A nova onda de cosméticos sustentáveis

É possível afirmar que a sustentabilidade se tornou uma discussão muito presente em diferentes tipos de indústria. No mercado da beleza, entretanto, ela pode ser observada em diferentes esferas do processo produtivo: desde a coleta de matérias primas e princípios ativos dos produtos à embalagens. Desde que todas essas questões passaram a ser levantas, muitos consumidores começaram a exercer mais cuidado e preocupação na hora de escolher os produtos, sempre procurando por rótulos como “cruelty free” ou “vegan“.

Variedade de selos que podem ser encontrados em produtos de beleza sustentáveis.
[Imagem: Foto: Shutterstock/Alto Astral]

Mas afinal, levando em consideração a quantidade de etapas presentes na produção de cosméticos e produtos de beleza, o que define a sustentabilidade? Apesar de existirem leis nas Constituição Brasileira que regularizam a sustentabilidade em algumas etapas do processo de produção, não existem métricas e parâmetros específicos para estabelecer como as marcas devem realizar seus relatórios de sustentabilidade. “Por não existir essa métrica, a não ser em casos muito específicos, não existe essa para que uma marca possa, de fato, levantar a bandeira […] fica na base da boa vontade das empresas em retratar o que ela, efetivamente, está fazendo para tutelar para defender o meio ambiente em todos os sentidos, não só de flora e fauna“, afirma o advogado ambientalista, Dr. Édis Milaré.

Selo de sustentabilidade. Kylie Cosmetics.

De fato, é muito fácil levantar a bandeira sem estar exercendo a sustentabilidade da forma correta em todas as etapas do processo. A produção de cosméticos exige uma extensa linha de produção, e não é somente porque uma marca não realiza teste em animais — o que já é um impacto positivo no ambiente —, que ela seja inteiramente sustentável. Com o levantamento de tantas discussões ao redor desse tópico, cresceram os consumidores preocupados em consumir beleza de forma ética, consequentemente atraindo essa preocupação para dentro dessas empresas. A partir disso, até mesmo marcas que não levantavam essa bandeira passaram a repensar suas linhas de produção, como a Kylie Cosmetics, que se relançou no mercado como uma marca clean.

Para entender melhor quais são os processos de produção de uma linha de beleza, e como a sustentabilidade se encaixa, a Frenezi conversou com representantes da Hi Hair Care, uma marca de produtos de cabelo autodenominada sustentável. “As matérias primas são adquiridas de cooperativas que apoiam as comunidades ribeirinhas na Floresta Amazônica, fazendo com que a colheita nas palmeiras onde são extraídos os frutos principais, o Murumuru e o Cupuaçu, sejam feitas de forma legalizada e que fortaleça a economia local. Parte do lucro das vendas de toda a linha Hi é destinados a estas comunidades para que façam o reflorestamento em áreas desmatadas da Floresta. Todas as matérias primas utilizadas são certificadas pelo PEA e pela Associação  Brasileira de Veganismo, ou seja, não utilizamos nada de origem animal e nem que foi testado em animais em toda a cadeia produtiva. Para cada insumo produzido, 100% é reciclado e as nossas embalagens são livres de ftalatos. Os ativos são naturais, livres de corantes, sulfatos, petrolatos, parabenos e são dermatologicamente testados. Temos um sistema de tratamento de água para devolvê-la  para a natureza mais limpa do que recebemos.”

Saiba mais sobre a Hi Hair Care
[Video: Reprodução Youtube]

Apesar da sustentabilidade representar uma linha extensa de preocupações, muitas delas já são pré-estabelecidas pela legislação brasileira. De acordo com o Dr. Édis Milaré, existe uma regularização a cerca de todo o processo de descarte de embalagens e produtos farmacológicos, “quando eu falo de embalagens de medicamentos, por exemplo, há uma regulamentação bem recente de gestão, em que não só o consumidor mas também as empresas que manipulam produtos determinados produtos medicamentosos, têm a obrigação de recolher e dar a destinação correta para tal. Isso se aplica também à indústria de cosméticos e, evidentemente de perfumaria. Essa legislação é prevista na Lei Nacional de Resíduos Sólidos (1305 de 2010) e visa aumentar o tempo do ciclo de vida, tanto dos produtos, quanto das embalagens.

