A leve excentricidade da beleza da Alta-Costura

Paris Couture Week: a mais trabalhosa, mas ao mesmo tempo, livre para os designers; a mais aguardada pelos críticos; dotadas dos desfiles mais desejados pelas influencers e, sem dúvidas, uma potência inigualável quando o assunto é lançamento de tendências seja na moda ou na beleza. Ao longo da última semana, mais especificamente dos dias 24 a 27 de janeiro, a cidade das luzes voltou a ser palco de mais um de seus grandes espetáculos anuais: a semana de moda de Alta-Costura que nos apresentou as coleções de Primavera/Verão 2022 das seletas casas que fazem parte da Chambre Syndicale de la Haute Couture

É indiscutível que nos desfiles desse segmento da moda, a atenção é sempre voltada à suntuosidade das criações, porém, como molduras de um quadro valioso para o autor, a beleza de cada apresentação é também criteriosamente pensada, de forma a contribuir para a grandiosidade que se espera do resultado. Sendo assim, pudemos ver que algumas casas buscaram por uma estética que nos trazia à memória a delicadeza que remete aos trabalhos manuais tão valorizados pela alta-costura, enquanto outras optaram pela excentricidade que exala das criações finalizadas. 

Na beleza da Fendi, assinada por Guido Palau e Peter Philips (hairstylist e makeup artist, respectivamente), recebemos uma extensão do que Kim Jones propôs ao criar a coleção: uma mistura entre passado, presente e futuro. Uma pele quase isenta de maquiagem, rememorando as estéticas de pureza associadas aos antigos tempos romanos, associada à dramaticidade e irreverência muito observadas hoje em dia e que, cada dia mais, se consolidam como apostas futuras, expressas por meio da aplicação de pontos de strass por todo o rosto das modelos. O cabelo vem limpo, sem grandes elaborações, deixando que o foco principal seja o mistério apresentado pelas criações e a excentricidade delicada da maquiagem. Em uma análise um pouco mais fantasiosa, pode-se dizer que essa junção estratégica de leveza e brilho criam justamente uma imagem de algo celeste, radiante e puro, associadas aos elementos espirituais de Roma e à esperança de um futuro mais leve que virá após o caos. Descrição essa que poderia ser facilmente aplicada a Antonio Grimaldi (por Maurizio Caruso Morale, Anna Maria Negri Brida e Maurizio Calabró) e Alexandre Vauthier (por Lisa Butler & Sam McKnight) também – ambas casas que também optaram pela beleza do “menos é mais”. 

Já no espetáculo de Giambattista Valli, com make por Helena Vasnier e cabelo por Lewis Ghewy, notamos um contraste da sutileza com a dramaticidade. Algumas modelos cruzaram a passarela de rosto praticamente limpo, isento, enquanto outras carregavam olhares marcados por delineados gráficos, vazados e extravagantes, criando um olhar desafiador e marcante. Essa fusão de estéticas gera uma dualidade, uma sensação de pré-liberdade e co-participação em quem vê: há a ideia de uma tela em branco, na qual a criatividade pode ser exercida e cada um, ao observar a produção, tem a chance de ser responsável por criar em sua própria imaginação a beleza ideal. Ademais, também existe a estética já previamente pensada e exposta, deixando claro que tudo foi inspirado por drama e deve ser combinado ao drama. Os cabelos seguem a mesma linha, alguns transmitem leveza, romantismo e são arrematados por laços, com um ar clássico, enquanto outros são volumosos e compridos, em uma estética que nos leva de volta aos penteados semi-presos da década de 1970. 

Na mesma linha de imagem de força e extravagância, não poderíamos deixar de comentar a beleza criativa, irreverente, e provocativa de Schiaparelli, com claras referências ao surrealismo característico da casa e perfeitamente transmitido pelas mãos de Pat McGrath na idealização da make e Guido Palau nos cabelos – que acendem um alerta para a crescente presença do uso de acessórios para os fios. Um flerte com o “extra” também acenou em Valentino (assinada por Pat McGrath & Guido Palau) que, por meio da aposta em olhares marcantes – resultantes de delineados mais espessos e até mesmo com a aplicação de penas (alguém mais se lembrou da coleção de couture de 2019?) em alguns looks – trouxe uma ousada elegância, complementadas por fios unidos em coques baixos e polidos – como perfeito arremate à coleção.

Por fim, em linhas gerais, vimos nas passarelas uma miscelânea de estéticas que passeiam com naturalidade entre o sutil e o excêntrico, o clássico e o dramático, o básico e o exagerado, mas sem jamais perder a inseparável sofisticação que, desde sempre, faz parte da história da alta-costura.

Renner apresenta a primeira Live Shop 3D da América Latina em coleção de alto verão

Com o fim do ano chegando e com a temporada de calor em vista, a Renner adianta sua coleção de verão para novembro e, pela primeira vez na América Latina, uma marca apresentará um live shop 3D para revelar uma coleção. A transmissão será feita pelo Instagram, site e app da Renner na noite de hoje (18), a partir das 20h, os clientes terão a oportunidade de interagir com as peças e universo digital criados pela gigante do varejo.

Disponível para compra desde o dia 17, a coleção engloba 3 áreas com tendências da estação para diferentes estilos: Colors, que traz consigo tons vibrantes, motivos tropicais e ousadia em suas peças; Natural, com tecidos como o linho, cores neutras e estética sóbria; e Praia, que apresenta o beachwear da marca, recortes e o ‘sexy’ como aposta principal.

O cenário Praia, abordado na terceira coleção-cápsula | Imagem: [Divulgação]

Entrando na nova era da moda, a empresa busca se modernizar para atingir um novo público com uma experiência ampliada, que envolve o metaverso e levam o consumidor a um novo imaginário. A estratégia já trouxe resultados: a convite do TikTok, a Renner participará de uma live-teste da versão beta de anúncios Spark Ads, que acontecerá no dia 30 de novembro, às 20h, no perfil oficial da marca no app.

Histórias assustadoras para olhar na passarela

Entre os tecidos transparentes incluindo bordados em proporções minis e ousadas observados nas coleções durante a temporada de Primavera/Verão 2022, apresentada no mês de setembro deste ano, foi possível observar outra qualidade estética que indiscutivelmente serviu de inspiração evidente para estilistas, algo não relacionado às correntes de otimismo pós-pandêmico e a ansiedade em voltar para grandes eventos — na verdade justamente se opõe a essa característica tão presente na indústria atual: a estética que se assemelha ao horror, que tira inspiração do tema central, e também em filmes do gênero que marcaram um espaço importante na cultura popular.

Fotos para colagem retiradas da plataforma Pinterest ou Vogue Runway.

Primeiro é necessário entender que a formação do conceito de belo por trás de uma obra de arte nunca foi fácil. Na verdade, entender o que a beleza significa é um dos grandes assuntos e temas da filosofia, de Platão até Immanuel Kant. O autor Paulo Euron em seu livro “Estética, Teoria e Interpretação da Obra Literária” explica que os povos da Grécia e da Roma antigas não tinham uma definição para o que chamamos de “belas-artes”, na realidade a tentativa de definir um termo como “beleza”, “percepção” ou “verdade” relacionado a diferentes obras de arte é um esforço moderno.

Diante de uma pintura, ou de um edifício hoje considerado uma obra de arte, um grego ou romano antigo só veria uma pintura, ou um edifício, ou seja, o resultado da atividade de um artesão. Na Grécia antiga havia  obras de arte, e havia a experiência da obra de arte, mas essa experiência não estava relacionada a categorias como “beleza” ou “qualidade estética”. “

Entendendo isso, durante anos estudamos como um tipo de produção artística consegue inspirar outros artistas de ramos e áreas diferentes a produzirem sua própria visão criativa. O belo das obras na antiguidade clássica sempre foi uma mística entre beleza e arte sendo ainda a referência ocidental de beleza, inspirando inúmeros trabalhos até o presente. Agora que é possível entender uma linha clara entre a relação da qualidade estética e a inspiração criativa: o que acontece quando algo que é justamente a oposição do espectro da beleza tradicional inspira inúmeras visões artísticas?

Alexander McQueen Outono Inverno 1998 RTW

Uma verdade clara da cultura contemporânea é como gêneros visuais e estéticos subversivos ao belo tradicional podem cativar um grande público, talvez por serem justamente a oposição dessa noção estética. O feriado originalmente celta que ficou internacionalmente famoso por um grande conjunto de vestimentas com referências ao conceito de terror em geral — o Halloween hoje é um dos maiores eventos tanto entre grandes celebridades (quais o público espera ansiosamente por suas fantasias) como também entre indivíduos que apenas querem uma noite temática entre amigos… O que depois de quase dois anos em casa, parece ser uma boa alternativa.

É inegável a influência do terror como um conceito completo estético na cultura pop moderna, mas é ainda mais possível observá-la nos grandes filmes de terror que deixaram sua marca na indústria do cinema inspirando fantasias e até mesmo mudando sensos estéticos do que é beleza, desde o famoso vestido preto apertado de Anjelica Huston como Morticia Addams no filme de comédia Família Addams de 1991 que virou uma grande referência da época até a maquiagem azulada da animação Noiva Cadáver de Tim Burton estreada pela primeira vez em 2005, qual este ano virou inclusive inspiração de coleção de maquiagem da marca Makeup Revolution.

Considerando que, desde a maquiagem até os figurinos, os filmes de terror conseguem ser um grande portal de inspiração visual para diferentes recriações. Conversamos com a designer de figurino Alice Alves para esclarecer um pouco se existe uma relação direta entre os figurinos dos filmes em pauta com a cultura pop:

“Existe uma ligação super direta porque é o que vai ser reproduzido dos filmes de terror e de qualquer outra categoria de filme. No Halloween as fantasias mais procuradas são sempre as de filmes, ou seja, são os figurinos que fazem sucesso e perpetuam o filme, os tornam pop. Uma boa figurinista não se forma da noite pro dia, precisa ter bagagem e experiência que vai sendo aprendida nos anos trabalhados como estagiária e depois como assistente.”

Christian Dior Primavera Verão 2006 Alta-Costura

Existe um fenômeno notável de grandes designers de dentro da indústria da moda de luxo que se inspiram nos figurinos ou estéticas gerais desses filmes como inspiração primária para a criação de suas coleções, mais recentemente na última temporada de moda em setembro deste ano. Na coleção de Primavera/Verão 2022 da marca MM6 Maison Margiela entre bebidas de gin em um terraço na cidade de Milão, o designer André Breton em uma colaboração com os artistas surrealistas Leonora Carrington e Claude Cahun apresentaram uma coleção definidamente inspirada em um dos clássicos da literatura de terror que se tornou um filme sucesso e com sequência: A coisa (2017) de Stephen King. 

