano que se torna belo por ser único. 

A técnica demorada e delicada de Vilmorin está em tudo da coleção. As cores vibrantes e chamativas são combinadas com silhuetas igualmente espalhafatosas e dramáticas. Charles busca também inspiração na moda dos anos de 1960 com silhuetas familiares. Em uma coleção, Vilmorin carrega a mensagem mais constante em sua geração, a geração Z: a necessidade de encontrar beleza em tempos caóticos, ou ao menos esperar pelo belo e brilhante na linha de chegada. No fashion film, os modelos (amigos de Charles) são apresentados como verdadeiras obras de arte em movimento.

No início deste ano, o estilista apresentou sua terceira coleção — segunda de alta costura. Esta, no entanto, veio como uma grande surpresa por ter um enorme contraste com suas coleções passadas. Em uma coleção inteiramente preta, Charles de Vilmorin descreve a surpresa como apenas um mood.

As peças parecem terem sido tomadas por corvos e imaginadas pela mente de Tim Burton. O estilista, no entanto, mantém o caráter artístico com o uso de penas, cortes complicados (que por vezes lembram tentáculos) e grandes brincos dourados. A coleção de Outono/Inverno Couture parece, em sua maioria, extremamente teatral, com silhuetas pomposas e gigantes. O mood aqui se apresenta como oposto da coleção anterior, uma desesperança e medo do que o futuro aguarda.

Depois dela, o designer volta para sua visão colorida com a coleção cápsula exclusiva para 24 Sèvres — portal de compras de luxo online, pertencente ao conglomerado LVMH.

A perspectiva econômica por trás da indicação ao cargo na Rochas

A introdução de um jovem designer é, mais do que tudo, a tentativa de alcançar um novo público no mercado. As peças da coleção de Primavera/Verão 2022 serão vendidas por um preço mais “acessível” (com a variação de preços para vestidos entre €700 e €3000).

Hoje, a Inter Parfums é a proprietária da maison. O mercado de perfumaria gera para a marca cerca de €40 milhões — número que cresceu desde a compra em 2015. Segundo Philippe Benacin, CEO da Inter Parfums, o crescimento é creditado à introdução de perfumes voltados para o público jovem como Eau de Rochas, Mademoiselle de Rochas e Rochas Girl. 

A licença de todas as coisas fashion, no entanto, são administradas pelo grupo HIM. Esse mercado gera para a casa francesa cerca de €8 milhões, e a proposta é alcançar €20 milhões nos próximos três anos, a fim de equilibrar com o mercado de perfumes.

Para alcançar o objetivo, a marca planeja expandir seu espectro de vendas e apostar também no setor de sapatos e acessórios — segmento da indústria da moda que mais movimenta o mercado.

Rochas de Charles de Vilmorin

Fotos da nova visão artística da Rochas, divulgadas no instagram oficial da marca. [Montagem por Marina Bittencourt]

Para entender a nova Rochas é preciso entender a antiga. Marcel Rochas tinha apenas 23 anos quando fundou a maison, somente um ano mais novo que Charles de Vilmorin quando assumiu a direção criativa da casa. Na época, Rochas foi considerado o estilista da juventude. Indo contrário à grandes personalidades da época como Coco Chanel, ele apresentava silhuetas realmente revolucionárias para o tempo: vestidos bem estruturados com mangas bufantes, saias robustas e arquitetura impecável em suas criações.

Responsável pela criação de saias com bolsos e do casaco ⅔, Rochas tirava suas inspirações do feminino e da emancipação feminina. Suas roupas eram idealizadas com o corpo da mulher em mente. No pós Segunda Guerra, o estilista usou e abusou de peças e silhuetas que buscavam a liberdade e independência feminina. O designer faleceu em 1955 aos 53 anos.

Desde então, a maison passou por diversos diretores criativos. Obteve um breve retorno à glória com a direção criativa de Olivier Theyskens de 2003 até 2006. Na sua coleção de estreia e ao longo do seu tempo na marca, Theyskens apresentou uma visão um tanto parecida com a atual de Vilmorin, isto é, silhuetas grandiosas, dramáticas e inovadoras. Uma ousadia que remete ao fundador.