Apesar da Constituição Federal Brasileira, mais precisamente o artigo 225, parágrafo primeiro, inciso sétimo, vedar a proteção da fauna e da flora em territórios nacionais, o teste dermatológico em animais continua sendo legalizado no país. Entretanto, em 2008, foi estabelecida a Lei Arouca, como uma tentativa de regularizar tais procedimentos. “Essa lei (11.794) cuida exatamente de traçar procedimentos para usos científicos de animais da utilização científica de animais como essa utilização se faz para testes em animais de certos produtos sejam eles farmacêuticos seja o sejam eles cosméticos e perfumaria. Os Estados podem proibir a testagem, mas não podem impedir a comercialização ou impedir não não pode e impedir a comercialização ou exigir rotulagem depois do produto já ter sido testado”, explica o advogado.

O presente artigo trata da Lei Arouca e sua função como regulamentadora do Inciso VII, § 1o, artigo 225 da Constituição Federativa da República do Brasil. Os animais são amparados atualmente no inciso VII, § 1o, artigo 225 da CFRB/98, porém por se tratar de norma de eficácia limitada se faz necessário que leis infraconstitucionais regulamentem o dispositivo. A lei Arouca é a lei infraconstitucional regulamentadora, no que tange a vivissecção e estabelece procedimentos para o uso científico de animais. Porém, após se aprofundar no conteúdo da lei e sua eficácia na prática, foi possível identificar falhas graves na aplicação da lei, comprometendo a eficácia do texto constitucional.
(DALBEN, Djeisa; EMMEL, JOÃO Luís. A lei Arouca e os direitos dos animais utilizados em experimentos científicos. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI, 2013)

Ao que tudo indica, a legislação brasileira caminha em direção a uma regularização mais bem estabelecida dos princípios sustentáveis. Porém, independente disto, a demanda por produtos éticos — vinda principalmente da Geração Z —, tem sido responsável por colocar as marcas dentro dessa linha de produção. Com o foco em alcançar consumidores jovens e conscientes, a sustentabilidade se tornou um alvo para muitas marcas. Isso se potencializou após a viralização do curta “Save Ralph”, produzido pela Humane Society International, como um protesto global contra o teste em animais.

Curta “Salve O Ralph” dublado.
[Video: Reprodução Youtube]

Considerando que quase todo o marketing de uma empresa nos dias de hoje é direcionado para as redes sociais, a circulação de conteúdos relacionados ao curta estimulou um ativismo que teve como resultado novos consumidores preocupados com a procedência dos produtos. Essa corrida para conquistar tais clientes, além de impulsionar o processo sustentável em si, também foi responsável pela criação de produtos inovadores, encontrados até mesmo em estados pastosos e em barra, que aumentam o tempo de vida do produto e consequentemente, diminuem o consumo – e o descarte – excessivo, colaborando com todo o meio ambiente.

Produtos nas texturas pastosa e sólida, respectivamente.
Disponível em: Lola Cosmetics.

Renner lança sua primeira loja sustentável no Rio de Janeiro

A gigante brasileira entra na onda sustentável com a inauguração de sua primeira loja circular neste sábado (30) no shopping Rio Sul, na capital do Rio de Janeiro. 

O local foi totalmente renovado e o novo modelo de estrutura é baseado na economia circular, conceito que associa o desenvolvimento ao melhor uso de recursos e prioriza insumos mais duráveis e renováveis. A inauguração da segunda loja do modelo deve ocorrer no primeiro semestre de 2022 em Jacarepaguá, também na capital fluminense. 

“Assumimos o desafio de desenvolver no Brasil um projeto de loja até então inexistente no mercado e que mostra o que acreditamos ser o caminho para o varejo do futuro. A novidade está totalmente alinhada com a nossa sólida jornada ESG, que traz a moda responsável no topo desta equação”, explica o diretor presidente da Lojas Renner, Fabio Faccio, em comunicado.

De acordo com a diretora de Operações, Fabiana Taccola, o objetivo da iniciativa é se tornar referência no modelo circular no varejo. Conta em comunicado que o novo espaço vai potencializar a experiência do consumidor com iniciativas mais sustentáveis.

A abertura da nova loja é acompanhada de três coleções-cápsulas do “Selo Re” (identificação utilizada pela Renner para indicar seus produtos sustentáveis) produzidas com matérias-primas de menor impacto ambiental. 

Entre as peças lançadas estão: a nova edição de Re Jeans; a coleção Studio, com calçados feitos de lonita sustentável com sola de palha de arroz e peças com tingimento natural em tecidos reciclados, linho certificado e viscose e algodão responsáveis; e a cápsula Algodão Orgânico, feitas a partir do algodão cultivado e colhido de forma artesanal, sem uso de agrotóxicos.