Entre as estampas quadriculadas em referência ao figurino do palhaço e uma modelo entrando na passarela com um balão flutuante na mão, o designer deixa claro que a inspiração vem não só de uma recriação ligada aos figurinos do filme mas sim da própria trama em si.

Como foi possível perceber, a maioria se deriva de grandes filmes de terror que marcaram épocas e se tornaram populares como O Iluminado (1980), Bebê de Rosemary (1968), Laranja Mecânica (1971) entre outros. Os figurinistas, diretores e ambientações desses filmes foram especialmente utilizados para a criação dessas coleções. Nossa entrevistada explica um pouco sobre a trajetória como figurinista para executar um trabalho que marque desde do popular traçando seu caminho como referência plena em cultura pop e até mesmo se inspirando em outros filmes: 

“A inspiração de cada figurinista é única porque depende da bagagem que ela traz, de quem é o diretor do filme, porque ele vai nortear a figurinista para que ela crie figurinos dentro de uma estética que ele goste, o diretor de arte também tem muitas conversas com a figurinista. E uma das várias fontes que uma figurinista utiliza para criar figurino são os próprios filmes.”

A ligação entre o terror e a moda não é um fenômeno recente, na apuração e pesquisa deste artigo foi possível perceber inúmeros exemplos de diferentes épocas da moda que bebem da mesma fonte de inspiração, desde dos vestidos rígidos e pretos da época vitoriana que até se tornaram uma grande referência de terror em geral até chegar nas coleções de Alexander McQueen — internacionalmente conhecido por seu intrínseco trabalho misturando a emoção, arte e moda. McQueen era fascinado em inspirações estéticas que causavam êxtase e desconforto dentro de coleções teatrais e com habilidade técnica.

Algumas das inspirações em cenários grotescos como sua coleção de graduação de 1992 intitulada “Jack The Ripper stalks his victims”; quando colocou um esqueleto humano na primeira fila junto com os jornalistas para a coleção de Outono/Inverno 1996 inspirada no Inferno na Divina Comédia de Dante; quando, no final do show, tinha uma mulher nua com cabeça de alien num cenário inspirado em um asilo mental vitoriano; ou finalmente quando McQueen aprendeu sobre a história de suas ancestrais que foram executadas nos julgamentos de bruxas de Salém e fez uma coleção inteira referenciando bruxas para a coleção de Outono/Inverno de 2007.

Moschino Resort 2020 Menswear

Alexander McQueen trilhou um caminho muito diferente de seus compatriotas na indústria da moda de luxo na época, ele conseguia fazer coleções completamente teatrais e experimentais serem sucessos entre críticos e consumidores — abrindo as portas para quem encontra o belo dentro de cenários e estéticas inusitadas. Alguns exemplos de coleções mais recentes que seguiram dessa fonte de inspiração são Undercover Primavera/Verão 2018 com o filme O Iluminado, Moschino Resort 2020 com o filme Pânico  (1996), Gareth Pugh Primavera/Verão 2015 em bruxas e Rick Owens com o filme francês de terror Os Olhos Sem Rosto (1960).

Em suma, os tópicos de fontes de inspirações que servem para designers produzirem suas coleções são sempre muito comentados e discutidos dentro da indústria, mas a possibilidade de que os mesmos podem se inspirar em criar uma arte visual e apreciativa tomando como partida uma estética que não relacionamos com algo tradicionalmente belo ou agradável é um espectro fascinante de dentro das criações.

Fotos de desfiles com a temáticas comentada retiradas da plataforma Vogue Runway.

Uma lista de coleções que utilizam da inspiração:

Alexander McQueen Spring Summer 1995 – inspirada no filme de Alfred Hitchcock “Os Pássaros”

Alexander McQueen: primeira coleção em 1992 – A coleção de graduação ” Jack The Ripper Stalks His Victims”.

Alexander McQueen Fall Winter 1996 – inspirada por “Inferno” de Dante.

Alexander McQueen Fall Winter 1998 – Joana d’Arc e bruxas.

Alexander McQueen Fall Winter 2001 – O personagem Pennywise.

Junya Watanabe Fall Winter 2006 – O filme de 1987 Hellraiser.

Alexander McQueen Fall Winter 2007 – Bruxas.

Saint Laurent Spring Summer 2013 – Bruxas e serviu de inspiração do figurino da temporada Coven de American Horror Story.

The Blonds Fall Winter 2013 – O iluminado

Gareth Pugh Spring Summer 2015 – Bruxas

Rick Owens Fall Winter 2016 – O filme francês de terror Eyes Without a face

Calvin Klein Spring Summer 2018 – Os filmes Carrie e o bebê de Rosemary

Undercover Spring Summer 2018- O iluminado

Calvin Klein Spring Summer 2019: O filme Jaws

Comme Des Garçons Fall Winter 2019: A estética horror num plano geral.

Thom Browne Spring Summer 2019: O personagem Jason Vorhees.

Prada Fall Winter 2019: O filme e livro de Dr. Frankenstein e Família Addams.

Undercover menswear Fall Winter 2019 – O filme Laranja Mecânica.

Moschino Resort 2020 – O filme Scream.

Maison Margiela Fall 2020 Couture – A estética no geral.

MM6 Maison Margiela Spring Summer 2022 – O filme “IT” principalmente do personagem Pennywise.

Undercover Primavera Verão 2018

O easy-chic com flertes criativos da beleza da PFW

Chegou ao fim nesta terça-feira (05) a temporada SS/2022 parisiense, que trouxe consigo momentos emocionantes e referências que refletem as expectativas e interpretações que a indústria tem para o futuro. Fechando o chamado “mês da moda” com chave de ouro, a semana de moda de Paris foi marcada por momentos paralelos: uma beleza básica, marcada pela leveza, sem perder a elegância inseparável que acompanha os ares franceses; com momentos de ousadia, affair com as cores e emoção. Talvez possamos arriscar dizer que foi uma miscelânea entre o “no make-up make-up” apresentado em Milão com relances das belezas “escapistas” de Nova York.

Seguindo, majoritariamente, uma linha com características easy-chic, o que mais se viu na fashion week parisiense foi uma beleza leve que parece ser fácil, despretensiosa e sem muito esforço para ser elaborada. Essa beleza é bem visível passarela da Loewe, assinada pela requisitadíssima dupla Pat McGrath e Guido Palau. A delicadeza e quase ausência de maquiagem e o cabelo moderno, desconectado, mas adornados pela cor representou o tributo da marca à sua expectativa para o cenário pós-pandêmico, livre de ansiedades e preocupações excessivas, deixando que nós sejamos nossa própria casa, nosso próprio padrão e nossa própria referência de beleza e conforto.

Loewe SS22 RTW.
[Imagem: Alessandro Viero]

Em meio a uma mensagem que parece trazer nuances de uma volta ao básico, houveram picos de ousadia que nos remeteram um pouco à estética colorida, alegre e disruptiva vista em NY. Os delineados, antes tão simétricos e quase milimetricamente calculados, apareceram em novos formatos, posições e um pouco menos próximos dos ideais de perfeição. Ao menos, foi isso o que vimos nas belezas propostas por Courréges e Rick Owens (de autoria de Anthony Preel & Joseph Pujalte e Daniel Sallstrom & Duffy, respectivamente) que levaram às passarelas a mistura perfeita entre a sutileza e força, quase como (re)apresentando tendências antigas de maneira reinventada. Bem parisiense, não? 

Este mesmo delineado ligado aos novos ideais de despretensão, trouxe junto uma nova provocação por meio do trabalho de Lucia Pieroni & Anthony Turner na grife Rochas, que ao nos incitar a traçar as famosas linhas abaixo dos olhos, também nos inspira a tentar enxergar o mundo de forma diferente e virar nossos planos de cabeça pra baixo, depois de sermos surpreendidos com uma pausa forçada e levados a refletir sobre a fugacidade da vida. Nesse mesmo sentido seguiram Kenneth Ize, embelezado por Fara Homidi & Yann Turch, responsável por iluminar os olhares com traços dourados que, filosoficamente, podem representar um olhar ambicioso e reluzente para o futuro, e Chloé – pelas mãos de Hannah Murray & James Pecis, que, em meio à onda de “no make-up make-up” looks, apresentou alguns olhares enfeitados com delineados extensos e coloridos, nos fazendo pensar em um futuro divertido e multifacetado. 

Pelo universo das cores e do drama também passaram Weinsanto e Dries Van Noten. A primeira casa – Weinsanto – de forma muito mais artística por meio do trabalho de Axelle Jérina & Kevin Jacotot, ilustrou um discurso que mostra que ainda existe espaço para um escapismo dramático em um futuro com ares etéreos. Já a segunda, – Dries – produzida por Lucy Bridge & Sam McKnight, instigou uma explosão à primeira vista; com tons vivos, olhos que carregam uma intensidade eletrizante, lábios pintados com as cores que irradiam alegria e cabelos que combinam assimetria e degradê, fazendo um paralelo aos tempos incertos há pouco vivenciados por todos nós. 

Na contramão das belezas que focaram no olhar dramático, se apresentaram as maisons que colocaram na boca toda sua emoção. A mesma pele leve e fresh foi combinada à rastros de cores em batons mais vivos, que ornamentaram os visuais propostos por Karin Westerlund & Duffy e vistos nas passarelas de Saint Laurent, que fez do batom vermelho a marca de força e sofisticação do desejo de imagem idealizado por Vaccarello; e a estética criada por Pat McGrath e Guido Palau para a Valentino que, assim como Chloé fez ao trazer destaque aos olhos, mesclou lábios contrastantes à beleza despojada.

Sendo assim, como dito no início desse texto, Paris refletiu a junção das visões de futuro apresentadas em Nova York e em Milão em uma bela e instigante miscelânea que demonstram as interpretações do futuro externadas na beleza, sem, contudo, deixar de lado sua distinção e requinte que, ao longo dos anos, tornaram-se sua marca registrada e fizeram da cidade das luzes a responsável pelo apagar das luzes do mês da moda. 

A beleza de Milão e o domínio da ‘no-makeup-makeup’.

Segunda-feira (27) chegou ao fim a temporada Primavera-Verão 2022 da semana de moda de Milão. As coleções apresentadas foram uma representação da leveza e do glamour tão esperados para a vida pós-pandêmica. Enquanto algumas marcas apresentaram belezas mais carregadas e teatrais em contraponto aos tecidos leves e fluídos das peças, outras optaram por maquiagens quase imperceptíveis para contribuir com o frescor das coleções.