A Rochas de Vilmorin é, além de tudo, uma tentativa de rejuvenescimento da marca. Mas, também, é um retorno para as bases criativas e espalhafatosas da maison.

O debut do designer na casa francesa ocorreu com a coleção Resort 2022. Embora mais amenas, as silhuetas bufantes e peças estampadas já estavam presentes na chegada do novo diretor criativo. A mudança entre a Rochas de um ano atrás e a atual é gritante. A maison abandonou cortes simples e bem estruturados por silhuetas chamativas e arriscadas. Deixou os tons pastéis e neutros por cores chamativas e estampas psicodélicas.

É jovial, livre, despojada, chamativa, artística e ousada. O designer se preocupa em mesclar o passado e o presente, assim como o seu DNA e a herança da casa. Executa, com certo sucesso, o equilíbrio do jovem com o sofisticado.

Para a coleção de Primavera/Verão 2022 apresentada na Semana de Moda de Paris, Charles de Vilmorin trabalha em suas silhuetas espalhafatosas e complicadas, que são elevadas ao extremo com a escolha de estampas e tecidos igualmente dramáticos. Vilmorin quebra os padrões da marca e traz para a passarela estampas intrigantes com pinceladas do gótico e do punk. A abordagem jovial e chamativa carrega com peso o nome e proposta do novo diretor criativo.

O designer se preocupa com os detalhes. Exibe vestidos, calças e blusas trabalhadas com desenhos e recortes na passarela. Mesmo em looks sem toda a grandiosidade, Vilmorin se preocupa em deixar sua assinatura por meio dos sapatos — botas com franjas, metalizadas ou desenhadas em formato de chamas; tamancos metalizados; sapatos de salto alto cheios de cortes e cores —, brincos e outros acessórios.

O caminho traçado pelo estilista parece levar ao sucesso se conseguir manter e consolidar a identidade da casa. A coleção foi um primeiro gosto da nova era emergente. 

[Resenha] Lil Nas X: A desconstrução do Hip-Hop

O mainstream não esperava que um homem negro assumidamente gay no hip-hop roubaria a cena e seria um grande sucesso entre o público!

MONTERO, primeiro álbum de estúdio do Lil Nas X, acredite se quiser, chegou em todas as plataformas de streaming ontem, sexta-feira (17), e já pode ser considerado um fenômeno. Com 15 músicas muito bem produzidas e executadas, o disco vai do rap ao pop abordando questões importantes de sua vida, como a solidão de crescer gay, sua aceitação e também sobre o amor. 

Instagram Lil Nas X

A obra contém grandes participações como Doja Cat, Miley Cyrus, Megan Thee Stallion, Elton John e Jack Harlow. E além disso, todas as faixas ganharam um visualizer no Youtube.  A aclamação pelo público foi tanta que, debutou com uma média de 90 no Metacritic e em veículos especializados, como o The Gardian e The Independent, ganhou nota máxima.

Mas o que faz de Lil Nas tão especial?

O rapper vem chamando atenção desde que lançou o remix de Old Town Road, com Billy Ray Cyrus, pai da Miley. A canção disparou em todas as paradas, e ficou como número 1 na Billboard por muito tempo e também conquistando o marco de música com mais certificados de platina na história dos Estados Unidos, sendo 14 milhões de certificações de acordo com a Associação Americana da Indústria de Gravação. Além disso, em 2019, a dupla levou o Grammy de Melhor Duo Pop/Performance de Grupo e Melhor Vídeo Musical.

Logo depois, lançou o EP 7, que além de OTR, emplacou os hits Rodeo, feat com Cardi B, e Panini, que garantiu o segundo top 10 na principal parada americana. Os videoclipes também chamaram a atenção, o primeiro faz referência a Michael Jackson, com Thriller, e aos filmes Matrix e Um Vampiro no Brooklyn. Já o outro, possui uma pegada futurista, e isso se torna uma grande característica de Nas, com muito reconhecimento e expectativas em cima dele.