Confira imagens da coleção Studio:

As preocupações ambientais e sustentáveis não se mantêm restritas às roupas, de acordo com o que é proposto pelo sistema circular, a loja inteira é construída com o foco sustentável. Para isso houve uma redução de matérias-primas na reforma. Em aço estrutural, a Renner deixou de usar 8,5 toneladas. Foram priorizados materiais mais sustentáveis, reciclados e recicláveis. E 94% dos resíduos utilizados na obra foram reciclados e serviram de insumo em outra cadeia produtiva.

A loja é abastecida por energia originada de fonte eólica. De acordo com o comunicado oficial da empresa, a emissão de CO2 equivalente evitada na construção e operação da loja, em um cenário de 20 anos, corresponde à restauração de uma área de 1,5 hectare de Mata Atlântica — o equivalente a plantação de 3 mil árvores no Parque Nacional da Tijuca por duas décadas. Além disso,  no dia a dia da loja, o consumo de água será cerca de 56% menor em comparação a empreendimentos tradicionais. 

Além disso, apresenta um novo conceito de arquitetura, seguindo os preceitos das certificações internacionais LEED (Lead in Energy and Environmental Design, ferramenta de certificação que busca incentivar e acelerar construções sustentáveis) e BREEAM (método de planejamento de projetos, estruturas e construções de forma mais sustentável. 

Todo o mobiliário da loja do Rio Sul foi desenvolvido de forma mais sustentável desde a origem, com preferência ao uso de materiais recicláveis e com a diminuição da quantidade de materiais utilizados — como por exemplo, houve uma redução de 37% na quantidade de MDF, além da eliminação no uso de vidro e pinturas.

A unidade abriga o primeiro Espaço Re, ambiente exclusivo dedicado às iniciativas de sustentabilidade da marca. Lá haverá uma seleção de peças com o Selo Re, que geram menor impacto ambiental em sua produção, e um coletor do Ecoestilo, serviço que dá uma destinação correta a embalagens e frascos de itens de perfumaria e beleza e peças de roupa em desuso. Haverá também um espaço Repassa (brechó online adquirido pela Renner) , onde ocorrerá a revenda de vestuário, calçados e acessórios.

Tecnologia, sustentabilidade e conscientização

A parte de conscientização também é uma preocupação da empresa, dentro da loja haverá painéis de LED e placas explicativas distribuídas pelo local, com QR codes que vão guiar os clientes dentro do universo de moda responsável da Renner. Os consumidores também poderão saber mais sobre as matérias-primas dos produtos, os processos produtivos e a história das coleções. Para quem está fora do Rio de Janeiro, um tour virtual do local estará disponível no site.

Além da sustentabilidade, um dos objetivos da loja é dar mais visibilidade para a estratégia omnichannel da Renner. Isto é, promover a interação entre o cliente e os espaços virtuais da empresa, o que de acordo com a varejista é uma tentativa de dar maior autonomia ao cliente, com o aumento de 60% no número de caixas de autoatendimento e dispositivos de Venda Móvel operados por colaboradores que poderão finalizar a venda em qualquer ponto da loja.

Existe um lado social?

Quando o projeto nasceu em 2019, a Renner ampliou seu programa de conformidade para qualificar e apoiar os fornecedores envolvidos no projeto. 

De acordo com o comunicado, o Instituto Lojas Renner, braço social da varejista, está desenvolvendo uma série de ações que buscam auxiliar o desenvolvimento local. Entre as iniciativas está: o Varejo Plural, que capacitou profissionalmente 28 pessoas de grupos minoritários diversos; o projeto de capacitação em costura que foi oferecido a dezenas de mulheres de regiões periféricas do Rio, a fim de buscar sua empregabilidade, conectando-as ao aplicativo SOS Costura.

Renner e a sustentabilidade

  • Desde 2014, as lojas da marca seguem padrões de responsabilidade ambiental guiados pela certificação internacional para construções sustentáveis LEED. 
  • Em 2016, a varejista passou a neutralizar 100% das suas emissões de CO2. 
  • A partir de 2017, a marca comercializou cerca de 200 milhões de peças com o Selo Re, confeccionadas com matérias-primas como algodão e viscose responsáveis, fio reciclado, poliamida biodegradável e liocel, além de processos produtivos com menor uso de água. 
  • “Re” é usado para tudo sustentável da corporação, no site é descrito como “a forma de praticar sustentabilidade em tudo que envolve nosso negócio. É também o selo que identifica todas as nossas ações de Moda Responsável.”
  • Há também o EcoEstilo, programa de logística reversa pós-consumo da Renner lançado em 2011. Em 2021 a Lojas Renner realizou a aquisição do brechó online Repassa, com o objetivo de aumentar as possibilidades de serviços relacionados à circularidade, ampliando o ciclo de uso dos produtos.