A dupla Path McGrath e Guido Palau foi responsável pela beleza do desfile da Versace e de sua collab com a Fendi, que também teve Guido Palau como hairstylist, acompanhado de Peter Philips na maquiagem. Em todas as passarelas é possível ver maquiagens teatrais, com abundância de cores nas maçãs do rosto das modelos e olhos dramáticos. Para a Fendi, essa produção foi feita com tons mais apagados, que conversam com a seriedade dos looks, enquanto na Versace a produção conta com cores vivas combinando com as peças. Já para o desfile de “Fendance”, a beleza foi caracterizada pelo glamour composto por sombras metalizadas, iluminador marcado e lábios glossy.

Na coleção apresentada por Del Core, a beleza foi responsável por aumentar o fator dramático e quase camp presente na passarela. A maquiagem de Diane Kendal consistiu em sombras coloridas e gliterizadas esfumadas para além das áreas dos olhos, trazendo o efeito de uma aquarela. Para os fios, o hairstylist Anthony Turner optou pelo queridinho das passarelas — o wet hair, para impulsionar a dramaticidade do visual.

Evitando brigar com as estampas dominantes da passarela da Etro, a maquiadora Lisa Butler optou por apresentar uma produção bem clean and fresh. Entretanto, adicionou pedras brilhantes ao rosto de algumas modelos para ainda deixar sua marca na beleza do desfile. Essa estratégia também foi utilizada por Hiromi Ueda, que assinou uma produção que consistia somente em delineados nos olhos de algumas das modelos que desfilaram para a grife Missoni, assim, o hairstylist Holli Smith direcionasse os olhos dos convidados à dramaticidade do wet hair.

No desfile de Alberta Ferretti, a beleza foi caracterizada pela simplicidade e frescor. As modelos foram apresentadas com o que aparentou ser uma pele intocada e com os fios naturais, alguns até mesmo presos. Diferente das citadas acima, a beleza assinada por Petros Petrohilos e Benjamin Muller não foi minimizada para não desfocar as peças, e sim para casar com a leveza e fluidez dos modelos desfilados.

Alberta Ferretti SS22RTW.
[Imagem: Reprodução Vogue Runway]

Nas passarelas das marcas Blumarine e Prada — queridinhas do HF Twitter (comunidade de moda no twitter) — a ‘no-makeup-makeup‘ também foi utilizada. As belezas assinadas por Inge Grognard e Anthony Turner, e Path McGrath e Guido Palau, respectivamente, consistiram em modelos com suas peles e fios naturais desfilando na passarela. Entretanto, essa leveza quase entediante é justificada através do uso de acessórios como lenços e óculos — pontos fortes de venda — que ocupam o espaço de uma maquiagem ou um hairstyle mais carregado.

Por trás do DNA: Charles de Vilmorin

O estilista francês Charles de Vilmorin, recém graduando da notória La Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, foi indicado para ocupar o cargo de diretor criativo da maison Rochas no início deste ano. 

É especulado que a escolha foi, em parte, por conta de sua herança. O jovem é sobrinho-neto de Louise de Vilmorin — romancista, escreveu Madame de… (1951), livro que foi adaptado para as telonas em 1953 com o filme Desejos Proibidos (Madame de… em francês) de Max Ophüls; poetisa e jornalista francesa; herdeira da empresa de agricultura Vilmorin, fundada há mais de 200 anos. Louise era amiga de Hélène Rochas, esposa e grande musa do couturier Marcel Rochas — fundador da casa. No entanto, segundo o Financial Times, tal ligação era desconhecida até então.

Em entrevista ao jornal, o estilista fala sobre a sua herança artística passada por meio da sua família — sua mãe trabalha como professora de arte — e nega que foi indicado para a posição na Rochas por conta das ligações de Louise de Vilmorin com Hélène Rochas.

Ao invés disso, o designer acredita que a escolha tenha se dado por conta da sua ousadia, criatividade e a coragem de experimentar coisas arriscadas ainda seguindo as normas e tradições da alta costura francesa.

Charles de Vilmorin para Rochas. [Imagem: Charles de Vilmorin/ Reprodução Instagram]

Logo quando foi apontado para o cargo, Vilmorin contou à Vogue que a sua relação com a marca começou ainda qundo pequeno. Na infância, a maison estava presente em sua vida no formato de roupas e perfumes. Em fevereiro, o designer afirmou que a via como um símbolo de pureza e elegância, e que planejava unir o legado de cores e criatividade com o seu próprio toque.

Charles de Vilmorin apresenta a jovial esperança e ansiedade para o futuro. Em entrevista para a Fédération de la Haute Couture et de la Mode, fala sobre o significado e importância do futuro para a indústria: “É importante usar o passado, viver o presente e pensar sobre o futuro. É o papel de um designer pensar sobre o futuro”. Tal esperança é refletida no seu “DNA”.

Ao fazer um mergulho em seu instagram, é possível notar sua assinatura artística de forma prepotente. Seu feed é coberto por desenhos (que lembram os utilizados em seus designs), cores vibrantes no formato de fotografia, arte ou inspiração. Já pelas redes sociais, percebe-se que Charles de Vilmorin é — no sentido mais nú e cru da palavra — um artista.

Charles de Vilmorin: a marca

Ilustrações por Charles de Vilmorin. [Imagens: Charles de Vilmorin/ Reprodução Instagram]

O DNA de Vilmorin é vibrante, colorido, artístico e humano. Com elementos do Cubismo, Pop Art e até mesmo do Modernismo; o estilista cobre suas obras com verdadeiros elementos artísticos muitas vezes negligenciados pelo público geral quando se fala de moda.

A maison Charles de Vilmorin foi fundada em 2020, bem no meio da pandemia do COVID-19. Com o papel do estilista na Rochas, sua marca terá o propósito de se basear em Haute Couture — mais uma vez reforçando o lado artístico de seu criador — com pequenas cápsulas de pronto-a-vestir de tempos em tempos. A primeira coleção lançada foi a de Outono/Inverno 2020.

Segundo o próprio criador, a mulher de Charles de Vilmorin é ”um pouco tímida, um pouco trash. Ela não sabe para onde quer ir mas vai. Ela é tímida e um pouco… Desajeitada”, conta ao Financial Times.

As estrelas do momento foram as jaquetas puffer de poliéster impermeável super coloridas que relembravam uma silhueta dos anos de 1980 com ombreiras super marcadas. Todas as peças são feitas a mão. A coleção de lançamento foi um sucesso, com suas criações usadas em editoriais por grandes revistas como Numéro China.

Desde o início, o designer apresenta sua visão extremamente criativa de forma ousada e direta. A identidade do que será a maison Charles de Vilmorin se deixou clara desde o princípio: cortes ousados e grandiosos, elementos artísticos (seja em cores, texturas ou cortes) e o ponto humano — todos os ítens são feitos a mão por um time pequeno de pessoas.

Mesmo com pouco tempo no mercado, o estilista foi convidado pela Fédération de La Haute Couture et de la Mode para participar da Semana de Alta Costura.

Ele traduziu sua visão criativa repleta de cores, formas e arte para o couture de forma extremamente natural. Para a coleção, Vilmorin pintou todos os tecidos à mão antes de serem costurados em suas formas finais. Tal técnica pode ser notada ao se aproximar das fotografias da coleção. As imperfeições, ou melhor, detalhes de uma tela pintada a mão são evidentes. A falta de simetria e pequenas manchas não contam como defeitos para a visão artística e proposta apresentada. O designer afirma que tira inspiração do familiar — de seus amigos. As linhas e traços menos que perfeitos passam a impressão do conhecido, confortável. O humano que se torna belo por ser único. 

A técnica demorada e delicada de Vilmorin está em tudo da coleção. As cores vibrantes e chamativas são combinadas com silhuetas igualmente espalhafatosas e dramáticas. Charles busca também inspiração na moda dos anos de 1960 com silhuetas familiares. Em uma coleção, Vilmorin carrega a mensagem mais constante em sua geração, a geração Z: a necessidade de encontrar beleza em tempos caóticos, ou ao menos esperar pelo belo e brilhante na linha de chegada. No fashion film, os modelos (amigos de Charles) são apresentados como verdadeiras obras de arte em movimento.

No início deste ano, o estilista apresentou sua terceira coleção — segunda de alta costura. Esta, no entanto, veio como uma grande surpresa por ter um enorme contraste com suas coleções passadas. Em uma coleção inteiramente preta, Charles de Vilmorin descreve a surpresa como apenas um mood.

As peças parecem terem sido tomadas por corvos e imaginadas pela mente de Tim Burton. O estilista, no entanto, mantém o caráter artístico com o uso de penas, cortes complicados (que por vezes lembram tentáculos) e grandes brincos dourados. A coleção de Outono/Inverno Couture parece, em sua maioria, extremamente teatral, com silhuetas pomposas e gigantes. O mood aqui se apresenta como oposto da coleção anterior, uma desesperança e medo do que o futuro aguarda.

Depois dela, o designer volta para sua visão colorida com a coleção cápsula exclusiva para 24 Sèvres — portal de compras de luxo online, pertencente ao conglomerado LVMH.

A perspectiva econômica por trás da indicação ao cargo na Rochas

A introdução de um jovem designer é, mais do que tudo, a tentativa de alcançar um novo público no mercado. As peças da coleção de Primavera/Verão 2022 serão vendidas por um preço mais “acessível” (com a variação de preços para vestidos entre €700 e €3000).

Hoje, a Inter Parfums é a proprietária da maison. O mercado de perfumaria gera para a marca cerca de €40 milhões — número que cresceu desde a compra em 2015. Segundo Philippe Benacin, CEO da Inter Parfums, o crescimento é creditado à introdução de perfumes voltados para o público jovem como Eau de Rochas, Mademoiselle de Rochas e Rochas Girl. 

A licença de todas as coisas fashion, no entanto, são administradas pelo grupo HIM. Esse mercado gera para a casa francesa cerca de €8 milhões, e a proposta é alcançar €20 milhões nos próximos três anos, a fim de equilibrar com o mercado de perfumes.

Para alcançar o objetivo, a marca planeja expandir seu espectro de vendas e apostar também no setor de sapatos e acessórios — segmento da indústria da moda que mais movimenta o mercado.