O primeiro single do álbum, MONTERO (Call Me By Your Name), foi um grande destaque, que além de retratar abertamente sobre sua orientação sexual, trouxe um marco de conquistas para o rapper. LNX ganhou as estatuetas de Vídeo do Ano, Melhor Direção, Melhor Direção de Arte e Melhores Efeitos Visuais na última edição do Video Music Awards, em 2021. Esses feitos com certeza só foram possíveis devido a constância nas primeiras posições nos charts.

Sun Goes Down, segundo single do disco, que já vem com uma pegada mais R&B, pode ser considerada uma das faixas mais vulneráveis, com um Lil Nas meditativo que reflete sobre sua vida e ascensão. O artista adulto revisita o passado, uma versão de si adolescente, que enfrentava problemas de aceitação devido ao racismo e à homofobia, e ele adulto mostra uma luz de esperança no fim do túnel.

O mais polêmico e terceiro single, Industry Baby, feat com Jack Harlow, aborda a temática do encarceramento racista. No clipe ele é preso por ser gay e responde aos críticos que esperavam sua carreira acabar com Old Town Road. Com direção de Kanye West, retrata o empoderamento dentro da cadeia, e até dança nu no vestiário. Também faz referências ao beijo famoso em que protagoniza com um bailarino durante sua apresentação no BET Awards de 2021; os Grammys que recebeu; e uma provocação ao 50 Cent, já que Lil Nas aparece de cabeça para baixo igual ao clipe In Da Club, e o próprio 50 Cent já fez comentários homofóbicos, até mesmo sobre o LNX.

No Video Music Awards em 2021, fez uma performance impecável de Industry Baby e Call Me By Your Name. Abriu sua apresentação guiando uma banda marcial, e em seguida, recriou a prisão do clipe, mas dessa vez utilizando uma sunga rosa cintilante!

O artista elaborou o The Montero Show, onde é um entrevistado grávido, plateia entusiasmada e entrevistador sem filtro. De modo cômico, Nas passou por todas as suas obras, como uma meio de retrospectiva para introduzir a nova era. Ainda dentro do quadro, ele foi para o “hospital dar luz ao seu filho”, vulgo álbum.

Após o talk show, lançou mais um videoclipe, Thats What I Want, com uma mistura de futebol americano e Brokeback Mountain. Lil Nas X representa um jogador que se envolve com um outro atleta, mas tudo termina quando ele descobre que o pretendente possui mulher e filho. Essa situação caracteriza cenas comuns vividas pela comunidade gay, que infelizmente não são representadas no mainstream. Com 24 horas de estreia, o clipe acumula mais de 11 milhões de visualizações no YouTube e permanece em #6 nos vídeos em alta da plataforma.

Sexualidade e moda como forma de expressão

Junho é conhecido pelo Mês do Orgulho LGBTQIA+, e LNX em 2019, aproveitou o último dia do mês, 30, para assumir sua sexualidade no Twitter. Talvez, fosse óbvio para muitas pessoas, até pela indireta do arco-íris na capa do seu EP, mas o público do rap e do country ainda é preconceituoso, e poderia ser decretado o fim de sua carreira.

Em entrevista ao programa CBS This Morning, o rapper revelou que já tinha conhecimento sobre sua orientação sexual desde a infância, mas que ter revelado ao mundo foi para inspirar outras pessoas a se assumirem: “Para mim, agora é fácil mas, para alguns meninos que moram bem longe daqui, isso vai ser bom pra eles”.

Desde então, Nas utilizou sua visibilidade para se expressar através das músicas, e isso fica explícito quando ouvimos algumas canções de MONTERO, como Call Me By Your Name e Thats What I Want. A moda também é uma forma de comunicação por parte do artista, por mostrar de fato quem é, e isso se torna significativo para a comunidade LGBTQIA+. Ele sempre comparece aos tapetes vermelhos das premiações usando trajes que chamam atenção de todos, como no Video Music Awards e Met Gala, que usou criações da Versace e foi destaque por ser “extravagante”.

Marketing em cima de polêmicas

Além de toda a construção do álbum, Lil Nas gerou um bom buzz marketing em cima das polêmicas envolvendo o seu nome. Começa pelo lançamento do clipe MONTERO (Call Me By Your Name), em que explora sua orientação sexual, ao criar um storytelling através de passagens bíblicas, como o Jardim do Éden, e as antiguidades gregas e romanas, como Zeus e Ganimedes.