Rochas de Charles de Vilmorin

Fotos da nova visão artística da Rochas, divulgadas no instagram oficial da marca. [Montagem por Marina Bittencourt]

Para entender a nova Rochas é preciso entender a antiga. Marcel Rochas tinha apenas 23 anos quando fundou a maison, somente um ano mais novo que Charles de Vilmorin quando assumiu a direção criativa da casa. Na época, Rochas foi considerado o estilista da juventude. Indo contrário à grandes personalidades da época como Coco Chanel, ele apresentava silhuetas realmente revolucionárias para o tempo: vestidos bem estruturados com mangas bufantes, saias robustas e arquitetura impecável em suas criações.

Responsável pela criação de saias com bolsos e do casaco ⅔, Rochas tirava suas inspirações do feminino e da emancipação feminina. Suas roupas eram idealizadas com o corpo da mulher em mente. No pós Segunda Guerra, o estilista usou e abusou de peças e silhuetas que buscavam a liberdade e independência feminina. O designer faleceu em 1955 aos 53 anos.

Desde então, a maison passou por diversos diretores criativos. Obteve um breve retorno à glória com a direção criativa de Olivier Theyskens de 2003 até 2006. Na sua coleção de estreia e ao longo do seu tempo na marca, Theyskens apresentou uma visão um tanto parecida com a atual de Vilmorin, isto é, silhuetas grandiosas, dramáticas e inovadoras. Uma ousadia que remete ao fundador.

A Rochas de Vilmorin é, além de tudo, uma tentativa de rejuvenescimento da marca. Mas, também, é um retorno para as bases criativas e espalhafatosas da maison.

O debut do designer na casa francesa ocorreu com a coleção Resort 2022. Embora mais amenas, as silhuetas bufantes e peças estampadas já estavam presentes na chegada do novo diretor criativo. A mudança entre a Rochas de um ano atrás e a atual é gritante. A maison abandonou cortes simples e bem estruturados por silhuetas chamativas e arriscadas. Deixou os tons pastéis e neutros por cores chamativas e estampas psicodélicas.

É jovial, livre, despojada, chamativa, artística e ousada. O designer se preocupa em mesclar o passado e o presente, assim como o seu DNA e a herança da casa. Executa, com certo sucesso, o equilíbrio do jovem com o sofisticado.

Para a coleção de Primavera/Verão 2022 apresentada na Semana de Moda de Paris, Charles de Vilmorin trabalha em suas silhuetas espalhafatosas e complicadas, que são elevadas ao extremo com a escolha de estampas e tecidos igualmente dramáticos. Vilmorin quebra os padrões da marca e traz para a passarela estampas intrigantes com pinceladas do gótico e do punk. A abordagem jovial e chamativa carrega com peso o nome e proposta do novo diretor criativo.

O designer se preocupa com os detalhes. Exibe vestidos, calças e blusas trabalhadas com desenhos e recortes na passarela. Mesmo em looks sem toda a grandiosidade, Vilmorin se preocupa em deixar sua assinatura por meio dos sapatos — botas com franjas, metalizadas ou desenhadas em formato de chamas; tamancos metalizados; sapatos de salto alto cheios de cortes e cores —, brincos e outros acessórios.

O caminho traçado pelo estilista parece levar ao sucesso se conseguir manter e consolidar a identidade da casa. A coleção foi um primeiro gosto da nova era emergente. 

Tudo o que você precisa saber sobre a MFW

A semana de moda de Milão é uma das quatro grandes semanas de moda internacionais, mas também é reconhecida por ser uma das mais internacionais entre suas colegas — uma reverência à qualidade do trabalho manual e artesanal de fazer roupas. Apenas perde para sua outra concorrente europeia (a PFW) quando o assunto é opulência e glamour. Milão é uma das cidades que não só respira cultura mas também a moda — que é um dos núcleos que fazem a cidade se mover.

Para a volta dos desfiles presenciais não era esperado nada menos que um grande evento, com desfiles e momentos memoráveis — porém lembrando que ainda não estamos ”de volta ao normal“: para entrar nos desfiles presenciais é necessário o comprovante de vacinação completa e o uso de máscaras é obrigatório.

Mesmo assim, com a ansiedade de ver os desfiles ao vivo novamente, o momento parece único. No último ano houve um grande movimento de democratização da moda, editores e convidados especiais ainda recebiam alguns presentes exclusivos como amostras de tecidos ou uma caixa inteira para explicar o conceito da coleção — sim, Loewe, isso é sobre você — porém praticamente o conteúdo que essas pessoas tão importantes viam era o mesmo que os pequenos amantes de moda que acompanhavam de casa. 

Muitos se apaixonaram ainda mais pela indústria dos sonhos, mas fica o pensamento de como isso vai se desenrolar nas próximas temporadas. As grandes marcas realmente vão esquecer do enorme público digital e deixá-los sem fotos até que um certo app consiga colocá-las, horas depois da apresentação? A prática de manter a moda como uma atividade velada a que poucos têm acesso ainda é uma estratégia (notavelmente utilizada por Daniel Lee na Bottega Veneta), mas isso tem algum lugar claro no mundo globalizado de hoje?

Imagens dos desfiles comentados da MFW, todas as fotos retiradas do Vogue Runway ou dos sites oficiais das marcas.

Dia 1 – 22 De Setembro 

Começamos o primeiro dia da Semana de Moda de Milão com o primeiro desfile presencial de Kim Jones. Desde sua estreia na Fendi em janeiro de 2021, existia um problema claro na visão da marca pelo diretor criativo: apesar de apresentar roupas femininas agradáveis ao olhar, o acabamento e qualidade de seu trabalho não traduzia o verdadeiro histórico da marca, com silhuetas interessantes mas que ao sair do papel pareciam tão rígidas quanto blocos de mármore italiano — já que a Fendi é uma casa tradicionalmente romana.

A inspiração e homenagem ao trabalho do famoso ilustrador dos anos 60, Antonio Lopez, não foi uma decisão meramente simbólica da história do artista com a marca, e sim um movimento calculado que trouxe um novo espectro do trabalho de Kim Jones para a coleção. 

Ele precisava de leveza, suavidade e diversão em suas roupas, e quem é melhor para isso que um artista com o trabalho ligado diretamente a formas repensadas e cores vibrantes? É uma colaboração de referências. Muito depois de seu falecimento, o trabalho de Lopez ainda tem o poder de inspirar e fazer mudanças estéticas no trabalho de um grande designer.

A jornalista Cathy Horyn fala com Jones para seu artigo sobre a coleção. O designer admite que ainda está se adaptando ao trabalho que não é mais sobre ele e sim sobre uma marca com uma enorme história por trás, e cita como o trabalho que admira de Antonio Lopez o ajudou a encontrar a harmonia necessária para execução da coleção.

É possível dividir em três partes a coleção da Fendi: a primeira sendo de momentos monocromáticos em branco, com uma ótima alfaiataria (que é uma das melhores qualidades confortáveis do trabalho de Jones) é uma mistura de cores naturais como marrons e estampas em peles, em que já conseguimos detectar o trabalho de Antonio Lopez; então chegando aos alegres e vibrantes vestidos fluidos que parecem algo diretamente do armário da Bianca Jagger nos anos de 1970, com estampas diretamente do arquivo do artista na época; a última parte é completa por looks que possuem uma renda preta com o próprio padrão do tecido sendo uma obra do artista, semelhantes a beijos de batom vermelho no papel.

Fomos do branco que é representativamente a junção de todas as cores com uma apresentação do bom trabalho de Jones em produzir alfaiataria, para uma ótimo momento colorido e vibrante com vestidos fluidos e divertidos, alguns momentos em cetim e peles que são texturas famosas dentro da Fendi, terminando a coleção com preto que é justamente a ausência de cor mas em harmonia com looks de renda delicada. Em geral, é a melhor coleção que foi vista de Kim Jones em sua trajetória para a Fendi até hoje, com momentos que fazem jus a história e trajetória da marca, uma inspiração forte e emocionante de arte dentro da moda e uma mudança bem-vinda nas silhuetas e modelagens de seus designs.

Ainda com inspirações fortes da década de 60, Vivetta Ponti entrega uma incrível apresentação de patinadores de gelo vestindo as peças para uma produção dentro do esporte, uma demonstração de energia, suavidade e movimento da vestimenta que Ponti pretendia transpassar.

Com uma enorme inspiração do filme Barbarella (1968), um ícone da onda futurista na moda da época com Jane Fonda como protagonista e Paco Rabanne fazendo parte da produção de figurino, o filme é um clássico dos amantes de moda. Apesar da referência clara à moda de 1960, Ponti teve um espaço para uma versão mais experimental, futurista e sensual do que a que Barbarella representa. Um espaço que não foi tão bem executado durante a pesquisa de referência…

A coleção de Primavera/Verão 2022 de Alberta Ferretti deixa claro um jogo entre ambiguidades que podem trabalhar juntas em uma coleção. É uma temporada definitivamente feminina, com uma sensualidade que se aproxima muito mais do imaginário feminino de sexy — ela explicou na apresentação que percebeu uma grande ansiedade de voltar a se vestir para sair novamente. 

As roupas variam entre modelos mais casuais e boêmios com texturas, macramê e crochê em tons terrosos e neutros como duas chaves principais desta parte da coleção. Depois, passamos por vestidos em tons de joias vibrantes, com bordados em pedrarias e técnicas diferentes para a marca. Uma característica mantida por toda a coleção que trouxe a harmonia entre esses dois estilos foi que todas as escolhas de modelagens e tecidos são leves e fluídos, perfeitos para o verão europeu.

Segundo as entrevistas de Alessandro Dell’Acqua sobre sua coleção na diretoria criativa da NO.21, o designer deixa claro que tem uma paixão ardente por positividade corporal e que sempre acreditou no poder da expressiva e sensualidade na quase nudez — mas ainda sem glamourizar ou ostentar o corpo em si. Ele disse no backstage para a jornalista Tiziana Cardini: “Não gosto do que é abertamente provocativo”.

Realmente, Dell’Acqua apresentou uma coleção com muita alusão a pele à mostra, desde os tons utilizados nas roupas até a forma que foram desenhadas (alguns looks com adoção de tecidos quase transparentes e com recortes marcantes). 

É indiscutivelmente complicado falar de uma coleção ligada à positividade de corpos sem diversidade dos mesmos. Apesar de Dell’Acqua ter feito um bom trabalho nessa versão de sensualidade despretensiosa, essa falta de diversidade em conjunto ao culto ao corpo deixa um amargor na boca. Os designs mais simples que fecham a coleção são os melhores executados, e as vestimentas mais trabalhadas ficam perdidas no meio da coleção.

A nova coleção de Jil Sander assinada pelos diretores criativos Lucie e Luke Meier é um desenvolvimento aberto da história e trajetória da marca em uma nova direção. 

Uma reorganização do próprio conceito minimalista, com decisões expressivas durante a coleção — como cores mais vibrantes, adoção pelo estilo oversized como referência de silhueta, crochês e até algumas estampas florais mais fluídas entre os designs. Em geral, pode ser denominada como um grande sinônimo de classe, elegância e talvez o mais importante: inovação dentro da estética minimalista.

Fausto Puglisi apostou — mais uma vez — na sensualidade e no mundo exótico em sua coleção de Primavera/Verão 2022. Suas novas criações contam com peças portando estampas de animais (onças, tigres e zebras) e cores que remetem ao mundo selvagem. Ítens em cores vívidas, luminosas, com brilho e silhuetas bem marcadas também marcam presença — dão um toque de exuberância à sensualidade que está sempre presente na história e no imaginário da Cavalli. 

É uma coleção que olha claramente para o período de ouro da marca nos anos 2000. Com silhuetas familiares de recortes na barriga e costas, com bordados, strass e suas formas provocantes. A Cavalli de Puglisi parece pronta para reviver grandes momentos sensuais da casa.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Fendi, Vivetta, Alberta Ferrareti, No.21, Jil Sander, Roberto Cavalli, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

DIA 2 – 23 de Setembro

Começamos o segundo dia com uma coleção concisa e confortável da Max Mara, uma visão contemporânea da consumidora da casa. Aos passos que voltamos lentamente ao “novo normal”, marcas se posicionam ou para a opulente faceta de anseio festeiro; ou como o diretor criativo Ian Griffiths da Max Mara estabeleceu, “uma ligação a uma nova forma de vestuário de trabalho”.

Com elementos da alfaiataria clássica e precisa que a marca é reconhecida mas com silhuetas retas que se preocupam com o conforto e uma paleta de tons neutros, relembra uma sofisticada musa da marca que ainda gosta de se sentir confortável e jovial.

Veronica Etro trás sua visão de Primavera/Verão farta em estampas, cores e peças de crochê. Em um cenário hippie, as roupas trazem elementos que remetem ao movimento do início dos anos de 1970, mas claro, com toques e releituras modernas. A diretora criativa conta para o jornalista Luke Leitch que encontrou um período de felicidade e reencontro espiritual através das práticas de yoga e meditação durante a quarentena que também encontra com o movimento hippie da década de setenta.

Como esperado de Etro, os adornos e styling da coleção são, como um todo, o perfeito balanço entre uma estética despojada e a marca de alta moda com clientes boêmios que ainda precisam do meio termo entre o frugal e o sofisticado.

A coleção da Emporio Armani marca o aniversário de 40 anos da casa. Em um desfile que junta a moda feminina e masculina, Giorgio Armani apresentou um trabalho extremamente familiar: looks de alfaiataria clássica em cores neutras e silhuetas sóbrias, com uma junção de uma estética Italiana estilosa mas datado como antiga, looks que podem ser facilmente encontrados em suas coleções mais velhas no Armani Silos. Em 122 looks, a casa mantém a tradição de apresentar mais do mesmo com inúmeras referências a criações anteriores do designer.

Partindo para uma coleção que se destaca como diferente de todas as outras do dia, Blumarine de Nicola Brognano segue com suas referências e inspirações dos anos 2000 e transforma a sua musa em algo ainda mais sensual, com modelos com glitter pelos corpos, transparências e tops de borboletas. 

É fácil se apaixonar pela utopia Blumarine dos anos 2000 – o brilho e sua atmosfera rosa-Barbie transportam a maioria da geração Z à uma época feliz, sem preocupações (e comparando com o mundo sociopolítico, atual às vezes roupas podem ser o escapismo que precisamos).

Porém, o conceito dessa estética específica parece estar cada vez mais perdendo força nas mídias sociais – onde a tendência teve seu renascimento. Fica a pergunta: quantas vezes o mesmo conceito e modelagens conseguem ser reciclados por Brognano? Uma luz no final do túnel é que, com uma leve reorganização, é possível produzir a estética de maneiras e com referências diferentes.

Na MM6 Maison Margiela o clima foi de celebração às pequenas coisas: André Breton, Leonora Carrington e Claude Cahun buscaram transmitir a essência de peças simples mas com grande importância, como um aperitivo dividido entre amigos em um bar. A  comemoração vem para o retorno da vida gastronômica em Milão, a possibilidade de visitar bares e restaurantes depois de tanto tempo em pandemia. Uma clara referência a filmes de terror também, com balão na mão e roupa xadrez – quase uma reimaginação do personagem Pennywise, do clássico de terror ‘It’ de Stephen King.

Falando em celebrações em uma das inclinações da moda pós-pandemia, a GCDS traz a sensualidade e irreverência para a passarela. Com sapatos super plataformas, peças em crochê e tricô, e inspiração na praia e no mar, muitos dos elementos do desfile são os já conhecidos da temporada, mas com toques de ousadia e sensualidade. De bolsas com designs super futuristas até bucket hats de crochê, a coleção reafirma o presente e o que o futuro pode ser. Tudo isso, claro, sem perder a aura sexy da marca.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Max Mara, Etro, Emporio Armani, Blumarine, Margiela, GCDS, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

DIA 3 – 24 de Setembro

Walter Chiapponi parece ter encontrado uma visão clara para sua Tod’s. Fazendo menção a trajetória da marca como uma grande potência em couro e alfaiataria, ele mistura os dois para uma coleção bem trabalhada. Uma temporada mais ligada ao comercial e ser atraente para o consumidor fiel a qualidade da marca, e ao mesmo tempo em trazer novos clientes que querem diferentes silhuetas e texturas.

O designer também tirou uma grande inspiração da moda na década de 1960, principalmente do movimento Mod’s, silhuetas retas, vestidos minis são exatamente a mistura entre o sportswear e sofisticação com uma inspiração clara do filme O Vale das Bonecas de 1967, ele admite que tudo na marca é ligado diretamente ao sportswear mas em conjunto com uma decoração técnica que trás outro espectro da vestimenta.

O desfile da Missoni de Primavera/Verão marca a primeira coleção do novo diretor criativo – Alberto Caliri – ele apresentou uma sensualidade entre características claras da marca, como suas estampas de chevron em tricô, saídas quase de praia e muito glitter entre as tramas de tecido.

É uma coleção segura e apropriada, principalmente que remete aquele otimismo pós-pandêmico com ansiedade de voltar a grandes festas, a coleção é uma homenagem à vida noturna com um toque de adoração e apreciação pela marca.

Uma coisa é clara sobre as coleções da Sunnei – Simone Rizzo e Loris Messina gostam de um grande gesto – a coleção teve a atmosfera de uma enorme armazém, os dois brincam com diferentes formas de apresentação de uma coleção, foram conhecidos pelas modelos CGI e outros tipos de realidades virtuais para seus shows digitais.

Em sua apresentação física não passa muito longe, um show de luzes e sons e os convidados de pé, a coleção apresentou composições, texturas e brincadeiras com volumes e proporções diferentes que parece ser uma das maiores características da marca.

Eles trouxeram uma nova ornamentação dentro do minimalismo contemporâneo da Sunnei fez a diferença na coleção com franjas e bordados, que deram um movimento necessário a modelagens quase estáticas e duras. Um dos exemplos de como um bom adorno e styling podem mudar o sentimento da coleção.

Entramos em mais um capítulo entre a história colaboração entre Miuccia Prada e Raf Simons, a coleção teve uma dupla apresentação em Milão e Shanghai. A ideia de apresentação vem em conjunto com o otimismo pós-pandêmico que tanto é visível nessa temporada por inteiro, aqui os dois designers se juntam para explorar todas as possibilidades possíveis que o novo mundo aguarda – novos talentos, ideias, valores – é uma experiência global, assim como nosso mundo ficará cada vez mais globalizado através do tempo.

Entre as roupas polidas e bem ajustadas, uma das características mais intrigantes da colaboração é como conseguimos ver momentos importantes da trajetória criativa de ambos designer em um mesmo look, referências claras do trabalho de Miuccia Prada nos anos 90 – principalmente da coleção “Ugly chic” de Spring Summer 1996 em conjunto a jaquetas gastas de motocicleta que lembram uma grande coleção de Raf Simons de Fall 2001 a “Riot Riot Riot”.

Ainda é Prada, tudo isso é unido em um equilíbrio clássico entre roupas sofisticadas e femininas, com uma sensualidade velada não abertamente exposta, Miuccia escreveu nas notas do desfile: “Nós pensamos em palavras como elegante – mas isso parece tão antiquado.  Na verdade, trata-se de uma linguagem de sedução que sempre leva de volta ao corpo.  Usando essas ideias, essas referências a peças históricas, a coleção é uma investigação do que elas significam hoje.”

Em geral, mais uma boa coleção de ambos e ver e acompanhar a parceria dos dois têm sido uma experiência única de entendimento e concordância entre dois grandes designers contemporâneos.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Tods, Missoni, Prada, Sunnei, Versace, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

DIA 4 – 25 de Setembro

Massimo Giorgetti presta homenagem à cidade de Milão em sua coleção de Primavera/Verão, não é a primeira vez que é possível tirar inspiração da cidade nas coleções da marca. Mas nessa é um pouco mais específica ele olha para o espectro da metrópole italiana na década de 1980, um tempo energizado por criatividade e possibilidade de renovação nas comunidades culturais e artísticas.

É uma versão bem editada da MSGM com peças animadas, cores vibrantes de verão e entrando também a previsão do sexy e da pele à mostra que foi vista durante toda a temporada.

Alicia Keys abriu o show virtual da Moncler. Mostrando a criatividade de não um, mas onze estilistas parceiros da marca como JW Anderson e Veronica Leoni. O show é transicional entre New York, Seoul, Tokyo e Shanghai. Com displays imaginativos e interagem com formas de arte diferentes – dança, filme, música, moda – muitos com oportunidade interativa.

Desde a saída do diretor criativo Paul Andrew em Janeiro deste ano, a Salvatore Ferragamo se encontrou em uma mudança de cadeiras durante esse meio tempo.  A transição do novo CEO da marca Marco Gobbetti é esperada para começar durante esse mês, e o designer Guillaume Meilland, que tem sido o designer de Menswear da marca e se aventurou na temporada principal.