Fazer pole dance até o inferno e um lap dance no colo do diabo foi mais que o suficiente para os conservadores reclamarem e até atacarem o rapper. A grande verdade por trás do videoclipe, é a história do preconceito que homens gays enfrentam: ter ódio de si mesmo e se esconder de todos. Mas pasmem, estamos em 2021 e isso não vai mais acontecer

Ainda sobre Call Me By Your Name, o coletivo de arte MSCHF, especializado em produtos de coleção limitada, em parceria com o Lil Nas X, fizeram o “Sapato do Satanás”. Foram lançados 666 (número da besta) pares customizados do Nike Air Max 97 com símbolos que fazem referência ao Diabo, como uma estrela de cinco pontas invertida, e também gotas de sangue humano na sola. 

No clipe da música, Montero Hill escorrega por um poste de stripper do céu ao inferno usando o par de tênis. Essa cena faz referência ao versículo bíblico Lucas 10:18 – que também vem gravado no sapato – em que diz “Então ele lhes disse: ‘Vi Satanás cair do céu como um raio’ ”.

A Nike processou a MSCHF alegando violação da marca registrada, já que não autorizou e nem aprovou o tênis, podendo gerar uma imagem negativa sobre a empresa de calçados. Algumas pessoas, incluindo a Governadora da Dakota do Sul, reclamaram do design nas redes sociais.

O meio do hip-hop é majoritariamente um ambiente machista e homofóbico, e o próprio Nas já sentiu isso vindo de outros rappers, como o T.I. e o 6ix9ine. Em entrevista à Revista Variety, ele revelou que só anda com seguranças devido ao preconceito, e assim que foi liberado a tracklist do seu novo álbum, no dia 01 de setembro, o público levantou a falta de colaborações com homens negros, mas o rapper respondeu um usuário afirmando que alguns músicos não gostariam de trabalhar com ele.

Lil Nas também foi acusado pela Antra Brasil de transfobia por fazer uma alusão à gravidez ao promover o lançamento de MONTERO. O rapper fez toda a propaganda do álbum como se estivesse “grávido” do seu primeiro disco, usando até uma barriga de gravidez falsa, compartilhando fotos e vídeos, com direito a chá de bebê e o momento do nascimento.

Através do Twitter, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais afirmou que ele não teve responsabilidade em torno dos problemas da gestação que atingem mulheres, homens trans e pessoas não binárias. Mas outras pessoas, acreditam que essa “gravidez” é uma forma de quebrar padrões de gênero, principalmente por ser um homem cis, e até por ter desenvolvido um link com doações para organizações LGBTQIA+, em que cada faixa representa uma instituição.

Lil Nas X é a verdadeira revolução de uma indústria fonográfica misógina, machista, patriarcal e racista! Apenas com três anos de carreira, se mostra um verdadeiro artista que veio para transformar o modo de fazer música, sendo o pacote completo de ‘diva pop’: entregando looks icônicos, passagens marcantes nos tapetes vermelhos, apresentações de altíssimo nível e novos modos de promoção musical através da internet. É impressionante e até emocionante pensar em como a geração atual pode se inspirar e se conectar com o trabalho dele.

OSGEMEOS: dupla que levou o estilo brasileiro do grafite para o mundo

O grafite chegou ao Brasil na década de 70 pela maior metrópole do país, São Paulo, influenciados pelo crescimento do movimento nos Estados Unidos. Os artistas se arriscavam com o cenário de um país que vivia um contexto político de ditadura, a manifestação era criminalizada pelo Estado — foi institucionalizado em 2011 e assegurado pela por lei. Através do Sudeste, a prática foi se espalhando para os demais centros urbanos do país. O Brasil é um dos países mais reconhecidos pela arte do grafite, cultura retratada como marginalizada por ser uma arte urbana.

Conhecidos internacionalmente com obras presentes em diversas galerias e museus, Otávio e Gustavo Pandolfo são uma dupla de irmãos gêmeos grafiteros de São Paulo, nascidos em 1974, conhecidos como OSGEMEOS. 