É difícil comparar com o último desfile de Andrew, com referências da história da marca como a plataforma arco-íris produzida para Judy Garland com uma apresentação digna de um filme Sci-Fi. Mas deu um ar de juventude necessário para a marca, a estreia de Meilland foi exatamente ao contrário, olha para uma tradição sofisticada e antiquada de pensar da marca com silhuetas quadradas, esportivas e cores neutras.

Essa coleção foi um pouco mais emocional para a Giorgio Armani, foi o aniversário de 40 anos da marca e voltamos às suas origens em um desfile intimista com trilha sonora marítima vimos o azzurro (azul-claro) da marca e  modelos sorrindo como se estivessem na praia. De uma progressão de peças brancas e marinhas à acinzentadas, azuladas e cada vez mais leves.

E vestidos de festas em tule e cristais azuis, rosas e roxos pastéis quase etéreos, com uma execução digna da celebração da marca, com silhuetas extremamente familiares, de coletes com saias de tule, até blazers com lenços nos pescoços tudo gritava Giorgio Armani no coração de seu trabalho.

Apesar de existirem tendências que já são possíveis de compreender desta temporada como a sensualidade, o culto ao corpo e o anseio pela abertura da vida novamente, uma também é bem clara: muitas marcas tiraram um período introspectivo para olharem suas trajetórias e histórias e referenciarem isso de alguma forma em suas coleções. 

Bem, aconteceu exatamente ao contrário na Philosophy di Lorenzo Serafini: em uma completa reviravolta da sua coleção de Outono/Inverno de 2021 (que tinha como centro o estilo preppy em uma homenagem a alunos escolares que perderam parte de sua experiência acadêmica), sua Primavera/Verão decide olhar para uma linha quase de lingeries. O designer explicou nas notas do desfile que era sobre o poder do movimento, querer mostrar mais pele e um renascimento da vida. É meio difícil se concentrar nisso quando estamos olhando para designs que são uma mistura entre toureiros espanhóis, o grunge de Los Angeles e florais diretamente saídos da Urban Outfitters.

Foi uma coleção confusa, muito menos refinada e sofisticada dentro do tema de escolha do que sua predecessora. Marcas estão focando em referenciar a própria história como um toque poderoso de reafirmar sua identidade visual. O que leva as perguntas: quem é a mulher Philosophy? Ela mudará com a marca a cada temporada? 

Em sua apresentação da coleção de Primavera/Verão 2022, Francesco Risso deu um verdadeiro espetáculo: nos dias que antecipavam a coleção da Marni, o designer organizou mais de 400 provas de roupas. Não recebemos uma coleção de 400 peças, mas sim uma prova que voltar para a prática dos desfiles presenciais é um privilégio que deve ser aproveitado ao máximo – todos os convidados vestiram roupas feitas pela Marni.

Além disso, foi o primeiro designer da temporada a falar sobre as injustiças sociopolíticas que tanto foram conversadas nos protestos do Black Lives Matter em maio de 2020. A indústria da moda disse querer mudar e virar uma aliada ativa do movimento, mas é a primeira vez que falamos disso no mês da moda – na penúltima semana. 

Risso teve um time incrível de apoiadores para ajudá-lo com o conceito e execução de toda a coleção: “Dev Hynes foi o responsável pela música, o poeta Mykki Blanco fez uma performance de palavra falada, e a cantora Zsela foi acompanhada por um coro celestial.  Nas notas do programa, Babak Radboy, que é conhecido por seu trabalho com Telfar Clemens, compartilhou a direção criativa.  O elenco tinha a diversidade racial, a inclusão corporal e a fluidez de gênero que se tornaram a norma na Nova York de Telfar.  “Finalmente, Milan acordou”, disse um colega no caminho para a porta.”. São roupas utilitárias, versáteis e esteticamente alinhadas com a marca que carregam um significado simbólico. 

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: MSGM, Moncler, Salvatorre Ferragamo, Philosophy di Lorenzo Serafini, Giorgio Armani, Marni, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

DIA 5 – 25 de Setembro

Começamos o último dia com uma apresentação digital em meio a um armazém abandonado e pichado, com Dean e Dan Caten como anfitriões da nova era grunge chic da Dsquared2 que eles apresentaram em sua coleção de Primavera/Verão 2022.

A atmosfera ajudou a dar o tom principal da coleção, sendo citada pelos designers como sua versão de grunge vindo diretamente de Milão. Estéticas opostas se atraindo pela construção dos looks em si, desde jeans desbotados e peças que parecem quase inacabadas até momentos claros de noites opulentes são ambiguidades apresentadas durante toda a temporada da marca.

Segundo o relatório de vendas da LVMH do primeiro semestre de 2021, parece que a Emilio Pucci conquistou os corações das gerações mais novas… Com suas estampas psicodélicas  e vibrantes em seda pura até seus looks minimalistas e sensuais como apresentado nesta última coleção pela nova diretora criativa Camille Miceli, a marca entende a demanda de uma aproximação dos designs com uma estética mais da vida noturna jovem, harmonizando o ideal moderno com a história e características claras de cada.

Mas a cereja de toda a semana foi o evento que prosseguiu com o encerramento, um dos segredos mais bem guardados de Milão que começou a virar um rumor no meio do evento: a colaboração de designers entre Versace e Fendi. Donatella Versace, como diretora criativa da marca, pegou a tarefa de reinterpretar elementos da Fendi; e Kim Jones, o diretor criativo, da Fendi assumiu o trabalho de dar sua reinterpretação a Versace.

Um evento recheado de celebridades (nos assentos e na passarela), Fendace realmente fechou Milão com chave de ouro com uma verdadeira mistura de logos. Porém, essa não é a primeira vez que vemos a colaboração de dois grandes designers de marcas diferentes juntos: tivemos no meio do ano a “Gucci Area” caracterizada por um hacking da Balenciaga de Demna Gvasalia.

Em Gucci, conseguimos ver uma harmonia na história e logos das duas casas. Foi uma experiência para trazer um público adorador da logomania? Sim, mas foi possível ver claramente o que era referência à Gucci e o que era Balenciaga. O que não aconteceu em Fendace, qual parecia apenas que o brasão da Fendi havia sido adicionado a alguns designs da Versace. Os acessórios, que são o maior caminho de consumo de luxo, foram muito melhor pensados.

Na pós-modernidade, com tantos meios de comunicação e tanta informação sendo bombardeada a cada minuto, não é muito longe se fazer o questionamento do porquê essas colaborações aconteceram; se estamos todos virando reféns de momentos virais e qual a verdadeira consequência disso refletida na qualidade do trabalho.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Emilio Pucci, DSQUARED 2 e Fendace , retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

Tudo o que você precisa saber sobre a LFW

Como parte do Big Four — as quatro grandes fashion weeks internacionais — Londres têm uma grande importância para o mercado internacional, mas é principalmente reconhecida por suas inovações criativas e designers fora da curva.

The British Fashion Council, uma organização sem fins lucrativos com a intenção de impulsionar a moda britânica, foi criado em 1983 e a London Fashion Week oficialmente abriu suas portas em 1984.

A cidade é o berço das revoluções contracultura: Mary Quant levantou as bainhas das saias em seus vestidos coloridos e retos para vestir os Mods em 1960; já na década de 1970 a BIBA se tornou um ícone entre lojas de departamento do mundo inteiro; no primeiro ano de LFW, em 1984, um jovem e recém-formado John Galliano faz seu desfile de inauguração; Alexander McQueen faz sua estreia em 1992 e segue em ser um dos estilistas mais importantes na história da moda moderna.

O impacto cultural que a moda da cidade tem é indiscutível. Existem duas Londres dependendo do seu ponto de vista: a Londres fechada e com títulos, que leva extremamente a sério seu legado em uma alfaiataria precisa, com cortes e silhuetas praticados a perfeição; e a Londres experimental e artística, a qual abraça os seus recém formados alunos de moda e impulsiona as tentativas e ideias diferentes. Apesar de grandes perdas devido a pandemia na cidade, um dos maiores valores do evento são justamente os novos jovens criativos, que fizeram parte desta temporada.

A semana começa com um dia cheio de comemorações — afinal, estamos no tão esperado pós-pandemia no hemisfério norte — como a festa de Onitsuka Tiger com a revista Dazed e o evento de graduação da Condé Nast College. A maioria dos eventos foi privado para convidados e por isso começamos a cobertura da Frenezi, a qual você também pode acompanhar em tempo real em nosso Instagram, com o segundo dia onde tiveram início de fato a apresentação de coleções.

Imagens dos desfiles comentados da LFW, todas as fotos retiradas do Vogue Runway.

DIA 2 – 17 De Setembro

Começamos o primeiro dia de coleções com uma emocionante apresentação em Halpern, onde o designer Michael Halpern relembra momentos emocionantes de sua infância quando conseguia observar de perto os ensaios do Centro de Artes de sua cidade. Ele conta para o jornalista Anders Christian Madsen uma memória de sua mãe vendo ele entrar por baixo dos tutus ainda pequeno para entender como eram feitos.

A apresentação da coleção foi feita por meio de um emocionante e belo número de ballet filmado no Royal Opera House com bailarinos-estrelas da companhia como Fumi Kaneko, Sumina Sasaki, Sae Maeda e Leticia Dias, para citar alguns nomes. Uma rara colaboração entre o ballet e a moda elaborada da melhor forma possível, apesar de algumas silhuetas opulentas que é costume por parte da Halpern, como o vestido globo e o macacão de paetês que fizeram sucesso nas últimas temporadas. 

Talvez o verdadeiro triunfo desta coleção sejam as roupas que parecem ser feitas para serem apreciadas em movimento, de vestidos em seda com cores e padronagens pensadas para a apresentação, franjas bem posicionadas, fendas que acompanham os corpos das dançarinas, saias rodadas e tecidos que parecem quase flutuantes… É uma coleção que definitivamente desafiou o ateliê da marca, a confecção da vestimenta em si foi muito bem executada.

Quando se fala do legado de Londres como uma das semanas que apoia jovens criativos, experimentais e irreverentes, o nome que vem à mente é Matty Bovan. Essa coleção leva o título de Hypercraft e começou com arquivos de imagens da família do designer nos anos de 1970. De crochês da vovó a papel de parede retrô, até uma inspiração clara do cenário usado no filme O iluminado (1980). 

Entre silhuetas desconexas e tecidos diferentes, até a forma que a coleção é filmada e fotografada realmente faz uma imersão total do trabalho de Bovan, e talvez por isso ele ainda prefira os meios digitais para apresentar suas coleções — uma aproximação maior entre o público e o conceito da coleção.