Pintura de OSGEMEOS em muro da cidade de São Paulo.

Quando crianças, viveram no tradicional bairro do Cambuci (SP), desenvolveram um modo distinto de brincar e se comunicar através da arte. Começaram como dançarinos de break, com o apoio da família, e com a chegada da cultura Hip Hop no Brasil nos anos de 1980, eles começaram a pintar grafites em 1987, gradativamente tornaram-se uma das influências mais importantes na cena paulistana, e ajudaram a definir um estilo brasileiro de grafite. As ruas eram o principal ateliê e lugar de estudo dos irmãos. 

Em 1995 surgiu a oportunidade da primeira exposição experimental de arte de rua no Museu da Imagem e do Som, o MIS em São Paulo. No início dos anos 2000, eles foram convidados a participar de um projeto para criação de murais em estações ferroviárias e metrô de São Paulo, o que normalmente não é feito no país. Depois disso, o reconhecimento da dupla cresceu de forma que fossem reconhecidos nacionalmente e internacionalmente, com mostras individuais e coletivas em museus e galerias ao redor do mundo, como Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão. Em 2014, criaram e executaram a pintura de um avião em um projeto da empresa de aviação Gol, que transportou a seleção de futebol do Brasil durante a Copa do Mundo.

Avião da seleção brasileira, arte pelo OSGEMEOS. [Imagem: Divulgação]

Os temas vão de retratos de família à críticas sociais e políticas onde retratam a realidade vivida nas grandes metrópoles. O estilo obteve referência através do hip hop tradicional e pela pichação. Por o grafite ser considerado uma arte marginalizada, as obras referenciam e criticam também esta característica. A presença de cores vivas, fantasias, lúdicas e a música fazem parte de sua arte. Algumas de suas apresentações em museus contam a história de como começaram, com a presença de músicas, danças de hip hop, cadernetas e desenhos de rascunhos além de obras com críticas sociais.

Mural em Vancouver Biennale-Canadá. [Imagem: Divulgação]

Nunca pararam de fazer sua arte, e com o passar dos anos, este cenário no qual sonhavam foi tomando forma de forma natural, até que conquistaram seu espaço se transformando numa linguagem própria com referências e influências por novas culturas.

Colaboração de OSGEMEOS e Banksy. [Imagem: Divulgação]

Jean-Michel Basquiat: O precursor do início do grafite e da arte urbana

Na última semana de agosto, a Tiffany & Co divulgou sua nova campanha About Love com os Carters traz para cena o diamante Tiffany, e quase ofusca outra obra de arte tão incrível quanto, que faz parte dessa produção, a Equals Pi, quadro de Jean-Michel Basquiat. Mas quem é o grande nome e autor desta obra avaliada em quase US$ 20 milhões?

Jean-Michel Basquiat- Equalps Pi, 1982.

Jean-Michel Basquiat nasceu em 22 de dezembro de 1960 no Brooklyn (NY). Desde pequeno desenhava nos papéis que seu pai trazia do escritório de contabilidade, sua mãe o levava em museus e lugares artísticos. Aos 7 anos sofreu um acidente que precisou ficar um tempo no hospital, ainda lá, sua mãe o presenteou com um livro de Grey´s Anatomy, o qual no futuro os desenhos anatômicos inspirariam sua arte. 

Sem título (crânio) da série de anatomia, 1982

Nos anos de 1970, a arte predominante nos Estados Unidos era a pop art, artistas como Andy Warhol e Roy Lichtenstein eram referências, além da arte minimalista e conceitual. 

Enquanto isso, na Alemanha, acontecia um movimento que foi chamado de “Die Jungen Wilden”, do portugês “Os jovens rebeldes”. Em todas as partes do mundo era possível ver jovens reagindo a um frizz intelectual que o minimalismo e a arte conceitual costumavam propor diretamente ou indiretamente.