Falar de LFW sem Vivienne Westwood é quase imoral. Durante os últimos anos houve uma redescoberta da trajetória de Westwood pelo público jovem, principalmente pelos amantes de peças vintage. Durante suas últimas coleções, ela também percebeu essa nova preferência nascente do seu próprio público e tornou sua linha principal uma forma de reviver essas coleções, se ajustando a iniciativas sustentáveis para sua marca.

Nesta coleção há, principalmente, referência a sua temporada histórica de Primavera/Verão de 1998 Tied to the Mast (Amarrados ao Mastro, em português), uma coleção quase de fantasia que olha para a história dos piratas ingleses no século XIX e todos os contos e conceitos entre essa estética marinha punk, a qual foi traduzida para um consumidor contemporâneo com modelagens famosas principalmente entre a nova geração: plataformas, jeans largos, corsets repensados, os famosos colares de pérolas e bolsas mini.

Nensi Dojaka é uma nova e emergente designer que na temporada passada estava nas plataformas da LFW em intermediação com o coletivo do Fashion East. Com a sua iminente vitória no prêmio da LVMH — um dos mais ansiados por novos designers na indústria hoje — ela escolheu uma coleção segura, e mostrou exatamente o ponto forte de seu trabalho, afinal é sua primeira semana do evento com seu nome, de fato.

O look de Dojaka já conquistou celebridades e amantes durante a última temporada, com sua silhueta sexy, transparências e recortes que modelam o corpo em formas e sentidos diferentes do comum. Porém, após o lançamento de sua coleção, muitos críticos e comentaristas de moda em geral se perguntaram se as roupas da designer seriam bem traduzidas para pessoas com corpos diferentes do padrão de modelos — essa é uma dúvida que entra na questão do próprio potencial de comercialização da nova marca.

David Koma teve uma ascensão grande durante o último ano também, vestiu celebridades como Beyoncé, Jennifer Lopez, Cardi B e em eventos mais recentes Madison Beer. Suas roupas party-friendly com fendas sexys, aplicações em glitter e proporções mini conquistaram uma boa base de clientes, fazendo seu negócio crescer exponencialmente.

Mas essa coleção é no mínimo uma confusão dentro de estéticas e modelagens trabalhadas pela marca anteriormente. Koma disse em sua apresentação que era como casar a moda praia e o Old Hollywood glamour e, sinceramente, seria um conceito mais claro e conciso entregar glamour Hollywoodiano de uma forma que se aproximasse da sua estética própria dentro do conceito por inteiro.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Halpern, Matty Bovan, Vivienne Westwood, Nensi Dojaka e David Koma retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

Dia 3 – 18 De Setembro

O caso de Sarah Everard foi um momento decisivo para discussões de feminicídio e direitos da mulher no Reino Unido. No mesmo mês do assassinato, num evento na House Of Commons, o ministro britânico do trabalho Jess Phillips leu uma lista surpreendentemente longa de casos ocorridos no último ano e o nome de Sarah apareceu como um símbolo de luta.

A designer Yuhan Wang sentiu uma forte ligação com os movimentos da causa sociopolítica, que a inspiraram na criação de sua coleção de Primavera/Verão a tomar o termo “feminilidade” como sinônimo de força misturando vestidos que são o espelho do feminino ideal em seus babados, tecidos fluidos e estampas florais com cores pastéis com o peso dos acessórios de couro, passados por cima das peças parecendo um boldrié. A coleção da designer é uma carta aberta para uma discussão sobre a força feminina.

Palmer Harding também fez sua aparição na data, apresentou sua temporada de Primavera/Verão por meio de uma sessão de fotos disponibilizadas online. É uma coleção segura e atraente para seus clientes, o que não é possível criticar depois de um ano conturbado para pequenas marcas. 

A qualidade de sua alfaiataria nunca fica velha, a valorização do corpo por meio de modelagens precisas. É o que ele deixa claro para quem está desenhando suas roupas, apesar de que as vestimentas em tecido metálico são uma boa nova adição para uma coleção clássica e minimalista.

Charlotte Knowles e Alexander Arsenault agora assinam juntos a direção criativa da KNWLS, e nesta coleção decidem explorar o termo “adrenalina” com a ansiedade e felicidade dos desfiles presenciais estarem voltando para a cidade de Londres. O desfile foi descrito como uma experiência amplificada ao vivo, com luzes, som alto e um parque de carros perto da estação de metrô Oxford Circus como uma atmosfera industrial e longa para o desfile.

Grandes marcas registradas da casa — como bustiers que marcam a cintura, calças de tecido quase transparente com recortes e a mistura de roupas de baixo com roupas de sair — seguem como tradições, mas o verdadeiro triunfo acontece na harmonia de diferentes referências e inspirações dentro de uma coleção.

Molly Goddard passou por uma grande mudança desde sua última coleção, agora é mãe e isso é claramente uma nova inspiração em seu trabalho criativo. Sempre foi possível perceber uma apreciação por símbolos denominadamente infantis no trabalho de Goddard (seu vestido assinatura é uma versão de um que tinha quando era pequena). Agora é possível ver referências principalmente a roupas de bebês, em tons brancos e rosas pálidos, em conjunto com um apelo mais utilitário e versátil que não é possível enxergar nas últimas coleções.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Yuhan Wang, Palmer Harding, KNWLS, Molly Goddard retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

Dia 4 – 19 de Setembro

Rejina Pyo é também do time de novas mães da London Fashion Week, mas ao contrário de Goddard, a designer se encontra confortável em silhuetas mais sensuais e descoladas. Pyo citou para a jornalista Sarah Harris: Não acho que as mulheres precisam fingir que são fisicamente tão fortes quanto os homens;  tudo bem ser gentil às vezes e aceitar isso. Eu não sei… talvez seja porque eu vou ter uma menina.”

Algo memorável do trabalho de Pyo é como ela compreende tendências fortes de hoje, mas seu trabalho não depende delas. Consegue captar a essência mas ainda assim entende como a mesma pode morrer a qualquer minuto. É quase como uma balança, difícil de utilizar: um pouco é bom para aproveitar o momento, mas não exageradamente para não ser dada como uma coleção datada. Normalmente o trabalho da designer é reconhecido por tecidos, estruturas e silhuetas mais rígidas, nessa coleção vemos uma suavidade — muito bem-vinda.

Erdem é uma das marcas londrinas que reverencia seu legado e trajetória em qualidade dos processos manuais de vestimenta e alfaiataria clássica por associações claras de tradições da casa, como a estamparia floral e maxi vestidos. A coleção também pontua o aniversário de 15 anos da casa. Erdem Moralioglu agora olha para a história da marca para mais do que os bordados de flores: é uma mulher que vive e trabalha além de seu tempo presente, misturando a história do vestuário inglês para ressignificá-lo.

Richard Malone entrega uma incrível e criativa coleção nesta temporada, com diferentes formas, silhuetas e trabalhos com tecidos bordados e plissados por toda a coleção. Deixa claro o esforço em conjunto do trabalho manual de seu time com o uso de diferentes materiais, como restos de couro providenciados em colaboração com a Mulberry. 

O desfile foi uma verdadeira obra de arte, em conjunto com sua atmosfera geral, apresentado no museu Victoria e Albert — reconhecido pelo seu instituto de figurinos — as formas circulares em formas de rosas no meio das roupas é homenagem a sua avó, que fazia essa técnica com tecidos para comemorar as vitórias da Associação da Atlética Gaélica.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Rejina Pyo, Erdem, Richard Malone, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

Dia 5 – 20 de Setembro

Simone Rocha é um dos nomes mais esperados da LFW atualmente. Ela conquistou um público fiel com seus vestidos volumosos de tule entre jaquetas de alfaiataria reconstruídas. Na última temporada, foi possível ver um pouco do aspecto romântico e a suavidade feminina de Rocha se mesclando com o peso de peças de couro e acessórios em tons fortes. Esse inteligente balanço se mantém firme durante a coleção, somado a outro novo estímulo: o início de sua maternidade.

Não é de hoje que designers usam movimentos em suas vidas como inspiração. Num trabalho majoritariamente criativo, as referências e inspirações pessoais de cada artista sempre aparecem. Vestidos de tule, jaquetas de couro, bolsas de pérola, sutiãs de maternidade bordados em cristais e pendentes surgem para homenagear tarefas diárias de novas mães.

É uma homenagem à sua nova perspectiva, o olhar por outros olhos enquanto ainda entende a essência principal de seus designs anteriores que fizeram o nome da marca crescer e se tornar indispensável para a semana de moda londrina.

Supriya Lele é a última da semana que nos promete uma releitura do que é sexy, com tecidos quase transparentes em conjunto com um tipo de trama em rede e strass por cima de maiôs e tops.

E falando em previsões que nasceram nessa semana, Roksanda — assim como Richard Malone — se aventura em diferentes formas e tecidos para criar roupas que se assemelham a verdadeiras obras de arte. Similar a Halpern, suas roupas foram apresentadas numa imersão entre vestimenta e movimento, utiliza formas criativas e cores vibrantes para amplificar a experiência como um todo.

O Fashion East sempre apresenta incríveis novos designers para a LFW. Nensi Dojaka foi participante do projeto até uma temporada atrás, antes de ganhar o prêmio LVMH. Outro grande designer independente da plataforma é Maximilian, com criações que já foram utilizadas por personalidades importantes na indústria como a modelo Naomi Campbell. 

Ele realmente se inspirou em aproveitar o verão da melhor forma possível, com roupas que lembram a água e o oceano — muitos tecidos molhados cintilantes e macacões que se assemelham a maiôs. Maximiliam também entende a necessidade comercial, mistura técnicas de alfaiataria clássica em vestidos com recortes precisos, tecidos semi-transparentes e blazers bem cortados como terceira peça em vários looks. Deixa claro que não há limitações para os seus talentos e que consegue transitar entre uma vasta categoria de consumidores.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Simone Rocha, Supriya Lele, Roksanda, Fashion east, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

Dia 6 – 21 de Setembro

Quando os desfiles digitais começaram durante o ano passado, muitas questões foram levantadas sobre as apresentações digitais por meio de fotos. Lookbooks parados em fundos brancos se tornaram um técnica batida e com ajuda da estética da marca em conjunto com um bom time criativo, há inúmeras versões de diferentes fotografias de coleções hoje.

No último dia do evento, Ashlyn foi uma das marcas a apresentar uma coleção que junta em perfeito balanço as formas geométricas e o estudo da costura contemporânea e moderna, pensada para uma mulher minimalista que também gosta de tomar riscos, tudo fotografado de uma forma criativa e inteligente para apresentar. 