O mercado de arte estava em alta, artistas produzindo arte apenas para vender. Nos EUA as pessoas passaram a consumir mais galerias do que museus. Muitas vezes essas galerias brincavam entre o que era considerado uma cultura elevada e outra mais trivial. Basquiat entra com o equilíbrio, a cultura do gueto, a chamada arte marginalizada (grafite) e a cultura da aristocracia. Nasce a linha tênue entre isso, o movimento do novo. 

Em 1980, aconteceu o desenvolvimento da West Village. Estavam promovendo o marketing da arte do grafite, a divulgação para o mundo, seja em marcas, galerias ou vestimentas, a vez da ascensão do grafite. Basquiat entrou e foi notado por críticos e historiadores. Desde o colegial pichava com seu amigo Al Diaz a palavra SAMO© (abreviatura de “same old shit”), entre 1977 e 1980. Muros, cafés, galerias e lojas passaram a ser telas deste pseudônimo com frases poéticas, chamando ainda mais atenção nos lugares onde a alta renda estava concentrada. 

Boom for Real: The Late Teenage Years of Jean-Michel Basquiat.

“Escolhia os lugares da moda de Nova York que frequentava, como o Mudd Club, para chamar atenção”. No meio da década de 80, triunfou no meio artístico da cidade. Com o tempo, as artes de rua, os grafites e as escritas passaram a não atrair mais policiais e a diminuição dessa arte como marginalização. Grandes nomes no grafite como Kenny Scharf, Fred Brathwaite e Rammellzee, já não eram nomes ligados a jovens delinquentes, mas sim nomes respeitados e conhecidos, tudo devido ao crescimento do grafite e sua enorme onda de marketing.

Não só suas obras eram negociadas como marca, mas ele mesmo. Os artistas visuais estavam no mainstream e era algo considerado cult. Basquiat conheceu Glenn O´Brien que o convidou para ser personagem principal de um filme chamado New York Beat, baseado na arte de Nova Iorque e no próprio Basquiat. Porém, só foi lançado nos anos 2000 com o nome de Downtown 81. A obra Cadillac Moon, participou de um evento chamado New York, New Scene, mostrando que algo novo estava acontecendo na cidade. Ela representava o fim do Basquiat, do Samo. Uma obra importante que risca o pseudônimo. 

Jean- Michel Basquiat, Cadillac Moon, 1981.

Uma época na qual ainda os artistas eram vistos como marginais, assim como Jackson Pollock ou Van Gogh que não foram reconhecidos como tais durante sua vida, Basquiat era um artista marginalizado pela sociedade, ainda mais pela sua cor de pele. Um dos poucos artistas da época que vendeu milhões. Seus desenhos muitas vezes eram vistos como infantis, retratando a vida urbana; namorou Madonna; teve uma banda chamada Gray que tocava noise music e se apresentavam em clubs que o próprio Basquiat tocava como dj; passou a vender cartões postais desenhados a mão para ganhar dinheiro; viveu no subsolo de colecionadores e galeristas em troca de tintas e telas, que muitas vezes eram vendidas sem nem terem sido finalizadas. 

O seu “fim” estava associado na cena artística da cidade, também a uma postura racista da cena artística de Nova Iorque, e como os brancos reagiram à cor da pele do Basquiat. Jean-Michael Basquiat morreu em Manhattan (NY) aos 27 anos de overdose. Hoje suas obras são leiloadas e avaliadas em milhões, algumas em museus e em acervos particulares espalhados pelo mundo, alguns como França e Jerusalém.

Olivia Rodrigo: O futuro da indústria?

“God, it’s brutal out here”… É pouco provável que você nunca tenha escutado esse verso. Menos provável ainda que não haja pelo menos uma música da nova princesa do pop na sua playlist.

Na última segunda-feira, 23 de agosto, a cantora Olivia Rodrigo lançou o clipe da música brutal, que faz parte de seu álbum de estreia SOUR. Em menos de 24 horas de lançamento, o vídeo obteve mais de 6 milhões de visualizações no YouTube, mas esse é só mais um dos grandes marcos na carreira da artista. 