Richard Quinn apresentou há pouco o que foi possivelmente o melhor fashion film que a indústria viu em muito tempo, com um ritmo musical, figuras de látex e uma construção de atmosfera sem precedentes. Essa coleção parece a irmã conservadora comparada à apresentada no filme de trinta minutos.

O designer se emocionou ao voltar a apresentar seus desfiles presencialmente na cidade de Londres. Não só seu otimismo com o futuro é notável entre a coleção, mas também um esforço de voltar às raízes de sua marca. Das estampas florais às silhuetas quase que de estátuas góticas, a coleção emana o nome de Richard Quinn.

Não tivemos a rigidez de suas segundas peles de látex preto ou muitas menções a seu estilo beirando o dominatrix, que deram lugar a looks cobertos da cabeça aos pés em enormes vestidos florais e sobretudos de spikes e couro. Essa coleção é a sua volta ao formato presencial de uma maneira quase reconfortante.

Por mais que não se pense na palavra conforto para explicar os designs de Quinn, há algo de aconchegante em ver um designer em sua cidade de origem depois de tempos conturbados, com estilos que são claramente assinaturas breves de sua marca e trajetória.

Desde os bordados maximalistas as silhuetas que não fazem muito sentido para um olho despreparado é, possível fazer uma observação sobre a temporada na capital britânica como um todo: todos estão emocionados e animados, com teorias transbordando de otimismo por estarem de volta aos desfiles presenciais, quase um grito de “não voltamos os mesmos dessa experiência traumática, mas estamos aqui e ainda fazendo roupas incríveis”.

Imagens dos desfiles da esquerda para a direita: Richard Quinn, Ashlyn, retiradas do site oficial das marcas ou da plataforma Vogue Runway.

A nova Blumarine é uma carta de amor para os anos 2000

Ontem (23), Blumarine apresentou sua coleção de primavera/verão 2022 e definitivamente não é destinada aos amantes do minimalismo clássico.

Mais uma vez, Nicola Brognano busca inspiração na moda dos anos 2000 e faz referência a ícones da moda da época: o vestido jeans usado por Britney Spears, o estilo de Paris Hilton, Victoria Beckham, Beyoncé, Fergie e outras grandes estrelas da década.

O maximalismo, drama, exagero e sensualidade são apenas alguns dos adjetivos cabíveis para a fantasia colorida Blumarine.

Blumarine X moda dos anos 2000.

Desde bandanas amarradas na cabeça até modelos cobertas de glitter, sapatos de bicos extra finos e peças carregadas de transparência; Brognano traz elementos chaves que fizeram o estilo Y2K. Desde sua estreia na marca, o designer se preocupa com a relação com as novas gerações, em representar não só o ontem como também o agora.

Desde o início da pandemia, o estilo foi adotado por jovens ao redor do mundo e popularizado por meio de redes sociais — principalmente pelo TikTok. A nostalgia pelos anos de infância e a volta de tendências de décadas passadas não é novidade, na década de 2010, com as crianças da década de 1990 chegando à idade adulta, pôde-se observar a volta de muitos elementos da década — desde séries e filmes até elementos no vestuário.

O padrão cíclico da moda é esperado e previsto, no entanto, as tendências devem se adaptar tendo em mente o contexto atual e o público do momento. Nicola Brognano e sua principal colaboradora, a stylist Lotta Volkova — fazem isso com maestria, fato que se comprova com a grande popularidade de suas coleções nas redes sociais. 

Para esta coleção, o designer apostou em peças em jeans, cintura baixa, vestidos com transparência e borboletas. Broganano reuniu uma paleta colorida e vibrante que abre portas para o mundo pós-pandemia e as esperanças de um futuro melhor e mais vivo. Blumarine representa a mulher jovial e ousada, o mini é extremamente mini e o maxi ainda é sexy por decotes ou transparência.

E, de acordo com as palavras de Lotta Volkova para Vogue, a nova Blumarine é sobre “Fadas militares. Garotas borboletas sensuais. Frívolo e divertido mood Y2K quando as redes sociais não estavam no horizonte. Rainhas de patchwork em jeans. Garotas trippy, psicodélicas e neons. Estampas jeans no tapete vermelho, bandanas no tapete vermelho. Sereias de cintura baixa.”

No momento, Brognano se preocupa em definir a identidade da marca, reutiliza algumas das cores da coleção Resort e silhuetas similares. No momento, as peças Blumarine sob o comando do estilista são facilmente identificáveis. Prova que o seu objetivo está sendo alcançado.

A borboleta — em cintos acessórios ou estampas — segue como mascote da marca, ícone prometido e protegido pelo diretor criativo da marca.

Confira os looks favoritos:

Assista o desfile (começa em 15:20):

A beleza londrina e sua obsessão por wet hair e lábios pintados.

A semana de moda de Londres de Primavera-Verão 2022 se encerrou nesta terça-feira (21), e trouxe ao público um perfeito equilíbrio entre as peças de vestuário e as técnicas beleza. Conhecida por suas alfaiatarias bem estruturadas e um acabamento impecável, a LFW sempre teve como principal característica a elegância básica de uma businesswoman. Entretanto, seguindo o modelo internacional de uma representação do que espera-se de um momento pós-pandemia, essa temporada veio repleta de looks mais ousados — muitos expressando essa essência através da beleza.

Assim como ocorreu em Nova York, muitos dos artistas que assinaram a beleza das coleções apresentadas na última semana trouxeram inspiração de tendências atuais na cultura pop. Com a volta do rock ao mainstream da música, muitos maquiadores apresentaram maquiagens com olhos carregados em cores escuras. Rebecca Wordingham, que assina a beleza do desfile de Eftychia, junto com Shunsuke Meguro — responsável pelo hairstyling — traz um contraste impressionante com a última temporada da marca, que foi caracterizada pela simplicidade de beleza. A dupla trouxe o elemento Rock ‘n Roll com uma enorme força, apresentando modelos com olhos inteiramente pintados de preto, wet hair e até mesmo cabelos extremamente desfiados.

Eftychia SS 22 RTW. Beleza por: Rebecca Wordingham e Shunsuke Meguro.
[Imagem: Beth Morrison/ Dazed]

As modelos do desfile de Supriya Lele também cruzaram a passarela com maquiagens ousadas, e a tendência do preto se repetiu. Lábios pintados de um vermelho quase-preto eram visíveis em diversas modelos, enquanto algumas continham a cor esfumada nos olhos. A beleza composta pela artista Hiromi Ueda trouxe um excelente equilíbrio entre as tendências de rock gótico na maquiagem e do wet hair produzido por Cyndia Harvey, com os recortes e as cores vivas das peças desfiladas.

Supriya Lele SS 22 RTW. Beleza por Hiromi Ueda e Cyndia Harvey.
[Imagem: Getty Images]

David Gillers e Ryon Arushima, que assinaram a beleza de Osman Yousefzada, também apostaram na técnica de wet hair e na maquiagem rock-grounge-gótica, optando por tons escuros metalizados nos olhos das modelos. Já no desfile de David Koma, o maquiador Pablo Rodriguez optou por manter uma maquiagem clean e deixar o hairstylist Cos Sakkas responsável por apresentar um wet hair (sim, de novo) que fosse o suficiente para completar a coleção. Já para a coleção de Simone Rocha, Cyndia Harvey utilizou o wet hair ornamentado com coroas e acessórios de brilho, como uma maneira de balancear os babados góticos das roupas apresentadas.

Seguindo a pegada dark das belezas apresentadas na semana de moda londrina, Thomas de Kluyver e Soichi Inagaki tomaram um caminho Western para complementar a coleção de KNWLS. Mesmo com aspectos mais apagados e peles nudes, os artistas ainda souberam como utilizar maquiagens de cores metalizadas em tons vivos e estilizaram os fios das modelos utilizando acessórios e penteados. Assim como algumas das coleções citadas acima, a dupla também optou por colorir inteiramente o lábio de algumas modelos com cores diferentes e metálicas.

KNWLS SS22 RTW. Beleza por Thomas de Kluyver e Soichi Inagaki.
[Imagem: Gabriel Gayle]

Seguindo o lado oposto da tendência Rock ‘n Roll vista em algumas coleções, Georgina Graham e Neil Moodie souberam mesclar elementos que poderiam ter saído da sociedade londrina no século XIV, de um hippie indo para Woodstock ou da personagem Jules, da série Euphoria. A coleção de Paul & Joe, apesar de repleta de diversos babados e estampas floridas, escapou de parecer um desfile de festa junina graças aos elementos de beleza que trouxeram pontos opostos aos looks. De maquiagens geométricas à chapéus estilo bonnet e óculos redondos do londrino mais famoso do mundo do rock — John Lennon — com fios soltos e naturais, a dupla responsável por essas escolhas soube destacar a beleza nesta semana.

Paul & Joe SS22 RTW. Beleza por Georgina Graham e Neil Moodie.
[Imagem: Reprodução Vogue Runway e Elle AU]
Yuhan Wang SS22 RTW. Beleza por Miranda Joyce e Teiji.
[Imagem: Reprodução Vogue Runway]

A beleza de Miranda Joyce e Teiji para a coleção de Yuhan Wang é outra que parece ter saído diretamente da temporada social de Londres – ou das telas de Bridgerton. Os cabelos presos em cachos feitos com o bom e velho grampo são ornamentados com acessórios claros e delicados, em contraponto com a maquiagem rebelde marcada por lábios vermelhos e delineados sombreados marcantes. Até mesmo as modelos parecem estar assustadas com o que está acontecendo, portanto vamos fingir que o intuito por trás dessa beleza foi expressar uma rebeldia com um conjunto de elementos que falharam em fazer sentindo quando combinados.

Diferente de quase todas as coleções apresentadas na Semana de Moda de Londres, a beleza no desfile de Richard Quinn foi extremamente clean, porém longe de ser básica. As escolhas feitas por Miranda Joyce e Sam McKnight consistiram em uma pele extremamente opaca, com sobrancelhas descoloridas e o mínimo de cor natural no rosto. Para enfatizar ainda mais essa escolha, os fios foram presos com (muito) gel para trás, e uma mecha central puxada separadamente serviu para trazer ainda mais foco ao rosto quase bizarramente nú. Essa escolha foi uma válvula de fuga para os exageros presentes nos designs apresentados, mas ainda sem perder a sua própria atenção.

Richard Quinn SS22 RTW. Beleza por Miranda Joyce e Sam MicKinght.
[Imagem: Reprodução Instagram @hairbysammcknight]