Com apenas 18 anos, o primeiro hit de Rodrigo foi lançado no início do ano. Drivers license relata uma decepção amorosa e rapidamente alcançou o primeiro lugar nas paradas, se destacando como uma das principais músicas do ano. Já nos meses seguintes, os singles deja vu e good 4 u (também pertencentes ao primeiro álbum) foram um grande sucesso, virando até trend no TikTok. Além disso, Olivia foi a primeira cantora a alcançar o Top 10 da Billboard Global 200 com quatro lançamentos simultâneos. Para além de suas conquistas no charts, a artista tem demonstrado grande potencial de estrela: diversas capas de revistas, assunto quente diariamente nas redes sociais, queridinha das celebridades, ditadora de tendências e, principalmente, amada pelo público infantojuvenil. É quase impossível encontrar um jovem entre 11 e 19 anos que nunca tenha escutado uma de suas músicas. Olivia é um fenômeno.

A fórmula do sucesso

Olivia vem arrematando uma legião de fãs nos últimos meses e não é difícil analisar o motivo: o combo “estilo descolado + músicas cativantes + uma boa fofoca” é praticamente infalível. A comunicação da cantora com o público é clara e objetiva, passando por meio de sua música experiências muito comuns da adolescência – a identificação e empatia também são pontos cruciais para seu sucesso. Sua paixão pelos anos 90 (década que nem chegou a viver) fica clara por seus visuais dentro e fora dos tapetes vermelhos e também pela estética de seu trabalho: ainda no fim de junho, Olivia apresentou Sour Prom, uma live onde cantava todas as canções de seu álbum de estreia. Como o próprio nome já anuncia, a apresentação era inspirada em um baile de formatura e as fotos promocionais do evento nos remetem a década de 1990 e ao álbum Live Through This, lançado na mesma época pela banda americana de rock alternativo Hole.

O grande buzz da carreira da estrela – que já trabalhava em séries da Disney como Bizaardvark desde 2016 – veio com o lançamento de drivers license e o polêmico término com seu companheiro de série Joshua Bassett que, segundo boatos, teria traído Olivia com a atriz Sabrina Carpenter. As redes sociais foram tomadas pelo debate durante semanas e desde então Rodrigo tem utilizado de uma boa equipe de marketing para manter seu nome como um dos mais quentes da indústria: é queridinha de celebridades como Taylor Swift, amiga de it girls como Devon Lee Carlson e até rosto da campanha de vacinação dos jovens contra a Covid-19 nos Estados Unidos.

Princesa da Disney

Olivia Rodrigo faz parte do reboot da franquia de High School Musical e o destaque da cantora remete a um dos grandes sucessos da Disney: Miley Cyrus, a eterna Hannah Montana, com sua sitcom homônima que durou 5 anos e para muitos é uma memória muito boa com gostinho de infância. Mesmo tendo alavancado a carreira de Cyrus, nem tudo eram flores: a atriz era pressionada pela emissora a manter uma imagem de garota inocente e delicada.

Em 2013, Miley mudou completamente seu estilo, desde as roupas, aos shows e comportamentos, e na época até declarou que a Hannah foi assassinada. Em decorrência disso, a cantora foi duramente criticada pela mídia e pelo público, mas seguiu externalizando o que realmente era.

Diferentemente de Cyrus, Olivia foi recebida com muito mais facilidade e abertura por parte dos tabloides, ouvintes e pela própria Disney. Para o público que acompanhava a época de Demi Lovato, Selena Gomez, Jonas Brothers e tantos outros, ainda é chocante escutar um “shit” (“merda”, em português) em músicas como deja vu, ver no Instagram fotos que há 15 anos seriam estritamente proibidas e entrevistas reveladoras. A nova geração da gigante do entretenimento vem sendo liderada por artistas com muito mais liberdade de expressão e artística, que têm o direito de se apresentarem do jeito que realmente são.

Reprodução/Instagram

E então a pergunta: Olivia Rodrigo é ou não é o futuro da indústria? Não temos como afirmar, mas apostamos fortemente que sim. Há tempos não surgia com tanta força um ícone que unisse gerações e com uma vocação tão grande para estrela. Se estamos certos ou não, o tempo dirá… Por enquanto seguimos com o SOUR em loop em nossos fones de ouvido.

E aí, vai se render a Olivia?